DINÂMICA DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DA BACIA

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DINÂMICA DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO PARAGUARI – SALVADOR – BA.
Jémison Mattos dos Santos – Universidade Estadual da Bahia – UNEB ([email protected]).
Palavras-chaves: águas superficiais, dinâmica fluvial e geomorfologia
O presente estudo integra parte do projeto de pesquisa desenvolvido no
LEAGET-UFBA, referente ao estudo de bacias hidrográficas urbanas, onde selecionouse a Bacia Hidrográfica do Rio Paraguari que está compreendida entre os paralelos de
12º 53’ 07’’ e 12º 50’ 37’ de latitude Sul e os meridianos de 38º 29’ 22, 6’’ e 38º 27’
30,4’’ de longitude Oeste de Greenwich. A bacia hidrográfica em foco pertence
inteiramente ao município de Salvador (Estado da Bahia).Uma área situada no
Periurbano Ferroviário, na Costa Oeste do município inserida entre os bairros de
Periperi, Coutos e Praia Grande. Buscou-se analisar a dinâmica das águas superficiais a
partir de uma abordagem geomorfológica, bem como diagnosticar as principais
repercussões ambientais, na perspectiva de subsidiar o planejamento e gestão ambiental
em bacias hidrográficas urbanas.
O ciclo hidrológico é representado pelos mecanismos de transferência contínua
da água existente na Terra. Logo, no estudo das águas superficiais em bacias
hidrográficas o entendimento desse ciclo é fundamental, uma vez que os fluxos
contínuos de matéria e energia determinam a dinâmica do ambiente. “A cobertura
vegetal, a superfície topográfica, os solos e os aqüíferos subterrâneos são os elementos
componentes, enquanto que a precipitação responde pelos inputs e os demais processos
como a evapotranspiração, fluxos induzidos e as transferências interbacias respondem
pelo outputs” (CHRISTOFOLETTI, 1999) (Fig. 01).
Fonte: Christofoletti, 2000.
FIG. 01 - Modelo caracterizando o ciclo hidrológico em bacias hidrográficas, assinalando os
fluxos e armazenagens e identificando influências artificiais conforme (LEWIN, 1995).
1
Professor da Universidade Estadual da Bahia - UNEB - Campus VI. Mestre em Geoquímica e Meio Ambiente.
Pesquisador do Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território - LEAGET - Departamento de Geografia da
Universidade Federal da Bahia – UFBA. E.mail: [email protected]
Como resultante dos eventos tectônicos Quaternários que afetaram o “horst” da
Cidade do Salvador, as terras do município são drenadas por diversas bacias
hidrográficas distribuídas em duas vertentes principais, onde a falha de Salvador, com
orientação N - NE, funciona como interflúvio conduzindo as águas para a Baía de Todos
os Santos e para o Oceano Atlântico.
A vertente da Baía de Todos os Santos possui poucas linhas de
drenagens onde se destacam os riachos Pirajá, Paraguari, Cotegipe,
Macaco e o Rio do Cobre que atravessam o subúrbio ferroviário da
cidade. Este último forma a principal bacia da vertente drenando duas
importantes áreas de preservação; o Parque São Bartolomeu e o Parque
Histórico de Pirajá. Suas águas são utilizadas para fins de
abastecimento de uma parte do subúrbio ferroviário, através do sistema
composto por barragem de captação e estação de tratamento (ABREU,
2000).
A Bacia Hidrográfica do Rio Paraguari (BHRP) está regionalmente inserida na
vertente que deságua na Baía de Todos os Santos, especificamente, entre as localidades
de Periperi, Alto de Coutos e Praia Grande, sendo denominada, também, Bacia de
Periperi, estando enquadrada na Região Administrativa da Águas do Recôncavo Norte.
O Paraguari rio principal da bacia, tem sua nascente principal situada nos
contrafortes da reserva florestal do Cobre, a sudeste da bacia, a uma altitude de 90
metros aproximadamente, formada em aqüífero livre nos sedimentos do Grupo
Barreiras. Com nítido controle estrutural, instalando-se em vale encaixado de forma
alongada e estreita coalescendo em uma ampla bacia de captação, traçando uma direção
para SE até desembocar na Baía de Todos os Santos.
A rede de drenagem2 da BHRP se instalou inicialmente em rochas sedimentares
do Grupo Barreiras, esculturando um padrão dendrítico com densidade hidrográfica
assumindo o valor de 1, 66 rios/km2, apresentando 09 canais de 1a ordem e a 3ª ordem
para o canal principal. A referida bacia3 possui um perímetro de aproximadamente 11,17
km e, o comprimento total da rede (L) é igual a 10 km. O índice de forma (K) calculado
é igual a 1,3, ou seja, corresponde a uma bacia de forma quadrada (condicionante físiconatural do estado de resposta da bacia em relação ao escoamento de águas pluviais) e
com fator de forma (Kf) igual a 0,47 km2/km. Para o coeficiente de compacidade (Kc)
obteve-se valor igual 1,3 km/km2. No que se refere à extensão do percurso superficial
(Eps) e o coeficiente de manutenção (Cm), respectivamente, obteve-se valores de 0,54
km/km2 e 540m2/m. Constata-se, através da análise areal da BHRP, também, uma
densidade de drenagem da ordem de 1,85 km/km2. O rio principal da BHRP, possui um
comprimento total de 3,4 km e declividade do álveo de 20,58 (m/m) (Fig. 02).
Na natureza dinâmica da bacia hidrográfica, a densidade de drenagem
possui funções distintas: a) é resposta aos controles exercidos pelo
clima, vegetação, litologia e outros característicos da área drenada; b) é
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É Importante salientar que, o desenvolvimento das paisagens morfológicas em pequenas bacias hidrográficas é
condicionado, principalmente, pela dinâmica de vertentes. Logo, o estudo morfométrico não deve ser utilizado como
parâmetro fundamental para analise da evolução do relevo.
3
Os cálculos da análise morfométrica foram elaborados sobre o mapa topográfico (meio analógico – escala:1.12.500),
visando a obtenção de uma maior precisão.
fator influenciando o escoamento e o transporte sedimentar na bacia de
drenagem. Desde que atinja o equilíbrio com as condições ambientais,
a rede de canais torna-se variável independente do tempo, mas pode
sofrer alterações rápidas em virtude das modificações ocasionadas no
fornecimento de matéria e energia ao sistema. (...) pode-se tornar
variável sensitiva às mudanças climáticas ou antrópicas em curtos
períodos de tempo (CHRISTOFOLETTI,1979).
FIG. 02
elevação (m)
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAGUARI PERFIL
LONGITUDINAL- 2003
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Distância total aproximada 3,4 km
Elaborado: SANTOS, Jémison. M. dos, 2003.
A BHRP apresenta uma declividade média (l) igual a 1,7% ou 6,1º. A curva
hipsométrica de uma bacia representa com fidelidade o retrato de sua elevação, pois
expressa a percentagem de superfície da bacia mais alta em relação a uma dada altitude.
Segundo Strahler (1952), a curva hipsométrica é o reflexo do estado de equilíbrio
dinâmico potencial da bacia. A figura 26 apresenta três curvas hipsométricas
correspondentes a três bacias hidrográficas que possuem potenciais evolutivos distintos.
Torres (2000) afirma que, “la curva hipsométrica varía según el estado geológico de
desarrollo de la cuenca de drenaje, permitiendo comparar cuencas y determinados
atributos adimensionales, así como el estado de desarrollo de la erosión en una cuenca”.
As variações da altitude no interior de uma bacia, assim como a elevação média
é um dado fundamental para a análise morfológica, bem como para o estudo da
temperatura e da precipitação (Fig.25).
Fonte: Apostila Didática do Curso de Hidrologia, 2002.
Fig- 04. Curvas hipsométricas/características do ciclo de erosão
A curva A superior, da figura 04 acima, se assemelha à curva hipsométrica da
BHRP indicando fase de desequilíbrio/juventude e, também, caracterizando uma bacia
hidrográfica com elevado potencial erosivo (Fig.05); a curva B intermediária (fase de
equilíbrio/maturidade) é representativa de uma bacia em equilíbrio; a curva C inferior
(fase de monadock/velhice) é característica de bacias sedimentares.
FIG. 05
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAGUARI
CURVA HIPSOMÉTRICA - 2003
120
Elevação (m)
100
80
60
40
20
Percentagem
Elaborado: SANTOS, Jémison. M. dos, 2003.
1
3
5
7
9
11
0
No que tange aos aspectos morfológicos, o sistema fluvial da BHRP apresenta
extrema fragilidade que repercute no seu equilíbrio dinâmico, tornando-o suscetível as
alterações ambientais que se dão, respectivamente, direta ou indiretamente através de
intervenções humanas efetivas, a exemplo de obras hidráulicas (retilinização de canais) e
ocupação urbana em áreas da planície fluvial (aterramentos). Ambas antropizações
modificam a morfologia dos canais e produzem desajustamento do sistema.
(...) as alterações no comportamento natural dos canais fluviais
influencia, os processos que se registram nas encostas. Obras de
acentuado entalhe e aprofundamento dos leitos, no sentido de reduzir a
ocorrência de enchentes, são exemplos que alteram o nível de base
local, gera a retomada progressiva nas encostas e a conseqüente
formação de ravinas e voçorocas (GUERRA, 1996), (Fig.06).
Fonte: extraído de Christofoletti,1979.
FIG. 06 - Descrição do sistema canal fluvial, considerando as influências da mudança do débito
fluvial nas variáveis de fluxo.
O alto curso da BHRP caracteriza-se por planos dissecados em formas
convexas, constituindo os divisores curtos e mais ou menos profundamente entalhados
em morros, lombadas ou colinas. No médio curso observa-se um planalto rebaixado por
erosão com um patamar colinoso, constituído de vales poucos profundos e uma escarpa
de falha encoberta ao Sul, coincidindo com o vale do Rio Paraguari, indicada através da
acentuada ruptura de declive ao longo da Estrada Velha de Periperi.
No baixo curso tem-se uma planície extensa formada por um vale muito
alargado e enorme área brejosa que se reduz drasticamente ao longo dos anos; onde o
Rio Paraguari desloca-se sinuosamente até desembocar na Baía de Todos os Santos,
numa área privativa conhecida popularmente como oficina da Leste - RFSSA ou
Fazendinha. (Fig. 29).
A planície fluvial se distribui por um faixa expressiva da bacia, ao longo dos
canais que a drenam, apresenta forma alongada, seguindo os vales, com largura variável
em função da importância dos cursos de água. A planície coalesce com os terraços
baixos, onde se verifica a sinuosidade do Rio Paraguari. Essas áreas apresentam
problemas de inundação; em alguns trechos a inundação é permanente, em outros é
periódica, condicionada aos períodos das cheias e apresentando excedente de água quase
durante o ano todo
A dinâmica fluvial é resultante do tipo de regime dos cursos d’água, com cheias
rápidas, provocando o extravasamento na margem côncava dos mesmos.
Os afluentes do Rio Paraguari localizados ao S e SE da bacia, em destaque, são
caracterizados por entalharem seus cursos em áreas de maior declividade e, correrem
sobre sedimentos do Grupo Barreiras e do Embasamento Cristalino alterado. Já os
afluentes localizados ao N e NE deslocam-se em maior extensão sobre sedimentos da
Bacia do Recôncavo, em terrenos colinosos que denunciam um estado de degradação
ambiental mais intensa, devido ao elevado grau de antropização da área, condicionado,
principalmente, pela morfologia do terreno que facilita a ocupação urbana.
As vertentes ao Sul da BHRP dispõem-se em forma alongada, delineando um
arco voltado, predominantemente, para Noroeste e Norte. A área se caracteriza por um
relevo muito dissecado, de encostas convexas e côncavas com declividades superiores a
27º em alguns setores, bem como trechos de encostas ravinadas com declives variando
entre 14º e 27º. Ao norte, visualiza-se interflúvios mais alargados, com vertentes mais
suaves conformando vales largos, em forma de U, marcando declividades que variam,
predominantemente, entre 7º e 14º. Verifica-se que, alguns trechos das encostas em toda
a área da bacia apresentam declividade elevada, acima de 27º, delineadas mais
expressivamente ao sul (Fig. 30).
Devido à intensa dissecação do relevo e a natureza friável dos sedimentos, o
ambiente é caracterizado como instável, podendo sofrer maiores desequilíbrios se o
manejo não for adequado. Os riscos potenciais de erosão e, conseqüentemente, o
assoreamento do Rio Paraguari conduziria a acentuação das enchentes e nível de
vazantes, causando prejuízos expressivos para a população situada próximo ao canal
fluvial principal, bem como nos setores topograficamente menoseelevadosedaebacia.
A manutenção do equilíbrio ecológico na BHRP é complexo, devido às
particularidades do modelado e das características pedológicas, especialmente, nas áreas
ao sul e sudeste, que são predispostas à ocorrência de processos erosivos, bem como
devido à espontaneidade da ocupação humana em áreas de extrema fragilidade
ambiental associado ao elevado grau de antropização. Em alguns setores da bacia a
exemplo das cabeceiras de drenagens (headcuts), contata-se o uso e ocupação indevida
do solo através de construções de moradias. Nesses setores a erosão tende a aumentar, já
que a urbanização espontânea ocasiona a retirada da vegetação induzindo a instalação
dos processos de erosãoeaceleradaeporemobilizaçãoedeeterras.
A degradação ambiental da BHRP é definida, principalmente, por intervenções
sociais instaladas nos diversos subsistemas ambientais, que paulatinamente vem
repercutindo na perda da qualidade ambiental (Foto 01).
Foto 01 - Ocupação espontânea instalada em área de nascentes (headcuts),
no Conjunto Residencial Vista Alegre.
Um aspecto importante a ser salientado refere-se a evidencia de erosão intensa
na Estrada Velha de Periperi, pois a forte concentração do caudal pluvial, originada das
precipitações e amplificada pelo efeito da gravidade, provoca o desgaste lateral da via e
induz a formação de sulcos no seu leito, bem como o solapamento basal. Nos períodos
de precipitação elevada (junho a agosto) o material transportado das vertentes é
depositado ao longo da estrada, causando sérios transtornos para a população local e,
conseqüentemente, aumentando o risco de acidentes.
Observa-se que, a ausência de infra-estrutura rodoviária associada aos fatores
físicos-naturais e sociais tem permitido a acentuação dos efeitos erosivos na vias que
cortam a Bacia Hidrográfica do Rio Paraguari. Em todo o trecho da Estrada Velha não
se verifica a presença de canaletas de escoamento de águas pluviais, bem como a
presença de bueiros e valas. Além disso, a via foi implantada numa ruptura de declive
em terrenos com predisposição erosiva, possibilitando a formação de processos de
erosão acelerada. Em função da supressão da vegetação nota-se que cortes e aterros
rompem o perfil de equilíbrio das vertentes, podendo, “naturalmente” ocasionar
movimentos de massa.
Os taludes de corte ao longo da Estrada Velha de Periperi imprimiram uma
maior declividade das vertentes e abriram caminho para a instalação dos processos
erosivos, pois a exposição das mesmas ao intenso fluxo de radiação solar anualmente
(insolação); em detrimento da ausência de cobertura e somado a compactação
insatisfatória, tem facilitado a infiltração das águas e, conseqüentemente, a
desestruturação e remoção de parte do material pedogeneizado.
Os danos decorrentes de chuvas intensas são evitados quando os canais
e estruturas complementares são construídos ao mesmo tempo em que
a rodovia. Estas estruturas compreendem canais interceptores, canais
de plataforma, canais pé-de-talude, banquetas, caixas de queda e
dissipadores de energia, todos adequadamente protegidos para evitar
danos às fundações (BIGARRELLA & MAZUCHOWISKI, 1985).
As intervenções sociais inadequadas em bacias hidrográficas, ou seja, as
ingerências ambientais (urbanização, mineração, atividades agropecuárias e industriais,
dentre outras.) têm provocado uma série de desequilíbrios nos subsistemas: ar, água e
solo, conseqüentemente, produzindo alterações ambientais negativas, tais como:
poluição do ar (redução da capacidade de fotossíntese), perda capacidade biológica de
autodepuração das águas, empobrecimento dos solos, diminuição da variedade de
espécies vegetais, dentre outros. Tem-se, então uma relação de causa-efeito, na qual
essas intervenções sociais podem ocasionar o aumento da pressão ambiental4 sobre o
sistema natural, podendo conduzi-lo a cambiar (transformar) sua estrutura original para
um nível de maior complexidade, resultando no desenvolvimento de um “novo
processo” de integração dos subsistemas (fator de adaptabilidade), visando evitar o
colapso ambiental, ou seja, as condições de bloqueio do sistema - bacia hidrográfica, a
exemplo da BHRP (Fig. 08).
FIG. 08 - INTERVENÇÕES SOCIAIS E O DESEQUILÍBRIO NO SISTEMA
NATURAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Bacia Hidrográfica:
Sistema Aberto.
Processo de integração
Intervenções sociais
Inadequadas no Sistema
Natural: ingerências
ambientais.
Pressão Ambiental (no
sistema natural):
mudança da estrutura
original.
Desequilíbrio nos
Subsistemas Ambientais
(ecológico): alterações
ambientais negativas.
Elaborado: SANTOS, Jémison M., 2002.
4
Pressão ambiental é entendida como as manifestações perturbadoras que podem a ocasionar a ruptura do limiar de
equilíbrio em um dado sistema ambiental.
Nota-se que, os canais naturais circunscritos à rua Azevedo Machado
(localidade de Periperi) estão sendo intensamente poluídos por contribuições
domésticas. As vertentes pouco extensas dessa referida área estão sendo desmatadas e
ocupadas por moradias precárias (barracos de plástico e madeira), ativando processos de
erosão laminar forte e produzindo o entulhamento do estreito e raso canal fluvial, bem
como inumando alguns olhos d’água (área de nascentes), conseqüentemente,
modificando o fluxo hídrico da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguari. Observa-se
também a persistência desse fenômeno supracitado, em toda extensão da bacia (Fotos 02
e 03).
Foto 02 - Desmatamento nas vertentes, entulhamento do vale em V e assoreamento
do canal fluvial.
Foto 03 - Área de nascentes degradada - olhos d’ água aterrados.
De maneira geral, os corpos d’água têm uma capacidade de assimilação de
despejos líquidos que, se não ultrapassada, permite a harmonização de usos
aparentemente conflitantes, a exemplo do abastecimento urbano e a recepção de
efluentes. Logo, o gerenciamento ambiental do recurso de água doce deve orientar-se,
no estudo da capacidade de autodepuração do corpo d’água receptor das águas servidas,
bem como no conhecimento do diversos usos e distribuição da mesma, em uma dada
bacia hidrográfica.
Durante o levantamento de campo constata-se que, possivelmente uma das
fontes principais de poluição das águas superficiais do Rio principal, localiza-se no
Conjunto Habitacional denominado Vista Alegre, numa área de confluência de dois
canais fluviais de 1a ordem que correm dentro dessa localidade (estes canais possuem
um pequeno trecho canalizado e bastante poluído). As águas servidas do referido
conjunto habitacional são destinadas para um tratamento primário (lagoa de
estabilização aerada facultativa5) e, posteriormente, são despejadas no sistema fluvial até
encontrar o canal do Rio Paraguari. Evidencia-se que, esse aporte diário de efluentes
líquidos é elevado e o sistema fluvial não possui condições naturais de diluir (capacidade
de assimilar) o lançamento da carga poluidora, o que torna as águas inaproveitáveis para
usos nobres como o abastecimento domiciliar, preservação da fauna e flora, recreação,
lazer e dessedentação dos animais. Além disso, a má qualidade desse corpo d’água
torna-se um elemento indutor de doenças de veiculação hídrica, que tem afetado ano
após ano a população local (Fig. 09 e Foto 04).
Fonte: MARCOS, V. S. Lagoa de Estabilização, 1996.
FIG. 09 - Lagoa de estabilização
5
O sistema de lagoas de estabilização constituem-se na forma mais simples para o tratamento dos esgotos, tendo
como objetivo principal a remoção da matéria carbonácea (ex: lagoas facultativas) e patogênicos (ex: lagoas de
maturação). Maiores informações vide: MARCOS, von Sperling. Lagoas de estabilização. Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1996, 140p.
Foto 04 - Carga elevada de poluentes nas águas do médio curso do Rio Paraguari.
Coloração cinza-esverdeada e com expressiva concentração de espumas.
Constata-se que, 70% do total das fontes visitadas durante o trabalho de campo
encontram-se com suas águas impróprias para o consumo humano, ou seja, água
poluída. Na localidade denominada Alto de Coutos, especificamente, na rua Moisés
Aleixo, antiga área de nascentes, verifica-se, no local a presença de uma fonte natural
conhecida pelos moradores como Fonte “Grande ou Verde”, que está bastante poluída
devido ao uso inadequado do recurso, bem como ao adensamento populacional. Mas,
segundo depoimento de moradores locais “a fonte é bastante utilizada para o banho e
lavagem de roupas”, fato esse que se constitui num ambiente insalubre para a população
local, pois o uso dessa água pode ocasionar a proliferação de doenças (Foto 05).
Foto 05 - Fonte Verde - local intensamente degradado por descarte de resíduos sólidos e efluentes
domésticos.
É importante salientar que todo e qualquer lançamento de efluentes líquidos nos
canais naturais deve ser feito de maneira criteriosa, sendo analisado o rol de efeitos que
orientam para a minimização da carga poluidora e, também os efeitos correlatos ao
demais usos da água a jusante da fonte principal de geração da poluição.
REFERËNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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(Mestrado em Geografia). Instituto de Geociências. Universidade Federal da Bahia. Salvador,
2000.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1979.
__________,A Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: Edgard Blücher, 1979.
__________,A Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Edgard Blücher, 1981.
___________, A. Modelagem de sistemas ambientais. Editora Edgard Blucher LTDA.São Paulo,
1999.
___________, A. In: Complexidade e Auto-Organização Aplicadas em Estudos Sobre Paisagens
Morfológicas Fluviais: Anais do II Congresso Nacional de Meio Ambiente. 2000.
BIGARELLA, J..J. & MAZUCHOWSKI, J.Z. Visão integrada da problemática da
erosão. Curitiba. PR. Associação de defesa e educação ambiental e Associação
Brasileira de Geologia de Engenharia. Apresentado ao 3º Simpósio de controle de
erosão. Maringá. PR. 1985. 329 p.
________(Organizadores). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Ed.
Bertrand Brasil. 458 p.RJ. 1994.
________(Organizadores). Geomorfologia: Exercícios, Técnicas e Aplicações. Ed.
Bertrand Brasil. 343 p. RJ. 1996.
MARCOS, Von Sperling. Lagoas de estabilização. Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1996,
140p.
SANTOS, J. M. dos. Geomorfologia e as condições ambientais da Bacia Hidrográfica do
Rio Paraguari. Subúrbio Ferroviário de Salvador-Ba In: Texto didático de
Geomorfologia. Universidade Estadual da Bahia - UNEB. 2002.
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