Maria José Costa Félix Sol e Lua de mãos dadas Í N DIC E Prefácio, por Professor Mário Simões Introdução 19 27 ENTRE O CÉU E A TERRA O emergir da nossa essência divina O tempo dos sinais Na fronteira entre dois mundos Qual é o meu verdadeiro nome? Momentos baralhados O difícil confronto connosco mesmos Quero mas não sou capaz Podemos chegar aonde queremos Despertar o coração A espera cega que a esperança permite Alquimia interior 35 41 46 52 55 61 67 69 72 75 79 HÁ EM NÓS LUZ E SOMBRA Porque somos atraídos por pessoas que nos magoam? Auto-estima não é narcisismo Um vazio muito antigo Tocar o fundo do poço 87 92 95 98 Um poder invisível Experimentar o sagrado Aceitar as imperfeições O peso dos nãos a que te agarras Necessidades ilusórias Nós é que atraímos o que nos acontece Rótulos com os quais me identifico Viagem até aos confins do meu Eu Ninguém é metade seja de quem for «Ondas que se esqueceram de que são o mar» 101 105 108 112 114 117 122 125 131 137 RELAÇÕES SAGRADAS Da decepção à aceitação O Sol e a Lua que somos Masculino e feminino, os dois lados da vida A nossa verdadeira fome é de absoluto Somos feitos de muitas águas misturadas Porque precisamos uns dos outros Precisei de ti para saber de mim toda Os benefícios da reconciliação Para quê falarmos de culpas? Figuras-sombra do passado Foste para mim campo de aprendizagem do amor A ilusão do amor impede o amor verdadeiro Afinal, não passava de um sonho Companheiros de viagem Será que um dia ousarás ver-me toda? Amar é dar o melhor de nós mesmos Simplesmente amigos O todo que me habita o fundo Relação mãe/filha O ciúme atrapalha-nos a vida As relações do futuro 143 147 151 154 157 161 164 166 169 171 173 174 177 179 183 186 189 192 194 198 203 PODERÃO OS ASTROS ILUMINAR-NOS? A astrologia ajuda-nos a viver Todos estamos destinados a evoluir As energias que nos regulam Nada é fruto do acaso O que viemos fazer a este mundo? O que significa «o fi m dos tempos»? Viver com sabedoria num tempo de incertezas Os signos do Zodíaco face ao amor Horóscopos comparados Que signos combinam com o meu? Padrões continuamente repetidos Relacionamento entre o Sol e a Lua O casal ao longo dos anos ou Saturno e o sentido do tempo Sem amor a vida não tem significado A astrologia ensina-nos a amar Dançar é possível no dia-a-dia 211 215 218 225 228 231 236 241 244 250 257 263 268 275 278 281 «… quero um fio que me conduza ao centro da vida e trazer ao de cima tudo o que existe lá dentro, quero o coração do mundo, quero o que mora no interior do interior, transformar em letras o que não tem letra nenhuma…» António Lobo Antunes «… encontraste na Terra e na Água, no Sol e na Lua, o teu primo conhecido/desconhecido, que fez este desenho, onde pôs vermelhos e negros, azuis e plumas, ou a terra, a água e a força… e zonas onde só alguns conseguem entrar.» João Oom 1985 Dedico este livro aos meus pais, Maria Margarida e Francisco José, por terem permitido que eu viesse a este mundo. Pelo que me deram e por aquilo que, por não terem podido dar-me, me obrigaram a encontrar em mim e, assim, crescer. Pelas tantas sementes de vida que em mim depositaram e que, ao longo das várias fases da minha caminhada terrestre, tenho procurado desenvolver de forma cada vez mais consciente. É sobre esse contínuo, demorado e nem sempre linear processo de consciencialização que eu aqui escrevo. «Conscientemente escrevo e consciente medito o meu destino» António Gedeão PREFÁCIO Sinto-me algo surpreendido pelo honroso convite, para escrever o prefácio da obra Sol e Lua de Mãos Dadas, feito pela autora. Já a conhecia de outros livros e interroguei-me sobre o que teria de novo este último que os outros não abordassem e porquê eu, como autor do prefácio? Assim, com curiosidade, passei à sua leitura… Já na Introdução, Maria José Costa Félix se desvenda, sim, é a palavra certa para designar a sua «exposição» num livro que se adivinha de partilha de pensamentos intimistas, de descobertas e experiências de vida. Percebemos a sua trajectória vivencial, quase igual à de tantos de nós, condicionados por um tempo de cultura peculiar deste país, durante tantos anos, e o «conhecimento» (tardio) que lhe chega, abruptamente, quase com um certo receio de saber mais (embora com grande desejo), ao qual progressivamente se rende. Qual o sentido de tudo isto? Apenas encontros e desencontros de pessoas? Decerto não era esse o sentido e reconhece, ao longo do livro, que será sobretudo o confronto com o seu lado sombrio, experiências de vida e sua aceitação que darão sentido à vida. Enfi m, sentir que em qualquer idade se «pode ter uma adolescência feliz», na formulação de um amigo meu! 19 sol e lua de m ãos da da s Entre o Céu e Terra desenrolar-se-á o «drama em gente», que é também a sua vida, mas tocada por uma experiência excepcional do Espírito Divino, que, na sua perplexidade, interroga: «Porquê a mim, que nunca acreditei nestas coisas; porquê agora, que já tinha tudo tão arrumado na minha vida?» Só me ocorre a pergunta, algo inesperada nestas circunstâncias e que ouvi uma vez a uma paciente com uma doença grave: «Porque não a mim?». Porque aí também buscava um sentido. Intuí que as experiências de vida, reflectidas nos diversos textos, lhe ensinam o que aprende nesta trajectória entre o Céu e Terra, isto é, a lidar com as nossas emoções e pensamentos e também com as dos outros. É a aprendizagem da impermanência das coisas e pessoas, do desapego, do perdão (a si e aos outros), que não há os bons e os maus e a luta entre eles, mas que a luta se faz dentro de nós. Como fazer essa aprendizagem pode quase resumir-se a manter ao longo da vida algumas características que identificamos com o ser criança (autenticidade, curiosidade, espírito de brincadeira), juntando-lhe a responsabilidade do adulto. Em resumo, que o Amor (em sentido lato) é a arte de prolongar o efémero, que é esse estado absoluto, mas não eterno, ao nível do humano. Um dia perguntaram-me como fazia para estar (aparentemente) bem com a vida. Não consegui uma resposta espontânea na altura. E é uma boa amiga que me faz consciente de uma atitude «natural» em mim: «Dás sempre um sentido positivo ao que te sucede, mesmo quando é negativo». Como se a vida nos proporcionasse o que «precisamos ou merecemos» para sermos mais e melhores, como se fosse esse o sentido que liga as experiências de vida. Como se uma nova definição de espiritualidade (dimensão humana) pudesse ser a consciência de que tudo está ligado por um sentido que nos ultrapassa e que nos leva a tornarmo-nos anjos cínzeos. Estes seriam o grau mais refi nado de humanos, cuja matéria, simbolicamente, seria cinza (ainda mundo material, necessário como humano), produto de múltiplas «queimas». 20 p r e fác io O mundo material que nos vem parar às mãos, bem como os talentos com que somos brindados, deveria ser «de algum modo lançado no universo de onde proveio», como refere MJCF. Trata-se também de fazermos o nosso melhor, da nossa responsabilidade, para que o que habitualmente se designa por destino se revele, pois ao ser «levada(o) pelas sementes do melhor em mim mesma(o) toco os meus próprios limites». Este livro é também quase um pequeno manual para saber lidar consigo mesmo e com os outros no quotidiano e capítulos como «Auto-estima não é narcisismo», «Porque somos atraídos por pessoas que nos magoam?» e «Nós é que atraímos o que nos acontece» são exemplos disso. Neles se descreve como existem pessoas capazes de nos dar a ilusão de um amor, que, no entanto, não passa de uma utopia, em que se pensava que se estaria apaixonado(a), e que no ponto mais alto do impulso se parece, de facto, vibrar. Mas mesmo neste caso o fracasso de uma relação amorosa não é o fracasso do Amor, revela apenas que nos enganámos, segundo Jean Yves-Leloup, citado por MJCF. Na realidade é muito difícil encontrar um amor em que apeteça, espontaneamente, dizer, brotando da boca, «Amo-te», em que esta palavra traduza a ternura e o desejo simultâneos e intrinsecamente ligados. Mais difícil ainda seria encontrar o amor incondicional a nível humano, quase só remetido para o Amor Divino sentido pelos místicos, cuja possível «marca» de entrega seria pronunciar «faz de mim o que quiseres», pois existe a paz e a alegria de se saber aceite tal e qual como se é. No entanto, conforme avisa MJCF, um «relacionamento assente na expectativa de que alguém nos aceite de tal forma que nos faça sentir perfeitos… seria um comportamento doentio» e, por outro lado, paradoxalmente, «quanto mais unidos estivermos, mais descobrimos — porque aceitamos — até que ponto o outro é diferente». Um encontro de almas congéneres (melhor que gémeas), que se reconhecem, deixaria o mundo melhor e seria o preencher, na Terra, de «um vazio muito antigo», título de um outro capítulo. 21 sol e lua de m ãos da da s Naturalmente seria inevitável não tocar, ao longo do livro, na astrologia e no seu âmago, que dá o nome ao livro — Sol e Lua de Mãos Dadas — e que também somos nós. Trata-se, pois, também dos arquétipos do masculino e feminino, do consciente e do inconsciente, do racional e do emocional. Deixa claro que não existe oposição entre eles, mas complementaridade e completude, onde cada um terá de assumir o seu lado mais ou menos oculto solar ou lunar, no sentido de uma responsabilidade adulta pelo seu desenvolvimento. Mais, é essa harmonia interior, decorrendo desses aspectos equilibrados, que se reflecte no exterior como uma atitude natural, quase diria sexy, quiçá a palavra usada socialmente para definir o Sol e a Lua de mãos dadas dentro de cada um. Uma pessoa assim facilitaria a intimidade e o encantamento nas relações interpessoais e, mais uma vez, o mundo ficaria melhor. Não seria necessário, nesse caso, andar à procura da alma gémea (pura ilusão, no dizer de MJCF), pois cada um seria completo em si mesmo, mas de alguém com quem se tivesse uma relação significativa e transformadora que desenvolvesse em cada um os aspectos solares ou lunares mais desfavorecidos ou desconhecidos. A partilha, usufruída numa companhia recíproca, não seria por necessidade, mas por osmose. Para os que buscam respostas de carácter amoroso na astrologia, diz-nos MJCF que a felicidade possível «é essa [o fluir livre da energia amorosa na relação transformadora] que permanece para lá de quase sempre inevitáveis crises — individuais ou conjugais». Retomando a astrologia, fica claro para MJCF que nada nos acontece por acaso ou por pura coincidência, inclusive a família onde nascemos e as pessoas com quem nos cruzamos. Nas suas palavras, «somos empurrados no sentido de criar elos especiais com aqueles que algures no tempo já encontrámos, mas juntamente com os quais algo importante que poderia ter sido vivido não o foi», remetendo para uma perspectiva «predisponente» ou kármica da astrologia. Esta não seria um adivinhar sobre o 22 p r e fác io futuro, mas um conhecimento a priori sobre as linhas gerais de uma evolução a fazer neste planeta. A evolução passaria pelas experiências que levariam ao «aprendizado do Amor Verdadeiro e que excluiriam a ilusão do Amor, que impede aquele», infinito, incondicional e inesgotável. No entanto, para a autora, ao «dar o melhor de nós mesmos» a alguém é já amar verdadeiramente e não simplesmente apreciar a companhia de alguém, pois seria «olhá-lo tal como é, independentemente do lugar que ocupa no mundo, da forma como orienta a sua vida e do facto de nos ser útil seja em que campo for». Não existe exigência nem «obrigação de renunciar a algo ou a alguém e cada um pode usufruir do outro pura e simplesmente pelo que ele é, sem qualquer sentimento de posse ou competição e sentimentos de ciúme que eventualmente surjam são logo resolvidos com sensatez». Seria o Amor vivido sem a tão temida perda de liberdade no compromisso (livremente desejado e aceite) com alguém, tal como «irmãos de sexo oposto ligados por um sentimento de consanguinidade», simulacro e antecipação das relações do futuro e do Amor Divino! Num certo sentido, conforme escreve MJCF, a «astrologia ensina-nos a amar», tema de outro capítulo. Um dos outros objectivos da astrologia seria dar-nos a conhecer «a razão de ser da nossa vinda cá e a missão específica que nos compete cumprir», mas também o autoconhecimento para levar a bom termo essa missão. Não discuto a questão se a astrologia aceita ou não o destino, pois o que interessa, do meu ponto de vista, é a proposta (já que a vida, ela mesma, é dinamismo) que a astrologia faz a cada um, de acordo com as suas regras, sobre a evolução «prevista» (não a certeza, mas elevadas probabilidades) neste planeta. Isto é, confronta-nos, faz-nos reflectir e sobretudo reagir pela aceitação ou rejeição, contribuindo assim para um autoconhecimento, facilitador da construção dos nossos mitos pessoais. Numa leitura simplista dos horóscopos não personalizados compreendo que é difícil, muitas vezes, reconhecermo-nos, como, por 23 sol e lua de m ãos da da s exemplo, Escorpião («parecem frios, mas são profundamente eróticos, capazes de ímpetos indomáveis e de ir ao fim do mundo por aqueles que amam»), Touro («a sexualidade tem a maior importância, não abdicam da segurança e não se atiram de cabeça nem querem saber de conflitos») ou Capricórnio («extremamente fiéis, com uma enorme vontade, mas também um grande medo de ser amados e mesmo que se apaixonem tendem a controlar as emoções»). Eventualmente, de acordo com o acima exposto, e no sentido de um autoconhecimento, só um horóscopo personalizado seria de considerar. Nessa outra tentativa de compreensão do estar no mundo pode haver lugar para um sentido, que apazigúe o absurdo, eventualmente existente, numa vida. Seria como se por uma questão de harmonia universal, num certo momento, algo necessitasse de ser vivido por um determinado indivíduo, conforme refere MJCF. Aliás, é quase a posição bíblica que menciona que existe um tempo específico para tudo no decurso da vida. «As relações do futuro», no casal, são tema de um dos capítulos, onde a autora cita abundantemente Sondra Ray. Costumo, a este respeito, fazer um pequeno teste sobre a qualidade da relação quando um membro do casal fala da sua infelicidade e que consiste em perguntar em quanto avalia a média de satisfação no seu casamento no fim de cada ano, numa escala de 0 a 20. Qualquer resposta acima de 10 leva-me a felicitar a pessoa por «pertencer aos milhões de casais felizes». Vale a pena realçar algumas daquelas citações, pois se evitar-se-iam muitos dissabores entre casais se aquelas fossem tidas em conta. São possivelmente relações do e com futuro, uma vez que «não existe receio de expor vulnerabilidades; o facto de qualquer um amar mais alguém não tem de diminuir o amor que existe entre eles; não se criam relações na base da culpa, medo do castigo ou da perda, nem por necessidade de protecção; aproveita simplesmente aquilo que com ele (ela) pode viver, permitindo-lhe que seja quem precisa de ser e sabendo que só assim pode ver quem ele (ela) realmente é para além do 24 p r e fác io que parece ou tem». Aliás este último aspecto, se não realizado, leva a que surjam sinais de alerta: «Mal-estar indefinido, doenças umas atrás das outras, tristeza, ansiedade e irritação contínuas, um cansaço inexplicável…». O que destrói muitos relacionamentos é a crítica, sem humor nem benevolência, expressa com raiva e culpabilização, que acaba com algum encantamento ainda existente. Permito-me, a este respeito, em jeito de brincadeira, e transpondo para os tempos actuais, lembrar que a tender sms a day keeps psychiatrist away! Uma palavra final para os textos «escritos há 25 anos». Trata-se de textos de inquietação e intimismo onde a autora, agora já sem temor do ridículo (ou outro), partilha o que designarei pela “aprendizagem do Amor”, que a certa altura se lhe impõe como se fosse uma revelação. Entenda-se o Amor em todos os níveis, como se, por exemplo, o Amor experienciado entre humanos ou entre estes e animais tivesse «oitavas» que culminassem no Amor Divino. Convido o leitor à sua leitura, despido de preconceitos, e a deixar-se surpreender. É um livro de maturidade, de paixão pela astrologia, de aprendizagem do Amor e de partilha de experiência de vida! M á r io S i mõe s Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Lisboa 25