Alexandre e Aristóteles. Autor: Santo Só O jovem

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Alexandre e Aristóteles.
Autor: Santo Só
O jovem Alexandre se dirigiu ao mestre:
-Eu devo me desculpar. Inicialmente, rejeitei o pedido do meu pai para
tê-lo como meu preceptor. Infantilmente, imaginei que, como filho dos
deuses, futuro rei da Macedônia, sabia mais do que os colegas que foram
designados para me acompanhar. Entretanto, em pouco tempo, passei a
reconhecer minha ignorância frente à sua sabedoria. Muito tenho aprendido
em filosofia, música, matemática, geometria, medicina, geografia, ciências
da natureza e história. Sobretudo, aprendi a apreciar Homero e quanto
ainda me falta conhecer.
-É sábio quem procura estar sempre aprendendo. Em especial para um
rei, mostrar-se humilde é uma grande sabedoria.
-Consta que o meu pai lhe tenha escrito dizendo: “Não dou tantas graças
aos deuses por ter tido um filho quando por ter sido vosso contemporâneo.”
São belas palavras, porém, não acredito que a humildade do rei Felipe seja
tão sincera quanto desejou demonstrar.
-Se a humildade dele não me convenceu, obrigou-me a corresponder.
Neste momento, estou gozando de muito prestígio na Grécia e, mesmo
provindo de um rei, estaria pouco inclinado a aceitar convite pouco cortês.
Simpatizei com a inteligência que o seu pai revelou e, para ser sincero,
devo confessar que pesou, também, o valor do pagamento. –Falou
Aristóteles, esboçando um sorriso.
-Pensei que os filósofos não se interessassem por dinheiro.
-As pessoas zombavam de Tales, alegando que a filosofia era inútil, pois,
o tornara pobre. Ele, deduzindo a partir do conhecimento que tinha sobre as
estrelas que haveria uma boa safra de azeitonas, alugou a baixo preço todas
a prensas de oliva. Quando chegou a época da colheita, só ele as tinha e
pode alugá-las por quanto quis. Assim, demonstrou que os filósofos,
quando querem, podem enriquecer. Esse não é o objetivo da vida dos
filósofos, porém, um professor deve conhecer o valor do dinheiro. Possuir
conhecimentos sobre o abastecimento e a demanda de mercadorias é útil,
também, para o estadista, pois, as cidades precisam mais de recursos e
suprimentos do que uma família.
-Dizem que um estadista depende, sobretudo, da retórica. Pouco das suas
aulas têm sido dedicadas a essa matéria.
-Um dos males da política grega é o excesso de sofismas e de retórica.
-O meu pai diz que é preciso se precaver contra discursos maledicentes
dos inimigos.
-Ele tem razão e, pior do que esses, são os falsos amigos, corrompidos
pela ambição e promessas de inimigos.
Em outra ocasião Alexandre perguntou:
-Como se chega à verdade?
-Estudando a natureza e concluindo pela lógica.
-Como se conclui pela lógica?
-Veja este exemplo clássico: Todos os homens são mortais, Felipe é um
homem, logo, Felipe é mortal. Essa é uma conclusão lógica porque o que é
verdade para o todo é verdadeiro, também, para as partes.
-A lógica sempre nos garante certeza?
-Desde que os pressupostos em que ela se fundamenta sejam fatos
verdadeiros. Tome a afirmação: Todos os homens são imortais, Felipe é um
homem, logo, Felipe é imortal. A conclusão seria lógica, mas, não
verdadeira. O erro está em ser falso afirmar serem os homens imortais.
-Como conhecer um pressuposto verdadeiro?
-Há verdades axiomáticas que precisamos aceitar sem poder comprovar.
Para todas as outras, dependemos de estudar a natureza através de
observações cuidadosas para verificar como ela realmente se comporta. O
silogismo tem sucesso pelo efeito agradável das palavras, dizendo o que as
pessoas apreciam ouvir. Ele se arma utilizando relações colaterais entre os
acontecimentos, como se eles fossem consequentes.
-Como assim?
-A ocorrência de simultaneidade entre eventos não confirma haver uma
relação de causalidade. Pode se tratar, apenas, da dependência de ambos a
um mesmo fator causal, ou, simples coincidência.
*
Alexandre era um discípulo aplicado. Sempre desejoso de aprender sobre
os fundamentos da política, indagou:
-Platão propôs um modelo de constituição. Qual é a sua opinião sobre
aquelas ideias?
-Eu estudei tudo o que tem sido feito em diversas cidades-estados e
tenho propostas para procuram aprimorar o que tem sido feito, embora sem
pretender que sejam soluções definitivas. Há necessidade de cautela. A
praxe de modificar levianamente as constituições é ruim, pois, significa
promover o enfraquecimento das normas e promover o hábito da
desobediência. A lei só se torna efetiva pelo costume e este leva longo
tempo para se tornar consolidar. Entretanto, há necessidade de se corrigir
deformações. Na Tessália, com frequência, os servos atacavam os senhores,
assim como acontecia com escravos aos espartanos. Nada assim sucedeu
aos cretenses. Em Esparta, a intenção do legislador fracassou no que diz
respeito às mulheres e elas desfrutam de muita permissividade. Isso é
comum em comunidades com atividade militar, exceto entre os celtas e
outros povos que aprovam o homossexualismo masculino. Quando
voltaram da guerra, os espartanos estavam predispostos à disciplina, porém,
não as mulheres. A grande desigualdade de propriedade entre os espartanos
se deve, também, a erros da constituição. Embora ela não aprove a compra
e venda de terras, permite a transferência em forma de presentes e doações.
A constituição de Cartago é oligarca, mas, os cartagineses escapam aos
males da oligarquia removendo periodicamente uma seção do povo para
cidades distantes. O meu objetivo não é distribuir acusações ou elogios,
apenas, historiar e tentar identificar o que se mostrou melhor.
-Alexandre insistiu: Qual é a história da constituição de Atenas?
-Pode-se considerar que houve onze mudanças. A primeira foi a
modificação da constituição original de quando Íon e seus seguidores
chegaram a Atenas. Os atenienses foram divididos em quatro classes e
estabelecido um rei. A segundam mudança, primeira a estabelecer o status
de constituição, deu-se com Teseu e distanciou um pouco o Estado da
monarquia absoluta. Depois, a do tempo de Draco, quando se escreveram
as leis pela primeira vez. Seguiu-se um período de brigas entre a maioria
escravizada e os líderes do Estado do qual resultou a entrega do poder a
Sólon como mediador. Ele era líder por nascimento, porém, aconselhava
moderação aos ricos. O seu governo instituiu muitas mudanças. Foi traído
por amigos e teve a sua reputação denegrida, sendo obrigado a partir para o
estrangeiro. Seguiu-se Pisístrato, que exerceu uma tirania com moderação.
Depois, um longo período de guerras e sequência de governos tiranos ou de
maior democracia. Finalmente, a constituição atual permite um crescente
poder por parte do povo. Têm direito à cidadania completa todos os
homens filhos de pai e mãe cidadãos ao atingirem dezoito anos de idade. O
povo elege os responsáveis pelos cargos públicos, assim como, após as
arengas, os juris se decidem pelo voto.
-Não vejo qual seja a vantagem dos regimes das cidades gregas em que
a população despreparada, manipulada por oradores interesseiros, decide o
destino dos magistrados. Instabilidades ocasionadas por períodos de maior
dificuldade e descontentamentos sempre ocorrerem. Um bom rei estará
melhor preparado para enfrentar os obstáculos, decretando leis adequadas
para maior benefício do povo.
-Contudo, um monarca, também, pode ser maléfico. O regime
democrático prevê rotatividade e, ao fim do seu tempo, o governante pode
ser mudado. Nas monarquias, será preciso esperar a morte do rei. Não
tenho por missão mudar a sua posição em favor da monarquia, antes, ajudálo a se preparar para ser um bom monarca.
*
Juntamente com a formação intelectual recebida através de Aristóteles,
Alexandre adestrava-se em esportes e em toda sorte de exercícios militares.
As conquistas do pai o inspiravam e, desde muito cedo, almejava superálas. Queixava-se para Aristóteles:
-Eu admiro meu pai, porém, é impossível aceitar muitas das suas
atitudes. Não esqueço o dia em que decepou com a espada meu cãozinho
Príamo que quisera, apenas, brincar com ele.
-Soube que ele voltava exausto de uma excursão distante e agiu sem
pensar. Depois, procurou compensá-lo.
-No dia seguinte, ele me deu outro cãozinho. Isso, porém, não pôde me
conformar.
-Consta que, em seguida, Felipe tenha se mostrado desolado. Esse
episódio pode instrui-lo sobre o perigo que existe em agir por impulso.
Alexandre, porém, exibia outro motivo de contrariedade:
-Nos territórios mais próximos, Felipe nada vai deixar para eu
conquistar. Quando for rei, irei conduzir campanhas adiante e libertar as
cidades gregas dominadas pelos persas.
-As distâncias são longas. Antes de avançar, você precisa conhecer o
terreno em que irá pisar e as forças com que conta o inimigo. Deve prever o
que esperar de uma conquista. Mal calculadas, as vitórias resultam em
prejuízos e infelicidade.
Contando, apenas, com sete anos de idade, Alexandre demonstrava não
desprezar os ensinamentos de Aristóteles. Quando sátrapas conspiraram e
foram vencidos por Artaxerxes, rei da Pérsia, procuraram abrigo no reino
de Filipe. Foram acolhidos e hospedados no próprio palácio. Enquanto
permaneceram, o jovem Alexandre interessou-se em conversar com eles,
fazendo-lhes perguntas sérias a respeito da Pérsia, a valentia do povo, seus
cavalos e armas.
*
Alexandre crescia e era tido por todos como robusto, agradável, belo e
generoso. Com idade próxima aos dezesseis anos, teve um feito de grande
repercussão. Bucéfalo, o mais belo cavalo trazido da Tessália, foi oferecido
ao rei Filipe. Já o pretendiam devolver porque nenhum dos cavalariços
conseguira domar. Alexandre apostou com o pai ser capaz de montá-lo, Foi
considerada uma bravata e a prova causou riso aos presentes. Entretanto, o
espírito treinado para observação de Alexandre lhe havia mostrado que
Bucéfalo se assustava com a própria sombra. Colocou o cavalo contra o sol
e, assim, conseguiu que permitisse ser montado. Alexandre resistiu ao
corcoveio do animal, até vê-lo cansar, acalmar-se e ser dominado. Ao fim,
recebeu raro elogio do rei:
-A Macedônia é demasiado pequena para um príncipe tão valoroso!
Mais tarde, o jovem foi cumprimentado por Aristóteles:
-Parabéns. O seu desempenho como cavaleiro o tornou, ainda, mais
famoso.
Alexandre replicou orgulhosamente:
-Bucéfalo ia ser devolvido porque nenhum cavaleiro o conseguia montar.
Agora ele é meu e sempre irá me acompanhar. Isso me deixa feliz porque
posso saber que, apesar de ser possuidor de um porte mediano, ninguém me
suplanta nas artes militares. Aprecio as suas aulas de filosofia, mas, um rei
precisa estar preparado para a guerra.
-A imagem pessoal é importante. Entretanto, a força física de uma
pessoa não a pode proteger contra ataques traiçoeiros. O sucesso de um rei
depende, primordialmente, de corresponder ao que os súditos esperam dele.
–Ensinou Aristóteles.
-Apesar da Grécia possuir admirada filosofia, o exército macedônico
conquistou quase todas suas cidades. Eu irei suceder o rei Filipe e devo
comandar o império que ele criou.
-As cidades da Grécia são as mais adiantadas em cultua e arte, porém,
vivem em guerras fratricidas e só uma força externa as logrará apaziguar.
Elas poderão se beneficiar da unidade, se o amadurecimento lhes permitir,
mesmo às custas da perda de alguma soberania, respeitar as características
e prerrogativas das demais.
Alexandre queixou-se:
-Meu pai é um grande rei, mas, desejando tudo controlar, não respeita
nem a família como conviria. Eu não deveria dizer, mas, para mim, é difícil
aceitar os seus modos grosseiros e o tratamento que dá a algumas pessoas,
inclusive, à minha própria mãe.
-Procure aproveitar o que possui, sem esperar de outros a perfeição.
Pense em quantos filhos nem conheceram os pais. Felipe se preocupa com
a sua educação.
-Não posso deixar de pensar que ele o contratou para a própria glória,
antes do que pela preocupação com a minha educação.
*
Nem completados dezesseis anos de idade, Alexandre foi deixado por
Felipe com poderes para governar o reino enquanto ele sitiava Bizâncio.
Contudo, Alexandre não ficou à vontade. Queixou-se:
-O rei Felipe designou para me aconselhar o seu amigo Antíparos, em
verdade, para administrar a Macedônia em meu nome. Alegando ser a
vontade do meu pai, sem deixar de ter uma atitude respeitosa, ele apresenta
os textos para aposição do selo real agrupados em três ou quatro, de modo a
não possibilitar minha revisão. Sinto-me tão livre quanto um pequeno
funcionário dos registros.
-As decisões em administração não são claras como na guerra. Estão
plenas de armadilhas provocadas pelas ambições e vaidades humanas,
produzindo inimigos velados e traições de amigos. O seu pai procurou
preservá-lo, até que tenha obtido maior experiência. –Disse Aristóteles.
-Será difícil ampliar os meus conhecimentos tendo acesso, apenas, a
partes incompletas dos acontecimentos, sem a prova de os poder decidir.
-Não é impossível aprender, desde que observe a cumplicidade e os
interesses ocultos que existem por trás das intenções declaradas. Vou lhe
ensinar a prestar atenção com o fim de juntar as partes e desenvolver o
poder de síntese. –Afirmou Aristóteles.
Viajando o rei, Olímpia, mãe de Alexandre, retirou-se para o campo com
o fim de descansar e, diziam, fazer intrigas contra o marido. Com pouco o
que fazer e sem nenhum controle, Alexandre foi levado aos jogos eróticos
com serviçais e, mais discretamente, com prestimosas damas da corte.
Entrementes, apaixonou-se por Cloé, uma bela jovem da pequena nobreza,
filha de um camareiro do palácio que havia viajado com Felipe. Nas
pequenas campanhas vitoriosas que Alexandre empreendeu, ela o
acompanhava. O jovem sabia que o seu pai o obrigaria a um casamento de
conveniência, mas, esperava que, quando se tornasse rei, pudesse assumila, oficial ou extraoficialmente, conforme costumava ocorrer.
Ao voltar Felipe, tornava-se evidente a gravidez de Cloé. Sua ira não se
aplacava com banhos gelados, nem com o massacre de uma tribo vizinha.
Em vão seus conselheiros, Olivia e o próprio Aristóteles tentaram acalmálo. Foi impiedoso, enviando a amante do filho para o exílio em algum lugar
da fronteira distante. Alexandre nunca conseguiu conhecer o seu destino.
O jovem se dirigiu a Aristóteles desesperado:
-Não sei se admiro ou odeio o meu pai. Por que não posso casar com
quem amo, como os demais cidadãos?
-Você deve saber que a tradição exige dos reis forjarem uniões com
outras famílias reais.
-Algumas tradições diferem de um para outro Estado. Por que devo me
submeter a absurdos como esse? Por que não se muda a tradição?
-A transformação dos costumes é muito lenta. Embora possa ser
precipitada por acontecimentos violentos, ocorre, apenas, quando esteja
madura para acontecer. As tradições não surgiram por acaso, antes, tiveram
causas históricas determinantes. Os grupos humanos primitivos foram
formados por famílias guiadas pelos patriarcas com base no aprendido dos
ancestrais. Viviam dispersos, mas, prosperaram acertando casamentos
exógamos. Aumentando as disputas ente os grupos rivais, foram vitoriosos
os que tiveram capacidade de entendimento e acordos entre os chefes para
o fortalecimento com a formação de tribos. O mesmo processo determinou
a formação de antigas cidades.
-Um rei não pode contrariar a tradição?
-As sociedades se sustentam com regras de reciprocidade entre seus
participantes. Povos civilizados se diferenciam dos bárbaros por suas
tradições. As grandes conquistas exigem sacrifícios. Eu tenho procurado
ajudá-lo a ser um bom governante, porém, o motivo pelo qual será rei é a
sua filiação, conforme determina a tradição.
*
Felipe, desejando fazer o filho esquecer Cloé e pretendendo que se
tornasse um verdadeiro homem, o fez acompanhar em suas bebedeiras e
orgias com companheiros militares. Igualmente, acolheu que, com apenas
dezessete anos de idade, comandasse uma ala do seu exército nas
campanhas em que precisava se empenhar. Alexandre obteve vitórias e, em
uma batalha na Trácia, salvou a vida de Felipe protegendo-o com seu
corpo. Nessa refrega, aconteceu sofrer o rei um ferimento na coxa,
deixando-o definitivamente coxo.
Para Alexandre, salvar o rei foi um motivo de glória e, também, para se
sentir humilhado com o tratamento dado por seu pai. No primeiros dos
banquetes de comemoração, Felipe afirmou:
-O pequeno foi menos atrapalhado do que temíamos. Talvez, faremos
dele um homem. Quem sabe?
A frase, proferida em meio a uma orgia com bebedeira e gargalhadas,
perante centenas de companheiros de armas e de mulheres vulgares, foi
recebida como extremamente insultuosas por Alexandre. Felipe mandou
arautos lerem em todas as praças: Alexandre, filho do rei, cumpriu seu
dever de macedônio. Apesar disso, Alexandre nunca esqueceu a ofensa.
Queixou-se para Aristóteles:
-Eu cumpri muito mais do que o meu dever. Dizendo isso, não conto
nenhuma novidade a ninguém.
-Por certo, Felipe vê crescer o seu prestígio. Ele se orgulha e, também, o
teme. Um rei não pode conviver com ninguém maior do que ele, nem
mesmo sendo o seu filho.
Alexandre se conformou e, ao invés de maldizer o pai quando se
queixava do ferimento no membro inferior, procurava consolá-lo dizendo
que devia lembrar-lhe sua valentia em combate.
*
A situação militar de Felipe se consolidava, entretanto, agravavam-se os
desentendimentos com a esposa Olímpia. Ela não ocultou seu ódio ao ser
confrontada com novo casamento do rei. Alexandre não aceitou o repúdio
da mãe e censurou Felipe publicamente. Foi obrigado a se afastar,
buscando refúgio no reino de ilíria cujo soberano era irmão de Olímpia.
Felipe era aclamado, porém, seu comportamento orgulhoso semeava
ressentimentos. Juntamente com Olímpia, seus inimigos conspiravam
contra ele. Ao ingressar pomposamente em um teatro, um soldado da
escolta o feriu mortalmente diante da sua estátua de ouro.
Na confusão que se seguiu, Olímpia e seus cúmplices lograram
vingança, sacrificando a nova mulher de Felipe e seus familiares.
Aristóteles tinha encerrado a sua missão e retornou para a Grécia,
deixando a bagagem dos seus ensinamentos.
Voltando à Macedônia, Alexandre se deparou com grande temor em
relação à capacidade de um jovem de vinte anos comandar o império
conquistado por seu pai. Entretanto ele falou ao povo, cidadãos e inimigos,
dizendo que nada se havia modificado, senão a pessoa do rei. Consegui
comovê-los e colocá-los ao seu lado.
*
Alexandre assumiu o poder e, uma vez normalizada a administração,
dedicou-se ao exército. Iniciou por invadir a Tessália e, daí, passou a
consolidar as conquistas em toda a Grécia.
Em Corinto, quis conhecer Diógenes. Acompanhado de grande comitiva,
foi encontrá-lo quase despido, morando em um barril.
-Sabe quem eu sou? Eu sou Alexandre.
-Ah! Eu sou Diógenes.
-Eu possuo um império e milhares de homens se curvam diante de mim.
-Pois, eu só possuo este tonel e ele me basta. Há muito tempo procuro
um homem e não o encontro.
-Agrada-me a sua maneira. Quero satisfazer qualquer desejo seu.
-Desejo que se afaste um pouco para não me tomar o sol.
O rei disse aos que o acompanhavam:
-Se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes.
Tendo unido os gregos, preparou o exército para invadir a Pérsia.
Alexandre se mostrava, sobretudo, um soldado, lutando à frente dos seus
homens. Antes de rumar para a Ásia, fez ablações aos deuses e distribui aos
combatentes tudo o que fosse possível sem prejudicar a economia do
Império. O general Perdicas perguntou:
-O que guardará para si?
-Guardo a esperança.
Dario, rei dos Persas, chef de um imenso exército, julgou obter uma
vitória fácil. Entretanto, Alexandre avançou, vencendo todos os obstáculos.
O rei Dario seguia, após suas tropas cheias de ostentação, em um carro
de riqueza fabulosa, vestido com ouro e pedrarias. Tão convencido estava
de sua superioridade que avançou em direção a Alexandre, encontrando-o
em terreno desfavorável à movimentação do seu muito grande exército.
Após renhidos combates e, saindo-se vitorioso Alexandre, Dario fugiu,
deixando para trás a mãe, esposa e filhos.
Conquistar sempre fora uma decisão de Alexandre, mas, isso não
dependia, apenas, de táticas militares. Era necessário decidir em que
momento avançar ou retroceder, a quem punir ou perdoar. Muitas vezes,
lamentou não continuar a contar com os conselhos do seu mestre
Aristóteles. Sem esquecer as lições recebidas, tratou sem crueldade a
família de Dario e todos os prisioneiros.
Continuou a avançar, enfrentando duros combates, até conquistar toda
Pérsia com suas imensas riquezas. Perseguiu Dario até confirmar sua
morte, traído por Besso. O assassino foi, depois, condenado.
A seguir, Alexandre lançou-se contra a Índia. Às vezes era recebido sem
oposição, em outras enfrentando heroica resistência. Embora vitoriosos, os
soldados estavam esgotados e desejando retornar para casa. Atendendo ao
pedido dos seus generais, decidiu voltar à Macedônia.
A maior admiração de Alexandre era a cidade de Atenas. Lamentava o
fracasso em promover um pan-helenismo, pois, conquanto governasse,
nada mudara quanto aos costumes bárbaros dos povos que conquistara.
Na Babilônia, foi acometido por prolongada febre de origem
desconhecida que não o abandonou até a morte entre poucos amigos,
advinda aos seus trinta e três anos de idade e doze de reinado.
Alexandre mudou o mapa do mundo, formando o primeiro grande
império do ocidente, estendido do Danúbio ao Indo, do deserto do Saara ao
mar de Aral. Foi animado por extraordinária coragem e recursos militares.
Certamente lhe valeram, também, os conhecimentos gerais recebidos de
seu mestre Aristóteles, reconhecido como o maior filósofo do seu tempo.
FIM
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