o corpo em terapia: um estudo de caso com base em

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
CURSO DE PSICOLOGIA
KARLA REGINA RABELO
O CORPO EM TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE EM
PRONTUÁRIOS, SEGUNDO A ABORDAGEM REICHIANA
CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.
1
2
KARLA REGINA RABELO
O CORPO EM TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE EM
PRONTUÁRIOS, SEGUNDO A ABORDAGEM REICHIANA
Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado
para obtenção do Grau de Bacharel em
Psicologia e psicólogo da Universidade do
Extremo Sul Catarinense, UNESC.
Orientador: Prof. MSc. Jeverson Rogério Costa
Reichow.
CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.
3
KARLA REGINA RABELO
O CORPO EM TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE EM
PRONTUÁRIOS, SEGUNDO A ABORDAGEM REICHIANA
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela
Banca Examinadora para obtenção do Grau de
Psicólogo no Curso de Psicologia da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC.
Criciúma, Dezembro de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Jeverson Rogério Costa Reichow - MSc - (UNESC) - Orientador
Elenice de Freitas Sais - Especialista - (UNESC)
João Luiz Brunel – Mestre - (UNESC)
4
Dedico este trabalho em especial os meus avós,
Maria Valentina e Antônio Rabelo, que sempre
acreditaram e incentivaram meu potencial; ao
meu pai Antonio Carlos pelo investimento, e ao
meu
namorado
Diogo
Dalmolin,
pela
compreensão, tolerância e aconchego nas horas
de desesperos.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por tudo o que tenho e pela força que tive que
lutar para alcançar meus objetivos e por conquistar tudo que já conquistei.
Aos meus avós, que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e incentivando
em qualquer momento, principalmente nas dificuldades.
Aos meus familiares pelo apoio.
A todos os meus colegas, que sempre juntos, compartilhamos vários momentos,
festinhas, alguns desentendimentos, mais que certamente estarão para sempre em meu
coração.
A Gi Rosa, uma amiga muito especial que esta sempre presente em todos os
mementos, tanto bons como nos não tão bons, e que me deu uma força toda especial para
concluir este trabalho.
Aos professores, que contribuíram com todos os seus conhecimentos,
possibilitando o nosso crescimento profissional e pessoal.
Ao meu orientador Jeverson Reichow, que esteve sempre junto, ajudando na
conclusão do meu trabalho e que também contribui muito ao meu crescimento pessoal com
palavras reestruturantes e sábias.
A todas as pessoas que me apoiaram e acreditaram em meu potencial,
possibilitando a mim, a chance de crescimento profissional e a realização desse trabalho.
A todos muito obrigado!
6
A vida brota a partir de milhares de fontes
vibrantes, entrega-se à todos que a agarram,
recusa-se
tediosas,
a
ser
aceita
expressa
em
apenas
frases
ações
transparentes, palavras verdadeiras e o
prazer do amor....”
Wilhelm Reich
7
RESUMO
Esta pesquisa se baseia no estudo caso de quatro pacientes, baseado
nos prontuários de atendimento da Clínica de Psicologia da UNESC oriundo dos
atendimentos realizados nos estágios D e E, de onde foram extraídos os relatos de
técnicas psicocorporais visando, sobretudo, analisá-los de acordo com a Abordagem
Reichiana. Com esta pesquisa, procurou-se conhecer as reações psicocorporais que
podem surgir no cliente durante as sessões de psicoterapia reichiana, e entender
porque elas ocorrem. Pretendeu-se durante este trabalho, compreender os
processos corporais decorrentes das técnicas reichianas; investigar as reações
específicas dos clientes durante as sessões; analisar a relação corpo/mente a partir
das reações psicocorporais emergentes em cada sessão; aprofundar conhecimentos
sobre a abordagem reichiana em psicoterapia e conhecer o manejo das técnicas
utilizadas nestas sessões. Para isso, foi utilizado o prontuário de quatro pacientes
que foram atendidos pela autora desta pesquisa, na Clínica de Psicologia da
UNESC. Destes prontuário, retirou-se o relato das sessões, que foram analisadas
segundo a abordagem reichiana. Deste modo, conseguiu-se identificar as reações
psicocorporais ocorridas durante e após as sessões. Pôde-se entender com esta
pesquisa, que o corpo contém a história do indivíduo, portanto, trabalhá-lo possibilita
o acesso às emoções mais profundas. Sendo assim, compreendeu-se a relação
entre corpo e mente, pois ambos influenciam-se, mutuamente.
Palavras-chave: Reações psico-corporais, Relação corpo e mente. Técnicas
reichianas.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................13
2.1 Trajeto histórico de Wilhelm Reich ......................................................................13
2.1.1 O encontro com a psicanálise ..........................................................................14
2.2 Da vegetoterapia a orgonoterapia .......................................................................16
2.3 Couraça muscular ...............................................................................................20
2.3.1 Segmentos da couraça.....................................................................................23
2.3.1.1 Primeiro segmento: ocular.............................................................................23
2.3.1.2 Segundo segmento: oral ...............................................................................25
2.3.1.3 Terceiro segmento: cervical ..........................................................................26
2.3.1.4 Quarto segmento: torácico ............................................................................27
2.3.1.5 Quinto segmento: diafragmático....................................................................29
2.3.1.6 Sexto segmento: abdominal ..........................................................................30
2.3.1.7 Sétimo segmento: pélvico .............................................................................31
2.4 Etapas do desenvolvimento emocional ...............................................................33
2.4.1 - 1ª Etapa: Sustentação....................................................................................33
2.4.2 - 2ª Etapa: Incorporação...................................................................................36
2.4.3 - 3ª Etapa: Produção ........................................................................................37
2.4.4 - 4ª Etapa: Identificação ...................................................................................38
2.4.5 - 5ª Etapa: Formação do caráter ......................................................................39
2.5 Fase do Desenvolvimento Libidinal.....................................................................39
2.5.1 Fase Ocular......................................................................................................40
2.5.2 Fase Oral..........................................................................................................41
9
2.5.3 Fase Anal .........................................................................................................43
2.5.4 Fase Fálica.......................................................................................................44
2.5.5 Complexo de Édipo ..........................................................................................45
2.5.6 Período de Latência .........................................................................................47
2.5.7 Fase Genital .....................................................................................................48
2.6 Formação de Caráter ..........................................................................................48
2.6.1 Couraças de caráter.........................................................................................49
2.6.2 Tipos de caráter ...............................................................................................50
2.6.2.1 Caráter genital e caráter neurótico ................................................................51
2.6.2.2 Caráter Esquizóide ........................................................................................54
2.6.2.3 Caráter Oral...................................................................................................56
2.6.2.4 Caráter Psicopático .......................................................................................59
2.6.2.5 Caráter compulsivo........................................................................................61
2.6.2.6 Caráter Masoquista .......................................................................................63
2.6.2.7 Caráter Histérico ...........................................................................................65
2.6.2.8 Caráter Fálico-narcisista................................................................................66
2.6.2.9 Caráter Passivo-feminino ..............................................................................68
2.7 Metodologia da orgonoterapia.............................................................................69
2.7.1 Técnicas de desencouraçamento.....................................................................73
2.7.2 As reações frente às técnicas reichianas aplicadas em psicoterapia...............80
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................84
3.1 Caso clínico 01....................................................................................................84
3.1.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 9º sessão do estagio D)..................................89
3.1.1.3 Relato nº3 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D)................................91
3.1.1.4 Relato nº4 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E) ..................................94
10
3.2 Caso clínico 02....................................................................................................96
3.2.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática ..............................................100
3.2.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 8º sessão do estagio D)................................100
3.2.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D)..............................102
3.3 Caso clínico 03..................................................................................................103
3.3.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática ..............................................108
3.3.1.1 Relato nº 1 (4º sessão do estagio E)...........................................................108
3.3.1.2 Relato nº 2 ( 5º sessão do estagio E)..........................................................109
3.3.1.3 Relato nº 3 (8º sessão do Estagio E) ..........................................................110
3.4 Caso Clinico 04 .................................................................................................113
3.4.1Relato das Técnicas e Análise Teórica-Prática ...............................................117
3.4.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E) ................................117
3.4.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 5º sessão do estagio E) ................................119
4 METODOLOGIA...................................................................................................121
4.1 Delineamento ....................................................................................................121
4.2 Procedimentos ..................................................................................................122
5 CONCLUSÃO.......................................................................................................123
REFERÊNCIAS.......................................................................................................126
11
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende mostrar o estudo de caso de quatro
pacientes, baseado nos prontuários de atendimento da Clínica de Psicologia da
UNESC durante os estágios D e E, de onde foram extraídos os relatos de técnicas
psicocorporais visando, sobretudo, analisá-los de acordo com a Abordagem
Reichiana.
O referido trabalho tem como objetivo geral observar as reações
psicocorporais que podem emergir no paciente durante um atendimento na
abordagem reichiana. Tendo seus objetivos específicos caracterizados pelo
interesse em compreender os processos corporais decorrentes das técnicas
trabalhadas, investigar as reações específicas dos clientes e analisar a relação
estabelecida entre o corpo e a mente, para, a partir destas reações, conhecer o
manejo das técnicas reichianas e, por conseguinte, aprofundar os conhecimentos
sobre a abordagem citada.
A idéia de realizar este estudo de caso surgiu da importância de produzir
um material de pesquisa que pudesse servir aos demais acadêmicos de psicologia,
mais especificamente, àqueles interessados em aprimorar seus saberes a respeito
da abordagem reichiana e focados em conhecer quais reações psicocorporais
podem surgir durante as sessões de psicoterapia, bem como o efeito produzido por
tais técnicas no tratamento psicológico.
No referencial teórico procurou–se mostrar um histórico sucinto da vida de
Wilhelm Reich e da criação de uma nova teoria que teve sua origem na psicanálise,
a economia sexual. Na seqüência, mostrou-se brevemente a evolução da teoria da
12
orgonoterapia até vegetoterapia. Apresentou-se também, a descoberta da couraça e
sua relação com as doenças psicossomáticas, os desenvolvimentos libidinal e
emocional (segundo a psicoterapia corporal), a formação do caráter, e ainda, a
metodologia da orgonoterapia.
A parte concluinte do trabalho, comporta a apresentação e a análise dos
resultados, finalizando com a metodologia aplicada e a conclusão da pesquisa.
13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Trajeto histórico de Wilhelm Reich
Wilhelm Reich nasceu em 24 de março de 1897 na Galícia, uma região
histórica situada no leste da atual Ucrânia e sul da Polônia, e que fazia parte do
antigo império Austro-Húngaro. Tempos depois, a família mudou-se para uma
pequena cidade chamada Jujitnetz, província de Bukovina, onde seu pai, Leon
Reich, adquiriu uma extensa propriedade rural, conta VOLPI (2000). O autor relata
que devido ao ciúme e autoritarismo de seu pai, Reich, sua mãe e seus irmãos não
podiam estabelecer contato com os camponeses vizinhos. Além disso, a distância
do colégio mais próximo fez com que Willy (como era chamado pelos familiares)
recebesse aulas em casa com instrutores contratados por seu pai.
Aos oito anos de idade ele já havia montado seu primeiro laboratório de
plantas e insetos, demonstrando um apreço especial por colecionar borboletas.
Albertini (1994) afirma que nos relatos emocionais de Reich, ele fala que
sua mãe manteve um relacionamento amoroso com seu segundo instrutor e que ele
percebia o que estava acontecendo. Em alguns deles, Wilhelm Reich descreve
cenas em que ouvia a relação sexual do casal.
Ainda de acordo com Albertini (1994), outro fato que Reich julga ter sido
marcante em sua infância, foi quando sua mãe entregou a seu pai a prova de que
ele havia roubado uma certa quantia de fumo, pretendendo trocá-la por um suporte
de madeira no qual armazenaria sua coleção de borboletas, e, por decorrência,
14
recebeu uma surra. Vale ressaltar que para Wilhelm Reich o maior prejuízo não fora
a agressão física cometida pelo pai, mas o sentimento de traição por parte da atitude
tomada pela mãe.
Com doze anos de idade, Reich teve que deixar suas aulas particulares
para estudar na cidade, porém, em seguida, recebeu a notícia que sua mãe havia
cometido suicídio e que seu pai estava com tuberculose. Diante desta situação, ele
voltou para casa, com o propósito de ajudar sua irmã cuidar da fazenda, mas tais
fatores não o fizeram abandonar seus estudos, tanto que durante sua juventude
Wilhelm Reich foi um brilhante aluno, muito voraz em suas leituras e repleto de
ambições.
Antes de concluir o segundo grau alistou-se no exército, e logo recebeu o
comando de um pelotão no batalhão de infantaria. Ao fim da Primeira Guerra
Mundial, Reich pediu dispensa da atividade militar.
2.1.1 O encontro com a psicanálise
Wilhelm Reich ingressou em sua vida acadêmica aos vinte anos,
iniciando-a no curso de Direito, e mudando, após seis meses, para o curso de
Medicina. Já como acadêmico da saúde, começou a freqüentar os seminários
ministrados pelo estudante de psicanálise Otto Fenichel, dos quais não participava
tão ativamente, uma vez que a forma com que o estudante abordava o tema
sexualidade gerava-lhe certo desconforto; afinal, baseado em suas próprias
15
experiências, Reich havia concluído que a sexualidade é o centro pelo qual gira a
vida da sociedade.
Volpi (2000) acrescenta ainda que foi na procura de Reich para saber
mais sobre sexualidade, que ele chegou aos escritos de Freud e de outros autores.
Destes estudos, que reuniram as mais diversas concepções, surgiu seu primeiro
seminário. No mesmo ano Reich foi eleito presidente dos seminários e foi em um
destes encontros que conheceu Sigmund Freud e engatilhou sua dedicação aos
estudos da Psicanálise. Passou, desde então, a ser aluno de Freud e aos vinte e
três anos foi aceito e oficializado como membro da Sociedade Psicanalítica. Mais
tarde, em julho de 1922, graduou-se em medicina e deu início a pós-graduação em
neuropsiquiatria.
Reich dedicou três anos de sua vida para a investigação da sexualidade
de pacientes neuróticos, os quais a Psicanálise não conseguia reverter o quadro,
dando início a uma nova teoria que denominava “Teoria do Orgasmo”.
Volpi (2008) conta que pelo fato de Reich ser o mais jovem entre todos os
psicanalistas, somado à sua ansiedade em querer ir além do método tradicional
utilizado pela abordagem, suas atitudes não estavam sendo bem vistas pelos
colegas. A ausência de aprovação dos colegas não implicou em desistência, pelo
contrário, fomentou cada vez mais as pesquisas sobre a teoria da libido, que, por
sua vez, estava sendo deixada de lado por Freud, e então Reich tomou a liberdade
de nomeá-la: Teoria de Economia Sexual, completa Volpi (2008).
Diante das dificuldades encontradas pela Psicanálise e frente às
resistências de seus pacientes, que não conseguiam se adequarem à regra básica
de livre associação da idéia, Reich continuou seus estudos, acreditando que tais
resistências estavam diretamente ligadas aos tipos de caráter dos pacientes.
16
Passou então do papel de analista passivo para intervir de forma mais ativa e efetiva
sobre todos os processos patológicos do paciente, começando, dessa maneira, a
desenvolver uma nova técnica de trabalho designada por ele de Análise do Caráter.
A técnica da análise do caráter possui um plano definido, desenvolvido a
partir da estrutura peculiar do paciente de forma a chegar às profundezas
do inconsciente, podendo ir além da compreensão da linguagem falada, o
que não é possível quando se faz uso das psicoterapias puramente verbais.
(VOLPI, 2003, p. 8).
Foi o trabalho sistemático com essa nova técnica, a Análise do Caráter,
que levou Reich a perceber a íntima relação mente-corpo e a descobrir que toda
couraça psíquica possui um equivalente somático, ou seja, uma couraça muscular.
Essa couraça muscular é formada por tensões crônicas decorrentes de experiências
traumáticas ao longo da vida, cuja função é, principalmente, proteger o indivíduo.
Tal descoberta fez com que a técnica da análise do caráter deixasse de
ser uma terapia unicamente psicológica e passasse a ser diretamente voltada ao
trabalho corporal, mobilizando, dessa forma, o sistema neurovegetativo, originando a
técnica da Vegetoterapia Caractero-analítica, o que acaba por incluir num só
conceito o trabalho do aparelho psíquico e físico (VOLPI, 2000).
2.2 Da vegetoterapia a orgonoterapia
Volpi (2000) diz que o nome Vegetoterapia foi eleito pelo fato de ser uma
terapia que contempla o sistema neurovegetativo e caractero-analítica pelo fato de
que, no decorrer da terapia, se tem a possibilidade de fazer a análise do caráter.
17
Reich concluiu que o corpo contém a história do indivíduo e que é por
meio dele que a vegetoterapia busca resgatar as emoções mais profundas. Com
isto, estabeleceu um princípio básico o qual afirma ser o “restabelecimento da
mobilidade biopsíquica através da anulação da rigidez (encouraçamento) do caráter
e da musculatura” (REICH, 1986 apud VOLPI, 2000, p.17) por meio da introdução de
técnicas de intervenção corporais específicas (Actings), bem como a análise dos
conteúdos verbalizados pelo paciente.
A dissolução de uma couraça muscular não só libera a energia vegetativa
como também reproduz a lembrança da situação de infância, fase na qual ocorreu a
repressão do instinto. Raknes (1988) descreve “couraça caracterial” como sendo
uma defesa unitária contra todas as emoções que, de alguma forma, eram
percebidas como perigosas.
Segundo reich as tensões musculares crônicas serviam para bloquear uma
das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual.
Portanto, cada vez que a couraça era dissolvida, emoções e lembranças da
situação que provocou a couraça também eram explicitadas, mostrando
assim a relação direta das emoções com o sistema neurovegetativo.
(VOLPI, 2003, p. 19).
A descoberta da couraça conduziu a uma inovação na técnica
psicoterapêutica, que consistia em atacar as neuroses do ponto de vista somático,
seja atentando o paciente sobre as tensões crônicas, seja fazendo-o sentí-las por
meio da manipulação dirigida. Desse modo, diluindo os bloqueios e as tensões,
podia-se atingir a consciência das emoções e das recordações até então
completamente sublimadas, mesmo que o terapeuta houvesse conseguido supor
quais eram elas através dos sonhos e das associações do paciente. Essas novas e
inesperadas experiências eram sensações de correntes, que pareciam partir do
18
sistema nervoso vegetativo ou autônomo, e Reich chamou-as então de “correntes
vegetativas”. (RAKNES, 1988).
A Vegetoterapia diferencia-se segundo Volpi (2003) das outras terapias
corporais, pois não se trata de uma técnica de liberação emocional, mas de uma
metodologia que tem um protocolo, um projeto terapêutico e um fim, que focaliza no
desbloqueio das couraças levando o indivíduo a se aproximar cada vez mais de uma
condição de caráter genital.
A vegetoterapia caractero-analítica é, portanto, uma vivência de práxis
emocional, que permite ao indivíduo mudar a relação e a valoração do
mundo por meio de uma visão e um sentir natural, e com isso chegar a um
“ser com” em vez de um “ser para”. Ela não é uma técnica, ou seja,
mecânica, mas uma metodologia ligada à disponibilidade que o terapeuta
recuperou com seu training pessoal, quando superou a relação primária
com a “mãe”, como definiu Arieti. Esse vínculo de dependência,
inconsciente (e, para os reichianos, o termo inconsciente é um adjetivo e
nunca um substantivo, um postulado, como para os freudianos!), explica a
enorme dificuldade dos terapeutas selvagens que o exploram e o vivem.
(NAVARRO, 1996, p. 9)
Em seguida Reich mapeou os segmentos: ocular, oral, cervical, torácico,
diafragmático, abdominal e pélvico. Com base em seus estudos, ele descobriu que
os bloqueios impedem o livre fluxo energético no indivíduo, e para compensar, o
corpo adota novas posturas (olhos arregalados, tensão no maxilar, desvios na
coluna, entre outros) (VOLPI & VOLPI, 2003). Diante do exposto, Reich elaborou as
couraças de cada segmento para que pudesse ser realizado o trabalho de
desencouraçamento ou o desbloqueio das mesmas, que tem início pelo primeiro
segmento, chamado ocular, e segue seu direcionamento ao último, denominado
pélvico.
O fato de que os movimentos reflexos do corpo humano que apareciam
quando o desbloqueio das couraças tinha imensa semelhança ou até
mesmo podiam ser idênticos ao movimento dos protozoários observados
em microscópios levou Reich, em 1936 e 1937 a realizar pesquisas de
laboratório, as quais foram publicadas em 1938, na Noruega. “Nelas,
buscava comprovar a existência de uma energia, que mais tarde chamou
19
de orgônio, a qual está envolvida em todos os aspectos da vida”. (VOLPI,
2003, p.12).
Dando continuidade as suas pesquisas, Reich chega até a descoberta de
uma energia que se encontra tanto dentro, quanto fora do organismo, a essa energia
ele passou a designar a nomenclatura “orgone”, e, desde.então o termo
vegetoterapia foi substituído por orgonoterapia, então, Reich construiu um simples
aparelho estruturado com material orgânico e inorgânico, ao qual chamou de
acumulador de orgônio.
Desde o início de seus estudos Reich sempre deu vistas para pesquisas
sobre bioenergia, e como em seu trabalho terapêutico o intuito era fazer com que o
organismo regulasse e liberasse a energia corporal, chamou sua nova descoberta
de “orgonoterapia”.
A tarefa central da orgonoterapia é destruir a couraça. Em outras palavras,
ela deve restaurar a mobilidade do plasma corporal. No organismo
encouraçado, a função de pulsação de todos os órgãos é enfraquecida num
maior ou menor grau. Cabe à orgonoterapia restabelecer a capacidade
plena de pulsação, o que acontece biofisicamente quando se destrói o
mecanismo de retenção. (REICH, 2004, p. 338)
Volpi (2003) mostra que a orgonoterapia parte do princípio de que tanto a
soma, como a psique, tem raízes comuns no sistema plasmático pulsante (sangue e
sistema autônomo), por esse motivo não exerce influência sobre a função psicofísica
em si, com exceção da raiz comum das funções psíquicas e somáticas, quando se
trata de dissolver o bloqueio respiratório e do reflexo orgástico, dentre outras
inibições de caráter biológico.
Por isso, a orgonoterapia não é terapia psíquica, nem ao menos
fisiológico-química, e sim, uma terapia biológica que se ocupa das perturbações da
pulsação no sistema autônomo. O autor continua sua explanação, dizendo que a
20
orgonomia compreende o todo e se dedica ao estudo das manifestações da energia
orgone nos micros e nos macros cosmos, bem como nos vivos e nos inanimados,
objetivando reencontrar a capacidade do ser humano de regular a sua própria
energia, e, conseqüentemente, seus pensamentos e emoções, podendo alcançar
uma vida mais saudável.
Mas o reconhecimento nem sempre vem no tempo desejado e, apesar de
todas as descobertas, Reich ainda era interpretado como um impostor (charlatão).
No entanto, no momento certo “seu trabalho produtivo abrangeu, em um período de
quarenta anos, vários países” entre eles Viena, Berlim, Oslo, França e América.
2.3 Couraça muscular
De acordo com Reich (apud de Volpi 2003), o mapa do corpo humano
está dividido em sete segmentos: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático,
abdominal e pélvico. Mesmo não havendo uma relação anatômica entre eles,
emocionalmente eles estão interligados. O segmento ocular está diretamente ligado
ao segmento abdominal, segmentos estes que se relacionam ao medo, o segmento
oral está ligado ao segmento pélvico, que, por sua vez, se referem à doação e
recepção de prazer, e por fim, o segmento cervical que se liga ao diafragmático que
está ligado ao controle e ansiedade.
É válido ressaltar que o segmento torácico é o único que não tem relação
direta com outro segmento, porém, além de ser influenciado, ele influencia o
segmento cervical e diafragmático. Ter um corpo em equilíbrio é sinônimo de
energia circulando livremente da cabeça aos pés, quando algo impede tal circulação
21
de energia, ocorre o que Reich denomina de “couraça”. Ele descobriu que todas as
experiências traumáticas, dolorosas e ameaçadoras provocam uma tensão muscular
com o propósito de proteger o indivíduo. Tal proteção foi denominada de “couraça
muscular”.
A couraça é componente dos mecanismos de defesa do Ego ou o
componente somático dos traços neuróticos de caráter. O caráter se
estrutura durante a infância e a adolescência, como resultado de um
conjunto de experiências afetivas, senso-perceptivas e cognitivas,
provenientes dos vínculos humanos que se estabelece. (TROTTA, 1999,
p.22)
Baker (1980) diz que a couraça impede a entrega orgástica total, de modo
que o organismo nunca vivencia uma satisfação plena, ficando constantemente a
sua espera. A couraça responde aos estímulos de prazer e dor, ou seja, em
situações prazerosas o organismo está relaxado, já na dor a couraça se fortalece e
contrai.
Segundo Volpi (2003) a energia pode estar bloqueada em um ou mais
níveis e cada bloqueio gera situações com peculiaridades específicas. De acordo
com o glossário de termos rechianos, “couraça muscular” é a soma total das atitudes
musculares (espasmos musculares crônicos) que o indivíduo desenvolve contra a
irrupção de emoções e sensações de órgão, especialmente a angústia, a raiva e a
excitação sexual.
Reich dividiu a couraça em dois grupos (VOLPI & VOLPI, 2003, p. 23):
• Couraça flexível: que acontecem em todos os animais vivos frente a ações
ameaçadoras, mas que depois passam.
• Couraça crônica: é aquela que se forma no início da vida. Completa Baker
(1980) que são reações frente à ameaça, porém, neste caso, elas são
22
contínuas e a sensação de ameaça é permanente, de modo que com o tempo
passam a reagir aos perigos internos e não mais externos.
Segundo Volpi (2003), existem três tipos de couraças:
•
Couraça Tissular: Relativa a distúrbios hormonais e metabólicos, cujas
conseqüências são: obesidade; edema; distúrbios de crescimento e
puberdade; síndrome do “stress”; hipo ou hiperglicemia; distrofias e
displasias de diferentes tecidos, tais como quisto, tumores, alterações
hematológicas,
degeneração
neuromuscular,
certas
dermatoses,
descalcificação óssea; e alteração no sistema imunológico.
•
Couraça Muscular: Caracterizada por hipotonias; hipertonias e espasmos
musculares; alterações motoras; dificuldade respiratória e alteração na
caixa torácica e distúrbios posturais, articulares e ósseos.
•
Couraça visceral: Cujas características são: distonias do sistema nervoso
simpático e parassimpático que resultam em alterações cardíacas e
circulatórias, tais como, hipoxemias regionais, hipo ou hipertensão, bradi
ou
taquicardia,
constipação,
etc;
diarréia,
alterações
digestivas,
insuficiência
tais
hepato-biliar;
como:
dispepsia,
perturbações
das
secreções exócrinas e das funções sexuais oculares, bronquite, etc.
Reich (2001) dizia que a couraça de caráter é a expressão concreta da
defesa narcisista cronicamente implantada na estrutura psíquica.
23
2.3.1 Segmentos da couraça
Volpi (2008) ressalta que o trabalho sobre a couraça psíquica e muscular
permitiu que Reich mapeasse o corpo humano em sete segmentos, e, ao observar
as tensões corporais, percebeu que elas se estabeleciam em formas de anéis de
couraças, e segundo ele, um bloqueio em algum destes segmentos impede o fluxo
energético e leva o corpo a adotar novas posturas. Baker completa (1980) dizendo
que cada um dos segmentos inclui toda porção transversal, de modo que há vários
anéis em relação aos ângulos retos da coluna. Detalhando os sete segmentos:
2.3.1.1 Primeiro segmento: ocular
Este primeiro segmento, ou nível, como preferir chamar, e constituído,
segundo Trotta (1993), de todo encéfalo, sistema visual, sistema auditivo, aparelho
vesicular, sistema olfativo, todos os músculos do crânio, a pele, os olhos, os ouvidos
e o nariz. De acordo com Volpi (2003) tais órgãos também são chamados de tele
receptores, porque é por meio deles que se percebe a realidade externa.
Navarro (1985) expõe a ideia de que assim que o bebê nasce, os olhos, o
nariz e o ouvido deveriam ser imediatamente integrados ao funcionamento unitário,
pois caso contrário, o indivíduo perde o contato com a realidade, o que acarreta em
falsas relações e até dissociações.
O autor, Navarro (1987), afirma ainda que: “o bloqueio do primeiro
segmento é a reação do recém-nascido contra a atmosfera de rejeição e
24
destrutividade que encontra ao nascer”. Trotta (1993) completa seus raciocínio
dizendo que o encouraçamento de tal segmento pode ser resultado da utilização
repetitiva de distorções e inibições senso-perceptivas como recursos defensivos
bem como da fixação de padrões emocionais.
O bloqueio total deste segmento institui segundo Navarro (1995), num
comportamento psicótico, já o bloqueio parcial expressa a presença de um núcleo
psicótico. Em um individuo psicótico, percebe-se claramente que o sujeito “fugiu
pelos olhos”, onde ele vê, mas não olha. Já no indivíduo com núcleo psicótico,
tornando-se notório que em alguns momentos ele fica ausente, pois seus olhos não
estão mais em contato com os do outro.
Trotta (1993) acrescenta que o encouraçamento do primeiro segmento
pode se manifestar de forma a afetar os olhos, ouvidos, nariz e os músculos
superficiais, ou, de modo mais profundo, afetando o cérebro do indivíduo. O
encouraçamento
deste
segmento
envolve
falta
de
contato,
desatenção,
desorientação, tonturas, dores de cabeça, torpor, diversas perturbações visuais,
sensações de vazio na cabeça, dispersão e alterações na configuração do campo
energético.
Tendo como principal manifestação a falta de contato, dentre essas
aparições de encouraçamento podemos destacar também as várias disfunções
visuais, como, por exemplo, a mobilidade, estigmatização, convergência binocular,
entre outros problemas oculares. Esses indícios contemplam ainda os distúrbios
auditivos, olfativos, do sono, equilíbrio e coordenação motora, falta de contato,
vertigem, ausências, disfunções emocionais, confusão mental, como também,
vegetativas e hormonais. Reich (2001) Diz que o afrouxamento desta couraça
poderá liberar um impulso reprimido de choro.
25
Trotta (1993) cita algumas patologias que estão associadas a este
segmento, lê-se: síndromes psicóticas, cefaléia, epilepsia, alguns tipos de cegueira,
problemas visuais como miopia, estrabismo, astigmatismo; além de sinusite, certas
formas de surdez e a síndrome de Meniere, etc.
2.3.1.2 Segundo segmento: oral
Este segmento é composto pela boca e seus anexos, glândulas salivares,
mandíbula, masseteres, e pterigóides, além de todos os músculos faciais, suprahióideos, orofaringe e nasofaringe. De acordo com Navarro (1995) a boca, graças ao
paladar, permite o bebê incorporar – introjetar ou rejeitar- o mundo exterior vivo
através da amamentação. Parafraseando Volpi (2003), possibilita-se afirmar que um
bloqueio neste segmento pode ocorrer nos primeiros nove meses de vida e estar
associado à uma amamentação deficitária, precoce, brusca ou desmame tardio.
Pode haver dois aspectos de oralidade: o primeiro está relacionado a uma
oralidade insatisfeita, por causa de uma amamentação inadequada; e o segundo
está relacionado à oralidade deprimida, causado por um desmame precoce ou
ríspido. Trotta (1993) diz também que os lábios e todos envolvidos na função de
sucção e nutrição estão relacionados ao principal objeto erótico da fase oral.
Alimentar-se exprime também para o recém-nascido a necessidade de ser
amado, garantido, e a possibilidade de se abandonar ao repouso, depois de
saciado. Suas dificuldades alimentares são freqüentemente devidas a uma
insegurança básica, sendo uma relação sadia com a mãe base para uma
boa alimentação. Visto que a mãe é o objeto de amor, sua perda simbólica
ou real causa no desenvolvimento psico-afetivo, uma condição depressiva,
sendo uma de suas manifestações o ciúme. E, visto que a agressividade
erótica oral do bebê para com o seio da mãe satisfaz sua fome,
necessidade primária, a frustração dessa agressividade dá origem à
destruição oral. (NAVARRO, 1987, p. 56)
26
O encouraçamento neste segmento resulta em transtornos dos impulsos
orais básicos: Succional e Morder. Tal encouraçamento vai se manifestar por
alteração anatômica e funcional da boca, evolvendo musculatura labial, oclusão e
inserção dos dentes, salivação, deglutição, cronificações facial, perturbações
alimentares, tais como bulimia e anorexia, e compulsões orais, por exemplo, fumar e
roer unhas, afirma Trotta (1993).
Trotta (1993) explica que dentre certas patologias orgânicas e
psicopatologias associadas à ocorrência do bloqueio deste segmento, encontram-se
as mais variadas formas de depressão e síndromes maníacas, bem como, gastrites,
úlceras, bronquite asmática, colites, tuberculose, psoríases, enxaquecas, e
distúrbios da função sexual (frigidez, impotência, ninfomania, vaginismo), incluindo
ainda todas as patologias odontológicas.
2.3.1.3 Terceiro segmento: cervical
Os componentes do segmento cervical são, respectivamente, as
vértebras cervicais, os músculos do pescoço e de ligação deste com a cabeça, bem
como a ligação estabelecida com a cintura escapular, com a língua, a garganta, as
glândulas de tireóide e de paratireóides.
O bloqueio do terceiro segmento pode ocorrer no período que vai do nono
mês até a puberdade. Segundo Volpi (2003) é nessa fase que aparece o medo de
castração, e de acordo com Navarro (1995), tal bloqueio leva à uma condição
psicopatológica denominada de psiconeurótica.
27
Navarro (1996) afirma ainda que é neste segmento que se situa o
narcisismo primário, ou seja, o sistema fisiológico, que devido as condições culturais
foi transformado em narcisismo secundário. Trotta (1993) completa dizendo que as
funções
deste
segmento
estão
relacionadas
ao
autocontrole,
orientação,
direcionamento ocular, equilíbrio e postura, expressão das emoções e da identidade.
O encouraçamento de tal segmento se dá em situações em que nos
deparamos com a ansiedade de queda, autocontrole, medo da entrega, bloqueio da
expressão sonora das emoções e instinto de autoconservação, constituindo-se na
principal sede das defesas narcisistas. As sensações de sufocamento, comuns
quando este segmento encontra-se bloqueado, podem relacionar-se com angústia
de felação ou com contenção do choro (TROTTA, 1999).
Faringite, laringite, amigdalites, acne e outras dermatoses na face e
pescoço, nevralgia cervico-branquial, sintomas associados à disfunção tiróide e
paratireóide, entre outras, são patologias associadas ao encouraçamento deste
segmento, conforme explana o autor citado anteriormente.
Volpi & Volpi (2003),
completa dizendo que o bloqueio deste segmento pode levar à outras
conseqüências, como: artrose cervical e torcicolo.
2.3.1.4 Quarto segmento: torácico
No quarto nível se encontra a caixa torácica e todos os órgãos internos,
dentre os quais, pode-se citar o coração, pulmão e intestino, incluindo ainda as
costelas, esterno, peitorais, além das manas e membros superiores. Trotta (1993)
28
destaca segundo Reich, que esta é a parte central da couraça, pois a contenção das
sensações sempre envolve contenção respiratória.
O início da função pulmonar no nascimento é precedido de angústia
respiratória (toda angústia é basicamente uma angústia respiratória). Segundo
Freud, a função do Ego é identificar e atenuar a angústia, é a separação da mãe é o
protótipo de toda angústia. Logo, a respiração é a função corporal mais diretamente
associada ao Ego, e sendo este primordial é essencialmente torácico (é
essencialmente um conjunto de mecanismos respiratórios), o tórax acaba por ser
considerado a sede de nossa identidade. Acrescentando ainda que este segmento é
considerado o centro da afetividade que comporta a condição humana, pela sua
estreita correlação entre os sentimentos e as funções cardíacas e respiratórias.
O encouraçamento neste nível pode envolver perturbações na mobilidade
respiratória torácica, alterando a capacidade de ventilação, de resistência torácica e
capacidade pulmonar total. As principais emoções contidas neste segmento são: o
choro, a raiva, a ansiedade, a capacidade desejante, os impulsos afetivos e a
ambivalência. Segundo Trotta (1993), o bloqueio do choro está diretamente
relacionado com resignação, medo de viver (de desejar) e de morrer.
De acordo com Backer (1980) as recordações mais precoces de
desapontamento e de maus tratos poderão surgir com a liberação das emoções do
peito, em geral, bloqueado já cedo. Volpi & Volpi (2003) remata o pensamento
colocando que as biopatias decorrentes do bloqueio do quarto segmento são ligadas
ao coração e ao pulmão.
Trotta (1993) conclui colocando como patologias associadas ao
encouraçamento deste segmento: bronquite asmática, angina pectóris e enfarte do
miocárdio, insuficiência cardíaca, neurose cardíaca, tuberculose, pneumopatias,
29
nevralgia braquial, artroses e doenças reumáticas dos braços e mãos, mal de
Reynolds, mastites, displasia e tumores da glândula mamária.
2.3.1.5 Quinto segmento: diafragmático
O quinto segmento (diafragmático) consiste em uma faixa de 12 a 15 cm
de largura, que se estende desde a linha na altura da extremidade inferior do
esterno até a borda das últimas costelas, compreendendo o diafragma e últimas
costelas, estômago, duodeno, fígado, vesícula biliar, pâncreas, baço, plexo solar,
glândulas supra-renais, os rins e diversos músculos da região tóraco-lombar e do
abdômen. (TROTTA, 1993)
Este nível é responsável pelas funções como: respiração, fonação,
vômito, nutrição, regulação circulatória, desempenho da pressão intra-abdominal e
regulação da autonomia-visceral, explica Trotta (1993). Este segmento estabelece
relação com todos os outros segmentos.
Trotta (1993) esclarece que o encouraçamento neste nível envolve a
diminuição de mobilidade, ou seja, contrações-relaxamento alternados do diafragma,
tendo dois bloqueios: o hipotônico, que é o diafragma flácido, que não consegue se
contrair; e o hipertônico, que é o diafragma tenso, o espástico. Para Navarro (1987),
é no diafragma que se encontra toda hostilidade em face de educadores
repressivos; se no tórax se situa a ambivalência, aqui aparece à compulsão de
repeti-la na esperança de finalmente encontrar o prazer.
Úlceras, gastrites, diabete, pancreatite, congestão hepotobiliar, diversas
hepatopatias,
cálculo
de
vesícula,
insuficiência
pancreática,
hipoglicemia,
30
insuficiência supra-renal ou hiperfunção supra-renal, piloro-espasmo, obesidade,
neuroses de angustia, insuficiência renal, calculo renais, entre outros, são algumas
das principais patologias causadas pelo encouraçamento deste segmento, diz Trotta
(1993).
A principal emoção bloqueada no segmento diafragmático é a raiva, que,
por sua vez, está associada ao medo. Dentro deste bloqueio, existem duas
subdivisões, uma delas está ligada ao medo primitivo, de origem neonatal,
associada à hostilidade reativa e a angustia de abandono e de fragmentação, e deve
ser abordada com muito cuidado e suavidade, pois geralmente está acoplada ao
bloqueio do primeiro segmento. A outra está ligada ao medo de punição e a angustia
de castração, associada à hostilidade dirigida às figuras repressoras da sexualidade,
e pode ser abordada com intervenções mais enérgicas como, por exemplo, a
estimulação do reflexo do vômito (TROTTA, 1999).
2.3.1.6 Sexto segmento: abdominal
O sexto segmento é o abdominal, que inicia a três dedos acima do
umbigo e termina quatro dedos abaixo deste, comportando os músculos abdominais
e o intestino, além de ser ligado à função dos esfíncteres. Segundo Volpi & Volpi
(2003), o bloqueio deste segmento, é proveniente do estresse que a criança sofreu
durante o período anal do desenvolvimento, levando a uma tendência de retenção,
que causa constipação, e um comportamento avarento, mesquinho e compulsivo por
limpeza.
Indivíduos
com
este
segmento
encouraçado
são
extremamente
31
organizados e detalhistas, valendo ressaltar que este é o segmento da couraça,
mais intensamente ligado ao sentimento de medo.
Trotta (1999) explica que o encouraçamento deste segmento, geralmente
está associado ao medo neonatal ou ao medo das sensações pélvicas. A
musculatura abdominal pode estar hipertônica ou flácida; a barriga pode estar
insensível ou hipersensível, distendida ou contraída.
Trotta (1993) revela que a barriga é uma região de grande sensibilidade, e
o medo sempre vai acarretar disfunções de sexto segmento, uma vez que a região
do umbigo guarda memórias ligadas à vida intra-uterina. O papel assumido pelo
segmento abdominal reflete de um modo geral no estado de vitalidade,
disponibilidade para o prazer, prontidão, determinação, noção de centramento e de
limite.
As
funções
intestinais
de
digestão,
absorção,
reconhecimento
imunológico e produção peristáltica, têm evidente correlação com o estado
emocional relacionado à figura materna.
2.3.1.7 Sétimo segmento: pélvico
Fazem parte deste segmento todas as estruturas do baixo ventre e da
estrutura pélvica: órgãos genitais, bexiga, uretra, ampola retal, anus, região sacra,
músculos do diafragma pélvico, e todas as estruturas componentes dos membros
inferiores.
Trotta (1993) alega que tal nível tem duas funções fundamentais:
genitalidade e embasamento postural.
32
Reich demonstra que o orgasmo sadio tem como unção a regulação do
equilíbrio bioenergético (carga-descarga e fluidez energética), psicoemcional (como principal fonte de prazer, manter ativas as pulsões de vida,
a motivação, a “capacidade desejante”) e anatômico-fisiologico (tônus
simpático e parassimpático, tonicidade muscular e regulação vegetativa,
hormonal e imunológica) do individuo. (TROTTA, 1996, p.39)
A descarga orgástica fica bloqueada em graus variáveis, resultando no
que se chama de impotência orgástica, que gera uma estase bioenergética crônica
(estase da libido), que se constitui na base de todos os processos neuróticos e
biopáticos. (TROTTA, 1999)
O encouraçamento do sétimo segmento causa diversos sintomas (Reich,
1995) incluindo: prisão de ventre, lombalgia, tumorações de todo o tipo no reto,
inflamação dos ovários, pólitos no útero, tumores benignos e malignos, irritabilidade
na bexiga, anestesia da vagina ou na superfície do pênis, hipersensibilidade da
uretra, além de corrimento acompanhado do desenvolvimento de protozoários no
epitélio vaginal.
Pode haver ainda o encouraçamento da parte superior das pernas, que
tem uma conexão direta com conteúdos ligados a sexualidade genital, ao passo que
se ocorrer na parte inferior, tal encouraçamento pode estar ligado ao embasamento
postural ou à ansiedade que queda.
Outras possíveis patologias relacionadas a este segmento, de acordo
com Trotta (1993), são: cistites, dismenorréias, síndrome pré-menstrual, vaginites,
uretrites, hemorróidas, varicocele, pólipos, tumores e cistos, varizes nas pernas,
artroses nas articulações da virilha, joelho e tornozelos, lumbago, convulsões e
desmaios histéricos, “síndrome das pernas inquietas”, esterilidade e nevralgia do
ciático (podendo levar a paralisia).
33
2.4 Etapas do desenvolvimento emocional
De acordo com a orgonomia o homem é visto como a expressão da
energia que fora denominada por Reich (apud Volpi, 2002) de orgone. Tal energia
está presente desde a formação dos óvulos e dos espermatozóides e, em um
movimento contínuo, vai se somando com as outras energias, movimento este, que
segue uma seqüência lógica de maturação.
O autor explica ainda, que tais etapas representam momentos de
passagem que induzem à incorporação de passagem e determinam a entrada e
saída de uma etapa sucessiva. E que cada etapa tem seus fenômenos específicos e
que trazem consigo a genética da célula, valores biofisiológicos, emcionais-afetivos
e intelectuais.
Volpi (2002) aponta ainda que se uma criança conseguir passar por todas
as etapas do desenvolvimento sem sofrer comprometimentos entre seus impulsos
naturais e as frustrações impostas, chegará naquilo que Reich chamou de caráter
genital. Porém, caso ocorra alguma frustração ou repreensão de forma severa,
poderá ocorrer uma fixação na fase em que a criança se encontrará, podendo,
assim, aparecer futuras marcas em seu caráter.
2.4.1 - 1ª Etapa: Sustentação
34
A sustentação é a primeira etapa do desenvolvimento, tendo seu início na
fecundação e seu término no momento do nascimento.
Segundo Volpi (2002) o útero é o primeiro ambiente em que se encontra o
bebê durante seu desenvolvimento emocional, onde o contato se dá com a mãe por
meio de suas paredes e do cordão umbilical, que irá sustentar e nutrir o bebê em
formação, trata-se de uma troca corporal de energia orgonótica entre a mãe e o
bebê.
O nível de energia do embrião será determinado pelo nível de energia do
útero da mãe diz REICH (apud Volpi, 2002). Durante essa primeira etapa, o bebê
atravessa três fases, denominadas: segmentação, embrionária e fetal.
a) Fase de segmentação
A formação da vida começa a partir de sua fecundação, logo, essa
primeira fase tem início desde a concepção e vai até o momento da fixação do
zigoto nas paredes uterinas, que ocorre por volta do 5º ao 7º dia de gravidez.
De acordo com Volpi (2002), trata-se de um processo muito delicado, no
qual há um gasto elevado de energia e requer muito cuidado por parte da mãe que,
por sua vez, deve evitar situações de medo, estresse, angústia, ou qualquer tipo de
emoção que altere esse processo energético ou impeça a nidação do zigoto nas
paredes uterinas. O bebê precisa de um útero receptivo, pulsante e acolhedor,
completa o autor.
b) Fase embrionária
Volpi (2002) explica que essa fase inicia após a nidação do zigoto e se
estende até o final do segundo mês de gestação. É nesta etapa começa a formação
35
do cordão umbilical que sustenta o embrião nas paredes do útero materno. No
entanto uma situação estressante para a mãe é capaz de ativar os mecanismos
endócrinos maternos interferindo no desenvolvimento físico e energético do bebê,
este pode reconhecer como uma ameaça de aborto e pode provocar alteração de
informações genéticas transmitidas às células.
c) Fase fetal
A fase fetal inicia no terceiro mês de gestação e se estende até o
nascimento. Nesta fase, como a placenta já esta formada, a energia que o bebê
recebe passa a vir da própria mãe por meio do cordão umbilical. É também nesta
fase que ocorre a formação do cérebro e do sistema neurovegetativo, explana Volpi
(2002). A partir deste momento, o bebe já é capaz de reagir a estímulos auditivos,
luminosos gustativos táteis e até mesmo olfativos explica o autor.
Volpi (2002) conta que em estudos recentes descobriu-se à existência de
um pequeno órgão oro-nasal, que desaparece logo após o nascimento, e tem a
função de sentir o sabor do ambiente líquido que geralmente é alterado pelas
endorfinas. Por exemplo, quando a mãe é agitada e ansiosa descarrega hormônios
com sabor desagradável, contrapondo-se à essa situação, quando a mãe sente-se
bem e relaxada, libera endorfinas que o bebê percebe como um gosto bom.
É de grande importância a presença do pai durante a formação do feto,
pois além de uma gestação tranqüila, eles contribuem muito para a saúde do bebê.
A fixação nesta etapa é denominada por Navarro (1995) como núcleo
psicótico, cujas características posteriores serão de pessoas confusas em seus
pensamentos, ideias e emoções, isoladas, que apresentam doenças de pele como
alergias, dificuldade de contato físico, astigmatismo, anorexia e outras biopatias.
36
2.4.2 - 2ª Etapa: Incorporação
Essa etapa começa logo após o nascimento, e vai até o desmame, que
deve ser por volta do nono meses de vida concomitantemente ao surgimento dos
primeiros dentes, que o possibilitarão à mastigação e tritura de seu próprio alimento.
Nesta etapa o seio da mãe é o alvo do bebê, que introjeta tudo o que vier
do mundo externo começando pelo bico do seio disponível, pelo sabor do leite, o
cheiro e os olhos atentos da mãe, as mãos acolhedoras, o contato com a pele, e
pela disponibilidade da matriarca em amamentar, explica Volpi (2002).
Volpi (2002) completa, afirmando que um dos motivos pelo o qual o bebê
não quer mamar no peito pode ser o gosto amargo do leite, devido a descarga de
bile, produzida pela ansiedade e agitação da mãe. Cabe lembrar que até o nono
mês de vida, o bebê não possui lágrimas e caso ele chore de força estressora por
muito tempo, poderá haver um futuro comprometimento de sua visão.
Não dar limites nas mamadas neste período e acompanhar o ritmo do
bebê é muito importante, pois o bebê geralmente demonstra por meio de choro,
balbucios e agitação, a hora que está com fome. Gradativamente vai descobrindo
que ele não faz parte da mãe e começa a explorar o ambiente e as pessoas a sua
volta, se auto-reconhecendo o conhecendo outro, daí então começa a engatinhar e
dar os primeiros passos conclui Volpi (2002).
Navarro (1995) verificou em seus estudos que um desmame precoce
determina a cobertura de uma oralidade insatisfeita. Caracteriza como sendo uma
condição borderline cuja característica básica é a depressão. Os indivíduos tornamse dependentes, carentes, e, geralmente, buscam algo ou alguém para se
37
apegarem. Dentre as doenças biopáticas mais comuns, encontram-se o bruxismo e
bulimia.
2.4.3 - 3ª Etapa: Produção
Tal fase inicia-se com o desmame e se estende até meados dos três anos
de idade. Nesta fase a energia da criança está toda voltada para a construção de
pensamentos, brincadeiras, gestos, jogos e relacionamentos, além de estar
produzindo
sua
urina
e
fezes,
explica
Volpi
(2002).
Ocorre
também
o
desenvolvimento da autoconsciência, permitindo assim que ela desenvolva a
capacidade de antecipar acontecimentos, por exemplo, mesmo que não estejam
com os pais, têm o conhecimento de que eles vão voltar.
Nesta etapa as crianças passam a imitar os pais em busca de modelos,
são muito curiosas e procuram descobrir o mundo, sozinhas, por isso não costumam
aceitar ajuda.
Volpi (2002) ressalta a importância de tomar cuidado com as
preocupações excessivas, principalmente àquelas de ordem fisiológica. Não exigir a
detenção de suas necessidades físicas antes dos 18 meses, trata-se de um
processo de ensinamento gradual. Um trauma nesta fase pode tolher a
espontaneidade da criança, deixando-a numa situação de submissão ao genitor, que
acaba por frustrá-la.
38
Outra marca desta etapa, explica o autor, é a evolução do brincar
repetitivo para o brincar construtivo, portanto é comum o surgimento de amigos
imaginários mesmo que a criança já seja capaz de distinguir fantasia de realidade.
Navarro (1995) completa dizendo que uma fixação nesta etapa pode
tornar um adulto com traço de caráter psiconeurótico. Quando a mãe é severa,
repressora, punitiva e coloca a criança numa posição de humilhação, por exemplo,
obtêm-se os adultos masoquistas. Outro traço que pode se desenvolver é o de
caráter compulsivo, para melhor entender, expõe-se uma situação em que a mãe é
extremamente exigente com ordem e limpeza e é moralista, dentre várias biopatias,
pode-se mencionar às relacionadas aos intestinos.
2.4.4 - 4ª Etapa: Identificação
Tem início no quarto ano de vida, momento em que a energia da criança
está voltada para a descoberta dos genitais e para a diferença entre os sexos.
Volpi (2002) conta que é quando surgem os primeiros questionamentos
de ordem sexual e é também nessa etapa que ocorrem as primeiras masturbações
com leve fricção do genital, desprovidas de qualquer intenção ou fantasia, e que
deve ser encaradas pelos pais como algo natural e, principalmente, sem punições.
O autor completa falando que aos poucos a criança vai alcançando sua
individualidade, saindo do colo dos pais, brincando sozinha, voltando-se cada vez
mais para o campo social. Mais tarde a criança começa a ter consciência de que seu
sexo será sempre o mesmo e assume seu papel sexual. Essa fase tão importante
denomina-se “conservação”.
39
De acordo com Navarro (1995) a má elaboração desta etapa poderá
acarretar em indivíduos com traços de caráter neurótico, onde se encontram os
fálicos narcisistas e os histéricos. Em meio as biopatias relacionadas à esse traço,
pode-se enfatizar os problemas de ordem sexual, miomas uterinos, dentre muitos
outros.
2.4.5 - 5ª Etapa: Formação do caráter
Esta fase tem início aos cinco anos de vida e se estende até a puberdade,
época em que a formação da estrutura básica do caráter se completa.
Nesta etapa começa a ocorrer a identificação da criança com o pai do
mesmo sexo e a masturbação fica mais evidente. Devagar a criança vai encontrando
a sua própria identidade, e se conseguir chegar nesta etapa sem bloqueios ou
fixações das fases anteriores, poderá estruturar o chamado caráter genital que,
segundo Reich, é auto-regulado, equilibrado e maduro Volpi (2002). É este tipo de
caráter que se procura elaborar no processo psicoterápico.
2.5 Fase do Desenvolvimento Libidinal
Segundo Backer (1980) existem quatro zonas erógenas principais, e cada
uma delas prepondera num certo estágio do desenvolvimento emocional, que são:
os olhos, a boca, o ânus e os genitais, que têm como principal função, o contato com
40
o meio ambiente. Clapier (1988) faz uma ressalva bastante pertinente e afirma que
assim como ocorre o amadurecimento do corpo, ocorre, paralelamente a ele, uma
maturação das pulsões.
2.5.1 Fase Ocular
De acordo com Backer (1980) a zona ocular é o primeiro contato
específico que o bebê tem com o meio ambiente, por isso é a primeira área a ser
traumatizada. Um trauma ocular pode ser causado tanto por aplicação de um colírio
após o nascimento, quanto o encontro do bebê com expressões emocionais frias,
ameaçadoras ou de ódio, sendo que essas são muito mais prejudiciais, visto que é
vital para o desenvolvimento da criança, a sensação de aceitação e de bem estar.
Backer (1980) explica que para ocorrer um bloqueio nesta fase é
necessário um comportamento contínuo, pois, caso haja algum problema isolado, o
bebê poderá superar. Entretanto se tratar-se de uma mãe realmente hostil,
extremante ansiosa ou emocionalmente estéreo, de fato haverá dados graves,
inibindo o desenvolvimento dos olhos e a visão binocular, ou, por exemplo, quando a
falta de contato da mãe chega ao extremo, este comportamento poderá gerar uma
criança autista. Em contrapartida, um bom relacionamento afetivo com o bebê
desenvolverá olhos saudáveis, e possibilitará um bom contato com o ambiente e à
formação de uma integração adequada por parte do indivíduo.
É muito difícil passar por esta fase sem sofrer nenhum tipo de trauma,
pois existe uma crença de que os bebês não conseguem focar seus olhos antes das
seis semanas de vida extra-uterina. (BACKER, 1980).
41
2.5.2 Fase Oral
A fase oral corresponde aos dezoito primeiros meses de vida, nesta fase
a zona erogéna é a boca, pois é atravês dos lábios e da língua que a pulsão básica
do bebê é sátisfeita, pois receb o alimento para atenuar suas tensões de fome e
sede. Fadiman (1980) afirma que o processo da amamentação não está somente na
alimentação, mas abrange o carinho, conforto e carícias que o bebê recebe
enquanto
alimenta-se.
Friedman
(2004) completa
dizendo
que
os
bebês
impulsionados a satisfazer suas pulsões de sede e fome, procuram o peito da mãe
ou a mamadeira, seguros do prazer que o ato pode proporcionar. Backer (1980)
evidencia que o contato com a mãe é de extrema importância para o bebê.
Durante nove meses, o feto fez parte intrínseca de seu corpo e, mesmo
depois do nascimento, continua sendo altamente dependente. Essa cumplicidade
entre os dois organismos ocorre em várias situações, incluindo aquelas em que se
eles compartilham de sensações de excitação. Mãe e filho excitam-se mutuamente,
dando um ao outro a faísca e a intensidade vital indispensáveis ao desenvolvimento
e ao crescimento.
Esse estímulo atinge seu ponto mais alto no ato da amamentação. É
nesse momento que o bico do seio da mãe fica cálido, ereto e vibrante, produzindo,
dessa maneira, freqüentes convulsões orgásticas no bebê. O alimento recebido da
mamadeira pode ser igualmente nutritivo, mas esse é um ponto de vista técnico que
não contempla o contato e a excitação.
42
Volpi (2003) salienta que a questão afetiva encontra-se na etapa do
desenvolvimento infantil, e abarca a amamentação. Na verdade, fala-se de uma
relação mulher-mãe com um bebê, que pode ser tanto do sexo masculino, como do
sexo feminino. Mas, a questão fundamental é que essa mulher-mãe vai ser o
primeiro contato afetivo do bebê. É ela quem vai ensiná-lo a se relacionar e a amar,
pois, dependendo da posição subjetiva, energética e afetiva dessa mãe, o bebê vai
ter uma possibilidade de contato mais, ou menos saudável.
Fadiman (1980) diz ainda, que a boca é a primeira área do corpo que o
bebê pode controlar, portanto a maior parte da energia libidinal está direcionada, ou
focada, para essa região. Conforme a criança vai crescendo, vão surgindo outras
áreas que passam a proporcionar prazeres, e sob esse escopo, conclui-se que uma
criança que teve suas necessidades saciadas nesta fase, prossegue o seu
desenvolvimento.
Contrapondo-se à esse argumento, tem-se a criança que teve algum
problema relacionado ao desmame, sendo precoce ou tardio, que pode criar alguma
fixação de nível oral, podendo no futuro gerar tipos de caráter que enfrentem
problemas com cigarro, obesidade, entre outras patologias ligadas a oralidade. É
válido lembrar que todos os indvíduos têm traços orais, e que só se pode considerar
algo como sendo uma patologia , quando esse predominar mais que os outros e
passar a ser o objeto de satisfação.
43
2.5.3 Fase Anal
Entre os dois e quatro anos é que a criança aprende a controlar os
esfíncteres anais e a bexiga. O treinamento para ir ao toalete gera uma curiosidade
natural na criança, despertando-a para a auto-descoberta. Fadiman (1980) continua
explicando que nessa fase o objeto de prazer está relacionado à descoberta do
controle fisiológico. Friedman (2004) alega que o prazer, na verdade, está conexo ao
alívio proporcionado pelo ato de defecar.
A sensação de satisfação e de orgulho que a criança vivencia quando
produz um movimento intestinal é extremamente importante para ela. Nesse
instante, ela estará aprendendo a separar-se de sua mãe e a formar uma identidade
independente, completa Backer (1980).
O autor continua explicando que se a criança tiver uma mãe repressora,
somado à um treino precoce ou que faça uso de um severidade para a ida ao
banheiro, impede a satisfação de eliminar os detritos e de atingir um controle natural
de tal processo. Podendo assim, provocar uma fixação em tal fase, pois tanto o
treino prematuro, como o severo, atrapalham o desenvolvimento natural da criança.
De acordo com Friedman (2004) algumas crianças começam a ter prazer na
retenção das fezes ou liberação sem controle das fezes, pois assim tem um controle
sobre os pais.
O autor citado salienta alguns traços de caráter de adultos fixados nesta
fase: satisfação com a modalidade do intestino grosso, gostar de fazer desordem ou
até atrapalhar a vida do outro, problemas relacionados à mesquinhez, entre outros.
44
2.5.4 Fase Fálica
Esta fase pode ocorrer por volta dos quatro anos, um pouco antes ou
depois dependendo do desenvolvimento da criança. A grande descoberta deste
período da criança é a descoberta do pênis, ou a falta de um, relacionando tal
descobrimento à questão da identidade, tornando-se, a partir de então, consciente
da diferença sexual, conforme explana Fadiman (1980):
A descoberta de que é castrada representa um marco decisiva no
crescimento da menina. Dá partem três linhas de desenvolvimento
possíveis: uma conduz à inibição sexual ou a neurose, outra modificação do
caráter no sentido de um complexo sexual masculino e a terceira,
finamente, à feminilidade normal (FREUD 1933 apud FADIMAN, 1980,
p.14).
Nesta fase a criança desperta a compreensão de identidades que ajuda a
entender que as coisas são sempre as mesmas, ainda que mudem de forma,
tamanho ou aparência. A compreensão da causa-efeito ajuda a entender que se
quebrar um brinquedo, ele vai ficar quebrado a às vezes não dá para consertar. A
capacidade de classificação vai ajudá-la a aprender as semelhanças e diferenças
entre as coisas. Os especialistas dizem que aos quatro anos uma criança é capaz
de reconhecer dois critérios de categorização. Pode-se dividir, por exemplo, as
crianças que conhecidas em baixas e altas, e em as que têm cabelos pretos e as
que têm cabelos amarelos. (VOLPI & VOLPI, 2003).
Nesta fase os objetos que os propiciam prazer, vinculados a excitação
sexual, são as genitais. Entretanto, o mais confuso para as crianças é que atos
sexuais não podem ser feitos em público, ou pior, muitos pais repreendem de tal
45
forma que a criança cria uma tensão por não saber o porquê está tendo uma
sensação que, segundo o pai, é tão feia. Explica Fadiman (1980).
As fixações nesta fase podem ocorrer dependendo da forma com que o
pai vai reagir ao exibicionismo genital do filho. Backer (1980) explica que se houver
uma repreensão muito forte por parte do pai, ou do sexo aposto, pode ocorrer uma
frustração por parte do filho.
2.5.5 Complexo de Édipo
De acordo com Segal (1975), o Complexo de Édipo se inicia nos
primeiros anos de vida e possui um começo semelhante em ambos os sexos, sendo
o seio materno o primeiro marco para a situação edípica. O autor completa,
definindo
as
características
do
princípio
da
fase
edípica
como
sendo,
essencialmente, três etapas, que se trata da ambivalência, tendências orais e da
incerteza da escolha.
A ambivalência acontece quando os pais são muito desejados e amados,
mas, ao mesmo tempo são excessivamente odiados. Os ataques dessa
peculiaridade visam o relacionamento entre o pai e a mãe, já que esta relação é
vista e sentida como uma relação ameaçadora. As tendências orais afloram, devido
ao fato de que os objetos libidinais têm origem de sua incorporação por via oral dos
objetos desejados. E, a terceira característica, a Incerteza da Escolha, decorre ao
longo do desenvolvimento do indivíduo, fase em que a escolha entre os pais sofrerá
variação, ora escolhendo um e ora outro, da mesma maneira que variam os objetos
agressivos.
46
Tal etapa se define por volta dos 3 aos 6 anos de idade, pois os primeiros
anos de vida os filhos têm a mãe como alvo de ciúme, sentindo-se contrariados com
a presença paterna, inversamente a essa afirmação é a reação das filhas com
relação ao pai, se sentido desconfortáveis com a presença da feminilidade materna.
De acordo com Volpi & Volpi (2003) na fase edipiana, as sensações
sexuais em relação ao genitor do sexo oposto carregam-se de culpa, medo e ódio,
sendo difícil ser resolvida sem distúrbios. Cloninger (1999) explica que essa
complexidade ocorre de modo mais significativo quando o menino cria uma
rivalidade com o pai e passa a ter a mãe como seu objeto de desejo, gerando assim,
uma angústia de castração, pois se o pai souber de seu desejo reprimido, poderá
castigá-lo com atitudes que lhe privem dos órgãos sexuais.
A criança no Édipo contém seus anseios e passa a sentir culpa pela sua
sexualidade, além de demonstrar medo das figuras de autoridade. As fantasias dos
meninos, nestes estágios iniciais, concentram-se na relação sexual com a mãe, na
menina a fantasia direciona-se na relação sexual com o pai e angústia com relação
a figura intimidante da mãe. A “resolução” se dá quando a criança, ao escolher o
genitor do sexo oposto como objeto de seus anseios, desenvolve a competitividade
em relação ao genitor do mesmo sexo.
A criança vivencia sentimentos de aceitação e submissão ao poder
parental que se traduz na formação do superego, nesse caso o medo da castração,
em nível simbólico, mantém o genital, mas, retira-lhe a função. Volpi (2003) explica
que essas tensões geradas pelo meio externo bloqueiam os movimentos
expressivos de sentimentos e sensações e tornam-se inconscientes com o tempo.
Por mais que a genética não permita, “O primeiro objeto de amor é
sempre incestuoso - mãe, pai, irmãos - e somente a força de severas proibições é
47
que consegue reprimir essa inclinação infantil”. (SILVA, 1968, p. 145). O autor
acrescenta que os neuróticos sofrem uma grande frustração nesta fase, pois
permanecem submissos à autoridade paterna e são incapazes de transportar a sua
libido a um objeto sexual não incestuoso.
2.5.6 Período de Latência
Mais tarde, com a entrada na puberdade, o individuo enfrenta o luto de
abandonar o corpo infantil e passar por mais um processo, esta etapa inicia-se entre
6 e 7 anos, estendendo-se até a puberdade, que, por sua vez, acontece por volta
dos 10 e 11 anos.
Durante a latência ocorre um contato intenso com múltiplos objetos reais
que funcionam como substitutos dos alvos primários (pai, mãe, irmãos), ou seja, as
pulsões são deslocadas para outros elementos.
O período de latência se instala pela impossibilidade de tornar efetiva a
satisfação das pulsões sexuais, este fator deriva da proibição do incesto. No período
de latência o superego já está completamente constituído. (SILVA, 1968). Nesta fase
ocorre ainda a repressão do choque entre os desejos infantis e as proibições dos
adultos, e dá-se a resolução do Édipo.
Segundo Silva (1968), o indivíduo separa sua mãe de seus desejos
libidinosos para recair num objeto real e não mais incestuoso. Este tipo de trabalho é
o que se impõe a homens e mulheres, porém, em alguns raros casos, os indivíduos
conseguem sua finalidade ideal, isto é: desenvolver-se tanto psicológica como
socialmente.
48
2.5.7 Fase Genital
A fase genital precede o período de latência, é quando ocorre a
organização genital que se instala na puberdade e quando as pulsões parciais estão
definitivamente integradas sob a primazia genital específica de cada sexo. Trata-se
do estágio final do desenvolvimento libidinal instintual.
Segundo Silva (1968), a libido tem que transpor vagarosamente todas as
etapas do desenvolvimento sexual. Caso o curso de desenvolvimento não ocorra
normalmente, ocorrerão as chamadas fixações libidinais, que acabarão por interferir
na precedência e no funcionamento genital adequado na vida adulta.
2.6 Formação de Caráter
Na concepção de Reich (2004) o caráter consiste numa mudança crônica
do ego cuja finalidade é protegê-lo contra os perigos internos e externos. Forma-se
como resultado dos choques entre as pulsões e as frustrações do mundo externo, e
acontece em cada etapa do desenvolvimento emocional pela qual o bebê passa.
Caso a criança passe por todas as etapas do desenvolvimento de maneira saudável
alcançará um caráter, denominado por Reich, de genital, mas, se a criança obtiver
qualquer tipo de bloqueio em alguma das etapas, ela, consequentemente,
desenvolverá um caráter do tipo neurótico. Volpi (2008) completa, dizendo que o
caráter é a forma com que a pessoa se mostra e se relaciona, são as atitudes,
somadas ao temperamento e à personalidade.
49
Navarro (1995) explana que a formação do caráter inicia no desmame,
donde começa a atividade neuromuscular ativa e intencional, verificando-se também
a passagem da motilidade à mobilidade. Um desmame precoce, por exemplo,
determina
a
cobertura
de
uma
oralidade
insatisfeita,
transformada
pela
neuromuscularidade prematura em oralidade reprimida (depressiva). Mas esse
sintoma pode aparecer de repente, uma vez que o caráter necessita de muitos anos
para se desenvolver. (VOLPI & VOLPI, 2003).
Segundo Volpi & Volpi (2003) as experiências passadas, ou seja, vividas
na infância deram-se por meio de defesas caracterológicas que fizeram sentido na
meninice. No intuito de proteger o ego em formação, tais experiências mantêm-se
presentes na idade adulta, inconscientes, mesmo quando sua utilidade prática e até
mesmo suas necessidades já não existem. A partir da compreensão da dinâmica
das
primeiras
relações
vinculares
pode-se
chegar
ao
entendimento
do
funcionamento do indivíduo na atualidade.
2.6.1 Couraças de caráter
De acordo com Navarro (1995) caráter é o modo habitual do indivíduo agir e
reagir à fatos e pessoas. Diz ainda que caráter, na verdade, torna-se a formação
necessária para manter o equilíbrio psíquico e para defender-se das frustrações e
das agressões do ambiente.
Não há comportamento sem esforço muscular, e se essa necessita de
expressar-se for impedida por repressão (...), ou se não há possibilidade de
expressar-se de uma certa maneira (...), nesse determinado momento, a
impossibilidade de expressar-se agindo muscularmente fica retida,
50
ancorada nos músculos . Para mim, tudo o que diz respeito à memória
emotiva está ligada aos músculos e tudo o que diz respeito à memória
intelectiva está ligada à célula nervosa. (NAVARRO, 1995, pag. 18)
Trotta (1993) diz que couraça é o componente somático dos mecanismos
de defesa do Ego, ou o componente somático dos traços neuróticos de caráter. É,
portanto, uma defesa contra os perigos do mundo externo e do mundo interno que,
por meio do desequilíbrio energético, ela é construída a finalidade de equilibrar esse
sistema energético.
Reich descobriu que os distúrbios psicoemocionais estão associados à
disfunções anatômico-fisiológicas diversas, os quais são parte integrante, como um
par funcional, de um sistema unitário. A este conjunto de disfunções corporais, ele
denominou couraça.
A couraça inclui disfunções musculares, viscerais e hormonais, que se
instalaram como defesa contra o medo gerado por eventos traumáticos e situações
de ameaça e sofrimento crônico da história de vida da pessoa, explica Trotta (1999).
Reich completa dizendo que o processo de encouraçamento pode iniciar-se em
fases muito precoces do desenvolvimento, incluindo nesse rol, a vida intra-uterina.
2.6.2 Tipos de caráter
Segundo Volpi (2003) a caractereologia só faz sentido como instrumento
de mudança na vida de um paciente, não tendo significado algum a sua utilização
como mero instrumento classificatório.
51
2.6.2.1 Caráter genital e caráter neurótico
Reich (2004) explica que o estado de caráter neurótico sofre uma
crescente estase da libido, precisamente porque seus meios de satisfação não são
adequados às necessidades do aparelho pulsional, podendo assim, ocorrer uma
frustração e passar a uma fixação na fase do desenvolvimento libidinal que se
encontra.
O caráter genital é governado por uma firme alteração entre a tensão e a
satisfação adequada da libido, de acordo com Trotta (1993) o caráter genital é a
atitude extra biopsíquica adulta saudável, isenta das fixações pré-genitais.
Volpi (2008) aponta algumas características como sendo típicas de um
caráter genital emocionalmente livre para manifestar suas necessidades e satisfazêlas, dentre as quais se podem ressaltar: o Ego e o Superego em plena harmonia, o
afeto presente em todos os instantes, além de uma economia sexual bem
organizada. Já o caráter do tipo neurótico é imaturo no aspecto psico-afetivo e a
libido fica estagnada em uma ou mais etapa do desenvolvimento. Lowen (1977)
completa dizendo que todo caráter genital é, essencialmente, não neurótico.
Reich (2004) conclui que o caráter neurótico é sempre relativamente
impotente, ou seja, a fixação sexual infantil perturba a função orgástica que gera
uma estase da libido e esta, ora contida, intensifica as fixações pré-genitais e assim
consecutivamente.
O caráter pode tornar-se uma resistência tanto na vida cotidiana como
quanto durante o tratamento, ele desempenha função semelhante a de proteção
psíquica. Sendo assim, o caráter, igualmente na vida diária e na análise, serve como
meio de evitar o que é desagradável, estabelecendo e preservando um equilíbrio
52
psíquico, mesmo que neurótico, e por fim, consumindo quantidades recalcadas de
energia pulsional ou ainda, quantidades que escapam à repressão. (VOLPI, 2003).
Existem segundo Navarro (1995), quatro estruturas caracteriais:
a) Núcleo Psicótico: O núcleo psicótico instaura-se na gestação, no parto ou
durante os primeiros 10 dias de vida da criança. Podendo decorrer de um parto
traumatizante, cesariana, fórceps, incubadora, carência de contato com a mãe, de
comunicação, de calor, de amamentação, de maternagem, ou ainda, por uma
rejeição vinda da mãe que a criança percebe energicamente. O núcleo psicótico
caracteriza-se por falta de lucidez e por uma grave carência do eu, expressando
uma
ausência
de
identidade
biológica.
Os
indivíduos
com
tendência
à
racionalização, comportamentos de esquiva, confusão de pensamentos, podem
apresentar problemas de visão, de pele, de ouvido e de nariz. Do ponto de vista
energético, trata-se de um indivíduo com uma baixa condição energética
(hipoorgonótica). Vive em condição de medo e é essa posição de defesa que
impede o sujeito de se proteger realmente e o obriga viver com medo Completa
Navarro (1995). Quando um trauma ocorre muito cedo no desenvolvimento do bebê,
seus prejuízos são muito mais graves e comprometedores dos que os que ocorrem
numa fase mais adiante, quando o bebê já tem um “eu” mais consciente. Baker
(1980) conclui dizendo que quanto mais precoce a frustração, mais completa a
repressão, que provoca prejuízo considerável na atividade total e conduz
futuramente à redução da capacidade de trabalho.
b) Borderline: O traço de caráter borderline ou oral, origina-se nos primeiros 3 ou 4
meses de vida e vai até o desmame (aos 9 meses). Os indivíduos com este traço de
53
caráter caracterizam-se pela dificuldade de contato, seja do tipo passivo
(dependente) ou do tipo ativo (agressividade oral). Dois aspectos ligados à perda do
seio podem estar presentes, são: a insatisfação e a frustração. A primeira resulta da
falta ou desagrado no aleitamento, que determina uma tendência depressiva; a
segunda resulta de um desmame brusco que determina uma forma raivosa de
reagir, que serve para evitar a depressão. (VOLPI & VOLPI, 2003). O ciúme também
é uma característica destes indivíduos. Do ponto de vista energético, o caráter
bordeline ou oral, tem uma boa carga energética, porém, mal distribuída pelo corpo,
podendo conduzir a situações psicóticas quando há refluxo energético na direção
dos olhos, ou ocorrendo em outras formas, se a situação energética se desloca para
o pescoço e tórax alto.
c) Psiconeurótico: Esta condição inicia-se no desmame e vai até a puberdade.
Neste período, a criança começa a tomar consciência do controle dos esfíncteres,
da independência e autonomia, e inicia o despertar do interesse pelo sexo oposto.
Neste período uma educação severa e proibitiva pode trazer o medo da castração.
(VOLPI & VOLPI, 2003). Do ponto de vista energético, trata-se de indivíduos com
uma alta carga de energia, porém, mal distribuída pelo corpo (hiperorgonótico
desorgonótico), já sob o prisma caracterial, encontra-se aqui o traço masoquista e
obsessivo compulsivo.
d) Neurótico: Para Navarro (1995), a caracterialidade neurótica é a que mais se
aproxima do caráter genital. Sob a ótica energética, são estes os indivíduos que
possuem elevada carga energética (hiperorgonótico), e do ponto de vista caracterial,
encontra-se aqui o traço fálico-narcisista e histérico. (VOLPI & VOLPI, 2003)
54
2.6.2.2 Caráter Esquizóide
Segundo Volpi (2003) o comprometimento deste caráter ocorre entre zero
e seis meses de vida. Se ocorrer uma interrupção antes do nascimento, no parto ou
nos primeiros dias após o nascimento, pode-se gerar uma fixação na fase ocular do
desenvolvimento emocional, tendo como experiência emocional básica a rejeição.
O esquizóide, geralmente, foi uma criança odiada, o trauma ocorreu
quanto ao direito de existir, tendo uma mãe hostil e rejeitadora. Percebe-se então
segundo Lowen (1977) que é característico do esquizóide ter poucos, ou mesmo
nenhum, mecanismo de defesa do ego. O esquizóide funciona na realidade por uma
questão de sobrevivência, mas sem a convicção interna de que seus valores sejam
reais. Falta-lhe o controle sobre suas reações que o neurótico possui, não
importando quão neurótico possa ser tal controle.
Com relação às suas atitudes e sentimentos, há uma falta de conexão
entre eles. Tratasse de um ser mais “voltado” para o intelecto e muito limitado na
relação interpessoal, pois não acredita em valores da vida e funciona por
sobrevivência, obtendo uma vida desarticulada. Os sentimentos presentes é o medo
de aniquilação, fragmentação, deixar de existir e não a falta de identificação com seu
próprio corpo (VOLPI, 2003).
Lowen (1977) completa, explicando que as suas atitudes básicas se
originam de uma negação dos valores da realidade material, não precisando, desse
modo, lutar contra eles. Entretanto, podem ser encontradas, superficialmente,
atitudes masoquistas e tendências orais, derivada de experiências específicas na
sua história de vida. Além disso, o fato de o esquizóide possuir pouco, ou quase
nada, mecanismo de defesa do ego, é um agravante nessas situações.
55
O esquizóide possui olhos vazios e uma grande tensão muscular na base
do crânio, diafragma e nas articulações e tem as extremidades sem energia,
enfatizando as mãos e os pés frios. Possui um semblante frígido, os movimentos
são mecanizados e há uma falta de contato dos pés no chão. Em geral o tórax é
expandido, enquanto o diafragma e abdômen são contraídos, explana Volpi (2003).
Lowen (1977) conta ainda, que o esquizóide funciona na realidade por
uma questão de sobrevivência, mas sem a convicção interna de que seus valores
sejam reais. Volpi (2003) diz que eles possuem sua energia fragmentada e sua
sexualidade é predominantemente pré-genital, ou seja, é utilizada para canalizar
todos os demais sentimentos, principalmente a necessidade de amor.
Volpi (2003) explica que há uma tendência da criança que se tornou
esquizóide precocemente em voltar-se para a figura paterna em busca do calor e do
apoio que não encontrou na mãe. Isto gera uma fixação oral no pênis, uma vez que
o pai assume uma posição substitutiva da mãe e o pênis se constitui num substituto
para o bico do seio. Então, a unidade da personalidade é cindida pela excitação de
dois níveis da personalidade e por dois níveis antitéticos de funcionamento, que são
os níveis oral e genital.
Volpi (2003) afirma ainda que a terapia tem como tarefa recuperar a
confiança básica, fortalecer os limites e o funcionamento do ego, trazer ordem e
materialização para as qualidades criativas e espirituais de sua essência, e, assim,
afirmar seu direito de ser no mundo.
56
2.6.2.3 Caráter Oral
O comprometimento ocorreu entre os seis e os dezoito meses de vida. O
desenvolvimento foi interrompido no período de amamentação ou na primeira
infância, ocorrendo, portanto, uma fixação na fase oral. Tendo como experiência
emocional básica a privação e conflito básico da necessidade versos a
independência, em outras palavras, “só existo se for dependente”, conforme explica
Volpi (2003) O trauma está relacionado ao direito de receber suporte, pois,
geralmente, fora uma criança abandonada.
De acordo com Volpi (2003) o oral tratasse de uma pessoa passiva,
deprimida e dependente, tal dependência pode ser disfarçada em hostilidade. Ele
pode tanto querer ser sustentado pelos outros, como completamente o oposto, e ser
extremamente independente. Costuma tentar chamar atenção e necessita de apoio
e aprovação. Mostra pouca força de vontade, tendo muito medo de conseguir o que
deseja e se decepcionar, além de possuir um nível de agressividade abjeto. Possui
pouca tolerância às tensões, ansiedade, narcisismo, exigência e excessiva
dificuldade de compreender desejos e vontades alheias.
Navarro (1995) assegura que os traços orais são caracterizados,
fundamentalmente, pela dificuldade de contato, seja do tipo passivo (dependência)
ou do tipo ativo (agressividade oral). Qualquer situação de depressão, de frustração
ou de perda afetiva, provoca sempre uma reemergência de traços orais. Os que se
referem à boca é a insatisfação ou a perda do seio materno (primeiro objeto de
“amor”) que colocam o recém nascido em condições de sofrer pela falta ou pela
perda. Assim, a insatisfação ligada ao aleitamento ou ao desmame prematuro e a
57
relativa perda do seio materno gera o que chamamos de “depressividade” do
indivíduo, que marcará toda sua existência.
Certamente é necessário distinguir os aspectos da insatisfação dos da
frustração ligados à perda do seio: a falta ou a insatisfação no aleitamento
determinam uma tendência à depressão em certas situações; ao contrário,
naqueles que sofreram um desmame brusco, determina uma forma raivosa
de reagir. A raiva é uma tentativa inconsciente de autoterapia: de uma certa
forma, a raiva serve para evitar a depressão. (NAVARRO, 1995, p.58).
Uma característica típica do caráter oral é o desejo e o prazer que tem em
falar. Fala, principalmente sobre si mesmo, e, geralmente, de forma favorável. Pode
assumir o centro do palco, sem ficar sem jeito. Esse exibicionismo é diferente do da
mulher histérica e do homem fálico-narscisista, que por sua vez, possuem um
significado genital, enquanto o oral deseja apenas obter afeto, conforme conta
Lowen (1977). O autor explica que esse falar excessivo pode ser entendido como
movimentos de sucção simbólicos, este aspecto é reconhecido no discurso, quando
o caráter oral procura obter admiração e afeto, que são nada mais nada menos que
“suprimentos narcisistas”. Na fala, a boca também pode expressar a função
agressiva de morder, no que é descrito como “sarcasmo mordaz”.
Assim, o modo de reagir do oral, com depressão ou com raiva, segundo
Navarro (1995), leva a distinguir dois aspectos de características orais: o oral
insatisfeito e o oral reprimido:
• O oral insatisfeito é a pessoa que no fundo esconde a situação
depressiva, mas como é plenamente consciente dela, procura
compensar com alimento, álcool, fumo ou qualquer substituto que
possa dar-lhe uma satisfação do nível oral. Nos casos mais graves, o
oral insatisfeito, para não cair em depressão, pode escorregar
58
“energeticamente” para o alto em situações psicóticas. A inveja está
ligada à “ocularidade” do oral.
• O oral reprimido provêm de um desmame brusco, que pode estar na
base de formação deste caráter, isto é, de uma pessoa que foi
obrigada a comer, morder, usar os dentes antes de ter descoberto o
prazer da função. Nestes casos, são pessoas que freqüentemente
falam entre dentes e têm o queixo quadrado devido a uma tensão
crônica dos músculos masseteres. O indivíduo raivoso contido, o oral
reprimido, não tem consciência deste aspecto depressivo, e
cronicamente se defende dele por meio de um comportamento reativo
e raivoso.
Em seus aspectos psicológicos estão presentes o medo de abandono e
ficar em pé sozinho. Admite sua dependência ou compensa na fantasia. Os
sentimentos de abandono, privação, desapontamento, solidão e injustiça, estão
presentes no oral, completa Volpi (2003).
O autor acima citado, explica que fisicamente, o oral possui um organismo
subcarregado, franqueza muscular generalizada, músculos temporais, mandíbula e
boca tensas e possui pensão na cabeça, pescoço e músculos peitorais. O peito é
afundado ou anormalmente forçado para fora, as pernas são fracas e contraídas, os
joelhos podem ser travados, o peso é apoiado na coluna e os pés são arcos caídos,
o corpo é alongado e constrito e os olhos são suplicantes. Há ainda sinais de
imaturidade, mesmo que muitas vezes o corpo parece ter sido forçado a
amadurecer.
59
Segundo Lowen (1977), o caráter oral não desenvolveu o ego ao nível do
estágio genital, sendo assim, não está em posição de oferecer amor, e ao contrário
dessa oferta gratuita, o oral almeja ser amado.
Volpi (2003) completa explicando que o caráter oral possui uma energia
rebaixada e sua respiração é mínima e superficial. Sua sexualidade é utilizada para
obter proximidade e contato, para se preencher, ao invés de descarregar e seu
aspecto geral é de maturação e independência forçada.
Na terapia cabe trabalhar a aceitação da realidade, apesar da raiva e do
medo de estar só, e fazer com que ele seja capaz de se sustentar-se nas próprias
pernas, aprender a se nutrir sozinho, e capacitar-se para suprir as necessidades dos
outros, conclui Volpi (2003). Baker (1980) completa dizendo que durante a terapia
sua energia deve ser aumentada, além do que, o mesmo precisa entender que suas
dificuldades são geradas por sua inadequação. É necessário, segundo o autor, uma
considerável análise de caráter, bem como o encorajamento. O indivíduo de caráter
oral, precisa entrar em contato com seu potencial digno de confiança, deixando de
lado seus objetivos grandiosos.
2.6.2.4 Caráter Psicopático
O comprometimento desse caráter ocorreu entre um ano e meio e dois
anos de idade. O desenvolvimento foi interrompido no nascimento do self
independente, ocasionando assim uma fixação na fase anal do desenvolvimento
emocional, que corresponde a fase de produção, e tendo a sedução como
experiência emocional básica. Volpi (2003) explica que o conflito encontra-se entre a
60
vontade versos a entrega, e segue uma linha de pensamento que acredita que
enquanto ele estiver no controle e não mostrar sua vulnerabilidade, ele poderá ser
independente. Volpi relata esse trauma como conexo ao direito de ser autônomo,
pois sofreu sedução e invasão pelo genitor do sexo oposto. Os psicopatas,
usualmente, foram crianças usadas, possuídas.
As relações com seus sentimentos são de controle, manipulação e
negação. Não possuem relacionamentos íntimos e a auto-estima oscila entre ser
extremamente superior a ser completamente inferior aos outros. Os motivadores
para suas ações são, basicamente, a vontade, o poder, o controle e o interesse
próprio, além de investe em sua imagem, explana Volpi (2003).
O medo de perder o controle, que está relacionado ao medo de perder o
amor está fortemente presente no psicopata, que compensa seus medos por meio
da auto-afirmação de seu valor, levando-se acima dos outros e dos próprios
sentimentos.
Sua cabeça, ombros e diafragma são tensos, peito inflado, cabeça e
olhos são carregados, e os olhos particularmente são controladores. Tem seu
bloqueio localizado no diafragma, a pelve é desconectada e a energia sexual está
desequilibrada. Segundo Volpi (2003) há dois tipos físicos de psicopata: o tirânico,
que apresenta alta carga na parte superior do corpo e baixa carga na parte inferior, e
o sedutor, cuja aparência seja regular, mas o fluxo também é desequilibrado.
A tarefa da psicoterapia é fazer com que o psicopata a faça parte da
humanidade, entregar-se a sua própria humanidade, sentindo-se seguro para ter
sentimentos.
61
2.6.2.5 Caráter compulsivo
Historicamente, segundo Reich (2004) apresenta uma fixação central na
fase sádico-anal, acontece no segundo ou terceiro ano de vida, Devido aos próprios
traços de caráter particulares da mãe, a aprendizagem do controle de esfíncteres é
iniciada cedo demais, o que leva à poderosas formações reativas, por exemplo,
extremo autocontrole, até mesmo na mais tenra idade. Navarro (1995) completa
afirmando que este caráter está vinculado am formato de educação severa e rígida.
A libido do caráter compulsivo tem fixação na fase sádica anal, que
provém dos próprios traços de caráter particulares da mãe, e porque a
aprendizagem do controle dos esfíncteres é iniciada cedo demais. A rígida
aprendizagem da higiene desenvolve uma obstinação anal que mobiliza os impulsos
sádicos para o indivíduo de se fortalecer, completa Reich (2004).
Segundo Navarro (1995), este aspecto típico do indivíduo é que se
denomina de boderline. São indivíduos temperamentais-caracteriais, cuja cobertura
caracterial é de intensidade média por cobrir um núcleo psicótico inconscientemente
reprimido e controlado, para evitar sua explosão. A caracterialidade anal compulsiva
foi sempre a mais estruturada, porque é o exemplo mais evidente, em
psicodinâmica, da manifestação de um indivíduo na sua função de assumir um
comportamento que lhe dê, ao mesmo tempo, defesa e segurança.
Volpi & Volpi (2003) descreve que o boderline desenvolve padrões de
defesa oral, esquizóide e masoquista. Bloqueia seu diafragma e a região occiptal de
forma severa e torna-se incapaz de controlar seus sentimentos e impulsos
Navarro (1995) descreve o significado dos bloqueios dos níveis corporais
a partir do primeiro nível, podendo dizer que são pessoas com tendência a
62
racionalização e à “interpretação fácil” são, em geral desconfiadas. No segundo
nível, encontramos uma oralidade reprimida, que tende a expressar-se em
explosões de raiva, ruminação e obsessividade. Aí há sempre um bloqueio nasal
importante, que contribui para torná-los introvertidos. Percebe-se nestes casos a
presença de pulsões sádicas constantes, confirmando a visão da psicopatologia
funcional, que lhes atribui uma situação de primeiro campo simbiótico, mal vivida,
com conseqüente desorgonia corporal, na qual se distingue uma hiperorgonia
relativa aos níveis torácico e abdominal.
Em geral, Navarro (1995) descreve o sadismo anal, com o qual o objetivo
é bater, pisar, esmagar, etc.. Após esse objetivo ter sido trabalhado e as fixações
anais terem sido afrouxadas, os impulsos sádicos-fálicos movem-se cada vez mais
para primeiro plano (espetar, perfurar etc.). Isso quer dizer que a regressão é
eliminada, e o caminho para o investimento da posição fálica está aberto.
Geralmente, nesse momento, a angústia de castração afetiva finalmente
se mostra clara e se inicia a análise dos recalques genitais. No caráter compulsivo, a
antiga fobia infantil reaparece nessa fase, por isso encontramos duas camadas de
recalques no caráter compulsivo. A camada externa é composta por impulsos anais
e sádicos, ao passo que a camada mais profunda é composta por impulsos fálicos.
O trabalho corporal realizado com esta estrutura de caráter tem por
objetivo o desenvolvimento do próprio corpo e de seus limites. Deve-se dar a devida
atenção à energia do paciente, trabalhando-se mais sobre o campo, para depois
trabalhar sobre a musculatura. Antes de tocar o boderline, é preciso que ele
estruture seu próprio corpo, com a ajuda do terapeuta. Os sentimentos ditos
negativos devem ser validados para que se supere a distância entre o amor e o ódio,
63
os objetos bons e maus, daí a importância de se trabalhar o grounding, a contenção
e a respiração. (VOLPI & VOLPI, 2003).
2.6.2.6 Caráter Masoquista
Segundo Volpi (2003) tal trauma pode ocorrer entre um ano e meio e dois
e meio de idade, quando o desenvolvimento foi interrompido no treino ao toalete e
na alimentação. Lowen (1977) conta, que tal caráter se originou da observação do
comportamento sexual, podendo se manifestar em formas de “perversões
masoquistas” ou “fantasias masoquistas de espancamento”.
O masoquista fora, comumente, uma criança humilhada e que se sentiu
envergonhada, gerando assim uma fixação na fase anal, que está relacionada à fase
de produção e tendo como experiência emocional básica a humilhação.
O seu
conflito gira em torno da submissão em oposição à independência, pois ele pensa
que só pode estar perto e ser íntimo o suficiente se não for livre.
Seu
trauma
está
relacionado
à
auto-expressão
independente.
Normalmente teve a presença de uma mãe sufocante, que condicionava o amor à
obediência. Dava mais atenção à alimentação e a evacuação, chegando, em alguns
momentos, a forçá-la, porém mostrava-se deficiente no que diz respeito à atenção
para as necessidades emocionais. O masoquista é uma criança submetida e
vencida, explica Volpi (2003).
O autor explica que o masoquista aparenta ser uma pessoa agradável,
polida, tenta ser passivo e chega a se sobrecarregar no trabalho para agradar os
outros. É derrotista e auto-humilhante, porém se trata de uma pessoa negativista,
64
contida, rebelde e que se boicota. Sua negatividade aparece em forma de dúvidas e
desconfiança, já a raiva em forma de queixas e lamentações. Ele tem uma atitude
provocativa que gera agressividade nos outros, para assim justificar sua própria
reação explosiva. Pode ser amargo e rancoroso, é compulsivo e tem dificuldade de
expressar afeição. Tenta comprar o afeto agradando os outros, e há uma aparente
necessidade de derivar o prazer da dor. Intimamente ele se acha superior aos
outros. Lowen (1977) completa dizendo que o masoquista vive em constante
pressão e que sua agressividade é dirigida para dentro dele, sendo autodestrutiva.
De acordo com Volpi (2003) o masoquista tem medo da descarga, medo
de ser esmagado e do sentimento de pressão interna, incapaz de liberar. Vive entre
impulsos antagônicos, queixa e sensação de inferioridade, sente culpa e vergonha
dos próprios desejos e seu Superego é rigoroso.
O autor salienta alguns aspectos físicos do masoquista, tais como corpo
denso, entroncado e sobrecarregado. Os ombros, a garganta, o assoalho pélvico e
os músculos flexores são tensos. Entre o pescoço e a pelve existe um
estrangulamento do tronco, o abdômen é contraído, os músculos da panturrilha e da
parte anterior das coxas são tensos. Nádegas achatadas e frias, impedindo o
direcionamento da energia para as genitais e o pescoço e grosso e curto, além da a
respiração em forma de suspiro.
A energia é estagnada, na alta qualidade na coluna cervical e a energia
negativa volta para si mesmo. Sua sexualidade é contida, submissa, e explode em
apenas alguns momentos.
Na terapia a tarefa e alcançar a auto-expressão criativa e dessa forma,
atingir a auto-afirmação.
65
2.6.2.7 Caráter Histérico
Segundo Lowen (1977), a estrutura do caráter histérico está ancorada na
função genital. Os traços de caráter se manifestam pelo conflito entre um medo
intenso da sexualidade e impulsos sexuais reprimidos. Reich (2004) completa
falando que é a partir daí que surge a agressão genital e sua angústia.
De acordo com Reich (2004), por mais complicado que seja tal caráter, na
grande maioria, seus sintomas e reações patológicas são bem simples e
transparentes. O autor salienta que uma característica marcante desse caráter é a
atitude sexual inoportuna.
Reich (2004), conta que homens com traço de caráter histérico são
delicados e excessivamente corteses, apresentando, por conseqüência, um
comportamento afeminado, caracterizado, inclusive pelo seu modo de andar, que é
macio, flexível e sexualmente provocante. As mulheres histéricas possuem
habilidades para flertar aberta ou disfarçadamente, fazendo-as por meio de suas
atitudes. O autor diz que a idéia de incesto genital é recalcada e que existe uma
tensão sexual não-absorvida que sobrecarrega o caráter histérico. O órgão genital
feminino é representado pelo ânus e pela boca.
A couraça no caráter histérico constitui-se de uma defesa do ego contra
os empenhos incestuosos genitais. Reich (2004) afirma quer no histérico quanto
maior for a angústia, mais urgentes são as manifestações sexuais. Diz ainda que tal
indivíduo usa sua sexualidade à serviço da defesa, ou seja, as manifestações
sexuais representam uma tentativa de descobrir se os perigos estão presentes e de
onde eles vêm.
66
Segundo Volpi (2003) os aspectos psicológicos do rígido apresentam
sentimentos de rejeição e temem que isto ocorra, ou temem se entregar e
posteriormente ser alvo de traição. Essa sensação de desvalorização que o
indivíduo sente, é compensada por meio da performance..
Lowen (1977), conta que, por se tratar de um caráter rígido, o histérico
não se entrega ao prazer, não permite que o coração se entregue, nem ao menos
que demonstre seus sentimentos O autor completa dizendo que tal paciente busca a
terapia quando sente que algo escapou-lhe do controle, ou seja, que seu mecanismo
neurótico falhou.
Na terapia o trabalho será voltado para os sentimentos e a compaixão,
bem como fazer o paciente abrir mão do autocontrole. Os sentimentos e as relações
sexuais conectados também serão trabalhados para fazer com que o paciente se
abra aos seus desejos, conclui Volpi (2003).
2.6.2.8 Caráter Fálico-narcisista
De acordo com Volpi (2003), este caráter está mais relacionado à rigidez
masculina. O fálico alcança a fase genital e nela vive uma enorme carga de
frustração e rejeição que o levam a enrijecer, sendo o sentimento mais marcante
aqueles relacionados ao abandono.
Lowen (2000) acredita que o narcisismo descreve uma condição
psicológica e uma condição cultural e em nível individual, indica uma perturbação da
personalidade caracterizada por um investimento exagerado na imagem da própria
67
pessoa à custa do self. Em suma, trata-se de uma pessoa que se preocupa única e
exclusivamente consigo.
Volpi (2003) completa dizendo que a infância de tal indivíduo foi marcada
pela presença de um pai forte O menino enxerga este pai como o vencedor da luta
pelo amor da mãe, iniciando um sentimento de rejeição da sua sexualidade e
competição com a figura paterna, e, de acordo com sua percepção a mãe o rejeita e
se alia ao pai contra o filho. Os homens que apresentam este traço de caráter
geralmente têm sucesso profissional, têm boas relações sociais e são sexualmente
atraentes para as mulheres.
O autor salienta algumas características do fálico: apresenta tensão
corporal e sua garganta é bloqueada, sua potência orgástica é severamente
diminuída, aumentando severamente a potência eretiva. Contudo, o fálico-narcisista
não extrai muito prazer na relação sexual, devido à dificuldade de entrega a
qualquer que seja o sentimento. Do mesmo modo que acontece com a sexualidade,
o fálico não encontra verdadeira satisfação em outras atividades.
Reich (2004), completa contando que, o indivíduo com esse tipo de
caráter utiliza sua agressividade para buscar constantemente o poder, numa
determinação incessante à procura da vitória. O narcisismo desse tipo de caráter
difere-se de outros, pois se expressa de forma não infantil, apesar da base de sua
natureza não ser menos imatura se comparada aos outros tipos de caráter. Esses
indivíduos tendem a alcançar cargos de liderança, e se tem sua vaidade ofendida
reagem com menosprezo e acentuado mau humor ou agressão direta.
Volpi (2003) conta que na terapia é necessário fazer o paciente entrar em
contato com suas dores, se ele chorar ao estabelecer esse contato, abrirá o caminho
68
para a expressão de todas as demais emoções, facilitando a ligação entre amor e
sexualidade, uma vez que esta fora interrompida na infância.
2.6.2.9 Caráter Passivo-feminino
De acordo com Volpi (2003) este caráter trata-se da feminilidade que
alguns homens, não no sentido homossexual, usam como uma negação da
agressividade masculina, e somente mais tarde se estabelece à identificação da
criança com uma das figuras parentais, ou seja, a mãe.
Lowen (1977), explica que o trauma está relacionado a uma privação oral,
na etapa inicial da vida e devido a uma frustração genital posterior paralisa a
agressão. O ego é organizado quando criança, em virtude do forte elemento ou
fixação oral, comporta-se com uma fraqueza inerente. Volpi (2003) completa falando
que sua atitude passiva está relacionada à desistência da agressão essencial à fase
genital, fálica.
O autor conta fazer parte do indivíduo passivo-feminino ser passivo,
retraído, modesto, educado, e fraco e que esses traços são representados
exclusivamente por homens. O homem passivo-feminino difere-se do homem
histérico por apresentar características como tenacidade, teimosia, despeito, manha,
ser vicioso e cheio de desprezo. Esse homem possui uma raiva reprimida,
caracterizando sua personalidade.
Volpi (2003) conta que na terapia deve-se mobilizar a raiva oral sádica e
encorajar o paciente à agressão, para que esse possa tomar consciência da raiva.
Entretanto a principal defesa que o passivo - feminino apresenta à terapia é a falta
69
de participação nas tarefas terapêuticas, pois, sua atitude será marcantemente
passiva também no processo terapêutico. Trabalhar esse conflito entre o impulso
genital e a ansiedade de castração é de grande valia para casos como esses.
2.7 Metodologia da orgonoterapia
Segundo Navarro (1996), o termo “vegetoterapia” foi abandonado por
Reich, que o substituiu por “Orgonoterapia”. Navarro (1996) escreve sobre a
“metodologia da vegetoterapia”, pois considera que a Orgonoterapia ainda não está
pronta para fornecer instrumentos terapêuticos comprovados. Portanto, para o autor,
a vegetoterapia é um trabalho terapêutico que atua sobre o sistema neurovegetativo.
A análise caracterial é um trabalho de transformação que visa produzir sua
maturação em caráter genital.
De acordo com Trotta (1993) descrever tal metodologia trata-se de uma
tarefa relativamente difícil, pois além de ser bastante complexa, ela se orienta por
mecanismos globais e não por recomendações técnicas fixas e sistematizadas. Não
existe um roteiro único, pois depende do funcionamento de cada paciente,
baseando-se, sobretudo, pela dinâmica psicoemocional e estrutura corporal de cada
indivíduo. Tal metodologia trabalha tanto os aspectos estruturais quanto os aspectos
emergentes,
focalizando
simultaneamente
a
totalidade
de
sua
estrutura
caracterólogica e as peculiaridades de seu mecanismo de encouraçamento.
O autor explica que a orgonoterapia utiliza de técnicas de intervenção
terapêuticas tanto verbais, como corporais, porém são de suma importância as
vivências que permeiam o vínculo paciente/terapeuta, tomando cuidado para com as
70
possíveis transferências. As intervenções corporais são baseadas na análise de
caráter desenvolvido por Reich, e englobam um conjunto de técnicas que objetivam
à dissolução da couraça, acompanhada da liberação de impulsos e emoções
reprimidas e da reestruturação da funcionalidade corporal sadia. Provoca ainda uma
reorganização da percepção das sensações, o que resulta numa reorganização da
estrutura psíquica e caracteriológica do indivíduo.
Na orgonoterapia o trabalho realizado concentra-se nas profundezas
biológicas, no sistema plasmático, ou, tecnicamente, no núcleo biológico do
organismo. Este, como fica evidente, é um passo decisivo que significa o abandono
da esfera psicológica, e da psicologia “profunda”, e a entrada na área das funções
protoplasmáticas, indo até mesmo além da fisiologia dos nervos e músculos. Sendo
que, esses passos devem ser encarados com seriedade, pois têm conseqüências
práticas e teóricas relevantes, e originam uma mudança fundamental na prática
biopsiquiátrica. Já não se trabalham mais apenas com os conflitos individuais e com
encouraçamento específicos, mas com o próprio organismo vivo. (REICH, 2004).
A Orgonoterapia utiliza-se de técnicas de intervenções verbais e
corporais. Dentro do setting terapêutico é dada grande importância aos aspectos de
vivências que permeiam o vínculo cliente/terapeuta, com ênfase no manejo clínico
da transferência. A interpretação psicodinâmica que orienta todas as etapas do
trabalho terapêutico baseia-se na Análise do Caráter desenvolvida por Reich a partir
da psicanálise, e conserva essencialmente os postulados fundamentais da teoria
Freudiana. (TROTTA, 1999)
Volpi & Volpi (2003) explica a relação entre terapeuta e paciente, como
em qualquer outra em que existam padrões de comportamento; logo este é um
ponto que o terapeuta tem de estar muito atento a essas manobras que podem ser
71
tanto de transferência, que é quando o paciente utiliza de mecanismos de defesa
aprendido na infância, ou a contratransferência, que é quando o mecanismo de
defesa é utilizado pelo próprio terapeuta. Se bem manejada essa transferência pode
dar boas dicas do padrão de funcionamento do paciente.
Trotta (1999) diz que os trabalhos corporais envolvem estímulos ou ações
corporais que reproduzem funções fisiológicas importantes no processo de
desenvolvimento ontogenético, e nos processos de percepção e expressão afetivos.
Para o autor, esses trabalhos atuam diretamente sobre memórias neuromusculares
e seus correspondentes psicoafetivos por meio de estímulos neurofisiológicos, e
permitindo atuar-se sobre conflitos instintivos e mecanismos de defesa relacionados
com fases pré-verbais do desenvolvimento ontogenético.
Todo o orgonoterapeuta deve segundo Volpi (2003), levar em conta
algumas etapas durante a orgonoterapia:
•
Entrevista (anamnese): caracteriza-se pelo primeiro contato feito
com o paciente, onde se ouve e se investiga profundamente a sua
queixa, procurando saber a quanto tempo o problema se apresenta,
como se manifesta, quando surgiu pela primeira vez e o que o
desencadeou. Faz-se ainda uma coleta de dados do histórico e
funcionamento do paciente, possibilitando, desta forma, uma
compreensão de seus traços de caráter.
•
Exame físico/energético: nesta etapa, observam-se as tensões no
corpo do paciente fazendo-se uso da massagem reichiana.
•
Diagnóstico caracterial/energético: nesta etapa faz-se o diagnóstico
caracterial, bem como o energético, dos níveis de couraça do
paciente.
72
•
Contrato terapêutico: é de fundamental importância estabelecer no
contrato terapêutico o tempo do tratamento, duração das sessões,
atrasos, faltas, entre outros acertos.
•
Projeto terapêutico: devem-se ter claros os objetivos a serem
atingidos. Para tanto, é preciso organizar um projeto levando em
conta a duração de cada sessão e o tempo que o paciente dispõe
para o tratamento.
•
Aplicação da técnica: utiliza-se a análise de caráter, a aplicação dos
actings, e toda a terapia energética convergente que puder auxiliar
no tratamento.
Trotta (1999) ressalta também a importância de fazer um diagnóstico
psicodinâmico, caracterológico e corporal do paciente, possibilitando elaborar um
projeto terapêutico específico, além de apontar as expectativas de transferências e o
prognóstico.
De acordo com Trotta (1999) o processo começa pela anamnese, que
serve para as observações diretas sobre o funcionamento do paciente e são os
principais elementos que o terapeuta dispõe para elaborar o diagnóstico inicial.
Posteriormente elabora-se o diagnóstico psicodinâmico, que, de acordo com Trotta
(1999), serve para analisar as principais falhas e transtornos no processo de
estruturação psíquica, de construção da identidade e de escolha objetal, que
refletem circunstâncias e eventos marcantes na sucessão das fases de
desenvolvimento libidinal.
Tendo posse do diagnóstico psicodinâmico devem-se averiguar os
mecanismos de defesa, formas de resistência, padrões adaptativos, manifestações
narcisistas, padrão emocional e interacional dominante, além de observar atitudes,
73
gestuais, as expressões faciais, o tom de voz, qualidade do contato e das
comunicações verbais, níveis de ansiedade, motivação, agressividade, estado de
humor, capacidade desejante, vida sexual, e junto da análise das funções
fisiológicas (sono, alimentação, digestão, excreção) elabora-se o diagnóstico
caracterológico. Este diagnóstico consiste na análise das alterações da estrutura
corporal e das doenças e sintomas e da época de vida em que ocorreram. Essas
informações dão indicações sobre o funcionamento energético do paciente.
E, por fim, após já ter construído um vínculo com o paciente durante a
elaboração dos primeiros diagnósticos, elabora-se o diagnóstico corporal, para o
qual é necessário o exame direto do corpo com o uso alguns testes funcionais e
técnicas de avaliação corporal. Este diagnóstico apontará os segmentos mais
encouraçados e quais técnicas serão mais eficientes.
Visto que o desencouraçamento é considerado o aspecto mais específico
da abordagem orgonoterápica, estas etapas que constituem o processo de
desencouraçamento serão descritas abaixo para uma melhor compreensão.
2.7.1 Técnicas de desencouraçamento
Os trabalhos corporais, segundo a Trotta (1999), envolvem as ações ou
estímulos corporais que reproduzem funções fisiológicas importantes no processo.
Tais trabalhos atuam sobre memórias neuromusculares e seus correspondentes
psicoafetivos
diretamente
através
de
uma
estimulação
neurofisiológica,
possibilitando assim, atuar também nos conflitos instintivos e mecanismos de defesa
relacionados com as fases primitivas do desenvolvimento ontogenético. Tais
74
trabalhos permitem conectar e elaborar conteúdos psíquicos inconscientes ou
marcas de memórias ainda sem significados psíquicos, os conteúdos psicóticos.
Baker (1980) ressalta que o principio básico do desencouraçamento é
remover as contrações crônicas que impedem o fluxo livre da energia pelo corpo. Na
prática não é assim tão simples quanto parece, mas três delas são essenciais:
•
Aumentar o impulso básico do organismo através da mobilização de
suas energias por meio da respiração;
•
Atacar diretamente os músculos espásticos, para liberá-la as
contrações;
•
Manter a cooperação do paciente, trazendo-o à luz e superação de
suas resistências à terapia e ao terapeuta.
Tendo como objetivo da orgonoterapia Volpi (2000) aponta ser o
afrouxamento do grupo de músculos, liberando a energia para que circule livremente
através do corpo, chegando até a pelve, restabelecendo as correntes plasmáticas e
conseqüentemente, o orgasmo.
Cabe ressaltar que todo o trabalho de desencouraçamento tem início pelo
primeiro segmento (ocular) e segue em direção ao ultimo (pélvico). A Revista
SWR(1999) diz que o desencouraçamento utiliza diversas técnicas de intervenção
corporal - ou “actings”- que têm por objetivo a dissolução da couraça, que ocorre
acompanhada da liberação de impulsos e emoções reprimidas e da restauração do
funcionamento corporal e dos fluxos orgonóticos. Navarro (1996) acrescenta que os
actings não são exercícios mecânicos, de ginástica, como se costuma acreditar, mas
a proposta de uma ação dinâmica e intencional que o paciente realiza com o
envolvimento de sua neuromuscularidade.
75
De acordo com Volpi (2004), o trabalho prático da vegetoterapia segue
um protocolo de forma, que começa a ser aplicado no primeiro segmento (ocular)
em
direção
ai
ultimo
(pélvico)
levando
o
indivíduo
ao
amadurecimento
caracterológico, aproximando-o cada vez, mas do caráter genital. Para que os
trabalhos corporais sejam eficazes, é necessário um tempo mínimo, que pode variar
entre 15 e 25 minutos, mas, dependendo da reação do paciente, podem ser menos
extensos, explica Trotta (1999). Vale lembrar que na elaboração do diagnostico
corporal actings são propostos em menos tempo, só para avaliar se existe algum
bloqueio no segmento. Como fora mencionado anteriormente, Navarro (1996) coloca
que o tempo dos actings deve ser respeitado e que o terapeuta poderá interferir
somente se este for insuportável para o paciente.
Navarro (1996) diz que a verbalização terapêutica deve ser do tipo
analógico e o menos interpretativa possível. Porém trabalhos verbais quando bem
embasados tem um grande valor na vegetoterapia, pois possibilitam promover o
desencouraçamento, visto que trabalhos verbais podem instigar o paciente a ter
insight bem significativos para ele.
a) Primeiro segmento
Couraças do primeiro seguimento podem se manifestar através da falta
de contato, desatenção, desorientação, tonteiras, dores de cabeça, torpor, diversas
perturbações visuais, sensações de vazio na cabeça, entre outras segundo a Trotta
(1999).
Sendo a falta de contato de contato a manifestação principal, o foco
principal de desencouraçamento deste segmento será a manutenção do contato.
76
Para isso podem-se utilizar técnicas como: visualização da luz em movimento, que
facilita o processo de evocação de memórias e eventos importantes e com um
significado emocional, bem como o acesso a conteúdos do inconsciente; massagem
nas estruturas superficiais do crânio, principalmente nos músculos das regiões
occipital, temporal, escalpo, frontal e da região tróclea; visualização de um ponto
próximo; visualização de um ponto fixo no teto; rotação ocular; visualização
alternada dos focos laterais; visualização no espelho; e a técnica da mão em
concha;
b) Segundo segmento
De acordo com a Trotta (1999), o encouraçamento deste segmento
manifesta-se por distonias dos músculos de expressão facial, e também pela
inibição ou exacerbação crônica de dois impulsos orais básicos: o impulso succional
e o impulso de morder. Vale lembrar que as distonias musculares da articulação
temporo-mandibular, também se tratam de encouraçamento.
Segundo o Trotta(1999), as seguintes técnicas podem auxiliar no
desencouraçamento deste segmento: pedir ao paciente que fique de boca bem
aberta, podendo acoplar a sucessivas aspirações e expirações; movimentos lentos e
repetitivos de abrir e fechar a boca; a projeção dos lábios e língua; sorrisos e
expressões faciais, inclusive caretas; expressão do impulso de morder; entre outras.
c) Terceiro segmento
77
Como o principal encouraçamento está relacionado à ansiedade de
queda, autocontrole, medo da entrega, bloqueios nas expressões sonoras,
autoconservação e contenção de choro, os padrões de conduta, segundo Trotta,
(1999) é
rigidez,
obstinação,
cerimoniosidade,
descontrole, insegurança e
incapacidade de posicionar-se.
Ainda o autor sugere técnicas para se trabalhar com esse segmento.
Dentre as sugestões mais relevantes, cita-se a sonorização, a movimentação ativa e
de relaxamento de pescoço, as sucessivas deglutições, alternando com a protusão
da língua, a tonificação do esternocleido-mastóide sustentação do pescoço para
frente, ou massagens e muitos trabalhos com movimentações passivas do pescoço.
d) Quarto segmento
O encouraçamento nesse segmento envolve distonias na musculatura do
tórax, dos braços e das mãos e perturbações na mobilidade respiratória. As
principais emoções contidas são o choro, a raiva, a ansiedade, a capacidade
desejante e os impulsos afetivos, salienta Trotta (1999).
O quarto segmento é a sede da identidade, não só por conter os órgãos
vitais, coração e pulmão, mas também por conter o Timo, que é o responsável por
nossa identidade imunológica. Além disso, a timopoietina regula a diferenciação
sexual, o que reforça a correlação com a identidade sexual.
As técnicas propícias para o desencouraçamento de tal segmento são:
trabalhos de expressão da agressividade, por exemplo, socando o colchão com os
punhos verbalizando, ou não, e movendo a cabeça para os lados, ou ainda em uma
pilha de almofadas; movimentos de desbloqueios das mãos que podem ser com a
78
utilização de uma toalha, onde se pede ao paciente que a torça; com o paciente de
pé na frente do terapeuta pedisse que batesse a palma de sua mão na mão do
terapeuta, juntamente com expressões sonoras; massagem em todas as estruturas
desse segmento e também muito benéfica; movimento lateral de elevação dos
braços, de pé. E, por fim, trabalhos de desbloqueios da respiração, como respiração
profunda, sonorização prolongada, expiração forçada com contração dos intercostais
internos do centro do peito com a boca aberta, desorganização da respiração, entre
outras.
e) Quinto segmento
Ainda de acordo com Trotta (1999), os sintomas de encouraçamento
neste segmento envolvem distonias no diafragma e afetam também o estômago,
fígado, vesícula, pâncreas e baço. Além do desenvolvimento de lordose e
proeminência das últimas costelas.
A principal emoção bloqueada é a raiva, associada ao medo. A
intervenção direta sobre esse segmento só deve ser realizada depois do
desencouraçamento sistemático dos segmentos anteriores.
O Trott (1999) conclui, dizendo que alguns trabalhos importantes para o
desencouraçamento desse segmento são: massagem em toda estrutura do
segmento, inspiração forçada diafragmática, expiração forçada de ar pelo nariz,
além de trabalhos de expressão de raiva.
f) Sexto segmento
79
De acordo com Trotta (1999) o encouraçamento deste segmento
geralmente está associado ao medo neotal ou ao medo das sensações pélvicas. A
musculatura abdominal pode estar hipertônica ou flácida, a barriga pode estar
insensível ou hipersensível, distendida ou contraída.
O autor diz que a massagem é um trabalho de grande importância neste
segmento, massageando os músculos ventrais e dorsais, e as vísceras abdominais.
Outras técnicas interessantes são: com o paciente deitado pede-se para levantar as
pernas contraindo a barriga e deixando-se cair livremente, relaxando–a; automanipulação do umbigo com os indicadores da mão esquerda, enquanto o terapeuta
aplica a mão em concha; ondulação do ventre pela contração-relaxamento alternado
da contração da barriga; entre outras.
g) Sétimo segmento
O principal conteúdo associado ao encouraçamento do sétimo segmento
é a angústia de castração, o sado-masoquismo anal e fálico, a ansiedade préorgástica e a ansiedade de queda, conforme conta Trotta (1999).
O desencouraçamento desse segmento deve ser iniciado pela liberação
da raiva bloqueada e pelos trabalhos de embasamento postural. A liberação da
raiva anal pode ser trabalhada com o paciente deitado batendo os cotovelos no
colchão, ao passo que a raiva fálica pode ser trabalhada com o paciente de pé
chutando o colchão, ou também com o paciente deitado chutando para o alto e
alternando as pernas.
80
Já para o embasamento postural, usam-se trabalhos com o paciente de
pé e pede-se que o mesmo se agache lentamente sem tirar o calcanhar do chão, e
depois se levanta lentamente; massagem; entre outros.
2.7.2 As reações frente às técnicas reichianas aplicadas em psicoterapia
Em um processo terapêutico, quando se aplica alguma técnica específica,
segundo Trotta (1999), podem ocorrer reações imediatas ou retardadas. As reações
imediatas ocorrem no momento da técnica ou durante a sessão, tratasse de
expressões emocionais como choro, raiva, medo, lembranças, ou reações somáticas
como agitação, sonolência, calor, frio, coceira, tremor, excitação, dores localizadas,
náuseas, entre outras.
Segundo Reich, as tensões musculares crônicas serviam para bloquear
uma das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual.
Portanto, cada vez que a couraça era dissolvida, emoções e lembranças da
situação que provocou a couraça também eram explicitadas, mostrando
assim a relação direta das emoções com o sistema neurovegetativo.
(VOLPI, 2003b, p. 19)
Já as reações retardadas ocorrem posteriores a sessão, podendo levar
horas ou dias, e provocam efeitos psíquicos, como: sonhos, lembranças, insights;
alterações fisiológicas do tipo: sono, fome, sede, vitalidade física; mudanças
comportamentais do tipo impulsividade, socialização, relações interpessoais; ou
alterações somáticas como: recrudescimento ou redução de certos sintomas
corporais, desencouraçamento.
81
As reações que têm mais efeitos terapêuticos geralmente são as
retardadas, por isso é necessário que o terapeuta inicie cada sessão pesquisando e
analisando os efeitos retardados dos trabalhos realizados nas sessões anteriores.
Navarro (1996) acrescenta algumas reações que podem ocorrer durante a
realização dos actings: suor quente e frio; rubor; palidez; espirros; bocejos; tosse;
náuseas e vômito; medo ou temor; chorar ou lacrimejar; sensação do nível,
excitação sexual; vibrações musculares ou tremores; movimentos peristálticos; dores
musculares ou cãibras; hesitação ou perplexidade; vontade de urinar; cansaço;
ansiedade ou angústia; tristeza; parestesias; sensações nos calcanhares; sensações
nos lobos do ouvido; sensação de levitar; sensação de unidade corporal; sensação
de abandono agradável ou sensação de cair; sensação de “ridículo”; sensações
contrastantes na metade superior e inferior do corpo. Caso ocorra um relato do
paciente após uma técnica, que não houve reação, esta pode ser considerada uma
resistência e um sinal da estrutura de caráter do paciente.
Baker (1980) relata que a tontura também pode ser uma reação aos
actings, porém é o resultado de uma couraça insuficiente, ou seja, permite o
movimento de mais energia do que é tolerável.
Uma reação simpaticotônica do sistema nervoso autônomo, uma retirada de
energia e dos fluidos corporais da periferia do corpo, das extremidades em
direção ao centro. De forma geral, a simpaticotonia crônica pode ser
descrita como inerente à neurose, já que sua função é a de contenção.
Contenção de emoção, excitação corporal, e idéias que precisam ser
mantidas em recalque. (JUNIOR, 2009).
Cabe ressaltar, que o lado que o paciente encontrar mais dificuldade para
realizar alguma técnica também tem um significado muito importante. Caso essa
dificuldade seja encontrada pelo lado esquerdo do paciente, isso significa que tal
bloqueio está relacionado à figura materna, se for ao lado direito esta relacionado a
figura paterna.
82
Durante o processo terapêutico o terapeuta pode deparar-se com as
fulgas, que geralmente acontece durante os trabalhos oculares, pois tratasse do
medo de enxerga a realidade, é quando o paciente não quer tomar conhecimento de
seu núcleo psicótico. (NAVARRO, 1996).
Navarro (1999) diz que em sua experiência clínica, pode observar que
indivíduos possuidores do núcleo psicótico “sentem” as reações, mas não
verbalizam; o indivíduo borderline “não sente” e não verbaliza; o indivíduo
psiconeurótico “não sente”, mas verbaliza; e o indivíduo neurótico “sente” e
verbaliza.
Segundo Navarro (1996), uma emoção nunca pode ser neutra, ela será
agradável ou desagradável, positiva ou negativa. O autor fala que as emoções são
expressões de uma reação, enquanto os afetos são expressões de motivações.
Desta forma, considerando os sete níveis (ou segmentos) corporais identificados por
Reich, Navarro (1996) situa os sentimentos da seguinte maneira:
•1º nível (olhos, ouvidos, nariz):
Emoção: alarme, medo, terror e pânico.
Afeto: surpresa, espanto, embaraço e desorientação.
•2º nível (boca)
Emoção: comoção, nojo, gosto, separação e
agressividade.
Afeto: depressão, ressentimento, raiva, apego e
dependência.
•3º nível (pescoço)
Emoção: abandono, medo de cair, medo de morrer,
inibição.
83
Afeto: simpatia, antipatia, interesse, orgulho e
isolamento.
•4º nível (tórax)
Emoção: nostalgia, ira e angústia.
Afeto: tristeza, solidão, felicidade, amor-ódio, incerteza e
ambivalência.
•5º nível (diafragma)
Emoção: angústia e ansiedade.
Afeto: hostilidade e serenidade.
•6º nível (abdômen)
Emoção: agitação e desespero.
Afeto: dor e cólera.
• 7º nível (pélvis)
Emoção: excitação, apego, prazer e destrutividade.
Afeto: potência, moralismo-repressão e autoritarismo.
Para Navarro (1996), a condição de desbloqueio realiza-se quando o
indivíduo passa a perceber o acting como algo agradável, que até então, percebia
como desagradável ou indiferente.
84
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
3.1 Caso clínico 01
a) Informações preliminares do caso - Mulher de 36 anos de idade, casada.
Queixa: dores nas articulações, insônia, ansiedade e nervosismo, preocupações.
Anamnese: A paciente vem de uma família composta por quatro filhos, sendo ela
gêmea com um menino, os dois foram os primeiros filhos. O parto foi problemático,
nasceu de sete meses e ela ficou por dois meses na incubadora entre a vida e a
morte. Nasceu cianótica e não chorou após o parto, também não teve contato com a
mãe pelos primeiros dois meses de vida. Não foi amamentada, pois sua mãe não
tinha leite, chupou chupeta até os 3 anos de idade além de usar uma fraldinha para
dormir. Usou fralda até os 3 anos e sofreu de enurese noturna até os 12 anos. Dos 2
aos 4 anos de idade foi molestada por um primo de 21 anos, do qual uma vez
enquanto dormida em sua casa tentou violentá-la, sendo que ela estava dormindo
no quarto dos pais. Essa situação só teve um fim quando a mãe da paciente contou
para sua mãe, avó da paciente, que proibiu ele de se aproximar dela. Teve uma
infância muito difícil, pois o pai era muito rude a insultava e batia muito, também
apanhava muito da mãe. Aos 16 anos resolveu fugir com seu atual marido, para sair
de casa, levou dois meses para conseguir ter sua primeira relação sexual. Aos 17
anos teve sua primeira filha e aos 20 anos sua segunda filha. Aos 17 anos perdeu
seu irmão gêmeo, alega ter sido uma época muito difícil. Hoje em dia se acha muito
explorada e injustiçada pela família, pois é ela quem tem que dar conta de tudo
85
alega que toda família superprotege a irmã. Tem grande dificuldade de dizer não
para a família que se aproveita dela. A paciente relata ter tentado vários suicídios e
que foi internada em um centro psiquiátrico por estar completamente desorientada.
A paciente está sento acompanha pelos estagiários da clínica de psicologia e
psiquiatria desde 2005, com queixa de dores nas articulações, insônia, ansiedade e
nervosismo, preocupações.
b) Hipótese diagnóstica
Diagnóstico psicodinâmico: Considerando o fato de a paciente ter nascido de sete
meses parece ter ocorrido um comprometimento na etapa de sustentação, com
déficit de maternagem, prejudicando a constituição do objeto interno bom. A
separação ocorrida em decorrência do parto foi problemática, dado que o parto foi
lento e a criança nasceu cianótica. O trauma do nascimento e o fato de ter ficado
dois meses na incubadora, o déficit no acolhimento básico, e a não amamentação e
a maternagem deficiente constituem eventos importantes nas etapas iniciais do
desenvolvimento infantil. Estes fatos sugerem um trauma nas fases ocular e oral do
desenvolvimento libidinal. O fato de a paciente ter sofrido um treino severo ao uso
do toalete, decorrente das surras da mãe e dos insultos da tia sugere que pode ter
ocorrido um trauma na fase anal do desenvolvimento libidinal, visto que a paciente
sofreu de enurese noturna até os 12 anos de idade. O fato de a paciente ter sido
molestada dos 2 aos 4 anos pelo seu primo de 21 anos, sendo que aos 5 anos ele
tentou estuprá-la, porém sem sucesso, sua dificuldade de ter sua primeira relação
sexual com seu marido e os insultos que recebia do pai indicam ter ocorrido um
86
comprometimento na fase fálica. Com fixação edipiana e falha na constituição da
identidade.
Diagnóstico caracterológico: Pelas fixações na fase oral do desenvolvimento e pelo
comportamento dependente, pela falta de iniciativa e de posicionamento, pela
insegurança sugere-se traço de caráter oral. Já sua necessidade de agradar a todos
e sua capacidade de se sobrecarregar; sua incapacidade de expressar a raiva,
camuflando-a em forma de lamentações e queixas; além de sua pressão interna e
sua incapacidade de liberá-la aponta traços de caráter masoquista. Os aspectos
físicos também confirmam a existência de traços masoquistas como corpo denso,
entroncado e sobrecarregado, os ombros e os músculos superiores são tensos; o
pescoço é grosso e curto, a respiração é suspiro; nádegas achatadas. Sua energia
sexual é contida e submissa.
Diagnostico corporal: Durante as técnicas de 1º e 2º segmento a paciente
apresentou desfusão: lacrimejou, dor na parte superior da nuca, mal estar, dor nos
ombros e coluna, não conseguia ver seu nariz, dificuldade pra alternar o olhar e
piscava forte quando tinha que olhar para o dedo; Entrou em um núcleo psicótico e
conectou com a memória do período na incubadora e com a morte do irmão. Acting
1 não conseguiu fixar o olhar, dificuldade para manter a boca aberta, perdeu o
contato e novamente entrou em um núcleo psicótico da incubadora, choro. Acting 2
estava com a respiração muito ofegante, sentiu-se tonta, mãos geladas, perdeu o
contato e conectou-se novamente a memória do período na incubadora. Acting 3
apresentou dificuldade para morder, alternar o olhar e piscou bastante, perdeu o
contato e novamente entrou num núcleo psicótico, choro, sentiu dor no peito e
garganta. Acting 4 piscava dificuldade de olhar para a parte inferior e extremidades
laterais. No 3º segmento durante a sonorização a paciente perdeu o contato e
87
conectou com uma memória dos 4 anos quando havia sofrido uma tentativa de
estupro por seu primo de 21, teve reações como: falta de ar, medo, choro e tremores
no rosto. Durante a técnica do pescoço pendente teve resistência para soltar o
pescoço e não conseguiu relaxar. No 4º segmento durante a técnica do “não”
socando a paciente apresentou muita dificuldade de dizer não, sua voz era fraca e
baixa, resistência em socar o colchonete e após 3 minutos a paciente perdeu o
contato conectou com uma memória traumática que aconteceu aos 10 anos quanto
tentou se matar tomando um garrafão de cachaça, teve muita vibração em seu corpo
e choro. Já na técnica do “Eu” socando, a paciente apresentou dificuldade de dizer o
Eu, o tom de sua voz era baixo e fraco, não tinha força para bater no colchonete e
abria a mão ao tocar no colchão, perdeu novamente o contato e conectou com uma
memória traumática dos 10 anos quando um senhor tentou mexer com ela e sua
mãe a culpou pelo ocorrido, muito choro.
*Obs.: o diagnostico corporal não foi concluído devido às reações da
paciente, só dava para aplicar uma técnica por sessão.
3.1.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática
3.1.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 8º sessão do estagio D)
Foi dado continuidade no trabalho corporal a fim de elaborar o diagnóstico
corporal.
Propôs
o
Acting
1.
Descrição
da
técnica
"ACTING
1”
-
88
ESTIGMATIZAÇÃO DE UM PONTO (NO TETO) ASSOCIADO À ABERTURA DA
BOCA - (página, 23):Orientar o cliente a ficar deitado em decúbito dorsal, pernas
flexionadas e braços ao longo do corpo, palmas das mãos voltadas para baixo,
proporcionando maior aterramento, base para a pessoa. Terapeuta pede ao cliente
para fixar o olhar em um ponto no teto perpendicular ao seu rosto, com a boca o
mais aberta possível. Permanecer nesta posição pôr um intervalo de tempo entre 15
a 25 minutos.
Análise teórico prática: o acting 1 trabalha as questões ligadas ao medo do
abandono, que se relaciona ao primeiro ano de vida. Diante da história de vida da
paciente, o sentimento de abandono era muito forte, visto que ela ficou por dois
meses na incubadora. A dificuldade da paciente em fixar o olhar em um ponto fixo
está relacionada à dificuldade de projetar o seu “eu” fora de si, explana Navarro
(1996). Já a dificuldade de manter a boca aberta esta relacionada ao medo de
conectar com as sensações desagradáveis, pois de acordo Delazari (s.d) o manter
com a boca aberta faz com os mecanismos de defesa sejam quebrados e permite
emergir as emoções contidas. A reação de choro compulsivo da paciente pode ser
uma expressão de terror relacionado ao seu núcleo psicótico, de acordo com
Navarro (1996).
O fato de a paciente ter perdido o contato tão rápido está relacionado com
a intensidade do trauma que ela possui nos primeiros meses de vida. Como foi visto
em Navarro (1996) a paciente possui núcleo psicótico relacionado aos dois primeiros
segmentos, pelo não contato com a mãe, devido à incubadora, na fase ocular e por
nunca ter sido amamentada na fase oral. Quando a paciente entra neste núcleo
psicótico tem a possibilidade de reelaborar os fatos ocorridos para assim poder
superá-los, por isso a sensação de estar mais leve ao final da sessão.
89
Quando ela restabeleceu contato chorou muito, tal era a emoção que
estava reprimida pelo sentimento de abandono, Volpi (2000) diz que a dissolução de
uma couraça não só libera a energia vegetativa, mas também traz à memória
recordações de situação infantis causadoras de tais encouraçamento.
3.1.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 9º sessão do estagio D)
Inicialmente a paciente relatou que faltou a última sessão por que depois
de já estar pronta começou a ter dores de cabeça, cansaço e sensação de que iria
desmaiar, por isso não compareceu. A estagiária explicou que tais reações se tratam
de um mecanismo de defesa do inconsciente para não deixá-la conectar com
sentimentos tão fortes. Alegou ainda ter tido uma reação bem desagradável após
sair da última sessão, diz ter sentido muita dor no peito, como se ele tivesse todo
aberto, a estagiária explicou o motivo de tais reações e a finalidade destes trabalhos.
Deu-se continuidade aos trabalhos corporais e aplicou-se o Acting 2.
Descrição da técnica "ACTING 2" - PROJEÇÃO DOS LÁBIOS ASPIRANDO AR
PELA BOCA, ASSOCIADO À VISÃO ALTERNADA DO NARIZ E PONTO NO
TETO - ( página, 25): Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços
ao longo do corpo com as palmas das mãos voltadas para baixo. Terapeuta orienta
o cliente para que, num primeiro momento, alterne seu olhar entre um ponto no teto
e seu próprio nariz. Depois, cliente projeta os lábios formando um "bico" na
aspiração, enquanto olha para seu nariz e, na expiração, desfaz a projeção
90
enquanto olha o ponto no teto, com a boca levemente aberta e relaxada. Seguir esta
alternância por aproximadamente 20 minutos.
A paciente estava com a respiração muito ofegante, sentiu-se tonta, com
as mãos geladas, não projetava bem os lábios, não enxergava seu próprio nariz,
começou a perder o contato após 2 minutos e conectou-se novamente a memória do
período na incubadora (núcleo psicótico), pediu para a estagiária tirar as mangueiras
de seus braços e para tirá-la daquele lugar. Ao restabelecer contato, descreveu ter
se sentido sufocada, “... como se tivesse algo na minha boca...”, descreveu ter
estado em uma caixa escura e sem barulho, cheia de mangueiras, sentia frio e muita
dor nos braços. Somente depois de 5 minutos é que conseguiu restabelecer
plenamente o contato, chorou muito e ao final da sessão a paciente relatou estar
saindo muito bem “[...] como se tivesse tirado tudo de ruim e jogado fora [...]” .
Análise teórico prática: as reações que a paciente teve que a impediram de
comparecer a última sessão provavelmente estão associadas a um mecanismo de
defesa inconsciente, para evitar entrar novamente em contato com emoções tão
fortes, o que de acordo com Navarro (1996) são as chamadas fugas. O acting 2
trabalha a emancipação da figura materna, da condição succional e da resolução da
oralidade, visto que o movimento alternado do olhar é parecido com o que o bebê
faz enquanto esta sendo amamentado, remetendo exatamente a sensações
relacionadas a esta fase da vida, explica Navarro (1996). Por este movimento
lembrar a amamentação é que a paciente apresentou dificuldade para projetar seus
lábios, pois pelo fato de não ter sido amamentada, encontra um vazio nesta região
(frente à boca), que gera um sentimento de depressão, pela ausência de algo. É
este vazio, a falta do seio, que a paciente evita olhar, por isso alega não conseguir
enxergar o seu nariz.
91
A persistência da paciente em tentar projetar os lábios sugere o desejo de
recuperação do impulso oral succional e emancipação com relação à amamentação.
O ato de sugar com o crescimento se transmuta para a respiração e fazendo a
paciente sugar o ar ela conectou com sua solidão básica. O ato de manter a boca
aberta proporciona a quebra do mecanismo de defesa, como já citado. (DELAZARI,
s.d.). A resistência era tão grande que a paciente, inconscientemente, canalizou toda
sua energia para aquelas emoções que precisavam ser reprimidas continuassem
assim, por isso a mão gelada e a tontura, falta de energia nas extremidades
segundo Baker (1980).
A “rapidez” com que a paciente conectou a lembrança traumática está
relacionada à sua ausência de defesas do núcleo psicótico, segundo Navarro
(1995). Antes de iniciar qualquer trabalho corporal é feito um contrato com a
paciente, que quando entra em contato com tais memórias traumáticas ela sempre
tem que estar com a consciência no aqui e no agora, para assim conseguir
reelaborar o conteúdo de suas lembranças, o que possibilita a superação e
desbloqueio e proporciona o bem estar que a paciente demonstrou ao final da
sessão.
3.1.1.3 Relato nº3 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D)
Iniciou-se a sessão perguntando se a paciente havia sentido alguma
reação posterior à sessão. Ela alegou ter sentido que durante a semana estava mais
tranqüila tanto que até suas filhas comentaram que ela estava diferente. Frente a
alguns relatos de situações enfrentadas pela paciente pode-se perceber que
92
realmente já evoluiu, pois esta se posicionando e aprendendo dizer não para
algumas situações. O comportamento da paciente durante a sessão também aponta
que o processo de desencouraçamento está surtindo efeitos, pois a paciente já esta
se expressando melhor, o tom de sua voz é mais alto e claro, em relação às sessões
anteriores, consegue olhar nos olhos da estagiária, coisa que antes não ocorria, e
sua expressão facial esta mais serena.
Com o intuito de continuar o diagnostico corporal aplicou-se o acting 3.
Descrição da técnica "ACTING 3" – IMPULSO DE MORDER ASSOCIADO À
VISÃO LATERAL - ( página, 27): Descrição: Pede-se ao paciente a ficar deitado em
decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo, palmas das mãos
voltadas para baixo, proporcionando maior aterramento. O terapeuta coloca uma
toalha social dobrada na boca do paciente para que este morda com os dentes
incisivos, caninos e pré-molares, forte rapidamente, enquanto alterna seu olhar de
um lado para o outro, ampliando ao máximo o campo visual lateral. Esse exercício é
feito por aproximadamente 20 minutos.
A paciente apresentou dificuldade para morder, alternar o olhar e piscou
bastante ao olhar para as laterais. Após 3 minutos perdeu o contato e conectou com
o núcleo psicótico novamente, dizia estar nua num hospital onde havia uma mulher
gritando e muita água, quando voltou a manter contato alegou muita dor no peito e
garganta. Entretanto no final da sessão disse estar se sentindo muito bem e que seu
peito esta mais leve. Cabe ressaltar que a paciente já havia feito vários exames
médicos para descobrir o que tinha em seu peito, pois sempre sentiu um mal estar
nesta região.
Análise teórico prática: com relação aos primeiros relatos e as observações da
estagiária, a paciente demonstra que está tendo modificações importantes no seu
93
modo de agir, pois nota-se que já esta mais segura de si. Visto que as técnicas de
desencouraçamento possibilitam que a paciente entre em contato com esses
núcleos traumáticos e que consiga compreender e reelaborar seus significados.
Já com relação ao acting 3, Delazari (s.d.) explica que tal técnica resgata
a forma mais primitiva de agressividade, de ataque e de expansão que é a mordida.
O ato de morder esta relacionado com o rompimento de uma situação de
dependência, logo tal técnica resgata a autonomia, a emancipação da dependência
oral, contatando assim com a raiva oral bloqueada e ambivalência. A dificuldade
que a paciente teve para conseguir morder a toalha está relacionada à raiva oral
bloqueada justamente por causa do medo que a paciente tinha de perder o pouco
contato que possuía. Navarro (1996) explica que a questão da lateralidade do olhar
implica na origem da ambivalência entre impulsos afetivos e hostis, além de ser uma
expressão de ansiedade e controle. Observou-se que ao mesmo tempo em que a
paciente queria ter este contato afetivo, ela também sente raiva por não tê-lo, é
óbvio que esta ambivalência não é consciente.
De acordo Navarro (1995), a perda de contato sinaliza o grau do trauma
vivido pela paciente em seu parto e nos primeiros dias do período pós-natal. As
dores que a paciente relatava estar sentindo mostram a intensidade de tais
lembranças, visto que durante a técnica em nenhum momento foi tocado nem no
peito e nem na garganta. Tais dores estão relacionadas à sua experiência ainda na
incubadora. Contudo pode-se observar que a cada técnica a paciente esta tendo
reações positivas que estão possibilitando um afrouxamento de suas couraças, o
que reflete no seu modo de agir.
94
3.1.1.4 Relato nº4 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E)
Cabe aqui ressaltar que os trabalhos realizados com a paciente ainda
fazem parte de um roteiro para a elaboração do diagnostico corporal. Porém, devido
à história de vida da paciente e a intensidade de seus traumas já possibilitaram um
efeito terapêutico muito significativo. Durante seu processo terapêutico, a paciente,
após dois anos e meio em tratamento tanto na psicologia, quanto na psiquiatria,
apresentou melhoras significativas e animadoras, sendo que a mais surpreendente é
que nos últimos nove meses não teve mais nenhuma crise depressiva grave, não
necessitando mais tomar medicamentos que tomava e obtendo alta da psiquiatria.
De acordo com seus relatos está descobrindo a alegria de viver. Nesta
sessão, ainda na elaboração do diagnostico corporal, foi dado continuidade ao
trabalho corporal e foi aplicada a técnica de Sonorização. Descrição da técnica
"SONORIZAÇÃO PROLONGADA" – (página, 89): Cliente deitado em decúbito
dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo, palmas das mãos voltadas para
baixo,
proporcionando
maior
aterramento.
Terapeuta
propõe
que
respire
sonorizando, durante a expiração, o som “AH”, da forma mais prolongada possível.
Nos primeiros minutos o terapeuta coloca a mão em concha sobre os ouvidos do
cliente, porém depois deixa que ele faça o trabalho sozinho.
Durante a técnica, a paciente, após alguns instantes, entrou novamente
em uma memória traumática, porém agora tratava-se de uma situação ocorrida
quando tinha 4 anos de idade e seu primo, de 21 anos, tentou molestá-la. A paciente
teve reações como perda de contato, falta de ar, choro, medo e tremores no rosto.
Quando restabeleceu contato, estava bem agitada e se questionava sobre o que ela
tinha feita para ele fazer isso com ela, sentia muita culpa, vergonha e nojo. Porém,
95
no fim da sessão a paciente demonstrou ter reelaborado a experiência, dizendo não
ter culpa, pois era apenas uma criança e que não nem sabia dessas coisas
(sexualidade) ainda.
Análise teórico prática: As modificações de comportamento apresentadas pela
paciente podem ser explicadas pelo fato de estar abrandando suas couraças e
restabelecendo seu modo funcional natural, conforme Baker (1980).
Trotta (1999) explica que o desencouraçamento ocular favorece uma
melhor percepção da realidade e conduz a uma reorganização do funcionamento
psíquico, e é o que explica o fato da paciente não mais precisar tomar os
medicamentos, pois o real problema (causa) está sendo solucionado e não apenas
os sintomas (“doenças”). Como característica de sua estrutura de caráter oral, o
principio de realidade era fracamente desenvolvido, a aceitação progressiva da
realidade é um dos objetivos primordiais na terapia.
As reações apresentadas na técnica da Sonorização podem ser
compreendidas pelo fato de que tal técnica, segundo Delazari (s.d), energizar,
estimular, fortalecer e tonificar a identidade pessoal. Pelo fato de ter um ego mais
consciente e por a paciente assim se sentir mais importante e confiante possibilitou
que ela entrasse em contato com uma memória traumática e verbalizasse os
sentimentos que sentiu no momento da situação, como muita culpa, vergonha e
nojo, o que a possibilitou compreender que de fato a culpa não era sua, visto que
era apenas uma criança e superar tal conflito consigo.
Como o trauma se deu aos quatro anos de idade bem na fase do
desenvolvimento libidinal em que a energia da criança volta-se para a descoberta
dos genitais, explica Volpi (2002), pode ocasionar um bloqueio de sua sexualidade o
96
que se comprova pelo relato da paciente quando diz ter demorado dois meses para
conseguir ter sua primeira relação sexual com seu marido.
3.2 Caso clínico 02
a) Informações preliminares do caso - Mulher de 56 anos de idade, casada.
QUEIXA: Encaminhamento de psiquiatra. Passou por onze médicos para descobrir o
porquê das coceiras na sua pele. Segundo o último psiquiatra as coceiras eram de
fundo emocional e que tinham surgido depois do infarto do marido.
ANAMNESE: A paciente vem de uma família composta por cinco irmãos, sendo ela
a terceira mais velha. Segundo ela foi uma gravidez desejada e não havia
preferência pelo sexo. Sua mãe a teve de parto normal sem nenhuma complicação.
Foi amamentada no peito até os 6 meses, usou mamadeira e chupou bico até 8
anos. Sua família era de origem humilde, passaram por muitas dificuldades
financeiras e humilhações. Seu pai era autoritário e bebia muito, sua mãe era muito
dedicada aos filhos, entretanto não era de demonstrar muito seu amor.
A paciente conta que sofreu de enurese noturna até os 8 anos e que
chorava muito por tal situação, porém a mãe sempre foi compreensiva e nunca
brigava. Aos 7 anos ingressou na escola teve problemas com a professora, pois era
canhota e sua professora não aceitava canhotos em sua classe. A paciente alega
não lembrar muitos detalhes de sua infância e adolescência. Apenas que sua
menarca foi aos 15 anos. Aos 16 anos fez tratamento para gastrite nervosa. Aos 17
97
anos sofreu uma desilusão amorosa e sofreu muito, mas jamais deixou transparecer
seu sofrimento.
Por volta dos 21 anos conheceu seu atual marido, começaram a namorar,
porém a família dele não a aceitava e a perturbou bastante. Segundo ela antes
mesmo de se casar já havia se cansado do seu noivo. Casou-se aos 25 anos sem
amor, talvez por pena, pois as irmãs de seu marido eram muito controladoras, relata
a paciente. Assim que se casou voltou a roer as unhas a ponto de ter que fazer uma
cirurgia para extrair uma unha. Seu marido, segundo a paciente, sempre foi muito
acomodado e nunca toma iniciativa, ficando tudo para ela.
Aos 28 anos teve uma gravidez interrompida aos cinco meses, ficou tão
traumatizada que nunca mais queria ter filhos, só depois de um ano e meio, por
insistência do marido, resolveu engravidar, teve uma gravidez tranqüila. Depois de
aproximadamente quatro anos que teve seu segundo filho, também por insistência
do marido, fez cesárea para fazer a ligadura. Nunca amamentou nenhum dos dois
filhos, tinha bastante leite mas não saia. Aos 42 anos perdeu sua mãe, de câncer, e
após dois meses o pai também faleceu.
Já aos 50 anos o marido sofreu um infarto, precisava de medicamentos
caros e eles não podiam comprá-los, então ela teve que correr e pedir ajuda todos
que podia. Alega que por 3 anos teve que agir num ritmo acima do seu normal, tinha
que dar conta do trabalho, trabalhava numa escola,cuidava da casa e do marido. Diz
que os dois primeiros anos passou por muitas humilhações. Neste mesmo tempo
começou a ter uma alergia, começou a ir aos médicos e nenhum descobrirá o que
era, mais a alergia continuava a piorar, sua pele começou a ficar em carne viva de
tanta coceira. Até que chegou ao psiquiatra, que atendia no hospital escola da
Unesc, que disse que suas coceiras eram de fundo emocional e que tinha surgido
98
após o infarto do marido, fez o encaminhamento para a psicologia da clínica escola
da mesma instituição e há dois anos vem sendo acompanhada pelos estagiários da
psicologia e psiquiatria, que segundo ela tem sido sua salvação.
b) Hipótese diagnóstica
Diagnóstico psicodinâmico: Considerando o fato de a mãe nunca ter sido muito de
demonstrar carinho pode ter havido um déficit de maternagem. Além de apresentar
uma fixação na fase oral, visto que chupou bico e mamadeira até os oito anos e roeu
unha com bastante intensidade. Podendo também haver alguma fixação na fase
anal, pois sofreu de enurese noturna até os 8 anos.
Diagnóstico caracterológico: Pelas fixações na fase oral do desenvolvimento libidinal
e pelo comportamento passivo e a dependência, pela dificuldade de tomar uma
posição e enfrentar a oposição, ter uma grande necessidade de falar muito e contar
os fatos com muitos detalhes e pelo uso do cigarro pode-se se sugere traços de
caráter oral.
Além do fato da paciente apresentar fixação anal do desenvolvimento
libidinal e pelo fato do impulso agressivo estar dirigida para dentro, raiva voltada
contra si mesma, levando-a a sofrer de gastrite; pela mágoa e rancor que tem pelas
cunhadas; sua necessidade de derivar prazer através da dor para abrandar seu
sentimento de culpa, observando-se nas coceiras na pele que ataca em situações
de estresse e pelo comportamento sexual ser contido e submisso aponta-se traços
de caráter masoquista.
Diagnóstico corporal: Durante as técnicas de 1º e 2º seguimento a paciente
apresentou: na desfusão apresentou dificuldade de enxergar a ponta do nariz, via
99
dois dedos e chegou um ponto que não via os olhos da estagiária e sim os da mãe
liberando assim um choro que segundo a paciente já fazia tempo que não conseguia
expressar. No Acting 1 a paciente apresentou dificuldades em manter a boca muito
aberta, cansaço, boca seca e tensão nos braços e maxilar. Acting 2 não conseguiu
fixar um ponto no teto, tinha dificuldade em soltar o ar pela boca, no conseguiu fazer
o bico e incomodo nos braços. Acting 3 apresentou dificuldade de morder forte,
piscava forte depois de olhar para o lado direito, cansaço e agonia. Acting 4 não
conseguia enxergar a parte inferior, pulava o olhar da parte superior, alterou o
sentido do olhar e não mostrou a parte inferior dos dentes. No 3º segmento, durante
a sonorização a paciente apresentou dificuldade de sonorizar os sentimentos e
lembrou-se de um fato com o marido. No 4º segmento durante a técnica do “eu”
socando a paciente sentiu muito calor, suor e pediu para parar. No “não” socando a
paciente falava baixo e não conseguiu fazer por muito tempo, pediu para parar.
Obs.: Devido a um problema de coluna os trabalhos corporais foram
interrompidos. Com base nas informações já obtidas observou que seu bloqueio era
principalmente de primeiros segmentos contou-se um plano terapêutico com
algumas alterações necessárias devido ao problema da paciente, as técnicas serão
realizadas sentadas.
Plano terapêutico: Considerando que o traço básico de caráter desse paciente é
oral, espera-se que a expectativa transferencial seja de acolhimento.
Assim,
especialmente no início do processo terapêutico, a postura da terapeuta deve
proporcionar acolhimento básico com situações de maternagem, uso da lanterna
azul associado à bala de leite e mão em concha.
Em um segundo momento, a terapeuta deverá propor técnicas que
permitam
o
desencouraçamento
dos
primeiros
segmentos,
auxiliando
na
100
constituição do narcisismo primário, atualmente bastante débil. Entretanto devido as
limitações da paciente as técnicas serão adaptadas, os trabalhos corporais serão
realizado sentados ou de pé, quando necessário.
Além disso, os actings também
proporcionarão a liberação da raiva oral, hoje reprimida, comprovada pela
dificuldade de morder durante o acting 3. Os trabalhos de estimulação luminosa
auxiliarão no desbloqueio ocular. A técnica visualização das mãos com sonorização
contribuirá na consolidação da identidade primária. A técnica a visualização da
pélvis é muito necessária, visto que a paciente tem um bloqueio muito forte
apontado no acting 4, onde alegou não enxergar a parte inferior.
3.2.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática
3.2.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 8º sessão do estagio D)
Com o objetivo de iniciar o diagnostico corporal foi aplicado a Desfusão
(página 8, apostila SWR RS), descrição da técnica: Cliente em decúbito dorsal,
pernas fletidas e braços ao longo do corpo. Num primeiro momento terapeuta
aproxima e afasta seu dedo do nariz do cliente solicitando que acompanhe com o
olhar. Passados alguns minutos terapeuta para seu dedo a uma distância
aproximada de uns quinze centímetros do nariz do cliente, pedindo que alterne seu
olhar entre a ponta do dedo e seu próprio nariz (objeto parcial). Decorridos mais
alguns minutos, quando o dedo do terapeuta está se afastando do nariz do cliente, o
olhar deste segue se alternando entre dedo e nariz, porém quando se aproxima, o
101
olhar fica fixo no dedo. Após certo tempo, a cliente alterna seu olhar entre a ponta de
seu nariz, o dedo do terapeuta e os olhos deste. Por último, orienta-se o cliente para
que repita o exercício com seu próprio dedo, tanto direito quanto esquerdo várias
vezes. Todo exercício deve ser acompanhado com contato labial. Sua duração
aproximada total é de 20 minutos.
Durante a execução da técnica a paciente apresentou dificuldade de
enxergar a ponta do nariz, via dois dedos e durante alguns momentos não via os
olhos da estagiária e sim os de sua mãe, liberando assim um choro que, segundo
ela, já fazia tempo que não conseguia expressar. Ao final da sessão, a paciente
agradeceu pela ótima experiência e relatou estar se sentindo muito aliviada e feliz.
Análise teórica prática: de acordo Delazari (s.d) está técnica trabalha a desfusão
com o primeiro objeto libidinal, o seio da mãe. O fato de a paciente ver dois dedos
quando próximo do nariz, que é a dificuldade de fusão binocular no ponto próximo,
expressa uma tendência a perder o contato com a realidade (fuga), relata Navarro
(1996). Delazari (s.d.) acrescenta que essa duplicação esta relacionada à fusão
alucinatória de que sua boca e o seio da mãe são uma coisa só. Por isso, a
dificuldade da paciente em enxergar seu nariz, pois nessa região existe a sensação
desagradável provocada pelo fato de que o seio não está mais ali, salienta Navarro
(1995), e que Delarazi chama de medo da castração.
A
lembrança da mãe ao olhar nos olhos da estagiária e o relato do
paciente sugere que tenha conseguido fazer a desfusão com o primeiro objeto
libidinal que é o seio (objeto parcial) e que tenha percebido a mãe inteira (objeto
total).
102
3.2.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D)
Após os primeiros trabalhos de primeiros segmentos a paciente relatou ter
tido sensações posteriores muito positivas como: voltou a ter sonhos, estar mais
consciente de si e suas necessidades, não estar mais fazendo as coisas por
obrigação, alegou não mais se irritar com a falta de iniciativa do marido, diz que
passou a respeitar o jeito dele e não mais se incomodar com isso o que, segundo
ela foi muito bom.
Com o intuído de continuar o diagnóstico corporal propôs o Acting 4,
descrição da técnica ROTAÇÃO OCULAR COM SORRISO FORÇADO –
“ACTING 4” (página 29, apostila SWR RS): Cliente deitado em decúbito dorsal,
pernas fletidas, braços ao longo do corpo com mãos voltadas para baixo. Terapeuta
solicita que o cliente amplie ao máximo sua visão com rotação ocular no sentido
horário para mulheres e anti-horário para homens, por alguns instantes, de forma
continua. A seguir, pede que retraia os lábios expondo todos os dentes, tanto
inferiores quanto superiores, simulando um sorriso, concomitantemente com a
rotação ocular. Caso haja tendência a retrair o campo visual, pode-se sugerir que
fixe alguns pontos nos quatro quadrantes, apenas como referencia, mantendo
harmoniosa a continuidade do olhar.
Durante a técnica a paciente alegou não conseguir enxergar a parte
inferior na rotação ocular e pulava o olhar na parte superior, mexia a cabeça para
olhar mais amplamente, alterou o sentido do olhar e não mostrou parte dos dentes
inferiores.
103
Análise teórica prática: de acordo com Delazari (s.d.) esta técnica trabalha
conteúdos ligados à identificação da realidade corporal da pessoa e as
transferências eróticas. A rotação ocular está relacionada à ampliação do campo
visual e a visão periférica que está associado à constituição do objeto de desejo e do
triângulo edípico, explica Delazari (s.d.). Navarro (1996) completa dizendo que o
girar dos olhos está ligado também ao momento histórico da pessoa, a organização
espaço-temporal.
O fato da paciente não enxergar a parte inferior pode estar
relacionado ao medo das sensações genitais. Já a dificuldade de olhar para a parte
superior está ligada à entrada de uma terceira pessoa na relação, o pai, associado a
conteúdos histéricos, ou também, de acordo com Navarro (1996), a dificuldade de
olhar o passado. Visto que o pai da paciente era alcoolista e que geralmente pais
alcoolistas são sedutores, a paciente pode ter tido fixações histéricas ligadas a má
elaboração do complexo de Édipo, das quais a paciente tem medo de lembrar, por
isso evita olhar nesta direção. O não mostrar os dentes esta relacionado a
dificuldade que a paciente tem em conectar com a agressividade e com a
disponibilidade.
3.3 Caso clínico 03
a) Informações preliminares do caso: Homem de 37 anos de idade, segundo
casamento.
QUEIXA: Queixa-se de viver irritado, considera-se uma pessoa de pavio curto, o que
lhe traz problemas no relacionamento com a esposa. Afirma que tem oscilações do
104
humor constante, com dias que está bem e satisfeito, e outros, depressivo,
preferindo se isolar.
ANAMNESE: Nasceu em Laguna, onde viveu até quatorze anos de idade. É o quinto
filho de uma prole de sete, na qual morreram os dois primeiros filhos ainda bebês.
Seu pai, hoje aposentado, era pescador e sua mãe do lar. O paciente tem pouco
conhecimento do início de sua história, pois afirma que em sua casa o diálogo era
uma coisa rara, pois o pai mantinha um clima de tensão no ar, já que
frequentemente bebia e chegava em casa alcoolizado e agressivo, batendo na mãe
e quebrando os utensílios domésticos. O paciente acredita não ter sido desejado,
uma vez que sua mãe já teria tido quatro gestações anteriores, inclusive vivenciando
a morte das duas primeiras filhas muito precocemente.
O paciente acha que nasceu aos nove meses, de parto normal, sem
intercorrências. Na época de seu nascimento supõe que sua mãe recebeu a ajuda
da avó materna. Relata não ter dados sobre seu desenvolvimento emocional,
apenas lembra que sua mãe era caprichosa e higiênica. Diz que por volta dos 7
anos de idades, mudou-se para a casa dos avós paternos, pois não suportava o
clima de tensão e medo na casa de seus pais. Relata nunca ter recebido muita
atenção e carinho, lembra que seus avós paternos cuidavam dele, mas não eram
carinhosos e quando concluiu antigo primário, sua avó o impediu de continuar
estudando, afirmando que para ser pescador não precisaria estudar mais nada, o
que gerou uma certa magoa com a avó.
Quando tinha 11 anos, sua mãe faleceu subitamente, vítima de um
“derrame”, aos 37 anos. Até hoje o paciente sente muita falta de sua mãe, e
comenta que na época sentiu um misto de tristeza e raiva, pois acreditava que foi
seu pai que indiretamente provocou a morte de sua mãe, pois seu sofrimento era
105
demasiadamente grande ao lado dele. Lembra que na infância gostava de brincar
com outras crianças a brincar sozinho. Entretanto, sempre teve tendência a se isolar
em épocas mais depressivas.
Em relação à sexualidade foi com aproximadamente doze anos que
realmente se despertou para o assunto, diz que nunca ninguém o explicou nada,
aprendia tudo sozinho e que sua primeira relação sexual foi com uma prostituta, pois
seus colegas de trabalho acharam que estava na hora de iniciá-lo na vida sexual, diz
ter sido muito desagradável e ter sentiu vergonha. Aos quatorze anos mudou-se
para Criciúma, pois já não suportava viver com seus avós. Casou-se pela primeira
aos 18 anos, logo teve um filho e depois uma filha, hoje com 12 e 9 anos,
respectivamente. Diz que não foi feliz nesse casamento e que agüentou bastante,
pois não queria sair de casa e deixar as crianças ainda pequenas.
Há 5 anos iniciou uma nova relação e hoje está casado novamente. Acha
sua atual esposa boa, gosta dela, mas frequentemente sente vontade de sumir da
relação, pois acha que seria melhor para todos. Atualmente, queixa-se de viver
irritado, considera-se uma pessoa de pavio curto, o que lhe traz problemas no
relacionamento com a esposa. Afirma que tem oscilações de humor constante, com
dias que está bem e satisfeito, e outros, depressivo, preferindo se isolar. Diz: “tenho
tudo para ser feliz, mas me falta algo”.
b) Hipóteses diagnósticas
Diagnóstico psicodinâmico: Paciente tem uma história de ter recebido pouco carinho
e atenção quando criança. Embora não saiba como se deu seu processo de
aleitamento, provavelmente sua mãe teve pouca condição emocional de oferecer um
106
colo seguro e amoroso, pois a mesma vivia em constante tensão e medo. Assim,
parece que houve um déficit de maternagem, prejudicando a composição do
narcisismo primário contribuindo para uma fixação na fase oral. Sobre a fase anal, o
paciente não tem informações, diz que sua mãe era “higiênica e caprichosa” o que
poderia justificar fixações anais, mas faltam dados que comprovem essa hipótese.
Na fase edípica, o paciente provavelmente se negou a identificar-se com o pai,
procurando, talvez, a figura do avô paterno, com quem convivia muito e que aos sete
anos acabou mudando-se para sua casa. Entretanto, não parece que o paciente
apresente fixações edípicas.
Diagnóstico caracterológico: O traço de caráter predominante nesse paciente é o
oral, demonstrado por suas queixas freqüentes de ter a sensação de lhe está
faltando algo, pelo humor depressivo, com períodos de elação, pela irritabilidade e a
baixa tolerância às tensões. Além disso, o paciente é um indivíduo ansioso,
exigente, e apresenta pouca capacidade de compreender os desejos e
necessidades dos outros. Corroborando com os achados clínicos, fisicamente o
paciente apresenta uma pele pálida, constituição física magra e frágil, dando a
impressão de um organismo pouco energizado, compatível com as características
orais.
Diagnóstico corporal: Nas técnicas de primeiro e segundo segmento o paciente
demonstrou dificuldade de manter a boca aberta no acting 1, formigamento no
pescoço no acting 2 e dificuldade de morder a toalha no acting 3. Na mão em
concha e na desfusão emergiram sentimentos de raiva e ódio associados à
inquietação. Nas técnicas de terceiro segmento, o paciente vivenciou a sensação de
incapacidade. No quarto segmento o paciente, com a massagem e mão no esterno o
paciente sentiu profunda calma.
107
No “eu socando”, sua sensação foi de ser pequeno e conectou-se com o
menino abandonado que sente que foi. No “não socando”, sentiu que estava
encurralado, sem condições de dizer não. Na respiração abdominal, o paciente se
manteve tenso, com pouca mobilidade torácica. No sexto segmento, na técnica do
dedo no umbigo, a sensação foi prazerosa e o paciente relembrou de quando
nadava nas lagoas de Laguna. No sétimo segmento, na técnica de chutar o colchão
para trás, o paciente sentiu que já não havia mais necessidade de chutar seu pai e
avó. Mas, quando chutou o colchão de frente emergiu a raiva de ambos.
Resumidamente, percebe-se que o paciente apresenta bloqueios energéticos de
praticamente todos os segmentos, a exceção do sexto que não foi notado nenhum
bloqueio na técnica aplicada, necessitando de uma investigação mais profunda para
melhor avaliação.
Projeto Terapêutico: Considerando que o traço básico de caráter desse paciente é
oral, espera-se que a expectativa transferencial seja de acolhimento e a
transferência negativa latente esteja ligada ao medo de abandono. Assim,
especialmente no início do processo terapêutico, a postura da terapeuta deve
proporcionar acolhimento básico com situações de maternagem, uso da lanterna
azul associado à bala de leite e mão em concha.
Em um segundo momento, a terapeuta deverá propor técnicas que
permitam
o
desencouraçamento
dos
primeiros
segmentos,
auxiliando
na
constituição do narcisismo primário, atualmente bastante débil. Além disso, os
actings também proporcionarão a elaboração dos impulsos orais e a liberação da
raiva oral, hoje reprimida, comprovada pela dificuldade de morder durante o acting 3,
além de fortalecer o paciente, suavizando seu medo de abandono.
108
Terminada essa etapa, a terapeuta procurará auxiliar o paciente em seu
processo de constituição de sua identidade primária, propondo a técnica do não
socando e do eu socando. Trabalhado esses aspectos, é importante trabalhar o
sétimo segmento para se permitir ao paciente liberar sua raiva da figura paterna e da
avó que o criou, além de se afirmar como homem, já que na fase edípica, sua
história sugere dificuldade de se identificar com o pai que era ambivalente, ora
honesto e responsável, ora bêbado e agressivo.
3.3.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática
3.3.1.1 Relato nº 1 (4º sessão do estagio E)
Com o intuito de por em prática o plano terapêutico propôs a técnica da
lanterna azul. ESTIMULAÇÃO LUMINOSA (LANTERNINHA/pag. 12) - descrição da
técnica: Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas, braços ao longo do
corpo com mãos voltadas para baixo. Pedisse ao paciente que acompanhe com os
olhos a luz de uma lanterna que o terapeuta movimenta a uma distância de
aproximadamente 25 cm à frente de seus olhos, em ambiente obscuro. O terapeuta
deve movimentara lanterna pelos quatros quadrantes do olho, de tal modo que o
olhar experimente grande variedade de movimentos, isto é, possibilidade binocular.
A duração da técnica media é de 15 a20 minutos.
Durante a técnica o paciente franziu a testa e mexeu com as mãos;
quando questionado sobre o que sentia nas mãos alegou angústia, depois de um
tempo a estagiária pediu que sonorizasse o que estava sentindo e só após alguns
109
minutos de total silêncio o paciente disse que seu corpo estava todo trêmulo. Ao final
da técnica o paciente relatou estar se sentindo muito bem, energizado e capaz de
pôr em prática todos seus planos.
Análise teórica prática: de acordo com Delazari (s.d) o movimento ocular realizado
durante a técnica reproduz o ritmo fisiológico associado ao sono REM, que tem um
papel importante na restauração psicoemocional, além de trabalhar questões ligadas
ao narcisismo primário e conteúdos ligados a fase oral. Navarro (1996) completa
dizendo que o impacto da luz é semelhante ao que acontece quando o bebê nasce,
o que facilita a conexão com as sensações vividas no nascimento. O franzir a testa
trata-se de uma resistência do paciente para evitar sentimentos desagradáveis,
como no caso, a angustia relatada pelo paciente, que está relacionada com o medo
de abandono vivido pelo paciente nos primeiros dias ou meses de vida, explica
Navarro (1996). Já os tremores que o paciente alegou ter sentido por seu corpo
estão relacionados ao desbloqueio de energia que estava estagnada no primeiro
nível e que se deslocou pelo corpo provocando vibrações em forma de tremores.
3.3.1.2 Relato nº 2 ( 5º sessão do estagio E)
No início da sessão o paciente contou que já havia dado entrada nos
documentos necessários para abrir seu próprio negócio. Alegou se sentir mais
equilibrado, porém, às vezes, ainda tem alguns sentimentos depressivos, entretanto
agora já não tem mais vontade de fugir, está aprendendo a lidar com eles. Foi dado
continuidade ao trabalho corporal onde se aplicou a técnica da mão em concha
110
integrada com a bala de leite, onde o paciente demonstrou grande resistência ao
chupar a bala, porém depois que se permitiu o ato de chupar, ainda que de forma
meio contida, alegou sentir seu corpo vibrar e no final disse estar se sentindo muito
bem.
Análise Teórica prática: os relatos iniciais do paciente comprovam a hipótese de um
desbloqueio de primeiro segmento, visto que já houve umas mudanças significativas
no seu comportamento, pois o objeto da terapia do oral é justamente fazer com que
ele possa se sustentar em suas próprias pernas, explica Volpi (2003). Já a
dificuldade encontrada pelo paciente em chupar a bala aponta que houve uma
fixação relacionado à segunda fase do desenvolvimento emocional, incorporação
ligado a amamentação, com inibição do impulso succional, o que se pode comprovar
pelas características orais do paciente, como ressalta Navarro (1995).
3.3.1.3 Relato nº 3 (8º sessão do Estagio E)
Inicialmente o paciente relatou ter observado uma reação posterior à
última sessão de muito sono, sentia como se quisesse fazer as coisas mas não
tivesse energia/ disposição. Disse ter tido uma discussão com sua esposa, não
lembra o motivo, mas possivelmente por causa dos filhos dela. Observou o quanto
havia melhorado, pois em outras épocas ele teria pegado suas coisas e ido embora,
porém agora ele pensa muito antes de tomar uma atitude.
Quando questionado o que o havia atraído em sua atual esposa, o
paciente deu uma risada e respondeu que ela era uma pessoa carismática e boa
111
mãe. Quando perguntado o motivo da risada, ele alegou que sua mulher às vezes
diz que ele procurou nela uma mãe e não uma mulher.
De acordo com o diálogo, a estagiária achou necessário fazer a técnica
da desfusão. Desfusão (página 8, apostila SWR RS), descrição da técnica:
Cliente em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo. Num
primeiro momento terapeuta aproxima e afasta seu dedo do nariz do cliente
solicitando que acompanhe com o olhar. Passados alguns minutos terapeuta para
seu dedo a uma distância aproximada de uns quinze centímetros do nariz do cliente,
pedindo que alterne seu olhar entre a ponta do dedo e seu próprio nariz (objeto
parcial). Decorridos mais alguns minutos, quando o dedo do terapeuta está se
afastando do nariz do cliente, o olhar deste segue se alternando entre dedo e nariz,
porém quando se aproxima, o olhar fica fixo no dedo. Após certo tempo, o cliente
alterna seu olhar entre a ponta de seu nariz, o dedo do terapeuta e os olhos deste.
Por ultimo, orienta-se o cliente para que repita o exercício com seu próprio dedo,
tanto direito quanto esquerdo varias vezes. Todo exercício deve ser acompanhado
com contato labial. Sua duração aproximada total é de 20 minutos.
Durante a técnica o paciente alegou ver dois dedos quando próximo do
nariz e enxergar pouco seu nariz, além de olhar mais tempo para os olhos da
estagiária. Ao final da técnica relatou que depois de um tempo não conseguia mais
ver seu nariz e que ao olhar para a estagiária lembrou-se de sua mãe e disse “... foi
como se ela tivesse me dizendo que ela está bem onde está e que eu não precisava
me preocupar”. Ao final na sessão o paciente alegou estar muito bem, se sentindo
revitalizado.
Análise Teórico prática: de acordo com o relato do paciente sobre sua reação frente
às discussões e sua não fuga reforça a hipótese de desencouraçamento, de acordo
112
com Navarro (1995), pois o paciente esta aprendendo a lhe dar com seus
sentimentos. Cabe aqui ressaltar a importância que Reich (2004) deu ao modo como
o paciente relata uma situação, que não é somente o conteúdo que é relevante,
mais também o como ele expressa tal informação.
No caso do paciente, quando questionado sobre o que o atraia em sua
mulher, a risada sem jeito que deu antes de dar a resposta, foi tão importante
quando a própria resposta, pois com a risada obteve-se um dado muito importante,
pois sua mulher se queixa que ele procurou nela uma mãe, o que reforça a hipótese
de uma oralidade insatisfeita. Por este motivo foi proposta a técnica da desfusão que
tem o objetivo de desfazer a “fantasia do seio” e assim possibilitar a superação da
oralidade insatisfeita.
Lowen (1982) aponta essa procura pelo outro para preencher esta lacuna
é bem típica do caráter oral. Analisando as reações do paciente frente à técnica
pode afirmar que o fato do paciente ver dois dedos quando próximo do nariz seria o
que Navarro (1996) relaciona a construção de uma fantasia criada para suportar
uma realidade insuportável, no caso a falta do seio, o que sugere a não desfusão
alucinatória de que o seio e a boca não são um só.
O fato de não ver o nariz está relacionado ao bloqueio desta região, para
não conectar com os sentimentos experimentados nesta fase já o fato de chegar a
não enxergar mais seu próprio nariz tratasse de uma fuga, de acordo com Navarro
(1996), pois o paciente tem medo de tomar conhecimento do seu núcleo psicótico. O
fato de lembrar-se da mãe ao olhar nos olhos da estagiária e ter sentido como se ela
tivesse dito, “... ela está bem onde está e que eu não precisava me preocupar”, pode
sugerir que finalmente o paciente esteja conseguindo fazer a desfusão com o
primeiro objeto libidinal (seio) e ter percebido a mãe total.
113
3.4 Caso Clinico 04
a) Informações preliminares do caso: Mulher de 41 anos, casada.
QUEIXA: a paciente já passou por quatro cirurgias oculares por falta de lubrificação
ocular, o que acabou ocasionando rachaduras nas córneas. Alega ter preocupação
demasiada com os outros e acaba se prejudicando. Foi orientada por uma
professora da psicologia a procurar a Clinica de Psicóloga por seu problema açular
ser de fundo emocional. Era professora mais teve que se desligar da profissão por
causa de seu problema ocular.
ANAMNESE: A paciente é a caçula de sete irmãos. Conta que não foi uma gravidez
deseja, seu parto foi feito em casa por parteiras, foi bem demorado, nasceu cianótica
e não chorou ao nascer, só depois da parteira dar uns três tapas.
Nunca foi
amamentada no peito, pois sua mãe alegava não ter leite. Sentia-se desprezada
pela mãe. Conta a paciente que usou mamadeira e chupeta até aproximadamente 6
anos. Por volta de 1 ano conta que já andava e falava. Diz ainda que era um bebê
que não chorava, sempre muito quieta e calma. Com relação ao seu sono conta que
nunca dormiu muito bem em toda sua vida, ela tinha sono muito leve e como dormia
nos quarto com os pais acordava durante a noite e via os eles tendo relações
sexuais. Aos 5 anos ela já sabia ler e escrever e diz ter aprendido sozinha então
pediu para ir para a escola. Sempre gostou das atividades escolares e nunca
recebia ajuda de ninguém, por mais que pedisse. Tinha um ótimo relacionamento
com o pai que a paparicava muito e nunca a bateu, já da sua mãe tinha muito medo,
pois ela era muito brava e a batia bastante. Perdeu o pai aos 6 anos de câncer no
fígado, pois ele tinha problemas com bebidas. Depois que o pai morreu se apegou
114
muito ao irmão, pois segundo ela era o único que a defendia. Que depois de um
tempo também foi assassinado. A paciente sofreu de enurese até aproximadamente
8 anos e sua mãe brigava muito com ele, pois achava que ela fazia de propósito.
Quando criança sua mãe a tratava como empregada ela tinha que fazer tudo
enquanto suas irmãs não faziam nada. Suas irmãs a maltratavam muito e não podia
chorar por que se não sua mãe brigava. Costumava brincar sozinha e em suas
brincadeiras sempre estava tentado se matar e tinha muitos amiguinhos invisíveis.
Aos 9 anos teve sua menarca e sua mãe brigou muito e não explicou o que havia
acontecido.
Aos 16 anos foi violentada e ficou três dias em estado de choque, e sua
mãe a insultava e dizia que ela era culpada. Casou-se aos 18 anos com um homem
mais velho. O marido reclama muito e sempre a culpa de tudo. Tem dois filhos, um
de 21 anos e um de 17 anos. Em seu histórico clínico consta infecção urinária hiper,
miopia e astigmatismo e problemas de circulação. Conta que aos 33 anos fez três
cirurgias nos olhos, pois eles eram muito secos; 37 anos teve endometriose e teve
que tirar o útero; aos 37 anos começou a sofrer de renite alérgica e aos 38 anos
desmaiou no trabalho, daí fez uns exames e descobriu ter um início de epilepsia,
começou a fazer o tratamento só que só piorou foi quando começou a ir ao Circulo
da Luz para fazer reposição das mãos e foi o que a sarou.
Diz que já sofreu dois acidentes, pois diz ter tido lapsos de memória, um
foi a quando tinha 34 anos um pouco depois de fazer as cirurgias nos olhos e
quando seu casamento não estava indo muito bem. A paciente alega que esta tendo
dificuldades de ter relação sexual com o marido porque vê nele sua mãe, e ele esta
cobrando muito. Diz que faz tratamento psiquiátrico contra uma depressão severa.
115
Esta em tratamento na clinica de Psicologia há um ano e meio, alega ter baixa autoestima e estar muito esgotada.
b) Hipóteses diagnósticas
Diagnóstico psicodinâmico: Pelo fato de não ter sido uma gravidez desejada e a mãe
te-la desprezado sugere um déficit de maternagem, prejudicando a constituição do
objeto interno bom e um trauma na fase ocular. A não amamentação pode ter
causado também um trauma na fase oral. Pelo fato de ser tão apegada ao pai,
posteriormente ao irmão e se casar com um homem tão mais velho aponta uma
fixação na fase epidiana. O fato de sofrer de enurese até os 8 anos demonstra uma
fixação na fase anal.
Diagnóstico caracterológico: Pela fixação na fase ocular e pelo olhar vazio, a busca
de solução para tudo no intelecto, a utilização as sexualidade para a aceitação e
amor e o medo da rejeição sugere traços de caráter esquizóide. O fato de usar
mamadeira e chupeta até os 6 anos e por sua postura dependente e deprimida
demonstra uma fixação da fase oral. A fixação na fase anal e por sua postura
derrotista, sua aceitação e luta contra a realidade, sua incapacidade de liberar a
pressão interna sugerem também traços de caráter masoquista.
Diagnóstico corporal: Durante a técnica de defusão a paciente apresentou
encouraçamento no 1º segmento, relatou sentir medo, dor na cabeça, enjoou, o
olho direito não converge no ponto próximo, tosse, angustia ao olhar o nariz e
coração acelerado. No 2º segmento: No Acting 1: dificuldade de ficar com a boca
aberta, tontura, medo e seco na garganta.
116
No Acting 2: a paciente alegou não conseguir projetar os lábios
(desoratização) porque sentia muita dor no peito, pensão nas costas, não fazia bico,
sentia se egoísta quando olhava para seu nariz e culpa. No Acting 3: não conseguiu
morder a toalha, não enxergava o lado direito de seu nariz, agonia e pediu para
parar. No Acting 4: não conseguia enxergar a parte inferior e sua visão era como se
fosse em 2 dimensões. No 3º segmento: Na Sonorização sentiu muita agonia e
ansiedade. Na mão abrindo e fechando a paciente alegou ter uma sensação de paz
e descarga, contou ainda que antigamente não conseguia fazer tal técnica por que
tinha sensações muito ruins.
No 4º segmento: durante a técnica do “eu” socando a paciente teve muita
dificuldade e só conseguiu fazer por 3 min., disse sentir muita dor nos braços e
ombros. No “não” socando chorou muito e não conseguiu fazer, alegou sentir muita
raiva do que a mãe a fez passar e angústia, porém não conseguiu expressar. No 5 º
e 6º segmentos: durante a técnica da respiração pela barriga a paciente
demonstrou ter uma respiração superficial e só conseguiu fazer até a terceira etapa,
começou a tossir e alegou sentisse sufocada, angustiada e muita tensão nos pés,
principalmente o direito e dor nas costas. No 7º segmento: apresentou ansiedade
de queda.
Projeto Terapêutico: Considerando que o traço básico de caráter desse paciente é
esquizóide, espera-se que a expectativa transferencial seja de acolhimento. Assim,
especialmente no início do processo terapêutico, a postura da terapeuta deve
proporcionar acolhimento básico com situação de maternagem, uso da lanterna azul
associado à bala de leite e mão em concha. Em segundo momento, a terapeuta
devera propor técnicas que permitam o desencouraçamento dos primeiro e segundo
117
segmentos, auxiliando na constituição do narcisismo primário, atualmente bastante
débil.
A estimulação luminosa com filtro vermelho também é necessária para a
elaboração de conteúdos associados ao complexo de Édipo, visto sua relação com o
pai, posteriormente o irmão e o marido bem mais velho. Além disso, os actings 1,2,3
e 4 também proporcionam a liberação da raiva oral, hoje reprimida, comprovada pela
dificuldade de morder durante o acting 3 e no “não” socando, além de fortalecer a
paciente, suavizando seu medo de rejeição. Sendo uma das mais defesas mais
comum do esquizóide a perda de contato devesse estimular o paciente a manter o
contato ocular.
Aplicar a técnica da Sonorização prolongada também é muito importante
no caso dessa paciente, pois fortalece o funcionamento do ego. No 4º segmento a
paciente apresenta bloqueio na expressão da agressividade, portanto a técnica de
socar o colchão, “eu” socando e “não” sacando são de grande importância para o
desbloqueio deste segmento.
3.4.1Relato das Técnicas e Análise Teórica-Prática
3.4.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E)
Nesta sessão com o intuído de continuar a elaborar do diagnostico
corporal, propôs técnica da mão abrindo e fechando. Descrição da técnica (pag.
68 da apostila SWR): Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços
ao lado do corpo, palmas das mãos para voltadas para cima e os olhos fechamos.
118
Após alguns instantes de relaxamento e aprofundamento da respiração, terapeuta
solicita que o cliente abra e feche suas mãos simultaniament4e com o Maximo de
amplitude possível no movimento, porém de forma suave, sem força.
A paciente relatou ter uma sensação de paz, como se tivesse
descarregando as energias, contou ainda que antigamente ao fazer tal técnica tinha
sensações muito ruins. Posteriormente foi proposta a técnica “NÃO SOCANDO”
(página 76, apostila SWR RS).O terapeuta pede ao paciente deitado, que olhe para
um ponto no teto enquanto internaliza o conceito “não”. Em seguida pede que
expresse a palavra “não” virando a cabeça de um lado para o outro. Passado 3 a 5
minutos pede que continue o que está fazendo acrescentando o movimento de
erguer os braços até ficarem perpendiculares ao tronco, fechando os punhos e
socando o colchão simultaneamente ao “não”, por aproximadamente 20 minutos.
Durante a realização da técnica a paciente alegou ser muito difícil antes
mesmo de começar, seus socos eram fracos e demorados, o tom de sua voz era
fraco, começou a chorar e parou de socar, disse sentir muita angustia e raiva, porém
não conseguiu expressar.
Análise teórico prática: a primeira técnica tem como objetivo fazer com que, aos
poucos, a paciente vá percebendo com mais nitidez suas sensações corporais, e
também, contatando com sentimentos bloqueados há muito tempo, explica Delazari
(s.d.). Já o fato de a paciente achar prazerosa uma técnica que antes era vista como
desagradável e o desbloqueio de energia, sugere o que, de acordo com Navarro
(1996), é a condição de desbloqueamento.
Já a segunda técnica proposta, de acordo com Delazari (s.d.) tem o
objetivo de reforçar a fraca consolidação da identidade secundária, a dificuldade de
se posicionar, o sentimento de inferioridade e a ânsia de reconhecimento. Questões
119
essas que estão bem presentes no funcionamento da paciente. Ainda de acordo
com a autora, o “não” é o terceiro organizador psíquico. Os sentimentos emergentes
de raiva e angústia estão relacionados com as repressões sofridas ao longo de sua
vida e o choro compulsivo pode estar associado a uma tristeza pela frustração do
não reconhecimento e desvalorização dos pais.
3.4.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 5º sessão do estagio E)
Inicialmente a paciente relatou que ao chegar em casa, após a última
sessão, ficou pensando por que era tão difícil para ela fizer “não”. Contou que se
trancou no quarto e foi relembrando de todos os fatos ocorridos em sua vida e foi
batendo na cama e gritando não. Disse ter sido ótimo e que foi quando conseguiu
realmente superar tudo o que lhe tinha acontecido. Completa dizendo que depois
desse insight passou a enxergar melhor (no sentido real e figurado) e agir de outra
forma, não mais deixando as pessoas se aproveitarem dela. Expôs outro fato que foi
muito importante para ela, a saber, a decisão de não fazer mais uma cirurgia, que já
estava marcada para dezembro para corrigir sua mordedura e porque seu maxilar
saí do lugar. Disse ao medico que não queria mais fazer a cirurgia porque estava
bem assim e que não estava disposta a perder seu verão para fazer uma cirurgia
que nem seria tão importante assim.
Análise teórico prática: Como já citado, Trotta (1999) explica que podem ocorrer
reações posteriormente a sessão. No caso da paciente, um insight muito significativo
que provocou um desbloqueio de 1º e 4º segmentos. No 1º pelo fato de passar a
120
enxergar melhor e no 4º porque possibilitou um insight e a construção de um estado
de ego melhor, o que explica sua melhora na auto-estima e seu maior respeito
consigo mesma.
Sabendo que a paciente apresenta um traço de caráter do tipo
masoquista, O que era notório na paciente, visto que sempre se sobrecarregava só
para ter a aceitação das pessoas, porém após o insight passou a se valorizar mais e
não mais ficar esperando o reconhecimento que lhe foi negado quando criança. O
problema relacionado aos maxilares está relacionado a sua oralidade ainda não
suprida. Que certamente deverá ser trabalhado durante a terapia.
121
4 METODOLOGIA
4.1 Delineamento
A presente pesquisa está delineada, no que se refere à classificação,
como pesquisa aplicada. E para Luciano ( 2001), “A pesquisa aplicada objetiva gerar
a produção de conhecimentos, com vistas à prática voltada à solução de problemas
específicos. Seu objeto de investigação é a verdade e os interesses locais”
(LUCIANO, 2001, p. 12).
Quanto à abordagem do problema de pesquisa, trata-se de uma pesquisa
qualitativa. Segundo Luciano (2001), a pesquisa qualitativa:
Considera a existência da relação entre realidade e o sujeito, ou seja, a
indissociabilidade entre o fenômeno objetivo e a subjetividade do sujeito que
não pode ser reduzida em números. A interpretação do fenômeno e o seu
significado é determinante do processo de pesquisa qualitativa, porém não
demanda a utilização de métodos e técnicas estatísticas. (LUCIANO, 2001,
p. 13).
Quanto aos objetivos, revela-se uma pesquisa exploratória, que segundo
a autora: “visa aproximar o problema com as hipóteses de pesquisa”. Neste intento,
envolve o levantamento bibliográfico; a entrevista com pessoas que tiveram
experiências com o problema pesquisado e analisa os exemplos que estimulem a
compreensão (LUCIANO, 2001, p. 13).
122
4.2 Procedimentos
No que se tange aos procedimentos técnicos, esta pesquisa refere-se a
um estudo de caso, que para Luciano (2001): “Trata-se de um estudo profundo e
exaustivo, possibilitando detalhamento de um conhecimento”. (LUCIANO, 2001,
p.14).
O presente estudo de caso foi realizado a partir da utilização dos relatos
de onze sessões, retirados do prontuário de quatro pacientes atendidos pela autora
desta pesquisa, na Clínica de Psicologia da UNESC, e analisado de acordo com a
abordagem reichiana.
123
5 CONCLUSÃO
A presente pesquisa teve por objetivo geral, observar as reações
psicocorporais de quatro pacientes atendidos na abordagem psicoterapia reichiana.
Por meio da análise feita, a partir da utilização do prontuário de atendimento,
conseguiu-se identificar diversas reações psicocorporais, ocorridas durante e após
as sessões.
Quanto aos objetivos específicos, investigaram-se as reações específicas
dos pacientes, levando em consideração, seus históricos de vida. Desta forma,
procurou-se entender a relação corpo e mente, partindo do princípio de que o corpo
contém a história do indivíduo. Os trabalhos corporais, utilizados em psicoterapia
reichiana, possibilitam o acesso às emoções mais profundas, liberando-as e
propiciando a resolução dos conflitos psicológicos. Isto é possível, pois de acordo
com Reich apud Volpi (2003), cada couraça esconde em si, tanto a emoção
bloqueada, quanto o registro da situação que provocou o bloqueio. Portanto:
Pode-se observar que na maioria dos pacientes havia algum tipo de
núcleo psicótico, que esta, como já visto, relacionado aos primeiros meses de vida.
Tal observação pode estar relacionada ao ritmo acelerado que sociedade capitalista
exige, diante do fato de não mais haver tempo e nem saúde emocional (ansiedade,
estresse, [...]) para se criar uma criança com afeto e dedicação, para que então
possa chegar a sua fase adulta sem ter sofrido nem um trauma, possuir um caráter
genital. Volpi & Volpi (2003) diz que tanto o próprio Reich, como também, Lowen não
acreditavam ser possível, dentro das condições da chamada “vida civiliza”, o
desenvolvimento de uma condição absoluta de saúde.
124
Observou-se, também, que os trabalhos corporais, realizados em cada
segmento possibilitaram o emergir de diversos sentimentos, o que confirma o relato
de Navarro (1996) a este respeito. Deste modo, com a análise, observou-se que
quando se trabalhou o 1º segmento, foi relatado: medo, terror, desorientação; no 2º
segmento, encontrou-se: raiva, tristeza, comoção, nojo e agressividade; no 3º
segmento, notou-se: controle e ansiedade de queda; no 4º segmento: angústia,
nostalgia, tristeza, solidão, ambivalência; no 5º segmento: angústia e ansiedade; no
6º segmento: medo, agitação e desespero, e no 7º segmento: destrutividade,
moralismo-repressão. Compreendeu-se, a partir daí, que corpo e mente influenciamse mutuamente.
Cabe colocar que, durante o trabalho com um segmento, observou-se que
outros foram afetados. Compreenderam-se estes processos corporais, partindo-se
do conhecimento de que os segmentos estão ligados emocionalmente; portanto,
vários segmentos são afetados durante um mesmo trabalho. Frente a estas
situações, foram necessárias novas intervenções, exigindo assim, o conhecimento
do manejo das técnicas reichianas.
É relevante mencionar que, durante a apresentação dos resultados,
procurou-se analisar as verbalizações feitas no início das sessões. Isto se faz
necessário, pois segundo Trotta (1999), as reações às técnicas reichianas podem
ocorrer, tanto na própria sessão, quanto posteriormente. Deste modo, o conteúdo
destas verbalizações comprova se de fato que ocorreu ou não algum
desencouraçamento, mudança de comportamento, estrutura de caráter, visto que
objetivo da terapia corporal é possibilitar que seu paciente chegue ou caráter genital.
Destaca–se aqui, que este trabalho teve seu foco voltado para as reações
às técnicas reichianas; sendo assim, procurou-se relatar algumas técnicas
125
específicas para cada segmento, aplicadas em quatro pacientes da Clínica de
Psicologia da Unesc. Onde foram escolhidas de forma intencional onze sessões.
Desta forma, o referente trabalho, não pretendeu mostrar o processo evolutivo da
terapia. Cabe salientar, que o processo terapêutico continuou e que muitas das
hipóteses levantadas durante a análise do caso, foram confirmadas. Assim também,
como foram aplicadas outras técnicas, e repetidas àquelas que se faziam
necessárias, pois citando novamente Navarro (1996), o acting deve ser repetido, até
que se torne agradável ao cliente, realizá-lo, o que confirma o desbloqueio.
De um modo geral, todos os objetivos traçados, inicialmente, neste
trabalho, foram alcançados e pode-se dizer que, a realização desta pesquisa
possibilitou o aprofundamento dos conhecimentos sobre a abordagem reichiana,
principalmente no que diz respeito às técnicas. Vale mencionar a importância da
realização de novas pesquisas, que possam mostrar também o processo evolutivo
da terapia, contribuindo desta forma, para uma melhor compreensão do processo
terapêutico na abordagem reichiana.
126
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