VARIAÇÃO RÍTMICA DOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS EM ARACAJU-SE Josefa Eliane S. de S. PINTO1, Fábia Verônica dos SANTOS2, Inajá Francisco de SOUSA3. RESUMO O presente estudo é em caráter de ensaio metodológico. Os resultados alcançados são restritos ao período em análise e fundamentado em fontes bibliográficas, obviamente, com conclusões limitadas. A pretensão é de fornecer subsídio ao conhecimento do papel do clima nas suas reposições ou retiradas hídricas, em análise conjunta dos parâmetros meteorológicos, em uma cidade localizada no litoral da região Nordeste do Brasil. Os resultados obtidos mostram que no período considerado chuvoso (abril a agosto), a precipitação pluvial foi de 210mm, com temperatura média de 26,0 °C, e umidade relativa do ar de 80,2% e o vento médio anual tem predominância de sudeste com velocidade média de 5,3 nós. PALAVRAS-CHAVE: ritmo, clima, Aracaju. 1. INTRODUÇÃO A análise pretendida pressupõe o ritmo como a essência do clima e as correlações, um fundamento de uma análise geográfica e uma contribuição para a climatologia e ciências afins. Tratase de uma perspectiva dinâmica do clima, associado-se a variação de todos os elementos, concomitantemente. A interpretação é sobremodo enriquecida pelo dinamismo de que se reveste. Na Geografia, as preocupação quantitativas com os fatos climáticos tem diferentes ângulos. Um dados elemento climático tem um sentido específico para uma dada paisagem agrária ou para os organismos urbanos ou para a paisagem, em toda variedade de aspectos de que se reveste. “A primeira aproximação válida para o conceito de ritmo seria aquela das variações anuais percebidas através das variações mensais dos elementos climáticos. Uma repetição das variações mensais em vários e sucessivos anos é o fundamento da noção de ‘regime’” (MONTEIRO, 1971:6). 1 Professora Doutora do Departamento de Geografia da UFS. Orientadora de Estágio no CEPES/CODISE. Mestranda do curso de Geografia do NPGEO/UFS. E-mail: [email protected]. 3 Prof. Msc do DEA/UFS. Meteorologista responsável do CEPES/CODISE; [email protected]. 2 641 Do ponto de vista meteorológico, a análise rítmica possibilita a evolução do tratamento quantitativo, ao tratamento vinculado à gênese dos fenômenos, nas unidades reais de observação, assegurando os efeitos comparativos. A integração geográfica no tempo realiza-se por efeito comparativo da análise rítmica e quantitativa dos elementos climáticos e a decomposição cronológica dos estados atmosféricos, em contínua sucessão associando-se aos mecanismos da circulação regional. O encadeamento das situações atmosféricas diferenciadas em períodos de tempo e a variação quantitativa dos elementos gera um conhecimento do tipo de tempo, assegurando a compreensão genética de um clima local, embasado na escala climática regional ou zonal. A análise rítmica pretende atender, por outro viés, as preocupações agronômicas, revelando a necessidade de consideração do ritmo da distribuição das chuvas e das disponibilidades hídricas. A contabilidade hídrica é importante, porquanto considera a água do solo como uma grandeza contabilizável e confronta dois elementos climáticos contrários: a precipitação pluvial que representa o acréscimo de umidade no solo e a evapotranspiração que assinala o débito potencial de umidade. O tema do presente trabalho tem sido objeto de preocupação de alguns autores, como por exemplo TARIFA(1973), que realizou uma pesquisa intitulada “Sucessão de Tipos de Tempo e Variação do Balanço Hídrico no Extremo Oeste Paulista” “Em qualquer campo do conhecimento científico, é essencial um aprimoramento cada vez maior das técnicas e métodos de análise, evitando-se generalizações, que no momento histórico atual, carece de aplicações práticas” (TARIFA, 1973, p. 5) O objetivo do autor referido era observar detalhadamente os ritmos dos tipos de tempo e estabelecer as relações com a disponibilidade de água para a agricultura, na perspectiva de entendimento do conjunto de elementos climáticos. Contribuiu, à época, com a metodologia aplicada. A presente pesquisa retoma a proposta, atualizando-a na sua apresentação. O esboço metodológico é uma proposta de MONTEIRO (1971), disseminada em outras pesquisas no âmbito da Climatologia Geográfica, sendo referenciado em obras significativas dessa área. O autor considerou uma novo paradigma na condução dos estudos do clima, ou uma tentativa de sanar os resultantes defeitos de classificação “(...) procurando distinguir os propósitos genéticos de causalidade – considerados mais consistentes – daqueles de simples caracterização de padrões espaciais de regionalização." Concordamos com o autor quando ele considera que a análise rítmica compensa as limitações de abordagem estatístico generalizadoras, calcada em estados médios. 2. OBJETIVOS Este trabalho teve como objetivo estudar as características dos principais parâmetros meteorológicos na cidade de Aracaju/SE situada no setor leste do NEB, tentando identificar os mecanismos dinâmicos que contribuem para produzir as precipitações. 642 Pretendeu contribuir metodologicamente para a compreensão do clima de um espaço local, em estudos de caso, numa região climaticamente complexa, favorecendo a percepção do papel do comportamento climático na qualidade agrícola, urbana e ambiental. 3. METODOLOGIA Aracaju se situa na faixa climática, (Lat:10°55’S; Long:37°03’W; Alt:2m) comumente denominada de litoral sub-úmido ou de Zona da Mata. Está localizada no setor Leste do NEB e, tendo como preocupação básica as chuvas, tem o seu principal período chuvoso concentrado nos meses de abril – agosto. Enquanto no período de setembro – março se verificam baixos índices pluviométricos. O trabalho foi desenvolvido a partir do fornecimento de dados climáticos diários da INFRAERO do ano de 1985 a 1999, com um período de observação significativo de 15 anos. Com a catalogação desses dados foram feitas tabelas mensais para se chegar as médias anuais. Depois de obtidas as médias anuais feitas mês a mês, construímos gráficos individuais de cada variável climática (precipitação, umidade relativa, temperatura, velocidade do vento) no programa Microsoft Excel. Esclarecemos que há registro de um posto pluviométrico com dados anteriores, mais precisamente de origem em 1912 (DNOCS/SUDENE). Entretanto como apresenta um só elemento, a chuva, não se adequa à presente análise integrativa. A análise da circulação atmosférica, complementando as informações observáveis cotidianamente, realizou-se fundamentada em fontes bibliográficas, a nível regional, com apoio de um número considerável de autores. Após a análise individual de cada variável, percebeu-se a necessidade de construirmos um gráfico (FIGURA 01) onde pudéssemos visualizar todas as variáveis num conjunto, o que foi resolvido com uma montagem no programa Paint do Windows 98. A montagem desse gráfico-síntese foi feita da seguinte maneira: primeiro copiam-se os gráficos individuais feitos no Microsoft Excel, cola-se no Paint e depois faz-se a montagem. Dessa forma, a interpretação dos dados se dá de forma mais precisa porque temos todas as variáveis alinhadas num mesmo gráfico e visualmente podemos perceber a associação ou dissociação de cada elemento analisado. Finalmente, queremos afirmar que o alcance metodológico é extravásavel para qualquer localidade, desde que disponha de dados variáveis, num período temporal significativo. Informações diárias e até horárias são ainda mais favoráveis a uma análise rítmica do clima. Sugerimos ainda, uma análise comparativa entre dois ou mais locais. Em se tratando de uma localidade nordestina, talvez ficasse interessante a união de três amostras, uma do sertão, outra do agreste e mais uma do litoral sub-úmido. 643 644 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados alcançados no presente estudo, são restritos ao período em análise, e a correlação com os tipos de tempo, fundamentada em estudos anteriores, e, com isso, as conclusões são limitadas. Elaborando inicialmente uma análise descritiva dos dados, com base na figura elaborada, observa-se que nos meses de setembro a março período considerado de baixa precipitação pluvial, foi observado precipitação média de 63,3mm, com temperatura média de 27,5 °C, umidade relativa do ar em torno de 77% e o vento com velocidade média de 7,4 nós. No entanto no período considerado chuvoso de abri a maio a precipitação média foi de 210 mm, com temperatura de 26,0 °C, a umidade relativa do ar com 80,2 % e velocidade média do vento de 5,3 nós. Pode-se destacar que o mês mais chuvoso, maio, só coincide com a menor velocidade do vento (5,8 nós). Já o período que apresenta a menor temperatura, mês de agosto, registra um maior percentual de umidade relativa do ar. A direção do vento predominante em Aracaju, é de sudeste, com velocidade média oscilando entre 8.0 e 6.0 nós. Devemos lembrar, preliminarmente, que a localidade em tese, integra a região Leste do Nordeste do Brasil (NEB), as precipitações sobre o NEB são de caráter predominante convectivo, característico das regiões tropicais. Assim, as chuvas apresentam grande variabilidade, tanto espacial quanto temporal. A faixa costeira leste do NEB, que estende-se desde o Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, também conhecida como Zona da Mata, apresenta clima quente e úmido, totais pluviométricos elevados (1500 – 2000 mm anuais), chuvas máximas no outono e inverno e um período curto na primavera e verão. O ritmo combinado da atuação dos elementos climáticos que provocam reposições hídricas, articulados entre si, é decorrente dos mecanismos dinâmicos que favorecem a atividade pluviométrica do Litoral Leste do NEB que são: os distúrbios do leste (Yamazaki e Rao, 1977); as linhas de instabilidade associadas as brisas marítimas e terrestre (Kousky, 1980; Cavalcanti e Kousky, 1982; Cohen e at al, 1989); Alta subtropical do Atlântico Sul (Strang, 1983); sistemas frontais (Kousky, 1979) e os vórtices ciclônicos dos altos níveis (Gan e Kousky, 1986). 5. BIBLIOGRAFIA CAVALCANTI, I. F. A.; KOUSKY, V. E. Influências da circulação de escala sinótica em circulação da brisa marítima na costa N-NE da América do Sul. São José dos Campos, INPE, 1982. COHEN, I. C. P.; SILVA DIAS, M. A. F. da; NOBRE, C. A. Aspectos climatológicos das linhas de instabilidade na Amazônia. Climanálise, 4 (11): 34 – 39, 1989. GAN, A. M., KOUSKY, V. E. Vórtices ciclônicos da alta troposfera no Oceano Atlântico Sul. 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