Diagnóstico Correto Soja, milho, feijão, algodão, cana-de

Propaganda
Doenças
Diagnóstico correto
Rudimar Mafacioli
Soja, milho, feijão, algodão, cana-de-açúcar e girassol estão entre as culturas anuais atacadas
por fitonematoides, organismos microscópicos que habitam o solo e provocam severos danos às
plantas. Para realizar seu manejo adequado é essencial a identificação das espécies presentes na
área, de modo que as medidas adotadas sirvam para prevenir e não para agravar os prejuízos
F
itonematoides são organismos
vermiformes e microscópicos que
habitam o solo e retiram os nutrientes necessários para o desenvolvimento
e reprodução das células dos vegetais, geralmente das raízes, causando danos severos nas
plantas hospedeiras. As principais espécies
associadas às culturas anuais no Brasil são os
nematoides das galhas (Meloidogyne incognita
e M. javanica), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus e P. zeae), o
nematoide de cisto da soja (Heterodera glyci-
nes) e o nematoide reniforme (Rotylenchulus
reniformis), que ocorrem frequentemente
associados a culturas como soja, milho, feijão,
algodão, cana-de-açúcar, girassol, entre outras.
No entanto, nas últimas safras, o nematoide
que tem causado maiores problemas, especialmente em lavouras da região Centro-Oeste do
País, é o P. brachyurus.
Os sintomas observados na parte aérea das
plantas atacadas são praticamente os mesmos
para todas as espécies citadas e consistem em
reboleiras de plantas com tamanho reduzido
e com amarelecimento. São frequentemente
confundidos com outros agentes abióticos
ou bióticos, como deficiência nutricional e
patógenos de sistema radicular. Nas raízes
das plantas atacadas observam-se sintomas
específicos de cada espécie. Os nematoides
das galhas, por exemplo, provocam o engrossamento das raízes na forma de nódulos
ou tumores. Nas raízes com nematoides de
cistos é possível observar, com auxílio de uma
lupa de bolso, a presença de fêmeas na forma
de limão, com coloração variando de branco
leitoso até marrom escuro. Já os nematoides
de lesões não são facilmente diagnosticados no
campo, e talvez este seja um dos motivos pelo
38
Divulgação
Rudimar Mafacioli
qual a ocorrência desta espécie tem passado
despercebida.
Um dos agravantes dos problemas de
nematoides no Brasil tem sido a ocorrência
de populações mistas, ou seja, composta por
duas ou mais espécies. Em geral, nestes casos,
o efeito sobre a cultura tende a ser aditivo e,
além disso, esse tipo de infestação dificulta o
controle dos fitoparasitos.
Outro problema comum que contribui
para o manejo incorreto de fitonematoides
é o erro na diagnose. O produtor não deve
confiar na análise visual realizada no campo,
isto porque apesar de algumas espécies serem facilmente diagnosticadas pelo sintoma
apresentado na planta, como os nematoides
das galhas, outras podem estar presentes e
não serem notadas. Por exemplo, quando
nematoide das galhas ocorre associado ao
das lesões radiculares, o produtor consegue
observar com clareza apenas os sintomas do
primeiro e, neste caso, a escolha das estratégias
de manejo, poderá permitir o aumento da
população de Pratylenchus. Somente com a
análise laboratorial é possível saber quais os
nematoides presentes na área, e isto reduzirá
as chances de erros na escolha da estratégia,
principalmente quando a opção de controle é
a rotação de culturas, o uso de adubos verdes
e de variedades resistentes.
O manejo destes patógenos é bastante
complexo e medidas isoladas não surtem
efeito satisfatório. O primeiro método indicado é a escolha de áreas indenes, porém, é
quase impossível encontrar no Brasil áreas
agrícolas onde não ocorra pelo menos uma
das espécies de grande importância. Ainda
assim, é importante que o produtor tome
alguns cuidados básicos para evitar a entrada
de diferentes espécies ou raças de nematoides,
como aquisição de sementes de boa qualidade,
realização de limpeza periódica de máquinas
e implementos, principalmente quando estes
vêm de outras áreas, cuidados com os tratos
culturais, entre outros. No caso da ocorrência em reboleiras, recomenda-se que esta
seja isolada e trabalhada separadamente do
restante da área, especialmente nas grandes
propriedades, o que pode reduzir o custo com
o manejo e tornar possível o uso de algumas
práticas para redução do nematoide.
Uma importante ferramenta para o
controle é o uso de cultivares resistentes, por
tratar-se de um método seguro e barato. Algumas cultivares, principalmente de soja, milho
e algodão, apresentam resistência aos nematoides das galhas, porém, dois fatores precisam
ser considerados na escolha dessa opção. O
Claudia lembra a importância do diagnóstico correto
de nematoides para não comprometer investimento
Nas raízes das plantas atacadas se observam
sintomas específicos de cada espécie de nematoide
primeiro é que o uso contínuo de determinado genótipo pode promover o surgimento de
populações capazes de quebrar a resistência
da cultivar, devido à variabilidade genética
do patógeno. O segundo fator é a ocorrência
de populações mistas de fitonematoides na
mesma área, já que a maioria dos genótipos
apresenta resistência monoespecífica.
Desta forma, aliada à escolha de cultivares resistentes, é muito importante que o
produtor adote outras estratégias de manejo.
A rotação de culturas é uma das principais
práticas para a redução populacional desses
parasitos, com benefícios incontestáveis. No
entanto, para a seleção das plantas que irão
compor o esquema de rotação, são de extrema
importância a identificação e a quantificação
das espécies de nematoides presentes na área.
Só após o resultado desta análise o produtor
poderá fazer a escolha das plantas a serem
introduzidas na área.
Este alerta, apesar de importante para
todos os nematoides, vale principalmente para
o nematoide das lesões radiculares, visto que
espécies amplamente utilizadas em rotação
nas áreas onde ocorrem nematoides das galhas
e de cistos são suscetíveis ao nematoide das
lesões, como milho, sorgo, braquiária e outras
gramíneas forrageiras. Assim, tem sido recomendada a rotação com crotalária (Crotalaria
spectabilis), que apresenta efeito antagônico
aos diferentes nematoides que parasitam as
principais culturas anuais. Outras plantas têm
sido indicadas para a rotação em áreas com
Pratylenchus, contudo, é necessário cuidado
na escolha de espécies e/ou variedades, visto
que pesquisas para o manejo deste nematoide
ainda estão em andamento.
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
Outra prática que tem surtido bons
resultados é o tratamento de sementes com
produtos nematicidas. Dentre as principais
vantagens deste método destacam-se o baixo
custo gerado com a operação e a proteção da
planta na fase inicial de desenvolvimento,
sendo este o estágio em que as mesmas estão
mais suscetíveis, pois os nematoides têm preferência por raízes jovens e é nesta fase que
se define o potencial produtivo da cultura. O
tratamento não deve visar apenas à proteção
contra nematoides, mas também ter como
alvo doenças causadas por fungos e bactérias,
além de insetos. Dentre os princípios ativos
para o tratamento de sementes visando ao
controle de nematoides em culturas anuais,
como soja e algodão, destaca-se a abamectina,
cujos resultados são bastante promissores.
Para o futuro, algumas estratégias vêm
sendo pesquisadas, como o uso de indutores
de resistência e estimulantes vegetais. Apesar
dos resultados recentes, pesquisas em condições controladas mostram que tais substâncias
também auxiliam no manejo de fitonematoides. Vale salientar que esses produtos não têm
efeito nematicida, mas podem aumentar o
vigor vegetativo da planta e a sua capacidade
de suportar condições de estresse ambiental ou
ainda ativar algum mecanismo de resistência
do vegetal aos nematoides.
Erradicar os nematoides presentes nas
áreas agrícolas é impossível, por isso, é preciso
conhecer e avaliar o custo/benefício de cada
estratégia de manejo, a fim de traçar um programa de manejo integrado de nematoides.
Lembrando que o investimento na adoção
das práticas para o manejo será em vão caso o
diagnóstico não seja correto.
C
Claudia Regina Dias Arieira,
Univ. Estadual de Maringá
Download