Implementação de um SIG numa pedreira de produção de agregados de rocha carbonatada GIS implementation in a quarry Filipe Bernardes (1) e José Lopes Velho (1) (1) Departamento de Geociências, Universidade de Aveiro, 3810 Portugal [email protected]; [email protected] SUMÁRIO O presente trabalho tem como objectivo apresentar a metodologia desenvolvida na implementação de um Sistema de Informação Geográfico (SIG) numa pedreira. O trabalho desenvolvido consistiu na criação de uma base de dados geográficos. O software escolhido foi o ArcView8 constituído pelas componentes ArcCatalog, ArcMap e ArcToolbox que serviram para a edição, a manipulação e a análise de dados geográficos. Finalmente, procedeu-se à elaboração dos mapas temáticos. Palavras-chave: SIG; Pedreira; ArcView; Mapas temáticos. SUMMARY This work has the main goal to present the methodology developed in an implementation of a Geographic Information System (GIS) in a quarry. The work consisted in creating a geographic data base. The selected software was ArcView8 formed by the components ArcCatalog, ArcMap and ArcToolbox that were used for edition, manipulation and analysis of geographical data. Finally, thematic maps were made. Key-words: GIS; Quarry; ArcView, Thematic maps. Introdução Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são utilizados como ferramentas informáticas utilizadas na manipulação de dados espaciais. Os SIG encontram as suas principais aplicações na gestão de recursos, nas telecomunicações, no planeamento urbano e regional, no mapeamento de rotas e em todas as ciências que utilizam dados relativos à superfície da Terra. Um SIG é definido como sendo um sistema constituído por hardware, software e procedimentos, construído para suportar a captura, gestão, manipulação, análise, modelação e visualização de informação referenciada no espaço, com o objectivo de resolver problemas complexos de planeamento e gestão que envolvem a realização de operações espaciais [1]. O objectivo deste trabalho é o de mostrar a implementação de um SIG numa pedreira de produção de agregados de rocha carbonatada. A empresa tinha necessidade de conhecer com grande pormenor a mineralogia e sobretudo o quimismo das rochas de modo a melhorar o processo de produção. Perante estas exigências decidiu-se que a melhor forma de resolver o problema seria a implementação de um SIG. Para o efeito é apresentada a metodologia desenvolvida, para além dos resultados obtidos. No caso presente, o interesse do SIG para a empresa extractiva foi o de compilar os dados geográficos existentes, criar novos dados, efectuar consultas aos atributos dos dados e ainda a visualização e impressão dos dados sob a forma de mapas temáticos. Metodologia e Resultados Para a implementação do SIG o software escolhido foi o ArcView8, desenvolvido pela ESRI [2] e que é constituído por três componentes fundamentais: o ArcCatalog, o ArcMap e o ArcToolbox. O primeiro serve para gerir e explorar os dados geográficos permitindo a edição de metadados e a criação de novos temas. O ArcMap permite efectuar análises de modo a resolver problemas de índole espacial, criar novos temas e preparar a apresentação dos dados para impressão ou a sua apresentação visual. O ArcToolbox possui ferramentas para o processamento e análise dos dados geográficos. A construção do SIG foi feita em três fases distintas (figura 1): 1-Criação da base de dados geográficos; 2-Edição, manipulação e análise de dados geográficos (input de dados em ArcView); 3-Criação de mapas temáticos. 1085 A organização dos dados em geodatabases é possível apenas para os dados vectoriais. Os dados “raster” são organizados em raster datasets divididos em raster bands que representam os valores de cor associados aos atributos das imagens. A maioria dos dados existentes na empresa encontrava-se em formato raster ou em formato CAD. Como a maioria dos mapas que se pretendiam construir envolvia a utilização de informação em formato CAD, foi necessário que esta fosse convertida para geodatabase e, após isto, para shapefile. A utilização de shapefiles em vez de ficheiros CAD permitiu, para além da edição dos atributos de cada entidade geográfica (como a cor ou a espessura das linhas), criar novos temas e utilizar as capacidades de análise do ArcMap ao máximo. Fig. 1: Flowchart utilizado na construção do SIG. 1 – Criação da base de dados geográficos A primeira fase na construção do SIG passou pela criação de uma base de dados geográficos, cuja função é armazenar os dados raster sob a forma de imagens georreferenciadas, e vectoriais em formato CAD ou SHP (shapefile), bem como os atributos (sob a forma de tabelas) associados a estes dois tipos de dados, de forma a que sempre que ocorresse adição, ou remoção de dados, esta fosse actualizada. Antes dos dados serem enviados para o ArcMap, estabeleceu-se qual o sistema de projecção que lhes seria atribuído: neste caso, optou-se pelo Datum 73. O modelo Geodatabase utilizado encontra-se representado na figura 2. O modelo Geodatabase da ESRI® pode ser definido como uma estrutura de dados capaz de arquivar entidades geográficas, representadas como objectos com propriedades, comportamentos e relações bem evidenciadas. Cada Geodatabase criada divide-se num feature dataset que agrupa feature classes com diferentes geometrias. Uma das funcionalidades básicas de um SIG é a capacidade de representar dados espaciais em formato digital. Um objecto bidimensional pode ser representado por um ponto, uma linha ou um polígono (modelo vectorial, baseado em objectos) ou por uma grelha dividida em células de dimensão constante onde a cada célula é atribuído um valor (modelo raster, baseado em campos) [3] [4]. Fig. 2: Modelo Geodatabase utilizado para a elaboração do SIG. 2-Edição, manipulação e análise de dados geográficos A informação geográfica é organizada em layers, camadas ou temas onde cada layer representa uma entidade com atributos bem definidos. Um conjunto de layers pode ainda ser agrupado numa Group Layer. 1086 A edição e manipulação de shapefiles permitem a rectificação de pequenos erros na posição e dimensão dos atributos e criar novos atributos em shapefiles criadas para o efeito. O processo de edição/manipulação encontra-se representado na figura 3 apresentando-se como exemplo a criação da shapefile Geologia_ÁreadeReserva. A criação de novas layers vectoriais pode ser feita a partir de operações de overlay topológico onde são criados novos temas a partir da alteração da geometria e/ou atributos dos temas originais. A figura 3 mostra as operações de overlay topológico para a criação do tema Geologia_ÁreadeReserva. Neste caso aplicou-se uma operação de corte, utilizando como polígono de corte a layer Área de Reserva que reduziu a extensão espacial do tema Geologia Idade/Litologia. Outra aplicação da operação de overlay topológico é obtida a partir da intersecção do tema Geologia_ÁreadeReserva com o tema SiO2_Marga. Este novo tema permite avaliar se a distribuição de sílica na pedreira é ou não dependente da natureza das formações. A criação de temas onde se combine a geologia com o quimismo das formações pode ser muito útil no planeamento da extracção uma vez que permite determinar, de um modo relativamente rápido, zonas mais ou menos ricas num determinado elemento, tendo sempre em conta a incerteza associada aos modelos químicos. A análise dos dados geográficos pode ser feita por consultas (queries) ao mapa, utilizando-se para tal a ferramenta Identify Tool, que permite a obtenção dos atributos de uma determinada entidade. A consulta aos mapas pode ser efectuada a partir dos atributos das entidades geográficas, ou das relações espaciais que estas apresentam com entidades contíguas. Na consulta por atributos há que definir uma expressão SQL, que vai procurar na base de dados os atributos que satisfaçam as condições especificadas. Na consulta por localização, são seleccionadas todas as entidades que satisfaçam um critério de localização, como a distância a que uma linha se encontra de outra ou a zona onde um tema intersecta outro. A grande vantagem destes dois processos reside na possibilidade de exportar as entidades seleccionadas o que permite a criação de novos temas. Na figura 4 é apresentado o resultado de uma consulta por atributos. Pretendia-se que, a partir da layer Cadastro (4a), fossem seleccionados todos os terrenos cujos proprietários fossem casados. Após a conclusão da procura as entidades cujos atributos satisfizessem a condição estabelecida foram seleccionadas e exportadas criando-se a layer Cadastro_EstadoCivil=Casado (4b). mapa apenas é dependente das necessidades do utilizador e, nalguns casos, das capacidades de processamento do computador. Após a criação dos mapas temáticos, estes podem ser utilizados para visualização em monitor, sendo todas as consultas e análises feitas directamente em ArcMap™, ou preparados para impressão, sendo necessário criar layouts que contenham o mapa e todos os elementos necessários à sua interpretação, como escalas e legendas. Finalizando o trabalho desenvolvido, os dados geográficos trabalhados encontram-se disponíveis num espaço do servidor da empresa criado em especial para o efeito. Para além dos dados geográficos foi ainda disponibilizado o ArcExplorer 9 – Java Edition™, um visualizador freeware disponibilizado pela ESRI® que permite ao utilizador a criação, consulta e impressão de mapas temáticos [5] [6]. A disponibilização deste visualizador foi feita a pensar em todos os utilizadores que, na empresa, não tenham acesso ao ArcView™ e que apenas estejam interessados na criação de mapas e não em todo o processo de elaboração e de análise de dados geográficos. Conclusões Os SIG, como ferramentas de análise espacial, podem ser encarados como poderosos auxiliares na gestão de recursos naturais, uma vez que permitem o armazenamento da informação em formato digital, um rápido acesso aos dados e são facilmente adaptáveis às necessidades de diferentes utilizadores. No entanto, a sua complexidade técnica, quer ao nível conceptual ou informático, pode dificultar a sua implementação em determinadas empresas, que não estejam receptivas aos custos associados à aquisição de software e hardware, e à contratação de pessoal qualificado. Referências Bibliográficas [1] ABRANTES, Graça (1998), Sistemas de Informação Geográfica (on-line), Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia, Lisboa [disponível em www.isa.utl.pt/dm/sig/sig/sigconceitos, acedido a 28/11/2005] [2] BOOTH, Bob e MITCHELL, Andy (1999 – 2001), Getting Started with ArcGIS, ESRI, EUA, pp. 6 – 150 [Documento electrónico] [3] CÂMARA, G., DAVIS, C. e MONTEIRO, A. M. V. (edts.) (2001), Introdução à Ciência da Geoinformação – 2ª Edição, revista e ampliada (on-line), INPE, São José dos Campos (acedido a 12/12/2005) [disponível em www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/introd]. [4] DAVIS, C. e FONSECA, F. (2001), Introdução aos Sistemas de Informação Geográfica, Universidade Federal de Minas Gerais – Instituto de Geociências: Departamento de Cartografia, Belo Horizonte, 261 p. [5] ESRI (2001), CAD and the Geodatabase – An ESRI White Paper, ESRI, EUA, 18 p. [disponível on-line em www.esri.com, acedido a 15/12/2005] [6] MACDONALD, Andrew (1999 – 2001), Building a Geodatabase, ESRI, EUA, pp. 4 – 128 [Documento electrónico]. 3-Criação de Mapas Temáticos A capacidade de organizar os temas em camadas de informação é muito útil na criação de mapas temáticos que, basicamente, são o resultado da sobreposição de layers raster com layers vectoriais, ou, apenas, de layers vectoriais. A complexidade do 1087 Fig. 3: Criação da layer Geologia_ÁreadeReserva. Fig. 4: Aplicação de consultas em ArcMap. (a) Layer Cadastro; (b) Nova layer, criada por exportação das entidades da layer Cadastro por aplicação da expressão SQL_Estado_Civil=Casado. 1088