Introdução à Lógica de Predicados Matemática Discreta I Rodrigo Ribeiro Departamento de Ciências Exatas e Aplicadas Universidade de Federal de Ouro Preto 10 de dezembro de 2012 Motivação (I) Considere o seguinte argumento: Todo homem é mortal. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal. Após pensar um pouco... Vemos claramente que este argumento é válido. Portanto, vamos representá-lo usando a lógica proposicional. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Motivação (II) Porém ao tentar representar... Percebemos que não existe nenhum conectivo! Isto é, que o argumento é formado apenas por proposições atômicas. Sendo assim, temos que o argumento seria representado como: Fórm. Prop. A Todo homem é mortal B Sócrates é um homem C Sócrates é mortal R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Motivação (III) O sequente correspondente ao argumento é: A, B ` C Mas... É fácil notar que não é possível deduzir partir de A e B. C Mas o argumento parecia correto... R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados a Motivação (IV) O Problema é que... A lógica proposicional não é capaz de representar armações contendo "todos", "para todos", "alguns", "somente um"... Tais armativas ocorrem com frequência em matemática: Todo número par é divisível por 2. Todo número inteiro maior que 1 ou é primo ou produto de primos. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (I) A Linguagem da Lógica de Predicados A lógica de predicados consiste da lógica proposicional aumentada com quanticadores, predicados e variáveis. Todas as regras de dedução natural e raciocínio algébrico que vimos, continuam sendo válidas para a lógica de predicados. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (II) Predicados Um predicado é uma armação de que um objeto x possui uma determinada propriedade. Tais armativas devem ser verdadeiras ou falsas. Armativas podem envolver elementos de um conjunto ou variáveis que podem assumir valores deste conjunto. Exemplos: 5 é um número par. x > y. José gosta de Maria. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (III) Universo de Discurso Damos o nome de Universo de Discurso ao conjunto que é referido por uma fórmula da lógica de predicados Exemplo: A armativa: "Todo número par é divisível por 2". Possui como universo de discurso o conjunto dos números inteiros. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (IV) Mais sobre Predicados Normalmente representamos predicados de maneira concisa. Exemplos: José gosta de Maria. Podemos representar este fato por: gosta(José, Maria). Onde gosta é um predicado de dois parâmetros, onde cada um destes é um elemento de um conjunto que contém pessoas. x é um adolescente. Podemos representar este fato por adolescente(x). R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (V) Mais sobre Predicados Exemplos: par(2) f (x , , g (y )) 2 Predicados que não possuem parâmetros são variáveis proposicionais. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (VI) Quanticadores A lógica de predicados possui dois quanticadores: Quanticador universal: representado pelo símbolo ∀ Quanticador existencial: representado pelo símbolo ∃ R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (VII) Quanticador Universal F (x ) é uma fórmula da lógica de predicados, contendo a variável x , então ∀x .F (x ) é uma Se fórmula da lógica de predicados. O signicado de ∀x .F (x ) é: Para todo elemento x pertencente ao universo de discurso, a fórmula F (x ) deve ser verdadeira. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (VIII) Exemplos Considere como universo de discurso o conjunto dos números naturais (N). nn ∀ . ≥ 0: esta fórmula é verdadeira. Considere agora, como universo de discurso o conjunto de todos os seres humanos. x gosta(x , ∀ . Maria) R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (IX) Quanticador Existencial F (x ) é uma fórmula da lógica de predicados, contendo a variável x , então ∃x .F (x ) é uma Se fórmula da lógica de predicados. O signicado de um elemento x ∃x .F (x ) é: Existe pelo menos pertencente ao universo de discurso, que faça a fórmula R. Ribeiro F (x ) ser verdadeira. Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (X) Exemplos Considere como universo de discurso o conjunto dos números naturais (N). nn ∃ . ≤ 0: esta fórmula é falsa. Considere agora, como universo de discurso o conjunto de todos os seres humanos. x gosta(x , ∃ . Maria) R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XI) Signicado dos Quanticadores U = {u1, u2, ..., un }, um universo de discurso tal que |U | = n ∧ n 6= ∞. Então o signicado de ∀x .p (x ) é: Seja p(u1) ∧ p(u2) ∧ ... ∧ p(u ) n E o signicado de ∃x .p (x ) é: p(u1) ∨ p(u2) ∨ ... ∨ p(u ) n R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XII) Exemplos U = {2, 3, 4} e par (x ) e impar (x ) dois predicados sobre U . Então as fórmulas ∀x .par (x ) ∨ impar (x ) e ∃x .¬impar (x ) ∧ x < 1 podem ser expandidas Considere como: par impar par impar impar impar par impar impar ( (2) ∨ (2)) ∧ ( (3) ∨ (3)) ∧ ( (4) ∨ (4)) (¬ (2) ∧ 2 < 1) ∨ (¬ (3) ∧ 3 < 1) ∨ (¬ (4) ∧ 4 < 1) R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XIII) Escopo de Quanticadores Para entender o conceito de escopo de quanticadores é necessário conhecer os conceitos de variáveis livres e ligadas. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XIV) Variáveis livres e ligadas Uma variável é dita ser livre em uma fórmula se esta não possui nenhum quanticador. Exemplo: x ypx y z ∀ .∃ . ( , , ). Nesta fórmula variável livre. z é uma Uma variável é dita ser ligada se esta está associada a um quanticador. Exemplo: variáveis ∀x .∃y .p (x , y , z ) x y e . Nesta fórmula as são ligadas. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XV) Escopo de um Quanticador Seja α uma fórmula qualquer da lógica de predicados. Então o escopo de ∀ na fórmula ∀x .α é toda a fórmula α. Toda ocorrência de x em α será ligada ao quanticador ∀. A denição de escopo para o quanticador ∃ é idêntica. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XVI) Traduzindo Para a Lógica de Predicados Processo simples e similar a lógica proposicional. Mas devemos levar em conta predicados e quanticadores. Exemplo: Considere como universo de discurso o conjunto de todas as pessoas e objetos. x y gosta(x , y ) ∀x .∀y .gosta(x , mae (y )) → gosta(y , x ) ∀x .aluno (x ) → ¬gosta(x , fazer (Prova)) Todo mundo gosta de alguém. ∀ .∃ . Todos gostam de quem gosta de sua mãe. Alunos não gostam de fazer provas. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Lógica de Predicados (XVII) Exercício Represente as seguintes frases: Se amanhã chover, então todos devem levar guarda-chuvas. Todos que gostam de Carlos, não gostam de seus primos. Ninguém foi a festa de Manoel. Todos os gregos são europeus, mas nem todo europeu é grego. Todos gostam da mãe de Maria. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Sintaxe (I) Fórmulas bem formadas Antes de descrevermos como é a semântica de fórmulas da lógica de predicados, devemos denir primeiramente, o que é uma fórmula sintaticamente correta. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Sintaxe (II) Fórmulas da lógica de predicados Fórmulas da lógica de predicados podem denotar: Elementos do universo de discurso em questão. Valores lógicos Sendo assim, a sintaxe será divida em duas categorias: Termos que denotam elementos. Fórmulas que denotam valores lógicos. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Sintaxe (III) Termos O conjunto de termos a) Seja V T é denido como: o conjunto contendo todas as variáveis da lógica de predicados. Então, b) Se c T ⊆ V. é uma constante que representa um elemento do universo de discurso, então c) Seja f uma função n-ária sobre termos e c∈T t1, t2, ..., tn ∈ T (n ≥ 0) então f (t1, t2, ..., tn ) ∈ T . R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Sintaxe (IV) Termos Considerando como universo de discurso o conjunto de todas as cidades e estados, temos que: Belo Horizonte é um constante representando a capital de Minas Gerais Se capital é uma função que a partir de uma constante que representa um estado retorna a respectiva capital deste, temos que capital (Minas Gerais) denota o mesmo elemento que a constante Belo Horizonte. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Sintaxe (V) Fórmulas F de ⊥, > ∈ F O conjunto a) fórmulas é denido como: p é um predicado n-ário e t1, t2, ..., tn são termos, então p (t1 , t2 , ..., tn ) ∈ F . b) Se α ∈ F então ¬α ∈ F Se α, β ∈ F então α ◦ β ∈ F , onde ◦ ∈ {→, ∨, ∧, ↔}. Se x ∈ V e α ∈ F então ∀x .α ∈ F e ∃x .α ∈ F c) Se d) e) R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Sintaxe (VI) Precedência Seguiremos as mesmas convenções de precedência que adotamos para a lógica proposicional. Adicionalmente, conseraremos que quanticadores (∃, ∀) possuem a mesma precedência de ¬. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Semântica (I) Semântica da Lógica de Predicados Para dar semântica a uma fórmula devemos interpretá-la de acordo com o universo de discurso U. Mas somente U Seja U = N. ∃ .∀ . ( , ) i jMi j é suciente? Com isso é possível determinar se é verdadeira? Não! Qual o signicado do predicado Como determinar se R. Ribeiro M (i , j ) M ? é verdadeiro? Introdução à Lógica de Predicados Semântica (II) Semântica da Lógica de Predicados Somente o universo de discurso não é suciente para interpretar uma fórmula da lógica de predicados. Deve haver adicionamente maneiras de interpretar: Termos funcionais. Predicados. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Semântica (III) Semântica da Lógica de Predicados Termos funcionais podem ser pensados como funções n-árias entre termos. Para cada função f I :U →U f :T →T, deve existir que associa cada constante em sua respectiva interpretação em R. Ribeiro U. Introdução à Lógica de Predicados T a Semântica (IV) Semântica da Lógica de Predicados Predicados podem ser pensados como de termos. Para cada predicado p :T ×T P (t1 , t2 ) ∈ P , deve existir um conjunto de pares de termos p(t1, t2) é verdadeiro se R. Ribeiro n-uplas . Dizemos que . Introdução à Lógica de Predicados Semântica (V) Voltando ao Exemplo anterior... U = N, e considere que para x , y ∈ N , M (x , y ) é verdadeiro se x ≥ y . A fórmula ∃i .∀j .M (i , j ) é verdadeira? Seja Não! A fórmula representa a seguinte sentença: existe um número natural que é maior que todos os outros números naturais. Mas e a fórmula ∀j .∃i .M (i , j )? R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Semântica (VI) Finalizando... Interpretamos fórmulas da lógica de predicados utilizando: Um universo de discurso Um conjunto de denições de predicados e símbolos funcionais. R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados Semântica (VII) Exercício Considere como universo de discurso o conjunto os seguintes predicados e símbolos funcionais: par (x ): verdadeiro se x é par. impar (x ): verdadeiro se x é ímpar. s : N → N: função sucessor. Qual o valor lógico das seguintes fórmulas? 1 2 3 ∀n.par (n) ∨ impar (n). ∀n.impar (n) → par (s (n)). ¬∃n.par (n) ∧ impar (n). R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados N e Semântica (VIII) Exercício Considere a seguinte frase: Todos os unicórnios possuem 5 patas. Represente esta frase utilizando uma fórmula da lógica de predicados. Encontre universos de discurso e interpretações de predicados e símbolos funcionais para sua fórmula. Em seu modelo de interpretação, sua fórmula é verdadeira? R. Ribeiro Introdução à Lógica de Predicados