49 PLACAS MIORRELAXANTES:CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO ADRIANA SUZART DE PÀDUA(*) CARLOS ROBERTO DE ALMEIDA(*) EVANDRO DOS SANTOS(**) JOÃO MARCOS PEREIRA ALVES(**) MARCUS BUENO OLIVEIRA(**) PATRÍCIA KIYOE KAKIDA(**) RESUMO As desordens temporomandibulares, mal que atinge grande parte da população, estão relacionadas com fatores oclusais, distúrbios funcionais do sistema mastigatório, bem como o estresse. Essa patologia tem como principal terapêutica a instalação de placas miorrelaxantes. O objetivo deste trabalho foi discutir as vantagens e desvantagens das placas miorrelaxantes prensadas e apresentar suas fases de confecção visando a agilidade dos trabalhos laboratoriais. A montagem do modelo superior pela técnica do modelo dividido agiliza os procedimentos laboratoriais. A utilização da pasta pesada da silicona de moldagem proporciona maior rapidez para confecção da muralha. A possibilidade de voltar o modelo ao articulador após a acrilização da placa para confirmar os contatos obtidos, diminui o tempo clínico do dentista e tempo de cadeira do paciente. DESCRITORES: Desordens temporomandibulares; placas miorrelaxantes. SUMMARY OCCLUSALSPLINT:CONFECTION ARE ADJUSTMENT IN THE LABORATORY Temporomandibular disorders reach an expressive portion of population and are related to three important causes: Occlusal factors, masticatory system functional disturbances and stress. The placing of installing occlusalsplint is the main treatment for such a disease. This text intends to discuss the gains and disadvantages off cured occlusalsplint and to introduce their preparing stages, in order speed up laboratory proceedings. The use of the weighed paste of the molding silicona provides larger speed for making of the wall. The possibility to return the model to the articulador after the acrilização of the plate to confirm the obtained contacts, decreases the dentist's clinical time and time of the patient's chair. KEY WORDS: Temporomandibular disorders, occlusalsplint. 1. INTRODUÇÃO As desordens temporomandibulares (D.T.M.s.) são cada vez mais freqüentes hoje, devido ao estresse da vida moderna, combinado ao acentuado grau de maloclusão decorrente da evolução do ser humano, que ingere uma dieta mais pastosa e que não promove o desenvolvimento adequado do Sistema Estomatognático. Vários tratamentos vêm sendo experimentados na tentativa de sanar ou mesmo minimizar os sintomas de dor de cabeça, dor de ouvido, dificuldade de abrir a boca, cansaço muscular, entre outros. Estes tratamentos são aplicados ao fator que é visto como o principal responsável pela desordem que é o fator oclusal. No entanto, sempre que o paciente não for visto de maneira holística, o problema será resolvido parcialmente, uma vez que a desordem temporomandibular se caracteriza principalmente por ser multifatorial. O tratamento com uso de placas oclusais miorrelaxantes permite que o paciente seja tratado dessa forma, uma vez que não causa alterações irreversíveis e permite que o paciente receba o tratamento de outras áreas envolvidas na terapêutica das desordens, como por exemplo, a fisioterapia, a fonoaudiologia e a psicanálise. As placas miorrelaxantes podem ser confeccionadas com material resistente, resina acrílica ativada termo ou quimicamente, ou com material resiliente, silicone. Todas elas tentam diminuir a hiperatividade muscular, estabilizar a mandíbula simulando condições ideais de oclusão, descomprimir a articu1ação temporomandibular (A.T.M.), funcionando ainda muitas vezes como diagnóstico diferencial no momento de traçar a terapêutica mais acertada para cada caso. As placas miorrelaxantes confeccionadas com resina ativada quimicamente, segundo Okeson (1992 ), tem como principal vantagem a possibilidade de serem instaladas na mesma consulta em que se realizou a moldagem, tendo assim um caráter emergencial importante. Contudo, esta placa tem tempo de vida limitado, uma vez que o acrílico ativado *Professores do Instituto de Odontologia da UNIFENAS, C.P. 23, CCEP. 37130-000, Alfenas-MG **Acadêmicos do Curso Superior de Prótese Odontológica da UNIFENAS. R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998 50 A. S.de PÀDUA et al. quimicamente é menos resistente e sofre ação da saliva, resultando em uma superfície porosa, propensa a gerar gosto e cheiro desagradáveis, alem de coloração modificada. As placas miorrelaxantes confeccionadas com silicone, representam uma superfície macia sobre a qual o paciente tende a morder e, ao invés de promover uma diminuição da hiperatividade muscular, esta se faz aumentada. Para Henriques (1992 ) que essas placas devem ser contra-indicadas para pacientes portadores de sintomatologia muscular dolorosa, já que os resultados da terapia deixam a desejar, opinião compartilhada com os autores deste trabalho. As placas miorrelaxantes confeccionadas com resina acrílica ativada termicamente, apresentam as mesmas indicações e resultados quando comparadas com as placas confeccionadas com resina ativada quimicamente, com a vantagem de terem um caráter mais definitivo, uma vez que o processamento do material garante maior resistência e estabilidade evitando a modificação da cor e o aparecimento de gosto e cheiro desagradáveis. O inconveniente desta placa está na técnica de confecção, que se faz de maneira artesanal e demorada, pois necessita de uma fase laboratorial. O objetivo deste trabalho é apresentar uma forma rápida e precisa da confecção da placa miorrelaxante em laboratório, visando o mínimo de ajuste por parte do cirurgião dentista e agilizando os trabalhos laboratoriais. Além de fazer algumas considerações a respeito de outras técnicas e materiais de confecção e seus resultados. 2.MATERIAL E MÉTODO 2.1.TÉCNICA DE CONFECÇÃO. A seqüência a seguir, descreve a confecção de uma placa miorrelaxante prensada, onde não há necessidade de duplicação do modelo de trabalho, como preconizam Oliveira e Arcuri (1995). No laboratório, com os modelos superior e inferior do paciente em mãos, removam-se as retenções de suas bases. Confeccionou-se guias de orientação em forma de V nas bordas laterais, anterior e posterior do modelo superior, aplicou-se vaselina e passou-se fita crepe em suas bordas como observado na Figura 1. R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998 Figura 1: Dicagem do modelo e guias de orientação. O modelo superior foi montado em articulador semi-ajustável com o auxílio do arco facial fornecido pelo dentista e o modelo inferior foi montado com o auxílio de um registro da relação cêntrica em cera do paciente, este também fornecido pelo dentista. Com um lápis delimitou-se no modelo superior, a área a ser ocupada pela placa: extensão vestibular máxima de 2 mm, 10 a 15 mm da borda gengival dos dentes por palatino e 2 mm posteriormente ao último dente. Uma lâmina de cera 7 dobrada ao meio foi plastificada, dando-se o formato de ferradura, e acomodada sobre a área demarcada previamente. O articulador foi então fechado promovendo a edentação na cera para posterior escultura da placa. O excesso de cera foi removido com uma lecron, deixando apenas o fundo das cavidades formadas pelas cúspides dos dentes inferiores. Após a escultura da placa, removeu-se a fita crepe, que segurava o modelo superior e procedeu-se a inclusão do mesmo de maneira convencional. Porém no lugar do gesso pedra usado na confecção da boneca, utilizou-se a pasta pesada da silicona de moldagem. O desceramento e a prensagem da resina também foram feitos de maneira convencional. Decorrido as 3 horas de polimerização, a mufla foi aberta e o modelo removido. O modelo superior foi novamente colocado no articulador e os contatos conseguidos no padrão de cera foram checados. Nos locais da placa onde não se comprovou os contatos através do carbono, procedeu-se o ajuste da mesma com uma broca freza, até serem constatados contatos em todos os dentes em relação cêntrica e desoclusão dos mesmos pela guia canina nos movimentos excursivos. Após a checagem dos contatos oclusais, executou-se o polimento final com cuidado de não se remover os mesmos. PLACAS MIORRELAXANTES: CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO 51 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO. O arco facial utilizado na montagem do modelo superior teve por função localizar corretamente o eixo de rotação do paciente para que a placa promovesse estabilização adequada da mandíbula, juntamente com a montagem do modelo inferior em relação cêntrica, como recomenda Ramijord e Ash (1994) (Figuras 2 e 3). A finalidade das extensões vestibulares de 2 mm, palatina de 10 a 15 mm e posterior de 2 mm, foi de promover estabilidade e resistência, sem contudo causar desconforto ao paciente. As bordas da placa foram biseladas pelo mesmo fim. Figura 4. Marcas das cúspides inferiores na cera. Com uma lecron, removeu-se todo o excesso de cera, preservando apenas o fundo das cavidades feitas pelas cúspides, pois nessa área e que os dentes inferiores devem manter contato com a placa (Figura 5). Figura 2. Modelo superior montado com arco facial Figura 5. Remoção do excesso de cera com a Lecron Figura 3. Registro oclusal em RC. A lâmina de cera 7 dobrada ao meio promoveu um levantamento mínimo da dimensão vertical, dando condições para que as marcas das cúspides inferiores ficassem gravadas na mesma para posterior escultura (Figura 4). Após a escultura da placa, sua superfície apresentou-se plana, com no máximo 10 mm de extensão vestibulo-palatina, com pelo menos uma cúspide vestibular de cada dente inferior tocando sua superfície e com angulações de 450 na região de caninos, que promoverão a desoclusão dos dentes posteriores durante a protrusão e lateralidade, como preconizou Dawson (1993) e como mostra a Figura 6. Okeson (1992 ) afirma que este tipo de guia é a que causa menor hiperatividade muscular, já que quando somente o canino faz parte do movimento látero-protrusivo, apenas o músculo temporal está ativo. R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998 52 A. S.de PÀDUA et al. no de protrusão (Figuras 9 ,10 e 11). Figura 6. Confecção das guias caninas. Concluída a escultura, a fita crepe foi removida e o modelo foi levado para a mufla para ser incluído (Figura 7). É importante notar que em nenhum momento o padrão de cera foi removido do modelo como recomenda Oliveira e Arcuri (1995 ), já que tal procedimento poderia causar alterações no padrão e introduzir distorções após a acrilização da placa. Figura 8. Muralha de silicone Figura 9.Contatos em RC confirmados. Figura 7. Inclusão do modelo na mufla. O modelo foi incluído na mufla de maneira convencional, modificando-se apenas o material utilizado para a fabricação da muralha. Optou-se pela utilização da pasta pesada da silicona para moldagem, porque esta é bem mais fácil de ser removida durante a demuflagem da peça, deixando-a mais limpa, diminuindo os resíduos(Figura 8). A resina foi polimerizada durante 3 horas, conforme orientação do fabricante. Após o resfriamento da mufla, esta foi aberta e executou-se a demuflagem do modelo. O modelo juntamente com a placa foi reposicionado no articulador com o auxilio das guias de orientação confeccionadas pela técnica do modelo dividido, muito usada na confecção de próteses totais. Dessa forma, pôde-se confirmar os contatos em relação cêntrica em todos os dentes e a efetividade das guias caninas na desoclusão dos dentes posteriores tanto nos movimentos de trabalho e balanceio como R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998 Figura 10. Lado de Trabalho Figura 11. Lado de Balanceio. PLACAS MIORRELAXANTES: CONFECÇÃO E AJUSTE NO LABORATÓRIO Após o ajuste, a placa foi então removida do modelo e polida de maneira convencional, tomandose cuidado para que os contatos obtidos não fossem removidos (Figura 12). 53 OLIVEIRA W.; ARCURI H. Placas Oclusais de Relaxamento: Confecção e Ajuste. Revista da APCD, v.49, n.5, p.358-362, set./out., 1995. Figura 12. Polimento final da placa miorrelaxante. 4. CONCLUSÃO A montagem do modelo superior pela técnica do modelo dividido, agiliza os procedimentos laboratoriais. A utilização da pasta pesada da silicona de moldagem proporciona maior rapidez para confecção da muralha. A possibilidade de voltar o modelo ao articulador após a acrilização da placa para confirmar os contatos obtidos, diminui o tempo clínico do dentista e tempo de cadeira do paciente. 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS. ASH, P.; RAMFJORD, V. - Oclusão. Rio de Janeiro: Guanabara/Koogan. 1994. p.197-203. DAWSON P. E. Avaliação Diagnóstico e Tratamento dos Problemas Oclusais. São Paulo: Artes Médicas. l993. p.199-216. HENRIQUES S. E. F. Efeitos de Placas Oclusais Totais Rigidas e Resilientes Sobre a Atividade Muscular Noturna de Pacientes com Diagnóstico Confirmado de Parafimção. Arquivos do Centro de Estudos do Curso de Odontologia, Belo Horizonte, v.29, n. l, p.35-40, jan./jun., 1992. OKESON J. P. Fundamentos de Oclusão e Desordens Temporomandibulares. São Paulo: Artes Médicas, 1992. p.134-135, 322 - 332 R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:49-53, 1998