T74 - ESTIMATIVA DE PARÂMETROS GENÉTICOS NO PROCESSO DE MELHORAMENTO DE GENÓTIPOS SEGREGANTES DE SOJA NA GERAÇÃO F5 G.D. Silveira, A.O. Mauro*, M.A.P.C. Centurion, F.R.S.Muniz, M.M. Costa, D.G.P. Sarti, A.A. Morceli Júnior, T.G.S. Morceli, I.M. Bárbaro Universidade Estadual Paulista – UNESP / Câmpus Jaboticabal, Departamento de Produção Vegetal, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, Km 5, CEP 14884-900, Jaboticabal - SP – Brasil, telefone: (16)3209-2666, [email protected] INTRODUÇÃO A soja (Glycine max (L.) Merrill ) é uma das mais importantes fontes de proteína e também de óleo vegetal, além de ser uma das mais importantes culturas agrícolas do Brasil. O seu cultivo tornou-se uma atividade de retorno econômico a partir da década de 60 (Bonato et al.,1984), e o melhoramento genético teve papel importante nesse processo evolutivo da cultura da soja. A estimativa de parâmetros genéticos tem grande importância nos programas de melhoramento da cultura da soja, pois possibilita a tomada de decisões relacionadas com a escolha do método mais apropriado, os caracteres que devem ser selecionados em etapas iniciais e avançadas de um programa e também o peso que deve ser atribuído a cada caráter, sendo que um dos parâmetros utilizados é a herdabilidade, que reflete a importância da herança e do ambiente na expressão dos caracteres, e quanto maior for o coeficiente de herdabilidade, maior será o sucesso de uma seleção para dado caráter resultando numa relação positiva entre alta herdabilidade e eficácia seletiva, que reflete a importância da herança e do ambiente na expressão dos caracteres (Allard, 1974). O presente trabalho teve como objetivo o cálculo do coeficiente de herdabilidade (h2) em genótipos de soja na região de Jaboticabal – SP. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido na área experimental do Departamento de Produção Vegetal da UNESP - Jaboticabal no ano agrícola 2004/05. Os genótipos utilizados são provenientes dos cruzamentos JAB 01-02 e JAB 01-03, cuja genealogia é Embrapa 48 X CAC-1 e FTCometa x BR-16, respectivamente. As avaliações encontram-se na geração F5, sendo as progênies oriundas de processos seletivos nas gerações anteriores. O delineamento utilizado foi o de blocos aumentados, com testemunhas intercalares a cada 10 linhas, sendo utilizados como padrões os cultivares MG-BR 46 (Conquista) e Codetec 205. Na bordadura experimental, semeou-se o cultivar MG-BR 46 (Conquista), aproveitando para a realização de uma multiplicação de sementes. Cada bloco apresentou 36 linhas de cinco metros de comprimento, sendo as mesmas espaçadas de 0,5m, sendo utilizado na semeadura uma densidade média de 20 plantas por metro linear. O preparo da área ocorreu com algumas semanas de antecedência ao plantio, seguindo uma metodologia convencional, ou seja, uma aração profunda e duas gradagens, com o objetivo de eliminar torrões e ervas invasoras. A adubação foi realizada diretamente nos sulcos de plantio, previamente abertos e com 6-8 cm de profundidade, sendo a quantidade de adubo determinada por análise de solo. Todas as práticas culturais recomendadas para a cultura da soja foram observadas e a semeadura procedeu-se manualmente. Após a semeadura, efetuou-se uma aplicação de herbicidas, visando controle inicial de invasoras (folhas largas e estreitas). A área foi submetida a capinas manuais e pulverizações com inseticidas, sempre que necessário, objetivando o controle das principais pragas da soja, bem como a aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem asiática e doenças de final de ciclo. De cada linha, foram colhidas 5 plantas, sendo nestas realizadas as seguintes avaliações: � Altura de planta na maturidade (APM): distância medida em centímetros, a partir da superfície do solo até o último internódio, na época da maturação; � Altura de inserção da primeira vagem (AIV): distância, medida em centímetros, da superfície do solo até a inserção da primeira vagem; � Número de ramos (NR): contagem do número de ramos da planta; � Número de vagens (NV): contagem do número total de vagens da planta avaliada; - 290 - Mejoramiento Genético � � � Número de sementes (NS): contagem do número total de sementes obtidas da planta avaliada; Valor agronômico (VA): avaliado na maturidade através de notas visuais, variando de 1 a 5, onde 1 corresponde à planta sem nenhum valor agronômico e nota 5 a uma planta de excelente valor agronômico. Valor agronômico representa o aspecto global de planta para uma série de caracteres adaptativos: quantidade de vagens, vigor e sanidade de plantas, viabilidade de colheita mecanizada, resistência à debulha prematura das vagens e menor retenção foliar após a maturidade; Produtividade (PT): obtido pela colheita e debulha individual de cada planta selecionada. Com os dados obtidos foram realizadas as análises de variância para cada um dos caracteres avaliados, conforme modelo estatístico adotado por Cruz (2001) e Backes et al. (2002). A variância ambiental foi estimada com base na variação fenotípica entre as repetições dos cultivares-padrão intercalados entre as famílias. Desta forma, a variância ambiental entre (�²ae) e dentro (�²ad) foi estimada, respectivamente por: � �²ae = (r1 – 1) QMEp1 + (r2 – 1) QMEp2 / r1 + r2 - 2 � �²ad = (r1p – r1) QMDp1 + (r2p – r2) QMDp2 / p(r1 + r2) – r1 – r2 As variâncias genotípicas entre (�²ge) e dentro ((�²ad) de famílias foram estimadas por diferença, respectivamente da seguinte forma: � �²ge = �²fe - �²ae � �²gd = �²fd - �²ad A variância genotípica foi decomposta em variância aditiva (�²A) e devido à dominância (�²D), por intermédio das expressões de distribuição desta entre e dentro de famílias autofecundadas, citada por Falconer (1987). � �²ge = 2 Fn . �²A + Fn (1- Fn) . �²D � �²gd = (1- Fn) . �²A + (1- Fn) . �²D Conhecendo-se que o coeficiente de endogamia (Fn) da geração F5 é de 87,5, conforme Ramalho et al.(1978), é possível estimar a variância aditiva nestas populações e, conseqüentemente, as herdabilidades no sentido restrito. As herdabilidades nos sentidos amplo (h²ae) e restrito (h²re), para a média entre as famílias, foram estimadas, respectivamente, por: � h²ae = �²ge / �²fe � h²re = 2Fn . �²A / �² fe As herdabilidades nos sentidos amplo (h²ad) e restrito (h²rd), para plantas dentro de famílias, foram estimadas, respectivamente, por: � h²ad = �²gd / �²fd � h²rd = (1 – Fn) . �²A / �² fd - 291 - Mejoramiento Genético O coeficiente de variação genética entre famílias foi estimado neste trabalho pela seguinte fórmula: � CVg (%) = (�ge / x ) .100, onde x é a média geral do caráter em consideração. As análises estatísticas foram feitas com o auxílio do programa computacional GENES, desenvolvido por Cruz (2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 são apresentadas as estimativas de herdabilidade e demais parâmetros genéticos para os caracteres avaliados nos cruzamentos avaliados. Tabela 1. Estimativa das herdabilidades no sentido amplo entre (h²ae) e dentro (h²ad), do coeficiente de variação genética (CVg) e das herdabilidades no sentido restrito entre (h²re) e dentro (h²rd) de duas populações na geração F5, no ano agrícola 2004/05. Parâmetros APM AIV NV NR NS VA PT h²ae 0,80 0,20 0,63 h²ad 0,30 0,19 0,38 0,57 0,63 0,51 0,73 0,44 0,38 0,40 CVg(%) 11,76 8,05 0,34 13,26 22,02 13,28 15,31 28,39 h²re 0,80 0,60 0,60 0,18 0,60 0,23 0,71 h²rd 0,28 0,40 0,20 0,11 0,20 0,11 0,24 Embrapa 48 X CAC-1 FT-Cometa X BR-16 h²ae 0,93 0,77 0,60 0,93 0,50 0,61 0,66 h²ad 0,63 0,50 0,40 0,16 0,46 0,13 0,51 CVg(%) 13,75 14,36 15,12 24,73 15,09 5,20 39,06 h²re 0,41 0,52 0,55 0,78 0,45 0,54 0,61 h²rd 0,28 0,23 0,17 0,14 0,18 0,14 0,30 APM = altura de planta na maturidade, AIV = altura de inserção da primeira vagem, NV = número de vagens, NR = número de ramos, NS = número de sementes, VA = valor agronômico, PT = produtividade. Observa-se grande faixa de variação nas estimativas de herdabilidade ampla de um mesmo caráter e entre caracteres. No caso do cruzamento Embrapa 48 X CAC-1, para os caracteres NR e VA foram encontrados valores abaixo de 0,50 de herdabilidade no sentido restrito entre famílias. O contrário ocorreu para os caracteres APM, AIV, NV, NS e PT, que apresentam valores acima de 0,50, evidenciando que a maior parte da variância genotípica é constituída da variância aditiva, ou seja, a parte herdável. No cruzamento FTCometa X BR-16, valores considerados altos para a herdabilidade no sentido restrito entre famílias foram encontrados nas características AIV, NV, NR, VA e PT. Nos dois cruzamentos analisados, pode-se verificar também que os valores da herdabilidade calculados entre as famílias são maiores que os dentro das famílias, evidenciando que a seleção entre famílias é mais indicada em gerações avançadas, já que se trata de um material em F5. Em relação ao coeficiente de variação genético, tanto no cruzamento Embrapa 48 X CAC-1 quanto no FT-Cometa X BR-16 o maior obtido foi para a característica PT, sendo este da ordem de 28,39% e 39,06%, respectivamente. CONCLUSÕES Através dos resultados obtidos, pode-se concluir que: Há muita variabilidade genética disponível para novos ciclos de seleção, apesar de ter sido praticada seleção nas gerações anteriores para PT. � A estimação de parâmetros genéticos que servirão de diretrizes para a seleção, aliados ao uso de ensaios de avaliação de famílias intercaladas com testemunhas experimentais apresenta-se viável. � Na geração F5 avaliada, a seleção realizada entre famílias mostra-se mais eficaz no processo seletivo quando comparada com a seleção realizada dentro das famílias. � - 292 - Mejoramiento Genético REFERÊNCIAS Allard, R.W. Princípios do melhoramento genético das plantas. Rio de Janeiro: USAID, Edgard Blucher, 1974. 381p. Backes, R.L.; Reis, M.S.; Sediyama, T.; Cruz, C.D.; Teixeira, R. C. Estimativas de parâmetros genéticos em populações F5 e F6 de soja. Revista Ceres, v. 49, n. 282, p.201-216, 2002. Bonato, E. R.; Dall'agnoll, A. Soybean in Brazil: production and research. In: WORLD SOYBEAN RESEARCH CONFERENCE, 3; 1984, Ames. Proceedings.: Bouder: West Views, 1985. p. 1248-1256. Cruz, C. D. Programa Genes – Versão Windows – Aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa, Ed. UFV, 2001. 648p. Falconer, D. S. Introdução à genética quantitativa. Viçosa, Ed. UFV, 1987. 279p. Ramalho, M. A. P. & VENCOVSKY, R. Estimação dos componentes da variância genética em plantas autógamas. Ciência Prática., v.2, p.117-40, 1978. - 293 - Mejoramiento Genético