Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004 AIDS: Questão de Cidadania Área Temática de Saúde Resumo A AIDS tomou, nos últimos tempos, proporções epidêmicas e sua disseminação tem ocorrido em larga escala. Assim, o papel da escola de informar e tranqüilizar a população torna-se fundamental, fornecendo informações que foquem a promoção da saúde e de condutas preventivas. Metodologia: Este trabalho foi desenvolvido no Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos – 2º Segmento, da Escola Fundamental do Centro Pedagógico da UFMG, para chamar a atenção dos alunos sobre a AIDS, suprindo-os com informações sobre a doença, construindo um caráter de solidariedade e prevenção. Cinco foram as etapas: dinâmica, aula teórica, palestra, oficina e apresentação em público. Resultados: Ao término de cada uma, os alunos mostravam-se interessados, sendo resultado da oficina um texto e uma música com foco na prevenção. Os alunos comentaram que aprenderam muito, de forma agradável e que todas as disciplinas deveriam trabalhar assim. Conclusões: Conclui-se, então, que formas alternativas de trabalhar são válidas, pois os alunos aprendem efetivamente, desenvolvendo características como auto-estima, confiança em seus próprios saberes, atuação em conjunto e apresentação em público. Estratégias importantes no trabalho com jovens e adultos, pois resgata a confiança, através da valorização do trabalho dos alunos pela escola, pela comunidade e pelos professores. Autores Susanne Facchin - licencianda em Ciências Biológicas João Gabriel Filho - licenciando em Música. Rafael Brant Carneiro - licenciando em Letras. Marina Vargas Tomaz - licencianda em Belas Artes. Ana Cristina Ribeiro Vaz - mestre em Microbiologia/UFMG. Instituição Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Palavras-chave: AIDS; HIV; prevenmção Introdução e objetivo A AIDS tomou, nos últimos tempos, proporções epidêmicas, atingindo milhões de pessoas; estima-se que existam, em todo o mundo, 40 milhões de pessoas (homens, mulheres e crianças) portadoras do vírus HIV (NAT, 2004). Sua disseminação tem se dado em larga escala devido à cultura sexual que se vive, em que o sexo deixou de ser um tabu, para ser tratado na mesa de jantar das famílias. As músicas atuais cultuam o sexo descompromissado, por puro divertimento (estão aí os axés para comprovar) e as pessoas, muitas vezes, não se preocupam com a transmissão da AIDS, por julgarem que esse tipo de doença pode ser percebida na aparência do parceiro; puro preconceito. ...“no Brasil, somos quase 700 mil pessoas contaminadas, e a maioria, nem sabe que é portadora do vírus e continua a transmitilo”...“um número acentuado dessas pessoas é heterossexual, que nunca usou droga, teve experiência homossexual ou sofreu transfusão de sangue.” (Marta Suplicy, FSP, 15 de maio de 1992 in Américo Maia, 1992). Existe, ainda, na população, uma grande discriminação com os portadores do vírus. As crianças portadoras, muitas vezes, são impedidas de freqüentar as aulas pela diretoria do colégio. E os adultos se deparam com o preconceito na hora de buscar um emprego. Essa situação é grave, pois cada vez mais, cresce o número de portadores. Cita-se, aqui, o caso na menina Sheila Caroline Cortopassi de Oliveira, portadora do HIV desde o nascimento que, aos cinco anos de idade, foi impedida de freqüentar as aulas na escola particular Ursa Maior, no Estado de São Paulo (Américo Maia, 1992). Seus pais adotivos lutaram na justiça pelo direito da menina de freqüentar as aulas nessa escola (Américo Maia, 1992). Depois de nove meses, ela foi convidada a ser aluna do Colégio São Luís, também particular, onde ganhou uma bolsa de estudos paga por oitenta e cinco professores que se solidarizaram com o caso da menina (Américo Maia, 1992). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (SEF, 1998), o trabalho de Orientação Sexual visa desvincular a sexualidade dos tabus e preconceitos, afirmando-a como algo ligado ao prazer e à vida. E a discussão sobre DST/AIDS deve ser coerente com isso, não acentuando a ligação entre sexualidade e doença ou morte (SEF, 1998). Sendo assim, as informações precisam sempre focar a promoção da saúde e de condutas preventivas, devendose enfatizar a distinção entre as formas de contato que propiciam risco de contágio, daquelas que, na vida cotidiana, não envolvem risco algum (SEF, 1998). Ao trabalhar com a prevenção da AIDS, são indispensáveis as informações sobre as vias de transmissão do HIV, o histórico da doença, a distinção entre portador do vírus e doente de AIDS e o tratamento (SEF, 1998). Sendo necessário incentivar os alunos na adoção de condutas preventivas e promover o debate sobre os obstáculos que dificultam a prevenção, incentivando a valorização da vida (SEF, 1998). Essas discussões devem propiciar atitudes responsáveis (tanto individual como coletivamente) diante da epidemia e condutas solidárias em vez de discriminatórias em relação aos soropositivos, enfatizando o convívio social (SEF, 1998). Deve-se tratar da temática AIDS, de forma oposta à que foi primeiramente veiculada nas campanhas de prevenção na mídia: “AIDS mata.” (SEF, 1998). Isso porque essa mensagem contribui para o aumento do medo e da angústia, desencadeando reações defensivas por parte da população (SEF, 1998). Sendo assim, a mensagem fundamental a ser trabalhada é: “a AIDS pode ser prevenida” (SEF, 1998). O que falta à população é esclarecimento sobre a doença e suas formas de contágio, é saber, o quanto é importante para um portador ser aceito e receber carinho (Américo Maia, 1992). E ainda, tomar conhecimento de como existem pessoas, que, mesmo se sabendo portadores do vírus, o disseminam entre seus parceiros sexuais, sem qualquer respeito à vida e à saúde deles (Américo Maia, 1992). Assim, o papel do educador e da escola de fornecer informações que foquem a promoção da saúde e de condutas preventivas torna-se fundamental, pois uma população informada tende a se solidarizar, em vez de criar canais para a expansão do pânico e do preconceito (Américo Maia, 1992). “A população não assimilou que, provavelmente, todas as escolas já têem alunos e professores contaminados, e que muitos amigos já são, sem saber, portadores do vírus” (Marta Suplicy, FSP, 15 de maio de 1992 in Américo Maia, 1992). Segundo a publicação “AIDS no mundo” (Parker & Galvão, 1993), o aumento da AIDS na faixa etária de 20 a 25 anos aponta para a urgência de programas de prevenção efetivos destinados a jovens. Pelo fato de muitos alunos serem pais e mães, percebeu-se a importância de um trabalho detalhado com essa temática, uma vez que isso possibilitaria, não só o esclarecimento das dúvidas pessoais, como também a conscientização familiar acerca dessa questão. Esse trabalho também viria suprir a deficiência de informação dos serviços e programas de saúde e de educação, agravada pela pobreza e pela violência na sociedade atual. Um dos aspectos centrais desse Projeto de Educação é o cuidado com a própria saúde sexual e com a do parceiro. Orientando-se para a busca de serviços de saúde e orientação médica, caso seja percebido qualquer anormalidade. Busca-se, assim, diminuir o preconceito quanto ao uso da camisinha, até mesmo quando se tem um parceiro fixo, isso porque, como todo ser humano, todos são passíveis de erros, ainda mais quando se trata de um assunto tão delicado quanto a sexualidade. Busca-se ainda, incentivar os homens a procurar um médico com a mesma freqüência com que se orienta as mulheres a procurá-lo, pois eles não estão livres das doenças que acometem o sistema reprodutor e/ou que possuem a via de contágio sexual. Pretende-se criar a consciência da necessidade de se comunicar aos eventuais parceiros sexuais, a ocorrência de alguma infecção, uma vez que essa informação é quase sempre esquecida ou relegada a um plano secundário, contribuindo, assim, para a disseminação das doenças. E por fim, mas não menos importante, será discutida a discriminação social e o preconceito de que são vítimas os portadores do HIV e os doentes de AIDS. E ainda, a ingenuidade de se pensar, devido às proporções alcançadas pela epidemia, que não se convive diariamente com nenhum portador do vírus, mesmo que este não se saiba assim, enfatizando o respeito aos direitos de cidadania, não exclusão e solidariedade para com os soropositivos. Sabe-se ainda, que estados eufóricos como os produzidos pelo apaixonar-se, bem como o uso de drogas, colocam seriamente em risco a prevenção (SEF, 1998). Sendo assim, realizou-se um breve debate sobre o tema drogas, concomitantemente com a abordagem franca e direta sobre sexualidade. Este Projeto de Educação se propôs trabalhar questões relacionadas a AIDS, buscando suprir os alunos com informações científicas sobre a doença, levando-os a se solidarizar com os portadores do HIV e doentes de AIDS, construindo um caráter de ajuda e prevenção. Metodologia Histórico sobre a doença: existem várias hipóteses sobre a origem da AIDS. Atualmente, acredita-se que o HIV tenha surgido pela mutação de um vírus que era endêmico em algumas áreas da África Central (Tortora et al, 2003). Foram encontrados anticorpos contra o HIV em amostras de sangue conservadas desde 1959, em várias nações africanas (Tortora et al, 2003). Especula-se que um vírus relativamente benigno de macacos tenha penetrado na população humana (Tortora et al, 2003). O vírus poderia não ser altamente virulento enquanto a transmissão estava limitada pelos costumes sociais das vilas pequenas (Tortora et al, 2003). Ele teria matado ou incapacitado seus hospedeiros muito rapidamente para ser mantido na população (Tortora et al, 2003). Recentemente, essa estrutura social foi estressada de modo adverso pela urbanização e prostituição, parcialmente resultante da globalização (Tortora et al, 2003). As novas e maiores taxas de transmissão sexual permitiram, então, que as mutações mais virulentas persistissem (Tortora et al, 2003). E os novos hábitos globais e os comportamentos sexuais inseguros logo levaram à disseminação desse vírus pelo mundo (Tortora et al, 2003). Em 1980, a partir da observação de um grupo de casos de pneumonia por Pneumocystis carinii (doença extremamente rara, que usualmente ocorria apenas em indivíduos imunossuprimidos), que ocorreu na área de Los Angeles, em homossexuais masculinos, foi que se suspeitou de um fator etiológico virótico para esclarecer estes casos (Veloso, 2004 E Tortora et al, 2003). O caso foi logo relacionado à outro ocorrido em 1981: 25 casos de uma forma rara e incomum de câncer de pele e vasos sangüíneos, o “Sarcoma de Kaposi”, também em homossexuais masculinos jovens em que todos apresentavam uma perda da função imune (Veloso, 2004 e Tortora et al, 2003). Em 1982, o Center for Disease Control (CDC) denominou a doença recém-descoberta de “Acquired Immuno Deficiency Syndrome” (AIDS). Em 1983, Luc Montagier e colaboradores, em Paris, identificaram o vírus nos doentes, denominando-o de LAV (Lymphadenopathy Associated Virus) (Veloso, 2004). O achado foi confirmado meses depois por Robert Gallo e colaboradores, nos EUA. O Comitê de Taxonomia de Viroses batizou esse vírus de HIV (Human Immunodeficiency Virus), denominação mantida até a presente data (Veloso, 2004). Desde o início da década de 80, até setembro de 2003, o Ministério da Saúde notificou 277 mil 154 casos de AIDS no Brasil (Veloso, 2004). Desse total, 197 mil 340 casos foram verificados em homens e 79 mil 814 em mulheres (Veloso, 2004). No ano de 2003, foram notificados 5.762 novos casos da epidemia e, desses, 3.693 foram verificados em homens e 2.069 em mulheres, mostrando que, atualmente, a epidemia cresce mais entre as mulheres (Veloso, 2004). O maior número de casos descritos, ainda segundo esse informe, foi na categoria das transmissões por via sexual (Veloso, 2004). Outro dado não menos preocupante é a crescente incidência da AIDS em relação à faixa etária de 13 a 19 anos, em adolescentes do sexo feminino (SVS/MS, 2004). Tal fato pode ser explicado pelo início precoce da atividade sexual em relação aos adolescentes do sexo masculino, normalmente com homens com maior experiência sexual e mais expostos aos riscos de contaminação por DST e pela AIDS (SVS/MS, 2004). Quanto às principais categorias de transmissão entre os homens, as relações sexuais respondem por 58% dos casos de AIDS, com maior prevalência nas relações heterossexuais, que é de 24% (SVS/MS, 2004). Entre as mulheres, a transmissão do HIV também se dá, predominantemente, pela via sexual, 86,7% (SVS/MS, 2004). As demais formas de transmissão, em ambos os sexos, de menor peso na epidemia, são transfusão, transmissão materno-infantil ou ignoradas pelos pacientes (SVS/MS, 2004). Informações técnicas: a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença infecciosa, causada por um vírus da família Retroviridae (com RNA como material genético), chamado “Vírus da Imunodeficiência Humana” (HIV), capaz de parasitar o sistema imunológico do homem, levando à depressão da imunidade, aparecimento de infecções oportunistas e um tipo de câncer de pele, o “Sarcoma de Kaposi” (Veloso, 2004). É uma doença grave, sem cura até o momento, que atinge homens, mulheres e crianças em proporções variáveis (Veloso, 2004). Nos primeiros anos do surgimento da Síndrome, os indivíduos com maior risco de contágio, eram os hemofílicos, os que circunstancialmente recebiam transfusões, os usuários de drogas injetáveis e os homossexuais (Veloso, 2004). E a classificação da doença como “sexualmente transmissível” atendia uma condição especial de sexualidade, o homossexualismo, pois estava ligada ao coito anal (Veloso, 2004). Hoje, sabe-se que o contágio também é possível pelo contato heterossexual vaginal, por transfusão de sangue e hemoderivados, uso compartilhado de agulhas contaminadas, e pela via transplacentária, sendo que o contato sexual corresponde a 80% dos casos (Veloso, 2004). E atualmente, cresce a transmissão heterossexual, mesmo entre adolescentes, mostrando-se, por exemplo, que na África mais de um terço dos doentes são mulheres (Veloso, 2004). Após a contaminação, o vírus penetra no interior dos glóbulos brancos e pode aí permanecer por um intervalo de tempo variável entre a infecção e o desenvolvimento da doença (Veloso, 2004). Nessa fase, os indivíduos ainda não apresentaram os sintomas típicos da Síndrome, possuindo apenas reação sorológica positiva, sendo então denominados de “soropositivos” (Veloso, 2004). A multiplicação do vírus ocorre principalmente nas células do sistema imunológico, como nos linfócitos. (Veloso, 2004). A destruição progressiva dessas células leva à depressão da imunidade com conseqüente redução da capacidade de combate às infecções (Veloso, 2004). Ocorrida a infecção, há um período de incubação de 6 meses a 8 anos, mas com duração media de 9 a 22 meses (Veloso, 2004). Após a infecção inicial a grande maioria dos contaminados permanece assintomática (soropositivos) (Veloso, 2004). Alguns, entretanto, desenvolvem sintomas semelhantes aos da mononucleose infecciosa, com febre, mal estar, fadiga, dores articulares, diarréia, vômitos, dores de cabeça e outros, que coincidem com o período em que as reações sorológicas tornam-se positivas (Veloso, 2004). Após esta etapa, o indivíduo pode permanecer assintomático por tempo indeterminado, mas capaz de transmitir o vírus (Veloso, 2004). As únicas formas conhecidas de prevenção são o uso do preservativo masculino e feminino, evitar transfusões de sangue e derivados contaminados e usar seringas descartáveis (Veloso, 2004). Por outro lado, ao que tudo indica, a redução do número de parceiros sexuais, em especial nos casos de pessoas que praticam coito anal, tanto heterossexual quanto homossexual, diminui a possibilidade de contaminação (Veloso, 2004). Descrição das atividades desenvolvidas com os alunos: Este Projeto de Educação foi desenvolvido na turma 45, composta por alunos com idade entre 29 e 72 anos, iniciante no Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos – 2º Segmento (PROEF-II), da Escola Fundamental do Centro Pedagógico da UFMG (CP), sob orientação da Professora Ana Cristina Ribeiro Vaz. Essa turma foi escolhida simplesmente por estar sob regência da Professora Susanne Facchin, autora do projeto e por estar trabalhando o conteúdo de sistemas reprodutores, que abre as portas para a temática da AIDS. As atividades em sala de aula foram desenvolvidas em cinco momentos: Primeiro momento: após o estudo dos sistemas reprodutor masculino e feminino, e da execução de um trabalho sobre métodos anticoncepcionais, a turma estava bastante interessada sobre DST e AIDS. Desenvolveu-se, então uma dinâmica (idéia obtida de uma descrição feita pela aluna de Ciências Biológicas diurno, Natália Teixeira, em uma aula da Disciplina Prática de Ensino em Ciências Biológicas, ministrada pela professora Danuza Monford, em setembro de 2003), que consistiu na distribuição de 21 (vinte e um) cartões aos alunos. Desses cartões, um levava as inscrições “você está contaminado, NÃO BRINQUE”, quatro continham um X (que significava a contaminação com o HIV, porém o não conhecimento disso pela pessoa contaminada) e cinco continham um C (que significava o uso de preservativos durante o ato sexual). Os alunos não conheciam o significado das inscrições nos cartões. Pediu-se, então, para eles que colhessem três assinaturas de colegas nos cartões, sem, no entanto, permitir que eles vissem as inscrições contidas nesses cartões. Terminada a coleta, revelou-se que eles haviam mantido, simbolicamente, relações sexuais com as pessoas com quem tinham trocado assinaturas. Procedeu-se então, a um debate a respeito das taxas de transmissão do HIV, preconceito e discriminação com portadores do vírus e doentes de AIDS, formas de transmissão, necessidade de se buscar orientação médica, preconceitos quanto ao uso de preservativos tanto com parceiros eventuais quanto com parceiros fixos, etc. Deu-se total abertura para que os alunos fizessem as mais variadas perguntas, sendo elas pessoais ou não. Percebeu-se que eles se sentiram, em sua maioria, bastante à vontade para elaborá-las, mesmo diante dos colegas. Segundo momento: os alunos receberam uma aula com informações científicas sobre a doença e um breve histórico sobre a epidemia. Novamente, a aula foi aberta a perguntas. Terceiro momento: os alunos participaram de uma palestra ministrada pela Sra. Luiza Cristina Rodrigues Lage (funcionária do CP), que já foi representante do grupo de apoio à portadores de HIV, VHIVER, a fim de se sensibilizarem com a questão e erradicarem possíveis preconceitos existentes. Quarto momento: foi feita, com os alunos e colaboradores do presente projeto, uma oficina de elaboração de um breve comercial de televisão, sobre a prevenção e formas de contágio do HIV. Os alunos se dividiram em três grupos conforme suas habilidades pessoais, para elaborarem uma música, as falas do comercial, e os desenhos ilustrando essas falas. Após a elaboração, os alunos reagruparam-se para a apresentação da parte falada e da música, para que fosse feita uma gravação. Quinto momento: sabe-se da importância da divulgação do trabalho que é feito em sala de aula, principalmente quando se trata de um trabalho diferenciado como este. Para tanto, os alunos fizeram uma breve apresentação teatral do comercial, na hora do intervalo para lanche, do turno da noite, no pátio do CP, para apreciação dos alunos das demais turmas, professores e eventuais ouvintes. Essa apresentação também foi gravada e fotografada para divulgações posteriores. Resultados e discussão Após a realização da dinâmica dos cartões, os alunos se mostraram espantados com a rapidez com que o vírus teria se disseminado caso a prática representasse uma situação real. Eles ficaram interessados e fizeram perguntas sobre o período de janela imunológica, o surgimento do HIV e as atuais proporções da doença, fazendo comparações cabíveis, com as situações vividas no passado. Surgiram, também, perguntas a respeito de providências legais que poderiam ser tomadas caso se quebre o sigilo médico e a respeito de danos morais contra civis. A prática em resumo foi muito proveitosa e resultou na curiosidade, por parte dos alunos, que pôde ser sanada durante a aula seguinte, com informações científicas sobre a doença e um breve histórico da epidemia. Durante essa aula expositiva, novamente, os alunos se mostraram curiosos e participaram com muitas perguntas pertinentes, interessantes e até pessoais sobre o tema. Esse momento foi importante para que eles pudessem se familiarizar mais com o assunto. Na palestra com a Sra. Luiza Cristina Rodrigues Lage, eles se sentiram mais à vontade que nos momentos anteriores, talvez por se tratar de uma pessoa cuja idade se aproxima mais da faixa etária da turma. Foi interessante perceber que a maioria dos alunos acreditava que jamais havia convivido com um portador do vírus, ou com um doente de AIDS. E, mais interessante ainda, foi a resistência, por parte deles, em acreditar que isso provavelmente já teria acontecido, dado às proporções adquiridas pela epidemia. Nesse momento, pôde-se perceber a curiosidade da maioria quanto à forte ligação entre o uso de drogas e a disseminação acelerada da doença. Sendo assim, avaliou-se o quanto foi proveitoso para eles assistir à essa palestra. Já de posse das informações científicas necessárias, foi possível iniciar a oficina de elaboração de um comercial de televisão para prevenção contra o HIV. Percebeu-se que os alunos se empenharam bastante na elaboração desse material, tanto que o resultado foi excelente. Transcrevo aqui, o texto integral, elaborado pelos alunos, que constituiu a parte falada do comercial: “Não tenha medo! Em qualquer idioma informe-se: AIDS se transmite pelo beijo? Não! Em um aperto de mão se pega AIDS? Não! E num abraço ou no convívio social? Também não! Mas, e no sexo desprotegido? Pega! Pega! Pega! Então se proteja! Use camisinha! Use camisinha! Não tenha vergonha, peça informação! A camisinha é grátis!!! Não custa nada, não! E a AIDS? Pode custar a vida... Se informe nos Postos de Saúde e Grupos de Apoio. Nunca é tarde para se prevenir! Diga não à AIDS! Diga sim à camisinha!” As frases foram ditas por diversos alunos, e a parte transcrita em negrito era respondida por um coro constituído pelos outros alunos da turma. Durante a apresentação, eram mostrados os desenhos que também foram elaborados por eles. Além desse texto, os alunos compuseram uma música para ilustrar o comercial. Em princípio, a professora e os colaboradores haviam pensado um ritmo mais lento e fácil de acompanhar, mas os alunos discordaram e quiseram fazer uma música mais agitada e alegre (rap), uma vez que a doença já é algo tão triste. E o resultado foi o seguinte: “Você que é esperto, você que é bacana, vou te dar uma dica para o seu fim de semana. Já ouviu falar de AIDS? Ou de HIV? É um vírus muito doido que acaba com você. Refrão: Você precisa tomar cuidado, Tem que se prevenir! (bis) Na hora de transar, seja em qualquer lugar, coloque a camisinha para a AIDS não pegar. Pra por a camisinha, aperte a pontinha E vá desenrolando até ficar esticadinha! Refrão: Você precisa tomar cuidado, Tem que se prevenir! (bis) Preste atenção, meu irmão: Sem camisinha, não faça sexo não! Faça o que eu digo, meu amigo: Usando camisinha você não corre perigo. HIV é um vírus atrevido! Se cuida meu amigo! Refrão: Você precisa tomar cuidado, Tem que se prevenir!” (bis) Realizou-se, então, uma apresentação exclusiva para gravação. Pôde-se perceber o entusiasmo dos alunos, uma vez que era dada tanta importância ao trabalho deles. Percebeuse, ainda, que a grande preocupação deles era saber onde seria mostrada a gravação. Parece que estavam com medo de que fosse exibida em algum canal de televisão. Explicou-se que seria algo veiculado em algumas exibições na própria escola e na apresentação desse trabalho. E assim, houve o consentimento de todos. A última parte do trabalho, consistiu em encenar o comercial no intervalo das aulas do turno da noite, no pátio da própria escola. Os alunos estavam nervosos, mas nada além do esperado para uma apresentação em público. A apresentação foi novamente gravada e fotografada para posterior divulgação do trabalho. Conclusões Ao final do trabalho, avaliou-se que os alunos gostaram muito do projeto e perceberam o quanto aprenderam. Vários relataram que gostavam muito das aulas de Ciências porque estavam aprendendo de uma forma muito gostosa e prazerosa, e que todas as disciplinas deveriam ser assim. Conclui-se, então, que formas alternativas de trabalhar certos conteúdos são válidas e necessárias, pois os alunos adquirem os conhecimentos de uma forma mais efetiva e prazerosa. Trabalhando, além do conteúdo, características como auto-estima, confiança em seus próprios saberes, atuação em conjunto com outros alunos, apresentação em público, entre outras. Isso é especialmente importante, quando se trabalha com jovens e adultos, pois em sua maioria, eles se envergonham de estar buscando os estudos apenas em idade mais avançada. Sendo assim, esse tipo de trabalho proporciona, além de uma fonte de pesquisa interdisciplinar na educação de jovens e adultos, o resgate da confiança e da auto-estima, através da valorização do trabalho dos alunos pela escola, pela comunidade e pelos professores. 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