Rosa Mota e Fernando Gomes no TMP

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Público Porto
ID: 61464352
19-10-2015
Tiragem: 33895
Pág: 14
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 25,70 x 30,19 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Rosa Mota e Fernando Gomes, dois
ícones do desporto no palco do Rivoli
Atleta campeã olímpica da maratona e futebolista campeão europeu do FC Porto inspiram
espectáculo produzido pelo Teatro Municipal do Porto, com estreia no Rivoli a 13 de Novembro
DR
Teatro
Margarida Gomes
Os percursos desportivos de Rosa
Mota e Fernando Gomes, duas figuras da cidade que se destacaram
no atletismo olímpico e no futebol
europeu, estão na base de Ícones
do Desporto, dois espectáculos que
estão a ser produzidos pelo Teatro
Municipal do Porto (TMP) e que têm
estreia marcada para o dia 13 de Novembro, no Rivoli.
A ideia de levar para o palco dois
ícones do desporto é do vereador da
Cultura da Câmara do Porto, Paulo
Cunha e Silva, e o desafio de criar um
espectáculo desportivo-teatral particular foi lançado há alguns meses
pelo director do TMP, Tiago Guedes,
aos encenadores Pedro Penim e Miguel Loureiro.
Penim é o responsável pelo espectáculo que se vai centrar na figura
da campeã olímpia da maratona. Já
Miguel Loureiro vai tentar retratar os
anos de glória do campeão europeu
de futebol. Rosa e Fernando serão as
estrelas do Rivoli por duas noites (13
e 14 de Novembro), mas a sua presença em palco será curta.
Miguel Loureiro convidou as actrizes Ana Bustorff e Sara Graça para
trabalhar consigo neste projecto, e
nos próximos dias Fernando Gomes
junta-se à equipa para começar a ensaiar a sua participação. Segundo o
encenador, o espectáculo começa
com “a formulação de uma série
de dados biográficos que serão trabalhados de forma ficcional” por si
próprio e pelas duas actrizes. O exjogador do FC Porto deve aparecer
só na parte final da acção, que irá
destacar os dois momentos que o
projectaram para o estrelato, conquistando por duas vezes a Bota de
Ouro.
Do alinhamento consta ainda um
vídeo a relembrar a carreira do excapitão do FC Porto, em cuja equipa principal entrou com apenas 17
anos.
O desafio feito pelo director do
TMP a Pedro Penim levou-o à cidade grega de Maratona, para reviver o
momento-chave da carreira de Rosa
Mota, em 1982, quando venceu a maratona de Atenas. “É uma prova com
um grande simbolismo, porque foi
a primeira maratona feminina que
decorreu em Atenas durante o Cam-
Rosa Mota e Fernando Gomes junto dos encenadores Pedro Penim e Miguel Loureiro
peonato Europeu de Atletismo”, diz
o encenador. Foi também a primeira
maratona em que Rosa Mota participou, e, embora não fizesse parte
do lote das favoritas, bateu facilmente Ingrid Kristiansen, conquistando assim a sua primeira vitória
nesta prova. Do seu currículo fazem
parte muitas outras conquistas, nomeadamente a medalha de bronze
na primeira maratona olímpica em
Los Angeles, em 1984; dois anos mais
tarde, foi campeã da Europa e, em
1987, consagrou-se campeã mundial
em Roma.
É esta carreira que Pedro Penim
vai tentar recriar em palco. A acção
— antecipa o encenador — “andará
à volta da reconstituição da vitória
na maratona em Atenas, que é um
momento muito importante, mas ao
mesmo tempo é uma reflexão sobre
como é que se faz um espectáculo
que tem dois lados: um, biográfico
PAULO RICCA
Rosa Mota tornou-se um ícone da cidade
— é a pessoa que está a ser homenageada —, outro, mais teatral”.
Paulo Cunha e Silva explica que a
ideia de conceber um espectáculo
destes vem na sequência de um projecto que desenvolveu na Porto 2001
— Capital Europeia da Cultura, que se
chamava Fábrica do Corpo Humano.
“O desporto sempre foi central na
actividade cultural da cidade. A ideia
começou a surgir desta forma, e foi
nesse sentido que falei com o director do Teatro Municipal do Porto, a
quem disse: ‘Gostava que encontrasses encenadores que desenvolvessem
um trabalho que desse importância
à icnografia desportiva da cidade,
nomeadamente à maratona e ao futebol’”, revela o vereador da Cultura.
Sublinhando que o futebol e a maratona “são os dois grandes territórios do desporto”, Paulo Cunha e Silva explica ao PÚBLICO que a ideia de
criar um espectáculo com este perfil
“se prende também com a circunstância de o Rivoli ser, por excelência,
o palco do teatro da cidade e, por
outro lado, com a circunstância de
a cidade se identificar com a sua iconografia desportiva, nomeadamente
no atletismo e no futebol”.
Pouco habituado aos palcos dos
teatros, Fernando Gomes confes-
sa que ficou surpreendido quando
Rosa Mota lhe falou do desafio, mas
agora diz que já se habituou à ideia
de ser actor por alguns momentos.
“Não é normal esta ligação e no início fiquei um pouco na expectativa,
mas depois fui conversando com o
Miguel Loureiro e com o director do
TMP, e as conversas ajudaram-me a
digerir a ideia”, diz o ex-futebolista.
E acrescenta ter entendido o desafio
a alguém que, como ele, é “um dos
rostos do FC Porto” para colaborar
nesta iniciativa como “uma homenagem a todos aqueles que projectam
lá fora o nome da cidade”.
“No futebol, sou um dos maiores,
se não o maior, representante da cidade e do país. Dei, como se sabe,
prestígio à cidade e a Portugal pelos
êxitos que alcancei a nível nacional e
internacional”, sublinha o ex-capitão
do FC Porto, que reparte o palco da
glória com a campeã olímpica da
maratona. “A Rosa Mota é, de facto,
uma campeã mundial na verdadeira acepção da palavra”, diz, enaltecendo o “carinho especial” que tem
por ela. “Somos da mesma geração,
crescemos mais ou menos juntos e
temos percursos paralelos. Eu era
campeão, era quem marcava mais
golos, razões fortes para poder representar em palco”, nota, com orgulho, este portuense nascido em
Campanhã e dono de um currículo
invejável. Em 455 jogos só no FC Porto, clube onde jogou 12 anos (1974-80
e 1983-89) e marcou 374 golos. Nesta contabilidade não entram os que
marcou ao serviço do Sporting, do
espanhol Sporting de Gijon e também da selecção nacional.
Catorze anos depois, Rosa Mota
volta a estar debaixo dos holofotes,
no Rivoli. Em 2001, também pela
mão de Paulo Cunha e Silva, a maratonista subiu ao palco do agora Teatro Municipal do Porto para correr
num tapete. Desta vez é diferente, reconhece, mas vai dizendo que a sua
participação em palco será curta. “É
uma honra que a Câmara do Porto
decida homenagear-me — é também
uma honra para o desporto”, declara, congratulando-se pelo facto de o
palco ser repartido com Fernando
Gomes, de quem se tornou amiga.
E, numa tentativa de baixar expectativas em relação ao espectáculo,
deixa uma mensagem: “Quero dizer
que não sou actriz, não quero ser e
que tenho muito respeito por eles”.
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