VACINAÇÃO DO VIAJANTE EM CONDIÇÕES CLÍNICAS ESPECIAIS A maior facilidade dos meios de comunicação e transporte, aliada à maior sobrevida e melhores condições de tratamento das doenças crônicas, possibilita aos indivíduos portadores de doenças crônicas e/ou imunossupressoras primárias ou secundárias, condições para viagens não só profissionais, mas também de turismo e de lazer. Dependendo do destino, os viajantes podem ser expostos a doenças infecciosas, acidentes e outros agravos. O risco varia de acordo com a finalidade da viagem, o itinerário, os padrões da acomodação, a higiene e o saneamento, assim como a idade, saúde e o comportamento do viajante. Pacientes em condições clínicas especiais requerem orientações específicas referentes à doença de base, imunização, uso de medicamentos, avaliação do grau de imunossupressão entre outros e necessitam de um planejamento médico bem elaborado, de preferência 6-8 semanas antes, para que possam viajar com maior segurança. IDOSOS Com a maior longevidade e melhora da qualidade de vida, os idosos têm viajado cada vez mais. A imunossenescência, as limitações físicas as doenças pré-existentes características desse grupo, podem comprometer a segurança da viagem. Os idosos, com frequência apresentam atraso nas vacinas do calendário básico e devem ser estimulados a atualizá-lo. Trata-se de um grupo mais susceptível a complicações pelo vírus da influenza e pneumococo. As vacinas indicadas podem ser consultadas nos calendários da SBIm para adultos e idosos. Deve-se ressaltar que a incidência de reações adversas da vacina febre amarela é aumentada em maiores de 60 anos, especialmente na primeira dose. Além de todas as orientações dadas aos viajantes, o médico que fará as orientações pré viagem do idoso precisa alertar sobre a necessidade de manterem corretamente o uso e o intervalo das medicações de uso crônico, que devem ser levadas em seus frascos originais, em quantidade suficiente para o período da viagem e de preferência na bagagem de mão, por segurança, no caso da mala ser extraviada. As prescrições originais dos medicamentos de uso crônico também devem ser levadas, caso ocorra perda das mesmas. GESTANTES E LACTANTES Mulheres em idade fértil deveriam estar com a vacinação em dia com a finalidade de evitar riscos de aquisição de doenças infecto contagiosas no período gestacional. O ideal seria evitar viagens de risco na gestação (especialmente para áreas malarígenas), pela limitação de uso de vacinas de vírus vivo atenuado e algumas medicações preventivas . O melhor período para a gestante viajar é o segundo trimestre, quando ela sente-se mais disposta, apresenta menor risco de aborto espontâneo ou trabalho de parto prematuro. De um modo geral, deve ser enfaticamente aconselhada a evitar viagens internacionais no terceiro trimestre. Vacinas de vírus vivos atenuadas são contraindicadas nas gestantes pelos riscos teóricos ao feto. A vacina febre amarela apesar de ser do grupo das de vírus vivos atenuados pode ser feita em gestantes quando o risco de adquirir a doença for maior que os riscos teóricos da vacina para o feto. Em caso de necessidade absoluta de vacinar lactantes (mães que realizam aleitamento materno), o Ministério da Saúde recomenda que a amamentação seja interrompida por 15 dias (existem algumas evidências que sugerem contraindicar a amamentação por quatro semanas após a vacina febre amarela), com retirada de leite e estocagem para ser administrado neste período. Rua Heitor Peixoto, 769 | Cambuci | São Paulo | SP | tel. 11 2063.8601 | www.marano.com.br Orientações para evitar estase venosa e flebites durante os vôos, hidratação adequada, uso de cinto de segurança na região pélvica, fotoproteção e uso de repelentes também constituem cuidados com a gestante que viaja. As recomendações para imunização encontram-se disponíveis nos calendários SBIm da mulher e é importante lembrar que deve haver uma atuação conjunta entre o médico que orienta a gestante viajante e o obstetra. CRIANÇAS Hoje, o número de crianças que viaja é muito alto. As crianças fazem parte de um grupo que necessita além das vacinas do calendário infantil, atenção especial com algumas situações específicas da faixa etária. Crianças têm maior predisposição a doenças gastrointestinais, pelo hábito de levar as mãos e objetos à boca, não controle esfincteriano e consequentemente terem diarreias, vômito e desidratação. É muito importante alertar sobre a prevenção de choque térmico, afogamentos, risco de mordidas de animais pela menor capacidade de defesa diante do ataque animal e risco de raiva por ferimentos de alto risco em cabeça e extremidades que muitas vezes não são relatadas aos responsáveis por medo de serem repreendidas, picadas de insetos e animais peçonhentos- escorpiões, aranhas e cobras, uso de repelentes, proteção solar, hidratação oral e até sobre o risco de rapto de menores. Crianças com alguma doença de base, por ex. diabetes, epilepsia, asma, hemoglobinopatias entre outras, necessitam que seus pais estejam orientados a manter adequado o intervalo de tempo entre as doses das injeções ou medicações orais, apesar das mudanças de fuso horário, fazendo uma transição gradativa às necessidades da criança e da doença. Lactentes jovens têm maior risco de eventos adversos graves após vacinação contra febre amarela, e esta não deve ser realizada em menores de 6 meses. Nas crianças com menos de 9 meses, a imunização deve ser avaliada com cautela, considerando-se os risco de exposição no trajeto e no local de destino. Repelentes: DEET, icaridina e óleo de eucalipto-limão são eficazes na proteção contra picadas de mosquitos em crianças e adultos. O uso de alguns repelentes estão autorizados para uso em crianças pela OMS e AAP a partir de 2 meses de idade. Outras medidas físicas como o uso de mosquiteiros previamente impregnados com permetrina, são fundamentais para proteger lactentes jovens. O uso de telas nas janelas especialmente tratadas com inseticidas comprovadamente reduzem a incidência da malária em todas as faixas etárias. Primeiro aplicar o protetor solar, aguardar a absorção e em seguida aplicar o repelente. Ao final do dia lavar bem a pele das crianças com água e sabonete retirando todos os produtos utilizados para evitar reações alérgicas e excesso de absorção do repelente. Medidas como kit de medicamentos de emergência com prescrições claras, contendo hidratante oral, medicação para vômito, antitérmicos, analgésicos, antissépticos, broncodilatadores no caso de asmáticos, antibióticos no caso de diarréia do viajante, repelentes seguros e fotoprotetores eficientes, são fundamentais. ADOLESCENTES Viagens de adolescentes e jovens vêm crescendo, pois além do lazer, a busca por viagens de intercâmbio internacional representa grande interesse dos jovens atualmente . O Brasil é um dos maiores exportadores de intercambistas do mundo. Para esse grupo etário, a associação de irreverência característica da adolescência, destino escolhido, tempo de duração e natureza da viagem determinam os potenciais riscos à saúde. Rua Heitor Peixoto, 769 | Cambuci | São Paulo | SP | tel. 11 2063.8601 | www.marano.com.br O atendimento médico ao adolescente viajante tem o objetivo de ajudá-lo a se manter saudável enquanto estiver fora de sua cidade de origem e atualizar seu calendário vacinal. A desinformação coloca a saúde do individuo em risco. Distúrbios gastrointestinais (diarreias, náuseas e vômitos), sintomas respiratórios altos, cefaleias e traumas são as principais queixas. As consequências adversas relacionadas à ingestão de álcool, ao uso de drogas ilícitas e a prática de sexo sem proteção são mais comuns entre os jovens que viajam sem supervisão de adultos. A promiscuidade aliada ao uso abusivo de bebidas alcoólicas e/ou de drogas ilícitas, associadas ao consequente relaxamento em relação à prática do “sexo seguro” aumentam o risco para doenças sexualmente transmissíveis e/ou gravidez indesejada. IMUNODEPRIMIDOS De acordo com a doença de base e medicações em uso, os indivíduos deste grupo apresentam graus variados de comprometimento imunológico. Diferentes condições clínicas levam a alterações da resposta imune de forma bastante diversificada, determinando graus variáveis de imunossupressão e exigindo diferentes recomendações de proteção. São permitidas, dependendo da situação do imunodeprimido, vacinas inativadas como influenza, pneumococo, tétano, dupla adulto ou tríplice adulto acelular, hepatites A/B, meningococo dependendo do risco de exposição do viajante. TRANSPLANTADOS Indivíduos submetidos a transplantes de órgãos sólidos ou de medula óssea apresentam intensa imunossupressão no pós-transplante imediato e durante o tratamento contra rejeição (doença enxerto x hospedeiros). Neste período as viagens devem ser contraindicadas, principalmente para regiões de risco. Em transplantados existem poucos estudos sobre eficácia das vacinas específicas para viajantes. A maioria das vacinas inativadas já pode ser administrada cerca de seis meses após o transplante. HIV / AIDS A infecção pelo HIV caracteriza-se pela perda progressiva da função do sistema imunológico e o grau de imunodeficiência tem relação direta com o nível sérico de CD4. Os indivíduos HIV com CD4 < 200 cél/mm³ ( ou menos de 20 % ) são considerados com imunossuprimidos graves e não devem receber nenhum tipo de vacina viva pelo risco de apresentar eventos adversos severos. Sempre que possível deve-se vacinar o paciente com HIV quando ainda não há repercussão no sistema imunológico, ou quando, após introdução do tratamento antirretroviral houve o processo de reconstrução imune, buscando uma melhor eficácia da vacinação. Portanto, frente ao risco de viagem para áreas endêmicas e estando o paciente HIV com melhora da sua contagem de células e da imunidade através da introdução ou ajuste da medicação retroviral, o médico está autorizado a imunizá-lo da melhor maneira que a situação permita. Orientações adicionais como uso de repelentes, cuidados alimentares, sexo seguro etc. são fortemente indicados nesses pacientes pela maior susceptibilidade às doenças infectocontagiosas. PORTADORES DE DOENÇAS PRÉ EXISTENTES Os pacientes que sofrem de doenças crônicas necessitam de esquemas especiais de imunização além de orientações adicionais como uso de repelentes, cuidados alimentares, sexo seguro entre outras, pela maior susceptibilidade às doenças infectocontagiosas. Rua Heitor Peixoto, 769 | Cambuci | São Paulo | SP | tel. 11 2063.8601 | www.marano.com.br CONCLUSÃO Com um pouco de antecipação e planejamento, os viajantes em condições clínicas especiais podem ter uma viagem segura e agradável. Algumas viagens exigem proteção contra doenças diferentes daquelas do país de origem e dependendo do risco de exposição, tempo de viagem e tipo de atividade, precisa haver uma complementação da imunização. Algumas doenças já erradicadas no Brasil ainda permanecem endêmicas em locais onde não há boa cobertura vacinal e os grupos abordados neste capítulo são particularmente susceptíveis, o que exige cuidados adicionais. Referência: guia dos viajantes da SBIm (www.sbim.org.br) Rua Heitor Peixoto, 769 | Cambuci | São Paulo | SP | tel. 11 2063.8601 | www.marano.com.br