a dinâmica das ilhas na desembocadura do rio amazonas

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A DINÂMICA DAS ILHAS NA DESEMBOCADURA NORTE DO RIO AMAZONAS
Marcia de Melo Faria
DERNA/DGC/IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ([email protected])
Abstract
Shoreline morphology in Amapá (northernmost of Brazil) is strongly controlled by Amazon
sediment input and the hydrodynamic mechanisms. During the late Holocene, the interplay of
oceanographic and meteorological conditions linked with fluvial discharges produced a wide coastal
plain along the north region, but an enormous part of sediment remains and supplies the
environments near the Amazon river mouth.
This area has been reinterpreted and updated for SIVAM project (scale 1:250,000) using
remote sensing. During the geomorphological mapping, large-scale coastal changes were observed
using images of the airborne SAR X-HH GEMS (analogic), LANDSAT TM5 (543-RGB, digital) and
spaceborne C-HH band RADARSAT (digital) acquired in 1972, 1997/1998 and 2002 respectively.
Imagery data coupled to GIS techniques produced the vector maps, and through standard
measurements tools, spatial changes were evaluated and the rates were grossly estimated for a
general understanding of coastal evolution.
The Amapa coastal environments have experienced considerable rapid coastal change during
Holocene even observed in last decades. More than twenty islands distributed near the Jurupari
archipelago, Cará and Caviana Islands were created since 1972. Some of them have migrated and
other ones were accreted in a bigger and preexistent island as Caviana for example. According the
vector analysis, its northern sector has experienced a severe erosion process, whereas the northeast
tends to increase seaward. The comparison between erosional and depositional rates of this region
indicates that the constructive processes overcome the destructive processes.
Palavras-Chave: Rio Amazonas, linha de costa, progradação
1. Localização e Aspectos Físicos da Área
A área de estudo está situada no litoral da região Norte e atualmente é identificada como
Macrocompartimento Amapá. Com base na síntese elaborada por Dieter (1998 In: Cunha & Guerra,
1998) a plataforma continental e o litoral do Amapá são diretamente influenciados pelo enorme
aporte de sedimentos finos trazidos pelo Amazonas, parcialmente redirecionado para o norte pela
circulação oceânica. Depositados na plataforma continental interna, estes sedimentos são
remobilizados pelas ondas, aumentando significativamente a concentração de sedimentos em
suspensão. Apesar desta disponibilidade de sedimentos, trechos significativos do litoral se
apresentam sob erosão acelerada, ao passo que outros, em parte devido ao aporte localizado de
sedimentos fluviais da rede hidrográfica local, apresentam progradação.
O clima é quente, megatérmico, com temperaturas médias anuais oscilando entre 26o e
28 28o C. A precipitação é elevada com totais anuais entre 1500 e 3500mm. A estação chuvosa vai de
janeiro a julho, quando ocorre cerca de 70% da precipitação anual, apresentando excedentes hídricos
entre 900 e 1700mm, associados a intenso escoamento superficial, cheia dos rios e inundação. De
agosto a dezembro chove menos, ocorrendo déficits hídricos entre 100 e 500mm (IBGE, 1990 In:
Cunha & Guerra, 1998).
Os ventos predominantes são de nordeste no verão e outono e de leste no inverno e na
primavera (DHN, 1973 In: Cunha & Guerra, 1998).
A região costeira emersa é formada por uma planície holocênica, de baixa altitude e largura
variando entre 10 a 100 km, e que passa, para o interior, para depósitos de planície mais antigos e
rochas do escudo Pré-cambriano das Guianas, de altitude inferior a 500 m, constituindo as áreas fonte
de parte da rede hidrográfica costeira (Boaventura e Narita, 1974; Nittrouer, 1995 In: Cunha &
Guerra, 1998).
A cobertura vegetal na franja costeira é caracterizada por uma vegetação pioneira, em
fase de sucessão, estabelecida sobre substrato sedimentar recente. Predominantemente formada por
vegetação de mangue, nas áreas de influência marítima, é seguida para o interior por uma vegetaçaõ
de campo de gramíneas, em áreas de solos aluviais hidromórficos, submetidos a inundações
periódicas. Ainda mais para o interior, já sobre sedimentos terciários, ocorre a vegetação do cerrado,
seguida de uma faixa de transição cerrado/floresta e floresta densa (Leite et al., 1974; SchaefferNovelli et al., 1990; Herz, 1991 In: Cunha & Guerra, 1998).
A plataforma continental interna se alarga progressivamente do cabo Orange ao cabo Norte,
passando a isóbata de 50 m, de uma distância de 28 km para 140 km. Enquanto a isóbata de 50m
mantém uma orientação quase constante de noroeste para sudeste, as isóbatas de 20, 10 e 5 m
reproduzem, de forma cada vez mais nítida, os contornos do Cabo Norte, representando assim
testemunhos da paleolinha de costa.
A circulação oceânica na plataforma continental interna e nas proximidades do litoral é
predominantemente dirigida para noroeste, em função da corrente das Guianas, cuja velocidade de
fluxo é superior a 100 cm/s, e da ação do transporte induzido pelas ondas. Os ventos alísios de
sudeste, paralelos ao litoral, mudam de direção durante os meses de janeiro a março, quando passam
a soprar com maior intensidade de nordeste, portanto perpendicularmente ao litoral. As ondas geradas
por estes ventos são maiores que as geradas pelos alísios de sudeste e, em vez de estimular a erosão,
trazem sedimentos finos da plataforma em direção 'a costa, na forma de lamas fluidas (Nittrouer et al,
1995 In: Cunha & Guerra, 1998). A amplitude de maré ao sul do cabo Norte é elevada, do tipo
macromaré, superior a 4 m, chegando localmente a 12 m. Os esforços de cisalhamento provocados
pela elevada velocidade de fluxo das correntes de maré, dirigidas predominantemente no sentido
perpendicular 'a linha de costa, parecem ser os principais responsáveis pela erosão costeira.
2. Metodologia
A geomorfologia desta área foi reinterpretada e atualizada durante o Projeto SIVAM (escala
de trabalho 1:250.000) em 2002/2003 a partir das técnicas de sensoriamento remoto. Durante o
trabalho de mapeamento, vários aspectos interessantes foram observados, especialmente as grandes
variações na linha de costa. Foram utilizados os mosaicos do Projeto RADAM - SAR X-HH GEMS
(produto analógico posteriormente scanerizado e georeferenciado), imagens LANDSAT TM5 (543RGB) e imagens C-HH band - RADARSAT (digital) adquiridas em 1972, 1997/1998 e 2002
respectivamente. O imageamento acoplado ao GIS permitiu a elaboração dos mapas vetores
correspondentes às linhas de costa nas diferentes épocas. Através das ferramentas-padrão existentes
no software foi possível a análise das mudanças na linha de costa e posteriormente, fazer estimativas
de comprimento, área, possibilitando também o cálculo de taxas de progradação em alguns trechos.
3. Resultados Preliminares e Discussão
O movimento da linha de costa devido a atuação dos processos erosivos e deposicionais
representa o fenômeno mais importante nos estudos para o gerenciamento costeiro, principalmente as
áreas de alto nível de energia das ondas e das marés. Linhas de costa muito dinâmicas e
constantemente mutáveis como as do Amapá e suas ilhas indicam alto grau de instabilidade e
necessitam de total conhecimento dos processos, se possível com previsão de atuação nos locais mais
atingidos para minimizar os impactos ambientais destes fenômenos.
Nittrouer & Figueiredo (1995), a partir de características de acumulação e erosão da linha de
costa, reconheceram uma zona de acumulação, compreendida pelos cabos Orange e Cassiporé, que
durante os últimos 1000 anos foi submetida a um processo de rápida acresção de sedimentos
lamosos, e um litoral que nos últimos 500 anos vem sofrendo erosão, compreendido pelo segmento
cabo Cassiporé a cabo Norte. Neste trecho ocorrem acumulações apenas nas proximidades das
desembocaduras fluviais, por efeito do transporte litorâneo dirigido para o norte. Não obstante a atual
tendência erosiva do litoral sul, a característica geral dos processos costeiros holocênicos tem sido de
acumulação sedimentar, com flutuações entre períodos de erosão e deposição em escalas de tempo
que variam entre 100 e 1000 anos. No litoral sul, ocorreram períodos de acumulação entre 500 e 900
anos A.P. (Antes do Presente) e entre 2400 a 2900 A.P.
Ao longo do arquipélago Jurupari e nas imediações das Ilhas Cará e Caviana foi detectado o
surgimento de mais de 20 novas ilhas desde o ano de 1972. Processos de migração e de acresção de
barras posteriormente soldadas à Ilha Caviana atingem a ordem de quilômetros. De acordo com a
análise das linhas de costa correspondentes aos diferentes períodos, observou-se que o setor norte
desta ilha tem sofrido intenso processo erosivo, ou perda de terreno, compensada por sua vez, na
porção nordeste, cuja progradação foi estimada em 230m/ano. Temos neste setor um acréscimo
aproximado de 100km2 de novas terras para esta ilha (Fig.1).
A costa do Amapá possui uma morfologia fortemente controlada pela dinâmica sedimentar do
Rio Amazonas e os mecanismos de vazão, corrente e regime de maré atuantes neste setor do extremo
norte brasileiro que provocam mudanças significativas em sua linha de costa. Durante o Holoceno, o
balanço das condições oceanográficas e meteorológicas conjugadas às descargas fluviais produziram
uma ampla planície costeira nesta região setentrional, contudo grande parte do sedimento que
permanece nas adjacências do Canal Norte é rapidamente remobilizada por processos de erosão,
acresção e progradação. O que se pode observar é a dinâmica acelerada na configuração destas ilhas
proximais nas últimas décadas. A migração da linha de costa é uma particularidade nesta área tão
singular, onde é comum o surgimento, crescimento e/ou o desaparecimento de ilhas em curto período
de tempo geológico(anos), confirmando a alta energia do sistema caracterizado por um padrão
progradacional na desembocadura do Rio Amazonas. O balanço entre as taxas de erosão e deposição
nesta região indica a preponderância dos processos construtivos corroborando com os trabalhos
anteriores de Allison et al., 1995 e Allison et al., 1996.
4. Referências Bibliográficas
Allison, M.A.; Nittrouer, C.A. & Faria, L.E.C. 1995. Rates and mecanisms of shoreface progradation
and retreat downdrift of the Amazon river mouth. Marine Geology, 125: 373-392.
Allison, M.A.; Nittrouer, C.A. & Faria, L.E.C.; Silveira, O.M. & Mendes, A.C. 1996. Sources and
sinks of sediments to the Amazon margin: the Amapa coast. Geo-Marine Letters, 16: 36-40.
Cunha, S.B. & Guerra, A.J. T.1998. Geomorfologia do Brasil. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 392 p.
Nittrouer, C. & Figueiredo A. 1995. Preface to tropical coastal sedimentary environments. GeoMarine Letters, 15: 119-120.
Fig.1 – Dinâmica da Ilha Caviana e adjacências, imagens SAR X-HH GEMS, LANDSAT TM5 (543RGB) e C-HH band - RADARSAT adquiridas em 1972, 1997/1998 e 2002 respectivamente.
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