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UM ESTUDO SOBRE O ESPAÇO SAGRADO DOS
BATISTAS
A STUDY ON THE BAPTISTS` SACRED SPACE
Edilson Soares de Souza1
PEREIRA, Clevisson Junior. Geografia da religião e a teoria do
espaço sagrado: a construção de uma categoria de análise e o
desvelar de espacialidades do protestantismo batista. Curitiba,
PR: Editora CRV, 2014.
A trajetória dos batistas no Brasil, sobretudo, a história
dos batistas ligados à Convenção Batista Brasileira (CBB),
está intimamente relacionada ao trabalho missionário
desenvolvimento pelas igrejas batistas do Sul dos Estados Unidos.
Três contribuições significativas foram dadas pelos batistas
estadunidenses ao processo de estabelecimento da denominação
protestante entre os brasileiros. Houve uma primeira tentativa
com o missionário Thomas Jefferson Bowen (1814-1875), que foi
nomeado para atuar entre os brasileiros em 1859, chegando ao
Rio de Janeiro em 1860. Uma segunda contribuição importante
foi a organização das duas igrejas batistas instaladas na colônia
de Santa Bárbara d’Oeste, no Estado de São Paulo, formada por
imigrantes estadunidenses que, deixando a recessão nos Estados
Unidos, chegaram ao Brasil em busca de novas oportunidades de
1 Pós-doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutor
e Mestre em História pela mesma Universidade. Psicólogo clínico e bacharel em
teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB). Professor nas
Faculdades Batista do Paraná. Pesquisador do Núcleo Paranaense de Pesquisa em
Religião (NUPPER). E-mail: [email protected].
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trabalho e de vida. Outra participação importante dos batistas
norte-americanos foi o envio de dois casais de missionários que
implantaram a estratégia expansionista entre os brasileiros: o casal
Anne Ellen Luther e William Buck Bagby, e o casal Kate Stevens
Crawford e Zachary Clay Taylor. Com essas contribuições, entre
outros fatores, os batistas se desenvolveram entre os brasileiros,
organizando milhares de igrejas locais, constituindo seminários
de formação pastoral e ampliando as suas atividades educacionais
e missionárias.
Sendo uma das vertentes do protestantismo no Brasil, os
batistas se tornaram objeto de estudo das mais variadas áreas do
conhecimento. Teologia, sociologia, história, ciências da religião
e geografia são áreas do saber que já desenvolveram estudos
consistentes sobre os batistas. O trabalho publicado por Clevisson
J. Pereira situa-se nesta última área de pesquisa, prioritariamente,
propondo uma análise dos batistas a partir das contribuições
teóricas e metodológicas da chamada Geografia da Religião. Nesse
e em outros sentidos, a tese defendida pelo autor na Universidade
Federal do Paraná (2014) pode ser colocada como um estudo
inédito, sobretudo, pela busca de compreensão das dinâmicas de
duas igrejas batistas locais: a Primeira Igreja Batista em Curitiba,
no Estado do Paraná, e a Austin Stone, no Estado do Texas. Entre
os muitos desafios que Clevisson Pereira precisou superar, um
deles foi desenvolver uma metodologia que permitisse analisar
as duas igrejas batistas locais, considerando que ambas estavam
separadas pela espacialidade, além dos aspectos culturais e de
ênfases ou práticas religiosas distintas. Outro desafio enfrentado
de maneira pertinente e adequada pelo autor foi propor o que ele
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chamou de uma construção de uma categoria de análise e o desvelar
de espacialidades do protestantismo batista, como se pode ler no
subtítulo do livro. Assim, a leitura do texto permite, a partir da
análise de duas igrejas batistas, a compreensão da Geografia da
Religião e a Teoria do Espaço Sagrado.
A percepção do pesquisador, que se propôs estudar parte
do protestantismo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos,
pode ser observada no empreendimento que se fez para discutir
as possibilidades teóricas de uma área do conhecimento que
procura ampliar as suas pesquisas, firmando-se ainda mais no
cenário acadêmico brasileiro, que é a Geografia da Religião.
Merece destaque, portanto, a intenção de Clevisson: não estudou
os batistas (tomando como referência dois casos de igrejas locais)
apenas pelo viés de suas práticas e dinâmicas cultuais, mas
apresentou uma Teoria do Espaço Sagrado, tomando como base
de suas análises o protestantismo.
Alguns aspectos relevantes podem ser apontados no
livro do pesquisador da Geografia da Religião: a) a obra indica
uma intenção muito clara do autor ao empreender a análise
do protestantismo de confissão batista, propondo uma teoria
que ajude a pensar o Espaço Sagrado, remetendo à discussão das
espacialidades no interior da denominação batista, visto por um
ângulo de observação pertinente, partindo dos pressupostos da
Geografia da Religião; b) o livro mostra o esforço metodológico
que buscou analisar as espacialidades dessas duas igrejas de
confissão batista, lembrando que um dos princípios eclesiásticos
de tais igrejas é a sua autonomia como igreja local, e c) o texto
aponta para pressupostos teóricos que ajudam a sustentar
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a análise empreendida pelo autor, discutindo temas como
espacialidade, sagrado, símbolos e religião, citando teóricos das
áreas da geografia e da filosofia, que se debruçaram sobre tais os
temas. No que pese a complexidade do estudo, observa-se que a
tese buscou discutir aspectos originais e relevantes que perpassam
os fenômenos religiosos do protestantismo brasileiro, que sofreu
considerável influência do protestantismo estadunidense, dando
ênfase ao denominacionalismo de confissão batista no Brasil.
O livro está estruturado em cinco capítulos, que se dividem
entre a Geografia da religião até O espaço sagrado no protestantismo
batista. Entre essas duas abordagens, o leitor encontra uma discussão
sobre O espaço sagrado, A filosofia cassireriana e o espaço sagrado e (A
teoria do) espaço sagrado, uma categoria de análise para a Geografia da
religião. Como os títulos dos capítulos indicam, Clevisson Pereira
fundamentou parte de sua análise nos pressupostos filosóficos
desenvolvidos por Ernst Cassirer, sobretudo, ao discorrer sobre A
Filosofia das Formas Simbólicas. Dessa maneira, o leitor é conduzido
à reflexão que Ernst Cassirer empreendeu sobre a relação entre o
simbólico e o sagrado, fundamentando a sua proposta filosófica.
Ao introduzir o seu estudo, Clevisson afirma que objetiva
revelar algumas das tidas realidades associadas aos fenômenos
religiosos que caracterizam parte do protestantismo de viés
batista, construindo a sua pesquisa a partir de uma perspectiva
observacional, além da análise discursiva e de entrevistas com
alguns dos adeptos das igrejas batistas estudadas. Ao propor essa
linha de pesquisa, o autor buscou responder algumas questões
sobre a constituição do que pode ser chamado de o espaço sagrado
batista. O que se buscou com a pesquisa, na percepção do
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estudioso das espacialidades religiosas de confissão protestante,
foi elaborar uma reflexão investigativa, favorecendo a abertura
para outras compreensões das experiências religiosas no universo
do protestantismo.
Dessa forma, o livro de Clevisson Pereira sobre a Geografia
da religião e a teoria do espaço sagrado, tendo como objetos de análise
duas igrejas batistas, soma-se a outros trabalhos pertinentes
sobre a trajetória da denominação protestante, abordando
um tema atual e instigante: a reflexão sobre a constituição do
espaço sagrado nas igrejas batistas, partindo de estudos de caso.
O estudo em destaque, que discorre sobre o espaço sagrado no
protestantismo, indica uma pesquisa profunda das dinâmicas e
compreensões sobre os símbolos e a sua relação com o sagrado,
provocando outras questões que podem ser respondidas em
pesquisas a serem desenvolvidas, revelando a complexidade que
perpassa os estudos sobre os fenômenos religiosos, seja no Brasil
ou além de suas fronteiras.
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