economia não é apenas números

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ECONOMIA NÃO É APENAS NÚMEROS
28 de Julho de 2014
José Luiz Miranda
Para a maioria das pessoas, ao se falar de economia a primeira imagem que se vem à
mente é aquela representada por números, cifras, modelos matemáticos complexos que
são explicados por profissionais, principalmente economistas, em uma linguagem pouco
compreensível razão porque a sociedade passou a denominá-la, até de forma pejorativa, de
“economês”.
A economia está presente na vida das pessoas e interage com as mais diversas áreas do
conhecimento, pois a sua razão de ser é buscar alternativas voltadas ao atendimento das
necessidades dos indivíduos diante da limitação de recursos que, dependendo da situação e
do local, podem ser naturais, financeiros, materiais, humanos ou intelectuais, isto em
sintonia com processo que é dialético.
Acrescenta-se que a História da Civilização Humana é conseqüência de um contínuo e
permanente processo dialético expresso por movimentos culturais e políticos decorrentes
de uma dinâmica interpretação do universo e do contexto social. Esse processo implicou
em uma contínua transformação dos usos, costumes e valores da sociedade permitindo
que os dispersos agrupamentos humanos, induzidos por suas contradições e
questionamentos da realidade, abandonassem as suas cavernas e se transformassem na
moderna sociedade contemporânea da informação que, também, encontra-se submetida
ao seu próprio processo dialético.
A partir da compreensão do sentido do processo dialético é possível se perceber que a sua
dinâmica induz transformações e formas diferenciadas de se ver o universo o que atinge
indiscriminadamente diversos segmentos das ciências tradicionais. Isto possibilita o
surgimento de novos campos de estudo impulsionados pelo estudo de novos fenômenos
que, embora sempre presentes no contexto da sociedade, não haviam ainda sido
percebidos até um determinado momento. Pesquisas e estudos em um número
significativo estão sendo desenvolvidos no campo da Química, da Física, da Biologia e
Direitos reservados ao autor sendo obrigatória a citação da fonte nas hipóteses de utilização integral
ou parcial do texto.
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Biotecnologia, da Medicina, da Farmacologia, do Direito, da Geopolítica, da Filosofia e da
Economia, apenas para citar alguns campos de estudos.
Essas iniciativas estão induzindo a revisão de vários paradigmas e criam estímulos que
permitem ter uma visão de mundo mais diferenciada do que aquela que tinham os
pensadores clássicos; não que estes tivessem uma visão limitada da realidade do seu
tempo, apenas não dispunham de instrumentos que hoje se encontram disponíveis para
que os atuais pesquisadores de diversos campos do conhecimento possam realizar os seus
estudos e experimentos em um contexto de grande dinamicidade.
Nesse cenário de contínuas transformações verifica-se a presença grandes fenômenos e
desafios contemporâneos em sua têm origem em problemas de natureza econômica e
envolvem diversos agentes na busca de soluções que sejam adequadas à realidade local e
nacional, mas que em variadas escalas podem estar associadas à geopolítica mundial.
Alguns exemplos podem ser mencionados: O fluxo migratório mundial em busca de
melhores condições de emprego e de renda; a busca de fontes de energia alternativa
diante da possibilidade de exaustão de recursos provenientes das fontes fósseis e as
conseqüências advindas do impacto poluitivo no meio-ambiente; da mobilidade urbana e
carência de infraestrutura econômica e social nos países periféricos gerando violência e
segurança; iniciativas direcionadas à inclusão social de populações situadas abaixo da linha
de pobreza; a ausência de controle sobre fluxo de capital financeiro circulante no mundo
ocasionando a indesejada volatilidade e impacto nos preços dos bens e serviços.
No entanto, apesar da sua importância e presença nas relações humanas, é possível se
perceber que a sociedade, de forma geral, vê a economia como uma ciência de difícil
compreensão em razão de se fazer predominar maciçamente de complexas fórmulas
matemáticas, simulações estatísticas e análises gráficas, projeções econométricas que, nos
últimos tenderam a enfatizar aspectos notadamente financeiros em detrimento dos
fenômenos relacionados à própria geração de bens e serviços para atender as variadas
demandas da sociedade, que é o objeto fim dos estudos econômicos.
Partindo dessa premissa cabe se perguntar: Ora, se a economia se faz influente em
diversos fenômenos que afetam o comportamento da sociedade nas suas decisões
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cotidianas porque esta mesma sociedade não consegue entender a sua importância? Será
que as técnicas utilizadas para o estudo da economia estão correspondendo à realidade ou
um revisionismo se torna necessário?
Para buscar responder a essas indagações é importante se perceber que qualquer
abordagem investigativa objetivando analisar e interpretar os fenômenos de natureza
econômica deve obedecer a duas vertentes: A vertente quantitativa e a vertente política ou
sócio-comportamental, cada uma delas contemplando variadas escolas de pensamento.
Em sua vertente quantitativa a abordagem investigativa deve buscar analisar e interpretar
os fenômenos de natureza econômica se aproximando das ciências exatas a partir da
utilização de modelos matemáticos, estatísticos e econométricos em que a reação dos
indivíduos e das organizações na busca da satisfação dos seus interesses obedece a uma
conotação mais racional. Essa linha de abordagem se avolumou particularmente a partir do
final dos anos 1970 ganhando celeridade com o desenvolvimento de novas técnicas de
análise para situações específicas decorrentes do avanço da tecnologia da informação
criando, contudo, um excesso de matematização da Economia (KREPS, David. Economics Current Position, in "Daedalus", American Academy of Arts and Sciences. 1997).
Por outro lado, em sua vertente política ou sócio-comportamental a abordagem
investigativa deve buscar analisar e interpretar os fenômenos de natureza econômica se
aproximando das ciências humanas (Política, Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito,
entre outras). Para tanto são utilizadas teorias que enfatizam aspectos comportamentais e
de ordenamento jurídico em que a reação dos indivíduos e das organizações na busca da
satisfação dos seus interesses obedece a uma conotação mais política e cognitiva em face
de fatores de ordem histórica, cultural e de valores que influenciam usos e costumes.
Nesse caso, a identificação de necessidades geradoras de demandas e o desenvolvimento
de mecanismos para satisfação de carências pela oferta de bens e serviços diante da
limitação de recursos encontram-se correlacionada ao seu ambiente.
Ressalta-se, porém, que no campo acadêmico tem sido comum a ocorrência de debates
que buscam fazer prevalecer uma das vertentes sobre a outra. Porém, a realidade
demonstra que essas duas vertentes devem coexistir harmonicamente, pois ambas tendem
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a se complementar e a se interagir em virtude das transformações que se fazem presentes
na sociedade contemporânea uma vez que a vida dos indivíduos e das organizações não
segue parâmetros somente matemáticos ou somente comportamentais. Para a Economia, a
percepção da presença das demandas sociais e sua influencia no comportamento dos
agentes econômicos do setor público e do setor privado, se constitui em uma importante
fonte para a formulação de planejamentos estratégicos e o estabelecimento de planos de
ação.
Um exemplo é a formulação de uma política pública para a redução do déficit habitacional
requer a realização de levantamento e tratamento de dados visando o impacto na cadeia
produtiva, mas, ao mesmo tempo deve considerar adequação dessa política aos anseios
comportamentais do público alvo que se quer atingir, além da própria segurança jurídica
inerente a direitos e obrigações. Outro exemplo é a elaboração, a implantação e o
acompanhamento de projetos ou no desenho de planos estratégicos pelas empresas em
que a percepção de fatores associados aos diversos ramos do conhecimento e bem como
seus reflexos na sociedade é condição imperativa e que pode levar ao sucesso ou ao
insucesso.
No aspecto geopolítico, consensos internacionais sobre a liberalização comercial, a
disciplina fiscal, a regulação financeira, as parcerias entre o setor público e o setor privado,
definição de marco regulatório para diversos setores de atividade econômica, entre outras
manifestações indica o estabelecimento de um novo paradigma que exige diálogos
permanentes entre diversas áreas do conhecimento.
Para finalizar esta sinopse ressalto que para os economistas efetivamente cumprirem a sua
função social deverão, antes de tudo, aprender a enfrentar o desafio multidisciplinar e
lembrar que o exercício da sua profissão não se limita aos ditos da teoria econômica. Deve
ser exercido, sobretudo, dentro de limites institucionais, jurídicos e de valores de um
Estado de Direito e não, apenas seguindo uma linguagem cuja sintaxe potencializa as
relações de causa e efeito de forma cartesiana. Trata-se assim de revisitar as suas origens
Históricas com um olhar contemporâneo.
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