Por uma administração alternativa [...] A concepção sistêmica da empresa A visão sistêmica é o instrumental utilizado para se estabelecer um entendimento no relacionamento da empresa com a comunidade — a idéia de sistema vem da biologia. Um sistema é aberto quando há troca de energia e de matéria como o meio. Para avaliar se as saídas estão satisfazendo as necessidades da sociedade é preciso ter um mecanismo de avaliação. É o feedback. É com esse mecanismo que a empresa acerta seu desvio de percurso, da sua função. Como a proposta é de avaliar a empresa pelo lado do consumidor, isto é, do ponto de vista da comunidade. Normalmente se analisam as empresas pelo lado do capital. Por essa visão, tem-se de um lado uma empresa sendo um sistema aberto, quando ela realiza uma função atendendo às necessidades da sociedade; de outro lado quando uma empresa se relaciona com a sociedade e não atende as necessidades da sociedade, está exercendo uma disfunção, isto é, quando as saídas produzem mais prejuízos que benefícios para a sociedade. Seja qual for o regime econômico, a empresa não pode ser considerada um elemento isolado, pois ela é parte do todo que forma a sociedade, e ela se relaciona com os outro componentes da sociedade. Este inter-relacionamento entre a empresa e as partes que integram a sociedade caracteriza o chamado sistema aberto. Uma empresa será bem administrada quanto melhor ela for organizada, e isso se mede pelo número de decisões necessários para ela manter seu ciclo vital. Quanto menor for esse número de decisões, mais organizada é a empresa. Sistema vegetativo e sistema volutivo Chamamos de sistema volutivo tudo aquilo que nas organizações se refere ao mecanismo da vontade, por sistema vegetativo tudo que se destina à manutenção da vida da organização. O sistema vegetativo de uma empresa reúne todas as atividades destinas a assegurar a manutenção da vida da organização. Por exemplo, em uma indústria podemos citar os departamentos de manutenção, o departamento de produção, o departamento financeiro; todas atividades relacionadas ao cotidiano da organização. Uma empresa está sendo mal administrada ou existe falta de organização, toda vez que o sistema evolutivo é acionado para tomar decisões no sistema vegetativo. Uma empresa que funciona bem, quase não é necessário a tomada de decisões nos níveis mais altos da organização. As decisões são tomadas nos níveis mais baixos, nos níveis de execução, dessa forma tem-se as melhores decisões. Conclui-se que as relações entre os sistemas evolutivo e o sistema vegetativo estão inseridos no contexto das relações entre os empresários e os administradores da empresa. E estas relações somente entram em funcionamento quando o processo de produção não anda de forma planejada, havendo dessa forma intervenção do sistemas evolutivo no sistema vegetativo. 1 A tecnologia de grupo: descentralização das decisões A dignidade do ser humano fica comprometida quando ele abdica do uso se suas potencialidades. O homem não pode ser tratado como fonte de energia imbuída no processo de produção. Para esta degradação da dignidade do homem é que surgiu uma alternativa de organização da produção menos agressiva. É a tecnologia de grupo. Com ela, se pretende restituir ao homem suas características de ser social, incorporando-o a uma comunidade na qual é atribuída a ele uma tarefa produtiva. A filosofia da técnica de grupo se baseia em atribuir aos grupos a responsabilidade de produção de uma família de produtos. Nesta filosofia de produção, o grupo deve entregar o produto pronto e acabado, evitando assim os estoques inacabados; contribuir também para o desaparecimento do operário especialista. O mais importante é que se cria um espírito de equipe, gerando solidariedade entre os componentes, havendo uma alternância natural nas funções. Além de levar as decisões para o nível operacional, elevando a consciência dos trabalhadores da importância de suas potencialidades. O aspecto mais interessante na tecnologia de grupo é a descentralização do processo decisório. As decisões passam a ser tomadas no nível operacional. Passa a ter, dentro da empresa, um fluxo de decisão no sentido inverso do habitual, isto é, passa a existir um fluxo de baixo para cima. O grupo ao tomar consciência do que se deseja dele, passa automaticamente a buscar seus espaços de autodeterminação, passando a recusar interferências externas ao grupo. A mudança do nível de decisão é um fator essencial para se alcançar uma empresa solidária, pois rompe com o autoritarismo característico das empresas administradas por um núcleo central. Se de um lado é vantagem a tecnologia de grupo para a empresa, por possibilitar a substituição das pessoas sem maiores problemas para a organização; as empresas que adotam este sistema, libertam-se da dependência dos empregados considerados insubstituíveis; por outro lado, o trabalhador passa a ficar mais vulnerável na relação de emprego com a empresa, podendo ser substituído a qualquer momento. Um outro aspecto importante é que com a democratização do poder, evita-se o surgimento de líderes autocráticos. O grupo de produção é uma comunidade inserida num contexto maior, que denominamos de empresa. Este grupo é formado por pessoas, que com o convívio diário forma um agrupamento social. Contudo, as empresas podem exercer seu direito de mandar um empregado do grupo embora. Este fato gera um trauma social. Pois com a convivência diária criase relações sociais sólidas. Para se evitar tais traumas, o grupo deve ser respeitado, enquanto comunidade. A empresa geograficamente descentralizada Ao se aceitar a idéia da valorização dos grupos de trabalho como entidades sociais dotados de autodeterminação, fica vencido o preconceito da concentração industrial em grandes centros urbanos. 2 Do ponto de vista social, a descentralização abre espaço para os municípios alternativos de industrialização, atualmente reservados aos grandes centros. O gigantismo dos grandes centros industriais traz consigo grande problemas sociais; tais custos sociais, vem elevando a conscientização da população de se buscar novas alternativas de industrialização. Uma administração alternativa deve buscar a racionalização do processo produtivo, não somente no ambiente interno da empresa, mas também no nível abrangente da sociedade, de modo exercer influência na política de descentralização industrial. Fonte RIBEIRO, Carlos. Administração alternativa. Porto Alegre: Mercado Abero, 1987. Disponível em: <http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=857&cat=Artigos&vind a=S>. Acesso em: 01 fev. 2006. 3