A DARK WEB – NAVEGANDO NO LADO OBSCURO DA INTERNET1

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A DARK WEB – NAVEGANDO NO LADO OBSCURO DA INTERNET1
Deivison Pinheiro Franco2
Suyanne Ramos Magalhães3
RESUMO: Há um universo paralelo na Internet onde a informação é inacessível para os mecanismos
de buscas comuns. O que enxergamos equivalente à superfície da Internet (Surface Web) que, de
acordo com especialistas, corresponde apenas a 4% de toda a web, estando a maior parte da
informação enterrada profundamente em sites dinâmicos e que não são encontrados através do Google,
por exemplo, pois suas páginas são criadas e disponibilizadas dinamicamente e apenas são encontradas
através de mecanismos de busca específicos - este é o conteúdo da Dark Web, cujo tamanho, devido a
essa característica, é muito superior ao da Surface Web. Dessa forma, o objetivo deste artigo é de
mostrar a Dark Web, seu surgimento, como chegar a ela, apresentando seu funcionamento,
mecanismos de busca, conteúdos e o que se pode tirar de útil ou de proveito da mesma, bem como o
que não se pode, haja vista seu uso mais comum ser de cunho ilegal para divulgação e comercialização
de material ilícito.
PALAVRAS-CHAVE: World Wide Web. Surface Web. Dark Web. Internet. Mecanismos de Busca.
ABSTRACT: There is a parallel universe where information on the Internet is inaccessible to the
common search engines. What we see on the surface equivalent of the Internet (Surface Web) which,
according to experts, represents only 4% of the entire web, and most of the information buried deep in
dynamic websites that are not found through google, for example, because your pages are dynamically
created and made available and are found only through specific search engines - this is the Dark Web
content, whose size, due to this characteristic, is much higher than the Surface Web. Thus, the purpose
of this article is to show the Dark Web, its appearance, how to get it, showing its functioning, search
engines, and content that can be drawn or useful out of it, and what cannot, given its more common be
illegal to die dissemination and marketing of illicit material.
KEYWORDS: World Wide Web, Surface Web, Dark Web, Internet Search Engines.
Artigo recebido em 30.07.2015 e aprovado em 14.09.2015.
Mestrando em Inovação Tecnológica. Especialista em Ciências Forenses com Ênfase em Computação Forense.
Especialista em Suporte a Redes de Computadores e Tecnologias Internet. Especialista em Redes de
Computadores. Graduado em Processamento de Dados.
[email protected].
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Aluna do 4º semestre do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da FCAT.
[email protected].
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FRANCO, Deivison Pinheiro; MAGALHÃES, Suyanne Ramos.
1 INTRODUÇÃO
Deep Web (dark web, deepnet, invisible net, undernet, ou hidden web) refere-se a
qualquer rede fechada que compreende um grupo privado de pessoas, que querem se
comunicar. No entanto, desde 2002, o termo evoluiu e tem sido usado para se referir às redes
de compartilhamento de arquivos, sejam eles privados ou acessíveis ao público em geral. A
Darknet é o termo que é usado para referir coletivamente a todas as redes de comunicação
encobertas. Logo, a Dark Web é a camada da Internet que não pode ser acessada através de
uma simples busca no Google.
Quando se diz que na Internet é possível aprender como construir bombas, comprar
drogas e documentos falsificados, entre outras coisas, geralmente é sobre a Dark Web que
estão falando; assim como é lá também que surgem organizações como Wikileaks e
Anonymous, e são essas pessoas que discutem a web como um organismo livre e democrático.
A Dark Web é considerada a camada real da rede mundial de computadores,
comumente explicada em analogia a um iceberg: a Internet indexada, que pode ser encontrada
pelos sistemas de busca, seria apenas a ponta superficial, a "Surface Web". Todo o resto é a
Dark Web - não à toa o nome que, em inglês, significa algo como rede profunda. Essa parte de
baixo do iceberg existe por causa das deficiências da parte de cima, por causa do uso
comercial excessivo da parte de cima. A Figura 1 ilustra melhor isso.
Figura 1 – Surface Web X Deep Web (Adaptado de BERGMAN, 2010).
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Em geral, a Dark Web é um grupo que permite o compartilhamento de todos os tipos
de conteúdo de forma anônima, sendo impossível identificar o usuário porque os arquivos são
criptografados. Essa rede é usada, portanto, para partilhar informação sensível.
Como visto na Figura 1, a Deep Web é muito maior do que a encontrada na
superfície e estima-se que é centenas de vezes maior. É o que está por trás dos milhões de
dados que a "Internet visível" nos apresenta diariamente.
Na web normal, tudo que fazemos para chegar a qualquer destino pode ser facilmente
rastreado. Mais que isso: mecanismos inteligentes identificam o que fazemos o tempo todo na
rede para, logo em seguida, oferecer publicidade dirigida e relacionada ao nosso gosto
pessoal. E muita gente acaba usando a Dark Web simplesmente por não estar de acordo com
esta regra imposta por gigantes como o Google.
O primeiro choque com a Dark Web é em relação ao tamanho deste lado escuro da
Internet. Um iceberg, um destes blocos gigantes de gelo que vagam pelo oceano. A parte
visível, que fica acima da superfície da água seria o correspondente à Internet cotidiana, como
conhecemos hoje. Os outros 90% submersos escondidos ali representariam a proporção desta
parte da rede.
Para quem nunca ouviu falar no assunto, a principal diferença entre a Internet e a
Dark Web é que neste lado escondido da rede, nada é indexado. Nada é rastreado. Todo o
tráfego de dados é criptografado, o que significa privacidade e anonimato, o que pode ser bom
e ruim ao mesmo tempo.
Para aqueles que já ouviram falar dela, talvez haja a ideia de um mundo paralelo.
Mas a verdade é que a Deep Web é apenas uma designação para tudo o que é inacessível para
os mecanismos de busca comuns, que não podem acessar certos sites "escondidos".
A Dark Web, num primeiro momento, é toda a parte da World Wide Web que não é
indexada por mecanismos de busca. Há uma política que se pode colocar em um site para que
os mecanismos de busca não examinem o conteúdo do mesmo. Mas isso é apenas um acordo
de cavalheiros, se alguma empresa quiser indexar este conteúdo, ela pode.
Outra parte do conteúdo indexado são os "jardins murados" como o Facebook, por
exemplo. Qualquer conteúdo que as pessoas compartilham no Facebook, em geral, só pode
ser acessado com uma conta no Facebook.
Os “jardins” são, por vezes, apenas “parcialmente murados”: é possível fazer buscas
e ver parcialmente as informações, mas o restante apenas com a inscrição, às vezes paga. Há
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muita controvérsia com universidades (instituições públicas, e também privadas) que não
fornecem seus artigos fora dos "jardins murados".
Ante ao exposto, pode-se dizer que a Dark Web é o conjunto de recursos de
informação WWW não relacionados e indexados por mecanismos de busca normais, de acordo
com uma estimativa de alguns especialistas em segurança, a Dark Web é desconhecida para a
maioria dos usuários da Internet.
Para explicar melhor a Deep Web, pode-se comparar as pesquisas na Internet como o
arrastar de uma rede em toda a superfície de um oceano: um grande conteúdo pode ser
apanhado, mas ainda há uma gama de outras coisas que está nas profundezas e que não
capturadas, como mostrado na Figura 2.
Figura 2 – O Mapa da Deep Web (Fonte: www.brandpowder.com).
2 SURGIMENTO
Em grande parte, a Dark Web existe, assim como a própria Internet, graças à força
militar dos Estados Unidos. Neste caso, graças ao Laboratório de Pesquisas da Marinha do
país, que desenvolveu o The Onion Routing para tratar de propostas de pesquisa, design e
análise de sistemas anônimos de comunicação. A segunda geração desse projeto foi liberada
para uso não-governamental, apelidada de TOR e, desde então, vem evoluindo.
Em 2006, o TOR deixou de ser um acrônimo de The Onion Router para se
transformar em ONG, a TOR Project, uma rede de túneis escondidos na Internet em que todos
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ficam quase invisíveis. Onion, em inglês, significa cebola, e é bem isso que a rede parece,
porque às vezes é necessário atravessar várias camadas para se chegar ao conteúdo desejado.
Grupos pró-liberdade de expressão são os maiores defensores do TOR, já que pela
rede Onion é possível conversar anonimamente e, teoricamente, sem ser interceptado, dando
voz a todos, passando por quem luta contra regimes ditatoriais, empregados insatisfeitos,
vítimas que queiram denunciar seus algozes. A ONG já teve apoio da Electronic Frontier
Foundation, da Human Rights Watch e até da National Christian Foundation.
Ao acessar um site normalmente, seu computador se conecta a um servidor que
consegue identificar o IP; com o TOR isso não acontece, pois, antes que sua requisição
chegue ao servidor, entra em cena uma rede anônima de computadores que fazem pontes
criptografadas até o site desejado. Por isso, é possível identificar o IP que chegou ao
destinatário, mas não a máquina anterior, nem a anterior, nem a anterior etc. Chegar no
usuário, então, é praticamente impossível.
Também há serviços de hospedagem e armazenagem invisíveis. Assim, o dono da
página está seguro se não quiser ser encontrado.
3 FUNCIONAMENTO
A ideia original foi criada pela Marinha Americana, cujo intuito era ocultar, dentro
de uma frota, a embarcação que emitia os comandos para as demais. Esse processo ocorria da
seguinte maneira:
- Imagine o navio comandante de uma frota de 100 navios. Sendo o comandante, este
navio é o mais importante da frota, pois é ele quem está ordenando todos os outros, ou seja, é
ele quem está no comando e é claro que não se quer que o inimigo saiba qual é o este navio,
nem que saiba quais navios recebem suas ordens.
- Uma solução para isso seria criptografar o conteúdo das mensagens, assim não teria
como se saber que a transmissão de um determinado navio é mais importante que a dos
outros. Contudo, o inimigo possui uma tecnologia: ele não pode decriptografar as mensagens
da frota, mas pode rastrear de onde todas as mensagens saem e para onde todas vão, ou seja,
ele pode não saber o que está sendo trafegado, mas tem tudo o que precisam: o fluxo de
mensagens, o que lhe permite perceber que um determinado navio mais envia do que recebe
mensagens, caracterizando, assim, que ele é o comandante e para evitar que isso acontecesse,
a Marinha inventou o conceito de uma "Rede Cebola":
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- Em vez de enviar as ordens diretamente do ponto A para o ponto B, as mensagens
saltam randomicamente pela frota antes de alcançar seu destino. Por conta da criptografia, o
inimigo não pode predizer a diferença entre uma nova mensagem e uma mensagem
retransmitida, pois todas parecem iguais.
- Dessa forma, é difícil rastrear o navio de onde veio a mensagem, pois ele pode ter
recebido e transmitido várias mensagens entre o envio e o recebimento da mesma e ainda que
haja espiões em alguns navios, somente o transmissor e o receptor têm acesso à mensagem
original, já que para enviar uma mensagem de A até B, o navio comandante irá criar uma rota
aleatória entre os navios e adicionar uma criptografia por cima de outra para cada navio da
rota por onde a mensagem passará.
- Sendo assim, nenhum navio entre A e B terá ciência da mensagem. Somente A e B
terão o conteúdo original. Para cada salto entre A e B, uma camada de criptografia é
adicionada, cada uma com sua própria chave e a única informação real que um ponto possui é
a de para quem ele deverá enviar a mensagem que ele recebeu. Aí está a ideia da "cebola":
várias camadas, assim como a mensagem saltando de navio em navio. A cada navio, uma
camada é retirada. A Figura 3 ilustra o funcionamento do TOR.
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Figura 3 – Funcionamento do TOR (Fonte: PAGANINI, 2012)
4 CAMADAS
Muitas são as teorias sobre as camadas da Dark Web, mas pouco se sabe sobre sua
verdadeira existência, entre as pesquisas que realizei o melhor esquema que encontrei foi esse.
Ele retrata a Internet de um modo estruturado e de fácil compreensão. Portanto, a Internet
divide-se dessa maneira:

Surface Web: um lado mais "escuro" da web, onde ficam sites incomuns, mas
que ainda sim pode ser acessado facilmente;

Berigie web: último nível de classe "baixa", aqui se encontram sites de grupos
fechados e que utilizam proxy, TOR ou alguma ferramenta para permitir o acesso;

Charter web: a famosa Dark Web, onde se utiliza o TOR para ter acesso,
divide-se em duas partes: a primeira são os sites comuns como Hidden Wiki e
HackBB, a segunda engloba os sites restritos e de grupos fechados;
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
Marianas web: o divisor de águas entra a Dark Web "falsa" e a legítima web
oculta, aqui se encontram pessoas com um conhecimento mais avançado em
computação, verdadeiros hackers, crackers, bankers, a partir desse ponto a coisa fica
mais tensa. Há algumas teorias que dizem que ela se divide em mais três níveis, que
seriam:

Nível 1: vídeos e documentos governamentais, sendo uma rede
fortemente criptografada e segura;

Nível 2: aqui se encontram pessoas que disputam o controle sobre o
nível 8. Bilhões de dólares são negociados e tratados.

Nível 3: basicamente onde há o controle tecnológico global, há
documentos relacionados com computação quântica, grandes elite hackers, que
obviamente não são nem comentados nas mídias andam por aqui, o foco é
poder e dinheiro, neste nível encontra-se o que quer e o que não quer.
Existe também a teoria de que ao invés de 05 níveis, como representado acima, a
Dark Web possuiria de 08 a 10 níveis, sendo esses extremamente restritos e inomináveis, ou
seja, por ser tão sigiloso só existe por alguns momentos, e para algumas pessoas. Nós,
usuários normais, não poderíamos adentrar sem sabermos aonde ir, com que ir, e quando ir;
portanto essa fase se torna a fase das sub-redes e é aí que a coisa fica confusa.
Um exemplo análogo disso é o mIRC (programa de bate papo antigo): nele existe a
configuração privada para evitar lag (atrasos). Então, a fim de que esses atrasos fossem
evitados, era possível vincular os IPs formando uma sub-rede dentro do próprio programa e é
assim, mas de uma forma muito mais complexa funciona a Dark Web em suas camadas mais
profundas: são sub-redes alinhadas de maneira estratégica, de modo a somente funcionar com
autorização ou convite, o que abre espaço para muitas coisas serem realizadas no obscuro.
A Dark Web pode ser acessada também por outros programas, e cada um carrega
elementos próprios; portanto um navegador não abrirá páginas .onion. Sendo assim, todo
navegador, tem suas distintas camadas. O TOR é sobressalente nesse aspecto, mas os outros
também possuem.
5 COMO CHEGAR LÁ
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No site TOR Project (https://www.torproject.org/download/download-easy.html.en)
é possível encontrar ferramentas pelas quais é possível ter contato com a rede Onion,
inclusive um compilado de produtos que inclui a versão portátil do Fiferox já configurada
para o acesso anônimo e que sequer exige instalação. Tanta preocupação com segurança faz
com que a navegação seja muito lenta, e isso ocorre principalmente por conta da triangulação
do acesso – o navegador manda uma requisição para um link, que por sua vez encaminha para
um desvio em outro país, no qual redireciona para o site.
É preciso cautela para se aventurar nesse mundo. Em primeiro lugar, tenha em mente
que os principais caminhos estão em inglês, e é essencial compreender exatamente o que está
escrito antes de clicar num link. Além disso, a Dark Web é feia, porque ninguém ali está
preocupado com o layout, então o inglês é duas vezes mais importante, já que não há imagens
que te levem a entender o contexto. É tudo bem direto.
Cabe ressaltar que alguns dos vírus mais arrojados são testados na Dark Web,
portanto, antivírus e firewall têm de ser bons e estar atualizados. Aqui na redação nós usamos
um netbook ligado a um modem 3G para poupar a nossa rede de eventuais problemas; se não
houver como fazer isso, a dica é criar uma máquina virtual. Há, inclusive, uma versão do
Linux, a "Tails", feita especificamente para esse tipo de coisa. As operações financeiras por lá
não são feitas com dinheiro ou cartão de crédito; a maioria dos sites nem aceita opções como
PayPal, é tudo em Bitcoin (moeda virtual que garante o anonimato entre as partes).
Há ainda outro detalhe: o endereço do que talvez seja o principal site por lá é
kpvz7ki2v5agwt35.onion/wiki/index.php/Main_Page e não adianta tentar acessá-lo pelo
navegador convencional, pois ele precisa ter uma configuração específica (como a do TOR)
para que o link abra. Trata-se da Hidden Wikki, uma espécie de indicador de sites com cara de
Wikipédia que te ajuda a navegar por tema. Os endereços são decodificados dessa maneira e
algumas páginas mudam constantemente para não serem achadas, enquanto outras dependem
de informações específicas para se modificar e, assim, conceder acesso ao que realmente
importa ali.
A maioria dos sites tem o .onion no meio por conta do TOR, mas há scripts que
configuram o navegador para que ele abra outras extensões, afinal, essa não é a única forma
de driblar o monitoramento da Surface Web. No ano passado, por exemplo, quatro
pesquisadores das universidades de Michigan e Waterloo criaram o Telex, que permite acesso
a páginas bloqueadas, embora a tecnologia dependa de aprovação do governo ou provedor
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para funcionar. Uma alternativa é a Freenet, uma plataforma pela qual se pode compartilhar
arquivos, navegar e publicar "freesites" - estes, assim como os .onion, só são acessíveis com o
programa específico.
6 NAVEGAÇÃO E CONTEÚDO NA DARK WEB
Antes de tudo é preciso saber que os navegadores comuns, como o Chrome o
Firefox, Internet Explorer etc., não são capazes de acessar a maioria dos sites da Dark Web, é
preciso baixar o navegador TOR (https://www.torproject.org), isso porque os sites são
criptografados e somente o TOR é capaz de quebrar a criptografia, além de manter o usuário
no anonimato.
Dito isso, e ciente dos riscos que está correndo ao navegar na Dark Web, se está
preparado para começar a navegar nela, desde que se saiba como procurar as coisas por lá.
que o TOR é pesado e demora a acessar os sites, devido à criptografia. É o mais famoso
buscador da Dark Web. Na verdade ele apenas indica links de acordo com os assuntos, e é
nele que se encontram os itens mais sórdidos da Depp Web. Mas, também tem muito site
cultural por lá.
Para
acessar
a
Hidden
Wiki,
basta
digitar
no
TOR
o
endereço http://kpvz7ki2v5agwt35.onion/wiki/index.php/Main_Page e fazer as buscas. A
Figura 4 mostra a Hidden Wiki.
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Figura 4 – Hidden Wiki (Fonte: Print Screen da Dark Web).
A Hidden Wiki não é o diretório central da Dark Web, ela é apenas o caminho mais
conhecido, mas mesmo lá os primeiros links destacados são sobre tráfico de drogas. Há,
também, buscadores que vão aonde o Google não vai e, por isso, encontram de tudo principalmente no que se refere a material pornográfico. Talvez o mais impressionante sejam
os sites com conteúdo relacionado a parafilias - neles se vê pedofilia, necrofilia, zoofilia etc..
Tudo comercializável.
Já não se pode simplesmente dar um shut down em tudo, afinal sempre vai existir o
argumento de liberdade de expressão, e também porque não há só lixo na Dark Web. Mas por
lá as coisas mais assombrosas podem ser feitas – desde comprar drogas a encomendar um
assassinato, e nem precisa pagar em dinheiro, pois a transação é feita com Bitcoins.
Para fins desta pesquisa, navegamos entre as páginas com endereços intermináveis
que, ao serem carregadas, revelavam nada mais do que uma imagem estática, ou uma porção
de códigos ininteligíveis, ou, então, nada. Às vezes recarregávamos o endereço e a página
simplesmente não existia mais. Há muito disso na Dark Web, principalmente quando se trata
de conteúdo inapropriado para proteger tanto quem publica, quanto quem acessa.
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Observamos também que há links que chegam facilmente a conteúdo pouco usual,
mas a maioria do material está bem escondida por seu esquema de camadas. Quando se
depara com uma página aparentemente sem sentido, provavelmente há algo a mais para ser
mostrado, mas que só pode ser acessado com a chave certa que pode ser, por exemplo, uma
letra ou um número diferente no endereço. Sendo que nem sempre basta passar da primeira
camada para chegar ao conteúdo, há quem diga que existem sites com até oito páginas falsas
na frente.
Por trás disso tudo, vimos que há sites com grupos cujo "passatempo" é matar outras
pessoas das formas mais bizarras, outros que exibem méritos enquanto pedófilos, diversos
tipos de extremismo, canibalismo (com quem come e quem se voluntaria a ser comido),
tráfico humano, terrorismo, nazismo dentre muitos outros temas chocantes e revoltantes.
Superficialmente, o que parece fazer mais sucesso é o tráfico de drogas, tanto que
existem listas de vendedores recomendados, de acordo com a confiabilidade de cada um. Mas
o comércio de armas corre solto, assim como o de contas do PayPal e de produtos roubados existem lojas específicas para marcas como Apple e Microsoft, por exemplo. Também dá para
contratar assassinos de aluguel que possuem valores para cada tipo de pessoa (celebridades,
políticos etc.), com preços que vão de US$ 20 mil a US$ 150 mil.
Cibercriminosos e espiões oferecem seus serviços em alguns sites, outros promovem
turismo sexual e, por menos de US$ 1 mil, prometem buscar o comprador no aeroporto,
alguns vendem até documentos falsos, oferecendo, inclusive, cidadania norte-americana.
Autoridades do mundo inteiro estão na Dark Web observando os passos de quem está
lá dentro, talvez até com agentes se passando por usuários para obter informações e tentar
antecipar ações ou desmascarar criminosos. É muito mais difícil encontrar os diretórios e
identificar os internautas por lá, em função dos nós de acesso criados pelo TOR e dos serviços
de hospedagem e armazenamento invisíveis da rede Onion.
Por mais que as coisas ali soem bizarras demais para o internauta comum, vale
ressaltar que nada do que consta na rede alternativa está longe de ser encontrado nas ruas,
cabe à pessoa decidir o caminho que lhe interessa. Não se pode perder a oportunidade de viver
neste mundo por medo. Contudo, tem que se proteger, fazer as coisas com consciência.
Como já explicado anteriormente, a Dark Web se diferencia muito da rede normal,
porque é tudo criptografado, diferentemente da web tradicional, porque neste pedaço, a
informação passa por vários pontos, recebendo uma criptografia em cada um.
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Há quem diga que na Dark Web há o respeito à privacidade. Tem gente que não quer
ter uma máquina cheia de cookies, nem que as pessoas saibam o que se está comprando, o que
se gostaria de comprar, nem ser bombardeado com oportunidades de compra só por estar
fazendo uma busca. Logo, a Dark Web existe por deficiências da Surface Web e seu uso
comercial excessivo.
Por outro lado, uma infinidade de criminosos viu na Dark Web motivos para praticar
atos ilícitos e garantir o anonimato.
Tem coisas estranhíssimas que nem se imagina que haja quem possa gostar daquilo.
Como já mencionado - tudo o que se imaginar de parafilia tem lá e é comum se deparar com
imagens desagradáveis. A seguir um pequeno exemplo de desse “comércio alternativo”.
Figura 5 – Assassinos de Aluguel (Fonte: Print Screen da Dark Web).
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Figura 6 – Venda de Serviço de Assassino de Aluguel (Fonte: Print Screen da Dark Web).
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Figura 7 – Venda de Drogas (Fonte: Print Screen da Dark Web).
Como já dito e como se pôde observar, realmente tem de tudo neste lado obscuro da
Internet: sites de pedofilia, turismo sexual e até assassinos de aluguel. No entanto,
especialistas em segurança dizem que há uma “paranoia” muito grande sobre a Dark Web, que
apenas se fala do lado ruim, mas que isso só tem pra quem está procurando por isso. Claro,
existe a possibilidade de acabar acessando sem querer uma destas páginas por inexperiência,
mas quem entra lá para procurar drogas, também pode ir à esquina para comprá-las.
O assunto é delicado e divide opiniões. As autoridades sabem que a Dark Web existe,
mas como já foi dito não há nada que se possa fazer. É praticamente impossível identificar um
acesso neste lado misterioso da rede. Entretanto, quem a usa para o bem não é conivente com
toda esta ilegalidade.
Conforme dito, é verdade que nem tudo é do mal. Existem ferramentas de busca
próprias para o ambiente, como o Deep Peep (que funciona como o Google), e até um que se
propõe a ajudar na busca de informações que valem a pena, como o Intute - um site que
concentra centenas de links para estudos e pesquisas que abrangem todas as áreas do
conhecimento humano. E há, também, sites que tratam de assuntos controversos, mas não
ilegais ou depravados, onde as pessoas podem opinar sem serem pré-julgadas por isso.
Há, ainda, chats para quem quer trocar informações com outros usuários específicos,
mas a regra de ouro ao navegar na Dark Web é: veja o que quiser, mas não fale com ninguém.
Cabendo ressaltar que trazer alguma coisa de lá para cá é perigoso, sem dúvidas. É preciso
cautela e, na dúvida, não clicar em nada.
7 CONCLUSÃO
Todo mundo que se conecta à Internet normal sabe que essas bizarrices todas
existem no mundo. Ninguém precisa de Dark Web para saber ainda mais. Sites com fotos de
acidentes, de autopsias, de possessões e de aparições existem na Surface Web.
O que torna a Dark Web um ambiente grotesco é que o que mais se encontra lá são
sites de pedofilia, onde os usuários trocam fotos e contam vantagem do que fazem. São coisas
impensáveis e nada comparadas ao que se encontra e se vê na superfície da Internet.
Não é nem preciso acessar um site para saber disso - os fóruns relatam em detalhes o
que foi que a pessoa fez e só depois surgem os links das imagens para comprovação.
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Finalmente, com o estômago embrulhado, emergimos à superfície, de volta para um
mundo que, de repente, se tornou muito pior. As imagens vão demorar a sumir e a conclusão é
que a Dark Web mostra uma realidade que não deveria existir e que não se precisa ver.
REFERÊNCIAS
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__________. Exploring the Deep Web That Google Can’t Grasp. The New York Times,
n.10, p.21-25, fev. de 2012.
__________. The Deep Web: Surfacing Hidden Value. The Journal of Electronic, n. 7, p.
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FRANCO, Deivison Pinheiro. Deep Web - Mergulhando no Submundo da Internet. Revista
Segurança Digital, n.9, p.32-39, abr. de 2013.
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WENDT, Emerson; JORGE, Higor Vinicius Nogueira. Crimes Cibernéticos: Ameaças e
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