RIBEIRÃO PODE NÃO TER PRAIA MAS ESTÁ EM CIMA DE UM OCEANO DE ÁGUA LIMPA E SAUDÁVEL: O AQÜÍFERO GUARANI Antonio L. Cerdeira Jaguariúna, maio 2004. Ribeirão Preto está situada na porção nordeste da Bacia Sedimentar do Paraná que abriga um manancial de água subterrânea gigante, com extensão de 1.150.000 km2, denominado de Sistema Aqüífero Guarani. Sua maior parte está localizada em território brasileiro (840.000 km2), sendo que o restante distribui-se pela Argentina (355.000 km2), havendo ainda partes no Uruguai (58.500 km2) e no Paraguai (58.500 km2). O Aqüífero Guarani possui água de excelente qualidade, sendo extraída através de poços artesianos e semiartesianos e utilizada no abastecimento de centenas de cidades de médio e grande porte. O volume aproveitável de água deste manancial é de 40 km3/ano, superando em 30 vezes a demanda das 15 milhões de pessoas que vivem em sua área de ocorrência. Grande parte da região centro-sul do país é abastecida com água proveniente deste Aqüífero. O Aqüífero Guarani é do tipo regional confinado, uma vez que 90% de sua área está recoberta por espessos derrames de lavas basálticas, as quais podem ser vistas em Ribeirão, principalmente no topo do Parque Curupira. É importante lembrar, no entanto, que Ribeirão Preto está localizada em uma zona de transição entre a parte confinada (direção oeste da cidade) e a parte aflorante ou de recarga (direção leste da cidade) do Aqüífero Guarani. As áreas de recarga (150.000 km2) se localizam nas bordas leste e oeste da bacia, em faixas alongadas do pacote sedimentar que afloram à superfície (vide mapa). Nestas áreas as águas de chuva alimentam o Aqüífero. As áreas de recarga se constituem nas regiões onde o Aqüífero se encontra mais vulnerável,; no caso de Ribeirão, parte desta área está localizada à leste em direção às cidades de Serrana, Altinópolis e Cajuru e sul/sudeste em direção aos municípios de Cravinhos e São Simão. Entre Ribeirão e Cravinhos, a área aflorante pode ser vista na subida/descida da Rodovia Anhanguera, onde está a Pedreira. Nesse local nasce o Córrego do Espraiado, a partir de um ponto aflorante do Aqüífero. O mau uso das terras localizadas em áreas de recarga pode, a longo prazo, comprometer a qualidade do recurso natural mais precioso para a humanidade, a água. Portanto, se não houver cuidado e atenção quanto ao lançamento de produtos tóxicos, rejeitos industriais e agrotóxicos no solo das áreas de recarga, poderá haver contaminação irreversível das águas do Aqüífero. A sustentabilidade da gestão do Aqüífero Guarani depende, pois, da identificação e controle das fontes de poluição nas áreas de recarga. O impacto das atividades agrícolas modernas sobre a qualidade da água subterrânea tornou-se conhecido em alguns países industrializados durante a década de 70. Em particular, demonstrou-se a existência de altas taxas de lixiviação de nitrato e outros íons móveis em muitos solos submetidos ao plantio contínuo, sustentado por aplicações de grandes quantidades de fertilizantes inorgânicos. Algumas práticas do uso do solo são capazes de causar uma séria contaminação difusa das águas subterrâneas por nutrientes e/ou pesticidas, 2 especialmente em áreas com solos de pouca espessura, muito poroso e/ou textura arenosa e um aumento na salinidade das águas subterrâneas, particularmente em regiões mais áridas. A presença de fertilizantes e pesticidas nas águas de superfície e subterrânea tem despertado o interesse público em relação ao uso intensivo de agroquímicos. Em alguns casos, o manuseio indevido de agroquímicos tem sido identificado como sendo a causa de contaminação ambiental. A lixiviação através do solo tem sido identificada como a maior responsável pela ocorrência de agroquímicos na água subterrânea. Em função da preocupação crescente em relação à qualidade das água para consumo humano, como também em relação à preservação dos mananciais subterrâneos, a Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, SP, vem realizando estudos na região de Ribeirão desde 1995, cujos resultados preliminares têm revelado alguns indícios de presença de poluentes, mas sem maiores preocupações no momento. Contudo, isto indica que deve-se ter uma preocupação constante para a manutenção da qualidade do mesmo. Pensando assim, a Embrapa Meio Ambiente está conduzindo suas pesquisas na linha das chamadas “Boas Práticas Agrícolas”, um conjunto de procedimentos que procura orientar o agricultor na obtenção de ganho de produtividade sem agressão ao meio ambiente. 3