Universidade Federal da Bahia Escola Politécnica Departamento de Engenharia Elétrica Disciplina Eletrônica de Potência (ENGC48) Tema: Conversores de Corrente Contínua para Corrente Contínua – Topologias Clássicas Eduardo Simas ([email protected]) Aula 8 Sumário Introdução Conversores Abaixadores Conversores Elevadores Conversores Elevadores-Abaixadores Conversor Cúk Exercícios de Fixação DEE 2/57 1. Introdução DEE 3/57 Introdução Os conversores de corrente contínua (DC) para corrente contínua (DC) também são conhecidos como choppers. São utilizados para obter uma tensão DC Vo na saída a partir de uma fonte DC Vs na entrada: Conversor DC-DC Vs Vo Sist. de controle Podem ser classificados como: Abaixadores (step-down) se Vo < Vs Elevadores (step-up) se Vo > Vs DEE 4/57 Introdução São utilizados basicamente para: Obter uma tensão DC regulada (fixa) na saída a partir de uma tensão DC variável na entrada; Obter uma tensão DC ajustável na saída a partir de uma tensão DC regulada na entrada. Principais aplicações: Fornecimento de tensão DC regulada; Controle de máquinas de corrente contínua; Sistemas HVDC. DEE 5/57 Tensão DC ajustável a partir de circuitos lineares: Limitados a Vo < Vs; Baixa eficiência (significativas perdas); Utilizados apenas em aplicações de baixa potência; Exemplo: Divisor de Tensão Vs Sendo Vs = 10 V, R1 = 50 Ω e 0 < R2< 50 Ω, calcular as potências dissipadas na fonte e numa carga de 1 kΩ ( conectada em Vo) para Vo = 50 V e Vo = 0 V. R1 Vo R2 DEE 6/57 Tensão DC ajustável a partir de circuitos lineares: Limitados a Vo < Vs; Baixa eficiência (significativas perdas); Utilizados apenas em aplicações de baixa potência; Exemplo: Divisor de Tensão Vs Sendo Vs = 10 V, R1 = 50 Ω e 0 < R2< 50 Ω, calcular as potências dissipadas na fonte e numa carga de 1 kΩ ( conectada em Vo) para Vo = 50 V e Vo = 0 V. R1 Resolução: Vo R2 DEE => Para Vo ≈ 50 V → R2 = 50 Ω → IR1 ≈ 1,020 A Ps ≈ 100 W e Po = 2,5 W => Para Vo = 0 V → R2 = 0 Ω → IR1 = 2 A Ps ≈ 200 W e Po = 0 W 7/57 Princípio Básico de um Conversor DC-DC com Chaves Eletrônicas A tensão de saída pode ser controlada pela chave S. Pode-se usar como chave: MOSFET, TBJ, IGBT, GTO. Razão de trabalho: tON T D= t tON 1 ON Tensão na saída: Vo = Vsdt = Vs = DVs ∫ T 0 T DEE 8/57 Controlador com Modulação PWM para conversores DC-DC DEE 9/57 Características dos Conversores DC-DC no Modo Chaveado (Topologias Clássicas) Vantagens: Topologias e propriedades bem compreendidas e disponíveis em vasta literatura; Pequeno número de componentes; Alta eficiência; Frequência de operação constante (modulação PWM); Controle relativamente simples (disponibilidade de circuitos integrados comerciais para os controladores); Podem atingir altas razões de conversão (tanto para abaixar como para elevar). Desvantagens: Perdas nas chaves aumentam com a frequência de chaveamento; Geram interferência eletromagnética (EMI) no chaveamento. DEE 10/57 Topologias Clássicas de Conversores DC-DC DEE 11/57 2. Conversor Abaixador (Step-Down ou Buck) DEE 12/57 Conversor Abaixador (Step-Down) Os conversores DC-DC abaixadores (step-down) são também conhecidos como conversor buck. is Circuitos Equivalentes: is io io Vo Vs Vs Vo Chave fechada io Funcionamento semelhante ao conversor básico apresentado anteriormente: Como 0>D>1 e Vo=DVs → Vo ≤ Vs Vo O indutor e o capacitor regulam as carcterísticas da corrente e da tensão na carga. DEE Chave aberta 13/57 Conversor Abaixador Considerando a corrente no indutor, os conversores DC-DC podem operar em dois modos: No modo de condução contínua (MCC) iL > 0 Modo de Condução Contínua (MCC) – neste caso a corrente está sempre fluindo através do indutor (iL > 0) . Modo de Condução Descontínua (MCD) – em alguns intervalos de tempo a corrente no indutor é nula. Em geral é preferível (em grande parte das aplicações) a utilização do conversor no MCC, porém, quando a corrente no circuito ou a frequência de chaveamento ou o ciclo de trabalho diminuem o conversor pode operar em MCD. DEE 14/57 Limite MCC - MCD Para garantir MCC: Quando operando no MCC, o capacitor é escolhido considerando-se o valor relativo de ondulação (Vr/Vo) desejado: DEE 15/57 Conversor Step-Down - Exemplo Considerando um conversor buck com as seguintes características: encontre os valores de L e C necessários para manter MCC e Vr/Vo=1%. DEE 16/57 Conversor Step-Down - Exemplo Considerando um conversor buck com as seguintes características: encontre os valores de L e C necessários para manter MCC e Vr/Vo=1%. Substituindo nas equações anteriores: DEE 17/57 Conversor Step-Down em MCD Características de um conversor operando em MCD: Vs Dependendo da aplicação, o conversor pode ser operado mantendo constante: a tensão de entrada Vs a tensão de saída Vo A análise da operação do conversor no MCD deve ser realizada para cada um dos casos. Na fronteira entre MCC e MCD (∆2=0): DEE 1 ton DT I LB = iL , peak ≈ (Vs − Vo) = (Vs − Vo) 2 2L 2L 18/57 Conversor Step-Down em MCD MCD com a tensão de entrada (Vs) constante: Aplicação: No controle de velocidade de um motor DC, a tensão de entrada permanece aproximadamente constante enquanto a tensão de saída é ajustada. A corrente média no indutor no limite entre MCC e MCD é dada por: I LB = Vs D(1 − D) 2 Lf E atinge o valor máximo para D = 0,5 (considerando Vs constante): I LB ( MAX ) = Vs 8Lf DEE 19/57 Conversor Step-Down em MCD MCD com a tensão de entrada (Vs) constante: A relação entre as Vs e Vo no conversor é: Vo = Vs D2 1 D 2 + Io I 4 LB ( MAX ) Vo / Vs Vs = DEE 20/57 Conversor Step-Down em MCD MCD com a tensão de saída (Vo) constante: Aplicação: Em fontes DC reguladas a tensão de entrada pode flutuar, mas a tensão de saída deve permanecer constante. A corrente média no indutor no limite entre MCC e MCD é dada por: I LB = Vo (1 − D) 2 Lf E atinge o valor máximo para D = 0 (mantendo Vo constante): I LB ( MAX ) = Vo 2 Lf O que na práSca é impossível pois se D = 0 → Vo = 0 DEE 21/57 Conversor Step-Down em MCD 1/ 2 MCD com a tensão de saída (Vo) constante: Neste caso é mais conveniente obter uma expressão de D: Io I Vo LB ( MAX ) D= Vs 1 − Vo Vs Vs Vs Vs DEE 22/57 2.1. Conversores Abaixadores com Transformador DEE 23/57 Conversores Step-Down com Transformador Em algumas aplicações é desejável haver isolamento galvânico entre a fonte e a carga (visando segurança e confiabilidade). Neste caso são utilizados transformadores de alta frequência (leves e pequenos) que proporcionam alta eficiência. Exemplos: Conversor Direto (Forward Converter); Conversor Push-Pull. DEE 24/57 Conversor Direto Observação: O enrolamento adicional (N3) é utilizado para evitar saturação do transformador pois a corrente circula sempre num mesmo sentido. Circuito: Vo D = Vs n Sendo: n = N1 / N 2 Funcionamento: Quando a chave S está fechada D1 -> está conduzindo e D2 em polarização reversa. A potência está sendo transferida da fonte para a carga. Quando a chave S está aberta D1 -> em polarização reversa e D2 conduzindo. Indutor + capacitor alimentam a carga. DEE O valor de Lb(limite MCC – MCD) e do capacitor são calculados do mesmo modo que para o conversor abaixador sem transformador. 25/57 Conversor Push-Pull Circuito: Vo 2 D = Vs n Sendo: n = N1 / N 2 Funcionamento: As chaves operam com defasagem de T/2 e num mesmo ciclo de trabalho (D < 0,5). S1 fechada e S2 aberta D1 conduzindo e D2 em corte S1 aberta e S2 fechada D1 em corte e D2 conduzindo As duas chaves abertas D1 e D2 em condução e dividindo a corrente do indutor (não há transferência de potência da fonte para a carga) DEE Limite MCC-MCD: Filtro a capacitor: 26/57 3. Conversor Elevador (Step-Up ou Boost) DEE 27/57 Conversor Elevador (Step-Up ou Boost) S fechada indutor carregando e capacitor alimentando a carga is io Característica entrada – saída: Como 0 ≤ D ≤ 1, então Vs ≤ Vo Observação: Não são comuns as aplicações de conversores elevadores DEE com transformadores. Circuitos Equivalentes: Circuito: Vs Vo S aberta energia armazenada no indutor é enviada para o circuito (diodo+capacitor+carga) is io Vs Vo 28/57 Chopper Step-Up Máximo para D ≈ 0,33 Escolha do indutor e do capacitor: Para garantir MCC: e Para regular a ondulação da tensão na saída (a partir de Vr/Vo): DEE 29/22 Conversor Elevador - MCC Neste caso a corrente no indutor é sempre maior que zero. Modo de condução contínua (MCC) → iL > 0 DEE 30/57 Chopper Step-Up - Exemplo Considerando um conversor boost com as seguintes características: encontre os valores de L e C necessários para manter MCC e Vr/Vo=1%. DEE 31/57 Chopper Step-Up - Exemplo Considerando um conversor boost com as seguintes características: encontre os valores de L e C necessários para manter MCC e Vr/Vo=1%. Substituindo nas equações chega-se a: DEE 32/57 Conversor Elevador em MCD No limite entre MCC e MCD: 1 Vs TVo D(1 − D) I LB = iL , peak ≈ ton = 2 2L 2L Considerando um circuito sem perdas: VsI L = VoIo → Io = (1 − D) IL DEE 33/57 Conversor Elevador em MCD Na maioria dos casos o conversor elevador opera com Vo constante. Num conversor elevador a corrente do indutor é igual à corrente da fonte. A corrente média na saída no limite entre MCC e MCD é dada por: I oB = Vo D (1 − D) 2 2 Lf E atinge o valor máximo para D = 1/3 (considerando Vo constante): I oB ( MAX ) = 0,074 Vs Lf DEE 34/57 Conversor Elevador em MCD O ciclo de trabalho pode ser expresso em função de Vo/Vs e IoB/ IoB(MAX) : 4 Vo Vo Io D= − 1 27 Vs Vs I oB ( MAX ) 1/ 2 Vs Vs Vs DEE 35/57 4. Conversor Elevador-Abaixador (Buck-Boost) DEE 36/57 Conversor Elevador-Abaixador (Buck-Boost) Chave fechada → indutor sendo carregado e diodo em bloqueio is io Combina as características dos conversores abaixador e elevador. io Vs Vo Circuitos Equivalentes: is Vs Vo Chave aberta → indutor transferindo corrente para o circuito io D > 0,5 → Vo > Vs (opera como elevador) D < 0,5 → Vo < Vs (opera como abaixador) Vo DEE 37/57 Conversor Buck-Boost Escolhendo o indutor para manter modo de condução contínua: Escolhendo o capacitor em função da tensão de ondulação na saída (Vr/Vo): DEE 38/22 Conversor Buck-Boost – Limite MCC x MCD Corrente no indutor: 1 TVs TVo (1 − D) I LB = iL , peak ≈ D= 2 2L 2L Considerando um circuito sem perdas: VsI L = VoIo → Io (1 − D ) = IL D DEE 39/57 Conversor Buck-Boost – Limite MCC x MCD Do circuito (considerando que o valor médio da corrente no capacitor é zero); Io = I L − Is Na maioria das aplicações do conversor elevador-abaixador a tensão de saída (Vo) é mantida constante. A corrente média na saída no limite entre MCC e MCD é dada por: I oB = Vo (1 − D) 2 2 Lf E atinge o valor máximo para D = 0 (considerando Vo constante): I oB ( MAX ) Vo = 2 Lf I oB = I oB ( MAX ) (1 − D ) 2 DEE 40/57 Conversor Buck-Boost no MCD O ciclo de trabalho pode ser expresso em função de Vo/Vs e IoB/ IoB(MAX) : D= Vo Vs Io I oB (MAX ) Vs Vs Vs DEE 41/57 4.1 Conversor Elevador-Abaixador com Transformador (Conversor Fly-Back) DEE 42/57 Conversor Fly-Back Lm – indutância de magnetização do transformador fly-back O indutor do conversor buck-boost foi substituído por um transformador: Sendo: n = N1 / N 2 DEE 43/57 Conversor Fly-Back - Funcionamento Chave Fechada: a corrente na indutância de magnetização cresce linearmente, o diodo está em corte, não há corrente no transformador e a carga é alimentada pelo capacitor. Chave Aberta: a corrente armazenada na indutância é direcionada para o transformador, o diodo é ligado e a corrente do secundário alimenta a carga e o capacitor DEE 44/57 Conversor Fly-Back – Limite MCC x MCD Para manter o modo de condução contínua: O filtro a capacitor é especificado por: DEE 45/57 5. Conversor Cuk DEE 46/57 Conversor Cuk Um indutor e um capacitor são adicionados no circuito do conversor elevador. Tanto a corrente da fonte como a da carga são reguladas (respectivamente pelos indutores L1 e L2). A tensão de saída é invertida em relação à de entrada (assim como no conversor elevador). DEE 47/57 Conversor Cuk - Funcionamento Chave Fechada: Chave Aberta: DEE 48/57 Conversor Cuk – Limite MCC x MCD Valores mínimos para os indutores que mantém o MCC: O capacitor no lado da saída é escolhido a partir da tensão de ondulação desejada: A variação de tensão no capacitor C1 é calculada por: DEE 49/57 Conversor Cuk Vantagens: Tanto a corrente da fonte como a corrente de saída são reguladas pelos indutores (o que não acontece nos outros conversores clássicos). A necessidade de filtragem externa é reduzida. Desvantagens: Maior quantidade de dispositivos de filtragem. Necessidade de uma capacitor C1 de maior capacidade de regulação. DEE 50/57 6. Aplicações DEE 51/57 Aplicações: Drivers de alto desempenho para motores elétricos CC em veículos elétricos, equipamentos de tração e máquinas ferramenta (normalmente usa-se conversores Step-down); Sistemas de radar e sistemas de ignição (Step-up) Sistemas de geração fotovoltaicos e eólicos para otimizar a carga das baterias Em UPS (Uninterruptible Power Supplies) para ajustar o nível da tensão retificada ao da tensão de carga das baterias. DEE 52/57 Aplicações: Sistemas de distribuição no qual um único barramento DC é utilizado para alimentar cargas de diversos tipos (em estações espaciais, barcos, aviões). DEE 53/57 Aplicações: Lâmpadas de descarga de alta intensidade (High Intensity Discharge – HID) em veículos: As lâmpadas HID não possuem filamento. A descarga elétrica (10 – 30 kV) produz um arco numa mistura pressurizada de mercúrio, xenônio e metal vaporizado. Para manter o arco ≈ 85 V. Maior durabilidade que as lâmpadas comuns. Produzem luz mais branca. DEE 54/57 Conversores CC-CC Disponíveis Comercialmente Step-Down Circuitos Integrados: Módulos Completos: Step-Down ou Step-Up DEE 55/57 5. Exercícios de Fixação DEE 56/57 Exercícios de Fixação: 1. Projete um conversor DC-DC abaixador acionado por PWM (f = 100 kHz) de modo que ele opere no MCC para: a) Vo = 50 V e b) Vo = 20 V e tenha uma ondulação de tensão de no máximo 2 %. Está disponível uma fonte de tensão DC regulada Vs = 70 V e a carga a ser alimentada é de 100 Ω. 2. Para a Questão 01-a, encontre o ciclo de trabalho necessário para que a tensão na saída seja 10 V. 3. Encontre as perdas na chave semicondutora da Questão 01-a se for utilizado um IGBT 30N60B conforme datasheet em anexo. 4. Repita a Questão 03 para o IGBT 30N60C. 5. Repita as Questões 03 e 04 considerando que a frequência de chaveamento é modificada para 1 MHz. 6. Repita a Questão 01 utilizando agora as versões do conversor abaixador com transformador: a) Conversor Direto e b) Conversor Push-Pull. Considere nos dois casos um transformador de relação de transformação 1:2. 7. Projete um conversor DC-DC elevador acionado por PWM (f = 100 kHz) de modo que ele opere no MCC para Vo = 180 V e tenha ondulação máxima na saída de 2 V. A fonte de alimentação disponível é Vs = 100 V e a carga a ser alimentada é de 50 Ω. Obtenha o ciclo de trabalho necessário para que a tensão na saída seja mantida em 180 V quando a tensão da fonte de alimentação do conversor cai para 80 V. 8. Projete um conversor DC-DC elevador- abaixador acionado por PWM (f = 100 kHz) de modo que ele opere no MCC para :a) Vo = 80 V e b) Vo = 130 V e tenha ondulação máxima na saída de 2 V. A fonte de alimentação disponível é Vs = 100 V e a carga a ser alimentada é de 50 Ω. 9. Considerando o circuito projetado na Questão 08-a, obtenha os valores do ciclo de trabalho necessários para manter na tensão de saída regulada em 80 V quando a tensão da fonte DC varia de 70 a 130 V. 10. Repita a Questão 08 considerando agora um conversor elevador-abaixador fly-back com transformador de relação de transformação 1:2. 11. Repita a Questão 08 considerando agora um conversor Cuk, considere que a variação de tensão do capacitor 1 seja no máximo 5V. DEE 57/57 Referências Mohan, Undeland & Robbins. Power Electronics – Converters, Applications and Design, Wiley, 1995. Rashid, Muhammad H. Power Electronics Handbook, Devices, Circuits and Applications, Segunda Edição, Elsevier, 2007. Ahmed, Ashfak. Eletrônica de Potência, Wiley, Pomilio, José Antenor. Eletrônica de Potência , Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, UNICAMP, 1998, Revisado em 2002. As figuras utilizadas nesta apresentação foram retiradas das referências listadas acima. DEE 58/57