CURSO T. DE ACÇÃO SOCIAL - SAÚDE E SOCORRISMO - 11º ANO – “DESEQUILÍBRIOS DE SAÚDE” 4. Doenças infecciosas / Contagiosas MENINGITE Sob esta designação clínica, incluem-se habitualmente duas formais agudas: 1) Meningite asséptica, grupo de doenças de vírus (alguns autores consideram também outros agentes de doenças específicas não víricas), com predomínio, nos casos diagnosticados laboratorialmente nos E.U.A., de vírus Coxsackie B dos tipos 2, 3, 4, 5 (40 %), ECHO, 2, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 14, 17, 18 (14%), poliovírus (7%), trasorelho (6 %), caracterizada por sintomas de irritação meníngea, ausência de bactérias no líquor (Líquido cefalorraquidiano) e presença de polinucleares no início, e linfócitos mais tarde; 2) Meningite cérebro-espinhal epidémica ou de meningococos, doença bacteriana exclusivamente do homem, mais comum nas zonas temperadas, mas frequente nos climas quentes, que aparece sob a forma de casos esporádicos, de endemia e de epidemias. Tem incidência predominante nas crianças até aos 4 anos de idade. A meningite consiste numa infecção das meninges, as membranas que envolvem o cérebro. Se não for tratada a tempo, pode danificar as meninges e o próprio cérebro de uma forma permanente, podendo causar a morte. Agente etiológico — Neisseria meningitides (meningococo), bactéria gram negativa, de que se conhecem os grupos A, B, C e D (W135 e Y), antigenicamente diferentes, e de que o A, ou I, se observa principalmente durante as epidemias. O grupo B, ou II, é o mais frequente nos períodos inter-epidémicos e casos esporádicos. O grupo C está a tornar-se frequente em algumas populações. O importante a reter, em toda esta variedade do meningococo, é que não existe uma única vacina para todas estas variantes. São portanto destituídas de Neisseria fundamento afirmações de que é possível com uma só vacina adquirir meningitides protecção contra todas as formas de DM. Por maioria de razão, também não existe uma vacina contra todas as formas de meningite, uma vez que esta infecção pode ser causada pelas variantes do meningococo, por outras bactérias e ainda por vírus. Estas meningites virais «são doenças autolimitadas, mas que também requerem internamento porque muitas vezes as crianças têm febre e vomitam, precisando de um apoio hidroelectrolítico para não se desidratarem. Período de incubação — Impreciso, de dois a dez dias. Modo de infecção — O reservatório é o homem doente ou portador e o agente chega às vias respiratórias 1 superiores do novo hospedeiro por contacto directo ou por via aérea: gotículas do espirro e da tosse. A transmissão indirecta, pela via dos artigos contaminados pelais secreções respiratórias das pessoas infectadas, é rara, dada a fragilidade do germe. Não são conhecidos o grau e a duração da imunidade que a doença confere. Os portadores não mantêm o germe por mais de três semanas, habitualmente. Características — Na forma ordinária, a doença surge bruscamente, com febre alta, sintomas meníngeos, [rigidez da nuca, mal-estar e vómitos, e, algumas vezes, rash petequial ( petéquia -pequenas hemorragias na pele ou manchas tipo picada de pulga, que avançam rapidamente) . Na forma aguda fulminante, frequente nas crianças, não há localização meníngea, mas septicemia aguda (- do Gr. septikós, que causa putrefacção + haíma, sangue; intoxicação geral do sangue por bactérias.) ou hemorragia das cápsulas supra-renais e rash purpúrico ( figura ao lado). A forma crónica septicémica é acompanhada de febre persistente, por vezes com rash. Os casos leves e as formas frustes rino-faríngeas são frequentes. O prognóstico, tanto das formas meníngeas como septicémicas, outrora grave (70 % de mortos), melhorou com as sulfamidas e antibióticos, sendo a letalidade média, no presente, de 6 %. As complicações mais frequentes são lesões transitórias do sistema nervoso, das articulações e surdez permanente, por localização no ouvido interno. Diagnóstico — Tratamento — Isolamento do agente do líquor (líquido da medula espinal) e ou do sangue. Os sintomas clínicos e as mudanças de aspecto (turvação), pressão, citologia (aumento do número de células) composição (aumento da albumina, diminuição da glicose, pequena alteração dos cloretos) do líquor, são dados importantes para o diagnóstico. O tratamento específico é feito pelas sulfamidas e penicilina. Medidas preventivas ( Profilaxia )— Para os doentes, isolamento, desinfecção concorrente das secreções naso-faríngeas e objectos contaminados e declaração obrigatória. Para os escolares, a evicção é até à cura, e, para os contactos, de 10 dias. Paira localizar os portadores, devem ser examinadas zaragatoas naso-faríngeas e aplicadas sulfamidas nos casos positivos. As medidas gerais de profilaxia colectiva compreendem: evitar aglomerações, particularmente em quartas de dormir, que devem ser bem ventilados; evitar a fadiga e exposição ao frio; e, nas pessoas expostas, nos períodos epidémicas, a químio-prevenção com sulfonamidas. O inquérito epidemiológico deve esclarecer sobre a fonte do contágio e a incidência da doença na comunidade. Vacinas Existem dois tipos de vacinas contra o meningococo. As vacinas polissacáridas, mais antigas e, desde 2001, as vacinas conjugadas. Em ambos os casos são vacinas inactivadas (a partir de fracções). Vacinas polissacáridas Estas vacinas são eficazes apenas a partir dos 2 anos de idade, não cobrindo portanto a faixa etária de maior incidência da doença, e não induzem memória imunológica prolongada. São dirigidas contra os serogrupos A, C, W135 e Y, destinando-se sobretudo à vacinação de adultos. A sua utilização é recomendada a viajantes para áreas hiperendémicas e em situação de surto. Em Portugal apenas está registada a vacina Mengivac A+C (marca comercial) sendo, no entanto, a vacina Mencevax ACWY (marca comercial) distribuída, por autorização especial, para prescrição e administração nas consultas do viajante. Vacinas conjugadas(*) - (*) A designação "conjugada" é puramente técnica. Deve-se a que a vacina conjuga um polissacárido da cápsula da bactéria N. meningitidis com uma proteina da bactéria da difteria ou com o toxóide do tétano. As vacinas conjugadas têm eficácia a partir dos 2 meses de idade, induzem memória imunológica prolongada e destinam-se apenas ao serogrupo C. Em Portugal estão autorizadas desde 2001 a Meningitec, Meninvact/Menjugate e a NeisVac-C (tudo marcas comerciais). Quanto à vacinação contra o meningococo B, indispensável no actual contexto europeu e português, embora haja intensa investigação sobre formulações vacinais, algumas já em fase de ensaio clínico, não existe ainda vacina disponível com eficácia persistente. 2