UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PSICOLOGIA KARLA REGINA RABELO O CORPO EM TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE EM PRONTUÁRIOS, SEGUNDO A ABORDAGEM REICHIANA CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009. 1 2 KARLA REGINA RABELO O CORPO EM TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE EM PRONTUÁRIOS, SEGUNDO A ABORDAGEM REICHIANA Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado para obtenção do Grau de Bacharel em Psicologia e psicólogo da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador: Prof. MSc. Jeverson Rogério Costa Reichow. CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009. 3 KARLA REGINA RABELO O CORPO EM TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE EM PRONTUÁRIOS, SEGUNDO A ABORDAGEM REICHIANA Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Psicólogo no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Criciúma, Dezembro de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof. Jeverson Rogério Costa Reichow - MSc - (UNESC) - Orientador Elenice de Freitas Sais - Especialista - (UNESC) João Luiz Brunel – Mestre - (UNESC) 4 Dedico este trabalho em especial os meus avós, Maria Valentina e Antônio Rabelo, que sempre acreditaram e incentivaram meu potencial; ao meu pai Antonio Carlos pelo investimento, e ao meu namorado Diogo Dalmolin, pela compreensão, tolerância e aconchego nas horas de desesperos. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por tudo o que tenho e pela força que tive que lutar para alcançar meus objetivos e por conquistar tudo que já conquistei. Aos meus avós, que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e incentivando em qualquer momento, principalmente nas dificuldades. Aos meus familiares pelo apoio. A todos os meus colegas, que sempre juntos, compartilhamos vários momentos, festinhas, alguns desentendimentos, mais que certamente estarão para sempre em meu coração. A Gi Rosa, uma amiga muito especial que esta sempre presente em todos os mementos, tanto bons como nos não tão bons, e que me deu uma força toda especial para concluir este trabalho. Aos professores, que contribuíram com todos os seus conhecimentos, possibilitando o nosso crescimento profissional e pessoal. Ao meu orientador Jeverson Reichow, que esteve sempre junto, ajudando na conclusão do meu trabalho e que também contribui muito ao meu crescimento pessoal com palavras reestruturantes e sábias. A todas as pessoas que me apoiaram e acreditaram em meu potencial, possibilitando a mim, a chance de crescimento profissional e a realização desse trabalho. A todos muito obrigado! 6 A vida brota a partir de milhares de fontes vibrantes, entrega-se à todos que a agarram, recusa-se tediosas, a ser aceita expressa em apenas frases ações transparentes, palavras verdadeiras e o prazer do amor....” Wilhelm Reich 7 RESUMO Esta pesquisa se baseia no estudo caso de quatro pacientes, baseado nos prontuários de atendimento da Clínica de Psicologia da UNESC oriundo dos atendimentos realizados nos estágios D e E, de onde foram extraídos os relatos de técnicas psicocorporais visando, sobretudo, analisá-los de acordo com a Abordagem Reichiana. Com esta pesquisa, procurou-se conhecer as reações psicocorporais que podem surgir no cliente durante as sessões de psicoterapia reichiana, e entender porque elas ocorrem. Pretendeu-se durante este trabalho, compreender os processos corporais decorrentes das técnicas reichianas; investigar as reações específicas dos clientes durante as sessões; analisar a relação corpo/mente a partir das reações psicocorporais emergentes em cada sessão; aprofundar conhecimentos sobre a abordagem reichiana em psicoterapia e conhecer o manejo das técnicas utilizadas nestas sessões. Para isso, foi utilizado o prontuário de quatro pacientes que foram atendidos pela autora desta pesquisa, na Clínica de Psicologia da UNESC. Destes prontuário, retirou-se o relato das sessões, que foram analisadas segundo a abordagem reichiana. Deste modo, conseguiu-se identificar as reações psicocorporais ocorridas durante e após as sessões. Pôde-se entender com esta pesquisa, que o corpo contém a história do indivíduo, portanto, trabalhá-lo possibilita o acesso às emoções mais profundas. Sendo assim, compreendeu-se a relação entre corpo e mente, pois ambos influenciam-se, mutuamente. Palavras-chave: Reações psico-corporais, Relação corpo e mente. Técnicas reichianas. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................13 2.1 Trajeto histórico de Wilhelm Reich ......................................................................13 2.1.1 O encontro com a psicanálise ..........................................................................14 2.2 Da vegetoterapia a orgonoterapia .......................................................................16 2.3 Couraça muscular ...............................................................................................20 2.3.1 Segmentos da couraça.....................................................................................23 2.3.1.1 Primeiro segmento: ocular.............................................................................23 2.3.1.2 Segundo segmento: oral ...............................................................................25 2.3.1.3 Terceiro segmento: cervical ..........................................................................26 2.3.1.4 Quarto segmento: torácico ............................................................................27 2.3.1.5 Quinto segmento: diafragmático....................................................................29 2.3.1.6 Sexto segmento: abdominal ..........................................................................30 2.3.1.7 Sétimo segmento: pélvico .............................................................................31 2.4 Etapas do desenvolvimento emocional ...............................................................33 2.4.1 - 1ª Etapa: Sustentação....................................................................................33 2.4.2 - 2ª Etapa: Incorporação...................................................................................36 2.4.3 - 3ª Etapa: Produção ........................................................................................37 2.4.4 - 4ª Etapa: Identificação ...................................................................................38 2.4.5 - 5ª Etapa: Formação do caráter ......................................................................39 2.5 Fase do Desenvolvimento Libidinal.....................................................................39 2.5.1 Fase Ocular......................................................................................................40 2.5.2 Fase Oral..........................................................................................................41 9 2.5.3 Fase Anal .........................................................................................................43 2.5.4 Fase Fálica.......................................................................................................44 2.5.5 Complexo de Édipo ..........................................................................................45 2.5.6 Período de Latência .........................................................................................47 2.5.7 Fase Genital .....................................................................................................48 2.6 Formação de Caráter ..........................................................................................48 2.6.1 Couraças de caráter.........................................................................................49 2.6.2 Tipos de caráter ...............................................................................................50 2.6.2.1 Caráter genital e caráter neurótico ................................................................51 2.6.2.2 Caráter Esquizóide ........................................................................................54 2.6.2.3 Caráter Oral...................................................................................................56 2.6.2.4 Caráter Psicopático .......................................................................................59 2.6.2.5 Caráter compulsivo........................................................................................61 2.6.2.6 Caráter Masoquista .......................................................................................63 2.6.2.7 Caráter Histérico ...........................................................................................65 2.6.2.8 Caráter Fálico-narcisista................................................................................66 2.6.2.9 Caráter Passivo-feminino ..............................................................................68 2.7 Metodologia da orgonoterapia.............................................................................69 2.7.1 Técnicas de desencouraçamento.....................................................................73 2.7.2 As reações frente às técnicas reichianas aplicadas em psicoterapia...............80 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................84 3.1 Caso clínico 01....................................................................................................84 3.1.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 9º sessão do estagio D)..................................89 3.1.1.3 Relato nº3 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D)................................91 3.1.1.4 Relato nº4 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E) ..................................94 10 3.2 Caso clínico 02....................................................................................................96 3.2.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática ..............................................100 3.2.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 8º sessão do estagio D)................................100 3.2.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D)..............................102 3.3 Caso clínico 03..................................................................................................103 3.3.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática ..............................................108 3.3.1.1 Relato nº 1 (4º sessão do estagio E)...........................................................108 3.3.1.2 Relato nº 2 ( 5º sessão do estagio E)..........................................................109 3.3.1.3 Relato nº 3 (8º sessão do Estagio E) ..........................................................110 3.4 Caso Clinico 04 .................................................................................................113 3.4.1Relato das Técnicas e Análise Teórica-Prática ...............................................117 3.4.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E) ................................117 3.4.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 5º sessão do estagio E) ................................119 4 METODOLOGIA...................................................................................................121 4.1 Delineamento ....................................................................................................121 4.2 Procedimentos ..................................................................................................122 5 CONCLUSÃO.......................................................................................................123 REFERÊNCIAS.......................................................................................................126 11 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho pretende mostrar o estudo de caso de quatro pacientes, baseado nos prontuários de atendimento da Clínica de Psicologia da UNESC durante os estágios D e E, de onde foram extraídos os relatos de técnicas psicocorporais visando, sobretudo, analisá-los de acordo com a Abordagem Reichiana. O referido trabalho tem como objetivo geral observar as reações psicocorporais que podem emergir no paciente durante um atendimento na abordagem reichiana. Tendo seus objetivos específicos caracterizados pelo interesse em compreender os processos corporais decorrentes das técnicas trabalhadas, investigar as reações específicas dos clientes e analisar a relação estabelecida entre o corpo e a mente, para, a partir destas reações, conhecer o manejo das técnicas reichianas e, por conseguinte, aprofundar os conhecimentos sobre a abordagem citada. A idéia de realizar este estudo de caso surgiu da importância de produzir um material de pesquisa que pudesse servir aos demais acadêmicos de psicologia, mais especificamente, àqueles interessados em aprimorar seus saberes a respeito da abordagem reichiana e focados em conhecer quais reações psicocorporais podem surgir durante as sessões de psicoterapia, bem como o efeito produzido por tais técnicas no tratamento psicológico. No referencial teórico procurou–se mostrar um histórico sucinto da vida de Wilhelm Reich e da criação de uma nova teoria que teve sua origem na psicanálise, a economia sexual. Na seqüência, mostrou-se brevemente a evolução da teoria da 12 orgonoterapia até vegetoterapia. Apresentou-se também, a descoberta da couraça e sua relação com as doenças psicossomáticas, os desenvolvimentos libidinal e emocional (segundo a psicoterapia corporal), a formação do caráter, e ainda, a metodologia da orgonoterapia. A parte concluinte do trabalho, comporta a apresentação e a análise dos resultados, finalizando com a metodologia aplicada e a conclusão da pesquisa. 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Trajeto histórico de Wilhelm Reich Wilhelm Reich nasceu em 24 de março de 1897 na Galícia, uma região histórica situada no leste da atual Ucrânia e sul da Polônia, e que fazia parte do antigo império Austro-Húngaro. Tempos depois, a família mudou-se para uma pequena cidade chamada Jujitnetz, província de Bukovina, onde seu pai, Leon Reich, adquiriu uma extensa propriedade rural, conta VOLPI (2000). O autor relata que devido ao ciúme e autoritarismo de seu pai, Reich, sua mãe e seus irmãos não podiam estabelecer contato com os camponeses vizinhos. Além disso, a distância do colégio mais próximo fez com que Willy (como era chamado pelos familiares) recebesse aulas em casa com instrutores contratados por seu pai. Aos oito anos de idade ele já havia montado seu primeiro laboratório de plantas e insetos, demonstrando um apreço especial por colecionar borboletas. Albertini (1994) afirma que nos relatos emocionais de Reich, ele fala que sua mãe manteve um relacionamento amoroso com seu segundo instrutor e que ele percebia o que estava acontecendo. Em alguns deles, Wilhelm Reich descreve cenas em que ouvia a relação sexual do casal. Ainda de acordo com Albertini (1994), outro fato que Reich julga ter sido marcante em sua infância, foi quando sua mãe entregou a seu pai a prova de que ele havia roubado uma certa quantia de fumo, pretendendo trocá-la por um suporte de madeira no qual armazenaria sua coleção de borboletas, e, por decorrência, 14 recebeu uma surra. Vale ressaltar que para Wilhelm Reich o maior prejuízo não fora a agressão física cometida pelo pai, mas o sentimento de traição por parte da atitude tomada pela mãe. Com doze anos de idade, Reich teve que deixar suas aulas particulares para estudar na cidade, porém, em seguida, recebeu a notícia que sua mãe havia cometido suicídio e que seu pai estava com tuberculose. Diante desta situação, ele voltou para casa, com o propósito de ajudar sua irmã cuidar da fazenda, mas tais fatores não o fizeram abandonar seus estudos, tanto que durante sua juventude Wilhelm Reich foi um brilhante aluno, muito voraz em suas leituras e repleto de ambições. Antes de concluir o segundo grau alistou-se no exército, e logo recebeu o comando de um pelotão no batalhão de infantaria. Ao fim da Primeira Guerra Mundial, Reich pediu dispensa da atividade militar. 2.1.1 O encontro com a psicanálise Wilhelm Reich ingressou em sua vida acadêmica aos vinte anos, iniciando-a no curso de Direito, e mudando, após seis meses, para o curso de Medicina. Já como acadêmico da saúde, começou a freqüentar os seminários ministrados pelo estudante de psicanálise Otto Fenichel, dos quais não participava tão ativamente, uma vez que a forma com que o estudante abordava o tema sexualidade gerava-lhe certo desconforto; afinal, baseado em suas próprias 15 experiências, Reich havia concluído que a sexualidade é o centro pelo qual gira a vida da sociedade. Volpi (2000) acrescenta ainda que foi na procura de Reich para saber mais sobre sexualidade, que ele chegou aos escritos de Freud e de outros autores. Destes estudos, que reuniram as mais diversas concepções, surgiu seu primeiro seminário. No mesmo ano Reich foi eleito presidente dos seminários e foi em um destes encontros que conheceu Sigmund Freud e engatilhou sua dedicação aos estudos da Psicanálise. Passou, desde então, a ser aluno de Freud e aos vinte e três anos foi aceito e oficializado como membro da Sociedade Psicanalítica. Mais tarde, em julho de 1922, graduou-se em medicina e deu início a pós-graduação em neuropsiquiatria. Reich dedicou três anos de sua vida para a investigação da sexualidade de pacientes neuróticos, os quais a Psicanálise não conseguia reverter o quadro, dando início a uma nova teoria que denominava “Teoria do Orgasmo”. Volpi (2008) conta que pelo fato de Reich ser o mais jovem entre todos os psicanalistas, somado à sua ansiedade em querer ir além do método tradicional utilizado pela abordagem, suas atitudes não estavam sendo bem vistas pelos colegas. A ausência de aprovação dos colegas não implicou em desistência, pelo contrário, fomentou cada vez mais as pesquisas sobre a teoria da libido, que, por sua vez, estava sendo deixada de lado por Freud, e então Reich tomou a liberdade de nomeá-la: Teoria de Economia Sexual, completa Volpi (2008). Diante das dificuldades encontradas pela Psicanálise e frente às resistências de seus pacientes, que não conseguiam se adequarem à regra básica de livre associação da idéia, Reich continuou seus estudos, acreditando que tais resistências estavam diretamente ligadas aos tipos de caráter dos pacientes. 16 Passou então do papel de analista passivo para intervir de forma mais ativa e efetiva sobre todos os processos patológicos do paciente, começando, dessa maneira, a desenvolver uma nova técnica de trabalho designada por ele de Análise do Caráter. A técnica da análise do caráter possui um plano definido, desenvolvido a partir da estrutura peculiar do paciente de forma a chegar às profundezas do inconsciente, podendo ir além da compreensão da linguagem falada, o que não é possível quando se faz uso das psicoterapias puramente verbais. (VOLPI, 2003, p. 8). Foi o trabalho sistemático com essa nova técnica, a Análise do Caráter, que levou Reich a perceber a íntima relação mente-corpo e a descobrir que toda couraça psíquica possui um equivalente somático, ou seja, uma couraça muscular. Essa couraça muscular é formada por tensões crônicas decorrentes de experiências traumáticas ao longo da vida, cuja função é, principalmente, proteger o indivíduo. Tal descoberta fez com que a técnica da análise do caráter deixasse de ser uma terapia unicamente psicológica e passasse a ser diretamente voltada ao trabalho corporal, mobilizando, dessa forma, o sistema neurovegetativo, originando a técnica da Vegetoterapia Caractero-analítica, o que acaba por incluir num só conceito o trabalho do aparelho psíquico e físico (VOLPI, 2000). 2.2 Da vegetoterapia a orgonoterapia Volpi (2000) diz que o nome Vegetoterapia foi eleito pelo fato de ser uma terapia que contempla o sistema neurovegetativo e caractero-analítica pelo fato de que, no decorrer da terapia, se tem a possibilidade de fazer a análise do caráter. 17 Reich concluiu que o corpo contém a história do indivíduo e que é por meio dele que a vegetoterapia busca resgatar as emoções mais profundas. Com isto, estabeleceu um princípio básico o qual afirma ser o “restabelecimento da mobilidade biopsíquica através da anulação da rigidez (encouraçamento) do caráter e da musculatura” (REICH, 1986 apud VOLPI, 2000, p.17) por meio da introdução de técnicas de intervenção corporais específicas (Actings), bem como a análise dos conteúdos verbalizados pelo paciente. A dissolução de uma couraça muscular não só libera a energia vegetativa como também reproduz a lembrança da situação de infância, fase na qual ocorreu a repressão do instinto. Raknes (1988) descreve “couraça caracterial” como sendo uma defesa unitária contra todas as emoções que, de alguma forma, eram percebidas como perigosas. Segundo reich as tensões musculares crônicas serviam para bloquear uma das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual. Portanto, cada vez que a couraça era dissolvida, emoções e lembranças da situação que provocou a couraça também eram explicitadas, mostrando assim a relação direta das emoções com o sistema neurovegetativo. (VOLPI, 2003, p. 19). A descoberta da couraça conduziu a uma inovação na técnica psicoterapêutica, que consistia em atacar as neuroses do ponto de vista somático, seja atentando o paciente sobre as tensões crônicas, seja fazendo-o sentí-las por meio da manipulação dirigida. Desse modo, diluindo os bloqueios e as tensões, podia-se atingir a consciência das emoções e das recordações até então completamente sublimadas, mesmo que o terapeuta houvesse conseguido supor quais eram elas através dos sonhos e das associações do paciente. Essas novas e inesperadas experiências eram sensações de correntes, que pareciam partir do 18 sistema nervoso vegetativo ou autônomo, e Reich chamou-as então de “correntes vegetativas”. (RAKNES, 1988). A Vegetoterapia diferencia-se segundo Volpi (2003) das outras terapias corporais, pois não se trata de uma técnica de liberação emocional, mas de uma metodologia que tem um protocolo, um projeto terapêutico e um fim, que focaliza no desbloqueio das couraças levando o indivíduo a se aproximar cada vez mais de uma condição de caráter genital. A vegetoterapia caractero-analítica é, portanto, uma vivência de práxis emocional, que permite ao indivíduo mudar a relação e a valoração do mundo por meio de uma visão e um sentir natural, e com isso chegar a um “ser com” em vez de um “ser para”. Ela não é uma técnica, ou seja, mecânica, mas uma metodologia ligada à disponibilidade que o terapeuta recuperou com seu training pessoal, quando superou a relação primária com a “mãe”, como definiu Arieti. Esse vínculo de dependência, inconsciente (e, para os reichianos, o termo inconsciente é um adjetivo e nunca um substantivo, um postulado, como para os freudianos!), explica a enorme dificuldade dos terapeutas selvagens que o exploram e o vivem. (NAVARRO, 1996, p. 9) Em seguida Reich mapeou os segmentos: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. Com base em seus estudos, ele descobriu que os bloqueios impedem o livre fluxo energético no indivíduo, e para compensar, o corpo adota novas posturas (olhos arregalados, tensão no maxilar, desvios na coluna, entre outros) (VOLPI & VOLPI, 2003). Diante do exposto, Reich elaborou as couraças de cada segmento para que pudesse ser realizado o trabalho de desencouraçamento ou o desbloqueio das mesmas, que tem início pelo primeiro segmento, chamado ocular, e segue seu direcionamento ao último, denominado pélvico. O fato de que os movimentos reflexos do corpo humano que apareciam quando o desbloqueio das couraças tinha imensa semelhança ou até mesmo podiam ser idênticos ao movimento dos protozoários observados em microscópios levou Reich, em 1936 e 1937 a realizar pesquisas de laboratório, as quais foram publicadas em 1938, na Noruega. “Nelas, buscava comprovar a existência de uma energia, que mais tarde chamou 19 de orgônio, a qual está envolvida em todos os aspectos da vida”. (VOLPI, 2003, p.12). Dando continuidade as suas pesquisas, Reich chega até a descoberta de uma energia que se encontra tanto dentro, quanto fora do organismo, a essa energia ele passou a designar a nomenclatura “orgone”, e, desde.então o termo vegetoterapia foi substituído por orgonoterapia, então, Reich construiu um simples aparelho estruturado com material orgânico e inorgânico, ao qual chamou de acumulador de orgônio. Desde o início de seus estudos Reich sempre deu vistas para pesquisas sobre bioenergia, e como em seu trabalho terapêutico o intuito era fazer com que o organismo regulasse e liberasse a energia corporal, chamou sua nova descoberta de “orgonoterapia”. A tarefa central da orgonoterapia é destruir a couraça. Em outras palavras, ela deve restaurar a mobilidade do plasma corporal. No organismo encouraçado, a função de pulsação de todos os órgãos é enfraquecida num maior ou menor grau. Cabe à orgonoterapia restabelecer a capacidade plena de pulsação, o que acontece biofisicamente quando se destrói o mecanismo de retenção. (REICH, 2004, p. 338) Volpi (2003) mostra que a orgonoterapia parte do princípio de que tanto a soma, como a psique, tem raízes comuns no sistema plasmático pulsante (sangue e sistema autônomo), por esse motivo não exerce influência sobre a função psicofísica em si, com exceção da raiz comum das funções psíquicas e somáticas, quando se trata de dissolver o bloqueio respiratório e do reflexo orgástico, dentre outras inibições de caráter biológico. Por isso, a orgonoterapia não é terapia psíquica, nem ao menos fisiológico-química, e sim, uma terapia biológica que se ocupa das perturbações da pulsação no sistema autônomo. O autor continua sua explanação, dizendo que a 20 orgonomia compreende o todo e se dedica ao estudo das manifestações da energia orgone nos micros e nos macros cosmos, bem como nos vivos e nos inanimados, objetivando reencontrar a capacidade do ser humano de regular a sua própria energia, e, conseqüentemente, seus pensamentos e emoções, podendo alcançar uma vida mais saudável. Mas o reconhecimento nem sempre vem no tempo desejado e, apesar de todas as descobertas, Reich ainda era interpretado como um impostor (charlatão). No entanto, no momento certo “seu trabalho produtivo abrangeu, em um período de quarenta anos, vários países” entre eles Viena, Berlim, Oslo, França e América. 2.3 Couraça muscular De acordo com Reich (apud de Volpi 2003), o mapa do corpo humano está dividido em sete segmentos: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. Mesmo não havendo uma relação anatômica entre eles, emocionalmente eles estão interligados. O segmento ocular está diretamente ligado ao segmento abdominal, segmentos estes que se relacionam ao medo, o segmento oral está ligado ao segmento pélvico, que, por sua vez, se referem à doação e recepção de prazer, e por fim, o segmento cervical que se liga ao diafragmático que está ligado ao controle e ansiedade. É válido ressaltar que o segmento torácico é o único que não tem relação direta com outro segmento, porém, além de ser influenciado, ele influencia o segmento cervical e diafragmático. Ter um corpo em equilíbrio é sinônimo de energia circulando livremente da cabeça aos pés, quando algo impede tal circulação 21 de energia, ocorre o que Reich denomina de “couraça”. Ele descobriu que todas as experiências traumáticas, dolorosas e ameaçadoras provocam uma tensão muscular com o propósito de proteger o indivíduo. Tal proteção foi denominada de “couraça muscular”. A couraça é componente dos mecanismos de defesa do Ego ou o componente somático dos traços neuróticos de caráter. O caráter se estrutura durante a infância e a adolescência, como resultado de um conjunto de experiências afetivas, senso-perceptivas e cognitivas, provenientes dos vínculos humanos que se estabelece. (TROTTA, 1999, p.22) Baker (1980) diz que a couraça impede a entrega orgástica total, de modo que o organismo nunca vivencia uma satisfação plena, ficando constantemente a sua espera. A couraça responde aos estímulos de prazer e dor, ou seja, em situações prazerosas o organismo está relaxado, já na dor a couraça se fortalece e contrai. Segundo Volpi (2003) a energia pode estar bloqueada em um ou mais níveis e cada bloqueio gera situações com peculiaridades específicas. De acordo com o glossário de termos rechianos, “couraça muscular” é a soma total das atitudes musculares (espasmos musculares crônicos) que o indivíduo desenvolve contra a irrupção de emoções e sensações de órgão, especialmente a angústia, a raiva e a excitação sexual. Reich dividiu a couraça em dois grupos (VOLPI & VOLPI, 2003, p. 23): • Couraça flexível: que acontecem em todos os animais vivos frente a ações ameaçadoras, mas que depois passam. • Couraça crônica: é aquela que se forma no início da vida. Completa Baker (1980) que são reações frente à ameaça, porém, neste caso, elas são 22 contínuas e a sensação de ameaça é permanente, de modo que com o tempo passam a reagir aos perigos internos e não mais externos. Segundo Volpi (2003), existem três tipos de couraças: • Couraça Tissular: Relativa a distúrbios hormonais e metabólicos, cujas conseqüências são: obesidade; edema; distúrbios de crescimento e puberdade; síndrome do “stress”; hipo ou hiperglicemia; distrofias e displasias de diferentes tecidos, tais como quisto, tumores, alterações hematológicas, degeneração neuromuscular, certas dermatoses, descalcificação óssea; e alteração no sistema imunológico. • Couraça Muscular: Caracterizada por hipotonias; hipertonias e espasmos musculares; alterações motoras; dificuldade respiratória e alteração na caixa torácica e distúrbios posturais, articulares e ósseos. • Couraça visceral: Cujas características são: distonias do sistema nervoso simpático e parassimpático que resultam em alterações cardíacas e circulatórias, tais como, hipoxemias regionais, hipo ou hipertensão, bradi ou taquicardia, constipação, etc; diarréia, alterações digestivas, insuficiência tais hepato-biliar; como: dispepsia, perturbações das secreções exócrinas e das funções sexuais oculares, bronquite, etc. Reich (2001) dizia que a couraça de caráter é a expressão concreta da defesa narcisista cronicamente implantada na estrutura psíquica. 23 2.3.1 Segmentos da couraça Volpi (2008) ressalta que o trabalho sobre a couraça psíquica e muscular permitiu que Reich mapeasse o corpo humano em sete segmentos, e, ao observar as tensões corporais, percebeu que elas se estabeleciam em formas de anéis de couraças, e segundo ele, um bloqueio em algum destes segmentos impede o fluxo energético e leva o corpo a adotar novas posturas. Baker completa (1980) dizendo que cada um dos segmentos inclui toda porção transversal, de modo que há vários anéis em relação aos ângulos retos da coluna. Detalhando os sete segmentos: 2.3.1.1 Primeiro segmento: ocular Este primeiro segmento, ou nível, como preferir chamar, e constituído, segundo Trotta (1993), de todo encéfalo, sistema visual, sistema auditivo, aparelho vesicular, sistema olfativo, todos os músculos do crânio, a pele, os olhos, os ouvidos e o nariz. De acordo com Volpi (2003) tais órgãos também são chamados de tele receptores, porque é por meio deles que se percebe a realidade externa. Navarro (1985) expõe a ideia de que assim que o bebê nasce, os olhos, o nariz e o ouvido deveriam ser imediatamente integrados ao funcionamento unitário, pois caso contrário, o indivíduo perde o contato com a realidade, o que acarreta em falsas relações e até dissociações. O autor, Navarro (1987), afirma ainda que: “o bloqueio do primeiro segmento é a reação do recém-nascido contra a atmosfera de rejeição e 24 destrutividade que encontra ao nascer”. Trotta (1993) completa seus raciocínio dizendo que o encouraçamento de tal segmento pode ser resultado da utilização repetitiva de distorções e inibições senso-perceptivas como recursos defensivos bem como da fixação de padrões emocionais. O bloqueio total deste segmento institui segundo Navarro (1995), num comportamento psicótico, já o bloqueio parcial expressa a presença de um núcleo psicótico. Em um individuo psicótico, percebe-se claramente que o sujeito “fugiu pelos olhos”, onde ele vê, mas não olha. Já no indivíduo com núcleo psicótico, tornando-se notório que em alguns momentos ele fica ausente, pois seus olhos não estão mais em contato com os do outro. Trotta (1993) acrescenta que o encouraçamento do primeiro segmento pode se manifestar de forma a afetar os olhos, ouvidos, nariz e os músculos superficiais, ou, de modo mais profundo, afetando o cérebro do indivíduo. O encouraçamento deste segmento envolve falta de contato, desatenção, desorientação, tonturas, dores de cabeça, torpor, diversas perturbações visuais, sensações de vazio na cabeça, dispersão e alterações na configuração do campo energético. Tendo como principal manifestação a falta de contato, dentre essas aparições de encouraçamento podemos destacar também as várias disfunções visuais, como, por exemplo, a mobilidade, estigmatização, convergência binocular, entre outros problemas oculares. Esses indícios contemplam ainda os distúrbios auditivos, olfativos, do sono, equilíbrio e coordenação motora, falta de contato, vertigem, ausências, disfunções emocionais, confusão mental, como também, vegetativas e hormonais. Reich (2001) Diz que o afrouxamento desta couraça poderá liberar um impulso reprimido de choro. 25 Trotta (1993) cita algumas patologias que estão associadas a este segmento, lê-se: síndromes psicóticas, cefaléia, epilepsia, alguns tipos de cegueira, problemas visuais como miopia, estrabismo, astigmatismo; além de sinusite, certas formas de surdez e a síndrome de Meniere, etc. 2.3.1.2 Segundo segmento: oral Este segmento é composto pela boca e seus anexos, glândulas salivares, mandíbula, masseteres, e pterigóides, além de todos os músculos faciais, suprahióideos, orofaringe e nasofaringe. De acordo com Navarro (1995) a boca, graças ao paladar, permite o bebê incorporar – introjetar ou rejeitar- o mundo exterior vivo através da amamentação. Parafraseando Volpi (2003), possibilita-se afirmar que um bloqueio neste segmento pode ocorrer nos primeiros nove meses de vida e estar associado à uma amamentação deficitária, precoce, brusca ou desmame tardio. Pode haver dois aspectos de oralidade: o primeiro está relacionado a uma oralidade insatisfeita, por causa de uma amamentação inadequada; e o segundo está relacionado à oralidade deprimida, causado por um desmame precoce ou ríspido. Trotta (1993) diz também que os lábios e todos envolvidos na função de sucção e nutrição estão relacionados ao principal objeto erótico da fase oral. Alimentar-se exprime também para o recém-nascido a necessidade de ser amado, garantido, e a possibilidade de se abandonar ao repouso, depois de saciado. Suas dificuldades alimentares são freqüentemente devidas a uma insegurança básica, sendo uma relação sadia com a mãe base para uma boa alimentação. Visto que a mãe é o objeto de amor, sua perda simbólica ou real causa no desenvolvimento psico-afetivo, uma condição depressiva, sendo uma de suas manifestações o ciúme. E, visto que a agressividade erótica oral do bebê para com o seio da mãe satisfaz sua fome, necessidade primária, a frustração dessa agressividade dá origem à destruição oral. (NAVARRO, 1987, p. 56) 26 O encouraçamento neste segmento resulta em transtornos dos impulsos orais básicos: Succional e Morder. Tal encouraçamento vai se manifestar por alteração anatômica e funcional da boca, evolvendo musculatura labial, oclusão e inserção dos dentes, salivação, deglutição, cronificações facial, perturbações alimentares, tais como bulimia e anorexia, e compulsões orais, por exemplo, fumar e roer unhas, afirma Trotta (1993). Trotta (1993) explica que dentre certas patologias orgânicas e psicopatologias associadas à ocorrência do bloqueio deste segmento, encontram-se as mais variadas formas de depressão e síndromes maníacas, bem como, gastrites, úlceras, bronquite asmática, colites, tuberculose, psoríases, enxaquecas, e distúrbios da função sexual (frigidez, impotência, ninfomania, vaginismo), incluindo ainda todas as patologias odontológicas. 2.3.1.3 Terceiro segmento: cervical Os componentes do segmento cervical são, respectivamente, as vértebras cervicais, os músculos do pescoço e de ligação deste com a cabeça, bem como a ligação estabelecida com a cintura escapular, com a língua, a garganta, as glândulas de tireóide e de paratireóides. O bloqueio do terceiro segmento pode ocorrer no período que vai do nono mês até a puberdade. Segundo Volpi (2003) é nessa fase que aparece o medo de castração, e de acordo com Navarro (1995), tal bloqueio leva à uma condição psicopatológica denominada de psiconeurótica. 27 Navarro (1996) afirma ainda que é neste segmento que se situa o narcisismo primário, ou seja, o sistema fisiológico, que devido as condições culturais foi transformado em narcisismo secundário. Trotta (1993) completa dizendo que as funções deste segmento estão relacionadas ao autocontrole, orientação, direcionamento ocular, equilíbrio e postura, expressão das emoções e da identidade. O encouraçamento de tal segmento se dá em situações em que nos deparamos com a ansiedade de queda, autocontrole, medo da entrega, bloqueio da expressão sonora das emoções e instinto de autoconservação, constituindo-se na principal sede das defesas narcisistas. As sensações de sufocamento, comuns quando este segmento encontra-se bloqueado, podem relacionar-se com angústia de felação ou com contenção do choro (TROTTA, 1999). Faringite, laringite, amigdalites, acne e outras dermatoses na face e pescoço, nevralgia cervico-branquial, sintomas associados à disfunção tiróide e paratireóide, entre outras, são patologias associadas ao encouraçamento deste segmento, conforme explana o autor citado anteriormente. Volpi & Volpi (2003), completa dizendo que o bloqueio deste segmento pode levar à outras conseqüências, como: artrose cervical e torcicolo. 2.3.1.4 Quarto segmento: torácico No quarto nível se encontra a caixa torácica e todos os órgãos internos, dentre os quais, pode-se citar o coração, pulmão e intestino, incluindo ainda as costelas, esterno, peitorais, além das manas e membros superiores. Trotta (1993) 28 destaca segundo Reich, que esta é a parte central da couraça, pois a contenção das sensações sempre envolve contenção respiratória. O início da função pulmonar no nascimento é precedido de angústia respiratória (toda angústia é basicamente uma angústia respiratória). Segundo Freud, a função do Ego é identificar e atenuar a angústia, é a separação da mãe é o protótipo de toda angústia. Logo, a respiração é a função corporal mais diretamente associada ao Ego, e sendo este primordial é essencialmente torácico (é essencialmente um conjunto de mecanismos respiratórios), o tórax acaba por ser considerado a sede de nossa identidade. Acrescentando ainda que este segmento é considerado o centro da afetividade que comporta a condição humana, pela sua estreita correlação entre os sentimentos e as funções cardíacas e respiratórias. O encouraçamento neste nível pode envolver perturbações na mobilidade respiratória torácica, alterando a capacidade de ventilação, de resistência torácica e capacidade pulmonar total. As principais emoções contidas neste segmento são: o choro, a raiva, a ansiedade, a capacidade desejante, os impulsos afetivos e a ambivalência. Segundo Trotta (1993), o bloqueio do choro está diretamente relacionado com resignação, medo de viver (de desejar) e de morrer. De acordo com Backer (1980) as recordações mais precoces de desapontamento e de maus tratos poderão surgir com a liberação das emoções do peito, em geral, bloqueado já cedo. Volpi & Volpi (2003) remata o pensamento colocando que as biopatias decorrentes do bloqueio do quarto segmento são ligadas ao coração e ao pulmão. Trotta (1993) conclui colocando como patologias associadas ao encouraçamento deste segmento: bronquite asmática, angina pectóris e enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca, neurose cardíaca, tuberculose, pneumopatias, 29 nevralgia braquial, artroses e doenças reumáticas dos braços e mãos, mal de Reynolds, mastites, displasia e tumores da glândula mamária. 2.3.1.5 Quinto segmento: diafragmático O quinto segmento (diafragmático) consiste em uma faixa de 12 a 15 cm de largura, que se estende desde a linha na altura da extremidade inferior do esterno até a borda das últimas costelas, compreendendo o diafragma e últimas costelas, estômago, duodeno, fígado, vesícula biliar, pâncreas, baço, plexo solar, glândulas supra-renais, os rins e diversos músculos da região tóraco-lombar e do abdômen. (TROTTA, 1993) Este nível é responsável pelas funções como: respiração, fonação, vômito, nutrição, regulação circulatória, desempenho da pressão intra-abdominal e regulação da autonomia-visceral, explica Trotta (1993). Este segmento estabelece relação com todos os outros segmentos. Trotta (1993) esclarece que o encouraçamento neste nível envolve a diminuição de mobilidade, ou seja, contrações-relaxamento alternados do diafragma, tendo dois bloqueios: o hipotônico, que é o diafragma flácido, que não consegue se contrair; e o hipertônico, que é o diafragma tenso, o espástico. Para Navarro (1987), é no diafragma que se encontra toda hostilidade em face de educadores repressivos; se no tórax se situa a ambivalência, aqui aparece à compulsão de repeti-la na esperança de finalmente encontrar o prazer. Úlceras, gastrites, diabete, pancreatite, congestão hepotobiliar, diversas hepatopatias, cálculo de vesícula, insuficiência pancreática, hipoglicemia, 30 insuficiência supra-renal ou hiperfunção supra-renal, piloro-espasmo, obesidade, neuroses de angustia, insuficiência renal, calculo renais, entre outros, são algumas das principais patologias causadas pelo encouraçamento deste segmento, diz Trotta (1993). A principal emoção bloqueada no segmento diafragmático é a raiva, que, por sua vez, está associada ao medo. Dentro deste bloqueio, existem duas subdivisões, uma delas está ligada ao medo primitivo, de origem neonatal, associada à hostilidade reativa e a angustia de abandono e de fragmentação, e deve ser abordada com muito cuidado e suavidade, pois geralmente está acoplada ao bloqueio do primeiro segmento. A outra está ligada ao medo de punição e a angustia de castração, associada à hostilidade dirigida às figuras repressoras da sexualidade, e pode ser abordada com intervenções mais enérgicas como, por exemplo, a estimulação do reflexo do vômito (TROTTA, 1999). 2.3.1.6 Sexto segmento: abdominal O sexto segmento é o abdominal, que inicia a três dedos acima do umbigo e termina quatro dedos abaixo deste, comportando os músculos abdominais e o intestino, além de ser ligado à função dos esfíncteres. Segundo Volpi & Volpi (2003), o bloqueio deste segmento, é proveniente do estresse que a criança sofreu durante o período anal do desenvolvimento, levando a uma tendência de retenção, que causa constipação, e um comportamento avarento, mesquinho e compulsivo por limpeza. Indivíduos com este segmento encouraçado são extremamente 31 organizados e detalhistas, valendo ressaltar que este é o segmento da couraça, mais intensamente ligado ao sentimento de medo. Trotta (1999) explica que o encouraçamento deste segmento, geralmente está associado ao medo neonatal ou ao medo das sensações pélvicas. A musculatura abdominal pode estar hipertônica ou flácida; a barriga pode estar insensível ou hipersensível, distendida ou contraída. Trotta (1993) revela que a barriga é uma região de grande sensibilidade, e o medo sempre vai acarretar disfunções de sexto segmento, uma vez que a região do umbigo guarda memórias ligadas à vida intra-uterina. O papel assumido pelo segmento abdominal reflete de um modo geral no estado de vitalidade, disponibilidade para o prazer, prontidão, determinação, noção de centramento e de limite. As funções intestinais de digestão, absorção, reconhecimento imunológico e produção peristáltica, têm evidente correlação com o estado emocional relacionado à figura materna. 2.3.1.7 Sétimo segmento: pélvico Fazem parte deste segmento todas as estruturas do baixo ventre e da estrutura pélvica: órgãos genitais, bexiga, uretra, ampola retal, anus, região sacra, músculos do diafragma pélvico, e todas as estruturas componentes dos membros inferiores. Trotta (1993) alega que tal nível tem duas funções fundamentais: genitalidade e embasamento postural. 32 Reich demonstra que o orgasmo sadio tem como unção a regulação do equilíbrio bioenergético (carga-descarga e fluidez energética), psicoemcional (como principal fonte de prazer, manter ativas as pulsões de vida, a motivação, a “capacidade desejante”) e anatômico-fisiologico (tônus simpático e parassimpático, tonicidade muscular e regulação vegetativa, hormonal e imunológica) do individuo. (TROTTA, 1996, p.39) A descarga orgástica fica bloqueada em graus variáveis, resultando no que se chama de impotência orgástica, que gera uma estase bioenergética crônica (estase da libido), que se constitui na base de todos os processos neuróticos e biopáticos. (TROTTA, 1999) O encouraçamento do sétimo segmento causa diversos sintomas (Reich, 1995) incluindo: prisão de ventre, lombalgia, tumorações de todo o tipo no reto, inflamação dos ovários, pólitos no útero, tumores benignos e malignos, irritabilidade na bexiga, anestesia da vagina ou na superfície do pênis, hipersensibilidade da uretra, além de corrimento acompanhado do desenvolvimento de protozoários no epitélio vaginal. Pode haver ainda o encouraçamento da parte superior das pernas, que tem uma conexão direta com conteúdos ligados a sexualidade genital, ao passo que se ocorrer na parte inferior, tal encouraçamento pode estar ligado ao embasamento postural ou à ansiedade que queda. Outras possíveis patologias relacionadas a este segmento, de acordo com Trotta (1993), são: cistites, dismenorréias, síndrome pré-menstrual, vaginites, uretrites, hemorróidas, varicocele, pólipos, tumores e cistos, varizes nas pernas, artroses nas articulações da virilha, joelho e tornozelos, lumbago, convulsões e desmaios histéricos, “síndrome das pernas inquietas”, esterilidade e nevralgia do ciático (podendo levar a paralisia). 33 2.4 Etapas do desenvolvimento emocional De acordo com a orgonomia o homem é visto como a expressão da energia que fora denominada por Reich (apud Volpi, 2002) de orgone. Tal energia está presente desde a formação dos óvulos e dos espermatozóides e, em um movimento contínuo, vai se somando com as outras energias, movimento este, que segue uma seqüência lógica de maturação. O autor explica ainda, que tais etapas representam momentos de passagem que induzem à incorporação de passagem e determinam a entrada e saída de uma etapa sucessiva. E que cada etapa tem seus fenômenos específicos e que trazem consigo a genética da célula, valores biofisiológicos, emcionais-afetivos e intelectuais. Volpi (2002) aponta ainda que se uma criança conseguir passar por todas as etapas do desenvolvimento sem sofrer comprometimentos entre seus impulsos naturais e as frustrações impostas, chegará naquilo que Reich chamou de caráter genital. Porém, caso ocorra alguma frustração ou repreensão de forma severa, poderá ocorrer uma fixação na fase em que a criança se encontrará, podendo, assim, aparecer futuras marcas em seu caráter. 2.4.1 - 1ª Etapa: Sustentação 34 A sustentação é a primeira etapa do desenvolvimento, tendo seu início na fecundação e seu término no momento do nascimento. Segundo Volpi (2002) o útero é o primeiro ambiente em que se encontra o bebê durante seu desenvolvimento emocional, onde o contato se dá com a mãe por meio de suas paredes e do cordão umbilical, que irá sustentar e nutrir o bebê em formação, trata-se de uma troca corporal de energia orgonótica entre a mãe e o bebê. O nível de energia do embrião será determinado pelo nível de energia do útero da mãe diz REICH (apud Volpi, 2002). Durante essa primeira etapa, o bebê atravessa três fases, denominadas: segmentação, embrionária e fetal. a) Fase de segmentação A formação da vida começa a partir de sua fecundação, logo, essa primeira fase tem início desde a concepção e vai até o momento da fixação do zigoto nas paredes uterinas, que ocorre por volta do 5º ao 7º dia de gravidez. De acordo com Volpi (2002), trata-se de um processo muito delicado, no qual há um gasto elevado de energia e requer muito cuidado por parte da mãe que, por sua vez, deve evitar situações de medo, estresse, angústia, ou qualquer tipo de emoção que altere esse processo energético ou impeça a nidação do zigoto nas paredes uterinas. O bebê precisa de um útero receptivo, pulsante e acolhedor, completa o autor. b) Fase embrionária Volpi (2002) explica que essa fase inicia após a nidação do zigoto e se estende até o final do segundo mês de gestação. É nesta etapa começa a formação 35 do cordão umbilical que sustenta o embrião nas paredes do útero materno. No entanto uma situação estressante para a mãe é capaz de ativar os mecanismos endócrinos maternos interferindo no desenvolvimento físico e energético do bebê, este pode reconhecer como uma ameaça de aborto e pode provocar alteração de informações genéticas transmitidas às células. c) Fase fetal A fase fetal inicia no terceiro mês de gestação e se estende até o nascimento. Nesta fase, como a placenta já esta formada, a energia que o bebê recebe passa a vir da própria mãe por meio do cordão umbilical. É também nesta fase que ocorre a formação do cérebro e do sistema neurovegetativo, explana Volpi (2002). A partir deste momento, o bebe já é capaz de reagir a estímulos auditivos, luminosos gustativos táteis e até mesmo olfativos explica o autor. Volpi (2002) conta que em estudos recentes descobriu-se à existência de um pequeno órgão oro-nasal, que desaparece logo após o nascimento, e tem a função de sentir o sabor do ambiente líquido que geralmente é alterado pelas endorfinas. Por exemplo, quando a mãe é agitada e ansiosa descarrega hormônios com sabor desagradável, contrapondo-se à essa situação, quando a mãe sente-se bem e relaxada, libera endorfinas que o bebê percebe como um gosto bom. É de grande importância a presença do pai durante a formação do feto, pois além de uma gestação tranqüila, eles contribuem muito para a saúde do bebê. A fixação nesta etapa é denominada por Navarro (1995) como núcleo psicótico, cujas características posteriores serão de pessoas confusas em seus pensamentos, ideias e emoções, isoladas, que apresentam doenças de pele como alergias, dificuldade de contato físico, astigmatismo, anorexia e outras biopatias. 36 2.4.2 - 2ª Etapa: Incorporação Essa etapa começa logo após o nascimento, e vai até o desmame, que deve ser por volta do nono meses de vida concomitantemente ao surgimento dos primeiros dentes, que o possibilitarão à mastigação e tritura de seu próprio alimento. Nesta etapa o seio da mãe é o alvo do bebê, que introjeta tudo o que vier do mundo externo começando pelo bico do seio disponível, pelo sabor do leite, o cheiro e os olhos atentos da mãe, as mãos acolhedoras, o contato com a pele, e pela disponibilidade da matriarca em amamentar, explica Volpi (2002). Volpi (2002) completa, afirmando que um dos motivos pelo o qual o bebê não quer mamar no peito pode ser o gosto amargo do leite, devido a descarga de bile, produzida pela ansiedade e agitação da mãe. Cabe lembrar que até o nono mês de vida, o bebê não possui lágrimas e caso ele chore de força estressora por muito tempo, poderá haver um futuro comprometimento de sua visão. Não dar limites nas mamadas neste período e acompanhar o ritmo do bebê é muito importante, pois o bebê geralmente demonstra por meio de choro, balbucios e agitação, a hora que está com fome. Gradativamente vai descobrindo que ele não faz parte da mãe e começa a explorar o ambiente e as pessoas a sua volta, se auto-reconhecendo o conhecendo outro, daí então começa a engatinhar e dar os primeiros passos conclui Volpi (2002). Navarro (1995) verificou em seus estudos que um desmame precoce determina a cobertura de uma oralidade insatisfeita. Caracteriza como sendo uma condição borderline cuja característica básica é a depressão. Os indivíduos tornamse dependentes, carentes, e, geralmente, buscam algo ou alguém para se 37 apegarem. Dentre as doenças biopáticas mais comuns, encontram-se o bruxismo e bulimia. 2.4.3 - 3ª Etapa: Produção Tal fase inicia-se com o desmame e se estende até meados dos três anos de idade. Nesta fase a energia da criança está toda voltada para a construção de pensamentos, brincadeiras, gestos, jogos e relacionamentos, além de estar produzindo sua urina e fezes, explica Volpi (2002). Ocorre também o desenvolvimento da autoconsciência, permitindo assim que ela desenvolva a capacidade de antecipar acontecimentos, por exemplo, mesmo que não estejam com os pais, têm o conhecimento de que eles vão voltar. Nesta etapa as crianças passam a imitar os pais em busca de modelos, são muito curiosas e procuram descobrir o mundo, sozinhas, por isso não costumam aceitar ajuda. Volpi (2002) ressalta a importância de tomar cuidado com as preocupações excessivas, principalmente àquelas de ordem fisiológica. Não exigir a detenção de suas necessidades físicas antes dos 18 meses, trata-se de um processo de ensinamento gradual. Um trauma nesta fase pode tolher a espontaneidade da criança, deixando-a numa situação de submissão ao genitor, que acaba por frustrá-la. 38 Outra marca desta etapa, explica o autor, é a evolução do brincar repetitivo para o brincar construtivo, portanto é comum o surgimento de amigos imaginários mesmo que a criança já seja capaz de distinguir fantasia de realidade. Navarro (1995) completa dizendo que uma fixação nesta etapa pode tornar um adulto com traço de caráter psiconeurótico. Quando a mãe é severa, repressora, punitiva e coloca a criança numa posição de humilhação, por exemplo, obtêm-se os adultos masoquistas. Outro traço que pode se desenvolver é o de caráter compulsivo, para melhor entender, expõe-se uma situação em que a mãe é extremamente exigente com ordem e limpeza e é moralista, dentre várias biopatias, pode-se mencionar às relacionadas aos intestinos. 2.4.4 - 4ª Etapa: Identificação Tem início no quarto ano de vida, momento em que a energia da criança está voltada para a descoberta dos genitais e para a diferença entre os sexos. Volpi (2002) conta que é quando surgem os primeiros questionamentos de ordem sexual e é também nessa etapa que ocorrem as primeiras masturbações com leve fricção do genital, desprovidas de qualquer intenção ou fantasia, e que deve ser encaradas pelos pais como algo natural e, principalmente, sem punições. O autor completa falando que aos poucos a criança vai alcançando sua individualidade, saindo do colo dos pais, brincando sozinha, voltando-se cada vez mais para o campo social. Mais tarde a criança começa a ter consciência de que seu sexo será sempre o mesmo e assume seu papel sexual. Essa fase tão importante denomina-se “conservação”. 39 De acordo com Navarro (1995) a má elaboração desta etapa poderá acarretar em indivíduos com traços de caráter neurótico, onde se encontram os fálicos narcisistas e os histéricos. Em meio as biopatias relacionadas à esse traço, pode-se enfatizar os problemas de ordem sexual, miomas uterinos, dentre muitos outros. 2.4.5 - 5ª Etapa: Formação do caráter Esta fase tem início aos cinco anos de vida e se estende até a puberdade, época em que a formação da estrutura básica do caráter se completa. Nesta etapa começa a ocorrer a identificação da criança com o pai do mesmo sexo e a masturbação fica mais evidente. Devagar a criança vai encontrando a sua própria identidade, e se conseguir chegar nesta etapa sem bloqueios ou fixações das fases anteriores, poderá estruturar o chamado caráter genital que, segundo Reich, é auto-regulado, equilibrado e maduro Volpi (2002). É este tipo de caráter que se procura elaborar no processo psicoterápico. 2.5 Fase do Desenvolvimento Libidinal Segundo Backer (1980) existem quatro zonas erógenas principais, e cada uma delas prepondera num certo estágio do desenvolvimento emocional, que são: os olhos, a boca, o ânus e os genitais, que têm como principal função, o contato com 40 o meio ambiente. Clapier (1988) faz uma ressalva bastante pertinente e afirma que assim como ocorre o amadurecimento do corpo, ocorre, paralelamente a ele, uma maturação das pulsões. 2.5.1 Fase Ocular De acordo com Backer (1980) a zona ocular é o primeiro contato específico que o bebê tem com o meio ambiente, por isso é a primeira área a ser traumatizada. Um trauma ocular pode ser causado tanto por aplicação de um colírio após o nascimento, quanto o encontro do bebê com expressões emocionais frias, ameaçadoras ou de ódio, sendo que essas são muito mais prejudiciais, visto que é vital para o desenvolvimento da criança, a sensação de aceitação e de bem estar. Backer (1980) explica que para ocorrer um bloqueio nesta fase é necessário um comportamento contínuo, pois, caso haja algum problema isolado, o bebê poderá superar. Entretanto se tratar-se de uma mãe realmente hostil, extremante ansiosa ou emocionalmente estéreo, de fato haverá dados graves, inibindo o desenvolvimento dos olhos e a visão binocular, ou, por exemplo, quando a falta de contato da mãe chega ao extremo, este comportamento poderá gerar uma criança autista. Em contrapartida, um bom relacionamento afetivo com o bebê desenvolverá olhos saudáveis, e possibilitará um bom contato com o ambiente e à formação de uma integração adequada por parte do indivíduo. É muito difícil passar por esta fase sem sofrer nenhum tipo de trauma, pois existe uma crença de que os bebês não conseguem focar seus olhos antes das seis semanas de vida extra-uterina. (BACKER, 1980). 41 2.5.2 Fase Oral A fase oral corresponde aos dezoito primeiros meses de vida, nesta fase a zona erogéna é a boca, pois é atravês dos lábios e da língua que a pulsão básica do bebê é sátisfeita, pois receb o alimento para atenuar suas tensões de fome e sede. Fadiman (1980) afirma que o processo da amamentação não está somente na alimentação, mas abrange o carinho, conforto e carícias que o bebê recebe enquanto alimenta-se. Friedman (2004) completa dizendo que os bebês impulsionados a satisfazer suas pulsões de sede e fome, procuram o peito da mãe ou a mamadeira, seguros do prazer que o ato pode proporcionar. Backer (1980) evidencia que o contato com a mãe é de extrema importância para o bebê. Durante nove meses, o feto fez parte intrínseca de seu corpo e, mesmo depois do nascimento, continua sendo altamente dependente. Essa cumplicidade entre os dois organismos ocorre em várias situações, incluindo aquelas em que se eles compartilham de sensações de excitação. Mãe e filho excitam-se mutuamente, dando um ao outro a faísca e a intensidade vital indispensáveis ao desenvolvimento e ao crescimento. Esse estímulo atinge seu ponto mais alto no ato da amamentação. É nesse momento que o bico do seio da mãe fica cálido, ereto e vibrante, produzindo, dessa maneira, freqüentes convulsões orgásticas no bebê. O alimento recebido da mamadeira pode ser igualmente nutritivo, mas esse é um ponto de vista técnico que não contempla o contato e a excitação. 42 Volpi (2003) salienta que a questão afetiva encontra-se na etapa do desenvolvimento infantil, e abarca a amamentação. Na verdade, fala-se de uma relação mulher-mãe com um bebê, que pode ser tanto do sexo masculino, como do sexo feminino. Mas, a questão fundamental é que essa mulher-mãe vai ser o primeiro contato afetivo do bebê. É ela quem vai ensiná-lo a se relacionar e a amar, pois, dependendo da posição subjetiva, energética e afetiva dessa mãe, o bebê vai ter uma possibilidade de contato mais, ou menos saudável. Fadiman (1980) diz ainda, que a boca é a primeira área do corpo que o bebê pode controlar, portanto a maior parte da energia libidinal está direcionada, ou focada, para essa região. Conforme a criança vai crescendo, vão surgindo outras áreas que passam a proporcionar prazeres, e sob esse escopo, conclui-se que uma criança que teve suas necessidades saciadas nesta fase, prossegue o seu desenvolvimento. Contrapondo-se à esse argumento, tem-se a criança que teve algum problema relacionado ao desmame, sendo precoce ou tardio, que pode criar alguma fixação de nível oral, podendo no futuro gerar tipos de caráter que enfrentem problemas com cigarro, obesidade, entre outras patologias ligadas a oralidade. É válido lembrar que todos os indvíduos têm traços orais, e que só se pode considerar algo como sendo uma patologia , quando esse predominar mais que os outros e passar a ser o objeto de satisfação. 43 2.5.3 Fase Anal Entre os dois e quatro anos é que a criança aprende a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. O treinamento para ir ao toalete gera uma curiosidade natural na criança, despertando-a para a auto-descoberta. Fadiman (1980) continua explicando que nessa fase o objeto de prazer está relacionado à descoberta do controle fisiológico. Friedman (2004) alega que o prazer, na verdade, está conexo ao alívio proporcionado pelo ato de defecar. A sensação de satisfação e de orgulho que a criança vivencia quando produz um movimento intestinal é extremamente importante para ela. Nesse instante, ela estará aprendendo a separar-se de sua mãe e a formar uma identidade independente, completa Backer (1980). O autor continua explicando que se a criança tiver uma mãe repressora, somado à um treino precoce ou que faça uso de um severidade para a ida ao banheiro, impede a satisfação de eliminar os detritos e de atingir um controle natural de tal processo. Podendo assim, provocar uma fixação em tal fase, pois tanto o treino prematuro, como o severo, atrapalham o desenvolvimento natural da criança. De acordo com Friedman (2004) algumas crianças começam a ter prazer na retenção das fezes ou liberação sem controle das fezes, pois assim tem um controle sobre os pais. O autor citado salienta alguns traços de caráter de adultos fixados nesta fase: satisfação com a modalidade do intestino grosso, gostar de fazer desordem ou até atrapalhar a vida do outro, problemas relacionados à mesquinhez, entre outros. 44 2.5.4 Fase Fálica Esta fase pode ocorrer por volta dos quatro anos, um pouco antes ou depois dependendo do desenvolvimento da criança. A grande descoberta deste período da criança é a descoberta do pênis, ou a falta de um, relacionando tal descobrimento à questão da identidade, tornando-se, a partir de então, consciente da diferença sexual, conforme explana Fadiman (1980): A descoberta de que é castrada representa um marco decisiva no crescimento da menina. Dá partem três linhas de desenvolvimento possíveis: uma conduz à inibição sexual ou a neurose, outra modificação do caráter no sentido de um complexo sexual masculino e a terceira, finamente, à feminilidade normal (FREUD 1933 apud FADIMAN, 1980, p.14). Nesta fase a criança desperta a compreensão de identidades que ajuda a entender que as coisas são sempre as mesmas, ainda que mudem de forma, tamanho ou aparência. A compreensão da causa-efeito ajuda a entender que se quebrar um brinquedo, ele vai ficar quebrado a às vezes não dá para consertar. A capacidade de classificação vai ajudá-la a aprender as semelhanças e diferenças entre as coisas. Os especialistas dizem que aos quatro anos uma criança é capaz de reconhecer dois critérios de categorização. Pode-se dividir, por exemplo, as crianças que conhecidas em baixas e altas, e em as que têm cabelos pretos e as que têm cabelos amarelos. (VOLPI & VOLPI, 2003). Nesta fase os objetos que os propiciam prazer, vinculados a excitação sexual, são as genitais. Entretanto, o mais confuso para as crianças é que atos sexuais não podem ser feitos em público, ou pior, muitos pais repreendem de tal 45 forma que a criança cria uma tensão por não saber o porquê está tendo uma sensação que, segundo o pai, é tão feia. Explica Fadiman (1980). As fixações nesta fase podem ocorrer dependendo da forma com que o pai vai reagir ao exibicionismo genital do filho. Backer (1980) explica que se houver uma repreensão muito forte por parte do pai, ou do sexo aposto, pode ocorrer uma frustração por parte do filho. 2.5.5 Complexo de Édipo De acordo com Segal (1975), o Complexo de Édipo se inicia nos primeiros anos de vida e possui um começo semelhante em ambos os sexos, sendo o seio materno o primeiro marco para a situação edípica. O autor completa, definindo as características do princípio da fase edípica como sendo, essencialmente, três etapas, que se trata da ambivalência, tendências orais e da incerteza da escolha. A ambivalência acontece quando os pais são muito desejados e amados, mas, ao mesmo tempo são excessivamente odiados. Os ataques dessa peculiaridade visam o relacionamento entre o pai e a mãe, já que esta relação é vista e sentida como uma relação ameaçadora. As tendências orais afloram, devido ao fato de que os objetos libidinais têm origem de sua incorporação por via oral dos objetos desejados. E, a terceira característica, a Incerteza da Escolha, decorre ao longo do desenvolvimento do indivíduo, fase em que a escolha entre os pais sofrerá variação, ora escolhendo um e ora outro, da mesma maneira que variam os objetos agressivos. 46 Tal etapa se define por volta dos 3 aos 6 anos de idade, pois os primeiros anos de vida os filhos têm a mãe como alvo de ciúme, sentindo-se contrariados com a presença paterna, inversamente a essa afirmação é a reação das filhas com relação ao pai, se sentido desconfortáveis com a presença da feminilidade materna. De acordo com Volpi & Volpi (2003) na fase edipiana, as sensações sexuais em relação ao genitor do sexo oposto carregam-se de culpa, medo e ódio, sendo difícil ser resolvida sem distúrbios. Cloninger (1999) explica que essa complexidade ocorre de modo mais significativo quando o menino cria uma rivalidade com o pai e passa a ter a mãe como seu objeto de desejo, gerando assim, uma angústia de castração, pois se o pai souber de seu desejo reprimido, poderá castigá-lo com atitudes que lhe privem dos órgãos sexuais. A criança no Édipo contém seus anseios e passa a sentir culpa pela sua sexualidade, além de demonstrar medo das figuras de autoridade. As fantasias dos meninos, nestes estágios iniciais, concentram-se na relação sexual com a mãe, na menina a fantasia direciona-se na relação sexual com o pai e angústia com relação a figura intimidante da mãe. A “resolução” se dá quando a criança, ao escolher o genitor do sexo oposto como objeto de seus anseios, desenvolve a competitividade em relação ao genitor do mesmo sexo. A criança vivencia sentimentos de aceitação e submissão ao poder parental que se traduz na formação do superego, nesse caso o medo da castração, em nível simbólico, mantém o genital, mas, retira-lhe a função. Volpi (2003) explica que essas tensões geradas pelo meio externo bloqueiam os movimentos expressivos de sentimentos e sensações e tornam-se inconscientes com o tempo. Por mais que a genética não permita, “O primeiro objeto de amor é sempre incestuoso - mãe, pai, irmãos - e somente a força de severas proibições é 47 que consegue reprimir essa inclinação infantil”. (SILVA, 1968, p. 145). O autor acrescenta que os neuróticos sofrem uma grande frustração nesta fase, pois permanecem submissos à autoridade paterna e são incapazes de transportar a sua libido a um objeto sexual não incestuoso. 2.5.6 Período de Latência Mais tarde, com a entrada na puberdade, o individuo enfrenta o luto de abandonar o corpo infantil e passar por mais um processo, esta etapa inicia-se entre 6 e 7 anos, estendendo-se até a puberdade, que, por sua vez, acontece por volta dos 10 e 11 anos. Durante a latência ocorre um contato intenso com múltiplos objetos reais que funcionam como substitutos dos alvos primários (pai, mãe, irmãos), ou seja, as pulsões são deslocadas para outros elementos. O período de latência se instala pela impossibilidade de tornar efetiva a satisfação das pulsões sexuais, este fator deriva da proibição do incesto. No período de latência o superego já está completamente constituído. (SILVA, 1968). Nesta fase ocorre ainda a repressão do choque entre os desejos infantis e as proibições dos adultos, e dá-se a resolução do Édipo. Segundo Silva (1968), o indivíduo separa sua mãe de seus desejos libidinosos para recair num objeto real e não mais incestuoso. Este tipo de trabalho é o que se impõe a homens e mulheres, porém, em alguns raros casos, os indivíduos conseguem sua finalidade ideal, isto é: desenvolver-se tanto psicológica como socialmente. 48 2.5.7 Fase Genital A fase genital precede o período de latência, é quando ocorre a organização genital que se instala na puberdade e quando as pulsões parciais estão definitivamente integradas sob a primazia genital específica de cada sexo. Trata-se do estágio final do desenvolvimento libidinal instintual. Segundo Silva (1968), a libido tem que transpor vagarosamente todas as etapas do desenvolvimento sexual. Caso o curso de desenvolvimento não ocorra normalmente, ocorrerão as chamadas fixações libidinais, que acabarão por interferir na precedência e no funcionamento genital adequado na vida adulta. 2.6 Formação de Caráter Na concepção de Reich (2004) o caráter consiste numa mudança crônica do ego cuja finalidade é protegê-lo contra os perigos internos e externos. Forma-se como resultado dos choques entre as pulsões e as frustrações do mundo externo, e acontece em cada etapa do desenvolvimento emocional pela qual o bebê passa. Caso a criança passe por todas as etapas do desenvolvimento de maneira saudável alcançará um caráter, denominado por Reich, de genital, mas, se a criança obtiver qualquer tipo de bloqueio em alguma das etapas, ela, consequentemente, desenvolverá um caráter do tipo neurótico. Volpi (2008) completa, dizendo que o caráter é a forma com que a pessoa se mostra e se relaciona, são as atitudes, somadas ao temperamento e à personalidade. 49 Navarro (1995) explana que a formação do caráter inicia no desmame, donde começa a atividade neuromuscular ativa e intencional, verificando-se também a passagem da motilidade à mobilidade. Um desmame precoce, por exemplo, determina a cobertura de uma oralidade insatisfeita, transformada pela neuromuscularidade prematura em oralidade reprimida (depressiva). Mas esse sintoma pode aparecer de repente, uma vez que o caráter necessita de muitos anos para se desenvolver. (VOLPI & VOLPI, 2003). Segundo Volpi & Volpi (2003) as experiências passadas, ou seja, vividas na infância deram-se por meio de defesas caracterológicas que fizeram sentido na meninice. No intuito de proteger o ego em formação, tais experiências mantêm-se presentes na idade adulta, inconscientes, mesmo quando sua utilidade prática e até mesmo suas necessidades já não existem. A partir da compreensão da dinâmica das primeiras relações vinculares pode-se chegar ao entendimento do funcionamento do indivíduo na atualidade. 2.6.1 Couraças de caráter De acordo com Navarro (1995) caráter é o modo habitual do indivíduo agir e reagir à fatos e pessoas. Diz ainda que caráter, na verdade, torna-se a formação necessária para manter o equilíbrio psíquico e para defender-se das frustrações e das agressões do ambiente. Não há comportamento sem esforço muscular, e se essa necessita de expressar-se for impedida por repressão (...), ou se não há possibilidade de expressar-se de uma certa maneira (...), nesse determinado momento, a impossibilidade de expressar-se agindo muscularmente fica retida, 50 ancorada nos músculos . Para mim, tudo o que diz respeito à memória emotiva está ligada aos músculos e tudo o que diz respeito à memória intelectiva está ligada à célula nervosa. (NAVARRO, 1995, pag. 18) Trotta (1993) diz que couraça é o componente somático dos mecanismos de defesa do Ego, ou o componente somático dos traços neuróticos de caráter. É, portanto, uma defesa contra os perigos do mundo externo e do mundo interno que, por meio do desequilíbrio energético, ela é construída a finalidade de equilibrar esse sistema energético. Reich descobriu que os distúrbios psicoemocionais estão associados à disfunções anatômico-fisiológicas diversas, os quais são parte integrante, como um par funcional, de um sistema unitário. A este conjunto de disfunções corporais, ele denominou couraça. A couraça inclui disfunções musculares, viscerais e hormonais, que se instalaram como defesa contra o medo gerado por eventos traumáticos e situações de ameaça e sofrimento crônico da história de vida da pessoa, explica Trotta (1999). Reich completa dizendo que o processo de encouraçamento pode iniciar-se em fases muito precoces do desenvolvimento, incluindo nesse rol, a vida intra-uterina. 2.6.2 Tipos de caráter Segundo Volpi (2003) a caractereologia só faz sentido como instrumento de mudança na vida de um paciente, não tendo significado algum a sua utilização como mero instrumento classificatório. 51 2.6.2.1 Caráter genital e caráter neurótico Reich (2004) explica que o estado de caráter neurótico sofre uma crescente estase da libido, precisamente porque seus meios de satisfação não são adequados às necessidades do aparelho pulsional, podendo assim, ocorrer uma frustração e passar a uma fixação na fase do desenvolvimento libidinal que se encontra. O caráter genital é governado por uma firme alteração entre a tensão e a satisfação adequada da libido, de acordo com Trotta (1993) o caráter genital é a atitude extra biopsíquica adulta saudável, isenta das fixações pré-genitais. Volpi (2008) aponta algumas características como sendo típicas de um caráter genital emocionalmente livre para manifestar suas necessidades e satisfazêlas, dentre as quais se podem ressaltar: o Ego e o Superego em plena harmonia, o afeto presente em todos os instantes, além de uma economia sexual bem organizada. Já o caráter do tipo neurótico é imaturo no aspecto psico-afetivo e a libido fica estagnada em uma ou mais etapa do desenvolvimento. Lowen (1977) completa dizendo que todo caráter genital é, essencialmente, não neurótico. Reich (2004) conclui que o caráter neurótico é sempre relativamente impotente, ou seja, a fixação sexual infantil perturba a função orgástica que gera uma estase da libido e esta, ora contida, intensifica as fixações pré-genitais e assim consecutivamente. O caráter pode tornar-se uma resistência tanto na vida cotidiana como quanto durante o tratamento, ele desempenha função semelhante a de proteção psíquica. Sendo assim, o caráter, igualmente na vida diária e na análise, serve como meio de evitar o que é desagradável, estabelecendo e preservando um equilíbrio 52 psíquico, mesmo que neurótico, e por fim, consumindo quantidades recalcadas de energia pulsional ou ainda, quantidades que escapam à repressão. (VOLPI, 2003). Existem segundo Navarro (1995), quatro estruturas caracteriais: a) Núcleo Psicótico: O núcleo psicótico instaura-se na gestação, no parto ou durante os primeiros 10 dias de vida da criança. Podendo decorrer de um parto traumatizante, cesariana, fórceps, incubadora, carência de contato com a mãe, de comunicação, de calor, de amamentação, de maternagem, ou ainda, por uma rejeição vinda da mãe que a criança percebe energicamente. O núcleo psicótico caracteriza-se por falta de lucidez e por uma grave carência do eu, expressando uma ausência de identidade biológica. Os indivíduos com tendência à racionalização, comportamentos de esquiva, confusão de pensamentos, podem apresentar problemas de visão, de pele, de ouvido e de nariz. Do ponto de vista energético, trata-se de um indivíduo com uma baixa condição energética (hipoorgonótica). Vive em condição de medo e é essa posição de defesa que impede o sujeito de se proteger realmente e o obriga viver com medo Completa Navarro (1995). Quando um trauma ocorre muito cedo no desenvolvimento do bebê, seus prejuízos são muito mais graves e comprometedores dos que os que ocorrem numa fase mais adiante, quando o bebê já tem um “eu” mais consciente. Baker (1980) conclui dizendo que quanto mais precoce a frustração, mais completa a repressão, que provoca prejuízo considerável na atividade total e conduz futuramente à redução da capacidade de trabalho. b) Borderline: O traço de caráter borderline ou oral, origina-se nos primeiros 3 ou 4 meses de vida e vai até o desmame (aos 9 meses). Os indivíduos com este traço de 53 caráter caracterizam-se pela dificuldade de contato, seja do tipo passivo (dependente) ou do tipo ativo (agressividade oral). Dois aspectos ligados à perda do seio podem estar presentes, são: a insatisfação e a frustração. A primeira resulta da falta ou desagrado no aleitamento, que determina uma tendência depressiva; a segunda resulta de um desmame brusco que determina uma forma raivosa de reagir, que serve para evitar a depressão. (VOLPI & VOLPI, 2003). O ciúme também é uma característica destes indivíduos. Do ponto de vista energético, o caráter bordeline ou oral, tem uma boa carga energética, porém, mal distribuída pelo corpo, podendo conduzir a situações psicóticas quando há refluxo energético na direção dos olhos, ou ocorrendo em outras formas, se a situação energética se desloca para o pescoço e tórax alto. c) Psiconeurótico: Esta condição inicia-se no desmame e vai até a puberdade. Neste período, a criança começa a tomar consciência do controle dos esfíncteres, da independência e autonomia, e inicia o despertar do interesse pelo sexo oposto. Neste período uma educação severa e proibitiva pode trazer o medo da castração. (VOLPI & VOLPI, 2003). Do ponto de vista energético, trata-se de indivíduos com uma alta carga de energia, porém, mal distribuída pelo corpo (hiperorgonótico desorgonótico), já sob o prisma caracterial, encontra-se aqui o traço masoquista e obsessivo compulsivo. d) Neurótico: Para Navarro (1995), a caracterialidade neurótica é a que mais se aproxima do caráter genital. Sob a ótica energética, são estes os indivíduos que possuem elevada carga energética (hiperorgonótico), e do ponto de vista caracterial, encontra-se aqui o traço fálico-narcisista e histérico. (VOLPI & VOLPI, 2003) 54 2.6.2.2 Caráter Esquizóide Segundo Volpi (2003) o comprometimento deste caráter ocorre entre zero e seis meses de vida. Se ocorrer uma interrupção antes do nascimento, no parto ou nos primeiros dias após o nascimento, pode-se gerar uma fixação na fase ocular do desenvolvimento emocional, tendo como experiência emocional básica a rejeição. O esquizóide, geralmente, foi uma criança odiada, o trauma ocorreu quanto ao direito de existir, tendo uma mãe hostil e rejeitadora. Percebe-se então segundo Lowen (1977) que é característico do esquizóide ter poucos, ou mesmo nenhum, mecanismo de defesa do ego. O esquizóide funciona na realidade por uma questão de sobrevivência, mas sem a convicção interna de que seus valores sejam reais. Falta-lhe o controle sobre suas reações que o neurótico possui, não importando quão neurótico possa ser tal controle. Com relação às suas atitudes e sentimentos, há uma falta de conexão entre eles. Tratasse de um ser mais “voltado” para o intelecto e muito limitado na relação interpessoal, pois não acredita em valores da vida e funciona por sobrevivência, obtendo uma vida desarticulada. Os sentimentos presentes é o medo de aniquilação, fragmentação, deixar de existir e não a falta de identificação com seu próprio corpo (VOLPI, 2003). Lowen (1977) completa, explicando que as suas atitudes básicas se originam de uma negação dos valores da realidade material, não precisando, desse modo, lutar contra eles. Entretanto, podem ser encontradas, superficialmente, atitudes masoquistas e tendências orais, derivada de experiências específicas na sua história de vida. Além disso, o fato de o esquizóide possuir pouco, ou quase nada, mecanismo de defesa do ego, é um agravante nessas situações. 55 O esquizóide possui olhos vazios e uma grande tensão muscular na base do crânio, diafragma e nas articulações e tem as extremidades sem energia, enfatizando as mãos e os pés frios. Possui um semblante frígido, os movimentos são mecanizados e há uma falta de contato dos pés no chão. Em geral o tórax é expandido, enquanto o diafragma e abdômen são contraídos, explana Volpi (2003). Lowen (1977) conta ainda, que o esquizóide funciona na realidade por uma questão de sobrevivência, mas sem a convicção interna de que seus valores sejam reais. Volpi (2003) diz que eles possuem sua energia fragmentada e sua sexualidade é predominantemente pré-genital, ou seja, é utilizada para canalizar todos os demais sentimentos, principalmente a necessidade de amor. Volpi (2003) explica que há uma tendência da criança que se tornou esquizóide precocemente em voltar-se para a figura paterna em busca do calor e do apoio que não encontrou na mãe. Isto gera uma fixação oral no pênis, uma vez que o pai assume uma posição substitutiva da mãe e o pênis se constitui num substituto para o bico do seio. Então, a unidade da personalidade é cindida pela excitação de dois níveis da personalidade e por dois níveis antitéticos de funcionamento, que são os níveis oral e genital. Volpi (2003) afirma ainda que a terapia tem como tarefa recuperar a confiança básica, fortalecer os limites e o funcionamento do ego, trazer ordem e materialização para as qualidades criativas e espirituais de sua essência, e, assim, afirmar seu direito de ser no mundo. 56 2.6.2.3 Caráter Oral O comprometimento ocorreu entre os seis e os dezoito meses de vida. O desenvolvimento foi interrompido no período de amamentação ou na primeira infância, ocorrendo, portanto, uma fixação na fase oral. Tendo como experiência emocional básica a privação e conflito básico da necessidade versos a independência, em outras palavras, “só existo se for dependente”, conforme explica Volpi (2003) O trauma está relacionado ao direito de receber suporte, pois, geralmente, fora uma criança abandonada. De acordo com Volpi (2003) o oral tratasse de uma pessoa passiva, deprimida e dependente, tal dependência pode ser disfarçada em hostilidade. Ele pode tanto querer ser sustentado pelos outros, como completamente o oposto, e ser extremamente independente. Costuma tentar chamar atenção e necessita de apoio e aprovação. Mostra pouca força de vontade, tendo muito medo de conseguir o que deseja e se decepcionar, além de possuir um nível de agressividade abjeto. Possui pouca tolerância às tensões, ansiedade, narcisismo, exigência e excessiva dificuldade de compreender desejos e vontades alheias. Navarro (1995) assegura que os traços orais são caracterizados, fundamentalmente, pela dificuldade de contato, seja do tipo passivo (dependência) ou do tipo ativo (agressividade oral). Qualquer situação de depressão, de frustração ou de perda afetiva, provoca sempre uma reemergência de traços orais. Os que se referem à boca é a insatisfação ou a perda do seio materno (primeiro objeto de “amor”) que colocam o recém nascido em condições de sofrer pela falta ou pela perda. Assim, a insatisfação ligada ao aleitamento ou ao desmame prematuro e a 57 relativa perda do seio materno gera o que chamamos de “depressividade” do indivíduo, que marcará toda sua existência. Certamente é necessário distinguir os aspectos da insatisfação dos da frustração ligados à perda do seio: a falta ou a insatisfação no aleitamento determinam uma tendência à depressão em certas situações; ao contrário, naqueles que sofreram um desmame brusco, determina uma forma raivosa de reagir. A raiva é uma tentativa inconsciente de autoterapia: de uma certa forma, a raiva serve para evitar a depressão. (NAVARRO, 1995, p.58). Uma característica típica do caráter oral é o desejo e o prazer que tem em falar. Fala, principalmente sobre si mesmo, e, geralmente, de forma favorável. Pode assumir o centro do palco, sem ficar sem jeito. Esse exibicionismo é diferente do da mulher histérica e do homem fálico-narscisista, que por sua vez, possuem um significado genital, enquanto o oral deseja apenas obter afeto, conforme conta Lowen (1977). O autor explica que esse falar excessivo pode ser entendido como movimentos de sucção simbólicos, este aspecto é reconhecido no discurso, quando o caráter oral procura obter admiração e afeto, que são nada mais nada menos que “suprimentos narcisistas”. Na fala, a boca também pode expressar a função agressiva de morder, no que é descrito como “sarcasmo mordaz”. Assim, o modo de reagir do oral, com depressão ou com raiva, segundo Navarro (1995), leva a distinguir dois aspectos de características orais: o oral insatisfeito e o oral reprimido: • O oral insatisfeito é a pessoa que no fundo esconde a situação depressiva, mas como é plenamente consciente dela, procura compensar com alimento, álcool, fumo ou qualquer substituto que possa dar-lhe uma satisfação do nível oral. Nos casos mais graves, o oral insatisfeito, para não cair em depressão, pode escorregar 58 “energeticamente” para o alto em situações psicóticas. A inveja está ligada à “ocularidade” do oral. • O oral reprimido provêm de um desmame brusco, que pode estar na base de formação deste caráter, isto é, de uma pessoa que foi obrigada a comer, morder, usar os dentes antes de ter descoberto o prazer da função. Nestes casos, são pessoas que freqüentemente falam entre dentes e têm o queixo quadrado devido a uma tensão crônica dos músculos masseteres. O indivíduo raivoso contido, o oral reprimido, não tem consciência deste aspecto depressivo, e cronicamente se defende dele por meio de um comportamento reativo e raivoso. Em seus aspectos psicológicos estão presentes o medo de abandono e ficar em pé sozinho. Admite sua dependência ou compensa na fantasia. Os sentimentos de abandono, privação, desapontamento, solidão e injustiça, estão presentes no oral, completa Volpi (2003). O autor acima citado, explica que fisicamente, o oral possui um organismo subcarregado, franqueza muscular generalizada, músculos temporais, mandíbula e boca tensas e possui pensão na cabeça, pescoço e músculos peitorais. O peito é afundado ou anormalmente forçado para fora, as pernas são fracas e contraídas, os joelhos podem ser travados, o peso é apoiado na coluna e os pés são arcos caídos, o corpo é alongado e constrito e os olhos são suplicantes. Há ainda sinais de imaturidade, mesmo que muitas vezes o corpo parece ter sido forçado a amadurecer. 59 Segundo Lowen (1977), o caráter oral não desenvolveu o ego ao nível do estágio genital, sendo assim, não está em posição de oferecer amor, e ao contrário dessa oferta gratuita, o oral almeja ser amado. Volpi (2003) completa explicando que o caráter oral possui uma energia rebaixada e sua respiração é mínima e superficial. Sua sexualidade é utilizada para obter proximidade e contato, para se preencher, ao invés de descarregar e seu aspecto geral é de maturação e independência forçada. Na terapia cabe trabalhar a aceitação da realidade, apesar da raiva e do medo de estar só, e fazer com que ele seja capaz de se sustentar-se nas próprias pernas, aprender a se nutrir sozinho, e capacitar-se para suprir as necessidades dos outros, conclui Volpi (2003). Baker (1980) completa dizendo que durante a terapia sua energia deve ser aumentada, além do que, o mesmo precisa entender que suas dificuldades são geradas por sua inadequação. É necessário, segundo o autor, uma considerável análise de caráter, bem como o encorajamento. O indivíduo de caráter oral, precisa entrar em contato com seu potencial digno de confiança, deixando de lado seus objetivos grandiosos. 2.6.2.4 Caráter Psicopático O comprometimento desse caráter ocorreu entre um ano e meio e dois anos de idade. O desenvolvimento foi interrompido no nascimento do self independente, ocasionando assim uma fixação na fase anal do desenvolvimento emocional, que corresponde a fase de produção, e tendo a sedução como experiência emocional básica. Volpi (2003) explica que o conflito encontra-se entre a 60 vontade versos a entrega, e segue uma linha de pensamento que acredita que enquanto ele estiver no controle e não mostrar sua vulnerabilidade, ele poderá ser independente. Volpi relata esse trauma como conexo ao direito de ser autônomo, pois sofreu sedução e invasão pelo genitor do sexo oposto. Os psicopatas, usualmente, foram crianças usadas, possuídas. As relações com seus sentimentos são de controle, manipulação e negação. Não possuem relacionamentos íntimos e a auto-estima oscila entre ser extremamente superior a ser completamente inferior aos outros. Os motivadores para suas ações são, basicamente, a vontade, o poder, o controle e o interesse próprio, além de investe em sua imagem, explana Volpi (2003). O medo de perder o controle, que está relacionado ao medo de perder o amor está fortemente presente no psicopata, que compensa seus medos por meio da auto-afirmação de seu valor, levando-se acima dos outros e dos próprios sentimentos. Sua cabeça, ombros e diafragma são tensos, peito inflado, cabeça e olhos são carregados, e os olhos particularmente são controladores. Tem seu bloqueio localizado no diafragma, a pelve é desconectada e a energia sexual está desequilibrada. Segundo Volpi (2003) há dois tipos físicos de psicopata: o tirânico, que apresenta alta carga na parte superior do corpo e baixa carga na parte inferior, e o sedutor, cuja aparência seja regular, mas o fluxo também é desequilibrado. A tarefa da psicoterapia é fazer com que o psicopata a faça parte da humanidade, entregar-se a sua própria humanidade, sentindo-se seguro para ter sentimentos. 61 2.6.2.5 Caráter compulsivo Historicamente, segundo Reich (2004) apresenta uma fixação central na fase sádico-anal, acontece no segundo ou terceiro ano de vida, Devido aos próprios traços de caráter particulares da mãe, a aprendizagem do controle de esfíncteres é iniciada cedo demais, o que leva à poderosas formações reativas, por exemplo, extremo autocontrole, até mesmo na mais tenra idade. Navarro (1995) completa afirmando que este caráter está vinculado am formato de educação severa e rígida. A libido do caráter compulsivo tem fixação na fase sádica anal, que provém dos próprios traços de caráter particulares da mãe, e porque a aprendizagem do controle dos esfíncteres é iniciada cedo demais. A rígida aprendizagem da higiene desenvolve uma obstinação anal que mobiliza os impulsos sádicos para o indivíduo de se fortalecer, completa Reich (2004). Segundo Navarro (1995), este aspecto típico do indivíduo é que se denomina de boderline. São indivíduos temperamentais-caracteriais, cuja cobertura caracterial é de intensidade média por cobrir um núcleo psicótico inconscientemente reprimido e controlado, para evitar sua explosão. A caracterialidade anal compulsiva foi sempre a mais estruturada, porque é o exemplo mais evidente, em psicodinâmica, da manifestação de um indivíduo na sua função de assumir um comportamento que lhe dê, ao mesmo tempo, defesa e segurança. Volpi & Volpi (2003) descreve que o boderline desenvolve padrões de defesa oral, esquizóide e masoquista. Bloqueia seu diafragma e a região occiptal de forma severa e torna-se incapaz de controlar seus sentimentos e impulsos Navarro (1995) descreve o significado dos bloqueios dos níveis corporais a partir do primeiro nível, podendo dizer que são pessoas com tendência a 62 racionalização e à “interpretação fácil” são, em geral desconfiadas. No segundo nível, encontramos uma oralidade reprimida, que tende a expressar-se em explosões de raiva, ruminação e obsessividade. Aí há sempre um bloqueio nasal importante, que contribui para torná-los introvertidos. Percebe-se nestes casos a presença de pulsões sádicas constantes, confirmando a visão da psicopatologia funcional, que lhes atribui uma situação de primeiro campo simbiótico, mal vivida, com conseqüente desorgonia corporal, na qual se distingue uma hiperorgonia relativa aos níveis torácico e abdominal. Em geral, Navarro (1995) descreve o sadismo anal, com o qual o objetivo é bater, pisar, esmagar, etc.. Após esse objetivo ter sido trabalhado e as fixações anais terem sido afrouxadas, os impulsos sádicos-fálicos movem-se cada vez mais para primeiro plano (espetar, perfurar etc.). Isso quer dizer que a regressão é eliminada, e o caminho para o investimento da posição fálica está aberto. Geralmente, nesse momento, a angústia de castração afetiva finalmente se mostra clara e se inicia a análise dos recalques genitais. No caráter compulsivo, a antiga fobia infantil reaparece nessa fase, por isso encontramos duas camadas de recalques no caráter compulsivo. A camada externa é composta por impulsos anais e sádicos, ao passo que a camada mais profunda é composta por impulsos fálicos. O trabalho corporal realizado com esta estrutura de caráter tem por objetivo o desenvolvimento do próprio corpo e de seus limites. Deve-se dar a devida atenção à energia do paciente, trabalhando-se mais sobre o campo, para depois trabalhar sobre a musculatura. Antes de tocar o boderline, é preciso que ele estruture seu próprio corpo, com a ajuda do terapeuta. Os sentimentos ditos negativos devem ser validados para que se supere a distância entre o amor e o ódio, 63 os objetos bons e maus, daí a importância de se trabalhar o grounding, a contenção e a respiração. (VOLPI & VOLPI, 2003). 2.6.2.6 Caráter Masoquista Segundo Volpi (2003) tal trauma pode ocorrer entre um ano e meio e dois e meio de idade, quando o desenvolvimento foi interrompido no treino ao toalete e na alimentação. Lowen (1977) conta, que tal caráter se originou da observação do comportamento sexual, podendo se manifestar em formas de “perversões masoquistas” ou “fantasias masoquistas de espancamento”. O masoquista fora, comumente, uma criança humilhada e que se sentiu envergonhada, gerando assim uma fixação na fase anal, que está relacionada à fase de produção e tendo como experiência emocional básica a humilhação. O seu conflito gira em torno da submissão em oposição à independência, pois ele pensa que só pode estar perto e ser íntimo o suficiente se não for livre. Seu trauma está relacionado à auto-expressão independente. Normalmente teve a presença de uma mãe sufocante, que condicionava o amor à obediência. Dava mais atenção à alimentação e a evacuação, chegando, em alguns momentos, a forçá-la, porém mostrava-se deficiente no que diz respeito à atenção para as necessidades emocionais. O masoquista é uma criança submetida e vencida, explica Volpi (2003). O autor explica que o masoquista aparenta ser uma pessoa agradável, polida, tenta ser passivo e chega a se sobrecarregar no trabalho para agradar os outros. É derrotista e auto-humilhante, porém se trata de uma pessoa negativista, 64 contida, rebelde e que se boicota. Sua negatividade aparece em forma de dúvidas e desconfiança, já a raiva em forma de queixas e lamentações. Ele tem uma atitude provocativa que gera agressividade nos outros, para assim justificar sua própria reação explosiva. Pode ser amargo e rancoroso, é compulsivo e tem dificuldade de expressar afeição. Tenta comprar o afeto agradando os outros, e há uma aparente necessidade de derivar o prazer da dor. Intimamente ele se acha superior aos outros. Lowen (1977) completa dizendo que o masoquista vive em constante pressão e que sua agressividade é dirigida para dentro dele, sendo autodestrutiva. De acordo com Volpi (2003) o masoquista tem medo da descarga, medo de ser esmagado e do sentimento de pressão interna, incapaz de liberar. Vive entre impulsos antagônicos, queixa e sensação de inferioridade, sente culpa e vergonha dos próprios desejos e seu Superego é rigoroso. O autor salienta alguns aspectos físicos do masoquista, tais como corpo denso, entroncado e sobrecarregado. Os ombros, a garganta, o assoalho pélvico e os músculos flexores são tensos. Entre o pescoço e a pelve existe um estrangulamento do tronco, o abdômen é contraído, os músculos da panturrilha e da parte anterior das coxas são tensos. Nádegas achatadas e frias, impedindo o direcionamento da energia para as genitais e o pescoço e grosso e curto, além da a respiração em forma de suspiro. A energia é estagnada, na alta qualidade na coluna cervical e a energia negativa volta para si mesmo. Sua sexualidade é contida, submissa, e explode em apenas alguns momentos. Na terapia a tarefa e alcançar a auto-expressão criativa e dessa forma, atingir a auto-afirmação. 65 2.6.2.7 Caráter Histérico Segundo Lowen (1977), a estrutura do caráter histérico está ancorada na função genital. Os traços de caráter se manifestam pelo conflito entre um medo intenso da sexualidade e impulsos sexuais reprimidos. Reich (2004) completa falando que é a partir daí que surge a agressão genital e sua angústia. De acordo com Reich (2004), por mais complicado que seja tal caráter, na grande maioria, seus sintomas e reações patológicas são bem simples e transparentes. O autor salienta que uma característica marcante desse caráter é a atitude sexual inoportuna. Reich (2004), conta que homens com traço de caráter histérico são delicados e excessivamente corteses, apresentando, por conseqüência, um comportamento afeminado, caracterizado, inclusive pelo seu modo de andar, que é macio, flexível e sexualmente provocante. As mulheres histéricas possuem habilidades para flertar aberta ou disfarçadamente, fazendo-as por meio de suas atitudes. O autor diz que a idéia de incesto genital é recalcada e que existe uma tensão sexual não-absorvida que sobrecarrega o caráter histérico. O órgão genital feminino é representado pelo ânus e pela boca. A couraça no caráter histérico constitui-se de uma defesa do ego contra os empenhos incestuosos genitais. Reich (2004) afirma quer no histérico quanto maior for a angústia, mais urgentes são as manifestações sexuais. Diz ainda que tal indivíduo usa sua sexualidade à serviço da defesa, ou seja, as manifestações sexuais representam uma tentativa de descobrir se os perigos estão presentes e de onde eles vêm. 66 Segundo Volpi (2003) os aspectos psicológicos do rígido apresentam sentimentos de rejeição e temem que isto ocorra, ou temem se entregar e posteriormente ser alvo de traição. Essa sensação de desvalorização que o indivíduo sente, é compensada por meio da performance.. Lowen (1977), conta que, por se tratar de um caráter rígido, o histérico não se entrega ao prazer, não permite que o coração se entregue, nem ao menos que demonstre seus sentimentos O autor completa dizendo que tal paciente busca a terapia quando sente que algo escapou-lhe do controle, ou seja, que seu mecanismo neurótico falhou. Na terapia o trabalho será voltado para os sentimentos e a compaixão, bem como fazer o paciente abrir mão do autocontrole. Os sentimentos e as relações sexuais conectados também serão trabalhados para fazer com que o paciente se abra aos seus desejos, conclui Volpi (2003). 2.6.2.8 Caráter Fálico-narcisista De acordo com Volpi (2003), este caráter está mais relacionado à rigidez masculina. O fálico alcança a fase genital e nela vive uma enorme carga de frustração e rejeição que o levam a enrijecer, sendo o sentimento mais marcante aqueles relacionados ao abandono. Lowen (2000) acredita que o narcisismo descreve uma condição psicológica e uma condição cultural e em nível individual, indica uma perturbação da personalidade caracterizada por um investimento exagerado na imagem da própria 67 pessoa à custa do self. Em suma, trata-se de uma pessoa que se preocupa única e exclusivamente consigo. Volpi (2003) completa dizendo que a infância de tal indivíduo foi marcada pela presença de um pai forte O menino enxerga este pai como o vencedor da luta pelo amor da mãe, iniciando um sentimento de rejeição da sua sexualidade e competição com a figura paterna, e, de acordo com sua percepção a mãe o rejeita e se alia ao pai contra o filho. Os homens que apresentam este traço de caráter geralmente têm sucesso profissional, têm boas relações sociais e são sexualmente atraentes para as mulheres. O autor salienta algumas características do fálico: apresenta tensão corporal e sua garganta é bloqueada, sua potência orgástica é severamente diminuída, aumentando severamente a potência eretiva. Contudo, o fálico-narcisista não extrai muito prazer na relação sexual, devido à dificuldade de entrega a qualquer que seja o sentimento. Do mesmo modo que acontece com a sexualidade, o fálico não encontra verdadeira satisfação em outras atividades. Reich (2004), completa contando que, o indivíduo com esse tipo de caráter utiliza sua agressividade para buscar constantemente o poder, numa determinação incessante à procura da vitória. O narcisismo desse tipo de caráter difere-se de outros, pois se expressa de forma não infantil, apesar da base de sua natureza não ser menos imatura se comparada aos outros tipos de caráter. Esses indivíduos tendem a alcançar cargos de liderança, e se tem sua vaidade ofendida reagem com menosprezo e acentuado mau humor ou agressão direta. Volpi (2003) conta que na terapia é necessário fazer o paciente entrar em contato com suas dores, se ele chorar ao estabelecer esse contato, abrirá o caminho 68 para a expressão de todas as demais emoções, facilitando a ligação entre amor e sexualidade, uma vez que esta fora interrompida na infância. 2.6.2.9 Caráter Passivo-feminino De acordo com Volpi (2003) este caráter trata-se da feminilidade que alguns homens, não no sentido homossexual, usam como uma negação da agressividade masculina, e somente mais tarde se estabelece à identificação da criança com uma das figuras parentais, ou seja, a mãe. Lowen (1977), explica que o trauma está relacionado a uma privação oral, na etapa inicial da vida e devido a uma frustração genital posterior paralisa a agressão. O ego é organizado quando criança, em virtude do forte elemento ou fixação oral, comporta-se com uma fraqueza inerente. Volpi (2003) completa falando que sua atitude passiva está relacionada à desistência da agressão essencial à fase genital, fálica. O autor conta fazer parte do indivíduo passivo-feminino ser passivo, retraído, modesto, educado, e fraco e que esses traços são representados exclusivamente por homens. O homem passivo-feminino difere-se do homem histérico por apresentar características como tenacidade, teimosia, despeito, manha, ser vicioso e cheio de desprezo. Esse homem possui uma raiva reprimida, caracterizando sua personalidade. Volpi (2003) conta que na terapia deve-se mobilizar a raiva oral sádica e encorajar o paciente à agressão, para que esse possa tomar consciência da raiva. Entretanto a principal defesa que o passivo - feminino apresenta à terapia é a falta 69 de participação nas tarefas terapêuticas, pois, sua atitude será marcantemente passiva também no processo terapêutico. Trabalhar esse conflito entre o impulso genital e a ansiedade de castração é de grande valia para casos como esses. 2.7 Metodologia da orgonoterapia Segundo Navarro (1996), o termo “vegetoterapia” foi abandonado por Reich, que o substituiu por “Orgonoterapia”. Navarro (1996) escreve sobre a “metodologia da vegetoterapia”, pois considera que a Orgonoterapia ainda não está pronta para fornecer instrumentos terapêuticos comprovados. Portanto, para o autor, a vegetoterapia é um trabalho terapêutico que atua sobre o sistema neurovegetativo. A análise caracterial é um trabalho de transformação que visa produzir sua maturação em caráter genital. De acordo com Trotta (1993) descrever tal metodologia trata-se de uma tarefa relativamente difícil, pois além de ser bastante complexa, ela se orienta por mecanismos globais e não por recomendações técnicas fixas e sistematizadas. Não existe um roteiro único, pois depende do funcionamento de cada paciente, baseando-se, sobretudo, pela dinâmica psicoemocional e estrutura corporal de cada indivíduo. Tal metodologia trabalha tanto os aspectos estruturais quanto os aspectos emergentes, focalizando simultaneamente a totalidade de sua estrutura caracterólogica e as peculiaridades de seu mecanismo de encouraçamento. O autor explica que a orgonoterapia utiliza de técnicas de intervenção terapêuticas tanto verbais, como corporais, porém são de suma importância as vivências que permeiam o vínculo paciente/terapeuta, tomando cuidado para com as 70 possíveis transferências. As intervenções corporais são baseadas na análise de caráter desenvolvido por Reich, e englobam um conjunto de técnicas que objetivam à dissolução da couraça, acompanhada da liberação de impulsos e emoções reprimidas e da reestruturação da funcionalidade corporal sadia. Provoca ainda uma reorganização da percepção das sensações, o que resulta numa reorganização da estrutura psíquica e caracteriológica do indivíduo. Na orgonoterapia o trabalho realizado concentra-se nas profundezas biológicas, no sistema plasmático, ou, tecnicamente, no núcleo biológico do organismo. Este, como fica evidente, é um passo decisivo que significa o abandono da esfera psicológica, e da psicologia “profunda”, e a entrada na área das funções protoplasmáticas, indo até mesmo além da fisiologia dos nervos e músculos. Sendo que, esses passos devem ser encarados com seriedade, pois têm conseqüências práticas e teóricas relevantes, e originam uma mudança fundamental na prática biopsiquiátrica. Já não se trabalham mais apenas com os conflitos individuais e com encouraçamento específicos, mas com o próprio organismo vivo. (REICH, 2004). A Orgonoterapia utiliza-se de técnicas de intervenções verbais e corporais. Dentro do setting terapêutico é dada grande importância aos aspectos de vivências que permeiam o vínculo cliente/terapeuta, com ênfase no manejo clínico da transferência. A interpretação psicodinâmica que orienta todas as etapas do trabalho terapêutico baseia-se na Análise do Caráter desenvolvida por Reich a partir da psicanálise, e conserva essencialmente os postulados fundamentais da teoria Freudiana. (TROTTA, 1999) Volpi & Volpi (2003) explica a relação entre terapeuta e paciente, como em qualquer outra em que existam padrões de comportamento; logo este é um ponto que o terapeuta tem de estar muito atento a essas manobras que podem ser 71 tanto de transferência, que é quando o paciente utiliza de mecanismos de defesa aprendido na infância, ou a contratransferência, que é quando o mecanismo de defesa é utilizado pelo próprio terapeuta. Se bem manejada essa transferência pode dar boas dicas do padrão de funcionamento do paciente. Trotta (1999) diz que os trabalhos corporais envolvem estímulos ou ações corporais que reproduzem funções fisiológicas importantes no processo de desenvolvimento ontogenético, e nos processos de percepção e expressão afetivos. Para o autor, esses trabalhos atuam diretamente sobre memórias neuromusculares e seus correspondentes psicoafetivos por meio de estímulos neurofisiológicos, e permitindo atuar-se sobre conflitos instintivos e mecanismos de defesa relacionados com fases pré-verbais do desenvolvimento ontogenético. Todo o orgonoterapeuta deve segundo Volpi (2003), levar em conta algumas etapas durante a orgonoterapia: • Entrevista (anamnese): caracteriza-se pelo primeiro contato feito com o paciente, onde se ouve e se investiga profundamente a sua queixa, procurando saber a quanto tempo o problema se apresenta, como se manifesta, quando surgiu pela primeira vez e o que o desencadeou. Faz-se ainda uma coleta de dados do histórico e funcionamento do paciente, possibilitando, desta forma, uma compreensão de seus traços de caráter. • Exame físico/energético: nesta etapa, observam-se as tensões no corpo do paciente fazendo-se uso da massagem reichiana. • Diagnóstico caracterial/energético: nesta etapa faz-se o diagnóstico caracterial, bem como o energético, dos níveis de couraça do paciente. 72 • Contrato terapêutico: é de fundamental importância estabelecer no contrato terapêutico o tempo do tratamento, duração das sessões, atrasos, faltas, entre outros acertos. • Projeto terapêutico: devem-se ter claros os objetivos a serem atingidos. Para tanto, é preciso organizar um projeto levando em conta a duração de cada sessão e o tempo que o paciente dispõe para o tratamento. • Aplicação da técnica: utiliza-se a análise de caráter, a aplicação dos actings, e toda a terapia energética convergente que puder auxiliar no tratamento. Trotta (1999) ressalta também a importância de fazer um diagnóstico psicodinâmico, caracterológico e corporal do paciente, possibilitando elaborar um projeto terapêutico específico, além de apontar as expectativas de transferências e o prognóstico. De acordo com Trotta (1999) o processo começa pela anamnese, que serve para as observações diretas sobre o funcionamento do paciente e são os principais elementos que o terapeuta dispõe para elaborar o diagnóstico inicial. Posteriormente elabora-se o diagnóstico psicodinâmico, que, de acordo com Trotta (1999), serve para analisar as principais falhas e transtornos no processo de estruturação psíquica, de construção da identidade e de escolha objetal, que refletem circunstâncias e eventos marcantes na sucessão das fases de desenvolvimento libidinal. Tendo posse do diagnóstico psicodinâmico devem-se averiguar os mecanismos de defesa, formas de resistência, padrões adaptativos, manifestações narcisistas, padrão emocional e interacional dominante, além de observar atitudes, 73 gestuais, as expressões faciais, o tom de voz, qualidade do contato e das comunicações verbais, níveis de ansiedade, motivação, agressividade, estado de humor, capacidade desejante, vida sexual, e junto da análise das funções fisiológicas (sono, alimentação, digestão, excreção) elabora-se o diagnóstico caracterológico. Este diagnóstico consiste na análise das alterações da estrutura corporal e das doenças e sintomas e da época de vida em que ocorreram. Essas informações dão indicações sobre o funcionamento energético do paciente. E, por fim, após já ter construído um vínculo com o paciente durante a elaboração dos primeiros diagnósticos, elabora-se o diagnóstico corporal, para o qual é necessário o exame direto do corpo com o uso alguns testes funcionais e técnicas de avaliação corporal. Este diagnóstico apontará os segmentos mais encouraçados e quais técnicas serão mais eficientes. Visto que o desencouraçamento é considerado o aspecto mais específico da abordagem orgonoterápica, estas etapas que constituem o processo de desencouraçamento serão descritas abaixo para uma melhor compreensão. 2.7.1 Técnicas de desencouraçamento Os trabalhos corporais, segundo a Trotta (1999), envolvem as ações ou estímulos corporais que reproduzem funções fisiológicas importantes no processo. Tais trabalhos atuam sobre memórias neuromusculares e seus correspondentes psicoafetivos diretamente através de uma estimulação neurofisiológica, possibilitando assim, atuar também nos conflitos instintivos e mecanismos de defesa relacionados com as fases primitivas do desenvolvimento ontogenético. Tais 74 trabalhos permitem conectar e elaborar conteúdos psíquicos inconscientes ou marcas de memórias ainda sem significados psíquicos, os conteúdos psicóticos. Baker (1980) ressalta que o principio básico do desencouraçamento é remover as contrações crônicas que impedem o fluxo livre da energia pelo corpo. Na prática não é assim tão simples quanto parece, mas três delas são essenciais: • Aumentar o impulso básico do organismo através da mobilização de suas energias por meio da respiração; • Atacar diretamente os músculos espásticos, para liberá-la as contrações; • Manter a cooperação do paciente, trazendo-o à luz e superação de suas resistências à terapia e ao terapeuta. Tendo como objetivo da orgonoterapia Volpi (2000) aponta ser o afrouxamento do grupo de músculos, liberando a energia para que circule livremente através do corpo, chegando até a pelve, restabelecendo as correntes plasmáticas e conseqüentemente, o orgasmo. Cabe ressaltar que todo o trabalho de desencouraçamento tem início pelo primeiro segmento (ocular) e segue em direção ao ultimo (pélvico). A Revista SWR(1999) diz que o desencouraçamento utiliza diversas técnicas de intervenção corporal - ou “actings”- que têm por objetivo a dissolução da couraça, que ocorre acompanhada da liberação de impulsos e emoções reprimidas e da restauração do funcionamento corporal e dos fluxos orgonóticos. Navarro (1996) acrescenta que os actings não são exercícios mecânicos, de ginástica, como se costuma acreditar, mas a proposta de uma ação dinâmica e intencional que o paciente realiza com o envolvimento de sua neuromuscularidade. 75 De acordo com Volpi (2004), o trabalho prático da vegetoterapia segue um protocolo de forma, que começa a ser aplicado no primeiro segmento (ocular) em direção ai ultimo (pélvico) levando o indivíduo ao amadurecimento caracterológico, aproximando-o cada vez, mas do caráter genital. Para que os trabalhos corporais sejam eficazes, é necessário um tempo mínimo, que pode variar entre 15 e 25 minutos, mas, dependendo da reação do paciente, podem ser menos extensos, explica Trotta (1999). Vale lembrar que na elaboração do diagnostico corporal actings são propostos em menos tempo, só para avaliar se existe algum bloqueio no segmento. Como fora mencionado anteriormente, Navarro (1996) coloca que o tempo dos actings deve ser respeitado e que o terapeuta poderá interferir somente se este for insuportável para o paciente. Navarro (1996) diz que a verbalização terapêutica deve ser do tipo analógico e o menos interpretativa possível. Porém trabalhos verbais quando bem embasados tem um grande valor na vegetoterapia, pois possibilitam promover o desencouraçamento, visto que trabalhos verbais podem instigar o paciente a ter insight bem significativos para ele. a) Primeiro segmento Couraças do primeiro seguimento podem se manifestar através da falta de contato, desatenção, desorientação, tonteiras, dores de cabeça, torpor, diversas perturbações visuais, sensações de vazio na cabeça, entre outras segundo a Trotta (1999). Sendo a falta de contato de contato a manifestação principal, o foco principal de desencouraçamento deste segmento será a manutenção do contato. 76 Para isso podem-se utilizar técnicas como: visualização da luz em movimento, que facilita o processo de evocação de memórias e eventos importantes e com um significado emocional, bem como o acesso a conteúdos do inconsciente; massagem nas estruturas superficiais do crânio, principalmente nos músculos das regiões occipital, temporal, escalpo, frontal e da região tróclea; visualização de um ponto próximo; visualização de um ponto fixo no teto; rotação ocular; visualização alternada dos focos laterais; visualização no espelho; e a técnica da mão em concha; b) Segundo segmento De acordo com a Trotta (1999), o encouraçamento deste segmento manifesta-se por distonias dos músculos de expressão facial, e também pela inibição ou exacerbação crônica de dois impulsos orais básicos: o impulso succional e o impulso de morder. Vale lembrar que as distonias musculares da articulação temporo-mandibular, também se tratam de encouraçamento. Segundo o Trotta(1999), as seguintes técnicas podem auxiliar no desencouraçamento deste segmento: pedir ao paciente que fique de boca bem aberta, podendo acoplar a sucessivas aspirações e expirações; movimentos lentos e repetitivos de abrir e fechar a boca; a projeção dos lábios e língua; sorrisos e expressões faciais, inclusive caretas; expressão do impulso de morder; entre outras. c) Terceiro segmento 77 Como o principal encouraçamento está relacionado à ansiedade de queda, autocontrole, medo da entrega, bloqueios nas expressões sonoras, autoconservação e contenção de choro, os padrões de conduta, segundo Trotta, (1999) é rigidez, obstinação, cerimoniosidade, descontrole, insegurança e incapacidade de posicionar-se. Ainda o autor sugere técnicas para se trabalhar com esse segmento. Dentre as sugestões mais relevantes, cita-se a sonorização, a movimentação ativa e de relaxamento de pescoço, as sucessivas deglutições, alternando com a protusão da língua, a tonificação do esternocleido-mastóide sustentação do pescoço para frente, ou massagens e muitos trabalhos com movimentações passivas do pescoço. d) Quarto segmento O encouraçamento nesse segmento envolve distonias na musculatura do tórax, dos braços e das mãos e perturbações na mobilidade respiratória. As principais emoções contidas são o choro, a raiva, a ansiedade, a capacidade desejante e os impulsos afetivos, salienta Trotta (1999). O quarto segmento é a sede da identidade, não só por conter os órgãos vitais, coração e pulmão, mas também por conter o Timo, que é o responsável por nossa identidade imunológica. Além disso, a timopoietina regula a diferenciação sexual, o que reforça a correlação com a identidade sexual. As técnicas propícias para o desencouraçamento de tal segmento são: trabalhos de expressão da agressividade, por exemplo, socando o colchão com os punhos verbalizando, ou não, e movendo a cabeça para os lados, ou ainda em uma pilha de almofadas; movimentos de desbloqueios das mãos que podem ser com a 78 utilização de uma toalha, onde se pede ao paciente que a torça; com o paciente de pé na frente do terapeuta pedisse que batesse a palma de sua mão na mão do terapeuta, juntamente com expressões sonoras; massagem em todas as estruturas desse segmento e também muito benéfica; movimento lateral de elevação dos braços, de pé. E, por fim, trabalhos de desbloqueios da respiração, como respiração profunda, sonorização prolongada, expiração forçada com contração dos intercostais internos do centro do peito com a boca aberta, desorganização da respiração, entre outras. e) Quinto segmento Ainda de acordo com Trotta (1999), os sintomas de encouraçamento neste segmento envolvem distonias no diafragma e afetam também o estômago, fígado, vesícula, pâncreas e baço. Além do desenvolvimento de lordose e proeminência das últimas costelas. A principal emoção bloqueada é a raiva, associada ao medo. A intervenção direta sobre esse segmento só deve ser realizada depois do desencouraçamento sistemático dos segmentos anteriores. O Trott (1999) conclui, dizendo que alguns trabalhos importantes para o desencouraçamento desse segmento são: massagem em toda estrutura do segmento, inspiração forçada diafragmática, expiração forçada de ar pelo nariz, além de trabalhos de expressão de raiva. f) Sexto segmento 79 De acordo com Trotta (1999) o encouraçamento deste segmento geralmente está associado ao medo neotal ou ao medo das sensações pélvicas. A musculatura abdominal pode estar hipertônica ou flácida, a barriga pode estar insensível ou hipersensível, distendida ou contraída. O autor diz que a massagem é um trabalho de grande importância neste segmento, massageando os músculos ventrais e dorsais, e as vísceras abdominais. Outras técnicas interessantes são: com o paciente deitado pede-se para levantar as pernas contraindo a barriga e deixando-se cair livremente, relaxando–a; automanipulação do umbigo com os indicadores da mão esquerda, enquanto o terapeuta aplica a mão em concha; ondulação do ventre pela contração-relaxamento alternado da contração da barriga; entre outras. g) Sétimo segmento O principal conteúdo associado ao encouraçamento do sétimo segmento é a angústia de castração, o sado-masoquismo anal e fálico, a ansiedade préorgástica e a ansiedade de queda, conforme conta Trotta (1999). O desencouraçamento desse segmento deve ser iniciado pela liberação da raiva bloqueada e pelos trabalhos de embasamento postural. A liberação da raiva anal pode ser trabalhada com o paciente deitado batendo os cotovelos no colchão, ao passo que a raiva fálica pode ser trabalhada com o paciente de pé chutando o colchão, ou também com o paciente deitado chutando para o alto e alternando as pernas. 80 Já para o embasamento postural, usam-se trabalhos com o paciente de pé e pede-se que o mesmo se agache lentamente sem tirar o calcanhar do chão, e depois se levanta lentamente; massagem; entre outros. 2.7.2 As reações frente às técnicas reichianas aplicadas em psicoterapia Em um processo terapêutico, quando se aplica alguma técnica específica, segundo Trotta (1999), podem ocorrer reações imediatas ou retardadas. As reações imediatas ocorrem no momento da técnica ou durante a sessão, tratasse de expressões emocionais como choro, raiva, medo, lembranças, ou reações somáticas como agitação, sonolência, calor, frio, coceira, tremor, excitação, dores localizadas, náuseas, entre outras. Segundo Reich, as tensões musculares crônicas serviam para bloquear uma das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual. Portanto, cada vez que a couraça era dissolvida, emoções e lembranças da situação que provocou a couraça também eram explicitadas, mostrando assim a relação direta das emoções com o sistema neurovegetativo. (VOLPI, 2003b, p. 19) Já as reações retardadas ocorrem posteriores a sessão, podendo levar horas ou dias, e provocam efeitos psíquicos, como: sonhos, lembranças, insights; alterações fisiológicas do tipo: sono, fome, sede, vitalidade física; mudanças comportamentais do tipo impulsividade, socialização, relações interpessoais; ou alterações somáticas como: recrudescimento ou redução de certos sintomas corporais, desencouraçamento. 81 As reações que têm mais efeitos terapêuticos geralmente são as retardadas, por isso é necessário que o terapeuta inicie cada sessão pesquisando e analisando os efeitos retardados dos trabalhos realizados nas sessões anteriores. Navarro (1996) acrescenta algumas reações que podem ocorrer durante a realização dos actings: suor quente e frio; rubor; palidez; espirros; bocejos; tosse; náuseas e vômito; medo ou temor; chorar ou lacrimejar; sensação do nível, excitação sexual; vibrações musculares ou tremores; movimentos peristálticos; dores musculares ou cãibras; hesitação ou perplexidade; vontade de urinar; cansaço; ansiedade ou angústia; tristeza; parestesias; sensações nos calcanhares; sensações nos lobos do ouvido; sensação de levitar; sensação de unidade corporal; sensação de abandono agradável ou sensação de cair; sensação de “ridículo”; sensações contrastantes na metade superior e inferior do corpo. Caso ocorra um relato do paciente após uma técnica, que não houve reação, esta pode ser considerada uma resistência e um sinal da estrutura de caráter do paciente. Baker (1980) relata que a tontura também pode ser uma reação aos actings, porém é o resultado de uma couraça insuficiente, ou seja, permite o movimento de mais energia do que é tolerável. Uma reação simpaticotônica do sistema nervoso autônomo, uma retirada de energia e dos fluidos corporais da periferia do corpo, das extremidades em direção ao centro. De forma geral, a simpaticotonia crônica pode ser descrita como inerente à neurose, já que sua função é a de contenção. Contenção de emoção, excitação corporal, e idéias que precisam ser mantidas em recalque. (JUNIOR, 2009). Cabe ressaltar, que o lado que o paciente encontrar mais dificuldade para realizar alguma técnica também tem um significado muito importante. Caso essa dificuldade seja encontrada pelo lado esquerdo do paciente, isso significa que tal bloqueio está relacionado à figura materna, se for ao lado direito esta relacionado a figura paterna. 82 Durante o processo terapêutico o terapeuta pode deparar-se com as fulgas, que geralmente acontece durante os trabalhos oculares, pois tratasse do medo de enxerga a realidade, é quando o paciente não quer tomar conhecimento de seu núcleo psicótico. (NAVARRO, 1996). Navarro (1999) diz que em sua experiência clínica, pode observar que indivíduos possuidores do núcleo psicótico “sentem” as reações, mas não verbalizam; o indivíduo borderline “não sente” e não verbaliza; o indivíduo psiconeurótico “não sente”, mas verbaliza; e o indivíduo neurótico “sente” e verbaliza. Segundo Navarro (1996), uma emoção nunca pode ser neutra, ela será agradável ou desagradável, positiva ou negativa. O autor fala que as emoções são expressões de uma reação, enquanto os afetos são expressões de motivações. Desta forma, considerando os sete níveis (ou segmentos) corporais identificados por Reich, Navarro (1996) situa os sentimentos da seguinte maneira: •1º nível (olhos, ouvidos, nariz): Emoção: alarme, medo, terror e pânico. Afeto: surpresa, espanto, embaraço e desorientação. •2º nível (boca) Emoção: comoção, nojo, gosto, separação e agressividade. Afeto: depressão, ressentimento, raiva, apego e dependência. •3º nível (pescoço) Emoção: abandono, medo de cair, medo de morrer, inibição. 83 Afeto: simpatia, antipatia, interesse, orgulho e isolamento. •4º nível (tórax) Emoção: nostalgia, ira e angústia. Afeto: tristeza, solidão, felicidade, amor-ódio, incerteza e ambivalência. •5º nível (diafragma) Emoção: angústia e ansiedade. Afeto: hostilidade e serenidade. •6º nível (abdômen) Emoção: agitação e desespero. Afeto: dor e cólera. • 7º nível (pélvis) Emoção: excitação, apego, prazer e destrutividade. Afeto: potência, moralismo-repressão e autoritarismo. Para Navarro (1996), a condição de desbloqueio realiza-se quando o indivíduo passa a perceber o acting como algo agradável, que até então, percebia como desagradável ou indiferente. 84 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.1 Caso clínico 01 a) Informações preliminares do caso - Mulher de 36 anos de idade, casada. Queixa: dores nas articulações, insônia, ansiedade e nervosismo, preocupações. Anamnese: A paciente vem de uma família composta por quatro filhos, sendo ela gêmea com um menino, os dois foram os primeiros filhos. O parto foi problemático, nasceu de sete meses e ela ficou por dois meses na incubadora entre a vida e a morte. Nasceu cianótica e não chorou após o parto, também não teve contato com a mãe pelos primeiros dois meses de vida. Não foi amamentada, pois sua mãe não tinha leite, chupou chupeta até os 3 anos de idade além de usar uma fraldinha para dormir. Usou fralda até os 3 anos e sofreu de enurese noturna até os 12 anos. Dos 2 aos 4 anos de idade foi molestada por um primo de 21 anos, do qual uma vez enquanto dormida em sua casa tentou violentá-la, sendo que ela estava dormindo no quarto dos pais. Essa situação só teve um fim quando a mãe da paciente contou para sua mãe, avó da paciente, que proibiu ele de se aproximar dela. Teve uma infância muito difícil, pois o pai era muito rude a insultava e batia muito, também apanhava muito da mãe. Aos 16 anos resolveu fugir com seu atual marido, para sair de casa, levou dois meses para conseguir ter sua primeira relação sexual. Aos 17 anos teve sua primeira filha e aos 20 anos sua segunda filha. Aos 17 anos perdeu seu irmão gêmeo, alega ter sido uma época muito difícil. Hoje em dia se acha muito explorada e injustiçada pela família, pois é ela quem tem que dar conta de tudo 85 alega que toda família superprotege a irmã. Tem grande dificuldade de dizer não para a família que se aproveita dela. A paciente relata ter tentado vários suicídios e que foi internada em um centro psiquiátrico por estar completamente desorientada. A paciente está sento acompanha pelos estagiários da clínica de psicologia e psiquiatria desde 2005, com queixa de dores nas articulações, insônia, ansiedade e nervosismo, preocupações. b) Hipótese diagnóstica Diagnóstico psicodinâmico: Considerando o fato de a paciente ter nascido de sete meses parece ter ocorrido um comprometimento na etapa de sustentação, com déficit de maternagem, prejudicando a constituição do objeto interno bom. A separação ocorrida em decorrência do parto foi problemática, dado que o parto foi lento e a criança nasceu cianótica. O trauma do nascimento e o fato de ter ficado dois meses na incubadora, o déficit no acolhimento básico, e a não amamentação e a maternagem deficiente constituem eventos importantes nas etapas iniciais do desenvolvimento infantil. Estes fatos sugerem um trauma nas fases ocular e oral do desenvolvimento libidinal. O fato de a paciente ter sofrido um treino severo ao uso do toalete, decorrente das surras da mãe e dos insultos da tia sugere que pode ter ocorrido um trauma na fase anal do desenvolvimento libidinal, visto que a paciente sofreu de enurese noturna até os 12 anos de idade. O fato de a paciente ter sido molestada dos 2 aos 4 anos pelo seu primo de 21 anos, sendo que aos 5 anos ele tentou estuprá-la, porém sem sucesso, sua dificuldade de ter sua primeira relação sexual com seu marido e os insultos que recebia do pai indicam ter ocorrido um 86 comprometimento na fase fálica. Com fixação edipiana e falha na constituição da identidade. Diagnóstico caracterológico: Pelas fixações na fase oral do desenvolvimento e pelo comportamento dependente, pela falta de iniciativa e de posicionamento, pela insegurança sugere-se traço de caráter oral. Já sua necessidade de agradar a todos e sua capacidade de se sobrecarregar; sua incapacidade de expressar a raiva, camuflando-a em forma de lamentações e queixas; além de sua pressão interna e sua incapacidade de liberá-la aponta traços de caráter masoquista. Os aspectos físicos também confirmam a existência de traços masoquistas como corpo denso, entroncado e sobrecarregado, os ombros e os músculos superiores são tensos; o pescoço é grosso e curto, a respiração é suspiro; nádegas achatadas. Sua energia sexual é contida e submissa. Diagnostico corporal: Durante as técnicas de 1º e 2º segmento a paciente apresentou desfusão: lacrimejou, dor na parte superior da nuca, mal estar, dor nos ombros e coluna, não conseguia ver seu nariz, dificuldade pra alternar o olhar e piscava forte quando tinha que olhar para o dedo; Entrou em um núcleo psicótico e conectou com a memória do período na incubadora e com a morte do irmão. Acting 1 não conseguiu fixar o olhar, dificuldade para manter a boca aberta, perdeu o contato e novamente entrou em um núcleo psicótico da incubadora, choro. Acting 2 estava com a respiração muito ofegante, sentiu-se tonta, mãos geladas, perdeu o contato e conectou-se novamente a memória do período na incubadora. Acting 3 apresentou dificuldade para morder, alternar o olhar e piscou bastante, perdeu o contato e novamente entrou num núcleo psicótico, choro, sentiu dor no peito e garganta. Acting 4 piscava dificuldade de olhar para a parte inferior e extremidades laterais. No 3º segmento durante a sonorização a paciente perdeu o contato e 87 conectou com uma memória dos 4 anos quando havia sofrido uma tentativa de estupro por seu primo de 21, teve reações como: falta de ar, medo, choro e tremores no rosto. Durante a técnica do pescoço pendente teve resistência para soltar o pescoço e não conseguiu relaxar. No 4º segmento durante a técnica do “não” socando a paciente apresentou muita dificuldade de dizer não, sua voz era fraca e baixa, resistência em socar o colchonete e após 3 minutos a paciente perdeu o contato conectou com uma memória traumática que aconteceu aos 10 anos quanto tentou se matar tomando um garrafão de cachaça, teve muita vibração em seu corpo e choro. Já na técnica do “Eu” socando, a paciente apresentou dificuldade de dizer o Eu, o tom de sua voz era baixo e fraco, não tinha força para bater no colchonete e abria a mão ao tocar no colchão, perdeu novamente o contato e conectou com uma memória traumática dos 10 anos quando um senhor tentou mexer com ela e sua mãe a culpou pelo ocorrido, muito choro. *Obs.: o diagnostico corporal não foi concluído devido às reações da paciente, só dava para aplicar uma técnica por sessão. 3.1.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática 3.1.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 8º sessão do estagio D) Foi dado continuidade no trabalho corporal a fim de elaborar o diagnóstico corporal. Propôs o Acting 1. Descrição da técnica "ACTING 1” - 88 ESTIGMATIZAÇÃO DE UM PONTO (NO TETO) ASSOCIADO À ABERTURA DA BOCA - (página, 23):Orientar o cliente a ficar deitado em decúbito dorsal, pernas flexionadas e braços ao longo do corpo, palmas das mãos voltadas para baixo, proporcionando maior aterramento, base para a pessoa. Terapeuta pede ao cliente para fixar o olhar em um ponto no teto perpendicular ao seu rosto, com a boca o mais aberta possível. Permanecer nesta posição pôr um intervalo de tempo entre 15 a 25 minutos. Análise teórico prática: o acting 1 trabalha as questões ligadas ao medo do abandono, que se relaciona ao primeiro ano de vida. Diante da história de vida da paciente, o sentimento de abandono era muito forte, visto que ela ficou por dois meses na incubadora. A dificuldade da paciente em fixar o olhar em um ponto fixo está relacionada à dificuldade de projetar o seu “eu” fora de si, explana Navarro (1996). Já a dificuldade de manter a boca aberta esta relacionada ao medo de conectar com as sensações desagradáveis, pois de acordo Delazari (s.d) o manter com a boca aberta faz com os mecanismos de defesa sejam quebrados e permite emergir as emoções contidas. A reação de choro compulsivo da paciente pode ser uma expressão de terror relacionado ao seu núcleo psicótico, de acordo com Navarro (1996). O fato de a paciente ter perdido o contato tão rápido está relacionado com a intensidade do trauma que ela possui nos primeiros meses de vida. Como foi visto em Navarro (1996) a paciente possui núcleo psicótico relacionado aos dois primeiros segmentos, pelo não contato com a mãe, devido à incubadora, na fase ocular e por nunca ter sido amamentada na fase oral. Quando a paciente entra neste núcleo psicótico tem a possibilidade de reelaborar os fatos ocorridos para assim poder superá-los, por isso a sensação de estar mais leve ao final da sessão. 89 Quando ela restabeleceu contato chorou muito, tal era a emoção que estava reprimida pelo sentimento de abandono, Volpi (2000) diz que a dissolução de uma couraça não só libera a energia vegetativa, mas também traz à memória recordações de situação infantis causadoras de tais encouraçamento. 3.1.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 9º sessão do estagio D) Inicialmente a paciente relatou que faltou a última sessão por que depois de já estar pronta começou a ter dores de cabeça, cansaço e sensação de que iria desmaiar, por isso não compareceu. A estagiária explicou que tais reações se tratam de um mecanismo de defesa do inconsciente para não deixá-la conectar com sentimentos tão fortes. Alegou ainda ter tido uma reação bem desagradável após sair da última sessão, diz ter sentido muita dor no peito, como se ele tivesse todo aberto, a estagiária explicou o motivo de tais reações e a finalidade destes trabalhos. Deu-se continuidade aos trabalhos corporais e aplicou-se o Acting 2. Descrição da técnica "ACTING 2" - PROJEÇÃO DOS LÁBIOS ASPIRANDO AR PELA BOCA, ASSOCIADO À VISÃO ALTERNADA DO NARIZ E PONTO NO TETO - ( página, 25): Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo com as palmas das mãos voltadas para baixo. Terapeuta orienta o cliente para que, num primeiro momento, alterne seu olhar entre um ponto no teto e seu próprio nariz. Depois, cliente projeta os lábios formando um "bico" na aspiração, enquanto olha para seu nariz e, na expiração, desfaz a projeção 90 enquanto olha o ponto no teto, com a boca levemente aberta e relaxada. Seguir esta alternância por aproximadamente 20 minutos. A paciente estava com a respiração muito ofegante, sentiu-se tonta, com as mãos geladas, não projetava bem os lábios, não enxergava seu próprio nariz, começou a perder o contato após 2 minutos e conectou-se novamente a memória do período na incubadora (núcleo psicótico), pediu para a estagiária tirar as mangueiras de seus braços e para tirá-la daquele lugar. Ao restabelecer contato, descreveu ter se sentido sufocada, “... como se tivesse algo na minha boca...”, descreveu ter estado em uma caixa escura e sem barulho, cheia de mangueiras, sentia frio e muita dor nos braços. Somente depois de 5 minutos é que conseguiu restabelecer plenamente o contato, chorou muito e ao final da sessão a paciente relatou estar saindo muito bem “[...] como se tivesse tirado tudo de ruim e jogado fora [...]” . Análise teórico prática: as reações que a paciente teve que a impediram de comparecer a última sessão provavelmente estão associadas a um mecanismo de defesa inconsciente, para evitar entrar novamente em contato com emoções tão fortes, o que de acordo com Navarro (1996) são as chamadas fugas. O acting 2 trabalha a emancipação da figura materna, da condição succional e da resolução da oralidade, visto que o movimento alternado do olhar é parecido com o que o bebê faz enquanto esta sendo amamentado, remetendo exatamente a sensações relacionadas a esta fase da vida, explica Navarro (1996). Por este movimento lembrar a amamentação é que a paciente apresentou dificuldade para projetar seus lábios, pois pelo fato de não ter sido amamentada, encontra um vazio nesta região (frente à boca), que gera um sentimento de depressão, pela ausência de algo. É este vazio, a falta do seio, que a paciente evita olhar, por isso alega não conseguir enxergar o seu nariz. 91 A persistência da paciente em tentar projetar os lábios sugere o desejo de recuperação do impulso oral succional e emancipação com relação à amamentação. O ato de sugar com o crescimento se transmuta para a respiração e fazendo a paciente sugar o ar ela conectou com sua solidão básica. O ato de manter a boca aberta proporciona a quebra do mecanismo de defesa, como já citado. (DELAZARI, s.d.). A resistência era tão grande que a paciente, inconscientemente, canalizou toda sua energia para aquelas emoções que precisavam ser reprimidas continuassem assim, por isso a mão gelada e a tontura, falta de energia nas extremidades segundo Baker (1980). A “rapidez” com que a paciente conectou a lembrança traumática está relacionada à sua ausência de defesas do núcleo psicótico, segundo Navarro (1995). Antes de iniciar qualquer trabalho corporal é feito um contrato com a paciente, que quando entra em contato com tais memórias traumáticas ela sempre tem que estar com a consciência no aqui e no agora, para assim conseguir reelaborar o conteúdo de suas lembranças, o que possibilita a superação e desbloqueio e proporciona o bem estar que a paciente demonstrou ao final da sessão. 3.1.1.3 Relato nº3 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D) Iniciou-se a sessão perguntando se a paciente havia sentido alguma reação posterior à sessão. Ela alegou ter sentido que durante a semana estava mais tranqüila tanto que até suas filhas comentaram que ela estava diferente. Frente a alguns relatos de situações enfrentadas pela paciente pode-se perceber que 92 realmente já evoluiu, pois esta se posicionando e aprendendo dizer não para algumas situações. O comportamento da paciente durante a sessão também aponta que o processo de desencouraçamento está surtindo efeitos, pois a paciente já esta se expressando melhor, o tom de sua voz é mais alto e claro, em relação às sessões anteriores, consegue olhar nos olhos da estagiária, coisa que antes não ocorria, e sua expressão facial esta mais serena. Com o intuito de continuar o diagnostico corporal aplicou-se o acting 3. Descrição da técnica "ACTING 3" – IMPULSO DE MORDER ASSOCIADO À VISÃO LATERAL - ( página, 27): Descrição: Pede-se ao paciente a ficar deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo, palmas das mãos voltadas para baixo, proporcionando maior aterramento. O terapeuta coloca uma toalha social dobrada na boca do paciente para que este morda com os dentes incisivos, caninos e pré-molares, forte rapidamente, enquanto alterna seu olhar de um lado para o outro, ampliando ao máximo o campo visual lateral. Esse exercício é feito por aproximadamente 20 minutos. A paciente apresentou dificuldade para morder, alternar o olhar e piscou bastante ao olhar para as laterais. Após 3 minutos perdeu o contato e conectou com o núcleo psicótico novamente, dizia estar nua num hospital onde havia uma mulher gritando e muita água, quando voltou a manter contato alegou muita dor no peito e garganta. Entretanto no final da sessão disse estar se sentindo muito bem e que seu peito esta mais leve. Cabe ressaltar que a paciente já havia feito vários exames médicos para descobrir o que tinha em seu peito, pois sempre sentiu um mal estar nesta região. Análise teórico prática: com relação aos primeiros relatos e as observações da estagiária, a paciente demonstra que está tendo modificações importantes no seu 93 modo de agir, pois nota-se que já esta mais segura de si. Visto que as técnicas de desencouraçamento possibilitam que a paciente entre em contato com esses núcleos traumáticos e que consiga compreender e reelaborar seus significados. Já com relação ao acting 3, Delazari (s.d.) explica que tal técnica resgata a forma mais primitiva de agressividade, de ataque e de expansão que é a mordida. O ato de morder esta relacionado com o rompimento de uma situação de dependência, logo tal técnica resgata a autonomia, a emancipação da dependência oral, contatando assim com a raiva oral bloqueada e ambivalência. A dificuldade que a paciente teve para conseguir morder a toalha está relacionada à raiva oral bloqueada justamente por causa do medo que a paciente tinha de perder o pouco contato que possuía. Navarro (1996) explica que a questão da lateralidade do olhar implica na origem da ambivalência entre impulsos afetivos e hostis, além de ser uma expressão de ansiedade e controle. Observou-se que ao mesmo tempo em que a paciente queria ter este contato afetivo, ela também sente raiva por não tê-lo, é óbvio que esta ambivalência não é consciente. De acordo Navarro (1995), a perda de contato sinaliza o grau do trauma vivido pela paciente em seu parto e nos primeiros dias do período pós-natal. As dores que a paciente relatava estar sentindo mostram a intensidade de tais lembranças, visto que durante a técnica em nenhum momento foi tocado nem no peito e nem na garganta. Tais dores estão relacionadas à sua experiência ainda na incubadora. Contudo pode-se observar que a cada técnica a paciente esta tendo reações positivas que estão possibilitando um afrouxamento de suas couraças, o que reflete no seu modo de agir. 94 3.1.1.4 Relato nº4 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E) Cabe aqui ressaltar que os trabalhos realizados com a paciente ainda fazem parte de um roteiro para a elaboração do diagnostico corporal. Porém, devido à história de vida da paciente e a intensidade de seus traumas já possibilitaram um efeito terapêutico muito significativo. Durante seu processo terapêutico, a paciente, após dois anos e meio em tratamento tanto na psicologia, quanto na psiquiatria, apresentou melhoras significativas e animadoras, sendo que a mais surpreendente é que nos últimos nove meses não teve mais nenhuma crise depressiva grave, não necessitando mais tomar medicamentos que tomava e obtendo alta da psiquiatria. De acordo com seus relatos está descobrindo a alegria de viver. Nesta sessão, ainda na elaboração do diagnostico corporal, foi dado continuidade ao trabalho corporal e foi aplicada a técnica de Sonorização. Descrição da técnica "SONORIZAÇÃO PROLONGADA" – (página, 89): Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo, palmas das mãos voltadas para baixo, proporcionando maior aterramento. Terapeuta propõe que respire sonorizando, durante a expiração, o som “AH”, da forma mais prolongada possível. Nos primeiros minutos o terapeuta coloca a mão em concha sobre os ouvidos do cliente, porém depois deixa que ele faça o trabalho sozinho. Durante a técnica, a paciente, após alguns instantes, entrou novamente em uma memória traumática, porém agora tratava-se de uma situação ocorrida quando tinha 4 anos de idade e seu primo, de 21 anos, tentou molestá-la. A paciente teve reações como perda de contato, falta de ar, choro, medo e tremores no rosto. Quando restabeleceu contato, estava bem agitada e se questionava sobre o que ela tinha feita para ele fazer isso com ela, sentia muita culpa, vergonha e nojo. Porém, 95 no fim da sessão a paciente demonstrou ter reelaborado a experiência, dizendo não ter culpa, pois era apenas uma criança e que não nem sabia dessas coisas (sexualidade) ainda. Análise teórico prática: As modificações de comportamento apresentadas pela paciente podem ser explicadas pelo fato de estar abrandando suas couraças e restabelecendo seu modo funcional natural, conforme Baker (1980). Trotta (1999) explica que o desencouraçamento ocular favorece uma melhor percepção da realidade e conduz a uma reorganização do funcionamento psíquico, e é o que explica o fato da paciente não mais precisar tomar os medicamentos, pois o real problema (causa) está sendo solucionado e não apenas os sintomas (“doenças”). Como característica de sua estrutura de caráter oral, o principio de realidade era fracamente desenvolvido, a aceitação progressiva da realidade é um dos objetivos primordiais na terapia. As reações apresentadas na técnica da Sonorização podem ser compreendidas pelo fato de que tal técnica, segundo Delazari (s.d), energizar, estimular, fortalecer e tonificar a identidade pessoal. Pelo fato de ter um ego mais consciente e por a paciente assim se sentir mais importante e confiante possibilitou que ela entrasse em contato com uma memória traumática e verbalizasse os sentimentos que sentiu no momento da situação, como muita culpa, vergonha e nojo, o que a possibilitou compreender que de fato a culpa não era sua, visto que era apenas uma criança e superar tal conflito consigo. Como o trauma se deu aos quatro anos de idade bem na fase do desenvolvimento libidinal em que a energia da criança volta-se para a descoberta dos genitais, explica Volpi (2002), pode ocasionar um bloqueio de sua sexualidade o 96 que se comprova pelo relato da paciente quando diz ter demorado dois meses para conseguir ter sua primeira relação sexual com seu marido. 3.2 Caso clínico 02 a) Informações preliminares do caso - Mulher de 56 anos de idade, casada. QUEIXA: Encaminhamento de psiquiatra. Passou por onze médicos para descobrir o porquê das coceiras na sua pele. Segundo o último psiquiatra as coceiras eram de fundo emocional e que tinham surgido depois do infarto do marido. ANAMNESE: A paciente vem de uma família composta por cinco irmãos, sendo ela a terceira mais velha. Segundo ela foi uma gravidez desejada e não havia preferência pelo sexo. Sua mãe a teve de parto normal sem nenhuma complicação. Foi amamentada no peito até os 6 meses, usou mamadeira e chupou bico até 8 anos. Sua família era de origem humilde, passaram por muitas dificuldades financeiras e humilhações. Seu pai era autoritário e bebia muito, sua mãe era muito dedicada aos filhos, entretanto não era de demonstrar muito seu amor. A paciente conta que sofreu de enurese noturna até os 8 anos e que chorava muito por tal situação, porém a mãe sempre foi compreensiva e nunca brigava. Aos 7 anos ingressou na escola teve problemas com a professora, pois era canhota e sua professora não aceitava canhotos em sua classe. A paciente alega não lembrar muitos detalhes de sua infância e adolescência. Apenas que sua menarca foi aos 15 anos. Aos 16 anos fez tratamento para gastrite nervosa. Aos 17 97 anos sofreu uma desilusão amorosa e sofreu muito, mas jamais deixou transparecer seu sofrimento. Por volta dos 21 anos conheceu seu atual marido, começaram a namorar, porém a família dele não a aceitava e a perturbou bastante. Segundo ela antes mesmo de se casar já havia se cansado do seu noivo. Casou-se aos 25 anos sem amor, talvez por pena, pois as irmãs de seu marido eram muito controladoras, relata a paciente. Assim que se casou voltou a roer as unhas a ponto de ter que fazer uma cirurgia para extrair uma unha. Seu marido, segundo a paciente, sempre foi muito acomodado e nunca toma iniciativa, ficando tudo para ela. Aos 28 anos teve uma gravidez interrompida aos cinco meses, ficou tão traumatizada que nunca mais queria ter filhos, só depois de um ano e meio, por insistência do marido, resolveu engravidar, teve uma gravidez tranqüila. Depois de aproximadamente quatro anos que teve seu segundo filho, também por insistência do marido, fez cesárea para fazer a ligadura. Nunca amamentou nenhum dos dois filhos, tinha bastante leite mas não saia. Aos 42 anos perdeu sua mãe, de câncer, e após dois meses o pai também faleceu. Já aos 50 anos o marido sofreu um infarto, precisava de medicamentos caros e eles não podiam comprá-los, então ela teve que correr e pedir ajuda todos que podia. Alega que por 3 anos teve que agir num ritmo acima do seu normal, tinha que dar conta do trabalho, trabalhava numa escola,cuidava da casa e do marido. Diz que os dois primeiros anos passou por muitas humilhações. Neste mesmo tempo começou a ter uma alergia, começou a ir aos médicos e nenhum descobrirá o que era, mais a alergia continuava a piorar, sua pele começou a ficar em carne viva de tanta coceira. Até que chegou ao psiquiatra, que atendia no hospital escola da Unesc, que disse que suas coceiras eram de fundo emocional e que tinha surgido 98 após o infarto do marido, fez o encaminhamento para a psicologia da clínica escola da mesma instituição e há dois anos vem sendo acompanhada pelos estagiários da psicologia e psiquiatria, que segundo ela tem sido sua salvação. b) Hipótese diagnóstica Diagnóstico psicodinâmico: Considerando o fato de a mãe nunca ter sido muito de demonstrar carinho pode ter havido um déficit de maternagem. Além de apresentar uma fixação na fase oral, visto que chupou bico e mamadeira até os oito anos e roeu unha com bastante intensidade. Podendo também haver alguma fixação na fase anal, pois sofreu de enurese noturna até os 8 anos. Diagnóstico caracterológico: Pelas fixações na fase oral do desenvolvimento libidinal e pelo comportamento passivo e a dependência, pela dificuldade de tomar uma posição e enfrentar a oposição, ter uma grande necessidade de falar muito e contar os fatos com muitos detalhes e pelo uso do cigarro pode-se se sugere traços de caráter oral. Além do fato da paciente apresentar fixação anal do desenvolvimento libidinal e pelo fato do impulso agressivo estar dirigida para dentro, raiva voltada contra si mesma, levando-a a sofrer de gastrite; pela mágoa e rancor que tem pelas cunhadas; sua necessidade de derivar prazer através da dor para abrandar seu sentimento de culpa, observando-se nas coceiras na pele que ataca em situações de estresse e pelo comportamento sexual ser contido e submisso aponta-se traços de caráter masoquista. Diagnóstico corporal: Durante as técnicas de 1º e 2º seguimento a paciente apresentou: na desfusão apresentou dificuldade de enxergar a ponta do nariz, via 99 dois dedos e chegou um ponto que não via os olhos da estagiária e sim os da mãe liberando assim um choro que segundo a paciente já fazia tempo que não conseguia expressar. No Acting 1 a paciente apresentou dificuldades em manter a boca muito aberta, cansaço, boca seca e tensão nos braços e maxilar. Acting 2 não conseguiu fixar um ponto no teto, tinha dificuldade em soltar o ar pela boca, no conseguiu fazer o bico e incomodo nos braços. Acting 3 apresentou dificuldade de morder forte, piscava forte depois de olhar para o lado direito, cansaço e agonia. Acting 4 não conseguia enxergar a parte inferior, pulava o olhar da parte superior, alterou o sentido do olhar e não mostrou a parte inferior dos dentes. No 3º segmento, durante a sonorização a paciente apresentou dificuldade de sonorizar os sentimentos e lembrou-se de um fato com o marido. No 4º segmento durante a técnica do “eu” socando a paciente sentiu muito calor, suor e pediu para parar. No “não” socando a paciente falava baixo e não conseguiu fazer por muito tempo, pediu para parar. Obs.: Devido a um problema de coluna os trabalhos corporais foram interrompidos. Com base nas informações já obtidas observou que seu bloqueio era principalmente de primeiros segmentos contou-se um plano terapêutico com algumas alterações necessárias devido ao problema da paciente, as técnicas serão realizadas sentadas. Plano terapêutico: Considerando que o traço básico de caráter desse paciente é oral, espera-se que a expectativa transferencial seja de acolhimento. Assim, especialmente no início do processo terapêutico, a postura da terapeuta deve proporcionar acolhimento básico com situações de maternagem, uso da lanterna azul associado à bala de leite e mão em concha. Em um segundo momento, a terapeuta deverá propor técnicas que permitam o desencouraçamento dos primeiros segmentos, auxiliando na 100 constituição do narcisismo primário, atualmente bastante débil. Entretanto devido as limitações da paciente as técnicas serão adaptadas, os trabalhos corporais serão realizado sentados ou de pé, quando necessário. Além disso, os actings também proporcionarão a liberação da raiva oral, hoje reprimida, comprovada pela dificuldade de morder durante o acting 3. Os trabalhos de estimulação luminosa auxiliarão no desbloqueio ocular. A técnica visualização das mãos com sonorização contribuirá na consolidação da identidade primária. A técnica a visualização da pélvis é muito necessária, visto que a paciente tem um bloqueio muito forte apontado no acting 4, onde alegou não enxergar a parte inferior. 3.2.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática 3.2.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 8º sessão do estagio D) Com o objetivo de iniciar o diagnostico corporal foi aplicado a Desfusão (página 8, apostila SWR RS), descrição da técnica: Cliente em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo. Num primeiro momento terapeuta aproxima e afasta seu dedo do nariz do cliente solicitando que acompanhe com o olhar. Passados alguns minutos terapeuta para seu dedo a uma distância aproximada de uns quinze centímetros do nariz do cliente, pedindo que alterne seu olhar entre a ponta do dedo e seu próprio nariz (objeto parcial). Decorridos mais alguns minutos, quando o dedo do terapeuta está se afastando do nariz do cliente, o olhar deste segue se alternando entre dedo e nariz, porém quando se aproxima, o 101 olhar fica fixo no dedo. Após certo tempo, a cliente alterna seu olhar entre a ponta de seu nariz, o dedo do terapeuta e os olhos deste. Por último, orienta-se o cliente para que repita o exercício com seu próprio dedo, tanto direito quanto esquerdo várias vezes. Todo exercício deve ser acompanhado com contato labial. Sua duração aproximada total é de 20 minutos. Durante a execução da técnica a paciente apresentou dificuldade de enxergar a ponta do nariz, via dois dedos e durante alguns momentos não via os olhos da estagiária e sim os de sua mãe, liberando assim um choro que, segundo ela, já fazia tempo que não conseguia expressar. Ao final da sessão, a paciente agradeceu pela ótima experiência e relatou estar se sentindo muito aliviada e feliz. Análise teórica prática: de acordo Delazari (s.d) está técnica trabalha a desfusão com o primeiro objeto libidinal, o seio da mãe. O fato de a paciente ver dois dedos quando próximo do nariz, que é a dificuldade de fusão binocular no ponto próximo, expressa uma tendência a perder o contato com a realidade (fuga), relata Navarro (1996). Delazari (s.d.) acrescenta que essa duplicação esta relacionada à fusão alucinatória de que sua boca e o seio da mãe são uma coisa só. Por isso, a dificuldade da paciente em enxergar seu nariz, pois nessa região existe a sensação desagradável provocada pelo fato de que o seio não está mais ali, salienta Navarro (1995), e que Delarazi chama de medo da castração. A lembrança da mãe ao olhar nos olhos da estagiária e o relato do paciente sugere que tenha conseguido fazer a desfusão com o primeiro objeto libidinal que é o seio (objeto parcial) e que tenha percebido a mãe inteira (objeto total). 102 3.2.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 10º sessão do estagio D) Após os primeiros trabalhos de primeiros segmentos a paciente relatou ter tido sensações posteriores muito positivas como: voltou a ter sonhos, estar mais consciente de si e suas necessidades, não estar mais fazendo as coisas por obrigação, alegou não mais se irritar com a falta de iniciativa do marido, diz que passou a respeitar o jeito dele e não mais se incomodar com isso o que, segundo ela foi muito bom. Com o intuído de continuar o diagnóstico corporal propôs o Acting 4, descrição da técnica ROTAÇÃO OCULAR COM SORRISO FORÇADO – “ACTING 4” (página 29, apostila SWR RS): Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas, braços ao longo do corpo com mãos voltadas para baixo. Terapeuta solicita que o cliente amplie ao máximo sua visão com rotação ocular no sentido horário para mulheres e anti-horário para homens, por alguns instantes, de forma continua. A seguir, pede que retraia os lábios expondo todos os dentes, tanto inferiores quanto superiores, simulando um sorriso, concomitantemente com a rotação ocular. Caso haja tendência a retrair o campo visual, pode-se sugerir que fixe alguns pontos nos quatro quadrantes, apenas como referencia, mantendo harmoniosa a continuidade do olhar. Durante a técnica a paciente alegou não conseguir enxergar a parte inferior na rotação ocular e pulava o olhar na parte superior, mexia a cabeça para olhar mais amplamente, alterou o sentido do olhar e não mostrou parte dos dentes inferiores. 103 Análise teórica prática: de acordo com Delazari (s.d.) esta técnica trabalha conteúdos ligados à identificação da realidade corporal da pessoa e as transferências eróticas. A rotação ocular está relacionada à ampliação do campo visual e a visão periférica que está associado à constituição do objeto de desejo e do triângulo edípico, explica Delazari (s.d.). Navarro (1996) completa dizendo que o girar dos olhos está ligado também ao momento histórico da pessoa, a organização espaço-temporal. O fato da paciente não enxergar a parte inferior pode estar relacionado ao medo das sensações genitais. Já a dificuldade de olhar para a parte superior está ligada à entrada de uma terceira pessoa na relação, o pai, associado a conteúdos histéricos, ou também, de acordo com Navarro (1996), a dificuldade de olhar o passado. Visto que o pai da paciente era alcoolista e que geralmente pais alcoolistas são sedutores, a paciente pode ter tido fixações histéricas ligadas a má elaboração do complexo de Édipo, das quais a paciente tem medo de lembrar, por isso evita olhar nesta direção. O não mostrar os dentes esta relacionado a dificuldade que a paciente tem em conectar com a agressividade e com a disponibilidade. 3.3 Caso clínico 03 a) Informações preliminares do caso: Homem de 37 anos de idade, segundo casamento. QUEIXA: Queixa-se de viver irritado, considera-se uma pessoa de pavio curto, o que lhe traz problemas no relacionamento com a esposa. Afirma que tem oscilações do 104 humor constante, com dias que está bem e satisfeito, e outros, depressivo, preferindo se isolar. ANAMNESE: Nasceu em Laguna, onde viveu até quatorze anos de idade. É o quinto filho de uma prole de sete, na qual morreram os dois primeiros filhos ainda bebês. Seu pai, hoje aposentado, era pescador e sua mãe do lar. O paciente tem pouco conhecimento do início de sua história, pois afirma que em sua casa o diálogo era uma coisa rara, pois o pai mantinha um clima de tensão no ar, já que frequentemente bebia e chegava em casa alcoolizado e agressivo, batendo na mãe e quebrando os utensílios domésticos. O paciente acredita não ter sido desejado, uma vez que sua mãe já teria tido quatro gestações anteriores, inclusive vivenciando a morte das duas primeiras filhas muito precocemente. O paciente acha que nasceu aos nove meses, de parto normal, sem intercorrências. Na época de seu nascimento supõe que sua mãe recebeu a ajuda da avó materna. Relata não ter dados sobre seu desenvolvimento emocional, apenas lembra que sua mãe era caprichosa e higiênica. Diz que por volta dos 7 anos de idades, mudou-se para a casa dos avós paternos, pois não suportava o clima de tensão e medo na casa de seus pais. Relata nunca ter recebido muita atenção e carinho, lembra que seus avós paternos cuidavam dele, mas não eram carinhosos e quando concluiu antigo primário, sua avó o impediu de continuar estudando, afirmando que para ser pescador não precisaria estudar mais nada, o que gerou uma certa magoa com a avó. Quando tinha 11 anos, sua mãe faleceu subitamente, vítima de um “derrame”, aos 37 anos. Até hoje o paciente sente muita falta de sua mãe, e comenta que na época sentiu um misto de tristeza e raiva, pois acreditava que foi seu pai que indiretamente provocou a morte de sua mãe, pois seu sofrimento era 105 demasiadamente grande ao lado dele. Lembra que na infância gostava de brincar com outras crianças a brincar sozinho. Entretanto, sempre teve tendência a se isolar em épocas mais depressivas. Em relação à sexualidade foi com aproximadamente doze anos que realmente se despertou para o assunto, diz que nunca ninguém o explicou nada, aprendia tudo sozinho e que sua primeira relação sexual foi com uma prostituta, pois seus colegas de trabalho acharam que estava na hora de iniciá-lo na vida sexual, diz ter sido muito desagradável e ter sentiu vergonha. Aos quatorze anos mudou-se para Criciúma, pois já não suportava viver com seus avós. Casou-se pela primeira aos 18 anos, logo teve um filho e depois uma filha, hoje com 12 e 9 anos, respectivamente. Diz que não foi feliz nesse casamento e que agüentou bastante, pois não queria sair de casa e deixar as crianças ainda pequenas. Há 5 anos iniciou uma nova relação e hoje está casado novamente. Acha sua atual esposa boa, gosta dela, mas frequentemente sente vontade de sumir da relação, pois acha que seria melhor para todos. Atualmente, queixa-se de viver irritado, considera-se uma pessoa de pavio curto, o que lhe traz problemas no relacionamento com a esposa. Afirma que tem oscilações de humor constante, com dias que está bem e satisfeito, e outros, depressivo, preferindo se isolar. Diz: “tenho tudo para ser feliz, mas me falta algo”. b) Hipóteses diagnósticas Diagnóstico psicodinâmico: Paciente tem uma história de ter recebido pouco carinho e atenção quando criança. Embora não saiba como se deu seu processo de aleitamento, provavelmente sua mãe teve pouca condição emocional de oferecer um 106 colo seguro e amoroso, pois a mesma vivia em constante tensão e medo. Assim, parece que houve um déficit de maternagem, prejudicando a composição do narcisismo primário contribuindo para uma fixação na fase oral. Sobre a fase anal, o paciente não tem informações, diz que sua mãe era “higiênica e caprichosa” o que poderia justificar fixações anais, mas faltam dados que comprovem essa hipótese. Na fase edípica, o paciente provavelmente se negou a identificar-se com o pai, procurando, talvez, a figura do avô paterno, com quem convivia muito e que aos sete anos acabou mudando-se para sua casa. Entretanto, não parece que o paciente apresente fixações edípicas. Diagnóstico caracterológico: O traço de caráter predominante nesse paciente é o oral, demonstrado por suas queixas freqüentes de ter a sensação de lhe está faltando algo, pelo humor depressivo, com períodos de elação, pela irritabilidade e a baixa tolerância às tensões. Além disso, o paciente é um indivíduo ansioso, exigente, e apresenta pouca capacidade de compreender os desejos e necessidades dos outros. Corroborando com os achados clínicos, fisicamente o paciente apresenta uma pele pálida, constituição física magra e frágil, dando a impressão de um organismo pouco energizado, compatível com as características orais. Diagnóstico corporal: Nas técnicas de primeiro e segundo segmento o paciente demonstrou dificuldade de manter a boca aberta no acting 1, formigamento no pescoço no acting 2 e dificuldade de morder a toalha no acting 3. Na mão em concha e na desfusão emergiram sentimentos de raiva e ódio associados à inquietação. Nas técnicas de terceiro segmento, o paciente vivenciou a sensação de incapacidade. No quarto segmento o paciente, com a massagem e mão no esterno o paciente sentiu profunda calma. 107 No “eu socando”, sua sensação foi de ser pequeno e conectou-se com o menino abandonado que sente que foi. No “não socando”, sentiu que estava encurralado, sem condições de dizer não. Na respiração abdominal, o paciente se manteve tenso, com pouca mobilidade torácica. No sexto segmento, na técnica do dedo no umbigo, a sensação foi prazerosa e o paciente relembrou de quando nadava nas lagoas de Laguna. No sétimo segmento, na técnica de chutar o colchão para trás, o paciente sentiu que já não havia mais necessidade de chutar seu pai e avó. Mas, quando chutou o colchão de frente emergiu a raiva de ambos. Resumidamente, percebe-se que o paciente apresenta bloqueios energéticos de praticamente todos os segmentos, a exceção do sexto que não foi notado nenhum bloqueio na técnica aplicada, necessitando de uma investigação mais profunda para melhor avaliação. Projeto Terapêutico: Considerando que o traço básico de caráter desse paciente é oral, espera-se que a expectativa transferencial seja de acolhimento e a transferência negativa latente esteja ligada ao medo de abandono. Assim, especialmente no início do processo terapêutico, a postura da terapeuta deve proporcionar acolhimento básico com situações de maternagem, uso da lanterna azul associado à bala de leite e mão em concha. Em um segundo momento, a terapeuta deverá propor técnicas que permitam o desencouraçamento dos primeiros segmentos, auxiliando na constituição do narcisismo primário, atualmente bastante débil. Além disso, os actings também proporcionarão a elaboração dos impulsos orais e a liberação da raiva oral, hoje reprimida, comprovada pela dificuldade de morder durante o acting 3, além de fortalecer o paciente, suavizando seu medo de abandono. 108 Terminada essa etapa, a terapeuta procurará auxiliar o paciente em seu processo de constituição de sua identidade primária, propondo a técnica do não socando e do eu socando. Trabalhado esses aspectos, é importante trabalhar o sétimo segmento para se permitir ao paciente liberar sua raiva da figura paterna e da avó que o criou, além de se afirmar como homem, já que na fase edípica, sua história sugere dificuldade de se identificar com o pai que era ambivalente, ora honesto e responsável, ora bêbado e agressivo. 3.3.1 Relato das Técnicas e Análise Teórico-Prática 3.3.1.1 Relato nº 1 (4º sessão do estagio E) Com o intuito de por em prática o plano terapêutico propôs a técnica da lanterna azul. ESTIMULAÇÃO LUMINOSA (LANTERNINHA/pag. 12) - descrição da técnica: Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas, braços ao longo do corpo com mãos voltadas para baixo. Pedisse ao paciente que acompanhe com os olhos a luz de uma lanterna que o terapeuta movimenta a uma distância de aproximadamente 25 cm à frente de seus olhos, em ambiente obscuro. O terapeuta deve movimentara lanterna pelos quatros quadrantes do olho, de tal modo que o olhar experimente grande variedade de movimentos, isto é, possibilidade binocular. A duração da técnica media é de 15 a20 minutos. Durante a técnica o paciente franziu a testa e mexeu com as mãos; quando questionado sobre o que sentia nas mãos alegou angústia, depois de um tempo a estagiária pediu que sonorizasse o que estava sentindo e só após alguns 109 minutos de total silêncio o paciente disse que seu corpo estava todo trêmulo. Ao final da técnica o paciente relatou estar se sentindo muito bem, energizado e capaz de pôr em prática todos seus planos. Análise teórica prática: de acordo com Delazari (s.d) o movimento ocular realizado durante a técnica reproduz o ritmo fisiológico associado ao sono REM, que tem um papel importante na restauração psicoemocional, além de trabalhar questões ligadas ao narcisismo primário e conteúdos ligados a fase oral. Navarro (1996) completa dizendo que o impacto da luz é semelhante ao que acontece quando o bebê nasce, o que facilita a conexão com as sensações vividas no nascimento. O franzir a testa trata-se de uma resistência do paciente para evitar sentimentos desagradáveis, como no caso, a angustia relatada pelo paciente, que está relacionada com o medo de abandono vivido pelo paciente nos primeiros dias ou meses de vida, explica Navarro (1996). Já os tremores que o paciente alegou ter sentido por seu corpo estão relacionados ao desbloqueio de energia que estava estagnada no primeiro nível e que se deslocou pelo corpo provocando vibrações em forma de tremores. 3.3.1.2 Relato nº 2 ( 5º sessão do estagio E) No início da sessão o paciente contou que já havia dado entrada nos documentos necessários para abrir seu próprio negócio. Alegou se sentir mais equilibrado, porém, às vezes, ainda tem alguns sentimentos depressivos, entretanto agora já não tem mais vontade de fugir, está aprendendo a lidar com eles. Foi dado continuidade ao trabalho corporal onde se aplicou a técnica da mão em concha 110 integrada com a bala de leite, onde o paciente demonstrou grande resistência ao chupar a bala, porém depois que se permitiu o ato de chupar, ainda que de forma meio contida, alegou sentir seu corpo vibrar e no final disse estar se sentindo muito bem. Análise Teórica prática: os relatos iniciais do paciente comprovam a hipótese de um desbloqueio de primeiro segmento, visto que já houve umas mudanças significativas no seu comportamento, pois o objeto da terapia do oral é justamente fazer com que ele possa se sustentar em suas próprias pernas, explica Volpi (2003). Já a dificuldade encontrada pelo paciente em chupar a bala aponta que houve uma fixação relacionado à segunda fase do desenvolvimento emocional, incorporação ligado a amamentação, com inibição do impulso succional, o que se pode comprovar pelas características orais do paciente, como ressalta Navarro (1995). 3.3.1.3 Relato nº 3 (8º sessão do Estagio E) Inicialmente o paciente relatou ter observado uma reação posterior à última sessão de muito sono, sentia como se quisesse fazer as coisas mas não tivesse energia/ disposição. Disse ter tido uma discussão com sua esposa, não lembra o motivo, mas possivelmente por causa dos filhos dela. Observou o quanto havia melhorado, pois em outras épocas ele teria pegado suas coisas e ido embora, porém agora ele pensa muito antes de tomar uma atitude. Quando questionado o que o havia atraído em sua atual esposa, o paciente deu uma risada e respondeu que ela era uma pessoa carismática e boa 111 mãe. Quando perguntado o motivo da risada, ele alegou que sua mulher às vezes diz que ele procurou nela uma mãe e não uma mulher. De acordo com o diálogo, a estagiária achou necessário fazer a técnica da desfusão. Desfusão (página 8, apostila SWR RS), descrição da técnica: Cliente em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao longo do corpo. Num primeiro momento terapeuta aproxima e afasta seu dedo do nariz do cliente solicitando que acompanhe com o olhar. Passados alguns minutos terapeuta para seu dedo a uma distância aproximada de uns quinze centímetros do nariz do cliente, pedindo que alterne seu olhar entre a ponta do dedo e seu próprio nariz (objeto parcial). Decorridos mais alguns minutos, quando o dedo do terapeuta está se afastando do nariz do cliente, o olhar deste segue se alternando entre dedo e nariz, porém quando se aproxima, o olhar fica fixo no dedo. Após certo tempo, o cliente alterna seu olhar entre a ponta de seu nariz, o dedo do terapeuta e os olhos deste. Por ultimo, orienta-se o cliente para que repita o exercício com seu próprio dedo, tanto direito quanto esquerdo varias vezes. Todo exercício deve ser acompanhado com contato labial. Sua duração aproximada total é de 20 minutos. Durante a técnica o paciente alegou ver dois dedos quando próximo do nariz e enxergar pouco seu nariz, além de olhar mais tempo para os olhos da estagiária. Ao final da técnica relatou que depois de um tempo não conseguia mais ver seu nariz e que ao olhar para a estagiária lembrou-se de sua mãe e disse “... foi como se ela tivesse me dizendo que ela está bem onde está e que eu não precisava me preocupar”. Ao final na sessão o paciente alegou estar muito bem, se sentindo revitalizado. Análise Teórico prática: de acordo com o relato do paciente sobre sua reação frente às discussões e sua não fuga reforça a hipótese de desencouraçamento, de acordo 112 com Navarro (1995), pois o paciente esta aprendendo a lhe dar com seus sentimentos. Cabe aqui ressaltar a importância que Reich (2004) deu ao modo como o paciente relata uma situação, que não é somente o conteúdo que é relevante, mais também o como ele expressa tal informação. No caso do paciente, quando questionado sobre o que o atraia em sua mulher, a risada sem jeito que deu antes de dar a resposta, foi tão importante quando a própria resposta, pois com a risada obteve-se um dado muito importante, pois sua mulher se queixa que ele procurou nela uma mãe, o que reforça a hipótese de uma oralidade insatisfeita. Por este motivo foi proposta a técnica da desfusão que tem o objetivo de desfazer a “fantasia do seio” e assim possibilitar a superação da oralidade insatisfeita. Lowen (1982) aponta essa procura pelo outro para preencher esta lacuna é bem típica do caráter oral. Analisando as reações do paciente frente à técnica pode afirmar que o fato do paciente ver dois dedos quando próximo do nariz seria o que Navarro (1996) relaciona a construção de uma fantasia criada para suportar uma realidade insuportável, no caso a falta do seio, o que sugere a não desfusão alucinatória de que o seio e a boca não são um só. O fato de não ver o nariz está relacionado ao bloqueio desta região, para não conectar com os sentimentos experimentados nesta fase já o fato de chegar a não enxergar mais seu próprio nariz tratasse de uma fuga, de acordo com Navarro (1996), pois o paciente tem medo de tomar conhecimento do seu núcleo psicótico. O fato de lembrar-se da mãe ao olhar nos olhos da estagiária e ter sentido como se ela tivesse dito, “... ela está bem onde está e que eu não precisava me preocupar”, pode sugerir que finalmente o paciente esteja conseguindo fazer a desfusão com o primeiro objeto libidinal (seio) e ter percebido a mãe total. 113 3.4 Caso Clinico 04 a) Informações preliminares do caso: Mulher de 41 anos, casada. QUEIXA: a paciente já passou por quatro cirurgias oculares por falta de lubrificação ocular, o que acabou ocasionando rachaduras nas córneas. Alega ter preocupação demasiada com os outros e acaba se prejudicando. Foi orientada por uma professora da psicologia a procurar a Clinica de Psicóloga por seu problema açular ser de fundo emocional. Era professora mais teve que se desligar da profissão por causa de seu problema ocular. ANAMNESE: A paciente é a caçula de sete irmãos. Conta que não foi uma gravidez deseja, seu parto foi feito em casa por parteiras, foi bem demorado, nasceu cianótica e não chorou ao nascer, só depois da parteira dar uns três tapas. Nunca foi amamentada no peito, pois sua mãe alegava não ter leite. Sentia-se desprezada pela mãe. Conta a paciente que usou mamadeira e chupeta até aproximadamente 6 anos. Por volta de 1 ano conta que já andava e falava. Diz ainda que era um bebê que não chorava, sempre muito quieta e calma. Com relação ao seu sono conta que nunca dormiu muito bem em toda sua vida, ela tinha sono muito leve e como dormia nos quarto com os pais acordava durante a noite e via os eles tendo relações sexuais. Aos 5 anos ela já sabia ler e escrever e diz ter aprendido sozinha então pediu para ir para a escola. Sempre gostou das atividades escolares e nunca recebia ajuda de ninguém, por mais que pedisse. Tinha um ótimo relacionamento com o pai que a paparicava muito e nunca a bateu, já da sua mãe tinha muito medo, pois ela era muito brava e a batia bastante. Perdeu o pai aos 6 anos de câncer no fígado, pois ele tinha problemas com bebidas. Depois que o pai morreu se apegou 114 muito ao irmão, pois segundo ela era o único que a defendia. Que depois de um tempo também foi assassinado. A paciente sofreu de enurese até aproximadamente 8 anos e sua mãe brigava muito com ele, pois achava que ela fazia de propósito. Quando criança sua mãe a tratava como empregada ela tinha que fazer tudo enquanto suas irmãs não faziam nada. Suas irmãs a maltratavam muito e não podia chorar por que se não sua mãe brigava. Costumava brincar sozinha e em suas brincadeiras sempre estava tentado se matar e tinha muitos amiguinhos invisíveis. Aos 9 anos teve sua menarca e sua mãe brigou muito e não explicou o que havia acontecido. Aos 16 anos foi violentada e ficou três dias em estado de choque, e sua mãe a insultava e dizia que ela era culpada. Casou-se aos 18 anos com um homem mais velho. O marido reclama muito e sempre a culpa de tudo. Tem dois filhos, um de 21 anos e um de 17 anos. Em seu histórico clínico consta infecção urinária hiper, miopia e astigmatismo e problemas de circulação. Conta que aos 33 anos fez três cirurgias nos olhos, pois eles eram muito secos; 37 anos teve endometriose e teve que tirar o útero; aos 37 anos começou a sofrer de renite alérgica e aos 38 anos desmaiou no trabalho, daí fez uns exames e descobriu ter um início de epilepsia, começou a fazer o tratamento só que só piorou foi quando começou a ir ao Circulo da Luz para fazer reposição das mãos e foi o que a sarou. Diz que já sofreu dois acidentes, pois diz ter tido lapsos de memória, um foi a quando tinha 34 anos um pouco depois de fazer as cirurgias nos olhos e quando seu casamento não estava indo muito bem. A paciente alega que esta tendo dificuldades de ter relação sexual com o marido porque vê nele sua mãe, e ele esta cobrando muito. Diz que faz tratamento psiquiátrico contra uma depressão severa. 115 Esta em tratamento na clinica de Psicologia há um ano e meio, alega ter baixa autoestima e estar muito esgotada. b) Hipóteses diagnósticas Diagnóstico psicodinâmico: Pelo fato de não ter sido uma gravidez desejada e a mãe te-la desprezado sugere um déficit de maternagem, prejudicando a constituição do objeto interno bom e um trauma na fase ocular. A não amamentação pode ter causado também um trauma na fase oral. Pelo fato de ser tão apegada ao pai, posteriormente ao irmão e se casar com um homem tão mais velho aponta uma fixação na fase epidiana. O fato de sofrer de enurese até os 8 anos demonstra uma fixação na fase anal. Diagnóstico caracterológico: Pela fixação na fase ocular e pelo olhar vazio, a busca de solução para tudo no intelecto, a utilização as sexualidade para a aceitação e amor e o medo da rejeição sugere traços de caráter esquizóide. O fato de usar mamadeira e chupeta até os 6 anos e por sua postura dependente e deprimida demonstra uma fixação da fase oral. A fixação na fase anal e por sua postura derrotista, sua aceitação e luta contra a realidade, sua incapacidade de liberar a pressão interna sugerem também traços de caráter masoquista. Diagnóstico corporal: Durante a técnica de defusão a paciente apresentou encouraçamento no 1º segmento, relatou sentir medo, dor na cabeça, enjoou, o olho direito não converge no ponto próximo, tosse, angustia ao olhar o nariz e coração acelerado. No 2º segmento: No Acting 1: dificuldade de ficar com a boca aberta, tontura, medo e seco na garganta. 116 No Acting 2: a paciente alegou não conseguir projetar os lábios (desoratização) porque sentia muita dor no peito, pensão nas costas, não fazia bico, sentia se egoísta quando olhava para seu nariz e culpa. No Acting 3: não conseguiu morder a toalha, não enxergava o lado direito de seu nariz, agonia e pediu para parar. No Acting 4: não conseguia enxergar a parte inferior e sua visão era como se fosse em 2 dimensões. No 3º segmento: Na Sonorização sentiu muita agonia e ansiedade. Na mão abrindo e fechando a paciente alegou ter uma sensação de paz e descarga, contou ainda que antigamente não conseguia fazer tal técnica por que tinha sensações muito ruins. No 4º segmento: durante a técnica do “eu” socando a paciente teve muita dificuldade e só conseguiu fazer por 3 min., disse sentir muita dor nos braços e ombros. No “não” socando chorou muito e não conseguiu fazer, alegou sentir muita raiva do que a mãe a fez passar e angústia, porém não conseguiu expressar. No 5 º e 6º segmentos: durante a técnica da respiração pela barriga a paciente demonstrou ter uma respiração superficial e só conseguiu fazer até a terceira etapa, começou a tossir e alegou sentisse sufocada, angustiada e muita tensão nos pés, principalmente o direito e dor nas costas. No 7º segmento: apresentou ansiedade de queda. Projeto Terapêutico: Considerando que o traço básico de caráter desse paciente é esquizóide, espera-se que a expectativa transferencial seja de acolhimento. Assim, especialmente no início do processo terapêutico, a postura da terapeuta deve proporcionar acolhimento básico com situação de maternagem, uso da lanterna azul associado à bala de leite e mão em concha. Em segundo momento, a terapeuta devera propor técnicas que permitam o desencouraçamento dos primeiro e segundo 117 segmentos, auxiliando na constituição do narcisismo primário, atualmente bastante débil. A estimulação luminosa com filtro vermelho também é necessária para a elaboração de conteúdos associados ao complexo de Édipo, visto sua relação com o pai, posteriormente o irmão e o marido bem mais velho. Além disso, os actings 1,2,3 e 4 também proporcionam a liberação da raiva oral, hoje reprimida, comprovada pela dificuldade de morder durante o acting 3 e no “não” socando, além de fortalecer a paciente, suavizando seu medo de rejeição. Sendo uma das mais defesas mais comum do esquizóide a perda de contato devesse estimular o paciente a manter o contato ocular. Aplicar a técnica da Sonorização prolongada também é muito importante no caso dessa paciente, pois fortalece o funcionamento do ego. No 4º segmento a paciente apresenta bloqueio na expressão da agressividade, portanto a técnica de socar o colchão, “eu” socando e “não” sacando são de grande importância para o desbloqueio deste segmento. 3.4.1Relato das Técnicas e Análise Teórica-Prática 3.4.1.1 Relato nº1 (Técnica aplicada 4º sessão do estagio E) Nesta sessão com o intuído de continuar a elaborar do diagnostico corporal, propôs técnica da mão abrindo e fechando. Descrição da técnica (pag. 68 da apostila SWR): Cliente deitado em decúbito dorsal, pernas fletidas e braços ao lado do corpo, palmas das mãos para voltadas para cima e os olhos fechamos. 118 Após alguns instantes de relaxamento e aprofundamento da respiração, terapeuta solicita que o cliente abra e feche suas mãos simultaniament4e com o Maximo de amplitude possível no movimento, porém de forma suave, sem força. A paciente relatou ter uma sensação de paz, como se tivesse descarregando as energias, contou ainda que antigamente ao fazer tal técnica tinha sensações muito ruins. Posteriormente foi proposta a técnica “NÃO SOCANDO” (página 76, apostila SWR RS).O terapeuta pede ao paciente deitado, que olhe para um ponto no teto enquanto internaliza o conceito “não”. Em seguida pede que expresse a palavra “não” virando a cabeça de um lado para o outro. Passado 3 a 5 minutos pede que continue o que está fazendo acrescentando o movimento de erguer os braços até ficarem perpendiculares ao tronco, fechando os punhos e socando o colchão simultaneamente ao “não”, por aproximadamente 20 minutos. Durante a realização da técnica a paciente alegou ser muito difícil antes mesmo de começar, seus socos eram fracos e demorados, o tom de sua voz era fraco, começou a chorar e parou de socar, disse sentir muita angustia e raiva, porém não conseguiu expressar. Análise teórico prática: a primeira técnica tem como objetivo fazer com que, aos poucos, a paciente vá percebendo com mais nitidez suas sensações corporais, e também, contatando com sentimentos bloqueados há muito tempo, explica Delazari (s.d.). Já o fato de a paciente achar prazerosa uma técnica que antes era vista como desagradável e o desbloqueio de energia, sugere o que, de acordo com Navarro (1996), é a condição de desbloqueamento. Já a segunda técnica proposta, de acordo com Delazari (s.d.) tem o objetivo de reforçar a fraca consolidação da identidade secundária, a dificuldade de se posicionar, o sentimento de inferioridade e a ânsia de reconhecimento. Questões 119 essas que estão bem presentes no funcionamento da paciente. Ainda de acordo com a autora, o “não” é o terceiro organizador psíquico. Os sentimentos emergentes de raiva e angústia estão relacionados com as repressões sofridas ao longo de sua vida e o choro compulsivo pode estar associado a uma tristeza pela frustração do não reconhecimento e desvalorização dos pais. 3.4.1.2 Relato nº2 (Técnica aplicada 5º sessão do estagio E) Inicialmente a paciente relatou que ao chegar em casa, após a última sessão, ficou pensando por que era tão difícil para ela fizer “não”. Contou que se trancou no quarto e foi relembrando de todos os fatos ocorridos em sua vida e foi batendo na cama e gritando não. Disse ter sido ótimo e que foi quando conseguiu realmente superar tudo o que lhe tinha acontecido. Completa dizendo que depois desse insight passou a enxergar melhor (no sentido real e figurado) e agir de outra forma, não mais deixando as pessoas se aproveitarem dela. Expôs outro fato que foi muito importante para ela, a saber, a decisão de não fazer mais uma cirurgia, que já estava marcada para dezembro para corrigir sua mordedura e porque seu maxilar saí do lugar. Disse ao medico que não queria mais fazer a cirurgia porque estava bem assim e que não estava disposta a perder seu verão para fazer uma cirurgia que nem seria tão importante assim. Análise teórico prática: Como já citado, Trotta (1999) explica que podem ocorrer reações posteriormente a sessão. No caso da paciente, um insight muito significativo que provocou um desbloqueio de 1º e 4º segmentos. No 1º pelo fato de passar a 120 enxergar melhor e no 4º porque possibilitou um insight e a construção de um estado de ego melhor, o que explica sua melhora na auto-estima e seu maior respeito consigo mesma. Sabendo que a paciente apresenta um traço de caráter do tipo masoquista, O que era notório na paciente, visto que sempre se sobrecarregava só para ter a aceitação das pessoas, porém após o insight passou a se valorizar mais e não mais ficar esperando o reconhecimento que lhe foi negado quando criança. O problema relacionado aos maxilares está relacionado a sua oralidade ainda não suprida. Que certamente deverá ser trabalhado durante a terapia. 121 4 METODOLOGIA 4.1 Delineamento A presente pesquisa está delineada, no que se refere à classificação, como pesquisa aplicada. E para Luciano ( 2001), “A pesquisa aplicada objetiva gerar a produção de conhecimentos, com vistas à prática voltada à solução de problemas específicos. Seu objeto de investigação é a verdade e os interesses locais” (LUCIANO, 2001, p. 12). Quanto à abordagem do problema de pesquisa, trata-se de uma pesquisa qualitativa. Segundo Luciano (2001), a pesquisa qualitativa: Considera a existência da relação entre realidade e o sujeito, ou seja, a indissociabilidade entre o fenômeno objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser reduzida em números. A interpretação do fenômeno e o seu significado é determinante do processo de pesquisa qualitativa, porém não demanda a utilização de métodos e técnicas estatísticas. (LUCIANO, 2001, p. 13). Quanto aos objetivos, revela-se uma pesquisa exploratória, que segundo a autora: “visa aproximar o problema com as hipóteses de pesquisa”. Neste intento, envolve o levantamento bibliográfico; a entrevista com pessoas que tiveram experiências com o problema pesquisado e analisa os exemplos que estimulem a compreensão (LUCIANO, 2001, p. 13). 122 4.2 Procedimentos No que se tange aos procedimentos técnicos, esta pesquisa refere-se a um estudo de caso, que para Luciano (2001): “Trata-se de um estudo profundo e exaustivo, possibilitando detalhamento de um conhecimento”. (LUCIANO, 2001, p.14). O presente estudo de caso foi realizado a partir da utilização dos relatos de onze sessões, retirados do prontuário de quatro pacientes atendidos pela autora desta pesquisa, na Clínica de Psicologia da UNESC, e analisado de acordo com a abordagem reichiana. 123 5 CONCLUSÃO A presente pesquisa teve por objetivo geral, observar as reações psicocorporais de quatro pacientes atendidos na abordagem psicoterapia reichiana. Por meio da análise feita, a partir da utilização do prontuário de atendimento, conseguiu-se identificar diversas reações psicocorporais, ocorridas durante e após as sessões. Quanto aos objetivos específicos, investigaram-se as reações específicas dos pacientes, levando em consideração, seus históricos de vida. Desta forma, procurou-se entender a relação corpo e mente, partindo do princípio de que o corpo contém a história do indivíduo. Os trabalhos corporais, utilizados em psicoterapia reichiana, possibilitam o acesso às emoções mais profundas, liberando-as e propiciando a resolução dos conflitos psicológicos. Isto é possível, pois de acordo com Reich apud Volpi (2003), cada couraça esconde em si, tanto a emoção bloqueada, quanto o registro da situação que provocou o bloqueio. Portanto: Pode-se observar que na maioria dos pacientes havia algum tipo de núcleo psicótico, que esta, como já visto, relacionado aos primeiros meses de vida. Tal observação pode estar relacionada ao ritmo acelerado que sociedade capitalista exige, diante do fato de não mais haver tempo e nem saúde emocional (ansiedade, estresse, [...]) para se criar uma criança com afeto e dedicação, para que então possa chegar a sua fase adulta sem ter sofrido nem um trauma, possuir um caráter genital. Volpi & Volpi (2003) diz que tanto o próprio Reich, como também, Lowen não acreditavam ser possível, dentro das condições da chamada “vida civiliza”, o desenvolvimento de uma condição absoluta de saúde. 124 Observou-se, também, que os trabalhos corporais, realizados em cada segmento possibilitaram o emergir de diversos sentimentos, o que confirma o relato de Navarro (1996) a este respeito. Deste modo, com a análise, observou-se que quando se trabalhou o 1º segmento, foi relatado: medo, terror, desorientação; no 2º segmento, encontrou-se: raiva, tristeza, comoção, nojo e agressividade; no 3º segmento, notou-se: controle e ansiedade de queda; no 4º segmento: angústia, nostalgia, tristeza, solidão, ambivalência; no 5º segmento: angústia e ansiedade; no 6º segmento: medo, agitação e desespero, e no 7º segmento: destrutividade, moralismo-repressão. Compreendeu-se, a partir daí, que corpo e mente influenciamse mutuamente. Cabe colocar que, durante o trabalho com um segmento, observou-se que outros foram afetados. Compreenderam-se estes processos corporais, partindo-se do conhecimento de que os segmentos estão ligados emocionalmente; portanto, vários segmentos são afetados durante um mesmo trabalho. Frente a estas situações, foram necessárias novas intervenções, exigindo assim, o conhecimento do manejo das técnicas reichianas. É relevante mencionar que, durante a apresentação dos resultados, procurou-se analisar as verbalizações feitas no início das sessões. Isto se faz necessário, pois segundo Trotta (1999), as reações às técnicas reichianas podem ocorrer, tanto na própria sessão, quanto posteriormente. Deste modo, o conteúdo destas verbalizações comprova se de fato que ocorreu ou não algum desencouraçamento, mudança de comportamento, estrutura de caráter, visto que objetivo da terapia corporal é possibilitar que seu paciente chegue ou caráter genital. Destaca–se aqui, que este trabalho teve seu foco voltado para as reações às técnicas reichianas; sendo assim, procurou-se relatar algumas técnicas 125 específicas para cada segmento, aplicadas em quatro pacientes da Clínica de Psicologia da Unesc. Onde foram escolhidas de forma intencional onze sessões. Desta forma, o referente trabalho, não pretendeu mostrar o processo evolutivo da terapia. Cabe salientar, que o processo terapêutico continuou e que muitas das hipóteses levantadas durante a análise do caso, foram confirmadas. Assim também, como foram aplicadas outras técnicas, e repetidas àquelas que se faziam necessárias, pois citando novamente Navarro (1996), o acting deve ser repetido, até que se torne agradável ao cliente, realizá-lo, o que confirma o desbloqueio. De um modo geral, todos os objetivos traçados, inicialmente, neste trabalho, foram alcançados e pode-se dizer que, a realização desta pesquisa possibilitou o aprofundamento dos conhecimentos sobre a abordagem reichiana, principalmente no que diz respeito às técnicas. Vale mencionar a importância da realização de novas pesquisas, que possam mostrar também o processo evolutivo da terapia, contribuindo desta forma, para uma melhor compreensão do processo terapêutico na abordagem reichiana. 126 REFERÊNCIAS ALBERTINI, Paulo. Reich: histórias das idéias e formulação para a educação. São Paulo: Ed. Ágora, 1994. 104 p. BACKER, E. Frederich. O Labirinto humano: as causas do bloqueio da energia sexual. 4ª ed. São Paulo: Summus, 1980. 322 p. CLAPIER-VALLADON, Simone. As teorias da personalidade. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1988. 125 p. CLONINGER, Susan C. Teorias da personalidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 623 p DELAZERI, Adiles Beatriz et al. Técnicas reichianas. SWR, s.d. 136 p. 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