DESTINAÇÃO HISTÓRICA DAS FORÇAS ARMADAS

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Brasilia, quir.t-i-feiia. 1 <!>' ^ r o de 1997
iSIKI
DESTINAÇÃO HISTÓRICA
DAS FORÇAS ARMADAS
José Sarney
0 Brasil teve, na construção de
suas instituições, um processo completamente diferente da América espanhola. A começar pelo embate
brutal da conquista, o sangue e o saque. Hoje, quinhentos anos depois,
permanecem ainda as evocações daquelas guerras, que se manifestam
em organizações terroristas, como o
Scndero Luminoso do Peru e alguns
grupos radicais mexicanos que pedem vingança pelos astecas e incas.
O "encontro de duas civilizações" foi
a melhor maneira de se tentar esquecer a luta pela posse das índias Ocidentais.
No Brasil, em vez de conquista, tivemos (já usando o jeito de flexibilizar) a colonização, menos sangrenta,
mas sem dúvida cruel. O padre Vieira
dizia que a infelicidade da terra era
motivada pelo sangue derramado
dos nossos índios.
O contraste continua com a formação dos estados nacionais. Na América espanhola eles surgem na lâmina
da espada, na força das armas, impondofronteirase países.
Dizia-se que Bolívar bailara sobre
uma mesa, ameaçando acabar com o
Império do Brasil. Dom Pedro II acreditava nessa história. A ameaça não
era contra o Brasil, mas com a forma
de governo monárquico que então
adotávamos. Bolívar tinha horror a
reis.
Voltemos à Independência. Aqui,
ela decorre de fato político. Dom Pedro I era contra o Absolutismo vigente em Portugal. Num gesto, proclama
a Independência, rompe com o pai, os limites.
Na América espanhola as instituiDom João VI, e funda um Estado.
Bolívar era republicano, mas dita- ções e estados surgiram dos enfrendor. E, como Napoleão, desejava que tamentos e dofioda espada. No Braas instituições tivessem sua imagem sil, ela foi obra do gênio dos nossos
eforma.Dom Pedro II era imperador homens públicos, tendo à frente a fimas, ao fundar o Império, a primeira gura de José Bonifácio. Os primeiros
tentação é a de criar instituições por anos foram difíceis. Surgiram as difiintermédio de uma Assembléia culdades com a Confederação do
Constituinte que construísse o arca- Equador, o Fico, a crise da Abdicabouço legal do Brasil. Os anais desta ção, a Maioridade. Essas crises, por
Constituinte, que não veio a se con- incrível que pareça, foram resolvidas
cluir, são fascinantes. Aqueles ho- no Parlamento. Foram soluções polímens chegavam a cavalo ou em car- ticas e jamais extrapolaram para conruagens, deixavam o chapéu nas ca- frontações sangrentas.
Por outro lado, as forças irreguladeiras e discutiam abstrações. Falavam da liberdade de imprensa, e não res, embrião das nossas Forças Arhavia no Rio de Janeiro tipografias madas, exerceram um papel diferenem condições de fazer jornais. Dis- te daquelas da América espanhola.
sertavam sobre os predicamentos da Lá, elas não participaram do sonho
magistratura, mas não tínhamos jui- de Bolívar, dividindo-se e possibilizes. Falavam sobre direitos civis, e tando a fragmentação da Grã-Conão havia autoridade pública. So- lômbia. Aqui, aos militares foi dada a
nhavam com uma Constituição para alta e extraordinária missão de manum país do qual ninguém conhecia ter a unidade, e as nossas espadas fo-
ram usadas para cumprir a destinação histórica das Forças Armadas.
Essa missão, como bemfixouo almirante Custódio José de Mello, é a de
equilíbrio entre os embates políticos,
a serviço da moderação, da arbitragem, da pacificação. Não é por acaso
que o patrono do nosso Exército tem
o nome de Pacificador. Nessa observação não vai nenhuma medida de
valor. Há a constatação da História.
Napoleão fez as básicas instituições
da França. Bolívar fez a América espanhola, construiu países, sonhou
com a unidade.
Aqui, Caxias, Osório, Tamandaré,
Mascarenhas de Morais, Castelo
Branco e tantos outros, cada um no
seu tempo deu uma contribuição definitiva à consolidação da pátria.
Muitos deles foram políticos e soldados participando da construção da
obra parlamentar.
No presente, desaparecidas as hipóteses de guerra no mundo, os nos-
sos exércitos devem estar voltados
para o cumprimento de suas missões
profissionais, capazes de manterá
ordem interna e proteger as instituições.
Para isso, é necessário dar-lhes
condições de treinamento, capacitação, operacionalidade, sem esquecer
o lado humano do soldado, devolvendo-lhe o status social, diminuído
por ressentimentos passados, assegurando-lhes melhores condições de
vida, de trabalho, vencimentos condignos.
Portanto, vamos adotar uma vacina no Mercosul: evitar qualquer investida de vendedores de armas em
processo de falência, à procura de
mercados. Nada de competição aymamentista. A prioridade é assegurar
condições para que tenhamos ordem
interna, riqueza e bem-estar social.
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I
• José Sarney, ex-presidente da República, é /
senador pelo PMDB do Amapá
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