A DARK WEB – NAVEGANDO NO LADO OBSCURO DA INTERNET1 Deivison Pinheiro Franco2 Suyanne Ramos Magalhães3 RESUMO: Há um universo paralelo na Internet onde a informação é inacessível para os mecanismos de buscas comuns. O que enxergamos equivalente à superfície da Internet (Surface Web) que, de acordo com especialistas, corresponde apenas a 4% de toda a web, estando a maior parte da informação enterrada profundamente em sites dinâmicos e que não são encontrados através do Google, por exemplo, pois suas páginas são criadas e disponibilizadas dinamicamente e apenas são encontradas através de mecanismos de busca específicos - este é o conteúdo da Dark Web, cujo tamanho, devido a essa característica, é muito superior ao da Surface Web. Dessa forma, o objetivo deste artigo é de mostrar a Dark Web, seu surgimento, como chegar a ela, apresentando seu funcionamento, mecanismos de busca, conteúdos e o que se pode tirar de útil ou de proveito da mesma, bem como o que não se pode, haja vista seu uso mais comum ser de cunho ilegal para divulgação e comercialização de material ilícito. PALAVRAS-CHAVE: World Wide Web. Surface Web. Dark Web. Internet. Mecanismos de Busca. ABSTRACT: There is a parallel universe where information on the Internet is inaccessible to the common search engines. What we see on the surface equivalent of the Internet (Surface Web) which, according to experts, represents only 4% of the entire web, and most of the information buried deep in dynamic websites that are not found through google, for example, because your pages are dynamically created and made available and are found only through specific search engines - this is the Dark Web content, whose size, due to this characteristic, is much higher than the Surface Web. Thus, the purpose of this article is to show the Dark Web, its appearance, how to get it, showing its functioning, search engines, and content that can be drawn or useful out of it, and what cannot, given its more common be illegal to die dissemination and marketing of illicit material. KEYWORDS: World Wide Web, Surface Web, Dark Web, Internet Search Engines. Artigo recebido em 30.07.2015 e aprovado em 14.09.2015. Mestrando em Inovação Tecnológica. Especialista em Ciências Forenses com Ênfase em Computação Forense. Especialista em Suporte a Redes de Computadores e Tecnologias Internet. Especialista em Redes de Computadores. Graduado em Processamento de Dados. [email protected]. 3 Aluna do 4º semestre do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da FCAT. [email protected]. 1 2 Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 18 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. 1 INTRODUÇÃO Deep Web (dark web, deepnet, invisible net, undernet, ou hidden web) refere-se a qualquer rede fechada que compreende um grupo privado de pessoas, que querem se comunicar. No entanto, desde 2002, o termo evoluiu e tem sido usado para se referir às redes de compartilhamento de arquivos, sejam eles privados ou acessíveis ao público em geral. A Darknet é o termo que é usado para referir coletivamente a todas as redes de comunicação encobertas. Logo, a Dark Web é a camada da Internet que não pode ser acessada através de uma simples busca no Google. Quando se diz que na Internet é possível aprender como construir bombas, comprar drogas e documentos falsificados, entre outras coisas, geralmente é sobre a Dark Web que estão falando; assim como é lá também que surgem organizações como Wikileaks e Anonymous, e são essas pessoas que discutem a web como um organismo livre e democrático. A Dark Web é considerada a camada real da rede mundial de computadores, comumente explicada em analogia a um iceberg: a Internet indexada, que pode ser encontrada pelos sistemas de busca, seria apenas a ponta superficial, a "Surface Web". Todo o resto é a Dark Web - não à toa o nome que, em inglês, significa algo como rede profunda. Essa parte de baixo do iceberg existe por causa das deficiências da parte de cima, por causa do uso comercial excessivo da parte de cima. A Figura 1 ilustra melhor isso. Figura 1 – Surface Web X Deep Web (Adaptado de BERGMAN, 2010). Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 19 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. Em geral, a Dark Web é um grupo que permite o compartilhamento de todos os tipos de conteúdo de forma anônima, sendo impossível identificar o usuário porque os arquivos são criptografados. Essa rede é usada, portanto, para partilhar informação sensível. Como visto na Figura 1, a Deep Web é muito maior do que a encontrada na superfície e estima-se que é centenas de vezes maior. É o que está por trás dos milhões de dados que a "Internet visível" nos apresenta diariamente. Na web normal, tudo que fazemos para chegar a qualquer destino pode ser facilmente rastreado. Mais que isso: mecanismos inteligentes identificam o que fazemos o tempo todo na rede para, logo em seguida, oferecer publicidade dirigida e relacionada ao nosso gosto pessoal. E muita gente acaba usando a Dark Web simplesmente por não estar de acordo com esta regra imposta por gigantes como o Google. O primeiro choque com a Dark Web é em relação ao tamanho deste lado escuro da Internet. Um iceberg, um destes blocos gigantes de gelo que vagam pelo oceano. A parte visível, que fica acima da superfície da água seria o correspondente à Internet cotidiana, como conhecemos hoje. Os outros 90% submersos escondidos ali representariam a proporção desta parte da rede. Para quem nunca ouviu falar no assunto, a principal diferença entre a Internet e a Dark Web é que neste lado escondido da rede, nada é indexado. Nada é rastreado. Todo o tráfego de dados é criptografado, o que significa privacidade e anonimato, o que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. Para aqueles que já ouviram falar dela, talvez haja a ideia de um mundo paralelo. Mas a verdade é que a Deep Web é apenas uma designação para tudo o que é inacessível para os mecanismos de busca comuns, que não podem acessar certos sites "escondidos". A Dark Web, num primeiro momento, é toda a parte da World Wide Web que não é indexada por mecanismos de busca. Há uma política que se pode colocar em um site para que os mecanismos de busca não examinem o conteúdo do mesmo. Mas isso é apenas um acordo de cavalheiros, se alguma empresa quiser indexar este conteúdo, ela pode. Outra parte do conteúdo indexado são os "jardins murados" como o Facebook, por exemplo. Qualquer conteúdo que as pessoas compartilham no Facebook, em geral, só pode ser acessado com uma conta no Facebook. Os “jardins” são, por vezes, apenas “parcialmente murados”: é possível fazer buscas e ver parcialmente as informações, mas o restante apenas com a inscrição, às vezes paga. Há Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 20 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. muita controvérsia com universidades (instituições públicas, e também privadas) que não fornecem seus artigos fora dos "jardins murados". Ante ao exposto, pode-se dizer que a Dark Web é o conjunto de recursos de informação WWW não relacionados e indexados por mecanismos de busca normais, de acordo com uma estimativa de alguns especialistas em segurança, a Dark Web é desconhecida para a maioria dos usuários da Internet. Para explicar melhor a Deep Web, pode-se comparar as pesquisas na Internet como o arrastar de uma rede em toda a superfície de um oceano: um grande conteúdo pode ser apanhado, mas ainda há uma gama de outras coisas que está nas profundezas e que não capturadas, como mostrado na Figura 2. Figura 2 – O Mapa da Deep Web (Fonte: www.brandpowder.com). 2 SURGIMENTO Em grande parte, a Dark Web existe, assim como a própria Internet, graças à força militar dos Estados Unidos. Neste caso, graças ao Laboratório de Pesquisas da Marinha do país, que desenvolveu o The Onion Routing para tratar de propostas de pesquisa, design e análise de sistemas anônimos de comunicação. A segunda geração desse projeto foi liberada para uso não-governamental, apelidada de TOR e, desde então, vem evoluindo. Em 2006, o TOR deixou de ser um acrônimo de The Onion Router para se transformar em ONG, a TOR Project, uma rede de túneis escondidos na Internet em que todos Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 21 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. ficam quase invisíveis. Onion, em inglês, significa cebola, e é bem isso que a rede parece, porque às vezes é necessário atravessar várias camadas para se chegar ao conteúdo desejado. Grupos pró-liberdade de expressão são os maiores defensores do TOR, já que pela rede Onion é possível conversar anonimamente e, teoricamente, sem ser interceptado, dando voz a todos, passando por quem luta contra regimes ditatoriais, empregados insatisfeitos, vítimas que queiram denunciar seus algozes. A ONG já teve apoio da Electronic Frontier Foundation, da Human Rights Watch e até da National Christian Foundation. Ao acessar um site normalmente, seu computador se conecta a um servidor que consegue identificar o IP; com o TOR isso não acontece, pois, antes que sua requisição chegue ao servidor, entra em cena uma rede anônima de computadores que fazem pontes criptografadas até o site desejado. Por isso, é possível identificar o IP que chegou ao destinatário, mas não a máquina anterior, nem a anterior, nem a anterior etc. Chegar no usuário, então, é praticamente impossível. Também há serviços de hospedagem e armazenagem invisíveis. Assim, o dono da página está seguro se não quiser ser encontrado. 3 FUNCIONAMENTO A ideia original foi criada pela Marinha Americana, cujo intuito era ocultar, dentro de uma frota, a embarcação que emitia os comandos para as demais. Esse processo ocorria da seguinte maneira: - Imagine o navio comandante de uma frota de 100 navios. Sendo o comandante, este navio é o mais importante da frota, pois é ele quem está ordenando todos os outros, ou seja, é ele quem está no comando e é claro que não se quer que o inimigo saiba qual é o este navio, nem que saiba quais navios recebem suas ordens. - Uma solução para isso seria criptografar o conteúdo das mensagens, assim não teria como se saber que a transmissão de um determinado navio é mais importante que a dos outros. Contudo, o inimigo possui uma tecnologia: ele não pode decriptografar as mensagens da frota, mas pode rastrear de onde todas as mensagens saem e para onde todas vão, ou seja, ele pode não saber o que está sendo trafegado, mas tem tudo o que precisam: o fluxo de mensagens, o que lhe permite perceber que um determinado navio mais envia do que recebe mensagens, caracterizando, assim, que ele é o comandante e para evitar que isso acontecesse, a Marinha inventou o conceito de uma "Rede Cebola": Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 22 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. - Em vez de enviar as ordens diretamente do ponto A para o ponto B, as mensagens saltam randomicamente pela frota antes de alcançar seu destino. Por conta da criptografia, o inimigo não pode predizer a diferença entre uma nova mensagem e uma mensagem retransmitida, pois todas parecem iguais. - Dessa forma, é difícil rastrear o navio de onde veio a mensagem, pois ele pode ter recebido e transmitido várias mensagens entre o envio e o recebimento da mesma e ainda que haja espiões em alguns navios, somente o transmissor e o receptor têm acesso à mensagem original, já que para enviar uma mensagem de A até B, o navio comandante irá criar uma rota aleatória entre os navios e adicionar uma criptografia por cima de outra para cada navio da rota por onde a mensagem passará. - Sendo assim, nenhum navio entre A e B terá ciência da mensagem. Somente A e B terão o conteúdo original. Para cada salto entre A e B, uma camada de criptografia é adicionada, cada uma com sua própria chave e a única informação real que um ponto possui é a de para quem ele deverá enviar a mensagem que ele recebeu. Aí está a ideia da "cebola": várias camadas, assim como a mensagem saltando de navio em navio. A cada navio, uma camada é retirada. A Figura 3 ilustra o funcionamento do TOR. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 23 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. Figura 3 – Funcionamento do TOR (Fonte: PAGANINI, 2012) 4 CAMADAS Muitas são as teorias sobre as camadas da Dark Web, mas pouco se sabe sobre sua verdadeira existência, entre as pesquisas que realizei o melhor esquema que encontrei foi esse. Ele retrata a Internet de um modo estruturado e de fácil compreensão. Portanto, a Internet divide-se dessa maneira: Surface Web: um lado mais "escuro" da web, onde ficam sites incomuns, mas que ainda sim pode ser acessado facilmente; Berigie web: último nível de classe "baixa", aqui se encontram sites de grupos fechados e que utilizam proxy, TOR ou alguma ferramenta para permitir o acesso; Charter web: a famosa Dark Web, onde se utiliza o TOR para ter acesso, divide-se em duas partes: a primeira são os sites comuns como Hidden Wiki e HackBB, a segunda engloba os sites restritos e de grupos fechados; Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 24 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. Marianas web: o divisor de águas entra a Dark Web "falsa" e a legítima web oculta, aqui se encontram pessoas com um conhecimento mais avançado em computação, verdadeiros hackers, crackers, bankers, a partir desse ponto a coisa fica mais tensa. Há algumas teorias que dizem que ela se divide em mais três níveis, que seriam: Nível 1: vídeos e documentos governamentais, sendo uma rede fortemente criptografada e segura; Nível 2: aqui se encontram pessoas que disputam o controle sobre o nível 8. Bilhões de dólares são negociados e tratados. Nível 3: basicamente onde há o controle tecnológico global, há documentos relacionados com computação quântica, grandes elite hackers, que obviamente não são nem comentados nas mídias andam por aqui, o foco é poder e dinheiro, neste nível encontra-se o que quer e o que não quer. Existe também a teoria de que ao invés de 05 níveis, como representado acima, a Dark Web possuiria de 08 a 10 níveis, sendo esses extremamente restritos e inomináveis, ou seja, por ser tão sigiloso só existe por alguns momentos, e para algumas pessoas. Nós, usuários normais, não poderíamos adentrar sem sabermos aonde ir, com que ir, e quando ir; portanto essa fase se torna a fase das sub-redes e é aí que a coisa fica confusa. Um exemplo análogo disso é o mIRC (programa de bate papo antigo): nele existe a configuração privada para evitar lag (atrasos). Então, a fim de que esses atrasos fossem evitados, era possível vincular os IPs formando uma sub-rede dentro do próprio programa e é assim, mas de uma forma muito mais complexa funciona a Dark Web em suas camadas mais profundas: são sub-redes alinhadas de maneira estratégica, de modo a somente funcionar com autorização ou convite, o que abre espaço para muitas coisas serem realizadas no obscuro. A Dark Web pode ser acessada também por outros programas, e cada um carrega elementos próprios; portanto um navegador não abrirá páginas .onion. Sendo assim, todo navegador, tem suas distintas camadas. O TOR é sobressalente nesse aspecto, mas os outros também possuem. 5 COMO CHEGAR LÁ Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 25 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. No site TOR Project (https://www.torproject.org/download/download-easy.html.en) é possível encontrar ferramentas pelas quais é possível ter contato com a rede Onion, inclusive um compilado de produtos que inclui a versão portátil do Fiferox já configurada para o acesso anônimo e que sequer exige instalação. Tanta preocupação com segurança faz com que a navegação seja muito lenta, e isso ocorre principalmente por conta da triangulação do acesso – o navegador manda uma requisição para um link, que por sua vez encaminha para um desvio em outro país, no qual redireciona para o site. É preciso cautela para se aventurar nesse mundo. Em primeiro lugar, tenha em mente que os principais caminhos estão em inglês, e é essencial compreender exatamente o que está escrito antes de clicar num link. Além disso, a Dark Web é feia, porque ninguém ali está preocupado com o layout, então o inglês é duas vezes mais importante, já que não há imagens que te levem a entender o contexto. É tudo bem direto. Cabe ressaltar que alguns dos vírus mais arrojados são testados na Dark Web, portanto, antivírus e firewall têm de ser bons e estar atualizados. Aqui na redação nós usamos um netbook ligado a um modem 3G para poupar a nossa rede de eventuais problemas; se não houver como fazer isso, a dica é criar uma máquina virtual. Há, inclusive, uma versão do Linux, a "Tails", feita especificamente para esse tipo de coisa. As operações financeiras por lá não são feitas com dinheiro ou cartão de crédito; a maioria dos sites nem aceita opções como PayPal, é tudo em Bitcoin (moeda virtual que garante o anonimato entre as partes). Há ainda outro detalhe: o endereço do que talvez seja o principal site por lá é kpvz7ki2v5agwt35.onion/wiki/index.php/Main_Page e não adianta tentar acessá-lo pelo navegador convencional, pois ele precisa ter uma configuração específica (como a do TOR) para que o link abra. Trata-se da Hidden Wikki, uma espécie de indicador de sites com cara de Wikipédia que te ajuda a navegar por tema. Os endereços são decodificados dessa maneira e algumas páginas mudam constantemente para não serem achadas, enquanto outras dependem de informações específicas para se modificar e, assim, conceder acesso ao que realmente importa ali. A maioria dos sites tem o .onion no meio por conta do TOR, mas há scripts que configuram o navegador para que ele abra outras extensões, afinal, essa não é a única forma de driblar o monitoramento da Surface Web. No ano passado, por exemplo, quatro pesquisadores das universidades de Michigan e Waterloo criaram o Telex, que permite acesso a páginas bloqueadas, embora a tecnologia dependa de aprovação do governo ou provedor Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 26 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. para funcionar. Uma alternativa é a Freenet, uma plataforma pela qual se pode compartilhar arquivos, navegar e publicar "freesites" - estes, assim como os .onion, só são acessíveis com o programa específico. 6 NAVEGAÇÃO E CONTEÚDO NA DARK WEB Antes de tudo é preciso saber que os navegadores comuns, como o Chrome o Firefox, Internet Explorer etc., não são capazes de acessar a maioria dos sites da Dark Web, é preciso baixar o navegador TOR (https://www.torproject.org), isso porque os sites são criptografados e somente o TOR é capaz de quebrar a criptografia, além de manter o usuário no anonimato. Dito isso, e ciente dos riscos que está correndo ao navegar na Dark Web, se está preparado para começar a navegar nela, desde que se saiba como procurar as coisas por lá. que o TOR é pesado e demora a acessar os sites, devido à criptografia. É o mais famoso buscador da Dark Web. Na verdade ele apenas indica links de acordo com os assuntos, e é nele que se encontram os itens mais sórdidos da Depp Web. Mas, também tem muito site cultural por lá. Para acessar a Hidden Wiki, basta digitar no TOR o endereço http://kpvz7ki2v5agwt35.onion/wiki/index.php/Main_Page e fazer as buscas. A Figura 4 mostra a Hidden Wiki. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 27 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. Figura 4 – Hidden Wiki (Fonte: Print Screen da Dark Web). A Hidden Wiki não é o diretório central da Dark Web, ela é apenas o caminho mais conhecido, mas mesmo lá os primeiros links destacados são sobre tráfico de drogas. Há, também, buscadores que vão aonde o Google não vai e, por isso, encontram de tudo principalmente no que se refere a material pornográfico. Talvez o mais impressionante sejam os sites com conteúdo relacionado a parafilias - neles se vê pedofilia, necrofilia, zoofilia etc.. Tudo comercializável. Já não se pode simplesmente dar um shut down em tudo, afinal sempre vai existir o argumento de liberdade de expressão, e também porque não há só lixo na Dark Web. Mas por lá as coisas mais assombrosas podem ser feitas – desde comprar drogas a encomendar um assassinato, e nem precisa pagar em dinheiro, pois a transação é feita com Bitcoins. Para fins desta pesquisa, navegamos entre as páginas com endereços intermináveis que, ao serem carregadas, revelavam nada mais do que uma imagem estática, ou uma porção de códigos ininteligíveis, ou, então, nada. Às vezes recarregávamos o endereço e a página simplesmente não existia mais. Há muito disso na Dark Web, principalmente quando se trata de conteúdo inapropriado para proteger tanto quem publica, quanto quem acessa. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 28 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. Observamos também que há links que chegam facilmente a conteúdo pouco usual, mas a maioria do material está bem escondida por seu esquema de camadas. Quando se depara com uma página aparentemente sem sentido, provavelmente há algo a mais para ser mostrado, mas que só pode ser acessado com a chave certa que pode ser, por exemplo, uma letra ou um número diferente no endereço. Sendo que nem sempre basta passar da primeira camada para chegar ao conteúdo, há quem diga que existem sites com até oito páginas falsas na frente. Por trás disso tudo, vimos que há sites com grupos cujo "passatempo" é matar outras pessoas das formas mais bizarras, outros que exibem méritos enquanto pedófilos, diversos tipos de extremismo, canibalismo (com quem come e quem se voluntaria a ser comido), tráfico humano, terrorismo, nazismo dentre muitos outros temas chocantes e revoltantes. Superficialmente, o que parece fazer mais sucesso é o tráfico de drogas, tanto que existem listas de vendedores recomendados, de acordo com a confiabilidade de cada um. Mas o comércio de armas corre solto, assim como o de contas do PayPal e de produtos roubados existem lojas específicas para marcas como Apple e Microsoft, por exemplo. Também dá para contratar assassinos de aluguel que possuem valores para cada tipo de pessoa (celebridades, políticos etc.), com preços que vão de US$ 20 mil a US$ 150 mil. Cibercriminosos e espiões oferecem seus serviços em alguns sites, outros promovem turismo sexual e, por menos de US$ 1 mil, prometem buscar o comprador no aeroporto, alguns vendem até documentos falsos, oferecendo, inclusive, cidadania norte-americana. Autoridades do mundo inteiro estão na Dark Web observando os passos de quem está lá dentro, talvez até com agentes se passando por usuários para obter informações e tentar antecipar ações ou desmascarar criminosos. É muito mais difícil encontrar os diretórios e identificar os internautas por lá, em função dos nós de acesso criados pelo TOR e dos serviços de hospedagem e armazenamento invisíveis da rede Onion. Por mais que as coisas ali soem bizarras demais para o internauta comum, vale ressaltar que nada do que consta na rede alternativa está longe de ser encontrado nas ruas, cabe à pessoa decidir o caminho que lhe interessa. Não se pode perder a oportunidade de viver neste mundo por medo. Contudo, tem que se proteger, fazer as coisas com consciência. Como já explicado anteriormente, a Dark Web se diferencia muito da rede normal, porque é tudo criptografado, diferentemente da web tradicional, porque neste pedaço, a informação passa por vários pontos, recebendo uma criptografia em cada um. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 29 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. Há quem diga que na Dark Web há o respeito à privacidade. Tem gente que não quer ter uma máquina cheia de cookies, nem que as pessoas saibam o que se está comprando, o que se gostaria de comprar, nem ser bombardeado com oportunidades de compra só por estar fazendo uma busca. Logo, a Dark Web existe por deficiências da Surface Web e seu uso comercial excessivo. Por outro lado, uma infinidade de criminosos viu na Dark Web motivos para praticar atos ilícitos e garantir o anonimato. Tem coisas estranhíssimas que nem se imagina que haja quem possa gostar daquilo. Como já mencionado - tudo o que se imaginar de parafilia tem lá e é comum se deparar com imagens desagradáveis. A seguir um pequeno exemplo de desse “comércio alternativo”. Figura 5 – Assassinos de Aluguel (Fonte: Print Screen da Dark Web). Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 30 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. Figura 6 – Venda de Serviço de Assassino de Aluguel (Fonte: Print Screen da Dark Web). Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 31 A Dark Web – navegando no lado obscuro da internet. Figura 7 – Venda de Drogas (Fonte: Print Screen da Dark Web). Como já dito e como se pôde observar, realmente tem de tudo neste lado obscuro da Internet: sites de pedofilia, turismo sexual e até assassinos de aluguel. No entanto, especialistas em segurança dizem que há uma “paranoia” muito grande sobre a Dark Web, que apenas se fala do lado ruim, mas que isso só tem pra quem está procurando por isso. Claro, existe a possibilidade de acabar acessando sem querer uma destas páginas por inexperiência, mas quem entra lá para procurar drogas, também pode ir à esquina para comprá-las. O assunto é delicado e divide opiniões. As autoridades sabem que a Dark Web existe, mas como já foi dito não há nada que se possa fazer. É praticamente impossível identificar um acesso neste lado misterioso da rede. Entretanto, quem a usa para o bem não é conivente com toda esta ilegalidade. Conforme dito, é verdade que nem tudo é do mal. Existem ferramentas de busca próprias para o ambiente, como o Deep Peep (que funciona como o Google), e até um que se propõe a ajudar na busca de informações que valem a pena, como o Intute - um site que concentra centenas de links para estudos e pesquisas que abrangem todas as áreas do conhecimento humano. E há, também, sites que tratam de assuntos controversos, mas não ilegais ou depravados, onde as pessoas podem opinar sem serem pré-julgadas por isso. Há, ainda, chats para quem quer trocar informações com outros usuários específicos, mas a regra de ouro ao navegar na Dark Web é: veja o que quiser, mas não fale com ninguém. Cabendo ressaltar que trazer alguma coisa de lá para cá é perigoso, sem dúvidas. É preciso cautela e, na dúvida, não clicar em nada. 7 CONCLUSÃO Todo mundo que se conecta à Internet normal sabe que essas bizarrices todas existem no mundo. Ninguém precisa de Dark Web para saber ainda mais. Sites com fotos de acidentes, de autopsias, de possessões e de aparições existem na Surface Web. O que torna a Dark Web um ambiente grotesco é que o que mais se encontra lá são sites de pedofilia, onde os usuários trocam fotos e contam vantagem do que fazem. São coisas impensáveis e nada comparadas ao que se encontra e se vê na superfície da Internet. Não é nem preciso acessar um site para saber disso - os fóruns relatam em detalhes o que foi que a pessoa fez e só depois surgem os links das imagens para comprovação. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 4, n.6, p. 18-33, jan./jul., 2015 | | 32 FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos. Finalmente, com o estômago embrulhado, emergimos à superfície, de volta para um mundo que, de repente, se tornou muito pior. As imagens vão demorar a sumir e a conclusão é que a Dark Web mostra uma realidade que não deveria existir e que não se precisa ver. REFERÊNCIAS BERGMAN, Michael K. The Deep Web: Surfacing Hidden Value. BrightPlanet LLC, 2010. __________. Exploring the Deep Web That Google Can’t Grasp. The New York Times, n.10, p.21-25, fev. de 2012. __________. The Deep Web: Surfacing Hidden Value. The Journal of Electronic, n. 7, p. 08-15, maio 2012. CASTILHO, Wanderson. Manual do Detetive Virtual: casos verídicos e dicas para se proteger no mundo digital. 2ª ed. São Paulo: Urbana, 2009. FRANCO, Deivison Pinheiro. Deep Web - Mergulhando no Submundo da Internet. Revista Segurança Digital, n.9, p.32-39, abr. de 2013. LIMA, Paulo Marco Ferreira. 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