Introdução à microbiologia: A partir da descoberta e do início dos estudos dos microrganismos ficou claro que a divisão dos seres vivos em dois reinos, animal e vegetal, era insuficiente. O zoólogo E. H. Haenckel, em 1866, sugeriu a criação de um terceiro reino, denominado Protista, englobando as bactérias, algas, fungos e protozoários. Esta classificação mostrou-se satisfatória até que estudos mais avançados sobre ultra-estrutura celular demonstraram duas categorias de células: as procarióticas e as eucarióticas. Nas primeiras, o núcleo, representado por um único cromossomo, não é circundado pela membrana nuclear e, nas eucarióticas, o núcleo é limitado pela membrana nuclear e apresenta no seu interior vários cromossomos. A microbiologia é o ramo da biologia que estuda os seres vivos microscópicos nos seus mais variados aspectos como morfologia, fisiologia, reprodução, genética, taxonomia e também a interação com outros seres e o meio ambiente. A microbiologia abrange ainda o estudo das aplicações industriais dos microrganismos, embora a tendência atual é deixar esta função para a biotecnologia. Os vírus, viróides e os prions, não considerados seres vivos, são microscópicos e também são estudados na microbiologia. Existem duas categorias principais de microscópios empregados: óptico e eletrônico. Na microscopia óptica, um sistema de lentes manipula um feixe de luz que atravessa o objeto e chega ao olho observador: na microscopia eletrônica, a luz é substituída por um feixe de elétrons e as lentes, por um sistema de campo magnético. Morfologia e Estrutura da célula bacteriana Formas e arranjo: As bactérias de interesse médico podem apresentar formas esféricas ou comumente chamadas de cocos, cilíndricas ou bacilos e de espiral, conforme abaixo: Formas de agrupamentos dos cocos: Cocos em pares: diplococos Cocos em cadeias: estreptococos (formados em um único plano) Cocos em tétrades formando dois planos: tétrade Cocos em cubos formando 3 planos: sarcina Cocos em cachos, formando divisões me muitos planos: estafilococos. Visualizando o invisível: Uma vez que os microrganismos são transparentes, é freqüente o uso de corantes para melhor visualização da forma e do tipo de arranjo. Os métodos de coloração mais empregados em bacteriologia médica são de Gram e de Ziehl-Neelsen. O termo Gram, vem do nome de Christian Gram, pesquisador dinamarquês que, em 1884, desenvolveu, de maneira empérica, o método de coloração que passou a ter o seu nome e que permite dividir as bactérias em dois grandes grupos: Gram-positivos e Gram-negativos. O método, ou técnica de Gram consiste, essencialmente, no tratamento sucessivo de um esfregaço bacteriano, fixado pelo calor, com os seguintes reagentes: cristal violeta, lugol, álcool e fucsina. Gram positiva e Gram negativa: Todas as bactérias, sejam Gram-positivas ou Gram-negativas, absorvem de maneira idêntica o cristal violeta e o lugol, adquirindo a cor roxa devido ao complexo formado pelas duas substâncias no citoplasma da célula. Entretanto ao serem tratadas pelo álcool, apresentam comportamento diferente, isto é, as Gram-positivas não se deixam descorar pelo álcool enquanto que as Gram-negativas o fazem, sem qualquer dificuldade. Obviamente, as Gram-positivas mantém a cor roxa do complexo cristal violeta-lugol, e as Gram-negativas, que o perderam, tornam-se descoradas. Ao receber a fucsina, somente as últimas bactérias se deixam corar.adquirindo a cor vermelha do corante. Assim, quando se examina ao microscópio um esfregaço bacteriano corado pelo método de Gram, as bactérias Gram-positivas se apresentam de cor roxa e as Gram-negativas, de cor avermelhada. Estrutura bacteriana e suas funções: Membrana citoplasmática: Sendo vital para a célula, esta estrutura forma uma barreira responsável pela separação do meio interno (citoplasma) e externo da célula. Como a maioria das membranas biológicas, a membrana das bactérias é composta de proteínas (60%) imersas em uma bicamada fosfolipídica (40%). As proporções dos componentes são variáveis, dependendo da espécie bacteriana e das condições de cultivo. A membrana dos procariotos difere quimicamente da membrana das células eucarióticas, principalmente pela ausência de esteróis. Tem como funções o transporte de solutos, produção de energia, biossíntese, duplicação do DNA e secreção. Transporte de solutos: a membrana plasmática atua como uma barreira altamente seletiva, impedindo a passagem livre de moléculas e íons, possibilitando assim a concentração de metabólitos específicos dentro da célula. Produção de energia por transporte de elétrons e fosforilação oxidativa: a presença de citocromos e de enzimas da cadeia de transporte de elétrons na membrana plasmática lhe confere a função análoga à membrana interna das mitocôndrias em células eucarióticas. Biossíntese: as enzimas de síntese dos lipídios da membrana e de várias classes de macromoléculas componentes de outras estruturas externas à membrana (peptídioglicano, ácidos teicóicos, lipolissacarídios e polissacarídios extracelulares) estão ligadas à membrana citoplasmática. Uma vez sintetizadas, estas macromoléculas são permeadas para o lado externo através de canais chamados junções de Bayer. Duplicação do DNA: Algumas das proteínas do complexo de duplicação de DNA estão, localizadas nas membranas plasmática. Secreção: a membrana está envolvida na secreção de enzimas hidrolíticas que tem como função romper as macromoléculas do meio fornecendo subunidades que servirão como nutrientes. Mesossomos: a membrana citoplasmática pode apresentar invaginações múltiplas que formam estruturas especializadas denominadas mesossomos. Existem dois tipos: a) septal, que desempenha importante papel na divisão celular. b) lateral, encontrado em determinadas bactérias, parece ter como função concentrar enzimas envolvidas no transporte eletrônico, conferindo a célula maior atividade respiratória ou fotossintética. Parede Celular: é importante para a proteção bacteriana, protege a célula das agressões do meio ambiente, contra a pressão osmótica (se não as bactérias estourariam), e também tem o papel de manter a forma bacteriana. As paredes de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas apresentam diferenças marcantes. Bactérias Gram-negativas possuem uma parede composta de várias camadas que diferem na sua composição química e, conseqüentemente, é mais complexa que a parede das Gram-positivas que, apesar de mais espessa, apresenta predominantemente um único tipo de macromolécula. O conhecimento das diferenças entre as paredes de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas é da mais alta relevância para o estudo dos mecanismos de ação dos quimioterápicos, de patogenicidade e de outros tantos assuntos que estarão relacionados diretamente à composição química e estrutura da parede bacteriana. Bactérias com paredes de composição química diferente ou sem parede: Arqueobactérias: não possuem peptídioglicanos típicos com ácido muramico e Daminoácidos, característicos das eubactérias. Algumas possuem paredes compostas exclusivamente de N-acetilglicosamina e outras apenas de proteínas. Micoplasmas: não possuem parede celular e seu citoplasma é limitado apenas por uma bicamada fosfolipídica associada a proteínas e alta concentração de esteróis. Formas L: células sem parede originadas de bactérias Gram-positivas ou Gram-negativas selecionadas pelo uso de agentes que destroem a parede (lisozima ou penicilina). Cápsula, camada mucosa e camada S: Vários procariotos sintetizam polímeros orgânicos que são depositados para fora da parede e são chamados substâncias poliméricas extracelulares (SPE). O termo cápsula é restrito a uma camada que fica ligada a parede celular. No entanto, as SPEs podem formar uma massa amorfa mais dispersa, parcialmente desligada da célula e chamada, então, camada mucosa. A camada S, encontrada, sobretudo nas arqueobactérias, é composta por proteínas oui glicoproteínas ligadas à parede. Apesar de não serem essenciais à vida da célula, as substancias poliméricas extracelulares podem desempenhar papéis muito importantes para as bactérias: a) reservatório de água e nutrientes. b) Aumento da capacidade invasiva de bactérias patogênicas. c) Aderência: as cápsulas possuem receptores específicos que servem como sítios de ligação com outras superfícies. d) Aumento da resistência bacteriana a biocidas. e) Produção industrial de SPEs: tem sido produzido e utilizados industrialmente como espessantes de alimentos, tintas, etc. Flagelos: confere movimento à célula e é formado de uma estrutura basal. O comprimento do flagelo geralmente é maior que o da célula. Pili ou fímbrias: muitas bactérias Gram-negativas são dotadas de apêndices filamentosos protéicos que não são flagelos. Tais apêndices, chamados fímbrias (ou pêlos), são menores, mais curtos e mais numerosos que os flagelos e não formam ondas regulares. As fímbrias podem ser vistas apenas sob microscopia eletrônica. Não desempenham nenhum papel relativo a mobilidade, pois são encontradas tanto em espécies móveis como nas imóveis. Nucleóide: O nucleóide procariótico ou o DNA bacteriano. A região nuclear é preenchida por fibrilas de DNA dupla hélice na forma de uma única molécula de aproximadamente 1 mm de comprimento. Plasmídios: no citoplasma das bactérias existem moléculas de DNA circulares, menores que o cromossomo, cujos genes não determinam características essenciais, porém, muitas vezes, conferem vantagens seletiva às células que as possuem. Componentes citoplasmáticos: Imersas no citoplasma existem partículas insolúveis, algumas essenciais (ribossomos e nucleóide) e outras encontradas apenas em alguns grupos de bactérias, nos quais exercem funções especializadas como os grânulos e os vacúolos gasosos. Ribossomos: Partículas citoplasmáticas responsáveis pela síntese protéica. Em procariotos possuem coeficientes de sedimentação de 70S e são compostos de duas subunidades, 30S e 50S. Grânulos: a sua função, porém, é quase sempre a de substancia de reserva e subunidades de macromoléculas para compor outras estruturas celulares. Vacúolos gasosos: são encontrados no citoplasma de organismos procarióticos que vivem flutuando em lagos e mares. Esporos bacterianos: os endósporos são estruturas formadas por algumas espécies de bactérias Gram-positivas, sobretudo dos gêneros Clostridium e Bacillus, quando o meio se torna carente de água ou de nutrientes essenciais. Assim, a formação do esporo em procariotos é um tipo de diferenciação celular que ocorre como resposta a uma situação desfavorável do meio ambiente. Bactérias capazes de esporular são mais comumente encontradas no solo. Nutrição e metabolismo bacteriano: Os precursores das macromoléculas podem ser retirados do meio ambiente ou ser sintetizados pelas bactérias a partir de compostos ainda mais simples. A alternativa escolhida vai depender da disponibilidade do composto no meio e da capacidade de síntese do microrganismo. Pelo princípio geral da economia celular, retirar precursores prontos do meio é sempre mais vantajoso do que sintetizá-los, esta é, portanto, a escolha preferencial. Os macronutrientes são: carbono (C), oxig~enio (O), hidrogênio (H), nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P). Os micronutrientes são os minerais, os elementos: ferro, magnésio, manganês, cálcio, zinco, potássio, sódio, cloro, cobre, cobalto, molibdênio, selênio, e outros são encontrados sempre na forma inorgânica. Para cultivar microrganismos, deve-se obedecer a requisitos básicos obrigatórios, quais sejam: inoculá-los em meio de cultura adequados e incubá-los em condiç~eos ambientais igualmente adequadas. Meio de cultura é uma mistura de nutrientes necessários ao crescimento microbiano. Basicamente, deve conter a fonte de enrgia e de todos os elementos imprescindíveis à vida das células. A tomada de nutrientes e posterior metabolismo são influenciados por fatores físicos e químicos do meio ambiente. Os principais fatores são: temperatura, pH, presença de oxigênio, pressão osmótica e luz. Metabolismo bacteriano: Obtenção de energia: as substanciais com alto valor energético são sempre aquelas com elevado grau de redução, a grande parte das bactérias (exceção às fotossintetizantes) vai obter toda a energia de que necessita por oxidação desses substratos. As substâncias preferencialmente oxidadas por microrganismos são os açúcares, seguidos de proteínas, peptídios e, mais raramente, as gorduras. Pode fazer este metabolismo de obtenção de energia de duas formas: aeróbica (vias ciclo do ácido cítrico) ou fermentação. O crescimetno bacteriano é freqüentemente considerado em dois níveis, a saber: individual e populacional (em escala logarítmica). Taxonomia bacteriana: Atualmente são conhecidas mais de 4.000 espécies de bactérias e muitas mais serão descritas, sendo essencial sabermos como uma espécie nova está relacionada com outras já conhecidas. A taxonomia bacteriana pode ser dividida em três subáreas: nomenclatura, classificação e identificação. Por exemplo, uma das bactérias que habitam o intestino humano de mamíferos é designada de Escherichia coli (nome do gênero seguido pelo nome da espécie). Apenas a primeira letra do nome do gênero é escrita com a letra maiúscula e o nome completo deve ficar em itálico ou sublinhado. Métodos físicos de controle de microrganismos: O método mais empregado para matar microrganismos é o calor, por ser eficaz, barato e prático. Do ponto de vista microbiológico,os microrganismos são considerados mortos quando perdem, de forma irreversível, a capacidade de se multiplicar. Métodos químicos de controle de microrganismos: Álcoois – a desnaturação de proteínas é a explicação mais aceita para a ação antimicrobiana. Na ausência de água, as proteínas não são desnaturadas tão rapidamente quanto na sua presença e isto explica porque o álcool etílico absoluto é menos ativo que as misturas de álcool e água (geralmente usa-se em laboratório álcool 70%). Aldeídos e derivados – o mecanismo de ação dos aldeídos é a alquilação direta dos grupos funcionais das proteínas, tais como aminas, carboxilas e hidroxilas, formando hidroximetilderivados inativos. Fenóis e derivados – primeiro agente a ser utilizados como tal na prática médica. Os fenóis atuam sobre qualquer proteína, mesmo aquelas que não fazem parte da estrutura ou protoplasma do microrganismo, é usado na concentração de 0,2% a 1%. Halogênios e derivados – o iodo sob a forma de tintura é um dos ati-sépticos mais utilizados na prática cirúrgica. Bactericida, fungicida e esporocida, as soluções alcoólicas a 2% de iodo exercem ação imediata. O mecanismo de ação é a combinação irreversível com proteínas, provavelmente através da interação com os aminoácidos aromáticos, fenilalanina e tirosina. Ácidos inorgânicos e orgânicos – desde há muito tempo tem sido usados alguns ácidos orgânicos, como o ácido acético e o ácido láctico, não como anti-sépticos,mas sim na preservação de alimentos. Igualmente o ácido benzóico e seus derivados são empregados como conservantes de alimentos dadas suas qualidades bacteriostáticas e fungiostática. Mecanismo de ação dos antibacterianos: Os antibióticos e os quimioterápicos interferem com diferentes atividades da célula bacteriana, causando a sua morte ou somente inibindo o seu crescimento. Os primeiros são chamados bactericidas e os segundos, bacteriostáticos. A interação dos antimicrobianos com a célula bacteriana pode ocorrer em vários níveis, que veremos abaixo: Parede celular: os mais empregados são os betalactâmicos, interferem na síntese da parede. Membrana plasmática: estes antibióticos assemelham-se aos detergentes, alcançam a membrana citoplasmática, intercalando-se provocando uma desorganização da membrana, ocorrendo a saída de componentes celulares e morte da bactéria. Ribossomo: inibem a síntese protéica por diferentes mecanismos, e alguns atuam na formação de ribossomos não funcionais. DNA: há indícios que entre na célula e se intercale com o DNA quebrando-o. Resistência bacteriana a drogas: As bactérias podem ser classificadas em sensíveis e resistentes aos antimicrobianos. As amostras resistentes podem ser classificadas em resistência natural ou adquirida, conforme descrito abaixo: Natural – quando todas as amostras da espécie, independentemente do local de isolamento, são sempre resistentes. Está relacionada com a capacidade dos antimicrobianos de atingir os seus sítios de ação. Adquirida – somente parte das amostras é resistente, a porção destas variando de lugar para lugar, dependendo basicamente da intensidade do uso do antimicrobiano. A aquisição de resistência por uma célula bacteriana sensível é sempre decorrência de uma alteração genética que se expressa bioquimicamente. A resistência mediada por mutações é geralmente simples, isto é, atinge apenas um antimicrobiano, porque dificilmente uma célula bacteriana sofre mutações simultâneas para dois ou mais antimicrobianos. Mecanismos químicos – um dos mais importantes é a produção de enzimas que modificam a parte ativa da molécula do antibacteriano, tornando-o praticamente inativo. Microbiota normal do corpo humano: A formação da microbiota normal, com a qual o homem convive por toda a vida, tem início no momento do nascimento, pois, ao passar pelo canal do parto, ele recebe os primeiros componentes de sua microbiota. Na verdade, cada uma das regiões habitadas possui uma microbiota com características próprias. Pele: a microbiota cutânea se distribui por toda a extensão da pele, sendo mais concentrada, entretanto, nas áreas mais úmidas e quentes como axilas e períneo. Predominam na pele as bactérias do gênero Staphylococcus, Corynebacterium e Propioniobacterium. A maioria das bactérias da pele reside na superfície do estrato córneo e na parte superior dos folículos pilosos. Algumas, entretanto, residem mais profundamente. Estas têm a função de recolonizar a pele quando as bactérias mais superficiais são removidas, por exemplo, após uma lavagem cuidadosa. Esta conduta pode diminuir em cerca de 90% o número total de microrganismos existentes na pele. Dentro de oito horas, contudo, o número destes é normalizado. Cavidade oral e vias aéreas superiores: é bastante grande e diversificada. Participam da microbiota numerosos gêneros, tais como Staphylococcus, Streptococcus, Neisseria, Bacteróides, Actinomycetes, Treponema, Mycoplasma e outros. A microbiota da cavidade oral tem grande importância em odontologia e em medicina. A cárie dentária, as doenças periodontais, actinomicoses e endocardites subagudas são todas doenças causadas por membros da microbiota da cavidade oral. Aparelho digestivo: o esôfago normalmente é estéril. O estômago tende a ser estéril,mas logo depois das refeições contém número variável de bactérias. No duodeno e jejuno são encontradas em torno de 103 bactérias por mL de suco entérico, representadas por Staphylococcus, Lactobacillus e outros gêneros. No jejuno inferior e no íleo o número de bactérias aumenta para 106 a 108 bactérias por mL e a microbiota se torna mais variada. Nos colos são encontradas 109 a 1011 bactérias por grama de conteúdo intestinal, sendo extremamente elevado o número de espécies. Estas espécies sendo de 100 a 1000 para 1. Calcula-se que a microbiota intestinal seja responsável por 70% do peso seco das fezes. A microbiota intestinal é a principal microbiota do corpo humano. Vagina: a microbiota vaginal varia com a idade, pH e secreção hormonal. No primeiro mês de vida, e no período compreendido entre a puberdade e a menopausa, há o prodomínio de Lactobacillus sp. (bacilos de Döderlein). Entre o primeiro mês de vida e a puberdade, e também durante a menopausa, a microbiota vaginal é constituída de espécies de diferentes gêneros como Corynebacterium, Staphylococcus e Escherichia. Uretra anterior: a uretra anterior contém quantidade variável de bactérias representadas por Ataphylococcus epidermidis, Corynebacterium sp., Streptococcus faecalis e, às vezes, Escherichia coli. Conjuntiva: pode ser estéril ou estar colonizada por Corynebacterium xerosis, Staphylococcus epidermidis e, eventualmente,por outras bactérias. Ouvido: a microbiota do ouvido é semelhante à da pele. A microbiota normal do corpo humano, ao mesmo tempo que desenvolve atividades benéficas, é responsável por uma série de doenças cuja importância é crescente, em conseqüência do uso constante de drogas imunossupressoras, antibióticos e da interação de pacientes nas chamadas unidades de terapia intensiva (UTI). A atividade benéfica da microbiota, mais bem comprovada, refere-se à defesa dos intestinos contra infecções por Salmonella. Outra afecção que parece ser evitada pela microbiota intestina é a colite pseudomembranosa. Alem do papel protetor contra infecções intestinais específicas, estudos realizados com animais axênicos (livres de germes) sugerem que a microbiota normal estimula o desenvolvimento das defesas. Outro efeito benéfico da microbiota seria a produção de vitamina do complexo B e de vitamina K, que devem ser administradas em animais axênicos para que os mesmos não se tornem carentes. Epidemiologia e patogenicidade bacteriana: As infecções bacterianas podem ser divididas em dois grandes grupos: exógenas e endógenas. São consideradas exógenas as infecções cujos agentes atingem o hospedeiro a partir de um reservatório ou fonte externa, e endógena, as causada pela microbiota normal do próprio hospedeiro. As bactérias patogênicas tem ido classificadas em primárias e oportunistas. As patogênicas primárias são capazes de causar doença nos indivíduos normais enquanto as oportunistas geralmente só causam doença nos indivíduos com algum tipo de deficiência em suas defesas naturais ou adquiridas. O caráter de patogenicidade de uma bactéria é conferido por duas ordens de fatores de virulência: fatores de colonização e fatores de lesão. Os fatores de colonização conferem à bactéria a capacidade de colonizar o indivíduo, isto é, de proliferar e sobreviver no organismo. Os fatores de colonização podem ser classificados em adesinas, invasinas, evasinas e fatores nutricionais. Adesinas: são moléculas ou estruturas que fixam ou promovem a adesão das bactérias à superfície dos tecidos. Invasinas: invadem a célula epitelial , tomando destinos diferentes. A invasão das células epiteliais é um processo ativo, induzido pela própria bactéria patogênica. As substancias que promovem a invasão tem sido designadas invasinas. Evasinas: Usamos o termo evasinas para incluir todas as substâncias ou estruturas bacterianas que tornam a bactéria capaz de evadir-se da fagocitose, complemento e anticorpos. Fatores nutricionais: Para proliferar, a bactéria deve encontrar no organismo todos os nutrientes necessários. Entre estes, tem sido bastante destacado o ferro que a bactéria utiliza para sintetizar seus ciclocromos e outras proteínas. Fatores de lesão: São múltiplos os fatores de virulência que provocam lesão no organismo. Estes fatores estimulam a produção de citosinas pelas células do organismo, as quais provocam febre, inflamação e, quando presentes em grandes quantidades, levam as choque séptico. Exotoxinas: as exotoxinas podem ser divididas em três grupos de acordo com o sitio de ação: 1) toxinas que atuam na membrana citoplasmática, interferindo com os mecanismos de sinalização da célula; 2) toxinas que alteram a permeabilidade da membrana celular, como as toxinas que formam poros; 3) toxinas que atuam dentro da célula, onde modificam enzimaticamente alvos citosólicos. Enzimas hidrolíticas: Muitas bactérias produzem enzimas hidrolíticas, como hialuronidase e proteases que degradam componentes da matriz extracelular, desorganizando a estrutura dos tecidos, a degradação dos componentes da matriz gera uma série de nutrientes que são utilizados pelas bactérias. Endotoxinas: Desempenham importante papel no surgimento de manifestações clinicas, como inflamação, febre, coagulação intravascular e choque. Superantígenos: Um macrófago transportando um peptídeo de antígeno normal interage com um em 10 mil linfócitos. Em se tratando de superantígeno , a proporção é de um macrófago para cinco linfócitos. Em virtude deste tipo de associação, muitos linfócitos Th são simultaneamente estimulados, ocorrendo elevada produção interleucina 2 em grande quantidade ela passa para a corrente sanguínea, dando origem a uma variedade de sintomas, como febre, náuseas e vômitos. Uma produção também excessiva de outras interleucinas, resulta em choque. Doença auto-imune: Um deles é quando possuem ou produzem antígenos semelhantes aos existentes nas células do hospedeiro. Neste caso são formados anticorpos ou célula T que podem reagir tanto com a bactéria como com as células do hospedeiro. Ocorre outro mecanismo de doença auto-imune quando a bactéria provoca formação de anticorpos circulantes em altos níveis. Estes anticorpos reagem com os antígenos bacterianos, formando inúmeros complexos antígeno-anticorpos. Estes complexos podem se depositar no endotélio vascular e ativar o complemento e gerar uma reação inflamatória. Staphylococcus Os estafilococos são cocos Gram-positivos, catalase positivos, que tendem a formar agrupamentos semelhantes a cachos de uva. Os estafilococos são amplamente distribuídos na natureza e fazem parte da microbiota normal da pele e mucosas de mamíferos e aves. Atualmente o gênero Staphylococcus é composto por cerca de 27 espécies, sendo que algumas são freqüentemente associadas a uma ampla variedade de infecções de caráter oportunista, em seres humanos e animais. Entre elas, se destacam, em patologia humana, as espécies: Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus saprophyticus e Staphylococcus haemolyticus. Tradicionalmente, os estafilococos são divididos em duas categorias: coagulase positivos e coagulase negativos. Essa divisão é baseada na capacidade de coagular o plasma, que é uma propriedade considerada, há longo tempo, como importante marcador de patogenicidade dos estafilococos. Staphylococcus aureus PATOGENICIDADE O Staphylococcus aureus é o agente mais comum de infecções piogênicas. Estas infecções podem se localizar na pele ou em regiões mais profundas. Quando na pele, recebem diferentes designações, tais como foliculite, furunculose, carbúnculo e impetigo, de acordo com a localização e outras características. Em indivíduos debilitados por doenças crônicas, traumas físicos, queimaduras ou imunossupressão, esse microorganismo pode causar infecções de caráter mais grave. Entre as infecções profundas destacam-se a osteomielite, a bacteremia, a endocardite, a pneumonia e, ocasionalmente, a meningite e a artrite bacteriana. Além de infecções piogênicas, o Staphylococcus aureus pode causar vários tipos de intoxicações, seja na vigência de um processo infeccioso ou não. As intoxicações que ocorrem na ausência de processos infecciosos são de dois tipos: intoxicação alimentar e síndrome do choque tóxico. A intoxicação alimentar é provocada pela ingestão de toxinas previamente formadas no alimento contaminado pelo Staphylococcus aureus. Essas toxinas são chamadas eterotoxinas, conhecendo-se, atualmente, cinco, imunologicamente distintas (A, B,C,D e). As eterotoxinas estafilocócicas são termoestáveis e, assim, a intoxicação alimentar pode ser veiculada mesmo por alimentos cozidos. Na síndrome do choque tóxico o paciente, geralmente mulher no período menstrual, apresenta febre alta, diminuição da pressão sistólica, eritema com descamação da pele, insuficiência renal, diarréia e outras manifestações. Existe estreita associação entre o choque, uso de tampões absorventes e presença de Staphylococcus aureus na mucosa vaginal. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das infecções estafilocócicas é feito pelo isolamento e identificação do microrganismo. O isolamento é realizado nos meios de cultura comuns, como ágar sangue. O diagnóstico da intoxicação alimentar é realizado pela pesquisa das enterotoxinas nos alimentos ingeridos e no vômito do paciente. No exame bacterioscópico das secreções purulentas, geralmente vê-se a bactéria formando pequenos cachos ou isoladamente. EPIDEMIOLOGIA O Staphylococcus aureus pode ser encontrado em várias partes do corpo, como fossas nasais, garganta, intestinos e pele. O número de portadores nasais do germe varia de 30% á 50%, sendo mais elevado entre pessoas que trabalham em hospitais. A infecção estafilocócica pode ser causada por bactérias do mesmo individuo ou de outros doentes ou de portadores sadios. A transmissão ocorre por contato direto ou indireto. TRATAMENTO Embora o staphylococcus aureus possa ser suscetível à ação de várias drogas ativas contra bactérias Gram-positivas (tais como penicilinas, cefalosporinas, eritromicina, aminoglicosídios, tetraciclina e clorafenicol), é também conhecido pela sua elevada capacidade de desenvolver resistência a diversas delas. Por tanto, a antibioticoterapia adequada das infecções estafilocócicas deve ser precedida da escolha da droga com base nos resultados de testes de suscetibilidade. A vancomicina é considerada a droga de escolha para o tratamento de estafilococos de caráter grave, especialmente as causadas por amostras multirresistentes, incluindo a meticilina. Staphylococcus epidermidis O Staphylococcus epidermidis é habitante normal da pele e mucosas, sendo considerado a espécie de estafilococos coagulase negativos de maior prevalência e persistência na pele humana. Sendo assim, o seu isolamento a partir de um processo infeccioso, deve ser interpretado com cautela, pois o espécime clinico pode ter sido contaminado no momento da coleta. Staphylococcus saprophyticus O Staphylococcus saprophyticus pode ser encontrado na microbiota normal da região periuretral do homem e da mulher, bem como na pele. Vários estudos o apontam, no entanto, como importante patógeno oportunista em infecções do trato urinário, especialmente em mulheres jovens, sexualmente ativas. Pode também causar infecção urinária no homem, particularmente em idosos com afecções predisponentes do trato urinário. Sua patogenicidade parece estar relacionada a sua capacidade de aderir às células do epitélio do trato urinário. Ocasionalmente, pode ser isolado de infecções de feridas e de casos de septicemia. Staphylococcus haemolyticus O staphylococcus haemolyticus pode ser encontrado na pele e parece ocupar vários nichos cutâneos.Há evidencias de que seja a segunda espécie, entre os estafilococos coagulase negativos, mais freqüentemente associados a infecções humanas, particularmente em casos de septicemia, podendo causar conjuntivite, peritonite, infecções do trato urinário e de feridas. Streptococcus e Enterococcus Os gêneros Streptococcus e Enterococcus englobam os cocos Gram-positivos, catalase negativos,de maior importância em medicina humana e animal. Streptococcus Os Streptococcus compreendem um conjunto heterogêneo de cocos que se dividem num só plano, agrupando-se em cadeias de tamanho variável. Embora esses microrganismos façam parte da microbiota normal,muitos deles são responsáveis por uma variedade de manifestações clinicas, sendo considerados importantes agentes infecciosos tanto para o homem quanto para os animais. Seu metabolismo é fermentativo e o ácido láctico é o produto final predominante da fermentação da glicose. A maioria necessita de meios enriquecidos, geralmente pela adição de sangue, para o crescimento. A classificação formal dos estreptococos, em nível de espécies,ainda deixa a desejar,devido a dificuldade em se caracterizar, muitas delas, com precisão e acurácia. Entretanto, aquelas de maior importância podem ser facilmente categorizadas por um mínimo de testes relativamente simples. Streptococcus pyogenes O Streptococcus pyogenes é caracterizado pela presença do polissacarídeo do grupo A, e pode ser dividido em tipos sorológicos, graças a presença, na parede celular, de duas proteínas, denominadas M e T. Além do interesse epidemiológico,no sentido de permitir o rastreamento das infecções, a sorotipagem pode ser importante para a compreensão da patogenicidade das amostras de estreptococos do grupo A. Por exemplo, alguns sorotipos M estão associados à glomerulonefrite, mais freqüentemente que outros. PATOGENICIDADE As infecções mais freqüentes causadas pelo Streptococcus pyogenes localizam-se na faringe e amígdalas (faringoamigdalites), e na pele (piodermites e erisipela). Disseminandose a partir destes focos primários, particularmente das faringoamigdalites, a bactéria pode determinar bacteremia e infectar diferentes órgãos e tecidos dos organismos. Faringoamigdalites O streptococcus pyogenes é responsável por mais de 90% das faringoamigdalites bacterianas. Duas etapas caracterizam o estabelecimento da infecção. Na primeira a bactéria se fixa e coloniza a superfície da mucosa e, na segunda, a invade, despertando reação inflamatória que pode ser intensa. As faringoamigdalites estreptocócicas podem evoluir dando origem a infecções em outros órgãos ou tecidos. As mais freqüentes são sinusites, otites. Estas complicações ocorrem em 1% a 3% dos doentes. Raramente a bactéria pode se disseminar dando origem a artrites. Tanto as otites como a mastoidites podem evoluir para bacteremias e meningites. Piodermites A mais característica é o impetigo, que se inicia como uma vesícula que progride rapidamente para uma lesão recoberta por crosta espessa. Aparentemente, o Streptococcus pyogenes penetra na pele através de lesões determinadas por traumas, mordedura de insetos ou por dermatoses. A bactéria pode ser encontrada na pele durante alguns dias a duas semanas, antes do inicio da manifestação.Este germe é um contaminante na lesão ou eventualmente agente de infecção secundária. O impetigo pode ser seguido de glomerulonefrite, mas não de febre reumática. Erisipela A erisipela é uma infecção estreptocócica aguda da pele, envolvendo, às vezes, as mucosas adjacentes. Predomina no primeiro ano de vida e depois dos 30 anos, localizando-se mais freqüentemente na face. A lesão é elevada, eritematosa e apresenta bordas bem demarcadas. O mecanismo de transmissão da erisipela não é conhecido, mas a bactéria parece originarse das vias aéreas superiores do próprio paciente. Nos indivíduos idosos, a erisipela pode ser acompanhada de bacteremia. Outras infecções O Streptococcus pyogenes pode causar outros tipos de infecção, seja primária ou secundariamente às descritas. Exemplos são as pneumonias, empiemias, febre puerperal, pericardites, peritonites e outras. Seqüelas Febre reumática A doença caracteriza-se por lesões inflamatórias não-supurativas,envolvendo coração, articulações, tecido celular subcutâneo e sistema nervoso central. Os indivíduos que sofrem um episódio de febre reumática são particularmente predispostos a outros episódios, em conseqüência de infecções estreptocócicas, subseqüentes, das vias aéreas superiores. Várias hipóteses têm sido levantadas para explicar a patogênese da febre reumática, mas o peso das evidencias sugere tratar-se de uma doença iunológica. Glomerulonefrite A glomerulonefrite pode aparecer depois da faringoamigdalite e das piodermites. É mais freqüente após as últimas. Como a febre reumática, trata-se também de uma doença de natureza imunológica. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico da infecção é feito pelo isolamento e identificação do microrganismo. O isolamento do streptococcus pyogenes é facilmente obtido em placas contendo àgar-sangue, onde o mesmo forma colônias beta-hemolíticas. Nos últimos anos, foram também desenvolvidos vários testes para o diagnóstico rápido das infecções por streptococcus pyogenes. Esses testes são baseados no emprego de reagentes específicos para detectar a presença do antígeno do grupo A diretamente em espécimes clínicos, permitindo o diagnóstico poucos minutos após a coleta, através de reações de aglutinação em lâmina ou imunoenzimáticas. TRATAMENTO Vários antibióticos apresentam boa atividade contra o Streptococcus pyogenes, mas o de escolha é a penicilina G. Um aspecto importante da terapêutica pela penicilina é o fato de que até agora não ocorreu seleção de amostras resistentes a este antibiótico, pelo menos em escala significante. O objetivo da terapêutica da orofaringe é erradicar a bactéria do organismo e com isto fazer a profilaxia da febre reumática. O tratamento da piodermite tem o mesmo objetivo, mas não está provado que possa modificar a incidência da glomerulonefrite. EPIDEMIOLOGIA A faringite estreptocócica é uma das infecções mais freqüentes na infância e juventude. A incidência é maior entre 5 e 15 ano, com o pico ocorrendo nos primeiros anos de freqüência a escola. A infecção se transmite normalmente pelo contato direto de pessoa a pessoa, por meio de gotículas de saliva ou de secreção nasal. Aglomerações, como as encontradas em colégios e alojamentos militares, favorecem a transmissão da infecção. É possível que a passagem de pessoa a pessoa selecione amostras mais virulentas. A infecção é mais freqüente nas épocas mais frias. As piodermites são mais freqüentes em crianças entre dois e cinco anos, pertencentes a populações que vivem em más condições de higiene. A infecção é mais freqüente durante épocas quentes e em regiões tropicais. A transmissão da piodermite não é bem conhecida. As possíveis vias são contato direto, contaminação do meio ambiente e certos vetores, como moscas. A erisipela tende a ocorrer em indivíduos idosos, particularmente se portadores de doenças debilitantes. Streptococcus pneumoniae A espécie Streptococcus pneumoniae é composta por cocos Gram-positivos, com forma de chama de vela, agrupados aos pares. PATOGENICIDADE Embora a introdução da penicilina, como agente terapêutico, tenha levado a um declínio significativo nos índices de mortalidade por infecções pneumocócicas, o streptococcus pneumoniae permanece como um dos agentes bacterianos mais freqüentemente associados a infecções graves, tais como pneumonia, meningite, septicemia e otite média. Esses microrganismos podem ser normalmente encontrados no trato respiratório superior de seres humanos. A partir dessa localização, os pneumococos podem ser aspirados para os alvéolos pulmonares. Uma vez nos alvéolos, a bactéria prolifera e determina a reação inflamatória característica de pneumonia. Nos pacientes não-tratados e que sobrevivem á infecção, a pneumonia segue curso típico que termina em cura espontânea uma semana após seu inicio. Aproximadamente 30% dos pacientes co pneumonia apresentam bacteremia, podendo o microrganismo ser isolado facilmente do sangue. O individuo normal é bastante resistente a infecção pulmonar pelo pneumococo, devido aos seus eficientes mecanismos de defesa. Estes incluem o reflexo epiglotal, movimento ciliar,reflexo da tosse, drenagem linfática e os macrófagos que patrulham os alvéolos. Desta maneira, um individuo geralmente adquire pneumonia quando os mecanismos que o protegem são comprometidos, o que pode acontecer em conseqüência de infecções viróticas das vias aéreas superiores, intoxicação alcoólica, insuficiência cardíaca congestiva, desnutrição, anemia falciforme e nefrose, entre outros fatores. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das infecções pneumocócicas é feito pelo isolamento e identificação do microrganismo. Para o isolamento, usa-se geralmente, ágar-sangue, onde o microrganismo forma colônias com atividade alfa-hemolitica. TRATAMENTO Durante um longo período, os pneumococos foram considerados como naturalmente sensíveis a penicilina, constituindo este o antimicrobiano de escolha. Contudo em épocas mais recentes, embora as infecções pneumocócicas, em geral, continuem respondendo ao tratamento com penicilina, vários trabalhos documentam o isolamento de amostras resistentes a esse agente. EPIDEMIOLOGIA Cerca de 40% a 70% dos indivíduos normais são portadores de um ou mais tipos sorológicos de pneumococos no nível das vias aéreas superiores. Em geral, acredita-se que pneumococos de qualquer um dos sorotipos possa causar infecções. Entretanto, alguns tipos são mais freqüentes. Streptococcus viridans Os streptococcus viridans constituem um conjunto de microrganismos de caracterização menos bem definida e padronizada que os demais estreptococos. A maioria dessas espécies faz parte da flora normal das vias aéreas superiores, em particular, dos diferentes nichos ecológicos da cavidade oral. Como agentes etiológicos, são associados a bacteremia, endocardite, abscessos, infecções do trato geniturinário e infecções e feridas. Enterococcus Os enterococos constituem um importante grupo de microrganismos que se destacam, cada vez mais, como patógenos oportunistas cujas biologia e taxonomia têm passado por significativas alterações nos últimos anos. Os enterococos são amplamente distribuídos na natureza e participam da microbiota normal do homem e de animais, particularmente, em nível do trato intestinal. Em seres humanos, eles são freqüentemente isolados, em cultura pura ou mista, a partir de infecções clinicamente significativas, tais como bacteremias – acompanhadas ou não de endocardite – infecções dos tratos urinário e biliar, infecções de feridas e infecções pélvicas e intraabdominais. A associação de enterococos e quadros clínicos de caráter grave e co taxas significativas de morbidade e mortalidade requer a instituição de terapia antimicrobiana efetiva. Devido ao numero bastante limitado de antimicrobianos efetivos contra os enterococos, as preocupações relativas ao tratamento das enterococcias aumentaram consideravelmente após a recente descrição do isolamento, nos EUA e na França,de amostras resistentes a vancomicina. Neisseria O gênero Neisseria compreende várias espécies que podem ser diferenciadas por meio de provas bioquímicas e de outros testes. Com exceção de N. gonorrhoeae e N. meningitidis, as demais espécies são habitantes normais da mucosa da nasofaringe e, só raramente,podem causar infecção em determinados órgãos. A N. gonorrhoeae ou gonococo e a N. meningitidis, ou meningococo, são os agentes da gonorréia e da meningite, respectivamente. As neisserias são cocos Gram-negativos que ocorrem aos pares, na maioria das vezes. Neisseria gonorrhoeae PATOGENICIDADE A uretride é a principal forma clinica da infecção gonocócica no homem. A partir da uretra a infecção pode se estender para a próstata, epidídimo e vesícula seminal. A protite gonocócica no homem resulta quase sempre de coito anal. Na mulher, a forma clinica de infecção mais comum parece ser a cervicite; a uretrite geralmente é leve e transitória. Tanto no homem, como na mulher, a faringite gonocócica resulta de sexo oral. Ocasionalmente, o gonococo invade a corrente circulatória, dando origem a artrites, endocardites, meningites e lesões cutâneas. A disseminação da infecção é mais freqüente na mulher do que no homem. A patogênese das infecções gonocócicas é apresentada esquematicamente. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito pelo exame bacterioscópico de esfregaços corados pelo Gram e pelo isolamento e identificação do gonococo. No homem, o exame bacterioscópico é extremamente importante porque revela a presença do gonococo na secreção uretral, na grande maioria das vezes. O exame bacterioscópico tem valor bastante limitado para o diagnóstico da infecção gonocócica na mulher. TRATAMENTO As drogas de escolha para o tratamento das infecções gonocócicas continuam sendo as penicilinas, quando o germe é sensível a estes antibióticos. Ao longo dos anos, surgiram dois tipos de amostras de gonococo resistentes ás penicilinas. EPIDEMIOLOGIA Em conseqüência das mudanças de comportamento sexual, as infecções gonocócicas não só tiveram sua freqüência bastante aumentada nos últimos anos, mas também se tornaram mais diversificadas. No adulto a infecção é sempre transmitida durante a prática de atos sexuais. O recém-nascido adquire a oftalmite durante o nascimento. Há evidencias de que a criança pode adquirir a infecção por contato não-sexual,com pessoas infectadas. Aproximadamente, 10% dos homens e 40% das mulheres albergam o gonococo em seus órgãos genitais,sem sintomas que as levam a procurar o médico. Nesseria meningitidis A N. meningitidis pode ser dividida em 10 grupos sorológicos, cada grupo sendo caracterizado por um antígeno capsular. PATOGENICIDADE A N. meningitidis inicia suas infecções pela colonização da nasofagite. Na maioria das vezes a infecção é assintomática, mas ocasionalmente apresenta manifestações clinicas discretas. Da nasofaringe o meningococo pode ganhar a circulação, determinando meningococcemia, meningite e, mais raramente outras infecções metastáticas. DIAGNÓSTICO O meningococo pode ser facilmente isolado do sangue e do liquor nos meios de cultura utilizados, rotineiramente, para semeadura destes materiais clínicos. TRATAMENTO As penicilinas são as drogas de escolha para o tratamento da meningite meningocócica. Quando as meninges estão inflamadas, estes antibióticos atravessam facilmente a barreira hematoliquorica. Até o presente não houve seleção de meningococos significativamente resistentes, a não ser com relação aos sulfamídicos. É interessante notar que ainda não foram encontrados meningococos portadores de plasmídios de resistência. EPIDEMIOLOGIA O meningococo é encontrado na nasofaringe de 3% a 40% dos indivíduos normais, sendo a bactéria transmitida de uma pessoa para outra, por meio de gotículas provenientes das vias respiratórias. A profilaxia da meningite é normalmente feita por meio de antibiótico e vacinas. A quimioprofilaxia é recomendada para pessoas em contato com doentes. A vacinação confere imunidade duradoura, sendo mais persistente nas crianças com mais de sete anos. Corynebacterium São bacilos Gram-positivos em forma de clava, que tendem a formar arranjos em paliçadas e/ou letras chinesas. O gênero compreende número relativamente grande de espécies, algumas sendo mal definidas. Corynebacterium diphtheriae: Pode ocorrer sob forma de três biótipos, denominados gravis, mitis e intermedius. Estes termos originaram-se nos estudos que correlacionam a gravidade da doença com a presença dos biótipos. O gravis foi associada as formas graves da doença, o mitis a leves e o intermedius a intermediária. PATOGENICIDADE Poder toxígeno: o bacilo diftérico pode causar infecção em vários órgãos e tecidos, mas a forma clínica mais freqüente e mais grave é a faríngea, denominada angina diftérica. Tanto as manifestações locais como as sitêmicas são principalmente devidas a uma potente exotoxina. Vários estudos demonstram que as alterações tissulares, tanto no local de infecção (pseudomembranas), como no nível do miocárdio e outros órgãos, são mediadas pela toxina. PATOGENIA E PATOLOGIA: O bacilo multiplica-se na porta de entrada e produz a exotoxina com tropismo especial para o miocárdio, sistema nervoso, rins e supra-renais. A razão desta alta especificidade de tecido ainda é desconhecida. Fixada de modo estável não pode mais ser neutralizada. O microrganismo provoca na porta de entrada uma reação inflamatória local, levando à formação da pseudomembrana, constituída de células bacterianas, células epiteliais, leucócitos e fibrina. Da faringe pode estender-se à laringe e traquéia, ocasionando quadro de insuficiência respiratória aguda por obstrução alta. A gravidade da doença se deve à grande absorção de toxina que se relaciona com a extensão da pseudomembrana e sua localização em região mais vascularizada. As células do epitélio das vias fazem parte da pseudomembrana e a tentativa de deslocá-la levará ao sangramento. Raramente vamos encontrá-la em outras localizações como conjuntiva, ouvido médio, vagina, tecido cutâneo, etc. DIAGNÓSTICO O diagnóstico bacteriológico é feito a partir do material retirado das lesões existentes (ulcerações, criptas das amigdalas), exsudato de orofaringe e nasofaringe, que são as localizações mais comuns, ou de outras, conforme o caso, por meio de swab, antes da administração de qualquer terapêutica antimicrobiana. TRATAMENTO O tratamento da difteria, que deve ser iniciado mesmo antes da comprovação bacteriológica compreende medidas gerais e específicas. O paciente deve ser internado, isolado e liberado apenas após a cura bacteriológica (10 dias de antibioticoterapia e pelo menos dois exames negativos a partir de material de faringe). Deve haver imediata notificação ao serviço de saúde pública local, para as providências em relação aos contatos. EPIDEMIOLOGIA O homem é o reservatório natural do Corynebacterium diphtheriae e o transmite principalmente por contato direto (secreções de oro e nasofaringe) e eventualmente de formas indiretas (fômites). O individuo poderá apresentar uma infecção subclínica (trato respiratório superior e pele), adquirir imunidade e permanecer como portador assintomático durante tempo prolongado (meses). Sua incidência é maior no outono e inverno, no entanto, nas regiões que não apresentam grandes oscilações sazonais de temperatura, esta diferença não é significante. O mesmo ocorre onde a população possui alto índice de promiscuidade. As crianças abaixo de 10 anos continuam a ser as mais atingidas. O maior número de casos e óbitos tende a ocorrer na faixa de uma a quatro anos. A doença incide de maneira endêmica no Brasil, com aparecimento de surtos epidêmicos esporádicos. PROFILAXIA E CONTROLE A vacina se mostra eficaz no controle da doença, quando utilizada de modo sistemático, e imuniza 80% da população susceptível. Nos países onde se conseguiu a melhoria das condições socioeconômicas e a vacinação foi realizada adequadamente, a difteria tornou-se rara, registrando-se surtos esporádicos em populações de rua vivendo em condições precárias. Em alguns surtos epidêmicos recentemente observados no Brasil diversos casos da doença foram encontrados em pessoas previamente vacinadas. A vacina, que inclui, além do toxóide diftérico, o toxóide tetânico e antígenos de B. pertussis, devem ser aplicada, em três doses, logo nos primeiros meses de vida (dois, quatro e seis), com reforço posterior aos 18 meses e quatro anos. Deve-se fazer um novo reforço na idade escolar (vacina dupla – DT). Todos os contatos familiares de pacientes com difteria deverão ser examinados, colhendose material de oro e nasofaringe, e eventuais feridas de pele. Listeria Em anos recentes, organismos do gênero Listeria tem sido reconhecidos como responsáveis por surtos veiculados por alimentos nos EUA e na Europa. Dados epidemiológicos de diferentes países comprovam esta assertiva, colocando em evidência o alimento contaminado como fonte de transmissão e, conseqüentemente, classificando a listeriose entre as infecções de origem alimentar. O gênero Listeria é constituído de organismos pequenos, Gram-positivos, com morfologia cocóide e cocobacilar. Listeria monocytogenes é um microrganismo ubiquitário, sendo encontrado em uma ampla variedade de habitats, incluindo a microbiota indígena de animais silvestres, ruminantes e seres humanos hígidos. PATOGENICIDADE Listeria monocytogenes é patógeno intracelular facultativo, sobrevivendo e proliferando em macrófagos, enterócitos e outras células. Penetra no organismo do homem por ingestão e necessita aderir à mucosa intestinal. Listeria monocytogenes é causa incomum, mas potencialmente séria, de infecções alimentar, com um percentual muito elevado de casos fatais (cerca de 30%). O maior número de mortes está relacionado com fetos, neonatos, gestantes e imunocomprometidos, que constituem grupos de risco. Em adultos hígidos, infecções por L. monocytogenes são geralmente assintomáticas, ou produzem sintomas similares à gripe. Menos comumente, pode ocorrer diarréia e desconforto abdominal. A gravidez parece aumentar a suscetibilidade da gestante à infecções por Listeria. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de rotina é feito por exame bacteriológico do meterial proveniente do foco infeccioso. A pesquisa de em alimento é prática importante. São tomadas alíquotas do material e inoculado em caldo enriquecido para Listeria. TRATAMENTO E PREVENÇAO Os antibióticos de escolha são ampicilina, tetraciclina, clorafenicol e eritromicina. A sensibilidade da bactéria a estes agentes é, de maneira geral, uniforme. Uma vez que casos de listeriose estão freqüentemente associados a alimentos produzidos comercialmente, evitar-se a contaminação do alimento em primeiro lugar seria a solução ideal, embora não facilmente exeqüível. A prevenção está ligada, principalmente, a higienização das mãos do manipulador de alimentos e à conscientização do consumidor. Devem-se submeter os alimentos à cocção e evitar o consumo de leite in natura, queijos elaborados com leite não-pasteurizado e vegetais crus sem lavagem adequada. Como o microrganismo desenvolve-se em temperatura de refrigeração, os alimentos aí acondicionados devem ser aquecidos antes do consumo. EPIDEMIOLOGIA A Listeria poder ser transmitida pela placenta, levando ao aborto do feto ou durante o nascimento da criança. As outras várias formas de transmissão são o contato direto com animais doentes e/ou seus excrementos, inalação de poeira e mais freqüentemente pela ingestão de alimentos contaminados. Em imunocomprometidos, a listeriose pode caudar infecção no sistema nervoso central (encefalite, meningite) e bacteremia fatal. Recentemente foi relatado um surto de Listeria monocytogenes veiculado por alimentos, na Suíça, que resultou numa alta proporção (79%) de infecção envolvendo o sistema nervoso central, acometendo indivíduos relativamente jovens e previamente saudáveis. Neste surto, o índice de mortalidade foi de 32% e estava associado a idade e apresentação clínica de meningoencefalite. Seqüela neurológica foi observada em 30% dos sobreviventes. O organismo é uma preocupação emergente para os segmentos da indústria de alimentos que processam produtos cárneos, lácteos, de pescado e frutos do mar, dentre outros, e os conservam sob o frio. No Brasil, as observações mencionadas têm-se concentrado, essencialmente, nos problemas humanos e animal, com poucas incursões em outras áreas ou vias de transmissão como em hortaliças, água de esgoto, solo, camarão e produtos cárneos. Haemophilus O gênero Haemophilus é constituído por bastonetes Gram-negativos delicados, geralmente cultiváveis em meios contendo sangue. O gênero Haemophilus compreende várias espécies. As mais relacionadas ao homem são Haemophilus influenzae, Haemophilus parainfluenzae, Haemophilus haemolyticus, Haemophilus aphrophilus e Haemophilus ducreyi. As quatro primeiras espécies são geralmente encontradas nas vias aéreas superiores, sendo o Haemophilus influenzae o de maior significado clínico. O Haemophilus ducreyi é o agente do cancro mole, uma doença venérea. Haemophilus influenzae PATOGENICIDADE O Haemophilus influenzae tipo b causa infecção em qualquer faixa etária, sendo, entretanto, essencialmente patogênico para crianças na faixa etária de três meses a três anos. A maior suscetibilidade destas crianças está intimamente relacionada ao baixo nível de anticorpos anti- PRP que apresentam no soro. Estes anticorpos promovem a fagocitose da bactéria, sendo também líticos. O Haemophilus influenzae é a principal causa de meningite em crianças na faixa etária de três meses a dois anos. Freqüentemente a meningite é precedida de otite.A epiglotite, se não tratada imediatamente, pode determinar a obstrução da glote e morte do paciente. Os fatores de virulência do Haemophilus influenzae incluem a cápsula que defende a bactéria da fagocitose e, provavelmente, do complemento, uma protease que clivaria a IgAI, e talvez uma substância tóxica, capaz de inibir os movimentos ciliares. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito pelo exame bacterioscópico de esfregaços corados pelo Gram e pela cultura. Nos esfregaços, a bactéria geralmente se apresenta como cocobacilos Gramnegativos bastante pequenos. A cultura deve ser feita por semeadura do material clínico em ágar-chocolate, preferencialmente enriquecido com vitaminas e outros fatores de crescimento. Além do exame microscópico e da cultura, o diagnóstico da meningite pode ser feito pela pesquisa do antígeno capsular b no liquor. Várias técnicas imunológicas podem ser usadas. TRATAMENTO O Haemophilus influenzae é sensível a vários antibacterianos, sendo os mais usados em terapêutica, a ampicilina, algumas cefalosporinas e o cloranfenicol. A ampicilina é a droga de escolha, quando a bactéria não produz penicilinase. Tem-se verificado ultimamente que é crescente o número de amostras de Haemophilus influenzae, produtoras de penicilinase do tipo TEM. EPIDEMIOLOGIA O Haemophilus influenzae de tipo b é encontrado na nasofaringe de 2% a 4% dos indivíduos normais. A freqüência dos outros sorotipos é mais baixa, girando em torno de 1% a 2%. As amostras não-capsuladas são encontradas na maioria dos indivíduos (50% a 80%). Ocasionalmente o Haemophilus influenzae é encontrado na mucosa genital. Algumas evidências mostram que a infecção por Haemophilus influenzae do tipo b pode ser contagiosa, ocorrendo sob a forma de pequenas epidemias Haemophilus ducreyi O Haemophilus ducreyi é o agente do cancro mole, uma doença que se caracteriza pela formação de uma ou mais úlceras nos órgãos genitais, acompanhadas ou não de adenopatia unilateral. Ao contrário do cancro da sífilis (cancro duro ), o cancro mole apresenta bordas e base moles. No homem, o cancro mole pode se localizar em diferentes partes do prepúcio. Na mulher, onde a doença é mais rara, o cancro pode ser encontrado nos lábios vaginais, clitóris e períneo. A doença é transmitida por contato sexual, a bactéria aparentemente penetrando por abrasões discretas do epitélio. O diagnóstico do cancro mole é feito pelo exame bacterioscópico de esfregaços corados pelo Gram e pela cultura. Haemophilus aegypticus Esta espécie está associada a conjuntivites agudas, sendo hoje considerada um biotipo de Haemophilus influenzae (biotipo III). Bordetella O gênero Bordetella é constituído de cocobacilos Gram-negativos delicados, englobados em três espécies: Bordetella pertussis, Bordetella parapertussis e Bordetella bronchiseptica. A Bordetella pertussis é o agente da coqueluche, uma infecção aguda do aparelho respiratório, que acomete, principalmente, crianças até os 10 anos de idade. A Bordetella parapertussis cauda infecção respiratória semelhante à coqueluche; entretanto, o paciente não apresenta o quadro de tosse paroxística. A Bordetella bronchiseptica é uma doença primariamente patogênica para animais. Bordetella pertussis De maior interesse é o fato de Bordetella pertussis sofrer mutações de vários tipos, quando submetida a culturas sucessivas no laboratório. Estas mutações, que aliás são freqüentes, determinam alterações profundas na estrutura, metabolismo e virulência da bactéria PATOGENICIDADE Somente nos últimos anos, vem se compreendendo melhor os mecanismo de virulência da Bordetella pertussis , estando demonstrado que a bactéria coloniza as células ciliadas do trato respiratório, produzindo, durante o crescimento, uma série de substâncias tóxicas, que seriam responsáveis pelas manifestações patológicas e clínicas da infecção A colonização da mucosa inicia-se com a fixação, ou aderência, da bactéria aos cílios das células, sendo a fixação mediada por duas proteínas: hemaglutinina filamentosa e a própria toxina pertússica. DIAGNÓSTICO È feito pela cultura das secreções respiratórias. O material pode ser colhido da nasofaringe, com um suabe, ou expelido pela tosse diretamente na placa com meio de cultura, colocada em frente à boca do paciente. TRATAMENTO A Bordetella pertussis é sensível a vários antibacterianos in vitro . A administração da eritromicina durante a fase catarral promove a eliminação da bactéria. O tratamento iniciado na fase paroxística raramente altera o curso da doença. A administração da imunoglobulina (obtidas de pessoas vacinadas) pode ser benéfica no início da doença. EPIDEMIOLOGIA A coqueluche é endêmica nas áreas com grande densidade demográfica, podendo também ocorrer sob forma de surtos epidêmicos. Em geral, a fonte de infecção é um paciente na fase catarral precoce da doença. A infecção é transmitida por meio de gotículas respiratórias. A maioria dos casos ocorre em crianças com menos de cinco anos de idade. Brucella O gênero Brucella é constituído de cocobacilos, ou bacilos, Gram-negativos, encontrados principalmente em animais. São conhecidos várias espécies do gênero, mas somente três têm importância para o homem: Brucella abortus, Brucella melitensis e Brucella suis. A espécie Brucella canis, embora infecção humana. seja patogênica, raramente causa PATOGENICIDADE A doença humana é geralmente denominada brucelose ou, mais raramente, febre de malta, febre do mediterrâneo e febre ondulante. O termo brucelose é preferível porque, além de ter um significado etiológico, é mais característico, uma vez que a doença ocorre universalmente. As brucelas são germes bastante invasores, podendo penetrar no organismo através da mucosa digestiva e ocular e de abrasões da pele. Alguns autores acreditam que as brucelas também penetram por via respiratória. As brucelas são parasitas intracelulares do sistema retículoendotelial. Ao atingir o nódulo linfático mais próximo da porta de entrada, as bactérias são fagocitadas por neutrófilos e macrófagos, podendo ser destruídas. As que sobrevivem, entrando, multiplicando-se no interior destas células, provocam bacteremia e, em seguida, localizamse nas células do sistema reticuloendotelial dos nódulos linfáticos, baço, fígado, medula óssea e de outros órgãos. A brucelose humana pode ser uma infecção febril aguda, que cura em duas a quatro semanas, ou uma doença de curso prolongado que se caracteriza por surtos febris, mal-estar geral e esplenomegalia discreta. Freqüentemente , a infecção humana é subclínica. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de brucelose pode ser bacteriológico ou sorológico. O primeiro consiste no isolamento da bactéria do sangue, o que geralmente só é possível nos períodos febris da infecção. Entretanto, como as brucelas não são isoladas nos períodos afebris e, às vezes, nem mesmo no período febris, o diagnóstico sorológico assume grande importância clínica. Várias técnicas podem ser usadas para a pesquisa de anticorpos séricos, mas as preferidas são as de aglutinação em lâmina ( método rápido) ou em tubo. TRATAMENTO Embora as brucelas sejam sensíveis a vários antimicrobianos, as drogas de escolha no tratamento das bruceloses são as tetraciclinas. A concentração inibitória destas drogas é bastante baixa, sua ação sendo aparentemente bactericida e não bacteriostática. EPIDEMIOLOGIA A brucelose é uma zoonose, pois a infecção do homem é adquirida de animais. A via de transmissão mais comum das Brucella abortus e Brucella melitensis é a ingestão de leite ou queijos contaminados. As três espécies, entretanto, podem ser transmitidas por outras vias, particular o contato direto com tecido dos infectados. Os reservatórios naturais da Brucella abortus, Brucella suis e Brucella melitensis são, respectivamente, bovinos, suínos, caprinos e ovinos, sendo o cão o reservatório da Brucella canis. A incidência de brucelose no homem caiu bastante com a introdução da pasteurização do leite e de programas de erradicação da doença animal. Escherichia Estruteura Clonal das Populações de Escherichia coli Um dos mais utilizados é a eletroforese de enzimas constitucionais (MLEE), que permite a identificação de clones dentro de uma população de amostras ( entende-se como clone uma linhagem de amostras provenientes de um mesmo ancestral). Escherichia coli Enterotoxigênica ( ETEC) As ETEC são amostras de Escherichia coli que produzem as chamadas enterotoxinas LT (termolábil) e ST ( termoestável). Algumas amostras produzem as duas toxinas, enquanto outras produzem somente uma delas. A termoestabilidade é definida pela retenção da atividade tóxica após incubação a 100 º. C, durante 30 minutos, enquanto a termolabilidade significa que atividade da toxina é perdida nestas condições. Escherichia coli Enteropatogênica Clássica (EPEC) As EPEC são sorotipos de Escherichia coli capazes de causar diarréia em crianças com menos de um ano de idade( diarréia infantil). Até então, a Escherichia coli era considerada bactéria de microbiota normal, embora alguns pediatras discordassem. Em São Paulo, estas bactérias têm sido encontradas em torno de 30% de crianças até um ano de idade com diarréia aguda endêmica, sendo assim mais freqüentes do que qualquer outro enteropatógeno. A razão da grande prevalência das EPEC nestas crianças ainda permanece desconhecida. Entretanto, a infecção é mais freqüente e mais grave naquelas que não se alimentam de leite materno. A infecção por EPEC parece localizar-se, de preferência, no intestino delgado. O reservatório das EPEC parece ser o próprio homem. O mecanismo de transmissão da infecção, na comunidade, ainda não foi estabelecido. Em hospitais e berçários, a bactéria é transmitida por contato pessoal. Crianças com diarréia representam a principal fonte de infecção. Escherichia coli Entero-Hemorrágica (EHEC) As EHEC são amostras de Escherichia coli que produzem as citotoxinas SLT-I (ou VT-I) e SLT-II (ou VT-II) e receberam esta designação por estarem associadas a casos de colite hemorrágica. As EHEC, podem causar diarréia branda, sanguinolenta(colite hemorrágica) e síndrome hemolítica urêmica (HUS) em crianças e adultos. Escherichia coli Enteroagregativa (EAggEC) Recebem esta denominação amostras de Escherichia coli que formam um padrão agregativo de adesão, quando se associam com células, lembrando a disposição de tijolos empilhados. Bactérias deste tipo são bastante freqüentes nas fezes de crianças normais e com diarréia aguda, não havendo diferença significativas entre os dois grupos de crianças. Infecções Extra-Intestinais As Escherichia coli mencionadas até agora, raramente causam infecção extra – intestinal. Estas são causadas por Escherichia coli encontrada normalmente nos intestinos e que podem se localizar em qualquer órgão ou tecido do corpo humano. Entretanto, três grupos de infecção são mais freqüentes: infecção urinária, meningite do recém- nascido e bacteremia. Salmonella Epidemiologia e Patogenicidade Os sorotipos de Salmonella podem estar estritamente adaptados a um hospedeiro particular ou podem ser ubiqüitários ( encontrados em grande número de espécies animais). Por exemplo, o homem é o único reservatório natural de Salmonella typhi e Salmonella paratyphi A, B e C. Alguns sorotipos são adaptados a uma determinada espécie animal, como a Salmonella abortusovis (carneiro) e Salmonella gallinarium (aves), enquanto que outros podem infectar indiferentemente o homem e uma grande variedade de animais. Estes últimos sorotipos, como é o caso da Salmonella typhimurium, são os maiores responsáveis pela infecção de origem alimentar. A patogenicidade das salmonelas varia de acordo com o tipo sorológico, idade e condições de saúde do hospedeiro. A Salmonella typhi é o agente da febre tifóide, que é caracterizada por febre, dor de cabeça, diarréia, dor abdominal, podendo produzir, ainda, danos respiratórios, hepáticos, esplênicos e/ou neurológicos. As salmonelas paratíficas (A,B e C) causam uma infecção bastante semelhante à febre tifóide. De modo geral, os demais sorotipos de Salmonella causam, no adulto normal, apenas uma enterocolite que evolui sem complicações e desaparece dentro de uma semana ou menos. Como estas salmonelas são geralmente veiculadas por alimentos (principalmente leite e produtos avícolas), a infecção é também denominada toxinfecção de origem alimentar. Nas crianças as salmonelas freqüentemente invadem a circulação provocando infecção em outros órgãos. Após a recuperação de uma infecção por Salmonella, alguns pacientes permanecem assintomáticos, eliminando as salmonelas nas fezes por semanas, meses ou anos (portador crônico). Estes portadores contribuem para a disseminação da Salmonella, principalmente quando se trata de manipuladores de alimentos e, nestes casos, o diagnóstico deve ser monitorado por cultura de fezes periódica. Nos portadores crônicos de Salmonella typhi, a bactéria persiste na vesícula biliar, sendo eliminada continuamente através das fezes. O clássico de portador crônico de Salmonella typhi é a Mary Tyfoide, uma cozinheira profissional em Nova York, que foi responsável por vários surtos, durante muitos anos. Ela acabou sendo presa por insistir em sua profissão, não aceitando sua condição de portadora de doença grave. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO O diagnóstico da infecções por Salmonella é realizado pelo isolamento e identificação da bactéria. O material clínico a ser examinado depende do local da infecção, Istoé, fezes nas enterocolites, sangue nas septicemias, liquor nas meninges e assim por diante. TRATAMENTO E PREVENÇÃO As infecção por Salmonella são geralmente autolimitadas e a administração de antibióticos no tratamento das gastroenterites nem sempre acelera a recuperação clínica, sendo, inclusive responsável pelo prolongamento do período de excreção do agente, além de determinar a emergência de amostras multirresistentes. Por outro lado, os antibióticos são recomendados para as salmoneloses com complicações sistêmicas e nos casos de febre tifóide, tanto na fase aguda da doença como na fase de portador. A ampicilina, o cloranfenicol e a associação sulfametoxazol-trimetoprima são as drogas de eleição para tratamento destes casos. A prevenção das gastroenterites por Salmonella tam por base a manipulação e preparo adequados de alimentos, principalmente ovos, carnes de aves. Para o controle da febre tifóide, tem se tentando o desenvolvimento de vacinas. Vacinas injetáveis e orais têm sido testadas, produzidas a partir de mutantes atenuados de Salmonella typhi ( amostra Salmonella typhi 21a) ou Salmonella typhimurium, embora muitas vezes se desconheça a natureza da mutação nessas amostras. Shigella PATOGENICIDADE A doença humana causada por Shigella é chamada de shigelose ou disenteria bacilar, sendo todos os sorotipos patogênicos. A shigelose localiza-se no íleo terminal e cólon, caracterizando-se por invasão e destruição da camada epitelial da mucosa, com intensa reação inflamatória. Em conseqüência disso, o paciente geralmente apresenta leucócitos, muco e sangue nas fezes, Raramente a Shigella invade a circulação do paciente . Os mecanismos de virulência das shigelas são relativamente bem conhecidos. Quando em presença de células em cultura de tecidos, as shigelas são prontamente fagocitadas, mas logo destroem a membrana do vacúolo fagocitário, passando para o citoplasma da célula. Uma vez no citoplasma, elas se movimentam em direção às células adjacentes, que também são infectadas. O processo de disseminação continua até o envolvimento praticamente completo da monocamada células. Acredita-se que é desta maneira que as shigelas se disseminam pelo epitélio de cólon. Tanto em culturas de tecido e de macrófago, como na mucosa intestinal, as células invadidas pela Shigella são destruídas, com a liberação das bactérias para o meio extracelular. Nos intestinos, as shigelas liberadas pela células destruídas localizam-se na lâmina própria da mucosa, onde entram em contato com macrófagos e neutrófilos, ocorrendo intensa reação inflamatória da mucosa. Convém mencionar que os macrófagos são destruídos por apoptose ou morte celular programada. Nas células epiteliais infectadas, as shigelas proliferam abundante. Levando à célula a morte. Alguns estudos sugerem que a morte decorre da interferência das shigelas com o metabolismo respiratório da célula. Shigella dysenteriae Tipo 1 (Bacilo de Siga) Esta Shigella difere das demais porque produz uma citotoxina que provoca morte celular. Esta toxina é muito semelhante à toxina SLT-I, inclusive em seu mecanismo de ação. Acredita-se que a síndrome hemolítica urêmica (HUS) que acompanha as infecções causadas pelo bacilo de Shiga esteja associada à produção desta toxina. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da infecção por Shigella é feito pela semeadura das fezes do paciente em meios de cultura, com posterior identificação das colônias suspeitas por meio de provas bioquímicas e sorológicas. TRATAMENTO A maioria dos autores recomenda o uso de antibióticos nas infecções de Shigella. De modo geral, estes microrganismos são sensíveis aos antibióticos e às quinolonas, mas bastante resistentes aos sulfonamídicos. A realização do antibiograma com a Shigella isolada é uma conduta recomendável, pois não são raras as infecções causadas por amostras resistentes a um outro antibiótico ou portadoras de resistência múltipla. EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA Quando mais pobres as condições higiênicas da comunidade, maior a incidência da shigelose. A infecção é adquirida pela ingestão de água contaminada ou de alimentos preparados com água contaminada. Entretanto, bem demonstrado que as shigelas podem ser transmitidas por contato pessoal. Yersinia Yersinia pestis A Yersinia pestis é o agente etiológico da peste, uma eminentemente epidêmica no passado, que se espalhou da Ásia para a Europa durante a Idade Média. O reservatório de Yersinia pestis é representado por roedores selvagens ou domésticos, especialmente os ratos. A principal via transmissão da bactéria é através da picada de pulgas infectada, que injetam a bactéria através da pele do hospedeiro. Mais raramente a doença pode ser adquirira através de contato homem-homem, via inalação de aerossóis. A bactéria presente na circulação sanguínea atinge os linfonodos, geralmente os axilares e inguinais. A Yersinia pestis é ingerida pelos macrófagos residentes no linfonodos, mas é capaz de sobreviver e se multiplicar em macrófagos não-ativados. A reação inflamatória desenvolvida como decorrência da proliferação bacteriana nos linfonodos resulta no inchaço (bubo) característico da forma bubônica da doença. As bactérias destes linfonodos podem atingir novamente a circulação sanguínea, sendo desta forma da doença denominada septicêmica , podendo ocorrer o choque séptico. Eventualmente, a bactéria pode atingir os pulmões, parasitando os macrófagos alveolares. Os indivíduos que apresentam a forma pulmonar da doença podem transmitir a infecção através de aerossóis. A inalação direta destes aerossóis produz uma doença de progressão mais rápida do que a peste transmitida pela picada de pulga, sugerindo que as bactérias inaladas estão expressando todos os fatores de virulência importantes para o estabelecimento da infecção. A forma pulmonar da doença apresenta alta fatalidade, podendo levar ao óbito em poucos dias. Os doentes com peste freqüentemente desenvolve lesões necróticas nos vasos sanguíneos periféricos, provavelmente como um resultado da coagulação intravascular disseminada induzida pelo LPS. Estas lesões dão um aspecto escurecido à pele, o que faz a doença ser também conhecida como peste negra. DIAGNÓSTICO A Yersinia pestis não é uma bactéria exigente, sendo facilmente cultivada em ágar sangue e outros meios usados para o isolamento de enterobactérias TRATAMENTO E PREVENÇÃO O tratamento da peste requer antibioticoterapia imediata., a fim de se conseguir resultados afetivos, uma vez que esta doença pode levar ao óbito rapidamente. A profilaxia para a peste deve visar condições de vida que evitem o contato com os animais infectados portadores das pulgas vetores, especialmente os roedores domésticos. A vacina utilizada contra a peste, constituída da bactéria morta, é relativamente eficiente, protegendo os indivíduos vacinados por um ano. Yersinia enterocolítica E Yersinia pseudotuberculosis A Yersinia enterocolítica, pode causar diferentes tipos de infecção no homem, sendo a infecção intestinal a mais importante. A Yersinia pseudotuberculosis, embora primariamente considerada um patógeno de animais, também pode atingir o homem, causando principalmente uma enterocolite. As infecções intestinais causadas por estas bactérias são adquiridas pela via oral-fecal, por ingestão de água e alimentos, como leite e carne suína contaminados. Os sintomas da infecção intestinal por Yersinia enterocolitica variam de brandos a severos, e são caracterizados por diarréia, febre e dor abdominal. Alguns pacientes apresentam quadro clínico de apendicite aguda, devido à intensa inflamação do íleo terminal e comprometimento dos gânglios mesentéricos. Por sua vez, Yersinia pseudotuberculosis causa uma infecção intestinal semelhante à causada pela Yersinia enterocolitica, exceto pela ausência de diarréia. Também é mais freqüente esta infecção se tornar sistêmica, sendo que os sintomas clínicos estão associados à endotoxemia. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da infecção intestinal por Yersinia enterocolitica é feito pela coprocultura das fezes em meios de MacConkey e SS, a 37 ºC, com a posterior identificação bioquímica e sorológica da bactéria. TRATAMENTO E PREVENÇÃO As infecções intestinais por Yersinia enterocolitica não exigem tratamento com antimicrobianos, pois são geralmente autolimitadas e, também, não há evidências de que a administração destas drogas diminui a duração dos sintomas. Entretanto, nas infecções extra-intestinais ou sistêmicas, a antibioticoterapia é indicada. Vários antibióticos podem ser utilizados, uma vez que a bactéria praticamente não apresenta resistência, a não ser aos antibióticos betalactâmicos aos quais é naturalmente resistentes. Para a prevenção eficiente da infecção intestinal por Yersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis é muito importante a utilização de água tratada, tanto para consumo quanto para a lavagem e preparo de alimentos. Além disso, também são necessários cuidados de higiene pessoal, principalmente quando a lavagem da mãos, para evitar a contaminação dos alimentos com fezes. Aos manipuladores manuais de alimentos é indicado o uso de luvas. Edwardsiella A Edwardsiella tarda de uma bactéria raramente isolada do homem. Algumas evidências clínicas e laboratoriais obtidas recentemente sugerem que esta bactéria pode causar infecção intestinal no homem, devido à invasão da mucosa. Citrobacter Embora as espécies de Citrobacter sejam encontradas com relativa freqüência nos intestinos do homem, raramente são isoladas do processo infeccioso, As infecções causadas por estes germes incluem pielonefrites, meningites do recém-nascido, abscesso cerebral, endocardite e bacteremias. Estas infecções tendem a predominar em indivíduos com defesas comprometidas e, por esta razão, ocorrem basicamente em hospitais. Klebsiella A Klebsiella pneumoniae é encontrada normalmente nos intestinos. É um dos poucos bacilos Gram-negativos que causam pneumonia lobar. Os alcoólatras são praticamente sensíveis à infecção. A pneumonia geralmente se localiza nos lobos superiores, acompanhando-se de necrose que pode levar a formação de cavidades. Não raramente, a bactéria é também encontrada em associação com infecção do aparelho urinário, endocardites e vários tipos de infecção pós-cirúrgicas. Algumas estatísticas demonstram que Klebsiella pneumoniae pode ser responsável por 10% das infecções hospitalares. Freqüentemente a amostra hospitalar é resistente à maioria dos antimicrobianos. A klebsiella rhinoschleromatis é o agente do escleroma, um processo granulomatoso crônico que atinge as mucosas do nariz, seio paranasais, faringe, laringe, ouvido médio e até os brônquios. O escleroma é uma doença que ocorre principalmente em áreas endêmicas da Europa Oriental ( onde é conhecida como lepra eslávica). A infectividade da doença é bastante baixa, sendo transmitidas por contato direto e prolongado. A Klebsiella azaenae, esta infecção é uma rinite atrófica de evolução crônica, que se manifesta por perda da arquitetura de mucosa nasal e secreção mucopurulenta fética. Enterobacter Freqüentemente, entretanto, são isoladas, de diferentes espécimes clínicos, de pacientes hospitalizados. O papel desempenhado do Enterobacter, na gênese do processo infeccioso, deve ser avaliado clínica e bacteriologicamente. Vários casos de bacteremia , decorrente da aplicação endovenosa de líquidos contaminados, têm sido descritos. Hafnia A Hafnia alvei não é rara. Sua patogenicidade é semelhante à descrita para Enterobacter. Serratia A Serratia marcescens é germe causador de infecção hospitalar e, provavelmente, devido à sua múltipla resistência aos antibióticos, sua freqüência tem aumentado nos últimos anos. As infecções causadas por ela podem se localizar em qualquer órgão. Proteus, Morganella e Providencia As espécies dos três gêneros são encontradas regularmente nos intestinos do homem, sendo bem mais freqüentes Proteus mirabilis e Morganella morganii. As infecções causadas por estas bactérias ocorrem principalmente no trato urinário, devendo ser notado que, enquanto o Proteus mirabilis ocorre em infecções adquiridas na comunidade, os outros estão quase sempre associados à infecção hospitalar. Como Proteus mirabilis, Proteus vulgaris, Morganella morganii e Providencia rettgeri hidrolizam a uréia formando amônia, a urina de paciente cronicamente in por estas bactérias pode se tornar muito alcalina, o que favorece a formação de cálculos, devido à diminuição da solubilidade do cálcio. Vibrio O gênero Vibrio é constituído de bacilos Gram-negativos curvos e compreende várias espécies. A mais importante é o Vibrio cholerae, uma vez que ele é responsável pela cólera, uma doença endêmica em extensas áreas do globo terrestre. Outra espécie que deve ser destacada é o Vibrio parahaemolyticus, cujo papel na etiologia das toxinfecções alimentares vem sendo reconhecido de maneira crescente, nos últimos anos. Vibrio cholerae O último hospedeiro do Vibrio cholerae é o homem. A bactéria é transmitida pela ingestão de água e alimentos contaminados. A infecção limita-se à superfície da mucosa intestinal, onde a bactéria adere e produz uma potente toxina, denominada toxina colérica (CT), que é semelhante à enterotoxina LT de Escherichia coli, sendo constituída de uma subunidade A e cinco subunidades B . O diagnóstico da cólera é realizado através do isolamento do Vibrio cholerae das fezes.Seguindo-se a determinação de seu sorogrupo e a produção da toxina colérica, a qual é determinada através de ELISA, sondas moleculares ou PCR (polimerase chain reaction). O tratamento consiste na reposição de líquidos e eliminação da bactéria através de antibióticos. Atualmente, estão sendo investigados vários tipos de vacinas, inclusive as preparadas com amostras vivas de Vibrio cholerae. A vacina clássica, que é uma suspensão de Vibrio cholerae morto, oferece proteção parcial. Vibrio parahaemolyticus O Vibrio parahaemolyticus é encontrado na água do mar e em animais marinhos, em todos os continentes. A bactéria não tem sido investigada em nosso meio, mas sabese que é uma importante causa da infecção intestinal. Na maioria das vezes a infecção é veiculada através de peixes consumidos sem tratamento térmico adequado. No Japão, a bactéria é responsável por 70% dos casos de intoxicação alimentar no verão. O diagnóstico é feito pelo isolamento da bactéria das fezes do paciente. A demonstração do Vibrio no alimento ingerido tem valor de diagnóstico. Família Campylobacteriaceae Gênero Campylobacter São móveis por flagelação monopolar ou bipolar monotríquia. Estas bactérias são incapazes de proliferar em presença do ar atmosférico, porém também não crescem em anaerobiose. São microaerófilos estritos, precisando de 5% – 6% de O2 para proliferar. PATOGENICIDADE O Campylobacter jejuni é um enteropatógeno que eventualmente invade a circulação, infecção em diferentes órgãos. A infecção intestinal localiza-se nos intestinos delgado e grosso, onde a bactéria adere e prolifera. O Campylobacter jejuni não possui fímbrias, porém tem-se demonstrado que o flagelo e o LPS atuam como adesinas, que permitem a adesão da bactéria à célula epitelial e ao muco intestinal. A forma curvoespiralada e o movimento típico em “saca-rolha” do Campylobacter, como também a atração quimiotática que exerce o muco intestinal sobre a bactéria, facilitam o contato desta com epitélio do intestino. A adesão pode ser inibida, experimentalmente , por anticorpos específicos antiflagelos. O mecanismo da diarréia ainda não foi esclarecido completamente. Em alguns paciente não há dúvida de que o Campylobacter jejuni invade a mucosa intestinal, determinando ulceração e diarréia mucossanguinolenta. Entretanto, em muitos pacientes, a manifestação principal é diarréia aquosa, semelhante à causada por bactérias enterotoxigênicas. Estudos recentes mostraram que o Campylobacter jejuni produz uma enterotoxina semelhante à enterotoxina termolábil (LT) de Escherinchia coli e que sobrenadantes da culturas da bactéria determinam aumento de secreção aquosa no nível da mucosa intestinal de ratos e alterações morfológicas em culturas celulares. Em conjunto, estes dados sugerem que a diarréia causada por Campylobacter jejuni pode ser decorrente tanto de invasão como de produção de fatores enterotóxicos, mecanismos que poderiam operar simultânea ou separadamente. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito pelo isolamento e identificação do germe. O isolamento é feito por semeadura das fezes em ágar-sangue contendo misturas antimicrobianas que suprimem o crescimento de outros germes da flora intestinal. A identificação do Campylobacter jejuni tem por base sua morfologia, características culturais e propriedades bioquímicas. O exame bacterioscópico das fezes costuma mostrar células típicas de Campylobacter, bem como leucócitos em quantidades variáveis. TRATAMENTO As infecções intestinais por Campylobacter geralmente curam espontaneamente, dispensando, assim, o uso de antimicrobianos. Entretanto, quando a terapêutica for indicada, o antibiótico de escolha é a eritromicina. Porém, como em muitas regiões tem-se demonstrado a existência de amostras resistentes a esta droga, é conveniente determinar a sensibilidade da amostra isolada. EPIDEMIOLOGIA O Campylobacter jejuni é extremamente ubiqüitário sendo encontrado na água, alimentos e intestinos do homem e maioria dos animais domésticos e de vida livres. O homem adquire a infecção por ingestão de água e alimentos contaminados, ou pelo contato com animais e portadores. Entretanto, o mecanismo de transmissão mais freqüente é a ingestão de alimentos contaminados. A doença ocorre em qualquer idade , mas é predominante nos primeiros cinco anos de vida . A elevada taxa de portadores assintomáticos parece estar relacionada à presença de anticorpos séricos que surgem em conseqüência de infecções repetidas o que, aparentemente, parece ser muito freqüente em indivíduos que vivem em condições higiênicas insatisfatórias ou que, por razões laborais, mantêm estreito contato com animais ou outras fontes de infecção. Nos países de clima temperado, a infecção predomina no verão. Gênero Arcobacter O gênero Arcobacter ( do latim: arcus, arco; e do grego: bacter, bactéria) foi proposto em 1991 agrupando bactérias que, por apresentarem características morfológicas semelhantes, foram consideradas, originalmente, como pertencentes ao gênero Campylobacter. Porém, estudos realizados no DNA e no rRNA destas bactérias permitiram demonstrar que não existiam relação genotípicas com as espécies de Campylobacter, aconselhando a criação deste novo gênero. È constituído de bacilos Gram-negativos curvos, em forma de S ou helicoidais, não-esporulados. Podem proliferar entre 5o.C e o 37 ºC, sendo os 30 .C a temperatura ótima de crescimento. Algumas amostras podem faze-lo a 42 ºC. Arcobacter butzlei Esta espécie foi descrita em 1991 como Campylobacter butzlei, tendo sido isolada de fezes diarréicas de animais e do homem. É capaz de crescer em aerobiose entre 15o.C e 37o.C, sendo a única espécie da família Campylobacteraceae que pode proliferar em agarMacConKey. Arcobacter butzlei tem sido isolada de fetos abortados de bovinos e porcinos; de fezes de avestruz, primatas e pessoas com diarréia. Em seres humanos também foi encontrada em hemoculturas e no conteúdo peritoneal de pacientes com apendicite aguda. Embora tenha sido associada com várias entidades clínicas, seu verdadeiro rol patogênico de infecções humanas deve ser esclarecido futuramente. Gênero Helicobacter O gênero Helicobacter ( do grego: helix, helicoidal; bacter, bactéria) é constituído de bacilos Gram-negativos curvos ou helicoidais. Não formam esporos e, em culturas velhas, podem transformar – se em corpos esféricos ou cocóides. São móveis por flagelação. Sua temperatura ótima de crescimento é de 37 º.C . Inicialmente, devido às suas semelhanças morfológicas, as espécies deste gênero foram consideradas como pertencentes ao gênero Campylobacter. Porém estudos de seqüenciamento do RNA ribossômico mostraram que estas bactérias apresentavam uma posição filogenética diferente à das espécies de Campylobacter. Além disso demonstrou –se que existem diferenças ultraestruturais, de composição dos ácidos graxos, nas menaquinonas respiratórias e em suas capacidades enzimáticas. Estas diferenças permitiram, em 1989, a criação do gênero Helicobacter. A espécie tipo é Helicobacter pylori. PATOGÊNESE E PATOGENICIDADE Desde os primeiros isolamentos correlacionou-se a presença destas bactérias na mucosa gástrica com produção de gastrite e úlcera gástrica e duodenal. Porém, sua associação com estas patologias gastroduodenais tem sido motivo de controvérsias e intensas pesquisas clínicas, epidemiológicas e microbiológicas, existindo, atualmente, abundante informação que proporciona evidências suficientes a respeito da capacidade patogênica do Helicobacter pylori. Esta bactéria coloniza preferencialmente a superfície epitelial e as criptas gástricas, atravessando a camada mucosa que recobre o estomago e produzindo a gastrite crônica ativa, conhecida como gastrite tipo B. Esta é caracterizada pela ocorrência de mudanças histopatológicas no epitélio, com aumento de células mononucleares e presença de infiltrado neutrofílico. Compromete as células secretórias de muco e a inflamação é mais acentuada na região do antro, embora esta possa envolver também a região do fundo. Habitualmente Helicobacter pylori não está associado com a gastrite crônica autoimune tipo A, a qual compromete o corpo gástrico. Helicobacter pylori também pode ser isolado do duodeno, principalmente am áreas de mucosa gástrica ectópica. A duodenite e a úlcera duodenal estão em estreita relação com a presença do Helicobacter pylori no antro gástrico. Tendo sido demonstrado que a infecção por Helicobacter pylori persiste ao longo do tempo produzindo gastrite crônica, atualmente muitos grupos de pesquisadores tentam demonstrar a participação desta entidade nosológica como fator de risco no desenvolvimento do câncer gástrico. Helicobacter pylori elabora uma uréase, enzima de atividade extremamente forte que desdobra a uréia em amônio e CO2 produzindo um efeito citopático sobre as células epiteliais e elevação do pH gástrico. Sendo o Helicobacter pylori extremamente sensível à acidez a modificação do pH gástrico – de ácido a neutro – é um fator que permite à bactéria evadir a ação deletéria do suco gástrico, favorecendo a persistência da infecção. A ativa motilidade conferida pelos flagelos permite à bactéria atravessar rapidamente a camada de muco que recobre o estômago, para atingir a superfície epitelial e as criptas, evitando, também desta forma, o efeito destrutivo do suco gástrico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico bacteriológico do Helicobacter pylori realiza-se a partir de amostras de biópsias gástricas ou duodenais obtidas por endoscopias. A cultura deve ser feita a partir da biópsia o mais rapidamente possível após a colheita para evitar a perda da viabilidade que poderia ocorrer pela dessecação ou pelo efeito nocivo do oxigênio sobre o Helicobacter. Uma prova rápida, presuntiva, muito difundida na prática clínica, é a pesquisa da urease no tecido gástrico. Visando à realização de um diagnóstico não-invasivo do Helicobacter pylori, foi desenvolvida a técnica do bafo ( urea breath test) através da qual os pacientes ingerem uma quantidade de uréia marcada com carbono radiativo (C13 ou C14). Trinta minutos depois da ingestão é medida a relação *C/C no ar exalado pelos pacientes. Nas pessoas infectadas com Helicobacter pylori detecta-se aumento significativo de *CO2. TRATAMENTO E SENSIBILIDADE ÀS DROGAS ANTIMICROBIANAS A maioria dos antibióticos betalactâmicos é ativa contra Helicobacter pylori. EPIDEMIOLOGIA Helicobacter pylori é uma bactéria de distribuição mundial que somente tem sido isolada do epitélio gastroduodenal do ser humano. Não são conhecidos reservatórios animais ou ambientais para esta bactéria. Postula-se que o modo de transmissão poderia ser de pessoa a pessoa e a rota de infecção, a via oral. Uma vez adquirida, a infecção pode persistir por anos e até mesmo durante toda vida. Infecções iatrogênicas, derivadas do emprego de instrumental contaminando , têm sido descritas. Nos países desenvolvidos, a infecção á pouco freqüente na infância. Porém, a incidência aumenta com a idade á razão de 0,5% a 1% por ano e em torno de 50% da população acima de 60 anos apresenta a infecção. Pseudomonas O Gênero compreende grande número de espécies ( mais de 100) de bacilos Gram-negativos, normalmente diferenciados por meio de provas bioquímicas, testes de sensibilidade a antibióticos, formação de pigmentos, números e localização dos flagelos . As espécies relacionadas ao homem são em torno de 25. PATOGENICIDADE A P. aeruginosa é um germe tipicamente oportunista, que pode causar várias doenças. As infecções localizadas, em conseqüência de processos cirúrgicos ou queimaduras, podem resultar em bacteremias severas. Infecções urinárias, associadas ao uso de cateteres, são freqüentes. Os portadores de fibrose cística são, em sua maioria, colonizados pela P. aeruginosa, embora raramente apresentem bacteremia. Presume-se que esta resistência seja devida à presença de anticorpos sérios em níveis elevados. Em alguns destes pacientes, a bactéria provoca pneumonia mortal. Pneumonia graves podem também ocorrer em pacientes que usam respiradores contaminados. Vários estudos têm demonstrado que a P. aeruginosa geralmente coloniza o trato respiratório, depois de algumas doenças ou do uso de cateteres. TRATAMENTO A P. aeruginosa é naturalmente resistente a vários antibióticos betalactâmicos, e também às tetraciclinas, cloranfenicol, cotrimoxazol e outros. Os antibióticos mais eficientes são gentamicina, amicacina, algumas penicilinas semi-sintéticas ( carbenicilina) e a polimixina. A bactéria pode adquirir resistência a qualquer um destes agentes terapêuticos ( com exceção de polimixina), através de mutações ou da aquisição de plasmídios de resistência. Recomenda-se a realização do antibiograma para seleção do antibiótico a ser usado no tratamento. EPIDEMIOLOGIA A P.aeruginosa normalmente habita o solo, água e vegetais . Pode ser encontrada na pele em tem sido isolada das fezes e garganta de 3% a 5% dos indivíduos normais. Em pacientes hospitalizados, a taxa de portadores pode ser bastante elevada. A freqüência das infecções pela P. aeruginosa vem aumentando progressivamente. Atualmente esta bactéria á responsável por, aproximadamente, 15% dos casos de bacteremia causada por germes Gram-negativos. A mortalidade destes processos chega a ser de 50%. Nos hospitais, as vias de transmissão de P. aeruginosa são representadas por desinfetantes, respiradores, alimentos, água etc., sendo a bactéria introduzida no hospital tanto através de portadores como frutas e vegetais. OUTRAS ESPÉCIES DE Pseudomonas A P. maltophilia e a P. cepacia praticamente só ocorrem em pacientes hospitalizados. Duas espécies de Pseudomonas, a P. mallei e a P. pseudomallei, acusam infecção específicas. A Pseudomonas mallei, uma espécie principalmente patogênica para eqüinos, pode causar pneumonia no homem. A infecção é adquirida de animais doentes, sendo bastante rara atualmente . A infecção por esta espécie é também conhecida como mormo. Anteriormente, a P. mallei era designada Actino bacillus mallei. A espécie P. pseudomallei, aparentemente um habitante de solos tropicais, causa no homem infecção respiratórias. A doença á designada melioidose, sendo também bastante rara. GENERALIDADES SOBRE ANAERÓBIOS Sabe-se que as bactérias anaeróbias conseguem sobreviver ou crescer em ambientes com relativa ausência de oxigênio sem que se conheça integralmente por que elas são mortas ou inibidas em presença do mesmo. PATOGENICIDADE Os mecanismos de virulência das bactérias anaeróbias não estão totalmente compreendidos. As infecções anaeróbias por agentes exógenos são relativamente incomuns, contrariamente às de natureza endógena que, embora apresentem diversidade muito grande nos tipos de infecções, são causadas por número relativamente limitado de espécies bacterianas. As doenças específicas causadas por bactérias anaeróbias são o tétano, botulismo, gangrena gasosa e colite pseudomembranosa e doenças gastroentérica causada por Clostridium perfringens. São todas de natureza exógena e seus agentes pertencentes ao gênero Clostridium. Estas mesmas bactérias e outras pertencentes a outro gênero causam vários processos infeccioso endógenos, como bacteremias, inflamação, supurações e abscessos no nível dos órgãos e tecidos. DIAGNÓSTICO Em algumas doenças, como tétano, o diagnóstico é basicamente clínico. Em outras, como botulismo, conseqüentemente à intoxicação alimentar, o diagnóstico clínico pode ser confirmado pela demonstração da toxina no alimento ingerido, ou nos fluidos orgânicos do paciente. Nas demais doenças, o diagnóstico é eminentemente bacteriológico, sendo feito pela demonstração direta da (s) bactéria (s) no material clínico ou pelo isolamento da (s) mesma (s) pela cultura. Existe uma série de sintomas ou sinais clínicos sugestivos da possibilidade de infecção por microrganismo anaeróbio, a saber: 1) secreção fétida devida a produtos do metabolismo anaeróbico; 2) localização da infecção adjacente a sítios de colonização bacteriana (mucosas); 3) tecido necrosado, gangrena; 4) gás nos tecidos ou secreções; 5) presença de grânulos de enxofre nas secreções (actinomicose); 6) infecção associada a tumores malignos; 7) coloração negra em secreções contendo sangue; 8) infecções após mordidas humanas ou animais. A demonstração direta da (s) bactéria (s) no material clínico é feita através de bacterioscopia de esfregaços corados pelo método de Gram. TRATAMENTO O tratamento etiológico das infecções por germes anaeróbios inclui o emprego de antimicrobianos apropriados, anti-soros, gamaglobulina, além da drenagem cirúrgica, quando esta for possível. Deve ser notado, entretanto, que a sensibilidade dos anaeróbios é bastante diferente da dos aeróbios ou dos anaeróbios facultativos. O cloranfenicol é a droga de escolha nos casos de infecção para as quais os dados bacteriológicos adequados ainda não são disponíveis. A penicilina demonstra geralmente excelente atividade contra anaeróbios de um modo geral. A soroterapia é indicada no tratamento do tétano, botulismo e gangrena gasosa. São recomendadas, quando possível, a drenagem de pus, a retirada de tecidos necrosados, além do uso local, quando as lesões forem expostas, de peróxido de hidrogênio. EPIDEMIOLOGIA Com exceção do tétano, botulismo e certos casos de gangrena gasosa, as infecções por germes anaeróbios são quase sempre endógenas, isto é, são causadas pelos anaeróbios normalmente presentes em uma das áreas do corpo humano. MICOBACTÉRIAS E NOCARDIAS Mycobacterium O gênero Mycobacterium contém grande número de espécies, sendo que várias delas sempre foram reconhecidas como espécies, mas outras o foram só recentemente. Estas últimas até então, eram denominadas micobctérias atípicas ou anônimas. São também denominadas micobactérias oportunistas, uma vez que freqüentemente causam infecções em indivíduos que estão com as defesas do organismo diminuídas devido a processos diversos, incluindo AIDS. PROPRIEDADES GERAIS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA As micobactérias são germes aeróbios estritos. Várias evidências sugerem que a predileção do Mycobacterium tuberculosis pelos pulmões está relacionada com a tensão de O2 neste órgão. A velocidade de crescimento dos micobactérias é bastante variável. Devese notar que a espécie de maior significado clínico, Mycobacterium tuberculosis, cresce muito lentamente , sendo o seu tempo de geração de aproximadamente 12 horas. A temperatura ótima de crescimento das micobactérias também é variável. As que crescem melhor em temperatura inferior a 37 º C, como Mycobacterium marinum e M. ulcerans, geralmente causam somente infecção cutânea, uma vez que a temperatura da pele é mais baixa que a das regiões mais profundas do organismo. PATOGENICIDADE Mycobacterium tuberculosis A infecção pelo Mycobacterium tuberculosis geralmente se inicia na parênquima dos lobos pulmonares inferiores, passando em seguida para os nódulos linfáticos da região hilar, de onde é levada para vários órgãos e tecidos, pela corrente sanguínea. A infecção do parênquima pulmonar e dos nódulos linfáticos da região hilar é chamada complexo primário e este, juntamente com os focos infecciosos que se formam nos diferentes órgãos e tecidos, infecção primária. A infecção primária pode apresentar dois tipos básicos de evolução: a) numa pequena porcentagem de indivíduos ( em torno de 5 a 10%) ela progride, de maneira constante, se transformando em tuberculoso ativa, que pode ser disseminada, pulmonar (no nível do complexo primário ou dos ápices pulmonares), renal, óssea ou em qualquer órgão onde a bactéria chega pela corrente sanguínea e desenvolve um foco infeccioso; b) o outro tipo de evolução ocorre em, aproximadamente, 90 a 95 % dos indivíduos e se caracteriza por uma interrupção, mais ou menos brusca, da infecção primária. Entretanto, a interrupção não é completa, uma vez que a bactéria pode permanecer em vários dos focos infecciosos que se estabeleceram durante sua disseminação pela corrente sanguínea. Estes focos são encontrados principalmente nos órgãos e tecidos onde uma tensão apropriada de O2 favorece a proliferação do Mycobacterium tuberculosis, isto é, ápices pulmonares, rins, extremidades dos ossos longos, nódulos linfáticos etc. Correspondendo a uma característica proeminente da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, os focos de infecção latentes podem ser reativados, transformando-se em tuberculose pulmonar ou de qualquer outro órgão. Um dos focos que sofrem reativação com mais freqüência é dos ápices pulmonares, o que explica a grande prevalência desta forma clínica de tuberculose, que, aliás, é também conhecida como tuberculose secundária, tuberculose adulto, tuberculose pós-primária e etc. O tempo necessário para a reativação de um foco de infecção latente é bastante variável, podendo ser meses ou anos. Em muitos indivíduos eles permanecem latentes por toda a vida. Existem na literatura vários estudos sobre a provável influência da idade, sexo, fatores étnicos e constituição genética. O Mycobacterium tuberculosis determina três tipos básicos de reação inflamatórias: exsudativa, produtiva e necrótica. A inflamação exsudativa é encontrada principalmente na infecção primária, antes do desenvolvimento de hipersensibilidade tardia. A reação produtiva se caracteriza pela formação de granulomas ou tubérculos (o termo tuberculose deriva desta reação), que são constituídos de macrófagos (células epitelióides), linfócitos e outras células. Os tubérculos geralmente aparecem quando a quantidade de bacilos, ou de antígenos, no sítio de infecção é baixa e a hipersensibilidade tardia apresenta níveis elevados. A reação necrótica ocorre, basicamente, quando a quantidade de antígeno no local da infecção e a hipersensibilidade dos tecidos são bastante elevados. A necrose encontrada na tuberculose é do tipo caseoso, isto é, tem o aspecto de queijo, se caracterizando ainda por ser incompleta e pobre em oxigênio. Embora possa ocorrer durante a infecção primária, a necrose caseosa é característica da tuberculose secundária. Mycobacterium bovis O Mycobacterium bovis causa tuberculose no gado bovino, sendo também bastante virulento no homem. A grande maioria dos casos de tuberculose humana por esta micobactéria é transmitida pelo leite não pasteurizado, proveniente de vacas tuberculosas. Os bacilos ingeridos penetram pela mucosa da orofaringe e do trato digestivo, invadindo, respectivamente, os nódulos mesentéricos . A partir destes focos, a doença pode se disseminar para outros tecidos ou órgãos. Mycobacterium ulcerans Causa lesões cutâneas ulceradas no principalmente na áfrica e Austrália. homem, sendo encontrada Micobactérias anônimas As infecções pelas micobactérias anônimas podem ocorrer em diferentes órgãos. Deve ser dito que estas infecções não são freqüentes, mas talvez o sejam mais do que se acredita. De modo geral, os livros não enfatizam a existência das micobactérias anônimas e, por esta razão, estas bactérias são raramente lembradas como causa de doença. DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser feito pelo exame microscópico de esfregaços corados pelo método de Ziehl-Neelsen e pela cultura. O material clínico selecionado para exame depende da localização de doença. Nas infecções pulmonares, colhe-se o escarro; nas urinárias, a urina. O exame bacterioscópico é extremamente importante nas infecções pulmonares, porque, quando positivo, permite o início imediato do tratamento. Nas infecções urinárias, seu valor é discutível. TRATAMENTO As drogas utilizadas no tratamento das micobacterioses freqüentemente não são ativas contra as outras bactérias. Mesmo entre as micobactérias, a sensibilidade do Micobacterium tuberculosis é bastante diferente da normalmente apresentada pelas outras espécies. Por esta razão, para fins terapêuticos, considera-se o Mycobacterium tuberculosis separadamente. Micobactérias anônimas Micobactérias anônimas apresentam comportamento heterogêneo frente aos diferentes agentes usados no tratamento das infecções por elas causadas. ASSOCIAÇÃO DE DROGAS No tratamento da tuberculose e de outras infecções por micobactérias anônimas, é mais freqüente a utilização de duas ou mais drogas. No caso das infecções por Mycobacterium tuberculosis, o objetivo da associação é evitar a seleção de mutantes. EPIDEMIOLOGIA O Mycobacterium tuberculosis é geralmente transmitido no núcleo de gotículas respiratórias provenientes de pacientes tuberculosos. Quanto mais próximo o paciente, mais fácil o contágio. O Mycobacterium bovis é freqüentemente transmitido pelo leite nãopasteurizado de bovinos doentes. Enquanto, profissionais que trabalham com animais doentes podem adquirir a infecção por via respiratória. Várias espécies de micobactérias anônimas são bastante ubiquitárias, sendo encontradas no solo, água, animais domésticos, leite e outros alimentos. Estas micobactérias podem contaminar diferentes ambientes e colonizar temporariamente, a superfície do corpo e secreções. Em algumas regiões, a freqüência de infecções por micobactérias anônimas é bastante elevada. A maioria das infecções parece ser adquirida por via respiratória ou pelo contato direto do indivíduo com o reservatório natural da bactéria. A profilaxia das infecções por Mycobacterium tuberculosis pode ser feita por vacinação ou pelo uso de antibacterianos. Mycobacterium leprae Como as demais micobactérias, o Mycobacterium leprae, ou bacilo da lepra, é álcool-ácido-resistente. Até o presente, esta bactéria não foi cultivada in vitro, mas prolifera, formando granulomas, quando inoculada na pata de camundongos. PATOGENICIDADE Não são conhecidos fatores estruturais ou toxinas que possam explicas as manifestações clínicas da lepra. São conhecidas duas formas polares de lepra e várias intermediárias. As formas polares são a lepra lepromatosa (LL) e a lepra tuberculóide (LT). Na LL, o doente apresenta grande quantidade de bacilos em suas lesões, enquanto na LT não ocorrem bacilos ou ocorrem em pequena quantidade. DIAGNÓSTICO O diagnóstico bacteriológico da lepra é feito pelo exame de esfregaços corados pelo método Ziehl-Neelsen. Estes esfregaços são preparados com material colhido da própria lesão, secreção nasal ou com uma gota de sangue colhida do lóbulo da orelha. TRATAMENTO As drogas mais usada no tratamento da lepra, atualmente, são a dapsona, rifampicina e clofazimina. A dapsona é extremamente ativa contra o bacilo da lepra, suas concentração inibitória mínima. No sentido de evitar a seleção de amostras resistentes, as três drogas são geralmente usadas em associação. EPIDEMIOLOGIA A lepra continua sendo uma doença bastante freqüente. Calcula-se que existam 12 milhões se leprosos no mundo. No Brasil, segundo um dos últimos boletins da Organização Pan-Amaricana de Saúde, foram registrados 180.380 casos, estimando –se que existem pelo menos um total de 316.000 casos, o que daria, segundo o mesmo órgão, uma prevalência de 2,6/1.000 habitantes. Em termos de ocorrência de lepra de acordo com o mesmo boletim., entre 42 países das Américas, o Brasil só ficaria atrás de cinco deles. De modo geral, a fonte de infecção é o paciente com lepra lepromatosa, que elimina o bacilo da lepra em grande quantidade pelas suas lesões e pelo muco nasal. A secreção nasal de um paciente com lepra lepromatosa pode conter 10 bacilos de lepra por ml, ou seja, a mesma quantidade de bacilos da tuberculose presente no escarro de um paciente com tuberculose pulmonar. Vários tipos de evidências sugerem que o bacilo da lepra pode penetrar no organismo através da pele e das mucosas, particularmente a mucosa nasal. Em artrópodes alimentados em pacientes com lepra lepromatosa, sugere a possibilidade da transmissão cutânea por vetores. Ainda não há conclusão definitiva sobre o valor da BCG na profilaxia da lepra. Os resultados obtidos em três estudos são conflitantes. Nocardia As nocardias são bacilos Gram-positivos, que podem ser álcool-ácidosresistentes. Quando na colônia, apresentam-se sob a forma de filamentos longos. Ao se prepararem esfregaços, estes filamentos se quebram, dando origem a forma bacilares ou cocóides. PATOGENICIDADE A nocardias causam dois tipos principais de infecção no homem: pneumania e micetona. As lesões pulmonares podem ser disseminadas ou localizadas, neste último caso assemelhando-as às cavidades observadas na tuberculose pulmonar. Do pulmão a bactéria pode se disseminar para outros órgãos, dando origem a abscessos. No sistema nervoso este abscessos são geralmente mortais. Os micetomas são semelhantes aos causados por fungos, caracterizando-se por abscessos subcultâneos com fístulas que drenam pus contendo grânulos, que são agregados de colônias da bactéria. Os fatores de virulência das nocardias não são conhecidos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O material clínico a ser examinado pode ser escarro, nas infecções pulmonares, ou pus, nos casos de micetoma. A identificação é feita tendo-se por base a morfologia da bactéria, coloração e temperatura de crescimento. TRATAMENTO As sulfonamidas têm-se mostrado como as drogas mais efetivas no tratamento. Entretanto, outros antimicrobianos podem ser utilizados, particularmente o cotrimoxazol. A drenagem cirúrgica dos abscessos é uma importante medida auxiliar do tratamento quimioterápico. EPIDEMIOLOGIA Embora Nocardia tenha distribuição universal, a nocardiose é uma doença rara, o que leva a acreditar que o homem tenha um alto grau de resistência natural a este microrganismo. Na verdade a nocardiose pulmonar não-tratada é, muitas vezes, uma doença autolimitada. Entretanto, quando a doença se torna evidente, a infecção tende a ser progressiva e fatal e, mesmo com tratamento intensivo, há morte em aproximadamente 50% dos pacientes. Streptomyces Algumas espécies de Streptomyces podem causar micetoma semelhante ao causado pela Nocardia. Estes germes são encontrados no solo e a grande importância deste gênero reside no fato de produzir muitos dos antibióticos utilizados em terapêutica. Espiroquetídeos São denominadas espiroquetídeos as bactérias que se apresentam sob a forma de espiral. Além desta característica estas bactérias são relativamente longas, finas, flexíveis e se movimentam por rotação e flexão. Não obstante as semelhanças morfológicas, os espiroquetídeos englobam três gêneros bastantes diferentes em muitas propriedades: Treponema, leptospira e borrelia. Treponema pallidum O T. pallidum é uma bactéria espiralada, apresenta nove a catorze espirais pequenas, com aparência uniforme na região central da célula, mas que diminuem em freqüência e amplitude nas extremidades. PATOGENICIDADE A sífilis pode ser dividida em três formas clínicas: primárias, secundárias e terciárias. A primária se caracteriza pela presença do cancro duro, que se localiza mais freqüentemente nos órgãos genitais, aparecendo dez a vinte dias após o contato sexual. Outras localizações podem ocorrer em conseqüência de contaminações acidentais ou de certas práticas sexuais. O aspecto do cancro duro pode variar desde uma pequena erosão até uma úlcera profunda, sendo a lesão quase única e muitas vezes oculta, sobretudo em mulheres. Geralmente, o cancro duro é acompanhado de linfadenite regional. A ulceração costuma ser bem definida, tendo bordas duras e a base recoberta por exsudação purulenta. È bastante rica em treponemas e cicatriza, mesmo sem tratamento, em quatro a seis semanas. As manifestações da sífilis secundária aparecem duas a dez semanas após o surgimento do cancro. Caracterizam-se por linfadenopatias generalizadas, erupções cutâneas maculares e papulares, e úlceras rasas nas mucosas da boca, vulva, vagina e reto. As lesões mucocutâneas são ricas em treponema e cedem espontaeamente em poucas semanas. A sífilis terciária surge oito a 25 anos depois da infecção inicial. Quase todos os tecidos e estruturas anatômicas do organismo podem se tornar local de uma lesão terciária.Mais freqüentemente, estas lesões aparecem na porção ascendente da aorta, sistema nervoso central e esqueleto. De modo geral, são lesões destrutivas e, portanto, graves. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da sífilis primária ( cancro duro) é feito pela demonstração do T. pallidum na secreção da lesão, usando-se microscopia de campo escuro ou imunofluorescência. Após o desaparecimento do cancro duro, o diagnóstico é basicamente sorológico, utilizando-se dois tipos básicos de antígenos: cardiolipina e antígeno treponêmicos. Segundo recomendação da Organização Mundial da Saúde, o diagnóstico sorológico da sífilis deve ser feito em duas etapas: na primeira, usandose um teste, cujo antígeno seja a cardiolipina, e , segunda, a imunofluorescência indireta, na qual se emprega antígeno treponêmico, esta última técnica, usada para confirmar o resultado da primeira. TRATAMENTO A penicilina continua sendo a droga de escolha para tratamento da sífilis. Além ser um antibiótico bastante ativo, até agora não ocorreu seleção de amostras de T. pallidum resistentes a droga. Quando o paciente é alérgico à penicilina, pode se usar cefalosporinas, tetraciclinas ou eritromicina. A dosagem depende do estágio da doença. EPIDEMIOLOGIA O homem é única fonte de T. pallidum. A doença pode ser adquirida por contato sexual, via placentária ( sífilis congênita), beijo, transfusão de sangue fresco ou inoculação direta acidental. Na grande maioria das vezes , a doença é adquirida por contato sexual. Até o momento não se dispões de vacinas contra sífilis e a quimioprofilaxia, além de não ser pratica, fornece resultados variáveis. Desta maneira, a profilaxia da doença ainda repousa em medidas que impeçam o contato da pele ou mucosas do doente com o indivíduo sadio. Leptospira O gênero compreende as espécies L. biflexa e L. interrogans, ambas subdivididas em vários sorotipos. Os sorotipos de L. biflexa são organismos de vida livre. PATOGENICIDADE As leptospiras geralmente penetram no organismo pela pele e depois de proliferar no sangue ( fase leptospirêmica) vão se localizar em vários órgãos, particularmente rins, fígado e sistema nervoso central. Coincide com o desaparecimento das leptospiras com o desaparecimento das leptospiras do sangue, o aparecimento de anticorpos circulantes específicos que, em presença do complemento, destroem a bactéria. A permanência das leptospiras nos rins ( fase leptospirúrica) tem sido atribuída à ineficácia do sistema anticorpo-complemento no nível dos túbulos renais, onde as leptospiras se multiplicam. As lesões tissulares determinadas por estas bactérias têm sido atribuídas a toxinas, cuja existência, até então, não foi comprovada satisfatoriamente. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das leptospiroses pode ser bacteriológico ou sorológico. O diagnóstico bacteriológico consiste na demonstração da leptospira pelo exame do material clínico, em microscópio de campo escuro, ou no cultivo da bactéria, em meios especiais, ou na inoculação de animais de laboratório, como a cobaia. Os meios de cultivo geralmente contêm soro, ou componentes do soro e ácidos graxos. TRATAMENTO Vários antibióticos são ativos contra as leptospiras, estando entre eles as penicilinas e tetraciclinas. Entretanto, a antibioticoterapia somente tem valor se iniciada logo nos dois primeiros dias de infecção. EPIDEMIOLOGIA A leptospirose é uma zoonose de distribuição universal. O reservatório natural da bactéria é representado por animais silvestres e domésticos, assintomáticos ou não. O rato é considerado um dos maiores responsáveis pelas leptospiroses humanas. As leptospiras geralmente penetram no organismo através de lesões cutâneas ou pelas mucosas. A água contaminada com a urina de animais é uma das principais vias de transmissão . Por esta razão, as leptospiroses são relativamente freqüentes em trabalhadores de esgotos, em lavradores que trabalham em plantações de arroz e de cana- de – açúcar, e em regiões que sofrem inundações, como tem ocorrido em Recife. O período de incubação das leptospiroses é, em média, 10 dias. Borrelia A classificação das espécies de Borrelia é bastante confusa, mas , de modo geral, há acordo quanto à validade das espécies B. recurrentis e B. burgdorferi. A doença causada pela B. recurrentis é denominada febre recorrente, devido ao seu caráter recidivante. Antigamente a febre recorrente aparecia sob forma de extensas epidemias, mas atualmente são registrados apenas surtos esporádicos limitados a uma ou outra região. Não há menção na literatura de ocorrência da doença no Brasil. A febre recorrente é transmitida pelo piolho do homem ou por carrapatos. O diagnóstico é feito pela demonstração da bactéria no sangue do paciente. A droga de escolha para o tratamento da febre recorrente é a tetraciclina. As principais manifestações da doença de Lyme são eritema e artrite. Alguns pacientes desenvolvem manifestações neurológicas e cardíacas. O principal reservatório da B. burgdorferi parecem ser carrapatos que transmitem a bactéria para o homem através da picada. Micoplasma Os micoplasmas são os menores organismos celulares vivos e os mais simples. A célula contém o mínimo necessário para sua multiplicação: membrana citoplástica, ribossomos e DNA. Nos animais e no homem o habitat primário é a superfície das mucosas tratos respiratório e genital. CARACTERÍSTICAS GERAIS Ao contrário de todas as bactérias, os micoplasmas não têm parede rígida (não sintetizam peptidoglicano) e por esta razão são colocados numa classe especial de bactérias, denominada Mollicutes (mollis- mole, cutis- pele). A forma básica dos micoplasmas é a esférica (coco). Sendo a atividade biossintética dos micoplasmas muito reduzida, estes germes somente podem ser cultivados em meios complexos, contendo soro. O soro fornece ácidos graxos e colesterol, em forma assimilável e não tóxica, para a síntese da membrana. Aliás, os micoplasmas são as únicas bactérias a conter colesterol na composição de sua membrana. Para alguns micoplasmas, como Ureaplasma urealyticum, a uréia é um fator de crescimento. DOENÇAS E PATOGENICIDADE Mycoplasma pneumoniae Conforme a definição sugere, o Mycoplasma pneumoniae é essencialmente patogênico para o trato respiratório, causando pneumonias, traqueobronquites, faringites ou mesmo rinites. Ocasionalmente, entretanto, a bactéria pode infectar outros tecidos e órgãos e, numa certa porcentagem de casos, pneumonia pode se acompanhar de complicações não- infecciosas, provavelmente de natureza autoimune. A fonte de infecção geralmente é o doente, sendo a doença transmitida por via respiratória. A grande prevalência em membros de uma família, em colegiais e em instituições diversas, sugere que a proximidade entre as pessoas facilita a transmissão. Como em outras infecções, inicialmente a bactéria adere ao epitélio respiratório para depois provocar o aparecimento da lesão. A infecção é basicamente superficial, isto é, a bactéria não penetra na célula. Ureaplasma urealyticum Existem numerosos estudos sobre a associação desta espécie com uretrites, geralmente prejudicados em suas conclusões pela elevada freqüência da bactéria na uretra de pessoas normais. Uma forte evidência a favor desta hipótese é o aparecimento de uretrite em voluntários, inoculados com a bactéria diretamente na uretra. A uretrite seria transmitida por contato sexual. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O isolamento de Mycoplasma pneumaniae é feito pela semeadura de escarro e outras secreções das vias respiratórias, em um meio seletivo difásico (caldo e ágar), suplementado com glicose, contendo o indicador vermelho fenol. O crescimento da bactéria é detectado pela mudança da cor que ocorre no meio, em conseqüência de sua acidificação pelos ácidos formados a partir da fermentação da glicose. Quando o meio muda de cor, o caldo é repicado para uma placa, fazendo-se então a identificação definitiva da espécie. O isolamento de Ureaplasma urealyticum é feito em meio suplementado com uréia. A sua identificação tem por base o tamanho da colônia (< 100 mm de diâmetro) e a sua capacidade de hidrolisar a uréia, formando amônia. TRATAMENTO As drogas mais usadas são as tetraciclinas e eritromicinas. Não possuindo peptidoglicano em sua estrutura, os micoplasmas são insensíveis aos antibióticos betalactâmicos. Na infecção por Ureaplasma urealyticum, recomenda-se o tratamento silmutâneo do doente e do parceiro sexual. Riquétsias GÊNERO E ESPÉCIES As riquétsias são bacilos ou cocobacilos Gram-negativos, atualmente agrupados em três gêneros: Rickettsia, Coxiella e Rochalimaea. A designação do último gênero foi dada em homenagem a Henrique Rocha lima, um pesquisador brasileiro que fez várias contribuições para o melhor conhecimento das riquétsias. PATOGENICIDADE A característica fundamental das riquetsioses é uma vasculite generalizada, decorrente da proliferação das riquétsias nas células do endotélio vascular. Esta vasculite compromete os capilares , pequenas artérias e as veias da pele, do sistema nervoso central, músculos, rins, pulmões, miocárdio e de outros órgãos determinando os sintomas clássicos das riquetsioses; febre, cefaléia e exantema. Nas infecções pela Coxiella burnetti, entretanto as manifestações clínicas predominantes são decorrentes da infecção pulmonar, própria desta riquetsiose. A lesão vascular tem sido atribuída a toxinas produzidas pelas riquétsias. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das riquetsioses pode ser feito pelo isolamento, identificação direta das riquétsias nos tecidos e por testes sorológicos . TRATAMENTO As riquetsioses respondem bem ao tratamento cloranfenicol. com tetraciclina e EPIDEMIOLOGIA Com exceção da febre Q, as riquetsioses são sempre transmitidas por artrópodes. Os artrópodes que transmitem a febre maculosa são carrapatos e outros ácaros ; os que transmitem o tifo epidêmico e a febre das trincheiras, são piolhos, e o que transmite o tifo murino é a pulga de rato. A profilaxia das riquetsioses tem por base diferentes tipos de intervenção que podem ser feitas no nível do reservatório, dos vetores e do hospedeiros. Chlamydia As bactérias do gênero Chlamydia são parasitas intracelulares estritos que recebem da célula hospedeira compostos ricos em energia, os quais não podem sintetizar. Do ponto de vista estrutural, possuem parede semelhante à das bactérias Gram-negativas, embora a coloração de Gram não seja utilizada na sua identificação. DOENÇAS No homem as seguintes doenças: tracoma, conjuntivite de inclusão, uretrite, linfogranuloma venéreo, epididimite, salpingite e outras infecções dos órgãos genitais. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das infecções por clamídias pode ser feito pelo exame microscópico e isolamento do microrganismo. O exame microscópico, entretanto, apenas tem valor para o diagnóstico do tracoma. As clamídias podem ser cultivadas em culturas de tecido e no saco vitelino de ovos embrionados. TRATAMENTO As drogas de escolha para o tratamento das infecções por clamídias são as tetraciclinas. EPIDEMIOLOGIA O tracoma é transmitido através de moscas, toalhas, dedos e pincéis para aplicar cosméticos. A doença é prevalecente na idade escolar. A conjuntivite de inclusão é transmitida a partir dos genitais do paciente. As uretrites e o linfogranuloma venéreo são transmitidos por contato sexual. A psitacose pode ser adquirida de várias maneiras, sendo uma forma comum de infecção humana a inalação de fezes secas de aves infectadas. Outra fonte de infecção é a manipulação de tecidos infectados, nos abatedouros de aves. BIBLIOGRAFIA: TRABULSI, L. R., ALTERTHUM, F., GOMPERTEZ, O. F., CANDEIAS, J. A. N., Microbiologia, 3º edição, Atheneu, 2002.