EVENTOS ADVERSOS A MEDICAMENTOS EM AMBIENTE

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LEITE, M. S., et al.
EVENTOS ADVERSOS A MEDICAMENTOS EM AMBIENTE HOSPITALAR
ADVERSE DRUG EVENTS IN HOSPITALS
REACCIONES ADVERSAS A MEDICAMENTOS EN EL MEDIO HOSPITALARIO
Marla Simone Leite1
Viviane Cecília Kessler Nunes Leuschle2
Régis Augusto Norbert Deuschle3
RESUMO
Evento adverso é definido pela Organização Mundial de Saúde como qualquer ocorrência
médica desfavorável, que pode ocorrer durante o tratamento com um produto farmacêutico,
mas que não possui necessariamente relação causal com esse tratamento. Frente a isto, o
objetivo deste trabalho é levantar os dados relacionados com os eventos adversos a
medicamentos em ambiente hospitalar, através de uma revisão bibliográfica de estudos já
realizados no país. Com os dados coletados, observa-se que os eventos adversos mais
encontrados referem-se à erros de medicação. Conclui-se com a realização deste estudo que é
possível evidenciar a ocorrência de eventos adversos a medicamentos em ambiente hospitalar
e que, na maioria das vezes, os mesmos podem ser evitados, devendo haver um esforço de
todos os integrantes da equipe de saúde para garantir a proteção e promoção da saúde do
paciente.
Descritores: Reação Adversa. Erros de Medicação. Eventos adversos
ABSTRACT
Adverse event is defined by the World Health Organization as any untoward medical
occurrence that may occur during treatment with a pharmaceutical product, but does not
necessarily have causal relationship with this treatment. With this in consideration, the aim of
this work is to raise data related to adverse drug events in the hospital, through a literature
review of studies conducted in Brazil. It was observed that the most frequent adverse events
refer to medication errors. Finally, this study concludes that it is possible to identify the
occurrence of adverse drug events in the hospital and that, in most cases, can be avoided, and
there must be an effort of all members of the health team to ensure the protection and
promotion of health of the patient.
Descriptors: Adverse drug reaction. Medication Errors. Adverse Event.
RESUMEN
Evento adverso se define por la Organización Mundial de la Salud como cualquier incidencia
médica que puede ocurrir durante el tratamiento con un producto farmacéutico, pero no
necesariamente tiene una relación causal con este tratamiento. Frente a esto, el objetivo de
Aluna Egressa do Curso de Farmácia da Universidade de Cruz Alta, Cruz Alta – RS, Brasil.
Docente do Curso de Farmácia da Universidade de Cruz Alta, Mestre em Ciências Farmacêuticas, Cruz AltaRS, Brasil. E-mail: [email protected] (Rua Fabrício Veríssimo da Fonseca, 851, Bairro Bonini II, Cruz
Alta, RS, CEP: 98035-180, Fone: (55) 3322-1968
3
Docente do Curso de Farmácia da Universidade de Cruz Alta, Mestre em Ciências e Tecnologia Farmacêutica,
Cruz Alta- RS, Brasil. E-mail: [email protected]
1
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este trabajo es dar a los datos relacionados con los eventos adversos de los medicamentos en
el hospital, a través de una revisión bibliográfica de los estudios realizados en el país. Con los
datos recogidos, se observa que los efectos adversos más frecuentes se refieren a los errores
de medicación. Se concluye con este estudio, es posible identificar la ocurrencia de eventos
adversos de medicamentos en diversos sectores del hospital y, en la mayoría de los casos,
pueden ser evitados, y tiene que haber un esfuerzo de todos los miembros del equipo de salud
para garantizar la protección y promoción de la salud del paciente.
Palabras clave: Reacción adversa. Los Errores de Medicación. Eventos Adversos.
INTRODUÇÃO
Evento adverso (EA) é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
qualquer ocorrência médica desfavorável, que pode ocorrer durante o tratamento com um
produto farmacêutico, mas que não possui, necessariamente, relação causal com esse
tratamento (OMS, 2002). O conceito também é utilizado no Brasil pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), incluindo-se dentro do mesmo as reações decorrentes do uso
de medicamentos, como as adversas e as interações medicamentosas (BRASIL, 2010).
No ambiente hospitalar, a terapia medicamentosa é utilizada para tratamento das
doenças e manutenção da saúde. Pacientes hospitalizados e que fazem uso de muitos
medicamentos encontram-se mais vulneráveis a ocorrência de EAs. Os eventos adversos a
medicamentos (EAMs) ocorridos na assistência medicamentosa podem acarretar no aumento
do tempo de internação hospitalar, gerar complicações no quadro clínico do paciente e até
levar ao óbito (ROQUE e MELO, 2012).
Os principais fatores de risco associados a esses eventos inclui a idade avançada,
comorbidades, a prescrição de múltiplos medicamentos, o uso inapropriado de medicamentos
e ilegibilidade nas prescrições, fatores estes que podem desencadear erros na administração do
medicamento ou gerar interações e reações adversas e, consequentemente, dano ao paciente
(ROQUE e MELO, 2012).
Dada à diversidade dos fatores de risco e dos fatores causais, a possibilidade de
ocorrência de um EAM não é distribuída igualmente entre os pacientes e um mesmo
indivíduo pode estar sujeito a sofrer vários eventos durante o período de internação hospitalar.
No ambiente hospitalar, para prevenir a ocorrência de um EAM, é necessário que haja a
atuação efetiva de diversos elementos. A equipe multiprofissional deve atuar de forma
integrada nas etapas de seleção, gestão, prescrição, dispensação e administração de
medicamentos.
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O cuidado prestado aos pacientes hospitalizados é, portanto, complexo e requer que
seja executado com qualidade e sem provocar danos ao indivíduo (NUNES et al., 2008). A
administração de medicamentos consiste de um processo multidisciplinar e multisistêmico,
iniciando no momento da prescrição médica, tem seguimento com a provisão deste
medicamento pelo farmacêutico e termina com a equipe de enfermagem na preparação e
administração aos pacientes e os erros de medicação (EM) podem ocorrer em qualquer uma
destas etapas (MIASSO e CASSIANI, 2000).
A OMS vem estimulando todos os países do mundo a prestar maior atenção aos EAMs
e à segurança do paciente. Uma das primeiras atitudes tem sido o incentivo à sistematização
da coleta de informações detalhadas sobre os EAMs para que sejam analisados com vistas ao
planejamento e adoção de estratégias para a redução de incidentes similares no futuro
(THOMAS; PACHAGNULA, 2008).
Em âmbito internacional, ao longo dos últimos anos, em vários países, já vem sendo
desenvolvidas e implementadas práticas e políticas públicas para notificação dos EAMs, entre
eles os EM. No Brasil, a identificação, classificação e análise dos EAMs, ocorridos em
instituições hospitalares, são pouco divulgadas e as ações governamentais, em prol da
segurança dos pacientes, ainda são muito tímidas, pois não existem estimativas sobre a
incidência de EM, sobre suas consequências, suas causas e nem dos custos diretos e indiretos
desses erros para as organizações de saúde (SILVA, 2011).
Considerando o impacto que os EAMs podem representar à saúde do paciente, este
trabalho visa fazer uma revisão de literatura de EAMs em ambiente hospitalar. Frente a isto, o
objetivo deste trabalho é levantar os dados relacionados com os eventos adversos a
medicamentos em ambiente hospitalar.
MÉTODOS
Foi realizada uma revisão bibliográfica sistemática quantitativa sobre informações a respeito
de eventos adversos a medicamentos em ambiente hospitalar, utilizando-se as bases de dados
SCIELO e LILACS. Como descritores foram usados os seguintes termos com várias combinações
entre si: eventos adversos; erros de medicação; reações adversas e farmacovigilância.
Consideraram-se apenas os artigos originais publicados entre 2007 a 2014. A busca retornou 40
artigos, dentre os quais foram selecionados 18, utilizando-se como critério de inclusão o fato das
publicações estarem estritamente relacionada com os descritores e com o tema de eventos adversos
a medicamentos em ambiente hospitalar.
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RESULTADOS
Os resultados encontrados na pesquisa encontram-se dispostos na tabela 1.
Tabela 1- Medicamentos mais frequentes envolvidos e/ou fatores causais de eventos adversos
à medicamentos (EAMs) em ambiente hospitalar*
NOME
DO AUTOR (ES) E LOCAL DO MEDICAMENTO ENVOLVIDO
PERIÓDICO
ANO
DE ESTUDO
E/OU FATOR CAUSAL DO EAM
PUBLICAÇÃO
1. Revista HCPA Santos et al., 2010 Porto Alegre- - Uso inadequado de antimicrobianos
RS
e antibióticos.
2.
Revista Rodrigues;
Eletrônica
de Oliveira, 2010
Enfermagem
3. Revista de Rozenfeld;
Saúde Pública
Giordani;
2013
- Seleção incorreta do medicamento,
sendo citados com maior frequência
os antibióticos vancomicina,
meropenem, e cefepima.
- Erros no preparo da medicação.
- Erros no horário de administração.
Rio de Janeiro- - Foram relacionados 34 EAMs, sendo
Coelho, RJ
que os fármacos envolvidos com
maior frequência foram: tramadol,
dipirona, glibenclamida e furosemida.
Porto Alegre- - Erros de medicação.
Frantz; RS
- Identificação incorreta do paciente
4.
Revista Corbellini;
Brasileira
de Schilling;
Enfermagem
Godinho;
Urbanetto, 2011
5. ConScientiae Menezes;
Saúde
Nascimento,2010
6. Escola Anna
Nery
7. Revista LatinoAmericana
de
Enfermagem
8. Revista da
Associação
Médica Brasileira
9. Revista da
Associação
Médica Brasileira
10.
Revista
Latino-
Brasilia-DF
São Paulo- SP
- Erros de medicação envolvendo os
antibióticos das classes das
cefalosporinas e quinolonas.
Roque, Melo, 2012 Rio de Janeiro- - Foram relacionados 16 EAMs, sendo
RS
que os fármacos envolvidos com
maior frequência foram:
glibenclamida, furosemida e insulina;
heparina e varfarina; digoxina.
Silva;
Reis; Goias- Erros na administração de
Miasso;
Santos;
medicamentos.
Cassiani, 2011
Mendes;
Pavão; Rio de Janeiro- Complicações cirúrgicas, atraso ou
Martins;
Moura; RJ
falha de diagnostico/tratamento.
Travassos, 2013
Teixeira, 2013
São Paulo- SP - Efeito rebote após descontinuação
do uso de medicamentos (eventos
adversos graves e fatais)
Nascimento;
São Paulo- SP - Sonda nasogástrica, queda, erros de
Toffoletto;
administração
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Americana
de
Enfermagem
11.Revista
de
Saúde Pública
12.
Escola
Paulista
de
Enfermagem
Gonçalves; Freitas;
Padilha, 2008
Louro;
Lieber; Maringá-PR
Ribeiro, 2007
Bohomol; Tartali, São Paulo- SP
2013
13.Revista Escola Claro; Krocockz;
Enfermagem da Toffolleto; Padilha,
USP
2011
14.Revista
Brasileira
de
Enfermagem
15.Revista
Ciência
farm.
básica apl.
16.Revista
Brasileira
de
Epidemiologia
Novaretti; Santos;
Quitério;
DaudGallotti, 2014
Souza;
Almeida;
Elias;
Castilho,
2014
Giordani;
Rozenfeld;
Oliveira;
Versa;
Terencio; Caldeira;
Andrade, 2012
Piñera; Valdespino,
de 2014
y
- Erros de medicação e reações
adversas a medicamentos
- Falha na rotina de programação de
procedimentos eletivos e
comunicação entre membros da
equipe de saúde de um centro
cirúrgico.
Campos
do - Erros de medicação, úlcera por
Jordão- SP
pressão, problemas com sondas,
drenos e cateteres. Infecções urinárias,
respiratórias
São Paulo- SP - Sobrecarga de trabalho da equipe de
Enfermagem.
Rio de Janeiro- - Varfarina
RJ
Cascavel-PR
17.Revista
La
HavanaCubana
Cuba
Higiene
Epidemiología
18. CENTRO DE Lieber; Nicolina, São Paulo- SP
INFORMAÇÃO 2009
E REFERÊNCIA
FACULDADE
DE
SAÚDE
PÚBLICA (FSP)
UNIVERSIDAD
E
DE
SÃO
PAULO
* Revisados na literatura consultada através das bases de
- Antidiarreicos e antieméticos;
- Interrupção abrupta da medicação
- Vacinas contra DPT (Vacina contra
difteria, tétano e tosse convulsiva)
- Erros de medicação associados ao
uso de antibacterianos, vacinas e
analgésicos.
dados Scientific Electronic Library
Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) no período de 2007 a 2014.
DISCUSSÕES
Segundo a RDC 04/2009 da ANVISA, os EA são classificados como graves e não
graves. Os primeiros são aqueles que resultam em anomalia congênita, óbito, ameaça à vida
entre outros, e os segundos são representados por qualquer outro EA que não se inclua no
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critério grave, como por exemplo, interação medicamentosa e reação adversa (BRASIL,
2009).
Por sua vez, Amorim e Cardoso (2013) classificam as reações adversas em quatro
categorias quanto à gravidade: leve, moderada, grave e letal, as quais caracterizam um
espectro que vai desde reações de pouca importância clínica e de curta duração (que não
requerem tratamentos ou suspensão do medicamento) até reações que contribuem direta ou
indiretamente para o óbito do paciente.
Os EM são classificados como qualquer evento evitável, que pode levar ao uso
inadequado de medicamento, podendo ou não lesar o paciente, e não importa se o
medicamento se encontra sob o controle de profissionais de saúde ou do paciente (BRASIL,
2010). Do mesmo modo, os erros de administração correspondem a última oportunidade de
prevenir um EM que pode ter surgido já na prescrição ou na dispensação dos medicamentos
(SILVA; CASSIANI, 2004).
Constatou-se através dos resultados apresentados na tabela 1 que a região sudeste foi a
que mais apresentou EAMs. Dentre os medicamentos mais citados nos estudos analisados
encontram-se:
tramadol
(analgésico
glibenclamida
(hipoglicêmico),
opióide),
furosemida
dipirona
(diurético),
(analgésico
varfarina
não
opióide),
(anticoagulante),
cefalosporinas e quinolonas (antibióticos) e vacinas. Foram também citados erros de
tratamentos, de administração, efeitos rebotes, queda e úlceras ligadas às reações adversas, e,
em um dos artigos foi citado óbito por hemorragia devido ao uso de varfarina. Todavia, a
região sudeste também apresentou os seguintes erros hospitalares: erros por complicações
cirúrgicas, atraso ou falha de diagnóstico, problemas com inserção de sondas nasogástrica,
drenos e cateteres, levando a infecções urinárias e respiratórias.
Segundo Louro (2007), EAMs envolvendo antibióticos é uma ocorrência
predominante em ambientes hospitalares, gerando problemas aos pacientes e custos adicionais
ao sistema de saúde. De fato, dentre os gastos hospitalares em medicamento, os antibióticos
são responsáveis por 20% a 50%. E ainda, cerca de 50% dos antibióticos são utilizados de
forma equivocada. Os artigos alvos deste estudo demostraram que a ocorrência de EAMs são
determinadas pela predominância de erros de medicação e erros na administração. Foi
observado que os analgésicos e antibióticos sistêmicos apresentaram índices bastante
superiores considerando as internações relacionadas à intoxicação provocadas pelo seu uso,
com 20 e 11% respectivamente, do que por seus efeitos adversos, responsáveis por 7 e 5%
(FLORES; CASTRO; NASCIMENTO, 2012). A possível justificativa para a ocorrência dos
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erros ligados a antibiótico se encontra na alta demanda deste medicamento. Já os analgésicos,
antitérmicos e anti-inflamatórios estão relacionados ao uso indiscriminado e sem orientação
médica pela população (BRASIL, 2007).
Roque e Melo (2012) realizaram uma pesquisa retrospectiva de prontuários em um
hospital público e cardiológico do Rio de Janeiro, onde identificaram que a incidência de
EAMs foi de 14,3%, sendo que em 31,2% dos casos em que foi detectado o evento houve a
necessidade de intervenção para o suporte de vida. Do mesmo modo, Rozenfeld, Giordani e
Coelho (2013) também realizaram uma pesquisa retrospectiva de prontuários em um hospital
do Rio de Janeiro, em que os resultados observados foram pesquisados através do emprego de
uma lista de rastreadores de EAMs.
Foram identificados um ou mais eventos adversos em 15,6% dos pacientes (o qual é
semelhante ao índice obtido no estudo de Roque e Melo, 2012), e os fármacos mais
frequentemente envolvidos foram: tramadol, dipirona e furosemida. Os resultados foram
semelhantes em ambos os estudos, porém no estudo dirigido por Roque e Melo (2012) foi
identificado a necessidade de intervenção para que o paciente não viesse a óbito. E no estudo
de Rozenfeld, Giordani e Coelho (2013) foi observado que os pacientes apresentaram um ou
mais eventos adversos e podendo constituir um fator de agravo no estado de saúde do paciente
hospitalizado.
Dentre os estudos analisados, destaca-se a manifestação da EA em virtude ao efeito
rebote de algumas classes de medicamentos. O efeito rebote é o resultado das tentativas
automáticas do organismo para retornar ao estado basal (homeostase) que foi alterado pelos
efeitos primários dos medicamentos. Este efeito é considerado um EA devido à alteração na
capacidade dos receptores fisiológicos expressarem uma resposta frente ao medicamento.
As
classes
mais
relacionadas
com
esse
fenômeno
são:
anticoagulantes,
anticonvulsivantes, antipsicóticos, barbitúricos, benzodiazepinas, cimetidina, clonidina,
corticosteróides, opiáceos, propranolol e antidepressivos. Em um estudo clínico realizado com
pacientes que faziam uso de ácido acetilsalícilico como antiplaquetário, cerca de 1,60 milhões
de pacientes apresentaram reagregação plaquetária após o tratamento, sendo este considerado
um EA grave (TEIXEIRA, 2013).
Os hospitais constituem um local privilegiado para a identificação e o
acompanhamento dos EAMs, já que estes ocorrem frequentemente durante as internações
hospitalares (MENEZES e NASCIMENTO 2010). Isso demonstra a importância do serviço
de farmacovigilância como forma de detectar, avaliar, compreender e prevenir os efeitos
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adversos ou qualquer problema relacionado a medicamento durante as internações, incluindo
desde queixas técnicas, erros de medicação, utilização de medicamentos off label e interações
medicamentosas (CAPUCHO; BRANQUINHO; REIS, 2010).
Entre os estudos avaliados, encontram-se como causadores de EAMs, falhas de
processo como: identificação do paciente, erros em bloco cirúrgico, erro no tratamento, entre
outros. Isso demonstra que as EAMs podem ter vários fatores causais, o que reflete a
importância do trabalho conjunto da equipe de saúde em sua prevenção. A equipe
multidisciplinar deve atuar de forma integrada em todas as etapas, desde a seleção até a
administração dos medicamentos. O cuidado prestado aos pacientes hospitalizados é
complexo e requer que seja executado com qualidade e sem causar danos desnecessários ao
usuário (NUNES et al., 2008).
De uma forma geral, observa-se que a maioria dos artigos selecionados para este
estudo abordam como principal causa de EAMs os erros de medicação. Com isso, verifica-se
a necessidade da otimização e supervisão dos processos relacionados aos medicamentos em
ambiente hospitalar, incluindo a melhora na comunicação entre a equipe multiprofissional,
busca por formas de prevenção e esforço da equipe de saúde para evitar a ocorrência de erros
de medicação e adoção de medidas que garantam a proteção e promoção da saúde dos
pacientes.
CONCLUSÕES
Com a realização deste estudo foi possível evidenciar a ocorrência de eventos adversos
em medicamentos em ambiente hospitalar, envolvendo diversas causas e níveis de gravidade,
evidenciando sua ocorrência de forma expressiva.
É sabido que o ambiente hospitalar é sistematicamente complexo, no qual os pacientes
muitas vezes se apresentam em um estado de saúde muito debilitado. Os EAMs na maioria
das vezes podem ser evitados, devendo haver um esforço contínuo dos profissionais de saúde
envolvidos no tratamento, podendo assim prevenir esses eventos dentro de suas respectivas
responsabilidades. Desta forma, torna-se evidente que um serviço de acompanhamento da
equipe multiprofissional competente é altamente recomendado em um ambiente hospitalar
para garantir a assistência ao usuário.
REFERENCIAS
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