A diversidade das cidades hispano-americanas

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A DIVERSIDADE DAS CIDADES HISPANO-AMERICANAS: DA CULTURA
INDÍGENA À MODERNIZAÇÃO
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Mariluci Guberman
Docente - UFRJ
A cidade sempre foi um importante estímulo literário, e as diferentes
maneiras pelas quais uma cultura escreve sobre suas cidades ilustram os temores e
as aspirações de sua época. Na América Hispânica, tanto a cidade pré-colombiana
quanto a cidade moderna, descritas e imaginadas na literatura, representam a vida
cotidiana e as idéias destas épocas.
Muitas cidades hispano-americanas, como México e Cusco, mantiveram um
número significativo de edificações e traços culturais das cidades de origem,
Tenochtitlan e Cozco, da época pré-colombiana, cantadas pelos astecas e pelos
incas; entretanto, outras, como Buenos Aires e Montevidéu, durante o processo de
colonização, foram perdendo seus substratos indígenas, procurando se identificar
com o modelo parisiense do fim do século XIX, em busca da modernização. Estas
cidades podem ser apresentadas através das imagens poéticas surgidas na
produção literária hispano-americana do início do século XX. E dando continuidade
ao processo de modernização, que não se esgota em décadas, podem ser
abordadas também as imagens poéticas dessas cidades a partir da metade do
século XX. Na América Latina não temos cidades pós-modernas, pois todas têm um
centro, não estão descentradas como Los Angeles, por exemplo. Porém, existem
nas cidades hispano-americanas fatores que contemplam a pós-modernidade, como
por exemplo, a informática, a globalização e a cultura de massa, influenciando um
bom número de produções poéticas, as quais apresentam um discurso pósmoderno.
As cidades da época pré-hispânica
Por volta de 1000 anos antes de Cristo as culturas indígenas da América
sofreram
uma
crise
generalizada,
provocando
as
bases
das
sociedades
caracterizadas pelo expressivo desenvolvimento da agricultura de irrigação, fato em
torno do qual passou a girar a organização social e um complexo aparato militar,
político e administrativo: os impérios maia, asteca e inca.
O aparato ideológico destas sociedades indígenas era de base mítica e tinha
uma função explicativa, unificadora e ordenadora do Cosmos. Os mitos, expressos
através da poesia e de outras expressões artísticas, referiam-se à realidade,
partindo de fenômenos que respondiam a questões fundamentais da existência do
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homem primitivo da América, como o espaço, o tempo, a harmonia com a
natureza, a organização social etc. Cabe ressaltar o caso da civilização maia, na
qual o pensamento mítico se apoiava em uma base científica de um nível
considerado elevado; isto é, os conteúdos do mito que são significativos para a
sociedade que os assume, mas que não são comprovados, encontraram uma
fundamentação bem objetiva, chegando algumas vezes a um estágio científico.
Na era pré-colombiana grandes cidades foram erguidas. Não havia apenas
uma cidade, mas inúmeras, controlando cada uma seu próprio território rural e
pastoril e sua própria rede de irrigação. Embora exercessem controle sobre
territórios muito vastos, mantinham a unidade sócio-política. Cada uma delas era a
verdadeira cidade-estado. São exemplos, as seguintes cidades: Tenochtitlan
(México), dos astecas; Copán (Honduras), Tulum (México) e Uxmal (México), dos
maias; Cozco (Peru), dos incas.
Tomemos como proposição de trabalho, duas cidades, Tenochtitlan e Cozco,
que deram origem respectivamente às atuais cidades de México e Cusco, enquanto
Copán, Tulum e Uxmal se transformaram em sítios arqueológicos de visitação
pública.
Tenochtitlan, fundada em 1325 nas ilhas do Lago Texcoco, se dividia em
duas partes: dos nobres ou pillis, que ostentavam o poder, e do povo ou
macehuales, que formavam a maioria da população e se dedicavam a diversas
atividades como ceramistas, tecedores, lapidários, agricultores, construtores... A
cidade possuía calçadas, aquedutos, casas, templos, bibliotecas (amoxccalli; casa
de livros) e mercados, revelando o grau de desenvolvimento da cultura asteca
nesta cidade. Pode-se perceber a importância de Tenochtitlan através da produção
poética pré-colombiana, como por exemplo, no poema “Tenochtitlan, sede del culto
solar” 1:
Donde están las casa de esmeraldas,
donde están las casa de quetzal,
es donde reinas tú, Motecuzoma.
Solo tú conquistaste y tu renombre queda.
¡ Ésa es tu adquisición y ésa es tu ganancia:
Tú en su presencia lloras y te conoce el dios!
Es allí donde se tiñen los dardos,
es allí donde se tiñen los escudos.
Es en Tenochtitlan donde están las flores preciosas,
donde las flores del corazón abren sus corolas
las flores del sol que los caudillos chupan.
¡ Grande es tu gloria; grande tu fama
con que ellos se hacen príncipes
con que ellos logran gloria!
Com a chegada dos conquistadores espanhóis, a cidade-estado independente
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dos astecas passa a ser a capital de uma das colônias espanholas:
primeiramente, os espanhóis aportaram em Vera Cruz (Golfo do México) em 1519;
depois, em 1520, chegaram a Tenochtitlan (Planalto Central) e, em 1521, tomaram
a capital do Império Asteca. Ainda no século XVI, a Espanha cria o Vice-Reinado da
Nova Espanha (atual México).
A partir da segunda metade do século XVI até a metade do XVIII a
mineração será a principal atividade econômica da Nova Espanha. Por volta de
1740 a Nova Espanha entra em uma era de mudanças: funda-se o Real Seminário
de Mineração, importa-se mineiros da Alemanha, constrói-se a fábrica de
explosivos, a Escola de Fiação, o Jardim Botânico, a Escola de Belas Artes e outras
instituições educativas e revolucionárias.
Em 16 de setembro de 1810, o padre e professor Miguel Hidalgo y Costilla,
pároco de Dolores, coloca na rua os presos e no cárcere as autoridades espanholas
do lugar. Este dia foi denominado oficialmente como “Grito de Dolores”. A partir
desta data vários movimentos revolucionários vão surgir no México, dentre eles os
liderados pelo guerrilheiro Vicente Guerrero e pelo coronel criollo Agustín de
Iturbide, os quais efetuam um pacto: o Plano de Iguala ou das Três Garantias. Em
27 de setembro de 1821 o exército trigarante, com Iturbide à frente, entra
triunfalmente na cidade do México, e no dia seguinte se nomeia o primeiro governo
independente do México.
Cozco, fundada em 1200 nos Andes, alcançou seu esplendor entre 1438 e
1471. A cidade era formada de templos, casa do saber (yachaogauas), casas,
mercados e fortalezas. A sociedade em Cozco era estratificada: o rei (Inca, Filho do
Sol), a nobreza (os incas), os sacerdotes, os sábios (amautas), os curacas (os que
dividiam o trabalho dos outros), os guerreiros, a nobreza de médicos, os artesãos e
os escravos (yanas). Embora estivesse a 3360 metros de altitude, a cultura incaica
em Cozco se desenvolveu plenamente até a conquista espanhola em 1533. Na
época da Colônia, a cidade de Cusco passa a ser regida por Lima (porto por onde se
escoavam as riquezas) e por Potosí (as riquezas das minas).
De 1528 a 1532 se instaurara a Guerra Civil entre o Inca Huáscar, filho
legítimo do imperador, e seu meio irmão Atahualpa. Pode-se perceber a amargura
de Huáscar no poema “Himno del Inca Waskar” 2:
Tentador fementido,
fiero y adverso demonio,
en mis horas de riesgo
y de extravío
y de perversión,
a ti, adversario
del Cuzco poderoso,
te rendí adoración
con toda mi entereza,
con todas mis energías,
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en holocaustos y festines
y todo lo sacrifiqué
por ti, maestro
de ladrones avaros.
Huáscar reinava em Cusco, nos Andes, enquanto Atahualpa em Cajamarca,
no litoral peruano, lugar onde desembarcaram os conquistadores espanhóis,
chefiados por Francisco Pizarro, em 1532. Atahualpa vê na aliança com os
espanhóis a possibilidade de destronar Huáscar, mas em 1533 Atahualpa é
assassinado pelos conquistadores. Em 1543 é criado pelo rei espanhol Carlos V o
Vice-Reinado do Peru com capital em Lima. Após a morte de Huáscar e Atahualpa,
o centro do Estado Inca passa a ser Vilcabamba até 1572, quando morre o último
imperador, o Inca Tupac Amaru.
A partir de 1583, quando surge a imprensa no Peru, as idéias nativistas vãose formando e, em 1743, se intensificam com a criação do primeiro periódico
peruano, Gaceta de Lima. Assim, em 1820, o Peru se torna independente,
mantendo a capital em Lima.
O mais notável da civilização asteca e da incaica foi o urbanismo. A idéia de
cidade como um conceito heterogêneo, complexo, desordenado de uma certa
maneira, em permanente mudança, mas essencialmente viável para a sociedade da
época, foi, na América, uma criação pré-hispânica. Em outras sociedades, como a
dos egípcios, chineses e mesopotâmios, a cidade-estado foi uma importante
inovação. A idéia de urbanismo se desenvolveu de maneira peculiar na América
Hispânica.
Fatores
ambientais
e
geográficos
desempenharam
um
papel
preponderante na construção de Tenochtitlan e de Cusco: a primeira, no centro do
Lago Texcoco; a segunda, na Cordilheira Andina a mais de 3000 metros de altitude.
A falta de fronteiras físicas contribuiu para atenuar o isolamento sócio-cultural; a
escassez de recursos locais exigiu a construção de vias de acesso a grandes
distâncias para a realização de trocas, como no caso de Cusco, capital do Império
Incaico, em que estas vias permanecem nos Andes até hoje. Também
a
abundância de água nos elevados picos andinos possibilitou a conquista de outros
povos mais abaixo, ou melhor, mais próximos do litoral, já que os povos da parte
superior construíram represas através das quais controlavam a água. A este
respeito, deve-se ressaltar o conto “Agua” (1961), de José María Arguedas, no qual
o escritor peruano retoma na contemporaneidade o tema da dominação de um
povoado por meio da água: don Braulio domina San Juan dividindo injustamente a
água para o povo.
Assim como Arguedas, os poetas contemporâneos podem voltar seus olhares
para as cidades pré-hispânicas, como por exemplo o poeta mexicano Octavio Paz,
que em seu poema “Petrificada petrificante”
3
canta a ruína de Tenochtitlan, cidade-
estado dos astecas. Nesta composição, Octavio Paz trabalha com vocábulos
aparentemente soltos, mas que, em realidade, são imagens construídas sobre um
tempo fragmentado. É como se o poeta calasse o mundo ruidoso da modernidade e
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apresentasse
referenciais
isolados,
muitas
“terrisombra”, “nopaltorio”, “cenipolva”, os
vezes
neologismos,
como
quais levam o leitor a refletir
aguçadamente, — um verdadeiro jogo de signos: não são apenas uma recordação
do passado asteca, outrossim críticas às ações humanas predatórias, como por
exemplo, a extinção do Lago Texcoco:
cuenca vaciada
el sol no se bebió el lago
no lo sorbió la tierra
el agua no regresó al aire
los hombres fueron los ejecutores del polvo
Identifica-se o lago, porque no verso 39 o autor aborda o “Ombligo de la
luna”, que os astecas localizavam como Tenochtitlan, capital do império asteca,
situada no centro do lago Texcoco.
As cidades da época moderna
Na modernidade, a cidade constitui um assunto de notável importância pela
especial função que desempenha a emergência da metrópole nesta época.
Referimo-nos à modernidade como a última etapa de um processo histórico de
desintegração, de dissociação da verdade e da existência, de perda do sentido da
vida, que afeta as relações que o indivíduo mantém com outros sujeitos: a
indiferença como único meio de escapar à super-estimulação da vida urbana e da
experiência da alienação que projeta a solidão de um sujeito perdido no anonimato
da metrópole.
As cidades modernas podem parecer uma espécie de purgatório ou inferno,
como a unreal city, de Eliot, mas também são ambientes onde se fomenta o debate
intelectual
e
a
experimentação
artística.
A
invenção
da
fotografia
e,
posteriormente, o surgimento do impressionismo nas artes (1874-1886) trarão à
luz uma nova visão que acentua certos temas, como as cenas da vida urbana
moderna e as paisagens. A partir do cubismo, rompe-se com a forma tradicional de
ver a realidade e o artista passa a observar o mundo sob uma nova perspectiva,
consciente de que somente pode transmitir percepções subjetivas e fragmentárias
a sua volta, dentre as quais se encontram a contemplação, as idéias, a vivência
subjetiva dos outros e as realidades da vida moderna como os objetos cotidianos e
a paisagem urbana: ruas, praças, cafés, meios de transporte...
Tratemos de duas cidades que foram perdendo seus substratos indígenas em
busca da modernização: Buenos Aires e Montevidéu.
A cidade de Buenos Aires foi fundada às margens do Rio da Prata, ao qual os
nativos denominavam Paraná Guazú, que quer dizer rio como mar. Este rio foi
percorrido e reconhecido pelo espanhol Juan Díaz de Solís em 1516.
Díaz de Solís foi morto pelos índios que habitavam a costa do Uruguai. Do
outro lado do Rio da Prata foi fundada a Ciudad del Espíritu Santo junto ao Puerto
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de Buenos Aires pelo espanhol Pedro de Mendoza em 3 de fevereiro de 1536.
Somente reconhecida como cidade quando o espanhol Domingo Martínez de Irala
fundou o Cabildo em 1541, pois naquela época o povoado só se transformava em
cidade quando possuía um cabildo.
De 1509 a 1526, Diego Colón, filho de Cristóbal Colón, exerceu funções de
vice-rei em toda a América. A partir de sua morte, a coroa da Espanha aboliu o
vice-reinado
geral
das
Índias,
dividindo
o
Novo
Mundo
em
jurisdições
independentes: os Vice-Reinos da Nova Espanha e do Peru. Em 1776 se juntam a
estes os Vice-Reinos da Nova Granada e do Rio da Prata, tendo como capitais,
respectivamente, Santa Fé de Bogotá e Buenos Aires.
Com o advento da imprensa na Argentina em 1764 (Córdoba) e 1780
(Buenos Aires), além do primeiro periódico em 1801, o sentimento nativista atinge
seu auge em maio de 1810, quando José de San Martín conquista a independência
da Argentina.
Em 1887 o governo da província de Buenos Aires cedeu ao governo nacional
uma parte adicional de território para ampliar a Capital, a partir do qual foram
demarcados, um ano depois, seus limites definitivos.
A expansão da cidade de Buenos Aires, conforme GORELIK (1998), foi o
produto direto de uma combinação entre a modernização técnica (o porto, as
estradas de ferro e a eletrificação do bonde) e as necessidades do capital local e do
estrangeiro (a especulação imobiliária e a exploração privada dos transportes
públicos). Como exemplo de produção literária da modernização da cidade de
Buenos Aires, podemos citar um fragmento do poema “Pedestre”
4
, do poeta
argentino Oliverio Girondo:
En el fondo de la calle, un edificio público aspira el mal olor de la ciudad.
.................................................................................................
Pasa: una inglesa idéntica a un farol. Un tranvía que es un colegio sobre
ruedas. Un perro fracasado, con ojos de prostituta que nos da vergüenza
mirarlo y dejarlo pasar. [...]
Buenos Aires, agosto, 1920.
A cidade de Montevidéu foi fundada às margens do Rio da Prata. Este rio,
que havia sido percorrido e reconhecido por Juan Díaz de Solís em 1516, teve sua
segunda expedição em 1519, quando o navegante português Fernando de
Magalhães ao percorrê-lo encontrou uma baía e um cerro que estavam próximos à
parte central da costa, a que batizou de Montevidéu. A ausência de metais
preciosos e o espírito guerreiro dos indígenas locais retardou a colonização do
território. No século XVII o Uruguai passou a desenvolver sua criação de gado, que
logo se converteu numa importante fonte de riqueza e que originou graves conflitos
entre seus vizinhos portenhos e brasileiros, todas as vezes que a Banda Oriental
não se encontrava ocupada oficialmente pela Espanha.
Em 1680 os brasileiros penetraram pelo norte do Uruguai e fundaram, em
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frente à cidade de Buenos Aires, a Colônia do Sacramento. A Espanha,
reconhecendo a importância estratégica e comercial do Uruguai, ordenou, em
1722, a fundação de Montevidéu. Em 1777, pelo Tratado de San Ildefonso, a
Colônia do Sacramento passou a pertencer à Espanha.
O descontentamento existente, unido ao desprestígio da Coroa espanhola,
fortaleceram o elemento criollo e, após muitas lutas, o Uruguai proclamou sua
independência em 1828.
A cidade de Montevidéu cresceu analogamente à de Buenos Aires,
guardando-se as devidas proporções, visto que a capital uruguaia é bem menor
que a capital argentina. Entretanto, ambas mantêm portos e paisagens citadinas
bem semelhantes: ruas, praças e cafés e uma intensa vida cultural. Como exemplo
de produção literária sobre a cidade de Montevidéu, temos o poema “Ciudad en que
no existo” 5, de Mario Benedetti, escrito entre 1976 e 1977, que expressa a época
de repressão política instaurada no Uruguai em 1973:
Todo eso era antes porque ahora
La calle es liber y es ibero
Es hugo y heber y susana
Los ocho obreros del paso molino
Y nuestras marchas a los cementerios
La calle es la sirena horripilante
De un presidente que respira blindado
Es una fila de hombres contra el muro
La sangre de sendic en las paredes
Gente que corre huyendo de la gente
Em relação à pós-modernidade, cabe ressaltar que esta época nos permite
uma
abordagem
diferente
das
cidades:
saímos
das
tradicionais
divisões
disciplinares e ingressamos no nível do discurso, quando passamos para o estudo
das forças anônimas de dissipação, que conforme HUTCHEON (1991; p.132),
permitem
um
novo
olhar:
“as
contradições
desalojam
as
totalidades;
as
descontinuidades, as lacunas e as rupturas são privilegiadas em oposição à
continuidade, ao desenvolvimento, à evolução; o particular e o local assumem o
valor antes mantido pelo universal e pelo transcendental”. Também percebemos
que o autor, quando lança mão da tradição ou do talento individual, o faz
ironicamente, justapondo imagens e conceitos e deixando-nos “vazios”, com o
objetivo de que o leitor atento se dê conta dos significados velados do discurso e
transponha a fragmentação. De acordo com HUTCHEON (2000; p.91), “o
significado irônico ocorre como conseqüência de uma relação, um encontro
performativo, dinâmico, de diferentes criadores de significado, mas também de
diferentes significados”.
A partir da metade do século XX, as cidades podem ser abordadas pela
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linguagem vanguardista e pelo discurso pós-moderno. As cidades, ao
tentarem acompanhar a era cibernética, inseriram em seu contexto fatores que
muitas das vezes contemplam o discurso poético pós-moderno: descontinuidade,
lacunas e rupturas.
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1 Cant. Mex., f.18 R., lin. 4 ss. (Anónimo). De Tenochtitlan. O poema está mutilado no Ms. Em 1528 se redigiu a
primeira das recopilações históricas dos astecas que hoje se encontram na Biblioteca de Paris, por vicissitudes do
destino, e está marcada com o número 22. Foi fundamental o papel que desempenhou Fray Bernardino de Sahagún
nestas recopilações durante o século XVI.
2 PACHAKUTI (1950). Juan de Santa Cruz Pachakuti Yamki Salkamaywa, historiógrafo indígena do século XVII, transmite
em seu livro alguns hinos importantes da cultura incaica. Na contemporaneidade foram reconstruídos e retraduzidos pelo
escritor peruano José María Arguedas.
3 PAZ (1990).
4 GIRONDO (1996)
5 BENEDETTI (1996).
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