Artigo Original Perfil assistencial do Ambulatório de Fisioterapia no Câncer de Cabeça e Pescoço, Unidade I – Instituto Nacional de Câncer (INCA) Supportive profile of Physical Therapy Treatment on Head and Neck Cancer Patients at Brazilian National Cancer Institute (INCA) RESUMO ABSTRACT Objetivo: identificar o perfil assistencial do Ambulatório de Fisioterapia no câncer de cabeça e pescoço, do Instituto Nacional de Câncer, demonstrando o número de atendimentos realizados, as características dos atendimentos e as principais repercussões funcionais apresentadas pelos pacientes. Pacientes e Método: análise quantitativa e qualitativa dos atendimentos fisioterapêuticos realizados no período de 01/02/2007 a 31/05/2007. Resultados: foram disponibilizadas 839 vagas, sendo realizados 643 atendimentos e ocorreram 196 faltas. Dos atendimentos realizados, 17% foram consultas de primeira vez. A principal repercussão funcional identificada foi a disfunção do nervo acessório (29,5%), seguida das desordens da articulação têmporo-mandibular (ATM) (27,6%) e distúrbios respiratórios (12,3%). Dor foi identificada em 42,3% dos atendimentos, sendo analgesia responsável por 23% dos procedimentos realizados. Vinte e três por cento dos atendimentos comportaram três ou mais procedimentos, evidenciando múltiplas disfunções em um mesmo paciente. Discussão: As repercussões funcionais secundárias ao câncer de cabeça e pescoço e/ou seus tratamentos são importantes e bastante freqüentes. As desordens do ombro e da ATM, assim como os distúrbios respiratórios, foram as complicações mais rotineiramente observadas. A dor está presente em um percentual significativo dos pacientes que necessitam de Fisioterapia. A abordagem integral visa a prevenção de complicações previsíveis, assim como a reabilitação das complicações instaladas e o manejo das seqüelas inevitáveis. Márcia Gonçalves e Silva Targino da Costa1 Cláudia Azevedo Ferreira Guimarães Rabello2 Rosana de Sousa Lucena3 Silvia Corrêa Bacelar4 Cláudia Dias Cordeiro2 Mônica Tugores Novo Ribeiro2 Fernando Luiz Dias5 Terence Pires de Farias6 Mauro Marques Barbosa7 Objective: to identify the supportive profile of physical therapy appointments at Brazilian National Cancer Institute (INCA), looking for patients` main demands and their dysfunctional characteristics. Materials and methods: the physiotherapeutic consultations for head and neck cancer patients performed between 02/01/2007 and 05/31/2007 were retrospectively analyzed in their quantitative and qualitative aspects. Results: sixty hundred and forty-three appointments were reviewed including 17% of first time patients. The main dysfunctions identified were on the accessory nerve (29.5%), followed by temporomandibular joint (TMJ) (27.6%) and breathing disorders (12.3%). Pain was a complain present in 42.3% of these cases, and analgesia was responsible for 23% of the total procedures performed. In 23% of realized consults, 3 or more procedures were necessary representing multiple dysfunctions on each patient. Discussion: secondary dysfunctions caused by head and neck cancer and/or its indicated treatment are important and quite frequent. Shoulder and TMJ dysfunctions as well as breathing disorders were the most frequent complications observed. Pain was seen in a significant number of patients under physiotherapy. Patients total care has the intention of preventing known complications, and allowing early rehabilitation and sequels management of installed dysfunctions. Key words: Physiotherapy. Head and neck neoplasms. Descritores: Fisioterapia. Neoplasias de cabeça e pescoço. INTRODUÇÃO Aproximadamente 500.000 novos casos de câncer de cabeça e pescoço (CP) são diagnosticados anualmente no mundo1. No Brasil, somente para o câncer de cavidade oral, foram estimados cerca de 13.400 novos casos em 20062. A ressecção cirúrgica e/ou a radioterapia (RXT) são os principais tratamentos para a maioria dos tumores da CP. Já a quimioterapia, em associação com a RXT, é empregada em protocolos de preservação de órgãos3. A auto-imagem e diversas funções vitais podem ser acometidas pela doença e seus tratamentos, com conseqüente impacto físico e psicossocial4. O tratamento cirúrgico, em muitos casos, implica a manipulação ou mesmo a remoção de estruturas nobres, que 1) Fisioterapeuta do Hospital do Câncer I – Instituto Nacional de Câncer (INCA) / MS – RJ; Docente da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). 2) Fisioterapeuta do Hospital do Câncer I – INCA / MS – RJ. 3) Chefe do Serviço de Fisioterapia do Hospital do Câncer I – INCA / MS- RJ; Professora da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). 4) Fisioterapeuta do Hospital do Câncer I – INCA / MS e Hospital Quinta D'Or, Rio de Janeiro; Professora da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). 5) Doutor em Medicina pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Chefe da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA – MS- RJ. 6) Mestre em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA); Titular da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA – MS- RJ. 7) Doutor em Medicina pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Titular da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA – MS- RJ. Instituição: Instituto Nacional de Câncer – MS – RJ. Correspondência: Márcia G. S. Targino da Costa, Rua Washington Luiz, 35 (Serviço de Fisioterapia) – Centro, Rio de Janeiro/RJ. E-mail: [email protected] Recebido em: 05/09/2007; aceito para publicação em: 06/10/2007; publicado on line em: 10/11/2007 234 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 36, nº 4, p. 229 -232, outubro / novembro / dezembro 2007