ATIVIDADES INVESTIGATIVAS DA DIDÁTICA DA MATEMÁTICA E LABORATÓRIO DE ENSINO DE MATEMÁTICA EM COMUNIDADES INDÍGENAS Wismael Rodrigues Garcia Eixo Temático: Etnomatemática e educação dos povos da floresta Palavras-chave: Atividades Investigativas; Didática da Matemática; Laboratório de Ensino de Matemática; Educação Escolar Indígena. Contextualizando a Investigação: aprendendo e ensinando matemática em meio à diversidade sociocultural Este trabalho é parte integrante da pesquisa e do projeto em andamento com as comunidades indígenas da região norte do Tocantins, onde temos observado as simultâneas trocas de conhecimentos acadêmicos e culturais, que têm sido vivenciadas por meio das ações do Projeto de Extensão - Formação Continuados para Professores Indígenas nas Áreas Disciplinares de Laboratório de Ensino de Matemática e Didática da Matemática: o elo entre Universidade e povos indígenas. Assim, estamos a desenvolver atividades ligadas às áreas de Didática da Matemática, a partir dos aportes teóricos de D’Ambrosio (2005); por nos conduzir a reflexão do uso de metodologias e formação de professores; D’Ambrosio (1996), por nos apresentar a importante relação entre a teoria e a prática, destacando que ambas caminham juntas no processo de ensino e aprendizagem e, ainda a importância que deve ocorrer no currículo escolar, de um cartesiano para um dinâmico. No tocante aos referenciais de Laboratório de Ensino de Matemática e atividades investigativas, temos nos apoiado em Lorenzato (2006); Mendes (2009); Fiorentini e Lorenzato (2006); Monteiro e júnior (2001). Para uma compreensão do mundo dos indígenas a que estamos a compartilhar os seus saberes tradicionais e os conhecimentos tradicionais, Melatti (1978) por descrever os modos de vida, de organização social e política do povo Krahô e, Toral (2000; 1992) que descreve a arte, cultura e história dos povos Karajá, em sua dissertação de mestrado o autor se reporta a cosmologia destes indígenas, bem como um recorte da linha de tempo dos Karajá, que em dias atuais estão divididos em Karajá da Ilha, Karajá de Xambioá, Karajá Javaé, Karajá de Aruanã (que vivem no estado de Goiás) e os Karajá de Santa Maria das Barreira (que vivem no estado do Pará). E para que viéssemos compreender a escola indígena como espaços de aprendizagem e vivência dos diferentes saberes que emergem como ação didática, Marli André (1995). Para que atingíssemos os objetivos proposto, delineamos, como metodologia de investigação e execução das ações a serem desenvolvidas, um estudo qualitativo, adotando técnicas da observação, caderno de registro, falas e vivência nos contextos das Aldeias Karajá de Xambioá e Krahô, para que pudéssemos delinear em parcerias com as comunidades as oficinas de Matemática que melhor viesse a atender as necessidades educativas dos professores. O desenvolvimento das ações foi dividido em duas etapas, sendo a primeira a partir do referencial teórico descrito anteriormente e, a segunda, em andamento, refere-se à uma abordagem prática por elaboração e execução de oficinas que buscam incentivar o uso de novas metodologias para facilitar os processos de ensino e aprendizagem no trabalho escolar indígena na área de Matemática. Deste modo propiciamos uma interlocução com os professores e alunos das escolas indígenas dos povos investigados a realização de oficina a partir da história, constituição, elaboração e execução de atividades com o uso do Tangran, cujo objetivo foi o de discutir os conceitos de Geometria presente no Tangran, como também as relações e implicações com a cultura tradicional dos participantes. Como toda ação requere uma reflexão, sendo assim descrevemos que as ações realizadas por meio de oficinas com os povos indígenas, em especial com os professores, e sempre com a participação efetiva dos alunos que estudam do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental, revelaram a riqueza dos etnoconhecimentos que foram sendo evidenciados em cada encontro que ocorreu nas Aldeias Karajá Xambioá e Krahô, além de reforçar que o ensino de Matemática pode ser um elo de fortalecimento entre a cultura escolar e a cultura tradicional primeira dos povos indígenas. As oficinas apontaram o quanto ainda, temos que elaborar e reelaborar os conteúdos matemáticos para que possam ser disseminados em ambientes escolares de forma lúcida, compreensível, contextualizada e de valorização dos diferentes conhecimentos, deixando de ser um produto final único e exclusivo. Com base nas avaliações orais realizadas com os participantes do projeto, notou-se que os professores indígenas por meios de seus conhecimentos e os que estão adquirindo transpõem as novas tendências da Educação Matemática, quando adotam estratégias pedagógicas que fogem a linearidade dos conceitos e aplicações de teorias, possibilitando-nos uma melhor compreensão do mundo do outro e de seus afazeres como ações didáticas. Obviamente que as considerações ainda que preliminares, destacamos que os resultados apresentados fazem parte de um projeto em andamento, com a realização de atividades teóricas e de campo, no que se refere às atividades-oficinas que estamos a realizar com os professores indígenas das Aldeias Karajá Xambioá e Krahô. Assim, esperamos estar contribuindo com a formação dos acadêmicos do Curso de Matemática a partir de um olhar sobre a diversidade cultural do Estado a que estão inseridos, como também com os professores indígenas, novas formas metodológicas de fazer acontecer o ensino de matemática com base na interlocução da interculturalidade e intraculturalidade, dos diferentes saberes que certamente culminarão para um melhor redimensionar o ensino da Matemática em espaços de diversidade cultural distinta. Referências bibliográficas D’AMBROSIO, Beatriz S. Conteúdo e metodologia na formação do professor. In: FIORENTINI, Dário.; Nacarato, Adair Mendes (Orgs.).. 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