1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ENGENHARIA CIVIL HENRIQUE SEMPREBOM MELLER AVALIAÇÃO DE UM FILTRO BIOLÓGICO PERCOLADO COM MEIO DE SUPORTE PLÁSTICO CORRUGADO CRICIÚMA, JULHO DE 2009 2 HENRIQUE SEMPREBOM MELLER AVALIAÇÃO DE UM FILTRO BIOLÓGICO PERCOLADO COM MEIO DE SUPORTE PLÁSTICO CORRUGADO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheiro Civil no curso de Engenharia Civil da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador: Prof. Eng. Nestor Back CRICIÚMA, JULHO DE 2009 3 HENRIQUE SEMPREBOM MELLER AVALIAÇÃO DE UM FILTRO BIOLÓGICO PERCOLADO COM MEIO DE SUPORTE PLÁSTICO CORRUGADO Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Engenheiro Civil, no Curso de Engenharia Civil da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em tratamento de esgoto. Criciúma, 01 de julho de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof. Nestor Back – Engenheiro – (UNESC) – Orientador Profa. Nadja Zim Alexandre – Mestre – (IPAT/UNESC) Prof. Álvaro José Back – Doutor – (UNESC) 4 Dedico este trabalho a Deus por estar sempre proporcionando me iluminando momentos de e intensa felicidade como a conclusão deste trabalho. Aos meus familiares: meu pai Edilberto J. Meller, minha mãe Izabel S. Meller e meu irmão Guilherme, por todo amor e carinho oferecidos. À Rafaela Silvestre e Maria Angélica Silvestre pelo companheirismo e apoio durante todo momento. A todos os colegas e amigos, com quem constantemente aprendo e valorizo a importância de suas amizades. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, pela constante companhia e apoio em todos os momentos da minha vida. À minha família, em especial aos meus pais, pela educação, formação, apoio e incentivo que sempre me proporcionaram, sendo fundamental para a realização do meu ideal. Ao meu orientador e amigo Nestor Back, não só pela orientação e ensinamentos profissionais, mas também pelo companheirismo constante, por quem tenho muita admiração. À professora Nadja Zim Alexandre, pelas orientações bibliográficas. À Itajui Engenharia de Obras, pelo apoio e disponibilização de equipamentos e materiais para a realização deste trabalho. À CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), em especial ao engenheiro sanitarista, Luis Alexandre Maba Rocha, pela disponibilização da estação de tratamento de esgoto e devidas orientações no tratamento. Aos melhores amigos de faculdade, Joel Piazza e Mauricio Izé, pelos anos de convívio e alegrias, que espero continuar vivendo. A todos que sempre me apoiaram, dando-me forças para a realização de um sonho. 6 “Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência.” Henry Ford 7 RESUMO O destino final de qualquer efluente urbano é o encaminhamento a um corpo de água. Em consequência desse lançamento, aparece a possibilidade de virem a ser gerados danos, tanto ao meio ambiente, como à saúde pública. No entanto, para minimizar esses danos o efluente é submetido ao tratamento, sendo fiscalizado por órgãos ambientais. Baseado nessa postura e, com exigências cada vez mais de melhores eficiências para esses despejos, sob os aspectos ambientais, tende-se a se buscar soluções viáveis. O presente estudo visa aprimorar o tratamento de águas residuárias, propondo um meio de suporte em plástico com superfície específica e índice de vazios elevados. O comportamento do biofilme fixado no meio de suporte foi monitorado por análises das amostras do efluente tratado. Os parâmetros analisados apresentaram divergência nos resultados, evidenciando a necessidade de novas análises para a determinação da sua eficiência. Palavras-chave: Filtro biológico percolado. Meio de suporte. Biofime. 8 ABSTRACT The final destiny of any urban effluent is the lead to a water frame. Because of this throwing, it is possible some harms which may appear as to the environment as to the public health. Neverthless the effluent has taken to a treatment to minimize these harms and it has supervised by environmental organ. Based on this attitude and with demands and the best efficiencies for these dumps, under the environmental aspects, the tendency is to look for possible solutions. The next research aims to improve the treatment of the rest waters, bringing a plastic support way with a special surface and an indicatior of the high empties. The biofilm behavior fixed in the middle of the support was warned by analysis of samples of the treated effluent. The analysed parameters have shown disagreement with the result making evident the necessity of the new analysis to establish its efficieney. Palavras-chave: Biological percolating filters. Support way. Biofilm. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Esquema de funcionamento de um filtro biológico....................................32 Figura 2 - Circulação de ar no interior de um filtro biológico......................................40 Figura 3 - Representação esquemática de um biofilme, adaptado de METCALF & EDDY (1991), Von Sperling (1996)............................................................................41 Figura 4 - Mecanismos e processos envolvidos com o transporte e degradação do substrato em biofilmes................................................................................................42 Figura 5 - Diagrama esquemático das etapas envolvidas no transporte de oxigênio......................................................................................................................43 Figura 6 – Conduítes corrugado................................................................................51 Figura 7 – Recipiente plástico com régua graduada fixada....................................53 Figura 8 – Representação gráfica do conduíte Ø 4,0 cm...........................................54 Figura 9 – Protótipo filtro biológico percolado..........................................................56 Figura 10 – Meio de suporte em plástico corrugado................................................57 Figura 11 – Vista interna filtro biológico....................................................................57 Figura 12 – Sistema de distribuição...........................................................................58 Figura 13 – Estação de tratamento de esgoto bairro montevideo...........................62 Figura 14 – Gradeamento grosseiro, caixa de Areia e poço de visita.....................62 Figura 15 – Diagrama do sistema de tratamento.....................................................63 Figura 16 – Sistema de distribuição substituído no monitoramento do dia 15/04/05......................................................................................................................65 Figura 17 – Resultado DQO.......................................................................................69 Figura 18 – Resultado DBO. .....................................................................................70 Figura 19 – Resultados sólidos suspensos...............................................................70 Figura 20 – Resultados sólidos totais.......................................................................71 Figura 21 – Resultados sólidos sedimentáveis.........................................................71 Figura 22 – Resultados turbidez...............................................................................72 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características típicas dos diferentes tipos de filtros biológicos percoladores...............................................................................................................35 Tabela 2 – Índice de vazios conduítes corrugados....................................................52 Tabela 3 – Superfície específica................................................................................55 Tabela 4 – Detalhes construtivos do filtro biológico percolado..................................56 Tabela 5 – Monitoramento do filtro............................................................................63 Tabela 6 – Parâmetros analisados.............................................................................66 Tabela 7 – Resultados da amostra coletada no poço de visita (Anexo 1).................66 Tabela 8 – Resultados da Amostra coletada na saída do reservatório (Anexo 2).....67 Tabela 9 – Resultados da Amostra coletada na saída do filtro (Anexo 3).................67 Tabela 10 - Resultados da Amostra coletada na saída do reservatório (Anexo 4)....68 Tabela 11 - Resultados da Amostra coletada na saída do filtro (Anexo 5)................68 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CASAN – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio DQO – Demanda Química de Oxigênio ETE – Estação de Tratamento de Esgoto FBP – Filtro Biológico Percolado IPAT – Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas NBR – Norma Brasileira Reguladora NRC – National Research Council PROSAB – Programa de Pesquisas em Saneamento Básico PVC – Poli Cloreto de Vinila UASB – Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15 2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 17 2.2 Objetivo Específico ............................................................................................ 17 3 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 18 4 REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 19 4.1 Histórico .............................................................................................................. 19 4.2 Esgoto Sanitário ................................................................................................. 20 4.3 Características Físicas....................................................................................... 21 4.3.1 Turbidez ............................................................................................................ 21 4.3.2 Odor .................................................................................................................. 21 4.3.3 Matéria Sólida .................................................................................................. 22 4.3.4 Temperatura ..................................................................................................... 22 4.4 Características Químicas dos Esgotos ............................................................ 23 4.4.1 Matéria orgânica .............................................................................................. 23 4.4.1.1 Proteínas ....................................................................................................... 23 4.4.1.2 Carboidratos ................................................................................................. 24 4.4.1.3 Gorduras e Óleos ......................................................................................... 24 4.4.1.4 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO).................................................. 24 4.4.1.5 Demanda Química de Oxigênio (DQO) ....................................................... 25 4.4.1.6 Nitrogênio ...................................................................................................... 26 4.4.2 Matéria Inorgânica ........................................................................................... 26 4.4.3 Características Biológicas ............................................................................. 26 4.4.4 Crescimento Bacteriano e Floculação .......................................................... 27 4.5 Tratamento .......................................................................................................... 28 4.5.1 Tratamento Preliminar .................................................................................... 28 13 4.5.2 Tratamento Primário ....................................................................................... 29 4.5.3 Tratamento Secundário .................................................................................. 30 4.6 Filtro Biológico Percolado (FBP) ...................................................................... 31 4.6.1 Princípios de Funcionamento dos Filtros Biológicos Percolados ............ 32 4.6.2 Filtros Biológicos de Baixa Taxa ................................................................... 33 4.6.3 Filtros Biológicos de Taxa Intermediária ...................................................... 34 4.6.4 Filtros Biológicos de Alta Taxa ...................................................................... 35 4.6.5 Filtros Biológicos Grosseiro .......................................................................... 36 4.6.6 Dispositivo de Distribuição ............................................................................ 37 4.6.7 Meio de Suporte ............................................................................................... 37 4.6.8 Sistema de Drenagem ..................................................................................... 39 4.6.9 Ventilação ......................................................................................................... 40 4.7 Biofilme................................................................................................................ 42 4.8 Parâmetros de Projeto ....................................................................................... 46 4.8.1 Taxa de Aplicação Hidráulica......................................................................... 46 4.8.2 Taxa de Aplicação Orgânica .......................................................................... 47 5 MODELOS MATEMÁTICOS PARA DIMENSIONAMENTO .................................. 48 5.1 Fórmula do NRC – National Research Council ............................................... 48 5.2 Critério de Eckenfelder ...................................................................................... 49 5.3 Coeficiente de Remoção K ................................................................................ 50 6 METODOLOGIA...................................................................................................... 52 6.1 Escolha do material de enchimento ................................................................. 52 6.1.1 Diâmetro dos Conduítes ................................................................................. 52 6.1.2 Procedimento para Definição dos Índices de Vazios .................................. 53 6.1.3 Procedimento para Definição da Superfície Específica .............................. 54 6.2 Considerações para o Dimensionamento do Filtro Biológico em Escala Piloto .......................................................................................................................... 56 14 6.2.1 Cálculo da Taxa de Aplicação Hidráulica ..................................................... 59 6.2.2 Cálculo da Taxa de Aplicação Orgânica ....................................................... 60 6.2.3 Determinação do Coeficiente de Remoção K............................................... 61 6.2.4 Determinação da Eficiência ............................................................................ 61 6.3 Estação de Tratamento de Esgoto ................................................................... 62 6.4 Instalação e Monitoramento do Filtro Biológico Percolado. ......................... 64 6.5 Parâmetros Analisados...................................................................................... 67 7 RESULTADOS ........................................................................................................ 67 8 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................... 70 9 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ................................................................... 75 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 76 ANEXO I ..................................................................................................................... 80 ANEXO II .................................................................................................................... 81 ANEXO III ................................................................................................................... 82 ANEXO IV ................................................................................................................... 83 ANEXO V .................................................................................................................... 84 ANEXO VI ................................................................................................................... 85 15 1 INTRODUÇÃO O constante crescimento da população brasileira, aliado com a escassez dos recursos naturais e o aumento do consumismo, têm causado grandes volumes de resíduos poluentes, que são devolvidos à natureza sem nem um tipo de tratamento, causando problemas ambientais e sociais que afetam diretamente na qualidade de vida. Um dos maiores problemas com respeito ao esgoto sanitário é encontrado nos centros urbanos, onde a concentração de resíduos é maior, consequentemente os danos ambientais. Apesar de em muitas cidades ainda prevalecer os tratamentos individuais, ou tratamento nenhum, cada vez mais se vê a necessidade de uma coleta e tratamento adequado para esses despejos. Contudo, para atingir os requisitos mínimos impostos pelos órgãos ambientais, para despejos nos corpos receptores, é preciso maximizas a eficiência desses tratamentos, reduzindo os parâmetros poluidores desse efluente. Considerando os filtros biológicos, como sendo um tratamento secundário, em que a aplicação contínua de esgotos sobre o meio suporte possibilitava o desenvolvimento de condições favoráveis ao crescimento de uma flora e fauna mistas de microrganismos, capazes de produzir limo, mantendo-se um equilíbrio biológico suficiente para decompor a matéria orgânica. A natureza dos materiais utilizados ao longo da história contribuiu para a evolução da tecnologia. Dentre estes: pedra britada, escória de alto-forno, e de maneira mais eficiente, materiais sintéticos de plástico de diferentes formas e tamanhos. Neste contexto, buscando um aumento da eficiência dos filtros biológicos, será desenvolvido um protótipo em escala piloto, com meio de suporte em PVC corrugado, com a finalidade de avaliar e monitorar seu comportamento submetido como tratamento primário de uma estação de tratamento de esgoto desativada, localizada no bairro Montevideo da cidade de Criciúma, Santa Catarina. 16 17 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar o desempenho e o custo benefício de um novo sistema de meios de suporte para filtros biológicos percolados, utilizando material em PVC corrugado. 2.2 Objetivo Específico Definir o índice de vazios e a superfície específica para cada bitola proposta; Construir um filtro biológico percolado em escala piloto, utilizando o diâmetro com a maior superfície específica para meio de suporte; Calcular os parâmetros de projeto e a eficiência do filtro em estudo; Realizar coletas para análises em laboratório; Determinar a eficiência das análises e comparar com a eficiência de projeto; 18 3 JUSTIFICATIVA Com a expansão das obras de saneamento básico há um aumento na procura por materiais para compor o meio de suporte de filtros biológicos com maiores eficiências e que suportem elevadas taxas de aplicações hidráulicas e orgânicas. Para atender esses requisitos implantou-se a idéia de utilizar PVC corrugado como meio de suporte, com a finalidade de aumentar a superfície específica por unidade de volume de enchimento do filtro, elevando sua eficiência de tratamento. 19 4 REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 Histórico Já nos tempos mais remotos, desde que os homens começaram a se assentar em cidades, a coleta das águas servidas, que hoje chamamos de esgoto sanitário, passava a ser uma preocupação daquelas civilizações. Na Roma imperial, eram feitas ligações diretas das casas até os canais. Porém, por se tratar de uma iniciativa individual de cada morador, nem todas as casas apresentavam essas benfeitorias. Na Idade Média, não se tem notícia de grandes realizações, no que se diz respeito ao saneamento. Esses aparentes desleixos, certamente, foram as causas de uma terrível pandemia de peste bubônica na Europa. Sabe-se que, hoje, a peste Bubônica é transmitida por pulgas infectadas por ratos, o que demonstra que a limpeza não era exatamente um atributo daquelas populações. A correlação entre o crescimento populacional e o recrudescimento dos problemas com a saúde pública hoje fica fácil de perceber, quando se apresentam os números desse crescimento. Pode-se perceber que a população mundial demorou cerca de 10.000 anos para atingir a cifra de Um bilhão de habitantes. Percebe-se ainda que o crescimento populacional acentua-se nos séculos XIX e XX, nos quais em 80 anos (1850 – 1930) a cifra de Um bilhão foi duplicada. Hoje se estima um crescimento populacional em torno de 43 milhões de pessoas por ano. O fato considerado mais grave é a maior porcentagem de crescimento nos países “em desenvolvimento”, justamente aqueles em que a infra-estrutura urbana é geralmente deficiente e, portanto, mais sujeitos à degradação ambiental e a problemas de saúde pública (CRESPO, 1997). Em Londres (Inglaterra), somente a partir de 1815, os esgotos começaram a ser lançados em galerias de águas pluviais. A Inglaterra certamente foi um dos países europeus mais castigados por epidemias, por suas cidades ainda não contarem com a necessária infra-estrutura urbana para atender a esse novo contingente populacional. Torna-se evidente o porquê da Inglaterra ser o primeiro país a iniciar pesquisas e adotar as necessárias medidas saneadoras. 20 Com o grande crescimento das cidades em todo o mundo, outros países seguiram o exemplo inglês e começaram a se preocupar com o tratamento de seus esgotos. Nas cidades brasileiras, salvo alguns casos isolados, somente a partir da década de 70, começou a ocorrer um maior avanço na área do saneamento. Hoje, apesar de várias cidades brasileiras já contarem com Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), a grande maioria nem coleta e nem trata seus esgotos. Fatalmente terão que fazê-lo, sob pena de ficarem sem mananciais de água apropriada para abastecimento público e amargarem sérios problemas de saúde pública (IMHOFF, 1985). 4.2 Esgoto Sanitário Segundo definição da norma brasileira NBR 9648 (ABNT 1986), esgoto sanitário é o “despejo líquido constituído de esgotos domésticos e industriais, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária”. Esgoto doméstico é o “despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas”; Esgoto industrial é o “despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitando os padrões de lançamento estabelecidos”; Água de infiltração é “toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações”; Contribuição pluvial parasitária é “a parcela de deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário”. 21 4.3 Características Físicas As principais características físicas que representam o estado em que se encontram águas residuárias são: coloração, turbidez, odor, matéria sólida e temperatura. 4.3.1 Turbidez Assim como a coloração, a turbidez também indica o estado em que o esgoto se encontra. Este parâmetro está relacionado com a concentração dos sólidos em suspensão (Pessôa e Jordão, 1995). 4.3.2 Odor Durante o processo de decomposição, alguns odores característicos de esgotos podem ser gerados. Pessôa e Jordão (1995) citam três odores como sendo os principais: a) odor de mofo, razoavelmente suportável, típico do esgoto fresco; b) odor de ovo podre, “insuportável”, típico do esgoto velho ou séptico, que provém da formação de gás sulfídrico oriundo da decomposição do lodo contido nos despejos; c) odores variados, de produtos podres como de repolho, peixe, legumes; de fezes; de produtos rançosos; de acordo com a predominância de produtos sulfurosos, nitrogenados, ácidos orgânicos, etc. A matéria orgânica e o lodo retidos em alguma fase do tratamento de esgoto podem ocasionar maus odores em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Além disso, as reações que ocorrem no decorrer do tratamento produzem subprodutos que causam mau cheiro (H2S e outros poli enxofres, NH3 e outras aminas). A temperatura também tem influência na emissão de odores. 22 Segundo Belli (1999), as emissões gasosas compostas de nitrogênio, enxofre, solventes e outros compostos orgânicos voláteis podem ser tratados por diversos processos, tais como: absorção por oxidantes, combustão, adsorção, biodesodorização (tratamento biológico dos maus odores) em biofiltros (meio suporte: turfa, composto orgânico ou solo), biolavagem e biopercolação. 4.3.3 Matéria Sólida Pessôa e Jordão (1995) classificam a matéria sólida presente nas águas residuárias segundo a nomenclatura exposta abaixo: a) em função das dimensões das partículas: sólidos em suspensão, sólidos coloidais ou sólidos dissolvidos; b) em função da sedimentabilidade: sólidos sedimentáveis, sólidos flutuantes ou flotáveis ou sólidos não sedimentáveis; c) em função da secagem, a alta temperatura (550 a 600ºC): sólidos fixos ou sólidos voláteis; d) em função da secagem em temperatura média (103 a 105ºC): sólidos totais, sólidos em suspensão ou sólidos dissolvidos. Um dos parâmetros de grande utilização em sistemas de esgotos é a quantidade total de sólidos. Seu módulo é o somatório de todos os sólidos dissolvidos e dos não dissolvidos em um líquido. A sua determinação é normatizada, e consiste na determinação da matéria que permanece como resíduo após sofrer uma evaporação a 103ºC. 4.3.4 Temperatura A temperatura influi diretamente na taxa de qualquer reação química, que aumenta com sua elevação, salvo os casos onde a alta temperatura produza alterações no catalisador ou nos reagentes. Em se tratando de reações de natureza biológica, Pessôa e Jordão (1995) 23 afirmam que a velocidade de decomposição do esgoto aumenta de acordo com a temperatura, sendo a faixa ideal para atividade biológica contida entre 25 e 35ºC, sendo ainda 15ºC a temperatura abaixo da qual as bactérias formadoras do metano se tornam inativas na digestão anaeróbica. 4.4 Características Químicas dos Esgotos Pessôa e Jordão (1995) acreditam que, levando em consideração a origem dos esgotos, estes podem ser classificados em dois grandes grupos: da matéria orgânica e da matéria inorgânica. 4.4.1 Matéria orgânica Cerca de 70% dos sólidos no esgoto médio são de origem orgânica. Esses compostos são constituídos principalmente por compostos de proteínas, carboidratos, gordura e óleos, e, em menor parte, por uréia, surfartantes, fenóis, pesticidas (típicos de despejos industriais, em quantidade), etc. (PESSÔA E JORDÃO, 1995). Von Sperling (1997) ainda divide o material orgânico seguindo o critério de biodegradabilidade, classificando-os em inerte ou biodegradável. 4.4.1.1 Proteínas Produzem nitrogênio e contêm carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, e podem conter fósforo, enxofre e ferro. São basicamente de origem animal, mas ocorrem em vegetais também. O enxofre fornecido pelas proteínas é responsável pela produção do gás sulfídrico presente nos despejos. 24 4.4.1.2 Carboidratos Contêm carbono, hidrogênio e oxigênio, e são as primeiras substâncias a serem atacadas pelas bactérias. Estão presentes principalmente nos açúcares, amido, celulose, etc. A ação bacteriana nos carboidratos produz ácidos orgânicos, que geram um aumento na acidez do esgoto. 4.4.1.3 Gorduras e Óleos Também designados como matéria graxa, as gorduras e os óleos se encontram presentes nos despejos domésticos e sua origem, em geral, se dá pelo uso de manteiga, óleos vegetais, carnes, etc. Além disso, podem estar presentes nos despejos produtos não tão comuns, como querosene, óleo lubrificante e afins, provenientes de garagens. São indesejáveis em um sistema de tratamento de esgotos, pois formam uma camada de escuma e podem vir a entupir os filtros, além de prejudicar a vida biológica. 4.4.1.4 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) A forma mais utilizada para se medir a quantidade de matéria orgânica presente é através da determinação da demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Esta determinação, padronizada pelos “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater” (AWWA, WPFC), mede a quantidade de oxigênio necessária para estabilizar biologicamente a matéria orgânica presente numa amostra, após um tempo dado (tomado para efeito de comparação em 5 dias) e uma temperatura dada (20°C, para efeito de comparação) (PESSÔA E JORDÃO, 1982). 25 A quantidade de matéria orgânica presente, indicada pela determinação da BDO é importante para conhecer o grau de poluição de uma água residuária, para se dimensionar as estações de tratamento de esgotos e medir sua eficiência. Quanto maior o grau de poluição orgânica, maior a DBO do corpo d’água; paralelamente, à medida que ocorre estabilização da matéria orgânica, decresce a DBO (PESSÔA e JORDÃO 1982). Segundo Pessôa & Jordão (1982), a DBO5 normalmente varia entre 100 a 300 mg/l, de acordo com a condição e, nos tratamentos completos, deseja-se uma redução de DBO5 até uma faixa de 20 a 30 mg/l. A DBO ocorre em dois estágios: primeiramente a matéria carbonácea é oxidada, e, em seguida ocorre uma nitrificação. A DBO de 5 dias trabalha na faixa carbonácea (PESSÔA e JORDÃO, 1982). A temperatura é fator relevante na determinação da duração de cada faixa. A duração tende a diminuir com o aumento da temperatura. 4.4.1.5 Demanda Química de Oxigênio (DQO) Demanda química de oxigênio corresponde a quantidade de oxigênio necessária para oxidação da parte orgânica de uma amostra que seja oxidável pelo permanganato ou dicromato de potássio em solução ácida. A DQO leva em consideração qualquer fonte que necessite de oxigênio, seja esta mineral ou orgânica. Já a DBO considera somente a demanda da parte orgânica. Quando se trata de esgotos domésticos, a consideração pertinente fica ao redor da DBO, pois os esgotos domésticos possuem poucos sais minerais solúveis. A rapidez das respostas de DQO também pode ser citada como uma grande vantagem com relação à DBO. Alguns aparelhos, segundo Pessôa & Jordão (1982), conseguem realizar esta determinação em cerca de 2 minutos. O método do dicromato leva duas horas para determinar a DQO do material. Como desvantagem, pode-se apresentar a falta de especificação da velocidade com que a bio-oxidação possa ocorrer. 26 4.4.1.6 Nitrogênio Pode-se conhecer a presença e aquilatar o grau de estabilização da matéria orgânica pela verificação da forma, como estão presentes os compostos de nitrogênio na água residuária (PESSÔA e JORDÃO, 1982). Entretanto, os testes com nitrogênio possuem um papel fundamental na indicação da carga de nutrientes lançados ou presentes num corpo d’água, além de indicar a disponibilidade de nitrogênio para a manutenção da atividade biológica nos processos de tratamento. 4.4.2 Matéria Inorgânica A matéria inorgânica existente nos esgotos é constituída, em geral, de areia e outras substâncias minerais dissolvidas, provenientes de águas de lavagens. Não é usual a remoção deste tipo de material, que pouco influenciará em um sistema de tratamento de esgotos pelo fato de ser um material inerte. Entretanto, deve-se estar atento às possibilidades de entupimento e saturação de filtros e tanques, quando há grande quantidade deste material. 4.4.3 Características Biológicas Os principais microorganismos encontrados nos esgotos são: bactérias, fungos, protozoários, vírus e algas. As bactérias constituem o elemento mais importante biologicamente presente no esgoto, pois são responsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica, tanto na natureza como em unidades de tratamento biológico. 27 4.4.4 Crescimento Bacteriano e Floculação A reprodução bacteriana ocorre, basicamente, por fissão binária, onde cada célula, ao atingir certo tamanho, divide-se em duas novas células. Admitindo-se um tempo de geração típico de 20 minutos, um crescimento sem fatores limitantes iria possibilitar a existência de 2144 bactérias após 48 horas. Tal corresponderia a um peso aproximadamente 4.000 vezes superior ao peso da terra (La Riviére, 1980). Na prática, naturalmente, o crescimento é logo restringido devido à exaustão de nutrientes no meio. (Von Sperling, 1996, p. 107). Além das características metabólicas, as bactérias possuem a capacidade de flocular (se aglutinam e formam flocos), quando entram na fase de declínio em seu crescimento. 28 4.5 Tratamento 4.5.1 Tratamento Preliminar O tratamento preliminar destina-se principalmente à remoção de: - Sólidos grosseiros - Areia Os mecanismos básicos de remoção são de ordem física, como peneiramento e sedimentação. A remoção dos sólidos grosseiros é feita freqüentemente por meio de grades, mas pode-se usar também peneiras rotativas ou trituradores. No gradeamento, o material de dimensões maiores do que o espaçamento entre as barras é retido. A remoção do material retido pode ser manual ou mecanizada. As principais finalidades da remoção dos sólidos grosseiros são: - Proteção dos dispositivos de transporte dos esgotos (bombas e tubulações); - Proteção das unidades de tratamento subseqüentes; - Proteção dos corpos receptores. A remoção da areia contida nos esgotos é feita através de unidades especiais denominadas desarenadores. O mecanismo de remoção de areia é simplesmente o de sedimentação. Existe uma diversidade de processos para a retirada e o transporte da areia sedimentada, desde os manuais até os completamente mecanizados. As finalidades básicas da remoção de areia são: - Evitar abrasão nos equipamentos e tubulações; - Eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações, tanques, orifícios, sifões; - Facilitar o transporte líquido, principalmente à transferência de lodo, em suas diversas fases (UNICALDAS, 2004). 29 4.5.2 Tratamento Primário O tratamento primário destina-se à remoção de: - Sólidos em suspensão sedimentáveis - Sólidos flutuantes Os esgotos, após passarem pelas unidades de tratamento preliminar, contêm ainda os sólidos em suspensão não grosseiros, os quais podem ser parcialmente removidos em unidades de sedimentação. Uma parte significativa destes sólidos em suspensão é compreendida pela matéria orgânica em suspensão. Assim, a sua remoção por processos simples como a sedimentação implica na redução da carga de DBO dirigida ao tratamento secundário. Os tanques de decantação podem ser circulares ou retangulares. Os esgotos fluem vagarosamente através dos decantadores, permitindo a que os sólidos em suspensão, possuindo maior densidade do que a do líquido circundante, sedimentem gradualmente no fundo. Essa massa de sólidos é denominada lodo primário bruto. Em estações de tratamento de esgotos, ela é retirada por meio de uma tubulação única em tanques de pequenas dimensões ou através de raspadores mecânicos e bombas em tanques maiores. Materiais flutuantes, como graxas e óleos, tendo uma menor densidade que o líquido circundante, sobem para a superfície dos decantadores, onde são coletados e removidos do tanque para posterior tratamento. As fossas sépticas são também uma forma de tratamento a nível primário. As fossas sépticas e suas variantes, como os tanques Imhoff, são basicamente decantadores, onde os sólidos sedimentáveis são removidos para o fundo, permanecendo nestes um tempo longo o suficiente (alguns meses) para a sua estabilização. (UNICALDAS, 2004). Esta estabilização se dá em condições anaeróbicas 30 4.5.3 Tratamento Secundário O principal objetivo do tratamento secundário é a remoção da matéria orgânica (MO). Esta se apresenta nas seguintes formas: - Matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel), a qual não é removida por processos meramente físicos, como o de sedimentação, que ocorre no tratamento primário; - Matéria orgânica em suspensão (DBO suspensa ou particulada), a qual é, em grande parte, removida no tratamento primário, mas cujos sólidos de decantabilidade mais lenta persistem na massa líquida. Os processos de tratamento secundário são concebidos de forma a acelerar os mecanismos de degradação que ocorrem naturalmente nos corpos receptores. Assim, a decomposição dos poluentes orgânicos degradáveis é alcançada, em condições controladas, em intervalos de tempo menores do que nos sistemas naturais. A essência do tratamento secundário de esgotos domésticos é a inclusão de uma etapa biológica. Uma grande variedade de microorganismos toma parte no processo: bactérias, protozoários, fungos, etc. A base de todo processo biológico é o contato efetivo entre esses organismos e o material orgânico contido nos esgotos, de tal forma que esse possa ser utilizado como alimento pelos microrganismos, que convertem a MO em gás carbônico, água e material celular. Essa decomposição biológica da MO requer a presença de oxigênio como componente fundamental dos processos aeróbios, além da manutenção de outras condições ambientais favoráveis, como pH, temperatura, tempo de contato, etc. O tratamento secundário geralmente inclui unidades para o tratamento preliminar, mas pode ou não incluir unidades para o tratamento primário. Existe uma grande variedade de métodos de tratamento a nível secundário, sendo que os mais comuns são: Lagoas de Estabilização; Lodos Ativados; Filtro Biológico; Tratamento anaeróbio; 31 Disposição sobre o solo. Este último é um misto de tratamento e disposição final, mas é classificado como nível secundário devido à atuação de mecanismos biológicos e à sua elevada eficiência na remoção de poluentes(UNICALDAS, 2004). 4.6 Filtro Biológico Percolado (FBP) Segundo Pessôa & Jordão (1995), os primeiros filtros biológicos surgiram na Inglaterra, no final do século XIX. No Brasil, somente em 1910, foi construída a primeira estação de tratamento de esgotos utilizando a tecnologia da filtração biológica aeróbia – ETE Paquetá, no Rio de Janeiro. No princípio, essas unidades eram operadas como leitos de contato, onde vários tanques impermeáveis cheios de material granuloso eram construídos uns ao lado dos outros; cada um deles eram enchido de uma a duas vezes por dia com esgoto, permanecendo assim por 2 horas, e em seguida, eram aberta uma descarga no fundo, que provocava o lançamento do efluente tratado biologicamente. O tanque permanecia então vazio, exposto à ventilação até chegar novamente a hora do enchimento (KARL e KLAUS, 1996). O sistema evoluiu a partir da verificação de que a aplicação contínua de esgotos sobre o meio suporte possibilitava o desenvolvimento de condições favoráveis ao crescimento de uma flora e fauna mista de microrganismos, capazes de produzir limo, mantendo-se um equilíbrio biológico suficiente para decompor a matéria orgânica afluente. O meio suporte teve, então, sua granulométrica aumentada, para permitir tanto a percolação do líquido quanto o livre escoamento de ar. A natureza dos materiais utilizados ao longo da história contribuiu para a evolução da tecnologia, dentre estes: pedra britada, escória de alto-forno, e de maneira mais eficiente, materiais sintéticos de plástico de diferentes formas e tamanhos. O filtro consiste em um tanque contendo material de enchimento que forma um leito fixo. Na superfície de cada peça do material de enchimento ocorre a fixação e o desenvolvimento de microrganismos, que também se agrupam, na forma de flocos ou grânulos, nos interstícios deste material. Os compostos orgânicos 32 solúveis contidos no esgoto afluente entram em contato com a biomassa, difundindo-se através das superfícies do biofilme ou do lodo granular, sendo então convertidos em produtos intermediários e finais, especificamente metano e gás carbônico. Nesse sentido, trata-se de um processo de tratamento por oxidação biológica, no qual não ocorre o fenômeno físico de filtração ou peneiramento, e, portanto impropriamente denominado de “filtração”, apesar de assim sê-lo usualmente reconhecido (SANTOS, 2005). Os filtros biológicos percoladores não são muito utilizados quando comparados a outros sistemas de tratamento de esgotos, apesar da grande aplicabilidade que apresentam, principalmente devido à sua simplicidade operacional e baixos custos de operação e instalação. 4.6.1 Princípios de Funcionamento dos Filtros Biológicos Percolados Santos (2005) comenta que a tecnologia se baseia na aplicação contínua e uniforme dos esgotos por meio de distribuídores hidráulicos, que percolam pelo meio suporte em direção aos drenos de fundo. O filtro biológico percolador funciona em fluxo contínuo e sem inundação da unidade. São sistemas aeróbios, permanentemente sujeitos à renovação do ar, que, naturalmente, circula nos espaços vazios do meio suporte, disponibilizando o oxigênio necessário para a respiração dos microorganismos. Os filtros biológicos percoladores são sistemas de tratamento de esgotos baseados no princípio da oxidação bioquímica aeróbia do substrato orgânico presente nos esgotos. Algumas semanas após o início da percolação do esgoto, o meio de suporte recobre-se por uma película mucilaginosa povoadas por bactérias (biofilme), com espessura entre 2 a 3 mm. A absorção dessa camada é mantida pela ação de microorganismo que depende de aeração continua. Segundo Pessôa e Jordão (1995), a intensa atividade biológica favorece o desenvolvimento de bactérias aeróbias, facultativas e anaeróbicas, predominando as bactérias facultativas. Os fungos também estão presentes nos biofilmes e competem com as bactérias na degradação do substrato orgânico. 33 Durante a percolação, uma parte da matéria viva ou morta, bem como parte da substância elaborada, é arrastada pela corrente líquida e pode ser identificada no efluente sob a forma de flocos em suspensão. Desta forma, os filtros biológicos em funcionamento se mantêm permanentemente em condições ótimas (KARL e KLAUS, 1996). O tratamento de esgotos por filtração biológica convencional normalmente requer uma unidade de desinfecção para desativação de microorganismos causadores de doenças. O filtro biológico percolador geralmente consegue reduzir a concentração de coliformes em apenas 1 a 2 unidades logarítmicas, o que não satisfaz as exigências da legislação ambiental, dependendo do grau de diluição no corpo receptor (SANTOS, 2005). Figura 1 - Esquema de funcionamento de um filtro biológico. Fonte: Gonçalves, et al (2004). 4.6.2 Filtros Biológicos de Baixa Taxa Os filtros biológicos são denominados de baixa taxa simplesmente para conceito, pois esta denominação se refere à taxa de aplicação hidráulica, que fica entre 1 a 4 m³/m² dia. Esse sistema apresenta eficiência de remoção de carga 34 orgânica comparável à eficiência usualmente promovida pelo sistema de lodos ativados convencional. Apesar de requerer área superficial um pouco maior e de apresentar menor capacidade de ajuste às variações do afluente, quando comparadas ambas às tecnologias, o filtro biológico, de forma geral, pode ser considerado mais simples, além de não demandar consumo de energia elétrica. O efeito de arrastamento das partes de matérias vivas ou mortas é muito fraco. Os sólidos formados ficam aderentes ao meio de suporte em sua maior parte e são constantemente recobertos por novas camadas dos mesmos sólidos. Algumas películas são arrancadas das camadas superiores mas ficam presas nas camadas inferiores. Desta maneira, fica retido no interior do filtro o lodo orgânico, que aí deve ser estabilizado, tomando parte no consumo do oxigênio (Karl e Klaus, 1996). Segundo Metcalf & Eddy (2003), dentre as modalidades de filtração biológica aeróbia, é a que além de apresentar a melhor eficiência na remoção de DBO, possibilita a nitrificação, caso a população nitrificante seja suficientemente bem estabilizada, e se as condições do clima e das características do afluente forem favoráveis. Nesta modalidade, a carga orgânica afluente por unidade de volume é baixa, resultando em menor disponibilidade de substrato, e conseqüentemente elevada remoção de DBO, nitrificação e parcial estabilização do lodo. A modalidade, quando comparada ao sistema de alta taxa, requer uma maior área superficial, devido à aplicação de menor carga hidráulica. A aplicação de baixa carga hidráulica permite o largo desenvolvimento e a intensa proliferação de moscas (Psycoda) na superfície do meio suporte. Odor também pode ocorrer em função de condições sépticas decorrentes da elevada permanência e do não desprendimento do biofilme aderido ao meio suporte (CHERNICHARO, 2001). 4.6.3 Filtros Biológicos de Taxa Intermediária Os filtros de taxa intermediária são projetados segundo carga superior aos filtros de baixa taxa, entre 4 a 10 m³/m² dia. Considerando que o aumento da carga orgânica aplicada possa resultar em menor eficiência de remoção, é recomendada a recirculação do efluente tratado. Isso, para manter uniforme a vazão 35 afluente, criando novas oportunidades de estabilização aumentando o tempo de contato e melhorando a eficiência do sistema. O efluente produzido nesta modalidade de filtração biológica é parcialmente nitrificado. Apesar da maior carga hidráulica aplicada, pode esta modalidade ainda propiciar o desenvolvimento de moscas (METCALF & EDDY, 1991). 4.6.4 Filtros Biológicos de Alta Taxa Neste filtro são aplicadas taxas hidráulicas na faixa de 10 a 60 m³/m² dia e são os mais utilizados por apresentar menor requisitos de área superficial. Em conseqüência da elevada carga de DBO por unidade de metro quadrado, o efluente tratado por esses filtros apresentam uma inferioridade na eficiência de remoção da matéria orgânica e a não estabilização do lodo do filtro. Nos filtros de alta taxa é que são utilizados os meios suportes plásticos, em função das características físicas potenciais que o material apresenta em relação aos princípios de funcionamento do processo. Não obstante, meios em pedra podem também ser utilizados, porém submetidos a taxas inferiores que aquelas aplicadas nos meios plásticos (SANTOS, 2005). O efluente produzido nesta modalidade de filtração biológica não é nitrificado e, em função da elevada carga hidráulica, os sólidos ainda não estabilizados desprendem-se do meio de suporte. A carga hidráulica elevada também é responsável pelo não desenvolvimento de moscas (METCALF e EDDY, 1991). Neste caso, a recirculação em razões elevadas é usualmente praticada. Metcalf & Eddy, (1991) relatam que a recirculação do efluente do filtro para o próprio filtro permite o retorno de organismos viáveis, tendo-se assim observado o aumento da eficiência do processo de tratamento. Das particularidades expostas pode-se deduzir o motivo pelo qual o filtro de alta capacidade consegue depurar maiores volumes de esgoto com o mesmo volume de material filtrante, pois não cabe ao filtro a operação de estabilização do lodo no interior da própria unidade. Esses sólidos são arrastados para fora do filtro e a energia vital que despendia com tal estabilização é transferida para outra unidade 36 das estações de tratamento, como, por exemplo, para os digestores (KARL e KLAUS, 1996). 4.6.5 Filtros Biológicos Grosseiro Trata-se de um filtro de alta taxa utilizado no pré-tratamento de esgoto, a montante do tratamento secundário. O material de enchimento é sintético e a alimentação é realizada continuamente. É de uso mais comum para despejos com concentrações de DBO mais altas. Perdeu muito sua aplicação com o desenvolvimento dos reatores UASB, que vêm sendo utilizado em detrimento aos filtros grosseiros. Tabela 1 - Características típicas dos diferentes tipos de filtros biológicos percoladores. BAIXA TAXA TAXA INTERMEDIÁRIA Pedra Pedra Taxa de Aplicação Superficial (m3/m2.d) 1,0 a 4,0 4,0 a 10,0 Taxa de Aplicação Orgânica (Kg DBO/m3.d) 0,1 a 0,3 0,2 a 0,5 Moscas Muitas Médio Arraste de Biofilme Intermitente Intermitente Profundidade (m) 1,5 a 2,5 1,5 a 2,5 Remoção de DBO* (%) 80 a 90 80 a 85 Intensa Parcial CONDIÇÕES OPERACIONAIS Meio de Suporte Nitrificação ALTA TAXA Pedra Plástico 10,0 a 40,0 10,0 a 75,0 0,4 a 2,5 0,5 a 3,0 Pouca Pouca Contínuo Contínuo 0,5 a 2,5 1,0 a 12,0 8 a 90 8 a 90 Parcial Limitada Fonte: Adaptado de Chernicharo, et al. (2001); Pessôa e Jodão (1995); Metcalf & Eddy (2003). 37 4.6.6 Dispositivo de Distribuição Acima da superfície livre dos filtros é implantado o sistema de distribuição do esgoto, que possibilita a aplicação uniforme da carga hidráulica sobre a superfície do meio de suporte, garantindo o continuo crescimento e desprendimento do biofilme e a otimização do processo de filtração biológica aeróbia. Sabe-se que da eficiência de molhamento da área superficial depende o desempenho da unidade; o meio suporte não contínua e uniformemente umedecido não permite um bom desempenho da unidade. Wheatley & Williams (1981) comentam que a obtenção de diferentes performances das unidades de filtração biológica utilizando meio suporte em plástico, pedra e cascalho, deveu-se, além do tipo de meio suporte empregado, às condições de umedecimento da unidade. Os distribuidores rotativos produzem maior uniformidade na aplicação, são constituídos de braços distribuidores rotativos engastados que giram em torno de uma coluna central. Basta uma carga hidrostática de 0,50 m para que os jatos de esgoto que passam pelos orifícios existentes ao longo e lateralmente à tubulação possam movimentar o distribuidor. São indispensáveis para filtros biológicos de altas taxas, quanto maior a taxa de aplicação, maior deve ser o número de braços distribuidores. Bocais de aspersão fixos adaptam-se melhor ao terreno. A carga hidrostática necessária, incluído à perda de altura nas câmaras de distribuições, é de 1 a 2 m. As câmaras de distribuição são executadas em duplicata a fim de que uma se encha enquanto a outra se esvazia. As variações de pressão durante a descarga provocam uma distribuição um uniforme do líquido por toda superfície correspondente por cada bocal. São utilizados para distribuição de esgoto em filtros biológicos de baixa taxa. 4.6.7 Meio de Suporte Meio de suporte é o enchimento dos filtros biológicos percolados, tem a finalidade de suporte para o crescimento da biomassa, por onde escoa o esgoto. O 38 preenchimento utilizado depende principalmente da disponibilidade local de material adequado e de seu custo de fabricação e transporte. Tradicionalmente, têm sido utilizados pedras britadas, elementos cerâmicos, elementos em madeira, bambu, blocos modulares de plástico, cilindros vazados de plástico, esferas perfuradas de plástico entre outros materiais inertes. Pessôa e Jordão (1995) ressaltam que material selecionado é racionalmente arrumado nos tanques, de modo a permitir que o esgoto e o ar possam circular fluentemente, mantendo o ambiente nas condições aeróbicas favoráveis ao equilíbrio da cultura biológica. Para a escolha do tipo de enchimento necessita-se do peso específico, da superfície específica e do índice de vazios. O peso específico do meio suporte refere-se principalmente à questão estrutural do filtro biológico. A superfície específica do meio suporte está relacionada com a área de contato entre o líquido e o biofilme formado. O índice de vazios influencia a circulação dos esgotos e do ar, por entre a camada suporte. A extensão da superfície recoberta de película biologicamente ativa em 1 m³ de filtro depende da granulometria do meio. A granulação menor deverá ser mais eficiente, pois, em 1 m³ de filtro, haverá maior superfície recoberta. A pedra britada de 4 a 8 cm, por exemplo, possui uma superfície de 95 m²/m³, ao passo que a brita entre 2,5 e 4 cm tem-na de 190 m²/m³, então 1 m³ de pedras de 3 cm de diâmetro médio deveria ser capaz de tratar o dobro da vazão de esgoto que pode ser tratado por 1 m³ de pedras de 6 cm. Contudo, sucede que cada interstício individual entre as pedras de 3 cm vale só um oitavo do volume de cada interstício entre as pedras de 6 cm, devendo-se reconhecer que, a partir de determinado tamanho dos fragmentos, há um limite, abaixo do qual não é mais possível haver espaço para a camada biológica bem como a passagem de ar e esgoto. De acordo com Karl & Klaus (1996), através de experiências práticas, verificou-se que, com pedras de granulação mais fina, consegue-se uma eficiência pouco mais elevada, no máximo de 50%. Por esse motivo, pode-se recomendar a granulométrica adotada no Estados Unidos, entre 4 e 8 cm de diâmetro médio. Recomenda-se manter a mesma granulométrica em toda profundidade do filtro, com exceção das camadas inferiores, que podem ter diâmetros médios maiores, pois assim servirão de suporte às camadas superiores e permitirão o emprego de aberturas maiores nas placas do fundo. 39 Karl & Klaus (1996) adotam também o emprego de materiais mais grosseiros nas camadas superiores, a fim de evitar formação de poças superficiais oriundas do entupimento provocado pela proliferação excessiva de fungos. Materiais sintéticos, por exemplo, plásticos oferecem índices de vazios de 90 a 97% e superfície especifica entre 80 a 500 m²/m³, enquanto pedra britada possui índice de vazios de 50% e superfície específica 50 m²/m³ contra aproximadamente 100 m²/m³ e 54% de índice de vazios e superfície especifica da escória de alto forno. Henze & Harremöes (1983) ressaltam que o material plástico apresenta duas grandes vantagens além do índice de vazios e a superfície especifica, eles permitem maior acúmulo de sólidos biológicos e minimizam a formação de zonas mortas. Já para os filtros com fluxo descendente, a superfície específica do meio suporte desempenha papel mais significativo. Young (1990) recomenda que o meio suporte ocupe entre 50 a 70% do volume dos filtros e que sua superfície específica seja superior a 100 m²/m³. Estudos sobre a adesão de bactérias metanogênicas em diferentes superfícies poliméricas têm indicado que a maioria desses microorganismos adere preferencialmente a superfícies hidrofóbicas (VERRIER, 1988). A altura do enchimento tem, igualmente, relação com a concentração dos esgotos: quanto maior a concentração, tanto maior deve se a altura, a fim de aumentar a extensão de percolação bem como o tempo de detenção. Além disso, a capacidade de depuração de um filtro aumenta com sua altura. De maneira geral, pode-se recomendar para o futuro a adoção de filtros mais altos, desde que consiga uma boa ventilação através da soleira (KARL e KLAUS, 1996). 4.6.8 Sistema de Drenagem O sistema de drenagem de fundo de um filtro biológico consiste de uma laje perfurada, ou de grelhas confeccionadas em material resistente, e de um conjunto de calhas localizadas na parte inferior do filtro. O sistema possibilita a coleta do líquido percolado e dos sólidos desprendidos do meio suporte e ainda 40 permite o escoamento do ar atmosférico e a transferência do oxigênio requerido pelo processo aeróbio (SANTOS, 2005). Karl & Klaus (1996), comentam que a construção do sistema de drenagem ou soleira do filtro, deve ser executada de tal forma que a água possa escoar facilmente, sem permitir a sedimentação dos sólidos. Na maioria das vezes, constrói-se um fundo falso: a placa superior sustenta o meio filtrante e é perfurada por fendas ou orifícios, já a placa do fundo é destinada ao escoamento da água e, com tal finalidade, é dotada de canaletas. Entre as duas placas fica o espaço para a circulação do ar. Para evitar possíveis problemas, a soleira do filtro deve ser aberta em ambas às extremidades, de forma a possibilitar a inspeção e a eventual limpeza com jatos de água. 4.6.9 Ventilação A ventilação dos filtros é importante para se manter as condições aeróbias necessárias para o efetivo tratamento dos despejos pela via aeróbia. Se propiciadas passagens adequadas para o ar, a diferença entre temperaturas do ar e do líquido é considerada suficiente para produzir a aeração necessária. Segundo Karl & Klaus (1996), as aberturas para a passagem do ar através da soleira devem ser dimensionadas de maneira a permitir uma corrente de ar vertical, que poderá circular de cima para baixo ou de baixo para cima, considerada suficiente para abastecer a atividade anaeróbica, que fica em torno de 0,3 m/mim, tendo que se adotar uma área de abertura de 1 a 5% da área do filtro. Para passagem da corrente de ar, pela laje de sustentação do material de enchimento, deve-se ter uma área de vazios correspondente a 15% da área horizontal do filtro. A ventilação natural pode ser efetuada a partir da superfície nos filtros de pequena altura (até cerca de 1 m de profundidade), sendo que os processos biológicos exercem uma ação de aspiração sobre o oxigênio do ar externo. Nos filtros de maior profundidade, a renovação do ar a partir da superfície é insuficiente. É necessário haver uma corrente de ar, que se realiza verticalmente 41 de cima para baixo, ou de baixo para cima, conforme a densidade do ar no interior do filtro seja menor ou maior que a do ar circundante. A temperatura do ar interno se iguala quase que exatamente à do esgoto percolado, sendo mais fria no inverno, portanto menos densa, e no verão mais quente que o ar ambiente, fazendo que o sentido do fluxo de ar seja no inverno de baixo para cima e no verão de cima para baixo (KARL e KLAUS, 1996). Halvorson (1936) verificou que uma diferença de temperatura de 6ºC provoca uma corrente de 0,3 m³/m² por minuto, no sentido descendente, sendo interrompida quando a diferença de temperatura fica em 2ºC, abaixo deste ponto o sentido do ar fica ascendente. Pode se empregar a ventilação forçada, em casos que a natural não seja suficiente, podendo ser introduzida ou aspirada pela soleira, não tendo à menor influência sobre a eficiência do filtro comparando com a ventilação natural. Figura 2 - Circulação de ar no interior de um filtro biológico. FONTE: Karl & Klaus, Manual de Tratamento de Águas Residuárias (1996). 42 4.7 Biofilme A comunidade biológica que se fixa no meio de suporte dos filtros biológicos é denominada de biofilme e se constitui por bactérias de espécies como Achromobacter, Flavobacterium, Pseudomonas, Alcaligenes. Em todos os reatores com biomassa fixa os processos metabólicos de conversão ocorrem no interior do biofilme. O transporte de substratos se realiza através de processos de difusão, inicialmente através do filme líquido na interface líquido/biofilme e, em seguida, através do próprio biofilme. Os produtos das reações de oxiredução são transportados no sentido inverso, ao exterior do biofilme. Tanto o substrato doador quanto o receptor de elétrons devem penetrar o biofilme para que a reação bioquímica se processe (GONÇALVES, 2005). Figura 3 - Representação esquemática de um biofilme, adaptado de METCALF & EDDY (1991), Von Sperling (1996). FONTE: Ana Silva, Avaliação de Desempenho de um Filtro Biológico Percolado em Diferentes Meios Suporte Plástico (2005). 43 Figura 4 - Mecanismos e processos envolvidos com o transporte e degradação do substrato em biofilmes. FONTE: Gonçalves, set al. (2005). Neste contexto, a quantificação das limitações à transferência de massa assume importância significativa para que se possa projetar reatores que apresentem melhor desempenho. Esse desempenho está diretamente relacionado com a minimização dessas limitações, pois a velocidade global de reação nesses sistemas heterogêneos pode ser reduzida devido à transferência de massa entre as fases (GONÇALVES, 2005). Em muitos sistemas aeróbios, a velocidade de transferência de oxigênio para as células é o fator limitante, que determina a velocidade de conversão biológica. A disponibilidade de oxigênio para os microorganismos depende da solubilidade e da transferência de massa, bem como da velocidade com que o oxigênio dissolvido é utilizado. Em reatores com biofilme, utilizados para póstratamento de efluentes anaeróbios, os mecanismos de transporte envolvem oxigênio e nitrogênio amoniacal (O2 e N – NH+4), além de intermediário (N – NO-2) e produto final ( N – NO-3). Segundo Chisti (1989), o oxigênio, por ser pouco solúvel em água, tornase freqüentemente o fator limitante em processos aeróbios. As principais etapas de transporte de oxigênio são ilustradas na Figura 4.4, na qual são identificadas oito possíveis estruturas resistivas à transferência de massa. 44 Figura 5 - Diagrama esquemático das etapas envolvidas no transporte de oxigênio. (Adaptado de BAILEY e OLLIS, 1986 por FAZOLO, A., 2000). FONTE: Gonçalves, Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbicos por Reatores de Biofilme, (2005). As resistências consideradas nos sistemas são segundo Franci, (2005): 1 - no filme gasoso dentro da bolha, entre o seio do gás na bolha e a interface gás-líquido; 2 - na interface gás-líquido; 3 - no filme líquido, próximo à interface gás-líquido, entre essa interface e o meio líquido; 4 - no meio líquido; 5 - no filme líquido, entre o meio líquido e a interface líquido-sólido (resistência externa); 6 - na interface líquido-sólido; 7 - na fase sólida (resistência interna); 8 - nos sítios de reação bioquímica (dentro dos microorganismos). A magnitude relativa dessas resistências depende da hidrodinâmica da bolha, da solubilidade do oxigênio, da temperatura, da atividade celular, da composição da solução e de fenômenos interfaciais (BAILEY E OLLIS, 1986). Portanto, a profundidade de penetração da dupla redox de substratos no biofilme é de fundamental importância na determinação da taxa global de degradação no 45 reator. A situação ideal corresponde a um biofilme completamente penetrado pelos dois substratos, resultando numa reação limitada exclusivamente pela taxa máxima da reação bioquímica. Entretanto, o caso mais comum no tratamento de esgotos sanitários é a penetração parcial de, pelo menos, um dos dois substratos em um biofilme espesso, causada por uma taxa volumétrica intrínseca de degradação elevada e uma grande resistência à difusão no biofilme. Neste caso, apenas a fina camada mais externa do biofilme será ativa com relação à reação em questão, restando biomassa inativa nas camadas mais profundas. Uma reação bioquímica intrinsecamente de ordem zero se transforma em ordem ½, diminuindo a taxa superficial de degradação global (GONÇALVES ,2005). Por outro lado, as condições hidrodinâmicas severas nos biofiltros propiciam o desenvolvimento de um biofilme fino e muito ativo, sobretudo nas camadas do leito filtrante que não entram em contato com o esgoto decantado. Cargas hidráulicas de 2 m³/m².h (esgoto) e 15 m²/m³.h (ar) são comumente praticadas no tratamento secundário, resultando num meio granular trifásico submetido à elevada turbulência. A associação da turbulência e da elevada velocidade do líquido controla a espessura do biofilme e diminui a resistência à difusão no filme líquido. Além disto, elevadas vazões de ar aumentam a concentração de oxigênio na fase líquida, facilitando a sua difusão no biofilme. De acordo com Characklis (1991), citado por Gonçalves (2005), o desprendimento da película é o principal fator que influencia o desempenho de um sistema de biofilme e ainda distingue o desprendimento causado por erosão e por cisalhamento. O cisalhamento está relacionado a esporádicos desprendimentos de maiores fragmentos de película, resultante de alterações dentro do próprio biofilme. O cisalhamento é normalmente observado quando há grande concentração de substrato e escoamento não turbulento. Characklis (1991) afirma que o processo de cisalhamento está mais relacionado ao desempenho dos filtros biológicos percolados do que a erosão, mas ressalta que os fenômenos de erosão e cisalhamento não são necessariamente excludentes. Quando o biofilme é espesso, as forças de erosão certamente atuarão com maior facilidade e o oposto também se verificará. 46 Ramalho (1983), comenta que a espessura da camada de biofilme está compreendida entre 0,1 e 2,0 mm. Acima de 2,0 mm cria-se um efeito prejudicial para o filtro, podendo representar um relevo, prejudicando o escoamento do efluente e a transferência de oxigênio aos microorganismos aeróbios. 4.8 Parâmetros de Projeto Os parâmetros de dimensionamento de um filtro biológico percolador são a taxa de aplicação superficial hidráulica e a taxa de aplicação orgânica volumétrica, que também são os critérios de classificação em baixa taxa, taxa intermediária e alta taxa, como demonstrado na Tabela 1. 4.8.1 Taxa de Aplicação Hidráulica A taxa de aplicação hidráulica superficial refere-se à quantidade de esgotos aplicados diariamente ao filtro, por unidade de área do meio suporte. Qs: taxa de aplicação hidráulica superficial (m³/m².d) Q: vazão afluente (m³/d) A: área da superfície livre do meio suporte (m²) Para filtros de alta taxa, a carga hidráulica é muito importante para que ocorra o efeito de lavagem, necessário para este tipo de filtro. Fruto das pesquisas realizadas no âmbito do PROSAB, com filtros biológicos de alta taxa utilizados para o pós-tratamento de efluentes de reatores UASB, tem-se observado que os FBP são capazes de produzir efluentes que atendem aos padrões de lançamento estabelecidos pelos órgãos ambientais, em 47 termos de concentração de DBO e sólidos suspensos, quando os mesmos são operados com taxas de aplicação hidráulica superficial máximas da ordem de 20 a 30 m³/m² dia. 4.8.2 Taxa de Aplicação Orgânica A carga orgânica volumétrica refere-se à quantidade de matéria orgânica aplicada diariamente ao filtro biológico, por unidade de volume do meio suporte. Cv: carga orgânica volumétrica (kgDBO/m³.d) Qméd: vazão média afluente (m³/d) Sa: concentração de DBO do esgoto afluente (kgDBO/m³) V: volume ocupado pelo meio suporte (m³) Da mesma forma que para a taxa de aplicação superficial, as pesquisas realizadas no âmbito do PROSAB têm indicado que os FBP são capazes de produzir efluentes que atendem aos padrões de lançamento estabelecidos pelos órgãos ambientais, em termos de concentração de DBO, quando os mesmos são operados com cargas orgânicas volumétricas máximas da ordem de 0,5 a 1,0 kgDBO/m³.d. 48 5 MODELOS MATEMÁTICOS PARA DIMENSIONAMENTO O propósito das fórmulas de projeto é obter uma relação entre sua eficiência, a carga hidráulica, aplicação orgânica, as características e altura do meio de suporte. Os modelos matemáticos existentes para dimensionamento dos filtros biológicos são diferenciados pelos critérios, onde existem fórmulas que se referenciam em critérios empíricos, baseadas em correlação de dados operacionais resultantes de experiências realizadas sobre um grande número de leitos percoladores. Outras formulações de dimensionamento voltadas para os critérios racionais, baseadas em interpretação teórica dos resultados experimentais, tendo sido atualmente mais utilizadas para dimensionamento do meio de suporte plástico. 5.1 Fórmula do NRC – National Research Council Fórmula do NRC é um critério empírico, resultante de extensa análise de registros operacionais de 34 estações de tratamento de esgotos de instalações militares, que utilizavam a tecnologia da filtração biológica com meio suporte de pedra. A análise de dados leva à conclusão de que a interação entre a biomassa e a matéria orgânica depende das dimensões do filtro e da recirculação do efluente, uma vez que do efetivo contato entre as partes, depende a maior eficiência do processo. Conclui também que a aplicação de maior carga orgânica resulta em menor eficiência, enfatizando como principal característica do processo a dependência do contato efetivo com a carga orgânica aplicada (SANTOS, 2005). 49 onde: E = Eficiência de remoção de DBO5 (%) TAO = Taxa de Aplicação Orgânica (kgDBO/m³.d) F = Fator de recirculação r = Razão entre a vazão de recirculação (Qr) e vazão afluente (Qa). Metcalf & Eddy (2003) relatam que para a utilização de filtros biológicos com meio suporte plástico, deve-se utilizar esta expressão com ressalvas, visto que não há ainda informações consolidadas para tal. 5.2 Critério de Eckenfelder Eckenfelder relacionou de maneira racional a remoção da DBO, expressa pela porcentagem da DBO remanescente (DBOefl/DBOafl) com a profundidade do meio suporte e com a carga hidráulica aplicada. onde: DBOefl = DBO afluente ao filtro (mg/l) DBOafl = DBO efluente ao filtro (mg/l) H = Profundidade do meio suporte (m) K, n = constantes de reação, função do tipo de meio suporte e da superfície específica 50 TAS = Taxa de aplicação superficial ou carga hidráulica aplicada (m³/m².d). De acordo com o meio suporte utilizado, a constante n varia entre 0,2 e 1,1, sendo o valor médio de 0,5 razoavelmente aceito. Já o valor de K, depende do tipo de material suporte e da sua superfície específica. Pode ser determinado em laboratório ou em escala piloto; cada tipo de meio plástico industrializado apresenta especificamente seus respectivos coeficientes de remoção (METCALF e EDDY, 2003). Para avaliação da eficiência dos meios filtrantes, Eckenfelder relaciona a altura do meio de suporte com a carga hidráulica aplicada. Onde: D = altura do leito (m) Ch = Carga hidráulica (m³/m².dia) K, m, n = Constante E = Eficiência. 5.3 Coeficiente de Remoção K O valor do coeficiente de remoção de DBO deve ser ajustado para a profundidade e taxa de carregamento orgânico. 51 Onde: k2 = valor de k para determinado meio de suporte, profundidade e concentração de DBO k1 = valor determinado por Dow Chemical Company S1 = 150 g DBO/m³ S2 = concentração do afluente D1 = 6,1 m, profundidade do enchimento D2 = profundidade do enchimento proposto. Dow Chemical Company em estudos com filtros pilotos com diferentes águas residuárias, determinou o valor para k1 para esgoto doméstico igual a 0,210 (METCALF & EDDY, 2003). 52 6 METODOLOGIA 6.1 Escolha do material de enchimento Para enchimento do filtro biológico percolado utilizou-se conduítes plástico corrugado, cortados com 5 centímetros de comprimento, com a finalidade de aumentar a superfície específica por unidade de volume. 6.1.1 Diâmetro dos Conduítes Com base no referencial teórico, optou-se por três diâmetros diferentes para avaliação dos índices de vazios e superfícies específicas. 1 – Conduíte Ø 9 cm 2 – Conduíte Ø 5,5 cm 3 – Conduíte Ø 4 cm Figura 6 – Conduítes Corrugado. FONTE: Do Autor ( 2009). 53 6.1.2 Procedimento para Definição dos Índices de Vazios Para definição do índice de vazio, utilizou-se um recipiente de plástico na qual a área superficial não variava com o acréscimo da altura. Para medir a altura da água a ser despejada no recipiente, fixo-se uma régua graduada numa das laterais, tendo o zero da régua colocado no fundo do recipiente. Enchendo o recipiente com água e medindo sua altura na régua, obtêm o volume de água. Com o volume existente conhecido, despejaram-se os conduítes e medindo novamente na régua a nova altura da água, obtendo um segundo volume. Dividindo-se o volume inicial pelo volume final, obteve-se o índice de vazios de cada diâmetro listados na tabela abaixo. Tabela 2 – Índice de vazios conduítes corrugados. Diâmetro Índice de Vazios (%) Ø 4,0 cm 95,20 % Ø 5,5 cm 96,26 % Ø 9,0 cm 97,03 % 54 Figura 7 – Recipiente Plástico com Régua Graduada Fixada. FONTE: Do Autor ( 2009). 6.1.3 Procedimento para Definição da Superfície Específica Já com a superfície especifica, empregou-se o paquímetro para coleta de medidas com precisão e software de computação gráfica (AutoCad) para o desenho da corrugação dos conduítes, seguindo os seguintes passos. 1 – Corte dos conduítes com comprimento de 50 mm 2 – Coletas das medidas com o paquímetro 3 – Representação gráfica dos conduítes e suas ondulações no programa 4 – Determinação do comprimento total. 55 Figura 8 – Representação gráfica do conduíte Ø 4,0 cm. FONTE: Do Autor ( 2009). Conhecendo o comprimento total de cada diâmetro fornecido pelo programa (por exemplo, 68,32 mm para o conduíte de Ø 4,0 cm), e aplicando na fórmula abaixo, obtêm a superfície especifica para cada bitola. Ajustando a fórmula para o material utilizado fica: Onde: SExp = Superfície específica (m²/m³) 2 = Refere-se à superfície interna e externa do conduíte Ct = Comprimento total r = Raio 0,05 = Comprimento do conduíte cortado em metros. 56 Tabela 3 – Superfície Especifica. Comprimento do Comprimento Superfície Diâmetro mm Conduíte Cortado mm Total mm Especifica m²/m³ Ø 40 50 68,32 304,48 Ø 55 50 91,10 205,11 Ø 90 50 88,20 118,77 Analisando a Tabela 3, com base no referencial teórico, confirmou-se que ao aumentar o diâmetro do meio de suporte, a superfície específica foi reduzida, sendo adotado para preencher o filtro biológico percolado em escala piloto o conduíte corrugado de 4,0 cm de diâmetro, tendo a maior superfície específica entre as granulometrias propostas. 6.2 Considerações para o Dimensionamento do Filtro Biológico em Escala Piloto O dimensionamento do protótipo de um filtro biológico percolado, partiu inicialmente das limitações dos materiais de envolvimento e sustentação do meio de suporte. Tendo em vista que o protótipo teria que ser leve e de fácil manuseio, optou-se por construí-lo a partir de um tubo de PVC rib loc de Ø 50 cm e 220 cm de comprimento, que oferece rigidez suficiente para suportar o peso dos conduítes. Analisando o local de instalação autorizado pela CASAN, percebeu-se que o sistema de tratamento existente não estava em funcionamento, tendo somente a coleta do esgoto residencial, fazendo com que o efluente a ser aplicado no filtro não passe por um tratamento inicial. Prevendo possíveis entupimentos no sistema de armazenamento, avaliou-se a menor vazão de saída do reservatório, sem que haja obstrução do fornecimento de esgoto para o dimensionamento dos parâmetros de projeto e eficiência. 57 Tabela 4 – Detalhes Construtivos do Filtro Biológico Percolado. Altura Total 2,20 m Diâmetro 0,50 m Área Superficial 0,196 m² Profundidade do Enchimento 1,30 m Volume do Enchimento 0,255 m³ Altura do Sistema de Distribuição 0,30 m Profundidade do Sistema de Drenagem e Ventilação 0,60 m Vazão Média 3,357 m³/dia Figura 9 – Protótipo Filtro Biológico Percolado. FONTE: Do Autor ( 2009). 58 Figura 10 – Meio de Suporte em Plástico Corrugado. FONTE: Do Autor ( 2009). Figura 11 – Vista Interna Filtro Biológico. FONTE: Do Autor ( 2009). 59 Figura 12 – Sistema de Distribuição. FONTE: Do Autor ( 2009). Conhecendo as características do modelo proposto, determinaram-se os parâmetros de projeto. 6.2.1 Cálculo da Taxa de Aplicação Hidráulica Diâmetro do filtro = 0,5 m; Vazão média = 3,357 m³/dia; 60 Taxa de aplicação hidráulica: 6.2.2 Cálculo da Taxa de Aplicação Orgânica Vazão média = 3,356 m³/dia; Concentração DBO do esgoto = 0,3 Kg/m³; Volume do meio de suporte = 0,196 m³ Analisando suas taxa de aplicação hidráulica e orgânica, de acordo com a classificação da tabela 1, o protótipo do filtro biológico percolado fica enquadrado como de alta taxa. 61 6.2.3 Determinação do Coeficiente de Remoção K Coeficiente de remoção de DBO K, para o filtro biológico em estudo; K1 = 0,210 S1 = 150 g DBO/m³ S2 = 300 g DBO/m³ D1 = 6,1 m D2 = 1,30. 6.2.4 Determinação da Eficiência D = 1,30 m Ch = 17,128 m³/m².dia K = 0,322 m, n = 0,5 62 6.3 Estação de Tratamento de Esgoto Localizada no bairro Montevideo no município de Criciúma, Santa Catarina. Recebe esgoto doméstico proveniente de aproximadamente 200 residências. Seu sistema de tratamento consiste em lodo ativado contínuo com tanque de aeração e decantação secundária. No entanto a ETE não está em operação por falta de manutenção, ocasionando que o afluente aplicado ao filtro seja esgoto in natura, sem tratamento preliminar. 63 Figura 13 – Estação de Tratamento de Esgoto Bairro Montevideo. FONTE: Do Autor (2009). Figura 14 – Gradeamento Grosseiro, Caixa de Areia e Poço de Visita. FONTE: Do Autor (2009). 64 6.4 Instalação e Monitoramento do Filtro Biológico Percolado. A planta do sistema de tratamento consiste basicamente em três etapas, recalque do esgoto, armazenamento e distribuição para o sistema de tratamento. Figura 15 – Diagrama do Sistema de Tratamento. FONTE: Do Autor (2009). O esgoto coletado chega ao poço de visita vindo do gradeamento grosseiro. Do poço de visita o efluente é bombeado para o reservatório de 500 litros, onde seu volume é controlado por duas chaves de nível, uma localizada no poço de visita, que controla o nível mínimo para que a bomba não ligue sem esgoto, e a segunda no reservatório, monitorando o seu nível mínimo e máximo. No reservatório, o primeiro registro regula a vazão de saída para o filtro e o segundo tem a função de drenar o material decantado no fundo. O monitoramento da unidade, feito diariamente, é demonstrado na tabela abaixo. 65 Tabela 5 – Monitoramento do Filtro. Data da Problema Visita Descrição da Visita Encontrado Solução Adotada. 24/03/09 Visita a estação de Bomba de recalque Implantação de uma tratamento do bairro da ETE queimada. bomba de recalque no 08/04/09 Montevideo, para poço de visita para definir posição do filtro alimentação do e reservatório. reservatório. Implantação do filtro biológico percolado. 09/04/09 Start do filtro. 10/04/09 Visita de Bomba de recalque Implantação de uma monitoramento. trabalhando sem chave de nível no esgoto. poço de visita. Visita de Entupimento do Limpeza dos furos de Monitoramento sistema de esguicho. 13/04/09 distribuição. 14/04/09 Visita de Entupimento do Limpeza dos furos de Monitoramento sistema de esguicho. distribuição. 15/04/09 Visita de Entupimento do Troca do sistema de Monitoramento sistema de distribuição. distribuição. 20/04/09 25/04/09 Visita de Entupimento do registro Limpeza do Monitoramento de saída para o filtro. reservatório. Visita de Entupimento do registro Implantação de um Monitoramento de saída para o filtro. segundo registro mais elevado, para decantação do material grosseiro. 66 27/04/09 Coleta de esgoto na entrada do filtro para análise. 04/05/09 Coleta de esgoto da saída do filtro para análise. 17/05/09 Visita de Excesso de material Limpeza do Monitoramento decantado no reservatório. reservatório. 19/05/09 Coleta de esgoto da saída do filtro para análise. 20/05/09 Visita de Excesso de material no Limpeza do sistema de Monitoramento sistema de distribuição. distribuição para evitar possíveis entupimentos. Figura 16 – Sistema de distribuição substituído no monitoramento do dia 15/04/05. FONTE: Do Autor (2009). 67 6.5 Parâmetros Analisados Decorridos 18 dias do início da operação do filtro, foram coletadas as primeiras amostras, encaminhadas para o IPAT onde foram submetidas aos ensaios apresentados na tabela 6. Tabela 6 – Parâmetros analisados. Parâmetro Método de Análise DQO (mg.L-1) Refluxo aberto com dicromato DBO (mg.L-1) Teste DBO por 5 dias Sólidos Suspensos (mg.L-1) Gravimétrico Sólidos Totais (mg.L-1) Gravimétrico Sólidos Sedimentáveis (mL.L-1) Cone de Imnhoff Turbidez (NTU) Nefelométrico 7 RESULTADOS Resultados das análises realizadas no dia 04/05/09. Tabela 7 – Resultados da amostra coletada no poço de visita (Anexo 1). Valor Máximo Mínimo Parâmetro Resultado Permitido (1) Detectável DQO (mg.L-1) 913,0 (Obs: 2) 0,5 DBO (mg.L-1) 456 60 1 Sólidos Suspensos (mg.L-1) 180 (Obs: 2) 1 Sólidos Totais (mg.L-1) 692 (Obs: 2) 1 Sólidos Sedimentáveis (mL.L-1) 0,8 1,0 0,1 Turbidez (NTU) 216,0 (Obs: 2) 0,1 Obs: (1) = Valores máximos permitidos segundo a Legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto n° 14250, de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos. (2) = Parâmetros não contemplados para esta legislação. 68 Tabela 8 – Resultados da amostra coletada na saída do reservatório (Anexo 2). Valor Máximo (1) Mínimo Parâmetro Resultado DQO (mg.L-1) 640,2 (Obs: 2) 0,5 DBO (mg.L-1) 343 60 1 Sólidos Suspensos (mg.L-1) 172 (Obs: 2) 1 Sólidos Totais (mg.L-1) 606 (Obs: 2) 1 Sólidos Sedimentáveis (mL.L ) 0,2 1,0 0,1 Turbidez (NTU) 172,5 (Obs: 2) 0,1 -1 Permitido Detectável Obs: (1) = Valores máximos permitidos segundo a Legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto n° 14250, de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos. (2) = Parâmetros não contemplados para esta legislação. Tabela 9 – Resultados da amostra coletada na saída do filtro (Anexo 3). Valor Máximo (1) Mínimo Parâmetro Resultado DQO (mg.L-1) 699,0 (Obs: 2) 0,5 DBO (mg.L-1) 259 60 1 Sólidos Suspensos (mg.L-1) 220 (Obs: 2) 1 Sólidos Totais (mg.L-1) 773 (Obs: 2) 1 Sólidos Sedimentáveis (mL.L-1) 2,0 1,0 0,1 Turbidez (NTU) 300,0 (Obs: 2) 0,1 Permitido Detectável Obs: (1) = Valores máximos permitidos segundo a Legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto n° 14250, de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos. (2) = Parâmetros não contemplados para esta legislação. 69 Resultados das análises realizadas no dia 19/05/09. Tabela 10 – Resultados da amostra coletada na saída do reservatório (Anexo 4). Valor Máximo Parâmetro Resultado -1 Permitido (1) Mínimo Detectável DQO (mg.L ) 1.492,5 (Obs: 2) 0,5 DBO (mg.L-1) 369 60 1 Sólidos Suspensos (mg.L-1) 816 (Obs: 2) 1 Sólidos Totais (mg.L-1) 1.418 (Obs: 2) 1 Sólidos Sedimentáveis (mL.L-1) 10,0 1,0 0,1 Turbidez (NTU) 507,5 (Obs: 2) 0,1 Obs: (1) = Valores máximos permitidos segundo a Legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto n° 14250, de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos. (2) = Parâmetros não contemplados para esta legislação. Tabela 11 – Resultados da amostra coletada na saída do filtro (Anexo 5). Valor Máximo (1) Mínimo Parâmetro Resultado DQO (mg.L-1) 1.190,8 (Obs: 2) 0,5 DBO (mg.L-1) 347 60 1 Sólidos Suspensos (mg.L-1) 408 (Obs: 2) 1 Sólidos Totais (mg.L-1) 914 (Obs: 2) 1 Sólidos Sedimentáveis (mL.L ) 4,0 1,0 0,1 Turbidez (NTU) 325,0 (Obs: 2) 0,1 -1 Permitido Detectável Obs: (1) = Valores máximos permitidos segundo a Legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto n° 14250, de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos. (2) = Parâmetros não contemplados para esta legislação. 70 8 ANÁLISE DOS DADOS As Figuras de 17 à 21 representam os resultados da análise laboratorial das coletas realizadas em 04/05/2009 e 19/05/2009, respectivamente. As amostras foram coletadas no poço de visita (1); na saída do reservatório (2) e na saída do filtro biológico (3). Figura 17 – Concentração de DQO em mg/L nas coletas realizadas para avaliação do filtro biológico onde (1) poço de visita; (2) saída do reservatório e (3) saída do filtro biológico. FONTE: Do Autor (2009). Para a segunda análise, não foi realizado coleta na entrada da ETE ou poço de visita (1), presumindo-se que o efluente que chega à estação de tratamento não teria variações bruscas. 71 Figura 18 – Concentração de DBO em mg/L nas coletas realizadas para avaliação do filtro biológico onde (1) poço de visita; (2) saída do reservatório e (3) saída do filtro biológico. FONTE: Do Autor (2009). Figura 19 – Concentração de sólidos suspensos DQO em mg/L nas coletas realizadas para avaliação do filtro biológico onde (1) poço de visita; (2) saída do reservatório e (3) saída do filtro biológico. FONTE: Do Autor (2009). 72 Figura 20 – Concentração de sólidos totais DQO em mg/L nas coletas realizadas para avaliação do filtro biológico onde (1) poço de visita; (2) saída do reservatório e (3) saída do filtro biológico. FONTE: Do Autor (2009). -1 Figura 21 – Concentração de sólidos sedimentáveis em ml.L nas coletas realizadas para avaliação do filtro biológico onde (1) poço de visita; (2) saída do reservatório e (3) saída do filtro biológico. FONTE: Do Autor (2009). 73 Figura 22 – Resultados Turbidez. FONTE: Do Autor (2009). Com base na primeira análise, com 18 dias de funcionamento do filtro biológico, desde o start até a primeira coleta do efluente, obteve-se uma eficiência de funcionamento acima dos padrões esperados, visto que a eficiência calculada para os padrões de taxa de aplicação hidráulica e orgânica que o filtro foi submetido foi de 8,15% para remoção da DBO e a eficiência demonstrada na análise de 24,49% de remoção da DBO. Também os indicadores de sólidos totais, suspensos e sedimentáveis se apresentaram coerentes para um filtro biológico percolado de alta taxa, demonstrando o crescimento do biofilme no meio de suporte. Avaliando os resultados da segunda análise, realizada 33 dias após o start do filtro se esperava uma colônia de bactérias mais desenvolvidas em função do tempo de exposição do biofilme ao esgoto percolado e, portanto, a eficiência apresentada seria maior ou igual ao dos resultados da primeira coleta. No entanto, a eficiência obtida foi de 5,96% de remoção de DBO que, apesar de não ser muito distante da eficiência calculada, foi bem menor que aquela obtida na primeira coleta. Também os indicadores sólidos totais, sólidos suspensos, sólidos sedimentáveis e turbidez obtiveram uma redução nos valores, apresentando 74 comportamento totalmente inverso dos resultados da primeira coleta. Tal comportamento não é comum em filtros de alta taxa, já que o mesmo não tem acúmulo de lodo no seu interior, contrapondo aos resultados apresentados, visto que pela diminuição dos sólidos totais na saída do filtro demonstra como se o mesmo estivesse retendo material no seu interior, característica de um filtro de baixa taxa. A provável explicação para esse comportamento é que em função da alta taxa de aplicação hidráulica, tenha ocorrido o efeito denominado de lavagem, que arrastou grande quantidade de biofilme, prejudicando sua eficiência de depuração, tendo que reter parte dos sólidos para a formação do novo biofilme. Outra provável hipótese para esta variação dos resultados refere-se à amostra coletada na saída do reservatório. Como a seqüência para coleta da amostra consiste primeiramente na coleta da saída do filtro, e logo após a coleta da saída do reservatório, ocorreu que entre o espaço de tempo que se coletou o efluente do filtro, a bomba de recalque localizada no poço de visita, foi acionada, bombeando esgoto para o reservatório, fazendo com que se movimente o material decantado no fundo do reservatório. Desta forma, o efluente bruto na segunda coleta, apresentaria uma qualidade diferente daquele mostrado na primeira campanha, o que consequentemente, impossibilita a comparação dos dados obtidos. Portanto, conclui-se que os resultados obtidos a partir da primeira amostragem demonstram a viabilidade na utilização do filtro biológico percolado com enchimento de material em PVC corrugado, tendo eficiência acima da teórica na remoção da matéria orgânica (DBO), e comprovando a existência de um biofilme fino e muito ativo. No entanto, considera-se a necessidade de confirmação dos parâmetros obtidos, realizando-se um número maior de amostragem a fim de avaliar estatisticamente os dados. 75 9 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES Considerando o meio de suporte proposto, onde se obteve o índice de vazios elevados evitando entupimentos, sua superfície específica aumentou a área de contato do biofilme com o esgoto percolado. No entanto, o custo desse meio de suporte é de 512,94 reais por metro cúbico de enchimento, ficando muito superior aos de outros materiais, como a pedra britada que é de 54 reais metro cúbico, por exemplo. Porém se analisarmos a construção do filtro, o enchimento em plástico terá uma estrutura de suporte menos robusta que a pedra, pelo seu peso específico ser menor, tendo um custo de construção e manutenção reduzido, compensando o seu elevado preço de enchimento. Com relação ao filtro biológico que é indicado para tratamento secundário, sendo submetido aplicação de esgoto bruto, não teve um bom funcionamento, visto que a grande quantidade de sólidos grosseiros entupiam a saída do reservatório e o sistema de distribuição, prejudicando o funcionamento. No entanto, a eficiência do filtro biológico com enchimento em plástico corrugado não pode ser definida, pois os resultados das duas análises executadas apresentaram discordâncias. Para a um funcionamento adequado do filtro com o meio de suporte proposto, recomendam-se as seguintes modificações: Aplicar efluente que tenha passado pelo tratamento primário; Ajustar taxa de aplicação hidráulica e orgânica; Implantação de um decantador na saída do filtro; Tempo de funcionamento prolongado; Implantação da recirculação da biomassa; Maiores números de análises. Obtendo os resultados das análises e comparando seus dados estatisticamente, pode-se definir a real eficiência do filtro com o meio de suporte em plástico corrugado, podendo reduzir custos de construção das estações de tratamento. 76 REFERÊNCIAS ANDRADE NETO, Cícero Onofre de. Sistemas simples para tratamento de esgotos sanitários: experiência brasileira. Rio de Janeiro: ABES, 1997. 299 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, NBR-12.209, Projeto de estações de tratamento de esgoto sanitário. Rio de Janeiro – RJ, 1992. 12 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 9648: Estudo de Concepção de sistemas de esgoto sanitário: Procedimento. Rio de Janeiro, ABNT, 1986. BAILEY, J.E.; OLLIS, D.F. Biochemical Enginnering Fundamentals. 2nd edition. McGraw-Hill, New York, 1986. BELLI, P. F., LISBOA, H. M. Odor e desodorização de estações de tratamento de efluentes líquidos. In: Congresso Brasileiro de engenharia sanitária e ambiental, 20º, 1999. Rio de Janeiro, 1999. 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