UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA DE PROCESSOS QUÍMICOS E BIOQUÍMICOS Síntese de nanopartículas de ferro zero para degradação de compostos orgânicos por Processos Oxidativos Avançados Dissertação de Mestrado Júlio Athanazio Caldara Orientadores: Fabiana Valéria da Fonseca Cristiano Piacsek Borges Rio de Janeiro/RJ – Outubro de 2015 Júlio Athanazio Caldara SÍNTESE DE NANOPARTÍCULAS DE FERRO ZERO PARA DEGRADAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS POR PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS Dissertação de mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências. Orientadores: Fabiana V. da Fonseca, D. Sc. Cristiano Piacsek Borges, D. Sc. Rio de Janeiro/RJ – Outubro de 2015 ii CALDARA, Júlio Athanazio. Síntese de nanopartículas de ferro zero para degradação de compostos orgânicos por Processos Oxidativos Avançados / Júlio Athanazio Caldara - Rio de Janeiro: UFRJ/EQ, 2015. xvi; 112 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de Química, Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, 2015. Orientadores: Fabiana Valéria da Fonseca Cristiano Piacsek Borges 1. Tratamento de águas residuárias. 2. Processos oxidativos avançados. 3. Nanopartículas de ferro. I. FONSECA, Fabiana Valéria II. BORGES, Cristiano Piacsek III. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Programa em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química. IV. Produção de nanopartículas de ferro zero para degradação de compostos orgânicos por Processos Oxidativos Avançados. iii Síntese de nanopartículas de ferro zero para degradação de compostos orgânicos por Processos Oxidativos Avançados Júlio Athanazio Caldara Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.). Aprovado por: _____________________________________________ Ana Mehl, D. Sc. _____________________________________________ Luiz Alberto César Teixeira, PhD. _____________________________________________ Robinson Luciano Manfro, D. Sc. Orientadores: _____________________________________________ Fabiana Valéria da Fonseca, D. Sc. _____________________________________________ Cristiano Piacsek Borges, D. Sc. Rio de Janeiro/RJ - Outubro de 2015. iv “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.” (Martin Luther King) v AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Jonas Caldara e Georgina Athanazio Caldara, por todo amor, dedicação, confiança e exemplo durante todo meu caminho. Aos meus irmãos, André Athanazio Caldara e Paula Athanazio Caldara, por estarem sempre presentes em todos os momentos da minha vida. À toda minha família pelo carinho e alegrias compartilhadas. Agradeço ao meu irmão canino, Lupi, por alegrar minha casa todos os dias. Aos meus amigos, capixabas e cariocas, pelo companheirismo, incentivo e bons momentos vividos. Aos companheiros do Laboratório de Processos de Separação com Membranas (PAM) pelo convívio e auxílio no desenvolvimento deste estudo. Agradeço ao Carlos André de Castro Perez, pesquisador do NUCAT, pela grande ajuda nas análises de DRX. Também aos laboratórios LabTecH e EngePol pela disponibilidade e ajuda nas análises. À CAPES pela concessão da bolsa de pesquisa. Aos participantes da banca examinadora, Profª Dra. Ana Mehl, Profº PhD Luiz Alberto César Teixeira e Profº Dr. Robinson Luciano Manfro, por aceitarem participar deste momento importante avaliando meu trabalho. E finalmente, aos meus orientadores, Fabiana Valéria da Fonseca e Cristiano Piacsek Borges, pela disponibilidade, ensinamentos e paciência durante os trabalhos. vi RESUMO CALDARA, Júlio Athanazio. Síntese de nanopartículas de ferro zero para degradação de compostos orgânicos por Processos Oxidativos Avançados. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado) - Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos – Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015. O uso das nanopartículas de ferro de valência zero (nZVI) surge como uma excelente técnica alternativa para aplicações em processos oxidativos avançados. Vários estudos demonstram a eficiência das nZVI na remoção de diversos tipos de contaminantes em águas residuais. O presente trabalho discute diferentes métodos de obtenção de nanopartículas de ferro de valência zero, caracterizando-as, testando sua eficiência, estudando a cinética das reações e comparando os resultados da degradação de compostos orgânicos presentes em águas residuais de indústrias têxteis, com os obtidos aplicando nanopartículas comerciais. Foram testadas mudanças em diversas variáveis da reação: concentração de nZVI, presença e concentração de peróxido de hidrogênio (H2O2), e pH. A metodologia que obteve ferro de valência foi a redução de cloreto ferroso (FeCl2) com borohidreto de sódio (NaBH4) na presença do polímero carboximetilcelulose (CMC) como agente surfactante. A reação com 3 g/L de nZVI e 0,1 g/L de H2O2 em pH 3, em 20 minutos foi alcançada remoção de 93 % do corante vermelho Drimaren X-6BN. Considerando uma reação de pseudo primeira ordem, o valor da constante de velocidade aparente foi de 7,202 h-1. Palavras-chave: Tratamento de águas residuais; Processos oxidativos avançados; Nanopartículas; Ferro de valência zero. vii ABSTRACT CALDARA, Júlio Athanazio. Síntese de nanopartículas de ferro zero para degradação de compostos orgânicos por Processos Oxidativos Avançados. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado) - Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos – Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015. The use of zero valent iron nanoparticles (nZVI) emerges as a great alternative technic for applications in advanced oxidation processes. Several studies have demonstrated the effectiveness of nZVI in removing various kinds of contaminants in wastewater. This study discusses different methods of obtaining zero valent iron nanoparticles, characterizing them and testing their efficiency, studying the reaction's kinetics of and comparing the results of the degradation of organic compounds in wastewater of textile industries, with those obtained by applying commercial nanoparticles. Changes in several reaction variables were tested: concentration of nZVI, presence and concentration of hydrogen peroxide (H2O2), and pH. The method to obtain zero valent iron nanoparticles was reduction of ferrous chloride (FeCl2) with sodium borohydride (NaBH4) in the presence of carboxymethylcellulose polymer (CMC) as surfactant. Reaction with 3 g/L of nZVI and 0.1 g/L H2O2 at pH 3, in 20 minutoes it was achieved 93 % removal of Drimaren red X-6BN dye. It was considered pseudo-first order reaction and the apparent rate constant was 7,202 h-1. Keywords: Wastewater treatment; Advanced oxidation processes; Nanoparticles; Zero valent iron. viii LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Distribuição da água na Terra; distribuição da água doce na Terra....................................................................................................................1 Figura 2.1 – Sistemas geradores de radicais hidroxila em POA.........................9 Figura 2.2 – Orbitais moleculares de materiais condutores, semicondutores e não condutores..................................................................................................13 Figura 2.3 – Mecanismo de fotoativação de um catalisador semicondutor.......15 Figura 2.4 – Nanopartículas magnéticas multifuncionais. Casca realiza a adsorção de contaminantes enquanto o núcleo faz a separação através de seu magnetismo.......................................................................................................22 Figura 2.5 – Esquema do modelo núcleo/casa de uma nZVI............................34 Figura 2.6 – Esquema tridimensional do modelo núcleo/casa de uma nZVI.....34 Figura 3.1 – Esquema da síntese das nZVI por FeCl3......................................45 Figura 3.2 – Esquema da síntese das nZVI por FeCl2......................................46 Figura 3.3 – Estrutura molecular do corante vermelho Drimaren X-6BN..........48 Figura 3.4 – Filtração com seringa (membrana 0,2 µm)....................................49 Figura 4.1 – Distribuição de tamanhos das nZVI sintetizadas...........................53 Figura 4.2 – Distribuição de tamanhos das nZVI sintetizadas (dois dias após a síntese)..............................................................................................................54 Figura 4.3 – Distribuição de tamanhos na solução de CMC (5 g/L)..................55 Figura 4.4 – DRX das nZVI sintetizadas por redução de FeCl2.........................56 Figura 4.5 – Imagem de MEV das nZVI sintetizadas (aumento de 50 mil vezes)................................................................................................................57 Figura 4.6 – Imagem de MEV das nZVI sintetizadas (aumento de 100 mil vezes)................................................................................................................58 ix Figura 4.7 – Potencial zeta das nZVI em suspensão aquosa............................59 Figura 4.8 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em diferentes concentrações de nZVI, [H2O2] = 0,1 g/L e pH 5.........................................60 Figura 4.9 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI, em pH 3 ou 5 e na presença ou ausência de H2O2 (0,1 g/L)...................62 Figura 4.10 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em diversos intervalos de tempo. Presença de 3 g/L de nZVI, pH 5 e ausência de H2O2...................................................................................................................64 Figura 4.11 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em diversos intervalos de tempo. Presença de 3 g/L de nZVI, pH 5 e 0,1 g/L de H2O2........64 Figura 4.12 – Comparação entre soluções contendo 3 g/L de nZVI com peróxido (0,1 g/L) em pH 5 (a) e pH 3 (b), após decomposição do corante......65 Figura 4.13 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI, 0,1 g/L de H2O2 e em diferentes valores de pH.......................................66 Figura 4.14 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI, pH 3 e diferentes concentrações de H2O2................................................68 Figura 4.15 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com diferentes concentrações de nZVI em pH 3 e 0,01 g/L de H2O2........................69 Figura 4.16 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 1 g/L de nZVI comercial e sintética, 0,1 g/L de H2O2 e pH 5...........................................70 Figura 4.17 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN e 3 g/L de nZVI ou nZVIc com diferentes concentrações de H2O2: (a) 0,1 g/L e (b) 0,01 g/L......................................................................................................................72 Figura A.1 – Solução de nZVI resultante da redução de βzeo impregnada com Fe(NO3)3............................................................................................................90 Figura A.2 – DRX das nZVI obtidas na redução de βzeo impregnada com Fe(NO3)3............................................................................................................91 x Figura A.3 – Solução de nZVI resultante da redução de βzeo impregnada com FeSO4................................................................................................................92 Figura A.4 – DRX das nZVI obtidas na redução de βzeo impregnada com FeSO4................................................................................................................92 Figura A.5 – Solução de nZVI resultante da redução de FeCl3.........................93 Figura A.6 – DRX das nZVI obtidas na redução de FeCl3.................................94 Figura A.7 – Cálculo do λ ótimo para o corante vermelho Drimaren X-6BN.....95 Figura A.8 – Curva de calibração do corante vermelho Drimaren X-6BN.........96 Figura A.9 – Distribuição de tamanhos das nZVI..............................................97 Figura A.10 – DRX das nZVI recém-sintetizadas..............................................98 Figura A.11 – DRX das nZVI 20 dias após a síntese........................................98 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 – Principais contaminantes presentes na água.................................2 Tabela 2.1 – Potencial de oxidação para oxidantes em água.............................7 Tabela 2.2 – Aplicações da nanotecnologia no tratamento de águas residuárias.........................................................................................................20 Tabela 2.3 – Otimização da atividade de fotocatalisadores..............................24 Tabela 2.4 – Ação antimicrobiana de nanomateriais.........................................26 Tabela 2.5 – Contaminantes comuns em águas residuárias que podem ser degradados com nZVI........................................................................................38 Tabela 2.6 – Estudos de degradação de contaminantes utilizando nZVI, suas técnicas de síntese e os resultados destes estudos encontrados na literatura.............................................................................................................39 Tabela 4.1 – Constantes de velocidade aparente para reações com diferentes concentrações de nZVI na presença de 0,1 g/L de H2O2 e pH 5.......................61 Tabela 4.2 – Constantes velocidade aparente para reações na presença ou ausência de 0,1 g/L de H2O2, com 3 g/L de nZVI em pH 3 ou 5........................63 Tabela 4.3 – Constantes de velocidade aparente para reações com meio reacional em diferentes valores de pH, na presença de 3 g/L de nZVI e 0,1 g/L de H2O2..............................................................................................................67 Tabela 4.4 – Constantes de velocidade aparente para reações com diferentes concentrações de H2O2 na presença de 3 g/L de nZVI e pH 3..........................68 xii LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES POA – processos oxidativos avançados ZVI – ferro de valência zero nZVI – nanopartículas de ferro de valência zero nZVIc – nanopartículas de ferro de valência zero comerciais •OH – radicais hidroxila Fe0 – ferro de valência zero CMC – carboximetilcelulose RMS – potência média continua (Root Mean Square) C (t) – concentração de corante em um determinado instante de tempo C0 – concentração inicial de corante k – constante velocidade aparente de reação t – intervalo de tempo λ – comprimento de onda Abs – absorvância xiii ÍNDICE 1 – Introdução......................................................................................................1 1.1 – Objetivo geral.......................................................................................3 1.2 – Objetivos específicos............................................................................3 2 – Revisão Bibliográfica.....................................................................................5 2.1 – Técnicas de tratamento de águas........................................................5 2.2 – Processos oxidativos avançados (POA)..............................................6 2.2.1 – Sistemas homogêneos................................................................9 2.2.1.1 – Ozônio......................................................................................9 2.2.1.2 – Fotólise do H2O2.....................................................................10 2.2.1.3 – Reação de Fenton e foto-Fenton...........................................11 2.2.2 – Sistemas heterogêneos............................................................13 2.3 – Nanotecnologia...................................................................................16 2.4 – Nanotecnologia aplicada ao tratamento de águas residuárias...........18 2.4.1 – Nanoadsorventes......................................................................21 2.4.2 – Nanomateriais incorporados em membranas...........................22 2.4.3 – Nanofotocatalisadores..............................................................23 2.4.4 – Nanomateriais para desinfecção e controle microbiano...........25 2.4.5 – Nanomateriais de detecção e monitoramento..........................26 2.5 – Nanopartículas de ferro......................................................................28 2.5.1 – Técnicas de síntese..................................................................28 2.5.2 – Propriedades.............................................................................30 2.5.3 – Aplicações.................................................................................32 xiv 2.6 – Nanopartículas de ferro aplicadas ao tratamento de águas...............32 3 – Materiais e métodos.....................................................................................43 3.1 – Síntese das nanopartículas de ferro...................................................43 3.2 – Caracterização das nanopartículas de ferro obtidas..........................46 3.2.1 – Distribuição de tamanho das partículas....................................46 3.2.2 – Difração de Raios-X..................................................................47 3.2.3 – Microscopia eletrônica de varredura.........................................47 3.2.4 – Potencial zeta............................................................................47 3.3 – Ensaios de degradação com as nZVI sintetizadas.............................48 3.4 – Ensaios de degradação com as nZVI comerciais..............................50 3.5 – Determinação das constantes de velocidade aparente das reações de degradação........................................................................................................50 4 – Resultados e discussões.............................................................................52 4.1 – Síntese e caracterização das nZVI.....................................................52 4.1.1 – Distribuição de tamanho das nZVI............................................52 4.1.2 – Difração de raios-X (DRX)........................................................55 4.1.3 – Microscopia de varredura eletrônica (MEV)..............................56 4.1.4 – Potencial zeta............................................................................58 4.2 – Degradação do corante por nZVI/H2O2..............................................59 4.2.1 – Reação de Fenton com nZVI sintetizadas................................59 4.2.1.1 – Efeito da concentração de nZVI.............................................59 4.2.1.2 – Efeito da presença de H2O2...................................................61 4.2.1.3 – Efeito do pH...........................................................................65 xv 4.2.1.4 – Efeito da concentração de H2O2............................................67 4.2.2 – Comparação com nZVI comerciais...........................................69 5 – Conclusões e sugestões..............................................................................73 6 – Referências Bibliográficas...........................................................................75 ANEXO I – Resultados das sínteses das nZVI a partir de zeólitas impregnadas......................................................................................................90 ANEXO II – Resultados das sínteses das nZVI a partir da redução de FeCl3..................................................................................................................93 ANEXO III – Curva de calibração do corante têxtil............................................95 ANEXO IV – Análises da distribuição de tamanhos das nZVI...........................97 ANEXO V – Análises das nZVI..........................................................................98 xvi 1 – Introdução A água é o recurso natural mais importante para sobrevivência de animais e vegetais na Terra. Está presente em 70% da superfície do planeta, no entanto, de toda a água existente, apenas 2,5% é doce (Figura 1). A água doce é composta por águas congeladas (geleiras), águas de depósitos subterrâneos e outras formas (rios, lagos, e outros). O alto nível das atividades humanas atuais se deve, entre outros, ao constante crescimento populacional e ao grande desenvolvimento que a sociedade de hoje alcançou. Porém, essas atividades causam alterações indesejadas no solo, ar e na água. Uma destas alterações é a constante e ininterrupta contaminação das águas, que se tornou uma das grandes preocupações deste século, principalmente nos Estados Unidos e países da Europa. As cidades que contaminam a água com mais intensidade são as de maior concentração populacional e as cidades litorâneas. O Brasil é um país privilegiado por possuir 12% de toda a água doce superficial da Terra, entretanto, também se encontra em patamar preocupante quanto à contaminação. Figura 1.1 – Distribuição da água na Terra; distribuição da água doce na Terra. Fonte: EMBRAPA, 2015. Água residuária é aquela utilizada na limpeza de quaisquer impurezas provenientes de atividades domésticas, comerciais ou industriais, sua composição e o nível de cada contaminante é bastante variado. O descarte 1 dessas águas sem algum tratamento causa o acúmulo destas substâncias nocivas, e isso acarreta em graves riscos para a sobrevivência dos seres vivos. Na Tabela 1.1 estão descritas as principais substâncias que contaminam a água de acordo com suas origens domésticas e industriais. Tabela 1.1 – Principais contaminantes presentes na água. Origem Principais contaminantes Esgoto Sólidos suspensos, matéria orgânica, organismos patogênicos, nitrogênio, fósforo Fertilizantes Nitratos e fosfatos Energia Hidrocarbonetos, calor (poluição térmica) Têxtil e Couro Cromo, tanino (polifenóis de origem vegetal), surfactantes, sulfetos, solventes orgânicos, corantes, ácidos acético e fórmico Construção Sólidos suspensos, metais pesados, matéria orgânica e cianetos Pesticidas Organoclorados, organossilícicos Tintas Zinco, cromo, selênio, titânio, molibdênio, bário, cobalto, compostos organoestânicos Química Orgânica e Inorgânica Mercúrio, fósforo, fluoretos, cianetos, amônia, nitritos, H2S, flúor, manganês, molibdênio, chumbo, prata, organoclorados, organossilícicos Naval Petróleo, produtos químicos, solventes, tintas Papel e Celulose Sólidos suspensos Automotiva Tintas, lubrificantes, águas residuais Siderurgia Óleos, metais, emulsões, ácidos Fonte: Standard methods for the examination of water and wastewater, 2015. No momento em que a água está se tornando cada vez mais escassa é necessário discutir e encontrar formas para tratar, descartar corretamente, reduzir a emissão e reutilizar estes efluentes. A busca por técnicas mais eficientes e menos custosas para tratamento de águas residuárias é constante. No entanto, diversos parâmetros influenciam a eficiência e a especificidade das técnicas de tratamento. Um dos motivos que 2 mais dificulta a escolha da técnica é a imensa variedade de produtos químicos e orgânicos presentes em um efluente. Os processos oxidativos avançados (POA) têm tido grande importância devido a sua eficiência nas aplicações para a descoloração de efluentes e degradação de micropoluentes e contaminantes recalcitrantes. A utilização da nanotecnologia associada aos processos oxidativos avançados vem sendo recentemente estudada. Seus recentes avanços oferecem processos altamente eficientes e multifuncionais, pois utilizam menor quantidade de matéria-prima com elevadíssima reatividade. Durante esta busca por novos e mais eficientes processos de tratamentos, a aplicação das nanopartículas de ferro de valência zero (nZVI) surge como uma técnica alternativa e promissora para o tratamento de águas residuárias. Alguns estudos já existentes demonstram que há grandes perspectivas para a destruição de contaminantes presentes na água. Porém, segundo Carvalho (2009), ainda são necessários estudos mais aprofundados sobre suas propriedades físicas e químicas, assim como, a influência destas propriedades na reatividade das nZVI. 1.1 – Objetivo geral Estudar a obtenção de nanopartículas de ferro de valência zero (nZVI) e sua atividade catalítica para aplicação em processos oxidativos avançados (POA). 1.2 – Objetivos específicos Produzir nanopartículas de ferro de valência zero (nZVI) a partir do método de redução com borohidreto de sódio; Estudar diferentes procedimentos para manter o ferro na forma reduzida Fe0; Avaliar a redução de corante têxtil por reação com nZVI; 3 Avaliar a degradação de corante têxtil pela reação do peróxido de hidrogênio (H2O2) com as nZVI; Estudar a cinética de degradação de corante têxtil pelo processo nZVI/H2O2; Comparar nZVI comerciais com as produzidas neste estudo, visando a degradação de corante têxtil por POA. 4 2 – Revisão bibliográfica 2.1 – Técnicas de tratamento de águas Basicamente, as técnicas de tratamento envolvem a aplicação de processos de concentração dos contaminantes (separação) e de destruição destes (desinfecção). Na maioria dos casos, aplicam-se tratamentos combinados que envolvem processos físicos, químicos e biológicos. Esta combinação de técnicas se deve à grande variedade dos contaminantes e do nível de cada poluente presente na composição do efluente (ALMEIDA, 2004). A escolha da técnica de tratamento utilizado está intimamente ligado à qualidade requerida para a aplicação da água tratada. Os tratamentos de efluentes mais comumente utilizados são: decantação, coagulação, floculação, tratamentos biológicos (lodos ativados, lagoas de estabilização), adsorção em sólidos porosos (argilas, carvão ativado e outros), filtração por membranas e os processos oxidativos avançados (POA) (MAGALHÃES, 2008). Esses processos de tratamentos estão organizados em graus de acordo com sua complexidade e a porcentagem de remoção de contaminantes que se deseja alcançar. Os graus destes tratamentos são: preliminar, primário, secundário e terciário (METCALF e EDDY, 2003). O tratamento preliminar é a primeira etapa de qualquer tratamento de efluentes. Emprega métodos físicos objetivando, principalmente, remover os sólidos em suspensão (sólidos grosseiros e areia), para que desta forma sejam evitados danos aos equipamentos e tubulações. Os principais processos aplicados nesta fase do tratamento são o peneiramento e a sedimentação (LIU e LIPTÁK, 1999). O tratamento primário é composto por métodos físico-químicos utilizados para retirada de parte da matéria orgânica em suspensão e materiais flutuantes (p. ex. óleos e graxas). As principais técnicas utilizadas nos processamentos primários são coagulação/floculação, decantação e flotação (METCALF e EDDY, 2003). 5 No tratamento secundário o foco está na remoção dos contaminantes por processos biológicos aeróbios (lodos ativados, filtros biológicos e lagoas de estabilização) ou anaeróbios (reatores anaeróbios, filtros anaeróbios e outros). O principal objetivo é remover a matéria orgânica dissolvida e em suspensão, porém também há remoção parcial dos sólidos não sedimentáveis, nutrientes e patógenos (MAIER et al, 2009). O tratamento terciário é a etapa onde se encontra a maior gama de técnicas de tratamento. É também conhecido como polimento, pois é uma forma de alcançar remoções adicionais de contaminantes nas águas residuárias antes de seu descarte ou reúso (MAIER et al, 2009). São diversos processos que fazem parte do tratamento terciário, mas podese citar alguns e suas finalidades: destruição de bactérias (cloração, ozonização e radiação ultravioleta); redução de sólidos inorgânicos (filtração em membranas e resinas de troca iônica); redução de nutrientes (desnitrificação e precipitação de fósforo); descoloração e remoção de compostos recalcitrantes (filtração em carvão ativado e processos oxidativos avançados (POA)). 2.2 – Processos oxidativos avançados (POA) Os processos oxidativos avançados (POA) se caracterizam por remover contaminantes recalcitrantes mesmo em baixas concentrações (ppm) que não são removidos nos processos biológicos e nem por técnicas convencionais, como coagulação ou filtração (FONSECA, 2013). O princípio da oxidação química está na transferência de elétrons entre as espécies reagentes, convertendo, desta forma, espécies nocivas ao meio ambiente em outras inócuas ou menos tóxicas que poderão ser biodegradas mais rapidamente ou removidas com maior facilidade por outros processos de tratamento. Segundo Teixeira e Jardim (2004), são várias as vantagens de se utilizar processos oxidativos avançados para tratar efluentes e águas residuárias, dentre elas podemos citar: 6 mineralizam o poluente ao invés de apenas transferi-lo de fase; transformam contaminantes refratários em biodegradáveis; elevadas cinéticas de reação; quando otimizados, não geram subprodutos; podem ser usados combinados com outros processos de tratamento. Os POA consistem na geração de radicais livres hidroxila (•OH), que atuarão como agentes oxidantes, reduzindo as espécies indesejadas. Os produtos finais são moléculas menos tóxicas, CO2, H2O e íons inorgânicos. (RAVIKUMAR e GUROL, 1994). Os potenciais de oxidação de vários agentes oxidantes em água estão apresentados na Tabela 2.1. Tabela 2.1 – Potencial de oxidação para oxidantes em água. Agente oxidante Potencial de oxidação (eV) •OH 2,80 O( D) 1 2,42 O3 2,07 H2O2 1,77 Radical peridróxido 1,70 Íon permanganato 1,67 Dióxido de cloro 1,50 Cloro 1,36 O2 1,23 Fonte: CRC Handbook, 1985. A reação dos radicais livres hidroxila (•OH) com os contaminantes se dá de forma muito rápida através de diferentes rotas: abstração de átomo de hidrogênio, adição de radical e transferência de elétrons. Abstração de átomo de hidrogênio Uma das possibilidades de reação é o radical hidroxila oxidar as moléculas do contaminante através de abstração de átomo de hidrogênio (equação (1)). 7 Esta via é geralmente usada para moléculas de hidrocarboneto alifático (BRITO e SILVA, 2012). RH + •OH R• + H2O (1) Adição de radical A adição radicalar ocorre em moléculas insaturadas (equação (2) e (3)). O radical hidroxila quebra a ligação π dupla ligação presente nas moléculas. Ocorre, geralmente em hidrocarbonetos aromáticos ou insaturados (NOGUEIRA et al., 2007). (2) (3) Transferência de elétrons Quando as reações de abstração de hidrogênio ou adição de radical não são favorecidas, ocorre a transferência de elétrons (equação (4)) (BRITO e SILVA, 2012). RX + •OH RX•+ + OH- (4) Os processos oxidativos avançados são divididos em dois sistemas de reações que geram os radicais hidroxila. Os sistemas homogêneos não utilizam catalisadores sólidos e podem ter ou não radiação ultravioleta (UV). Já as reações heterogêneas ocorrem com presença de catalisadores e também com ou sem luz ultravioleta. Na Figura 2.1 estão apresentados alguns exemplos típicos de cada sistema de reação. 8 Figura 2.1 – Sistemas geradores de radicais hidroxila (•OH). Onde SC – Semicondutores (p. ex. TiO2, ZnO e outros). Fonte: Adaptado de Huang et al, 1993. 2.2.1 – Sistemas homogêneos Alguns dos sistemas que não utilizam catalisadores sólidos para acelerar as reações envolvidas são: ozonólise, fotólise e reações de Fenton. 2.2.1.1 – Ozônio O ozônio (O3) é um gás incolor, tem odor muito forte e é altamente oxidante. Em meio aquoso se decompõe rapidamente em oxigênio e radicais. Suas melhores aplicações são em processos de descoloração, remoção de metais, degradação de matéria orgânica a água natural e degradação de herbicidas (LANGLAIS et al, 1991). As vantagens do ozônio são principalmente seu alto poder de oxidação (baixas concentrações de O3 são suficientes no processo) e o fato de sua eficiência não ser muito afetada pelas mudanças na temperatura. Porém, apesar de sua reatividade ser alta, sua seletividade é baixa e o processo requer alto custo de investimento. 9 A oxidação utilizando ozônio pode acontecer diretamente e/ou indiretamente. A forma direta é a reação do ozônio molecular (O 3) com as moléculas orgânicas ou inorgânicas presentes nos contaminantes. A oxidação indireta utiliza os radicais hidroxila (•OH) gerados na decomposição do ozônio. Os radicais hidroxila são gerados a partir da ação conjunta do ozônio com radiação UV, H2O2 ou OH- (FONSECA, 2013). O3/UV O uso de irradiação ultravioleta em água ozonizada gera H2O2, que se ioniza e reage com o excesso de O3, produzindo radicais hidroxila segundo a equação (5) (ANDREOZZI et al, 1999). 3 O3 + H2O + UV 2 •OH + 4 O2 (5) O3/H2O2 Segundo Momenti (2006), adiciona-se peróxido de hidrogênio à água ozonizada para produzir maior concentração de radicais hidroxila através da equação (6). H2O2 + 2 O3 3 O2 + 2 •OH (6) O3/OHEm meio alcalino, o ozônio gera radicais hidroxila segundo a equação (7) (TEIXEIRA e JARDIM, 2004). 2 O3 + H2O + OH- •OH + O2 + HO2 (7) 2.2.1.2 – Fotólise do H2O2 (H2O2/UV) A radiação UV decompõe o peróxido de hidrogênio em radicais hidroxila através da equação (8). Em tratamentos de efluentes, esta reação é mais comumente aplicada para remover cor, degradar fenóis e também é utilizada como pré-tratamento para aumentar a biodegradabilidade de surfactantes (HUANG et al, 1993). H2O2 + UV 2 •OH (8) 10 Um parâmetro de controle desta reação é a concentração de H 2O2 utilizada, pois grandes quantidades de peróxido de hidrogênio pode consumir radicais hidroxila (equação (9)) e assim reduzindo a eficiência do processo (ANDREOZZI et al, 1999). H2O2 + •OH H2O + HO2• (9) Esta limitação, juntamente com o alto custo, são desvantagens do processo de fotólise do H2O2. No entanto, são várias suas vantagens: o peróxido de hidrogênio é solúvel em água, não gera poluição adicional, a temperatura não afeta o comportamento do H2O2, a operação é simples e outros (FONSECA, 2013). 2.2.1.3 – Reação de Fenton e foto-Fenton Reação de Fenton (Fe2+/H2O2) Desenvolvida por Henry John Horstman Fenton, a reação de Fenton utiliza íons ferrosos (Fe2+) para catalisar a degradação do H2O2 e gerar radicais hidroxila (equação (10)) (NEYENS e BAEYENS, 2003). O Fenton tem sido utilizado com eficiência na degradação de organoclorados, surfactantes, corantes e em tratamentos de lixiviado (TEIXEIRA e JARDIM, 2004). Fe2+ + H2O2 Fe3+ + OH- + •OH (10) Os íons férricos (Fe3+) produzidos, reagem com o peróxido de hidrogênio gerando novos íons Fe2+ segundo a equação (11) (NEYENS e BAEYENS, 2003). Fe3+ + H2O2 Fe2+ + H+ + HO2• (11) Esses novos íons Fe2+ irão decompor o H2O2 para formar novos radicais hidroxila. Portanto, de um modo geral, o processo Fenton gera radicais hidroxila através de um conjunto de reações cíclicas com íons ferrosos e férricos (Fe2+ e Fe3+) como catalisadores. Inicialmente, é feito um ajuste de pH, pois as reações apresentadas pelas equações (10) e (11) ocorrem em pH ótimo na faixa de 3 a 4. A utilização de pH ácido, além de favorecer a redução dos íons Fe3+ a Fe2+, também impede 11 formação de precipitados de ferro, que irão formar uma casca nas partículas reativas e, consequentemente, diminuirão sua atividade (ANDREOZZI et al (1999); NEYENS e BAEYENS, 2003). Quando a reação chega ao fim, é necessário realizar uma neutralização (pH na faixa de 6 a 9), para que dessa forma haja formação de precipitado de hidróxido de ferro (equação (12)). Esta neutralização apresenta a vantagem de, possivelmente, também precipitar outros metais indesejáveis (FONSECA, 2013). Fe3+ + 3 OH- Fe(OH)3(s) (12) Esse ajuste de pH é uma limitação do Fenton, outro ponto negativo é a formação de lodo e a necessidade de remoção deste precipitado. No entanto, o ferro é um elemento abundante e o processo Fenton é simples, pois opera em níveis de temperatura e pressão ambientes. Foto-Fenton (Fe2+/H2O2/UV) O processo foto-Fenton almeja maiores eficiências de degradação de contaminantes. O foto-Fenton é a combinação da reação de Fenton com radiação ultravioleta. Como já vimos, o objetivo é fazer a fotólise do H2O2 e assim acelerar sua degradação em radicais hidroxila (TEIXEIRA e JARDIM, 2004). Além disso, a utilização da radiação UV pode regenerar íons Fe 2+ através da reação (13) (POURAN et al, 2014). Fe(OH)2 + UV Fe2+ + •OH (13) Outra forma de regenerar íons ferrosos é através da aplicação do fotoFenton para quebrar complexos orgânicos de ferro (equação (14)) (NOGUEIRA, 2007). Fe3+(RCO)2+ + UV Fe2+ + CO2 + R (14) 12 2.2.2 – Sistemas heterogêneos As reações que fazem parte dos sistemas heterogêneos ocorrem na presença de catalisadores sólidos. Tais catalisadores possuem orbitais moleculares onde os elétrons se movimentam. O orbital com menor nível energético é a banda de valência (BV), onde ocorre menor movimentação de elétrons, já a banda de condução (BC) tem mais energia e, consequentemente, os elétrons se movem mais facilmente, gerando condutividade elétrica semelhante a dos metais (TEIXEIRA e JARDIM, 2004). Com relação à condutividade elétrica, os catalisadores são classificados em: condutores, não condutores e semicondutores. O esquema ilustrado na Figura 2.2 facilita a visualização. Os condutores possuem a BV e a BC muito próximas, havendo condutividade elétrica facilmente. Já os materiais semicondutores possuem uma região denominada “bandgap”, que separa a BV da BC, caracterizando-os como materiais de baixa condutividade. Por fim, os não condutores apresentam uma separação muito maior entre a BV e a BC, sendo assim, apresentam baixíssima condutividade elétrica, praticamente nula. Figura 2.2 – Orbitais moleculares de materiais condutores, semicondutores e não condutores. Fonte: Davis et al, 1989. 13 Os catalisadores mais comumente utilizados nos sistemas heterogêneos de tratamento de efluentes são materiais semicondutores. E a fotocatálise heterogênea é a técnica mais utilizada quando se trata de sistemas heterogêneos. Esta técnica de tratamento consiste na geração de radicais hidroxila através da ativação de catalisadores semicondutores pela energia presente nos fótons (hѵ) de luz solar ou artificial (como por exemplo, a ultravioleta). A ativação dos fotocatalisadores semicondutores se dá devido à energia presente na região de bandgap destes materiais. Quando os fótons excitam os elétrons presentes na BV, e esta energia é superior à da bandgap, o elétron supera a região de energia bandgap e assim deixa uma lacuna na BV. Esse par elétron excitado/lacuna (e-/h+) gera sítios oxidantes e redutores capazes de acelerar reações químicas. Esse mecanismo está esquematizado na Figura 2.3. Segundo Hoffmann (1995), as reações que ocorrem na fotocatálise heterogênea seguem os mecanismos das equações (15), (16), (17), (18), (19) e (20) abaixo. SC + hѵ e- + h+ (15) e- + O2 O2-• (16) SC + H2O2 + O2-• OH- (17) h+ + OH- •OH (18) h+ + H2O •OH + H+ (19) 2 O2-• + 2 H2O 2 •OH + 2 OH- + O2 (20) Há também o processo de desativação do catalisador, que seria a volta do elétron para a banda de valência, ou seja, a recombinação entre o elétron que foi excitado para a banda de condução e a lacuna deixada na banda de valência. Esta recombinação libera energia na forma de calor e pode ocorrer na superfície da partícula do semicondutor ou em seu interior (HOFFMANN, 1995). 14 Neppolian et al (2002) e Souza et al (2014), citam diversos catalisadores já aplicados em sistemas heterogêneos como: TiO2, ZnO, CdS, ZnS, SrO2, Fe2O3, caulim, SiO2 e Al2O3. Figura 2.3 – Mecanismo de fotoativação de um catalisador semicondutor. Onde hѵ: radiação; BC: banda de condução; BV: banda de valência; h +: lacuna; e-: elétron; D: composto orgânico; D-: espécie reduzida; D•: espécie oxidada. Fonte: Freire, 2000. Dentre os fotocatalisadores semicondutores supracitados, o mais aplicado é o dióxido de titânio (TiO2). Isto se deve ao fato de ser um composto de baixo custo, não tóxico, possibilidade de ativação através da luz solar, estável em ampla faixa de pH e insolúvel em água (FREIRE et al, 2000). A fotocatálise heterogênea tem suas principais aplicações na degradação de bactérias, pesticidas e herbicidas, corantes, surfactantes e redução de metais. Fenton heterogêneo A diferença do Fenton heterogêneo para o Fenton convencional está no aproveitamento da superfície de algum catalisador sólido à base de ferro para gerar os radicais hidroxila (•OH) mais rapidamente (DEVI et al, 2009). 15 Santos (2008) cita algumas vantagens do Fenton heterogêneo sobre o homogêneo. São elas: a reação pode ocorrer em pH neutro, excluindo a necessidade de etapas de ajustes de pH; menor geração de lodo, justamente devido ao pH da reação; e os catalisadores aplicados podem ser reciclados. Os principais catalisadores utilizados no processo Fenton heterogêneo são: zeólitas, carvão ativado, argila, nanopartículas magnéticas e matrizes poliméricas (FERREIRA, 2014). Segundo Lin e Gurol (1998), nos sistemas Fenton heterogêneo os radicais hidroxila (•OH) são gerados a partir das reações presentes nas equações (21), (22), (23) e (24). (o símbolo = se refere às espécies adsorvidas na superfície do metal). = Fe3+ + H2O2 = Fe2+ + •HO2 + H2O (21) = Fe2+ + H2O2 = Fe3+ + •OH (22) •HO2 H+ + •O2- (23) = Fe3+ + •HO2/•O2- = Fe2+ + H2O/OH- + O2 (24) Os íons ferrosos adsorvidos à superfície (= Fe2+) são gerados a partir de íons férricos também adsorvidos à superfície do catalisador (= Fe3+). São os íons = Fe2+ que degradam o peróxido de hidrogênio (H2O2) formando radicais hidroxila (•OH). Os íons = Fe3+ provenientes desta reação podem ser convertidos em novos íons = Fe2+ quando reagem com os radicais formados na reação (21) (•HO2). No tópico 2.6 será realizada uma discussão mais detalhada sobre a reação de Fenton heterogêneo com o ferro de valência zero atuando como catalisador. 2.3 – Nanotecnologia A nanociência é o estudo das propriedades e comportamento de materiais que apresentem ao menos uma de suas dimensões na escala da ordem de 0,1 a 100 nanômetros (1 nm = 10-9 m). O objetivo da nanociência é manipular e organizar matérias nas escalas molecular e atômica (BATISTA et al, 2010). A 16 nanotecnologia é a aplicação desta ciência para o desenvolvimento de produtos e processos que possam ser aplicados em diversas áreas de conhecimento para inovar tecnologias, melhorar a qualidade de vida das pessoas e ajudar na preservação do meio ambiente. Inicialmente a nanociência e a nanotecnologia eram vistas como ficção científica, porém passou a ser uma tendência cada vez mais forte a partir do ano de 1997. Segundo Roco (2001), Estados Unidos, União Europeia e Japão apresentam o maior nível de desenvolvimento em nanociência e nanotecnologia. As propriedades físicas e químicas das partículas em escalas nanométricas (nanopartículas) podem ser extremamente diferentes das mesmas partículas em escalas macroscópicas. Esta é a essência da nanotecnologia, ou seja, o aproveitamento e a habilidade de tratar as distintas e únicas propriedades das nanopartículas. Os nanomateriais são compostos por agregados destas nanopartículas. Estes materiais apresentam particularidades muito interessantes para diversas aplicações na química, física e biologia. Por exemplo, algumas nanopartículas apresentam-se transparentes por terem dimensões inferiores ao comprimento de onda crítico da luz, o que as tornam muito úteis para aplicações em embalagens, revestimentos e cosméticos (MAMANI, 2009). O intenso aumento na área superficial das nanopartículas que compõem os nanomateriais, também resulta em propriedades extremamente desejadas no desenvolvimento de produtos, como por exemplo, aumento da resistência física, térmica e química (MAMANI, 2009). Já com relação a velocidade das reações, os catalisadores nanométricos são extremamente eficientes. Com o’ tamanho extremamente reduzido, há um grande aumento na razão área superficial/volume, e com isso os átomos presentes na superfície participam de todas as interações físicas e químicas do material com o meio no qual está imerso (MAMANI, 2009). 17 2.4 – Nanotecnologia aplicada ao tratamento de águas residuárias As aplicações da nanotecnologia são inúmeras em diversos ramos da ciência, como medicina, biologia, informática, química e etc. Com relação ao meio ambiente, as pesquisas sobre as influências do uso de materiais e processos nanométricos ainda são recentes. Porém, esperam-se grandes benefícios para a preservação do meio ambiente com a aplicação da nanotecnologia, principalmente nas áreas de detecção e monitoramento, prevenção e tratamento de ambientes poluídos (BATISTA et al, 2010). Os recentes avanços na nanotecnologia oferecem oportunidades para desenvolver processos de tratamento que atinjam altas eficiências, multifuncionais e de menores investimentos (QU et al, 2013). Detecção e monitoramento Sensores estão sendo preparados em escalas nanométricas, permitindo maior sensibilidade e especificidade para detectar e monitorar contaminantes orgânicos e inorgânicos (RAMOS, 2009). Tais inovações em sensores ambientais implicam em detecções de poluentes cada vez mais precoces e precisas, acompanhamento em tempo real da eficiência de tratamentos e remediações, maior eficiência no monitoramento do nível de poluentes presentes em produtos de consumo humano e outros. Exemplos de materiais detectores em escala nanométrica são citados na tabela 2.2. Prevenção Nanocatalisadores mais uma vez se destacam na prevenção de poluição ao meio ambiente. Pois algumas das consequências de elevar a velocidade e eficiência dos processos industriais são: maiores rendimentos das matériasprimas, menores gastos de energia e produção de quantidades menores de subprodutos e reduzido dispêndio de energia e menor produção de resíduos indesejáveis (BATISTA et al, 2010). Na tabela 2.2, estão apresentados exemplos de materiais nanométricos de alta eficiência. 18 Tratamentos A elevada razão área superficial/volume das nanopartículas, faz com que estas sejam excelente alternativa para adsorver metais e compostos orgânicos. Após este tratamento de adsorção, a coleta das nanopartículas com os contaminantes adsorvidos pode ser facilitada por nanopartículas magnéticas (YE et al, 2006). As propriedades redox e/ou de semicondutor das nanopartículas traz outras importantes aplicações neste cenário. Isto as torna potentes agentes de degradação química ou fotoquímica de contaminantes orgânicos, sendo uma valiosa aplicação para tratar efluentes industriais, águas residuárias e solos contaminados (QUINA, 2004). Com relação ao magnetismo, as nanopartículas têm sido muito testadas na separação de metais em águas residuárias. Já as nanopartículas superparamagnéticas lipofílicas podem interagir com substâncias hidrofóbicas, devido às suas longas cadeias carbônicas (NGOMSIK et al, 2005). Vários exemplos de nanomateriais usados em tratamentos são citados na Tabela 2.2. As técnicas de tratamento de águas residuárias baseadas na aplicação de nanotecnologia, prometem enfrentar os desafios dos tratamentos existentes e utilizar os recursos hídricos de forma mais econômica. Na escala nanométrica, as aplicações se baseiam nas novas propriedades adquiridas pelas partículas, tais como: dissolução rápida, altíssima taxa de reatividade, intensa capacidade de adsorção, superparamagnetismo, confinamento quântico e a ressonância plasmônica (gera mudanças na coloração) (XIAOLEI et al, 2013). A seguir será feito um breve resumo dos principais materiais nanométricos aplicados em tratamentos de águas residuárias. Na Tabela 2.2 estão dispostos as aplicações que serão apresentadas a seguir. 19 Tabela 2.2 – Aplicações da nanotecnologia no tratamento de águas residuárias. Aplicação Materiais Nanotubos de carbono Adsorção Nanopartículas de óxidos metálicos Nanopartículas núcleo/casca Nanozeólitas NanoAg Nanotubos de carbono Propriedades Tecnologia ativa Pré-concentração e detecção de Elevada área superficial; sítios ativos mais acessíveis; contaminantes; adsorção de superfície química ajustável; fácil reúso. materiais recalcitrantes. Elevada área superficial; curta distância de difusão Reatores intrapartícula; mais sítios ativos; algumas adsorção. superparamagnéticas; fácil reúso. de lama; filtros de Casca adaptada para adsorção; núcleo reativo para Nanoadsorventes reativos. degradação; curta distância de difusão interna. Hidrofilicidade; peneira molecular. Membranas de nanocomposta permeáveis. Alta atividade antimicrobiana; baixa toxicidade. Membranas com pouca incrustação biológica. Atividade antimicrobiana; química estabilidade química e mecânica. ajustável; filme fino altamente alta Membranas com pouca incrustação biológica. Membranas Membranas (biológicas). de aquaporin Aquaporin Alta permeabilidade e seletividade. NanoTiO2 Membranas reativas; membranas de Atividade fotocatalítica; hidrofilicidade; estabilidade filme fino nanocomposta de alta química. performance. Nanomagnetita NanoTiO2 Superfície química ajustável; superparamagnética. Osmose reversa. Atividade fotocatalítica em UV e possivelmente em luz Reatores fotocatalíticos; sistema de visível; baixa toxicidade; alta estabilidade; baixo custo. desinfecção a base de luz solar. Fotocatálise Derivados de fulereno radiação solar; alta Reatores fotocatalíticos; sistema de desinfecção a base de luz solar. Desinfecção de águas; superfície impede incrustação biológica. Nanotubos de carbono Atividade antimicrobiana; condutividade. Desinfecção de águas; superfície impede incrustação biológica. NanoTiO2 Geração de radicais reativos; alta química; baixa toxicidade; baixo custo. estabilidade Desinfecção e descontaminação em larga escala. Pontos quânticos Nanopartículas de metais nobres Detecção e monitoramento em Alta atividade antimicrobiana; baixa toxicidade. NanoAg Desinfecção e controle microbiano Atividade fotocatalítica seletividade. Amplo espectro de absorção; emissão estreita, brilhante e estável que é dimensionada de acordo com Detecção óptica. o tamanho das partículas e o componente químico Alta condutividade; ressonância plasmônica superficial Detecção óptica e eletroquímica. aprimorada. Nanopartículas de sílica dopadas com corantes Alta sensibilidade e estabilidade; propriedade química Detecção óptica. da sílica facilita a conjugação. Nanotubos de carbono Elevada área superficial; alta resistência mecânica; Detecção eletroquímica; alta estabilidade química. concentração da amostra. Nanopatículas magnéticas Superfície química ajustável; superparamagnética. pré- Pré-concentração e purificação da amostra. Fonte: Xiaolei et al, 2013. 20 2.4.1 – Nanoadsorventes Os materiais adsorventes geralmente são aplicados como tratamento terciário, almejando a remoção de contaminantes orgânicos e inorgânicos de águas residuárias. A eficiência da adsorção dos materiais aplicados atualmente é limitada pela área superficial e os sítios ativos associados, falta de seletividade, e cinética de adsorção (MANSOORI, 2008). Os nanoadsorventes à base de carbono, metal e poliméricos representam uma evolução significativa, pois oferecem alternativas eficientes para superar estas limitações. Tais materiais possuem elevada razão área superficial/volume e seus sítios ativos associados, curta distância da difusão intrapartícula, tamanho do poro ajustável e a química da superfície (TIWARI, 2008). Segundo Pan & Xing (2008), os nanoadsorventes à base de carbono apresentam maior eficiência que o carvão ativado quando se trata de remoção de vários poluentes orgânicos e metálicos. Por exemplo, agregados de nanotubos de carbono apresentam maior disponibilidade de sítios ativos localizados em espaços intersticiais e sulcos, e com isso, sua capacidade de adsorver moléculas orgânicas maiores é bastante elevada (PAN & XING, 2008). Já quando estão oxidados, os nanotubos de carbono apresentam grupos funcionais em sua superfície (hidroxila, carboxila, fenol) que atuam como os principais sítios ativos para a adsorção de íons metálicos (MACHADO, 2012). Os nanoadsorventes à base de metais (óxidos de ferro, dióxido de titânio, óxido de alumínio) são mais baratos e de grande eficiência na adsorção de metais pesados como arsênio, chumbo, mercúrio, cobre, cádmio, cromo, níquel e outros (SHARMA et al, 2009). Segundo Yean et al (2005), quando se consegue diminuir nanomagnetitas de 300 para 11 nm, sua capacidade de adsorver arsênio aumenta mais de 100 vezes. Isto se deve ao aumento da razão área superficial/volume e também da mudança que ocorre na estrutura da superfície destas partículas (criam-se novos sítios ativos de adsorção) (AUFFAN et al, 2009). Além do aumento da área superficial, também se pode utilizar o superparamagnetismo das nanomagnetitas e maghemitas para tratar águas residuárias. À medida que diminuem de tamanho, as partículas 21 magnéticas podem se tornar superparamagnéticas, perdendo os momentos magnéticos permanentes enquanto estão sob efeito de um campo magnético. O superparamagnetismo pode ser utilizado em nanopartículas com estrutura núcleo/casca. Tais partículas possuem um núcleo de metal magnético e uma casca oxidada, e assim realiza as funções de adsorção e separação magnética ao mesmo tempo (Figura 2.4) (XIAOLEI et al, 2013). As nanopartículas poliméricas são conhecidas como dendrímeros. Os monômeros de sua estrutura formam ramificações que lembram a forma de uma árvore. Esta estrutura permite a adsorção de contaminantes orgânicos e metais pesados. Segundo Xiaolei et al (2013), sua parte interior pode ser hidrofóbica para adsorver contaminantes orgânicos e suas ramificações podem ser adaptadas com grupos funcionais (p. ex. hidroxila ou amina) para adsorver metais pesados. Figura 2.4 - Nanopartículas magnéticas multifuncionais. Casca realiza a adsorção de contaminantes enquanto o núcleo faz a separação através de seu magnetismo. Fonte: Xiaolei et al, 2013. 2.4.2 – Nanomateriais incorporados em membranas O tratamento por filtração com membranas é um processo físico que separa contaminantes de acordo com seu tamanho e forma. Os desafios desta técnica são a compensação entre seletividade e permeabilidade, incrustações que impedem a passagem da alimentação, a pressão utilizada para transportar o alimentado gera alto consumo de energia e a vida útil das membranas. 22 A incorporação de nanomateriais em membranas de filtração é uma alternativa que oferece melhorias na permeabilidade, resistência a incrustação, estabilidade térmica e mecânica, e gera novas possibilidades de degradação de contaminantes (MANSOORI, 2008). Nanofibras são materiais com elevada área superficial e porosidade. Com isso, membranas compostas por nanofibras têm sido utilizadas para remoção de micropartículas contaminantes presentes em soluções aquosas a uma elevada taxa sem significativas incrustações. Tais membranas podem ser indicadas como pré-tratamento para processos mais intensos de filtração (p. ex. ultrafiltração e osmose inversa). Outros nanomateriais podem ser facilmente impregnados em nanofibras, para assim criar módulos multifuncionais. Por exemplo, incorporando nanocerâmicos ou outros agentes nas nanofibras, pode-se moldar membranas para remover metais pesados e contaminantes orgânicos durante a filtração (LI & XIA, 2004). As membranas poliméricas ou inorgânicas também são muito utilizadas como módulos de filtração multifuncionais através da impregnação com nanomateriais. As nanopartículas são muito utilizadas nesses casos. Por exemplo, nanopartículas hidrofílicas de óxidos metálicos (p. ex. Al 2O3, TiO2, zeólitas) são utilizadas para aumentar a hidrofilicidade da membrana, e assim reduz a possibilidade de incrustações durante a filtração e aumenta sua resistência térmica e mecânica (MAXIMOUS et al, 2010). As nanopartículas antimicrobianas (p. ex. Ag, nanotubos de carbono) são aplicadas para reduzir a formação de bioincrustação, ou seja, tais partículas inibem a aderência de bactérias (ou as inativam) e a formação de biofilme (MAUTNER et al, 2011). Já as nanopartículas fotocatalíticas (p. ex. nanopartículas de ferro de valência zero, nanopartículas bimetálicas, TiO2) são incorporadas em membranas para degradar contaminantes durante a separação física. São chamadas membranas reativas e é uma evolução significativa em tratamentos de águas residuárias (WU et al, 2005). 2.4.3 – Nanofotocatalisadores A fotocatálise pode ser aplicada como um processo oxidativo avançado aplicado para remover contaminantes em baixas concentrações, tratar 23 compostos orgânicos recalcitrantes e também atuar como pré-tratamento, aumentando a biodegradabilidade de espécies contaminantes não biodegradáveis. A Tabela 2.3 traz algumas abordagens de como nanofotocatalisadores podem ser mais eficientes que os fotocatalisadores em maiores escalas. Tabela 2.3 – Otimização da atividade de fotocatalisadores. Objetivos Melhorar a cinética das reações fotocatalíticas Abordagens Mecanismos Aplicações Tamanho Mais sítios ativos na superfície; maior adsorção dos reagentes; menor recombinação do par elétron excitado/lacuna - + (e /h ). Formato Caminhos de difusão mais curtos na superfície; reatores com maior transferência de massa. - + Dopagem com metal nobre Melhor separação do par e /h ; menor - + recombinação do par e /h . Faces cristalográficas reativas Melhor separação do par e /h ; maior adsorção dos reagentes; menor - + recombinação do par e /h . Dopagem com impureza metálica Níveis de energia das impurezas. Dopagem com ânion Bandgaps estreitas. Dopagem com corante sensibilizador Injeção de elétron. Dopagem com semicondutores de bandgap estreita Injeção de elétron. - Aumentar o alcance da fotoatividade Reatores fotocatalíticos de UV com alta performance. + Reatores fotocatalíticos de luz solar ou visível; baixo custo da energia da fonte de luz. Fonte: Xiaolei et al, 2013. A otimização no tamanho e formato das nanopartículas fotocatalisadoras aprimora sua fotoatividade, pois reduz a recombinação indesejada do par é/h + e desta forma gera mais espécies oxidativas. Esta otimização também maximiza as facetas reativas dos nanofotocatalisadores.Segundo Freire et al (2000), as nanopartículas de dióxido de titânio (NanoTiO2) são os 24 semicondutores mais aplicados em processos fotocatalíticos, pois são menos tóxicas, mais baratas e possui ampla estabilidade química. Algumas pesquisas apontam que a dopagem com metais ou corantes também melhoram a fotoatividade e a cinética das reações destes nanofotocatalisadores (NI et al, 2007). 2.4.4 – Nanomateriais para desinfecção e controle microbiano Os processos de desinfecção e controle microbiano podem gerar muitos subprodutos tóxicos. Por exemplo, os tradicionais usos de desinfetantes à base de cloro e ozônio geram compostos halogenados, nitrosaminas carcinogênicas, bromatos e outros (CHOI e VALENTINE, 2002; GUNTEN, 2003; WANG et al, 2012). Portanto, o desafio é diminuir a formação de subprodutos, e desta forma tornar estes tratamentos menos nocivos. Muitos materiais nanométricos apresentam mecanismos que favorecem a desinfecção e controle microbiano (Tabela 2.4). Estes mecanismos propiciam oxidações de menor intensidade e, portanto, têm menor tendência a formar subprodutos nocivos ao ambiente (XIAOLEI et al, 2013). Dentre os materiais em escala nanométrica, a prata é a que apresenta maiores vantagens (CABALA, 2013). Possui forte atividade antimicrobiana, baixa toxicidade, baixo custo, amplo espectro antimicrobiano e é de fácil aplicação. O mecanismo-chave para sua atuação está na liberação de íons prata (Ag+). Estes íons causam danos à proteínas vitais e à membrana celular de microrganismos, e ainda evitam replicações de DNA (LIAU et al, 1997 e FENG et al, 2000). Outros materiais que possuem grande potencial em desinfecção são os nanotubos de carbono, nanomateriais à base de grafeno e à base de grafite. Segundo Vecitis et al (2010), quando em contato direto, os nanotubos de carbono eliminam as bactérias através de perturbação física na membrana celular, de estresse oxidativo (excesso de radicais livres), ou de interrupção de algum processo microbiano específico através de perturbação e/ou oxidação de uma estrutura celular vital. 25 Tabela 2.4 – Ação antimicrobiana de nanomateriais. Nanomateriais Mecanismos antimicrobianos NanoAg Libera de íons Ag ; quebra de proteínas; impede a replicação de DNA; quebra de membranas celulares. NanoTiO2 Produz radicais oxidantes. NanoZnO Libera íons Zn ; produz H2O2; quebra membranas celulares. NanoMgO Quebra membranas celulares. NanoCe2O4 Quebra membranas celulares. nC60 Oxidação independente de radicais oxidantes. Fulerol e Aminofulereno Produz radicais oxidantes. Nanotubos de carbono Quebra membranas celulares; estresse oxidativo. Nanomateriais à base de grafeno Quebra membranas celulares; estresse oxidativo. + 2+ Fonte: Xiaolei et al, 2013. 2.4.5 – Nanomateriais de detecção e monitoramento Uma grande necessidade dos tratamentos de águas residuais é a de otimizar técnicas de detecção e monitoramento da qualidade das águas. A dificuldade em detectar alguns contaminantes que estão em concentração extremamente pequenas e a ausência de detecção instantânea de contaminantes patogênicos são as principais preocupações e necessidades de inovação (XIAOLEI et al, 2013). Os sistemas de detecção tradicionais envolvem indicadores lentos, tais como os coliformes (bactérias). Estes indicadores não conseguem controlar a presença de agentes patogênicos emergentes: vírus das hepatites A e E, echovírus (infecções), adenovírus (doenças respiratórias), bactérias Legionella (doença do legionário, febre de Pontiac) heliobacter (doenças estomacais), e protozoários Cryptosporidium (gastroenterite) e Giardia (giardíase). 26 Pesquisas estão em andamento para desenvolver sensores de agentes patogênicos compostos por nanomateriais (VIKESLAND & WIGGINTON, 2010). Com suas propriedades eletroquímicas, ópticas e magnéticas, estes nanosensores possuem maior sensibilidade, detectam com maiores velocidades, e podem detectar mais de um tipo de patógeno (VIKESLAND & WIGGINTON, 2010). Segundo Xiaolei et al (2013), os nanomateriais mais usados em detecção e monitoramento são as nanopartículas magnéticas, os pontos quânticos, metais nobres, nanopartículas dopadas com corante e nanotubos de carbono. Os pontos quânticos são nanocristais semicondutores com propriedades de fluorescência com características eletrônicas dependentes de seu tamanho e formato (ALIVISATOS, 1996). Os pontos quânticos são muito indicados para detecção de múltiplos contaminantes, uma vez que sua emissão é na ordem de 10 a 20 vezes mais brilhante que os fluoróforos convencionais e até milhares de vezes mais estáveis que os corantes usuais (YAN et al, 2007 e SUKHANOVA et al, 2004). Os nanomateriais de metais nobres também são bastante interessantes para utilização como sensores. Segundo Petryayeva e Krull (2011), estas nanopartículas possuem elevada ressonância plasmônica, o que está intimamente ligada à diversas características das partículas, tais como: tamanho, formato, composição, distância intrapartículas e o ambiente do meio em que estão inseridas. A detecção por ressonância plasmônica se baseia na ressonância presente entre um campo elétrico de um feixe luminoso e os elétrons livres na superfície dos metais nobres (TUMOLO, 2008). Outro exemplo é a utilização de nanopartículas de sílicas dopadas com corantes luminescentes para obtenção de sensores de alta sensibilidade. A possibilidade de aderir um grande número de partículas do corante em uma nanopartículas é de extrema vantagem para a aplicação em detecção de contaminantes (XIAOLEI et al, 2013). Os nanotubos de carbono, mais uma vez, aparecem como um dos materiais que podem ser utilizados para detecção e monitoramento de contaminantes. Sua alta condutividade faz com que a detecção eletroquímica 27 seja favorecida através da transferência de elétrons para a sua superfície (MCCREERY, 2008). E além disso, segundo Collins et al (2000), a elevada capacidade de adsorção que os nanotubos de carbono possuem os aprimoram ainda mais sua sensibilidade na detecção. 2.5 – Nanopartículas de ferro O ferro é um material extremamente utilizado desde os primórdios da humanidade para fabricação de diversos produtos e, atualmente, é um dos componentes mais importantes da infraestrutura. Apesar disso, apenas recentemente as atenções se voltaram para o ferro em escalas nanométricas. Inúmeras pesquisas têm sido desenvolvidas abordando as metodologias de síntese e as aplicações potenciais das nanopartículas de ferro em vários ramos da ciência. 2.5.1 – Métodos de síntese A literatura traz diversas metodologias para sintetizar partículas de ferro em escala nanométrica. Será feito um breve resumo das principais técnicas de síntese abaixo. Decomposição térmica da pentacarbonila de ferro A pentacarbonila de ferro (Fe(CO)5) é um composto organometálico com reação de degradação simples e sem a geração excessiva de subprodutos. Fe(CO)5 vem sendo utilizada na síntese de nanopartículas de ferro desde os anos 80 (SMITH e WYCHICK, 1980). Basicamente, a síntese de nanopartículas de ferro de valência zero por este método, ocorre com a pentacarbonila de ferro, uma mistura de solvente e surfactante e uma fonte de calor (HUBER, 2005). Shao et al (2006) sintetizaram nanopartículas de ferro monodispersas através de degradação térmica da pentacarbonila de ferro. Ele utilizou querosene como solvente e oleilamina como surfactante. A reação se passou em temperatura entre 160 e 180 ºC. Shao et al (2006) obtiveram 28 nanopartículas de ferro esféricas na ordem de 8,6 nm (à 180 ºC) e 11,2 nm (à 160 ºC). Huuppola et al (2012) também testaram esta síntese em temperaturas na ordem de 170 a 220 ºC. Utilizou surfactantes à base de amina (dodecilamina, oleilamina e tridodecilamina), alcanos como solvente (dodecano e tetradecano) e diferentes pressões através de purga com monóxido de carbono (CO). O tamanho das partículas obtidas variaram de 3 a 12 nm de acordo com as condições da reação, principalmente da pressão de CO. Decomposição sonoquímica da pentacarbonila de ferro A decomposição sonoquímica para síntese de nanopartículas de ferro é uma abordagem mais recente, que pode ser vista como uma derivação da decomposição térmica, já que a radiação ultrassônica aplicada atua como fonte de energia térmica (SUSLICK et al, 1995). Este mecanismo envolve a técnica conhecida como cavitação acústica, que consiste na formação de bolhas que aumentam intensamente a temperatura em pontos específicos (CHITARRA, 2013). Segundo Huber (2005), a vantagem deste método sobre a decomposição térmica é a possibilidade sintetizar nanopartículas de ferro na presença ou ausência de um surfactante. Liu et al (2014) aplicaram a decomposição sonoquímica para sintetizar nanopartículas de ferro. Ele utilizou a pentacarbonila de ferro e solvente de decano desidratado. Esta mistura reagiu por 2 horas na presença de radiação ultrassônica de potência de 750 watts em atmosfera de argônio. O resultado foram nanopartículas de ferro amorfas com tamanhos menores que 10 nm. Redução de sais e óxidos de ferro A síntese mais comum de nanopartículas de ferro é feita a partir da redução de saís de ferro e óxidos de ferro. A redução de sais de ferro geralmente ocorre por via úmida, ou seja, uma mistura de duas soluções aquosas, uma de agente redutor e outra de sal de ferro. Pode também haver a redução por via úmida com a presença de um surfactante (p. ex. polímeros) que impede a formação de aglomerados muito 29 grandes das nanopartículas sintetizadas (HUBER, 2005). Os agentes redutores mais utilizados são a hidrazina, borohidreto de sódio e borohidreto de lítio. De uma forma geral, as reduções dos íons férricos (Fe3+) e ferrosos (Fe2+) ocorrem segundo a reação presente na equação (25) e (26). O ferro de valência zero (Fe0) precipita de imediato com cor preta intensa, também é possível notar a formação do gás hidrogênio (H2) durante toda a reação (YUVAKKUMAR et al (2011); GUI et al (2011)). 2 Fe3+ + 6 BH4- + 18 H2O 2 Fe0 + 21 H2 + 6 B(OH)3 (25) Fe2+ + 2 BH4- + 6 H2O Fe0 + 7 H2 + 2 B(OH)3 (26) Chen et al (2011) utilizaram o método da redução de sais de ferro para sintetizar nanopartículas de ferro modificadas com um polímero. Primeiramente misturou-se sulfato ferroso (FeSO4) com polivinilpirrolidona e depois borohidreto de potássio (KBH4) foi adicionado à mistura para reduzir o sal de ferro. As nanopartículas obtidas foram da ordem de 10 a 40 nm. Yuvakkumar et al (2011) também utilizaram o método supracitado. Gotejou-se uma solução de borohidreto de sódio (NaBH4) em uma solução de cloreto de ferro (III) (FeCl3). As nanopartículas resultantes tinham tamanhos entre 50 e 100 nm. Há também a redução pelo método da microemulsão (duas fases), que é muito aplicado para sintetizar metais nobres, entretanto não muito abordado para a síntese de ferro nanométrico. Porém, há relatos deste método na literatura. Por exemplo, Li et al (2003) sintetizaram nanopartículas de ferro utilizando o método redução por microemulsão. Para isto, uma solução de cloreto de ferro (III) foi adicionada a uma mistura de duas soluções imiscíveis: uma fase de surfactante contendo brometo de cetil trimetil amônio com 1butanol e a outra fase de hidrocarboneto contendo octano. Após a mistura completa, foi adicionado borohidreto de sódio como agente redutor. O resultado foram nanopartículas de ferro com tamanhos menores que 10 nm. 30 2.5.2 – Propriedades Como já foi bastante citado, devido a seu tamanho muito reduzido, as nanopartículas possuem propriedades magnéticas, ópticas e químicas únicas e extremamente interessante em diversas aplicações. Propriedades magnéticas Em tamanhos menores que 20 nanômetros, as nanopartículas de ferro podem abandonar as propriedades ferromagnéticas para apresentar uma propriedade magnética única: o superparamagnetismo é uma (KABLUNDE e RICHARDS, 2009). O superparamagnetismo propriedade encontrada nas nanopartículas que faz com que estas sejam atraídas fortemente por um campo magnético externo, porém, assim que este campo é retirado, as partículas não apresentam mais magnetização. Ou seja, as partículas superparamagnéticas não apresentam magnetização residual, como ocorre em materiais macroscópicos de ferro (KNOBEL, 2000). Segundo Huber (2005), a propriedade superparamagnética está intimamente ligada ao tamanho e formato das nanopartículas. Para melhor aplicabilidade do superparamagnetismo, as nanopartículas devem se apresentar o mais próximo possível da forma esférica, monodispersas e uniformes. Propriedades químicas A principal propriedade química das nanopartículas de ferro está na sua elevada reatividade quando em presença de um agente oxidante, o que as torna bastante indicadas para uso como catalisadores. Além disso, Fu et al (2014) também destacam seu poder redutor para aplicações ambientais. Porém, esta alta reatividade também é prejudicial. Em contato direto com o ar ou ambientes com oxigênio, as nanopartículas oxidam rapidamente. E por isso há diversas pesquisas que objetivam mitigar estas reações de oxidação indesejadas sem alterar as propriedades das nanopartículas. Tais como: pré- 31 oxidação branda (forma casca protetora), manter as nanopartículas num dispersante líquido ou sólido, ligas metálicas de ferro com outro metal e outros (HUBER, 2005). 2.5.3 – Aplicações As nanopartículas de ferro são aplicadas, principalmente, para finalidades magnéticas, elétricas, químicas e biomédicas. Nas aplicações magnéticas, destacam-se as mídias de gravação magnética. As mídias de backup de computadores ou de gravação de vídeos ganharam vários gigas de armazenamento devido a utilização de nanopartículas de ferro. Já na parte elétrica, pode-se aplicar as nanopartículas para produção de transformadores, indutores, cabeças magnéticas para leitura e gravação de mídias, motores, eletroímãs e outros componentes elétricos (KODAMA, 1999; HUBER, 2005). Em aplicações químicas, catalisadores de ferro são muito utilizados na síntese de Fischer-Tropsch (SANTOS, 1986). Marchetti et al (2002) testaram esta síntese catalisada por nanopartículas de ferro. A eficiência obtida foi seis vezes maior que a dos catalisadores convencionais. Na área biomédica destacam-se as aplicações das nanopartículas de ferro em marcações e separações magnéticas de material biológico, administração dirigida de fármacos, melhoramento de contraste em exames de ressonância magnética, tratamentos por hipertermia, liberação de fármacos e outros (DAVE e GAO, 2009; JORDAN et al, 2006; PANKHURST et al, 2003). 2.6 – Nanopartículas de ferro aplicadas ao tratamento de águas O poder degradador do ferro de valência zero (ZVI - zero valent iron) já é conhecido há algum tempo. Em 1972, ferro de valência zero teve sua primeira patente como agente degradante de pesticidas clorados. Na década de 80 houve vários relatos de degradação de organoclorados (p. ex. tricloroetileno, tricloroetano) com ZVI (TAGHIZADEH et al, 2013). Recentemente, quando se trata de tratamentos de águas residuárias por ZVI, o foco está voltado para as nanopartículas de ferro de valência zero 32 (nZVI). Elas trouxeram evoluções para o poder degradante do ferro. Devido a sua elevada razão área superficial/volume, a cinética das reações de degradação é muito mais elevada (TRATNYEK e JOHNSON, 2006). Além disso, segundo (HENRY et al, 2003), as nZVI possuem maior densidade de sítios ativos em sua superfície o que torna o poder de penetração dos contaminantes em seus poros maior quando comparado as ZVI macroscópicas. Segundo Tratnyek e Johnson (2006), estas novidades presentes nas nZVI fazem com que sua atuação em tratamento de águas residuárias seja da seguinte forma: degradam contaminantes de forma mais rápida quando comparadas a partículas macroscópicas de ZVI; degradam contaminantes que não são degradados por partículas maiores de ZVI (p. ex. bifenóis policlorados); transformam contaminantes em compostos mais facilmente degradados por partículas macroscópicas (p. ex. tetracloreto de carbono), A reatividade das nZVI depende de alguns fatores, tais como as características das nZVI (tamanho, formato, superfície), grupos funcionais dos contaminantes, propriedades físicas dos contaminantes e condições do ambiente a ser tratado (RYCHOUDHURY e SCHEYTT, 2013). A Figura 2.5 traz o esquema de uma nZVI seguindo o modelo núcleo/casca, ou seja, o núcleo é composto por ferro de valência zero (ZVI ou Fe0) e a casca é formada por um misto de íons ferrosos (Fe 2+) e íons férricos (Fe3+). Ainda está ilustrado os mecanismos que ocorrem em cada região da partícula. No núcleo ocorrem as reações de redução de contaminantes, enquanto que a casca adsorve os contaminantes (Li et al, 2006). 33 Figura 2.5 – Esquema do modelo núcleo/casca para uma nanopartícula de ferro (nZVI). Núcleo de ferro metálico e casca de óxidos/hidróxidos de ferro. Há como exemplos: redução de um organoclorado, redução e absorção de um metal. Fonte: Li et al (2006). A Figura 2.6 apresenta a nZVI de forma tridimensional, destacando a porosidade presente nestas nanopartículas. Usa como exemplo uma redução de tricloroetileno (C2HCl3 C2H6 + 3 Cl-) e íons chumbo (Pb2+ Pb0) ocorrendo no núcleo de Fe0, e absorção de íons de chumbo (Pb2+) na casca (Geo nano environmental technology, 2015). Figura 2.6 – Esquema tridimensional do modelo núcleo/casca para uma nanopartícula de ferro (nZVI), evidenciando a porosidade existente (importante 34 fator na reatividade). Ilustra a redução de tricloroetileno, redução de chumbo (Pb2+ Pb0) e absorção de íons chumbo (Pb2+). Fonte: Geo nano environmental technology (2015). As nZVI produzem íons ferrosos, liberando elétrons, a partir da equação (27). Esta oxidação pode ocorrer em contato com a água por exemplo. Fe0 Fe2+ + 2 e- (27) Esta reação possui potencial de redução padrão (E0) de +0,44 V (ATKINS, 1998). As reações de degradação ocorrem segundo a equação (28), ou seja, ocorre redução dos íons contaminantes na presença dos elétrons livres. RX + 2 e- + H+ RH + X- (28) Estas reações, segundo Matheson e Tratnyek (1994), em pH 7, possuem potenciais de redução variando de +0,5 e +1,5 V, dependendo do tipo de contaminante presente na reação. Quando combinadas as reações das equações (27) e (28) produzem uma reação termodinamicamente espontânea apresentada na equação (29) (TAGHIZADEH et al, 2013). Fe0 + RX + H+ Fe2+ + RH + X- (29) O mecanismo apresentado acima corresponde a forma mais básica de como o ZVI atua na degradação de compostos, tais como, organohalogenados (MATHESON e TRATNYEK, 1994). Matheson e Tratnyek (1994), também apresentam reações com possíveis mecanismos de degradação de compostos por ZVI. A equação (30) constitui a produção de íons férricos a partir de íons ferrosos. As equações (27), (31) e (32) apresentam um terceiro modo de degradação, que é a formação de íons ferrosos, hidrogênio gasoso e hidroxilas. Fe2+ Fe3+ + e- (30) Fe0 Fe2+ + 2 e- (27) H2O + e- H2 + OH- (31) Fe0 + 2 H2O Fe2+ + 2 H2 + 2 OH- (32) 35 Na reação (32), o H2 gerado é o responsável por degradar os contaminantes, porém, estas posteriores reações de degradação necessitam de catalisadores específicos para ocorrer. O pH da solução que contêm as nZVI é um fator importante. Segundo Mcdowall (2005), a taxa da reação de degradação utilizando nZVI foi maior em pH 4 que em pH 8. Quando em pH 8, a taxa de reação foi diminuindo até estacionar. As nZVI também estão sendo muito aplicadas nas reações de Fenton heterogêneo, ou seja, funcionam como catalisador para geração de radicais hidroxila (•OH) de forma mais rápida que no Fenton convencional (DEVI et al, 2009). Esta maior eficiência está intimamente ligada não somente à geração de radicais hidroxila, como também à redução de íons férricos (Fe3+) pelo ferro metálico (BREMNER et al, 2006). Ferreira (2014) demonstra pelas equações (33), (34), (35), (36), (37), (38), (39), (40), (41) e (42) os mecanismos das reações que ocorrem no Fenton heterogêneo com nZVI. (o símbolo = se refere às espécies adsorvidas na superfície do metal). A redução dos íons Fe3+ a Fe2+ ocorrem na superfície das nZVI através da equação (33). 2 Fe3+ + Fe0 3 Fe2+ (33) O ferro metálico em meio ácido libera íons ferrosos (Fe2+) (equação (34)). Fe0 H+ Fe2+ (34) Íons ferrosos adsorvidos à superfície (= Fe2+) são gerados a partir da reação do ferro metálico (Fe0) com o peróxido de hidrogênio (H2O2) (equação (35)). (FERREIRA, 2014). Os radicais hidroxila (•OH) são gerados através da reação entre esses íons ferrosos e o peróxido de hidrogênio (equação (36)). Fe0 + H2O2 = Fe2+ = Fe2+ + H2O2 Fe3+ + •OH + OH- (35) (36) 36 O ferro metálico (Fe0) também reage com o peróxido de hidrogênio (H2O2) para gerar íons ferrosos que se difundem ao seio da solução (equação (37)). Estes íons Fe2+ são oxidados com H2O2 e geram radicais hidroxila (•OH) (equação (38)). Fe0 + H2O2 Fe2+ + 2 OH- (37) Fe2+ + H2O2 Fe3+ + •OH + OH- (38) Já os íons férricos reagem de duas formas diferentes neste ciclo de reações. A primeira via funciona com a formação de um complexo de hidróxido [Fe(OH)2+] que irá gerar radicais hidroxila (•OH) na presença de radiação UV (equações (39) e (40)). Fe3+ + H2O [Fe(OH)2+] + H+ (39) [Fe(OH)2+] + hѵ Fe2+ + •OH (40) A segunda forma é a reação do Fe3+ com o H2O2 gerando íons ferrosos (Fe2+) e radicais hidroperóxidos (formam mais íons ferrosos) (equações (41) e (42)). Fe3+ + H2O2 Fe2+ + H+ + HO2• (41) Fe3+ + HO2• Fe2+ + O2 + H+ (42) Vários estudos de laboratório indicam que as nZVI atuam como agentes redutoras, sendo muito eficazes para degradação de organohalogenados (p. ex. metanos clorados e bromados, etenos clorados e benzenos clorados), outros hidrocarbonetos policlorados, nitratos, pesticidas, corantes orgânicos e metais pesados (GAVASKAR et al, 2005; HENRY, 2003; ZAWAIDEH et al, 1997). A Tabela 2.5 traz um resumo dos principais contaminantes degradados pelas nZVI e a Tabela 2.6 traz alguns dos diversos estudos de degradação encontrados na literatura. 37 Tabela 2.5 – Contaminantes comuns em águas residuárias que podem ser degradados com nZVI. Grupo Componente Fórmula Fontes no meio ambiente Tetracloreto de carbono CCl4 Solvente. Clorofórmio CHCl3 Solvente. Diclorometano CH2Cl2 Solvente. Clorometano CH3Cl Intermediário químico. Tribromometano (bromofórmio) CHBr3 Solvente. Dibromoclorometano CHBr2Cl Produção de extintores, aerossóis e agrotóxicos. Diclorobromometano CHBrCl2 Intermediário químico. Hexaclorobenzeno C6Cl6 Pentaclorobenzeno C6HCl5 Tetraclorobenzeno C6H2Cl4 Triclorobenzeno C6H3Cl3 Diclorobenzeno C6H4Cl2 Clorobenzeno C6H5Cl Tetracloroeteno C2Cl4 Usado em limpezas a seco e como desengraxante. Tricloroeteno C2HCl3 Solvente e desengraxante. cis-dicloroeteno C2H2Cl2 Solvente. trans-dicloroeteno C2H2Cl2 Subproduto do 1,1,1tricloroetano. 1,1-dicloroeteno C2H2Cl2 Intermediário químico. Cloreto de vinila C2H3Cl Manufatura de plásticos DDT (diclorodifeniltricloretano) C14H9Cl5 Lindano C6H6Cl6 Metanos clorados Trihalometanos Benzeno clorados Etenos Clorados Pesticidas Solventes, aditivos químicos e agrotóxicos. Inseticidas. 38 (Continuação da Tabela 2.5) Grupo Outros hidrocarbonetos policlorados Corantes orgânicos Outros contaminantes orgânicos Componente C12H(10-n)Cln Pentaclorofenol C6HCl5O 1,1,1-tricloroetano C2H3Cl3 Alaranjado II C16H11N2NaO4S Crisoidina C13H15ClN4 ou C12H12N4.HCl Tropaeolina O C12H9N2NaO5S Trinitrotolueno (TNT) C7H5N3O6 Explosivos. n-nitrosodimetilamina (NDMA) C2H6N2O Conservante. Mercúrio Hg Chumbo Crômio Íons inorgânicos Fluidos de transformadores e capacitores, fluidos hidráulicos de bombas, algumas tintas epoxi. Indústrias de biocidas (inseticidas, herbicidas, fungicidas, e outros). PCBs (bifenóis policlorados) Níquel Metais pesados Fontes no meio ambiente Fórmula + Solvente. Indústrias têxteis, papel, impressão, couro e alimentícias. Garimpos, produção de cloro. 2+ Ni Galvanoplastia Pb 2+ Gasolina, mineração e manufatura. Cr(IV) 2+ Cádmio Cd Perclorato ClO4 Nitrato NO3 Chapeamento de metal. Mineração, chapeamento. - Fogos de artifício, explosivos, combustível de foguete. - Fertilizantes. Fontes: Li et al, 2006; CETESB, 2015; Masters & Ela, 2008; Mueller, 2010. Tabela 2.6 – Estudos de degradação de contaminantes utilizando nZVI, suas técnicas de síntese e os resultados destes estudos encontrados na literatura. *UPF: unidades formadoras de placa é a forma de quantificar partículas virais capazes de infectar um determinado organismo. Contaminante Técnica de síntese das nZVI Condições Resultados Fonte Decabromodifenil éter (PBDE) Redução de um licor residual de decapagem de aço com NaBH4 e PVP (polivinilpirrolidona) como surfactante. [nZVI] = 6 g/L; [PBDE] = 2 mg/L; pH 6; t = 24 h Remoção de praticamente 100% do PBDE. Fang et al, 2011 39 (Continuação da Tabela 2.6) Técnica de síntese das nZVI Condições Resultados Fonte Redução de FeCl3 com NaBH4 [nZVI] = 0,3348 g/L; [Corante] = 100 mg/L; pH 7; t = 15 min Remoção de praticamente 98% da cor; remoção de 53,8% de COT (carbono orgânico total) Shu et al, 2007 [nZVI] = 5 g/L; [HBCD] = 20 mg/L; t = 30 min Remoção de praticamente 100% do HBCD. Tso & Shih, 2014 Arsênio (As) Redução de FeCl3 com NaBH4 [nZVI] = 1,0; 2,0 e 4,5 g/L; [As] = 1 mg/L; pH 7 Remoção de 100% do As (IV) para As (0). Kanel et al, 2005 Zinco (Zn) Redução de FeCl3 com NaBH4 [nZVI] = 0,4 g/L; [Zn] = 25 mg/L; pH 7; t=1h Remoção de 100% das formas de Zn testadas. Kržišnik et al, 2014 Corante preto reativo 5 e vermelho reativo 198 Redução de FeCl3 com NaBH4 Antibióticos (Tetraciclina - TC) Redução de FeSO4 com KBH4 Contaminante Corante ácido preto 24 Hexabromociclodecano Redução de FeSO4 com (HBCD) NaBH4 [nZVI] = 0,5 g/L; Remoções próximas [Corante] = 100 mg/L; Satapanajaru a 100% para ambos et al, 2011 pH 5 - 6; os corantes testados. t=3h [nZVI] = 0,2 g/L; [TC] = 500 mg/L; pH 6; t = 10 d Remoção de 100% da TC. Fu et al, 2015 Rasheed et al, 2011 Zhang et al, 2010 Águas residuais de refinaria de petróleo Redução de FeSO4 com NaBH4 [nZVI] = 0,15 g/L; pH 5; t = 30 min Combinação de ultrassom com as nZVI causaram redução de cerca de 90% da DQO presente. Trinitrotolueno (TNT) nZVI comerciais (Shenzhen Junye Nanomaterial Co. Ltd. (Shenzhen, China) [nZVI] = 5 g/L; [TNT] = 80 mg/L; pH 4; t=3h Degradação acima de 99%. Bacteriófagos (f2) Redução de FeSO4 com NaBH4 [nZVI] = 49 mg/L; 6 [f2] = 3,5.10 UFP*/mL; pH 5 Crômio (Cr (VI)) e chumbo (Pb (II)) Redução de FeCl3 com NaBH4 [nZVI] = 1,6 g/L; pH 6; t = < 10 min Testes cinéticos. As condições citadas foram as com maiores taxas de degradação do bacteriófago. nZVI suportada em sepiolita reduziu o Cr (VI) a Cr(III) e o Pb (II) a Pb(0). Eficiências acima de 98%. Cheng et al, 2014 Fu et al, 2015 40 (Continuação da Tabela 2.6) Contaminante Técnica de síntese das nZVI Condições Resultados Fonte Cádmio (Cd (II)) Redução de FeCl3 com NaBH4 [nZVI] = 1 g/L; [Cd] = 10 mg/L; pH 6,5; t = 20 min Remoção de 91% do Cd (II) presente. Zhang et al, 2014 [nZVI] = 268,8 mg/L; [H2O2] = 4,9 mmol/L; [p-CINB] = 60 mg/L; pH 3; t = 30 min Remoção de 100% do p-CINB Li & Zhu, 2014 [nZVI] = 20 g/L; [TCE] = 20 mg/L; t = 1,7 h Remoção de 100% do TCE Wang & Zhang (1997) Para-cloronitrobenzeno Redução de FeSO4 com (p-CINB) NaBH4 Tricloroetileno (TCE) Redução de FeCl3 com NaBH4 Além das diversidade de aplicações resumidas na Tabela 2.7 supracitada, pode-se citar alguns outros trabalhos específicos em degradação de corantes com a utilização das nZVI. Luo et al (2013), sintetizaram nZVI suportadas em rectorita para degradar o corante laranja II. Primeiramente foi preparada uma mistura de 0,2 M de cloreto férrico (FeCl3) com a rectorita e por fim foi adicionada solução de 2,0 M de borohidreto de sódio (NaBH4) em atmosfera de nitrogênio, para realizar a redução dos íons Fe3+ para Fe0. As nZVI obtidas tiveram média de tamanho de 10,3 nm. Os testes mostraram degradação completa do corante laranja II em 10 minutos de reação. Foram utilizados 2 g/L de nZVI em 100 mL de solução de corante (70 mg/L), o pH foi mantido como o da solução do corante (não foi indicado pelo autor). Yu et al (2014) fizeram a síntese de nZVI através da redução do FeCl3 (0,45 M) com NaBH4 (0,25 M). As partículas obtidas tinham tamanhos entre 100-120 nm, e foram aplicadas como catalisador em uma reação Fentonheterogêneo para degradar o corante preto reativo B e remover a DQO (demanda química de oxigênio) presente. Para a remoção de cor, alcançou-se eficiências de 90% em 1 hora de reação, quando a concentração de nZVI e H2O2 foi entre 60-80 mg/L e 300-400 mg/L, respectivamente. Porém nessas condições, a remoção da DQO foi de apenas 15%. Para alcançar remoções da 41 DQO acima de 70%, Yu et al (2014) utilizaram concentração de nZVI na faixa de 200-225 mg/L e aumentou a concentração de H2O2 para 1000-1125 mg/L. Outro estudo envolvendo degradação de corantes por nZVI foi o de Fan et al (2009). Também realizaram a síntese através da técnica de redução de um sal de ferro. Utilizou 1,0 M de FeCl3 e 1,6 M de NaBH4. As nZVI obtidas tinham tamanhos entre 20 e 80 nm. O corante escolhido para os testes foi o alaranjado de metila. Com concentração inicial de corante de 100 mg/L, 0,6 g/L de nZVI e pH 6, a degradação ocorreu rapidamente nos primeiros 10 minutos (degradação de quase 100%) e depois diminuiu nos próximos minutos até alcançar a completa degradação. Foi constatado que em valores de pH mais baixos a reação ocorre de forma mais rápida. Os autores também constataram que o aumento da temperatura favorece a degradação do alaranjado de metila. 42 3 – Materiais e metodologias 3.1 – Síntese das nanopartículas de ferro de valência zero As sínteses das nZVI foram realizadas nos laboratórios do PAM – PEQ/COPPE, localizado na cidade universitária da Ilha do Fundão (Universidade federal do Rio de Janeiro - UFRJ). Baseadas na técnica de redução de sais de ferro, foram testadas três metodologias para produzir as nanopartículas de ferro de valência zero. A primeira metodologia utiliza impregnação de ferro em zeólitas para posterior redução com borohidreto de sódio. As outras duas metodologias reduzem os sais de ferro diretamente com o borohidreto de sódio. Zeólitas impregnadas com Fe(NO3)3. A zeólita utilizada nestes processos foi a zeólita Beta (βzeo) fornecida pela empresa Zeolyts International. Inicialmente testou-se a metodologia de produção de catalisadores proposta por Silva (2004), utilizando uma solução de nitrato férrico (Fe(NO3)3) fornecido pela Sigma-Aldrich. Foram adicionadas 0,5 grama de βzeo a 75 mL de água destilada e posteriormente misturadas a 2,6 mL de solução de Fe(NO3)3 (1,16 M). Essa mistura ficou em agitação constante por 30 minutos e passou por processo de secagem de 24 horas à 60 ºC. Por fim, o sólido resultante foi calcinado a 450 ºC (rampa de 10 ºC/min) durante 4 horas. Para a redução dos íons férricos do Fe(NO3)3, foi preparada 25 mL de solução de borohidreto de sódio (NaBH4) (1 M), fornecido pela Vetec. A solução de NaBH4 foi gotejada lentamente sobre 25 mL de solução contendo 0,5 gramas da βzeo impregnada com Fe(NO3)3. Este processo de redução foi conduzido com injeção constante de nitrogênio gasoso (N2) para criar uma atmosfera inerte evitando ao máximo a oxidação das nZVI. 43 Zeólitas impregnadas com FeSO4 Outra metodologia de impregnação da βzeo, estudada por Wang et al (2010) para produzir nZVI suportadas em zeólitas, utilizando sulfato ferro (FeSO4), foi testada neste estudo. Misturou-se 1 grama de FeSO4, 0,5 grama de βzeo e 250 mL de água ultrapura (borbulhada com N2 por 10 minutos). Esta ficou em contanto com ultrassom por 15 minutos e, posteriormente, por agitação de 30 minutos. O sólido foi separado por filtração à vácuo com membranas de 0,45 µm e dissolvido em 25 mL de H2O ultrapura. A redução do ferro ocorria de forma semelhante a do processo anteriormente descrito. Em atmosfera inerte de N2, 25 mL de solução de NaBH4 (1 M) foi gotejada lentamente sobre os 25 mL de solução de βzeo impregnada com FeSO4. Redução de FeCl3. Seguindo a metodologia de Yuvakkumar et al (2011), foi preparada 30 mL de solução com 0,1 M de FeCl3, fornecido pela empresa Sigma-Aldrich. Para o preparo desta solução, o FeCl3 foi dissolvido em solução de água e etanol na proporção 4/1 (24 mL de água ultrapura e 6 mL de etanol). A solução de NaBH4 foi preparada em 100 mL de água ultrapura, obtendo concentração final de 0,1 M. Como no esquema da Figura 3.1, foi usado um balão de três bocas para realizar a redução dos íons Fe2+ para precipitar Fe0. Em uma das bocas era injetado N2, na segunda era colocado um agitador mecânico e na última a bureta com os 100 mL de solução de NaBH4. O agente redutor foi gotejado lentamente, já na primeira gota nota-se a formação de precipitado bastante escuro. As nZVI produzidas foram filtradas à vácuo com membranas de 0,45 µm e lavadas três vezes com etanol. 44 Figura 3.1 – Esquema da síntese das nZVI por redução de FeCl3. Fonte: Yuvakkumar et al, 2011. Redução de FeCl2 na presença de CMC como surfactante. Para a síntese das nZVI foram utilizadas soluções de cloreto de ferro (II) (FeCl2) fornecido pela Sigma-Aldrich, borohidreto de sódio (NaBH4) e carboximetilcelulose (CMC), também fornecido pela Sigma-Aldrich. A técnica utilizada para a síntese foi a da redução de um sal de ferro com um agente redutor e um polímero agindo como surfactante. Esta metodologia foi baseada no estudo de Gui et al (2012) (Figura 3.2). A água ultrapura utilizada para o preparo das soluções foi borbulhada com N2 por 30 minutos antes do início da síntese. 0,50 gramas de CMC foi dissolvido em 100 mL de água e posteriormente misturado a 20 mL de solução de FeCl2 (0,2 M). Essa mistura foi levada ao ultrassom durante 30 min à uma frequência de 15 RMS. Com o auxílio de uma bureta, 50 mL de solução de NaBH4 (0,2 M) foi gotejada na solução (duas gotas a cada segundo). Por fim, as nZVI em suspensão ficaram por 2 horas no ultrassom (15 RMS). Todas as etapas foram conduzidas em atmosfera inerte utilizando N2. A reação envolvida nesse processo está apresentada na equação (43). 45 FeCl2 + 2 NaBH4 + 6 H2O Fe0 + 2 NaCl + 2 B(OH)3 + 7 H2 (43) As nZVI obtidas foram filtradas à vácuo em membranas de 0,45 µm e lavadas com acetona durante e após a filtração. Segundo Gui et al (2012) e diversos outros autores (SATAPANAJARU et al, 2011; FAN et al, 2009; LUO et al, 2013), esta é uma etapa importante para evitar a rápida oxidação das nZVI. Figura 3.2 – Esquema da síntese das nZVI por redução de FeCl2. Fonte: Adaptado de Gui et al, 2012 e próprio autor. 3.2 – Caracterização das nanopartículas de ferro de valência zero obtidas 3.2.1 – Distribuição de tamanho das partículas A análise de distribuição de tamanho de partículas foi realizada no Laboratório de Engenharia de Polimerização (EngePol), na cidade universitária da Ilha do Fundão (UFRJ). Foi utilizado o equipamento Zetasizer Nano S da empresa Malvern. O princípio de análise deste equipamento é o espalhamento de luz dinâmico, capaz de medir partículas com tamanhos entre 0,3 nm a 10 µm. Foram realizadas análise de distribuição de tamanho das partículas presentes em três amostras: nZVI recém preparadas, nZVI preparadas dois 46 dias antes da análise e a solução de carboximetilcelulose (CMC) utilizada na síntese das nZVI. 3.2.2 – Difração de Raios-X A análise de difração de Raios-X foi realizada no Laboratório de Tecnologias do Hidrogênio (LabTech), na Ilha do Fundão (UFRJ). O equipamento utilizado foi o MiniFlex II da empresa Rigaku. Neste modelo de difratômetro de raios-X, a radiação parte de um tubo fixo e a amostra sofre a variação angular. A análise é fundamentada na medição dos ângulos dos raios-X que incidiram no material a ser analisado e sofreram difração. Estes ângulos são característicos para cada material cristalino, análogo a uma impressão digital, podendo, desta forma, identificar o estado de conservação/oxidação das nanopartículas de ferro sintetizadas. 3.2.3 – Microscopia eletrônica de varredura As análises de microscopia eletrônica de varredura foram realizadas no Laboratório de Processos de Separação com Membranas (PAM), na Ilha do Fundão (UFRJ). As amostras passaram por processos de metalização com o metalizador da marca Quorum technologies, modelo Q150R, para posteriormente serem analisadas no MEV. O microscópio eletrônico de varredura é um Quanta 200 da marca FEI. As imagens são obtidas através de finos feixes de elétrons que incidem na superfície do material de análise. É uma técnica muito aplicada para visualizar a morfologia, estado de agregação e também para obter a faixa de tamanho das partículas. 3.2.4 – Potencial zeta As medidas de potencial zeta foram realizadas no laboratório GRIFIT da COPPE, localizado na Ilha do Fundão (UFRJ). 47 A análise do potencial zeta foi conduzida no aparelho Zeta Plus da empresa BTC (BrookHaven Instruments Corporation), que utiliza a técnica de espalhamento de luz eletroforético. A faixa de pH suportada pelo equipamento é de 2,0 a 10,0. 3.3 – Ensaios de degradação com nZVI sintetizadas O composto orgânico escolhido para testar a eficiência das nZVI sintetizadas foi o corante reativo vermelho Drimaren X-6BN. Esta substância foi escolhida por ser uma molécula orgânica complexa, contendo grupamentos azo (-N=N-) e de difícil degradação. Este produto foi fornecido pela Clariant e sua fórmula estrutural está apresentada na Figura 3.3. Um espectrofotômetro de absorção molecular (UV-Visível) da marca Jenway modelo 6405 foi utilizado para determinação do comprimento de onda ótimo da solução do corante de vermelho Drimaren X-6BN e para leitura das absorvâncias das amostras. Figura 3.3 – Estrutura molecular do corante reativo vermelho Drimaren X-6BN. Fonte: Fonseca, 2006. As reações de degradação foram conduzidas em béckers de vidro contendo 50 mL de solução de corante reativo vermelho Drimaren X-6BN (10 mg/L), quantidade pré-estabelecida de nZVI e a solução de peróxido de hidrogênio (50 % em massa). Os volumes de H2O2 adicionados foram estimados para se obter a concentração desejada na reação. Amostras de corante foram retiradas em intervalos de tempo pré definidos para leitura da absorvância da solução e monitoramento da descoloração destas amostras. Um filtro de seringa com membrana de 0,2 µm foi utilizado 48 para remover as nZVI da solução antes da leitura das absorvâncias. A Figura 3.4 mostra o procedimento da filtração com seringa. Figura 3.4 – Filtração com seringa (membrana 0,2 µm). Fonte: Próprio autor. Os parâmetros analisados na reação foram: concentração de nZVI, pH, ausência e presença de peróxido de hidrogênio (H2O2) e concentração de H2O2. Concentração de nZVI Nos primeiros ensaios, foram testadas diferentes concentrações de nZVI (0,1, 0,5, 1, 2, 3, 4 e 5 g/L) na presença de 0,1 g/L de peróxido de hidrogênio (H2O2), 10 mg/L de corante e sem ajuste de pH. Esta proporção na concentração de H2O2:corante foi utilizada com base nos estudos de Fonseca (2008). O pH da solução final foi de 5. 49 pH O pH da reação foi variado em 3, 5, 7 e 9. Foram utilizadas soluções de ácido clorídrico (HCl) e hidróxido de sódio (NaOH) para realizar os ajustes de pH. Nos ensaios com diferentes valores de pH, a reação foi avaliada com 3 g/L de nZVI, 0,1 g/L de H2O2 e 10 mg/L do corante reativo vermelho Drimaren X6BN. Em pH 3 e 5, foi também testada a degradação na ausência de H2O2. Concentração de H2O2 Foram conduzidas reações de degradação do vermelho Drimaren X-6BN em diferentes concentrações de peróxido de hidrogênio (H2O2). A concentração das nZVI foi fixada em 3 g/L, 10 mg/L do corante reativo vermelho Drimaren X6BN, o pH foi ajustado para 3 e as concentrações de H2O2 aplicadas foram de 0,01, 0,05 e 0,1 g/L. 3.4 – Ensaios de degradação com nZVI comerciais Como um método de comparação de cinética e eficiência de remoção da cor do corante, foram feitas reações de degradação utilizando nanopartículas de ferro de valência zero comerciais (nZVIc) fornecidas pela empresa SigmaAldrich. A faixa de tamanho destas nanopartículas é de 60 a 80 nm. As reações foram conduzidas em béckers de vidro de 100 mL, a concentração do corante reativo vermelho Drimaren X-6BN (10 mg/L), as soluções tinham volumes finais de 50 mL e agitação constante Foram testadas as concentrações de nZVIc iguais à 1 e 3 g/L e a concentração de H2O2 0,01 e 0,1 g/L. O pH da reação também foi avaliado. 3.5 – Determinação das constantes de velocidade aparente das reações de degradação Diversos estudos presentes na literatura utilizaram uma aproximação das reações supracitadas para pseudo-primeira ordem. Portanto, o cálculo das 50 constantes de velocidade aparente de reação (k) foi a partir da fórmula aplicada no estudo de Shu et al (2007) presente na equação (44). (44) Onde C (t) representa a concentração do corante em determinado instante t, C0 representa a concentração inicial de corante e k é a constante de velocidade aparente de reação. 51 4 – Resultados e discussões 4.1 – Síntese e caracterização das nZVI As diferentes metodologias de síntese para obter nZVI foram: Redução de zeólitas impregnadas com Fe(NO3)3; Redução de zeólitas impregnadas com FeSO4; Redução de íons férricos (Fe3+); Redução de íons ferrosos (Fe2+) na presença de CMC como surfactante. As três primeiras não mostraram presença de ferro de valência zero nas caracterizações realizadas. Os resultados destas análises estão apresentados nos ANEXOS I e II. Entretando, a redução de Fe2+ por borohidreto de potássio, na presença de CMC como surfactante, permitiu a obtenção das nZVI. Os resultados da caracterização destas nanopartículas são apresentados a seguir. 4.1.1 – Distribuição de tamanhos das nZVI As análises de distribuição de tamanhos das nZVI sintetizadas neste estudo estão apresentadas nas Figuras 4.1, 4.2 e 4.3. A Figura 4.1 se refere à uma amostra de nZVI recém preparada, ou seja, sintetizada alguns minutos antes do procedimento analítico. Verifica-se que a distribuição bimodal, com máximos em torno de 76 nm e 418 nm e o valor médio dos tamanhos das partículas é de 109 nm. Este comportamento indica que a metodologia utilizada produziu nanopartículas, mas houve alguma agregação, representada pelo máximo de 418 nm. 52 Figura 4.1 – Distribuição de tamanhos das nZVI recém sintetizadas. Fonte: Próprio autor. Após a síntese, uma amostra de nZVI foi mantida em solução aquosa e repouso por dois dias, sendo então, determinada a distribuição de tamanhos das partículas nela presentes (Figura 4.2). Nesta figura pode-se ainda observar a presença de duas regiões de tamanhos, relativas às nanopartículas e aos aglomerados, mas com máximos em 101 nm e 470 nm. Pode ser também visualizado uma região com a presença de partículas maiores (4900 nm). A média dos tamanhos das nanopartículas desta amostra foi de 173 nm. O aumento no tamanho indica que a aglomeração das nanopartículas continua ocorrendo. 53 Figura 4.2 – Distribuição de tamanhos das nZVI sintetizadas (dois dias após a síntese). Fonte: Próprio autor. Como a média da distribuição de tamanhos das nZVI foi relativamente elevada, para verificar a possibilidade de interferência nesta análise, a solução com apenas CMC (5 g/L) foi igualmente analisada quanto à distribuição de tamanhos. A Figura 4.3 apresenta o resultado obtido, observando-se uma distribuição monomodal com máximo em 625 nm e tamanho médio das partículas de 1067 nm. A presença do polímero CMC pode então, ser responsável pelos tamanhos de partículas acima de 400 nm. 54 Figura 4.3 – Distribuição de tamanhos na solução de CMC (5 g/L). Fonte: Próprio autor. Yuvakkumar et al (2011) também aplicaram a técnica de redução de um sal de ferro para sintetizar nanopartículas de ferro de valência zero. O sal de ferro utilizado foi o cloreto de ferro III (FeCl3), o agente redutor foi o borohidreto de sódio (NaBH4) e não houve a presença de surfactante. A análise de distribuição de tamanhos das nZVI obtidas mostrou que a maioria das nanopartículas apresentaram tamanho de 80 nm. Entretanto, neste trabalho, não foi possível obter ferro zero e reproduzir os resultados dos autores mencionados. A Figura A.3 do Anexo I apresenta os resultados obtidos. 4.1.2 – Difração de Raios-X (DRX) A análise por difração de Raios-X, apresentados na Figura 4.4, indica a presença de ferro de valência zero (Fe0) e magnetita (Fe3O4). Os picos em 44,7º, 65,2º e 82,4º confirmam a presença de Fe0. Já os picos em 35,6º, 56,9º e 62,3º são característicos de amostras de Fe3O4. A presença de óxido de ferro na forma de magnetita pode ser explicada por algum contato das nZVI recém sintetizadas com o oxigênio presente no ar. As etapas de preparo da amostra para a análise de DRX são as mais críticas nesse sentido, pois envolvem processos de maceramento. 55 Figura 4.4 – DRX das nZVI sintetizadas por redução de FeCl2 na presença de CMC como surfactante. Fonte: Próprio autor. Vieira et al (2014) realizaram a síntese de nZVI através da redução de FeCl3 com NaBH4 seguindo a metodologia proposta por Yuvakkumar et al (2011). Ao final da reação de redução, as nanopartículas foram filtradas à vácuo e lavadas com acetona. Tais autores realizaram duas análises DRX: a primeira com amostra de nZVI recém preparada, confirmando a presença de ferro de valência zero pelos picos 44,8°, 65,32° e 82,6°; e a segunda com amostra de nZVI 20 dias após a síntese e armazenada em acetona, mostrando a presença de ferro de valência zero e o início da formação de impurezas (óxidos de ferro). O ANEXO V apresenta os difratogramas, obtidos por Vieira et al (2014), correspondetes (Figura A.10 e A.11). 4.1.3 – Microscopia eletrônica de varredura (MEV) As fotomicrografias apresentadas nas Figuras 4.5 e 4.6, obtidas por microscopia eletrônica de varredura, mostram as nanopartículas recobertas, possivelmente por parte do CMC, formando um aglomerado. 56 A imagem com magnitude de cinquenta mil vezes (Figura 4.5) não possibilitou destacar partículas. Entretanto, a ampliação para a magnitude de cem mil vezes, Figura 4.6, tornou mais clara a visualização de algumas nanopartículas, possibilitando observar algumas delas com tamanhos de 56,18 nm e 63,74 nm. Este resultado confirma a obtenção de nanopartículas com a metodologia selecionada. Figura 4.5 – Imagem de MEV das nZVI sintetizadas (aumento de 50 mil vezes). Fonte: Próprio autor. 57 Figura 4.6 – Imagem de MEV das nZVI sintetizadas (aumento de 100 mil vezes). Fonte: Próprio autor. 4.1.4 – Potencial zeta Para observar a presença de cargas iônicas na superfície das nanopartículas, procedeu-se a análise do potencial eletrocinético por migração eletroforética. A variação do potencial zeta das nZVI produzidas em função do pH da solução está apresentada na Figura 4.7. De acordo com este resultado, pode-se concluir que a partir de pH 3 a superfície do material nZVI-CMC está carregada negativamente. Este resultado deve estar associado com a presença de CMC, material utilizado como agente tensoativo, que apresenta pKa em torno de 4,0. Acima deste valor o grupo carbonila (-COO-) está majoritariamente dissociada. Wang e Somasundaran (2005) estudaram técnicas de adsorção e conformação do CMC em talco. Para tal, foram realizadas diversas análises incluindo a medida do potencial zeta em função do pH para amostras de talco puro e talco com CMC. Os resultados também mostraram a influência do CMC 58 na superfície do sólido (talco), mudando o ponto isoelétrico para 3,2, similar ao resultado da análise do sistema nZVI-CMC. 50 40 Zeta Potential (mV) 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 -10 -20 -30 -40 -50 pH Figura 4.7 – Potencial zeta das nZVI em suspensão aquosa. Fonte: Próprio autor. 4.2 – Degradação de corante por nZVI/H2O2 As nanopartículas de ferro de valência zero foram avaliadas como catalisador em reações de oxidação para o tratamento de efluentes contendo matéria orgânica. O composto modelo escolhido para os testes foi o corante reativo vermelho Drimaren X-6BN em solução com 10 mg/L. No anexo I estão apresentados o espectro de absorvância no UV-Visível e curva de calibração para a determinação da concentração do corante utilizado neste estudo. 4.2.1 – Reação de Fenton com nZVI sintetizadas 4.2.1.1 – Efeito da concentração de nZVI Para avaliar o efeito das nanopartículas de ferro de valência zero, alterouse sua concentração no meio reacional. A Figura 4.8 apresenta a variação da absorvância relativa ao corante utilizado em função do tempo de reação, para 59 as diferentes concentrações de nZVI. Para estas reações, as amostras foram retiradas e analisadas no espectrofotômetro em intervalos de 20 minutos. Como pode ser observado na Figura 4.8, não ocorre redução da coloração da amostra em 240 minutos de contato com o meio contendo apenas peróxido de hidrogênio. A decomposição do corante somente ocorre na presença das nZVI demonstrando sua efetividade na reação de Fenton. Na Figura 4.8, observa-se claramente que o aumento da concentração de nZVI na solução de corante favorece a redução da coloração da amostra. Quando a concentração de nZVI é baixa (0,1 e 0,5 g/L), o decaimento da absorvância é lenta, indicando pouca eficiência na degradação do corante reativo vermelho Drimaren X-6BN. Entretanto, com concentração de 1 e 3 g/L de nZVI, após 240 minutos de contato, a eficiência de descoloração alcançada foi de 28% e 45%, respectivamente. Concentrações de nZVI superiores a este valor não aumentaram a descoloração da amostra no intervalo de tempo estudado. 10 Concentração (g/L) 8 0,0 g/L 0,1 g/L 6 0,5 g/L 1 g/L 4 2 g/L 3 g/L 2 4 g/L 5 g/L 0 0 50 100 150 200 250 t (min) Figura 4.8 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em diferentes concentrações de nZVI. [H2O2] = 0,1 g/L e pH 5. Fonte: Próprio autor. 60 Considerando a reação como pseudo-primeira ordem, as constantes de velocidade aparente de reação obtidas nestes testes estão apresentadas na Tabela 4.1. Nota-se, como esperado, a proximidade das constantes de velocidade aparente de reação de degradação com concentrações de nZVI acima de 3 g/L. Diante disso, nos próximos ensaios a concentração de nZVI foi mantida em 3 g/L. Tabela 4.1 – Constantes de velocidade aparente para reações com diferentes concentrações de nZVI na presença de 0,1 g/L de H2O2 e pH 5. [nZVI] (g/L) k (h-1) 0,0 -- 0,1 0,03 0,5 0,037 1 0,09 2 0,099 3 0,128 4 0,115 5 0,117 Fonte: Próprio autor. 4.2.1.2 – Efeito da presença de H2O2 A reação de Fenton baseia-se na reação de oxidação do íon Fe2+ a Fe3+ com H2O2 e a subsequente geração de radicais hidroxila. Estes radicais podem reagir com a matéria orgânica, oxidando-a até se atingir a sua mineralização através da redução de Fe3+ a Fe2+. A Figura 4.9 mostra os resultados obtidos utilizando 3 g/L de nZVI, com e sem a presença de peróxido de hidrogênio em diferentes pHs. Em pH 3 as amostras foram analisadas em intervalos de tempo de 5 minutos. Já para pH 5, o intervalo foi de 24 horas. Os resultados apresentados na Figura 4.9 mostram que as nZVI, em pH 5, mesmo sem a presença de H2O2, possibilitam a remoção de cor de soluções contendo o corante reativo vermelho Drimaren X-6BN. Entretanto, nesta condição, observa-se uma lenta redução do corante nas primeiras 50 horas de reação. A adição de peróxido de hidrogênio aumenta significativamente a velocidade inicial de descoloração da amostra, indicando a geração efetiva dos 61 radicais hidroxila. Em pH 3, verifica-se elevada velocidade na reação de degradação quando comparada à reação que ocorre em pH 5, ambas na presença de 0,1 g/L de H2O2. 10 Concentração (g/L) 8 S/ H2O2 (pH 5) 6 C/ H2O2 (pH 5) C/ H2O2 (pH 3) 4 2 0 0 50 100 t (h) 150 Figura 4.9 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI, em pH 3 ou 5 e na presença ou ausência de H2O2 (0,1 g/L). Fonte: Próprio autor. Os íons ferrosos (Fe2+) gerados na dissolução do ferro de valência zero (Fe0) (reação (27)) reagem com o peróxido de hidrogênio (reação (10)), gerando radicais hidroxila que são os responsáveis pelas reações Fenton que oxidarão as partículas de corante. Fe0 Fe2+ + 2 eFe2+ + H2O2 Fe3+ + OH- + •OH (27) (10) Segundo Andreozzi et al (1999), em pH ácido as reações Fenton são favorecidas, tanto para a geração dos radicais hidroxila, quanto na promoção da redução de íons férricos (Fe3+) a íons ferrosos (Fe2+) (reação (11)). 62 Fe3+ + H2O2 Fe2+ + H+ + HO2• (11) Em pH 5, a reação das nZVI com o corante sem a presença de H2O2 apresentou comportamento dez vezes mais lento (k = 0,011 h -1) que a reação das nZVI com o corante na presença de 0,1 g/L de H 2O2 (k = 0,128 h-1). As constantes de velocidade aparente de reação estão apresentadas na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Constantes de velocidade aparente para reações na presença ou ausência de 0,1 g/L de H2O2, com 3 g/L de nZVI em pH 3 ou 5. k (h-1) S/ H2O2 e pH 5 0,011 C/ H2O2 e pH 5 0,128 C/ H2O2 e pH 3 7,202 Fonte: Próprio autor. Apesar de mais lenta, na ausência de H2O2, a reação de descoloração em pH 5 ocorre pela geração de íons ferrosos e elétrons livres (equação (27)). Segundo Yu et al (2014), tais elétrons livres são os responsáveis pela quebra dos grupos azo e, consequentemente, pela descoloração das soluções de corantes orgânicos (equação (45)). Fe0 Fe2+ + 2 e- (27) -N=N- + 2 e- + 2 H+ -NH + -NH (45) As Figuras 4.10 e 4.11 mostram fotografias da solução com o corante em diferentes tempos de reação, com e sem a presença do peróxido de hidrogênio. A reação sem peróxido atingiu 85% de redução de cor em 168 horas, enquanto que a reação com o peróxido alcançou 80% e 92% de degradação do corante em 48 e 72 horas, respectivamente. 63 Figura 4.10 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em diversos intervalos de tempo. Presença de 3 g/L de nZVI, pH 5 e ausência de H2O2. Fonte: Próprio autor. Figura 4.11 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em diversos intervalos de tempo. Presença de 3 g/L de nZVI, pH 5 e 0,1 g/L de H2O2. Fonte: Próprio autor. 64 A Figura 4.12 apresenta fotografias para a comparação das soluções após a degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI e 0,1 g/L de H2O2, em pH 5 e 3. Na Figura 4.12, observa-se que após cessada a agitação, as nZVI permaneceram suspensas/dispersas em pH 5, mesmo após repouso de três dias. Entretanto, em pH 3, as nZVI formaram um precipitado em menos de 24 horas de repouso. Este fato pode ser explicado considerando o comportamento potencial zeta das nZVI sintetizadas em função do pH, apresentado na Figura 4.7. O ponto isoelétrico encontrado foi em torno de pH 3, portanto, facilitando o fenômeno de agregação e sedimentação das partículas de nZVI. Figura 4.12 – Comparação entre soluções contendo 3 g/L de nZVI com peróxido (0,1 g/L) em pH 5 (a) e 3 (b), após a decomposição do corante. Fonte: Próprio autor. 4.2.1.3 – Efeito do pH Para ampliar a compreensão sobre o efeito do pH na reação de descoloração, realizou-se reações em pHs mais elevados. A Figura 4.13 65 mostra os resultados da degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN na presença de 3 g/L de nZVI, 0,1 g/L de H2O2 e diferentes valores de pH. Na Figura 4.13 pode-se verificar novamente que as condições mais propícias para a reação correm em pH 3, com praticamente toda a cor removida (93%) após 20 minutos. Em valores de pH acima de 5 verifica-se uma significativa redução na velocidade inicial da reação de degradação do corante. 10 Concentração (g/L) 8 pH - 9 6 pH - 7 pH - 5 4 pH - 3 2 0 0 50 100 150 200 250 t (min) Figura 4.13 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI, 0,1 g/L de H2O2 e em diferentes valores de pH. Fonte: Próprio autor. Na Tabela 4.3 estão apresentados os valores das constantes de velocidade aparente para as reações em diferentes valores de pH. Em pH 3, a constante de velocidade aparente de reação foi de 7,202 h -1, cinquenta e seis vezes maior que a constante de velocidade aparente de reação em pH 5, que foi de 0,128 h-1. 66 Tabela 4.3 – Constantes de velocidade aparente para reações com meio reacional em diferentes valores de pH na presença de 3 g/L de nZVI e 0,1 g/L de H2O2. pH k (h-1) 3 7,202 5 0,128 7 0,080 9 0,082 Fonte: Próprio autor. 4.2.1.4 – Efeito da concentração de H2O2 Como discutido, as condições mais favoráveis para a reação de degradação do corante ocorre em pH 3. Alterou-se a concentração de peróxido de hidrogênico neste pH para avaliar seu efeito sobre a velocidade de reação. A Figura 4.14 mostra os resultados obtidos para reações conduzidas com diferentes concentrações de peróxido de hidrogênio. Para todas a concentrações utilizadas de H2O2 observa-se velocidade de degradação elevada logo no início do contato do meio reacional com as moléculas do corante vermelho Drimaren X-6BN . Para todas as concentrações de peróxido de hidrogênio utilizadas, em apenas 5 minutos de reação, foram alcançadas degradações acima de 70% e após 20 minutos de reação, as degradações atingiram valores superiores a 90%. As constantes de velocidade aparente são apresentadas na Tabela 4.4 e também ilustram a semelhança entre as diferentes concentrações de H2O2. 67 10 Concentração (g/L) 8 6 0,01 g/L 0,05 g/L 4 0,1 g/L 2 0 0 5 10 15 20 25 t (min) Figura 4.14 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 3 g/L de nZVI, pH 3 e diferentes concentrações de H2O2. Fonte: Próprio autor. Tabela 4.4 – Constantes de velocidade aparente para reações com diferentes concentrações de H2O2 na presença de 3 g/L de nZVI e pH 3. [H2O2] (g/L) k (h-1) 0,01 6,629 0,05 6,923 0,1 7,202 Fonte: Próprio autor. A Figura 4.15 apresenta a redução na concentração do corante quando a reação de descoloração ocorreu em pH 3, com concentração de H2O2 de 0,01 g/L e em diferentes concentrações de nZVI. Nesta figura, observa-se que em 5 e 20 minutos, apesar da redução da concentração de nZVI para 2 g/L, a degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN chegou a 66% e 82%, respectivamente. As constantes de velocidade aparente de reação com 2 e 3 g/L de nZVI foram de, respectivamente, 4,512 h-1 e 6,629 h-1. Estes resultados 68 reforçam a discussão, apresentada na revisão bibliográfica, sobre a forte influência do pH nas reações com as nZVI. Como discutido no item 2.6, pode-se concluir que os resultados observados ocorrem devido a alta reatividade do ferro em escala nanométrica (elevada razão área superficial/volume), gerando íons ferrosos (Fe 2+), de forma extremamente acelerada, a partir do contato entre o ferro metálico (Fe 0) e a solução aquosa. Consequentemente, em maior quantidade e em pH ácido, maior será o efeito catalítico na decomposição do H2O2 em radicais hidroxila (•OH). 10 Concentração (g/L) 8 6 2 g/L 3 g/L 4 2 0 0 5 10 15 20 25 t (min) Figura 4.15 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com diferentes concentrações de nZVI em pH 3 e 0,01 g/L de H2O2. Fonte: Próprio autor. 4.2.2 – Comparação com nZVI comerciais O ensaios de degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com nanopartículas de ferro de valência zero comerciais (nZVIc) objetivaram comparar o desempenho com as nZVI sintetizadas neste estudo. 69 As nanopartículas de ferro de velência zero, comerciais e sintetizadas, foram comparadas em reações de degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN, utilizando 1 g/L de nZVIc, 0,1 g/L de H2O2 e em pH 5. Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 4.16. A comparação da reação de descoloração com as nZVI comercial e sintética, apresentada na Figura 4.16, mostra desempenho equivalente, ressaltando que a metodologia utilizada neste trabalho foi eficiente na geração de nanocatalisadores para a reação de Fenton. 10 Concentração (g/L) 8 6 Sintética Comercial 4 2 0 0 50 100 150 200 250 t (min) Figura 4.16 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN com 1 g/L de nZVI comercial e sintética, com 0,1 g/L de H2O2 e pH 5. Fonte: Próprio autor. Em pH 3, foram realizadas reações com 3 g/L de nZVIc e com as nanopartículas sintetizadas na presença de 0,1 ou 0,01 g/L de H 2O2. A Figura 4.17 apresenta os resultados obtidos. Como pode ser observado na Figura 4.17, o desempenho das nanopartículas, comerciais e sintetizadas, em pH 3 e com 0,1 ou 0,01 g/L de peróxido de hidrogênio, foram novamente comparáveis. Com 0,1 g/L de H 2O2, 70 para as nZVI comerciais houve degradação de 92% da concentração inicial de corante vermelho Drimaren X-6BN nos primeiros 5 minutos de reação, correspondendo a uma constante de velocidade aparente de reação de 9,516 h-1. Enquanto, para as nZVI sintetizadas, no mesmo tempo, observou-se remoção de 75% e constante de velocidade aparente de reação de 7,202 h -1. Ressalta-se que embora a velocidade de reação com as nanopartículas produzidas tenha sido mais lenta, quando comparadas com as nanopartículas comerciais, praticamente toda a cor da solução foi removida após 20 minutos de reação. Uma hipótese para a diferença no desempenho entre as nanopartículas comerciais e sintetizadas seria relacionada ao processo de oxidação durante a síntese ou a um tamanho mais elevado para as partículas sintetizadas. 71 (a) 10 Concentração (g/L) 8 6 Sintética Comercial 4 2 0 0 5 10 15 20 25 t (min) (b) 10 Concentração (g/L) 8 6 Sintética Comercial 4 2 0 0 5 10 15 20 25 t (min) Figura 4.17 – Degradação do corante vermelho Drimaren X-6BN em pH 3 e 3 g/L de nZVIc ou nZVI com diferentes concentrações de H2O2: (a) 0,1 g/L, e (b) 0,01 g/L. Fonte: Próprio autor. 72 5 – Conclusões e sugestões Diante dos resultados obtidos no presente estudo, pôde-se concluir que a síntese de nanopartículas de ferro de valência zero (nZVI) pelo método da redução com borohidreto de potássio, utilizando CMC como surfactante, foi eficiente para a obtenção de nanopartículas ativas para a reação de Fenton. As nZVI produzidas demonstraram grande potencial para degradação de compostos orgânicos presentes em águas. Comparando os testes na ausência ou presença de peróxido de hidrogênio, maiores remoções do corante reativo vermelho de Drimaren X-6BN foram alcançadas na presença do peróxido. Já com relação à influência do pH, foram obtidas eficiências de degradação maiores quando em pH mais baixo (pH 3) em apenas 20 minutos de contato com as nanopartículas de ferro de valência zero, apresentando constantes de velocidade aparente maiores que as constantes de velocidade das reações em pH 5. O pH é um parâmetro importante para a velocidade destas reações de degradação. Entretanto, mesmo sem ajuste de pH (o pH final da amostra foi de 5), a degradação atingida foi de 92 %, após um período mais longo de contato com o composto orgânico (72 horas). As reações na ausência de peróxido de hidrogênio, em pH 5, apesar de serem mais lentas, promoveram a remoção de cor de 85 % em 168 horas. A comparação da reatividade das nanopartículas de ferro de valência zero produzidas neste estudo, com nZVI comerciais, confirmou o potencial uso desta metodologia de produção de nZVI para tratamento de águas. Sugestões para trabalhos futuros: Reciclar e reutilizar as nZVI aplicadas; Estudar a combinação da degradação de compostos orgânicos pela reação de Fenton com nZVI e processos de separação por exclusão de tamanho; 73 Estudar metodologias de impregnação das nZVI em membranas de micro e ultrafiltração; Estudar a produção simultânea da membrana e das nZVI; Testar a atividade das nZVI na presença de radiação ultravioleta. 74 6 – Referências bibliográficas ALIVISATOS, A. P. Semiconductor clusters, Nanocrystals, and Quantum dots. Science, New series. v. 271, n. 5251, p. 933-937. 1996. ALMEIDA, E.; ASSALIN, M. R.; ROSA, M. A.; DURÁN, N. Tratamento de efluentes industriais por processos oxidativos na presença de ozônio. Química Nova, v. 27, n. 5. 2004. 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Pôde-se confirmar que não foi produzido ferro de valência zero. Figura A.1 – Solução de nZVI resultante da redução de βzeo impregnada com Fe(NO3)3. Fonte: Próprio autor. 90 Figura A.2 – DRX das nZVI obtidas na redução de βzeo impregnada com Fe(NO3)3. Fonte: Próprio autor. De forma similar ao que ocorreu nos testes de impregnação das zeólitas com Fe(NO3)3, não foi possível obter nanopartículas de ferro de valência zero pelo método de impregnação com sulfato ferroso. A Figura A.3 mostra que a solução com as nZVI ficou bastante parecida com as nZVI produzidas com Fe(NO3)3. A Figura A.4 apresenta o DRX da amostra, também confirmando a ausência de Fe0. 91 Figura A.3 – Solução de nZVI resultante da redução de βzeo impregnada com FeSO4. Fonte: Próprio autor. Figura A.4 – DRX das nZVI obtidas na redução de βzeo impregnada com FeSO4. Fonte: Próprio autor. 92 ANEXO II – Resultados síntese nZVI a partir da redução de FeCl3 A solução após a redução de FeCl3 (YUVAKKUMAR et al 2011) está apresentada na Figura A.5,sendo possível notar a presença de aglomerados muito grandes das nZVI produzidas. O DRX, presente na Figura A.6, indica a presença de uma mistura de óxidos de ferro: magnetita (FeFe 2O4), goethita (FeO(OH)) e maghemita (Fe2O3). Figura A.5 – Solução de nZVI resultante da redução de FeCl3. Fonte: Próprio autor. 93 Figura A.6 – DRX das nZVI obtidas na redução de FeCl3. Fonte: Próprio autor. 94 ANEXO III – Curva de calibração do corante têxtil Para encontrar o comprimento de onda (λ) ótimo do corante vermelho Drimaren X-6BN , foi feita a leitura de uma solução com 10 mg/L deste corante na região com comprimento de onda variando de 300 a 700 nm, com variação de 10 nm. Entre 500 e 520 nm a variação foi diminuída para 1 nm e o comprimento de onda que apresentou maior absorvância foi o de 511 nm. A Figura A.7 apresenta os resultados do experimento descrito acima. 0,5 0,45 0,4 Absorvância 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 290 390 490 λ (nm) 590 690 Figura A.7 – Cálculo do comprimento de onda ótimo para o corante vermelho Drimaren X-6BN . Fonte: Próprio autor. Com o valor do comprimento de onda ótimo para o corante vermelho Drimaren X-6BN, foi possível obter sua curva de calibração e estabelecer a relação entre absorvância e concentração de corante. A curva de calibração foi desenhada a partir de soluções do corante vermelho Drimaren X-6BN com concentrações de 1 a 10 mg/L. Tais soluções foram lidas no espectrofotômetro resultando no gráfico apresentado na Figura A.8. 95 0,35 R² = 0,994 0,3 Absorvância 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 0 2 4 6 8 10 [mg/L] Figura A.8 – Curva de calibração do corante vermelho Drimaren X-6BN. Fonte: Próprio autor. A linha de tendência mostra um comportamento muito perto do linear (R² = 0,994) e sua da reta está descrita na equação (46). (46) 96 ANEXO IV – Análises da distribuição de tamanhos das nZVI Figura A.9 – Distribuição de tamanhos das nZVI. Fonte: Yuvakkumar et al (2011). 97 ANEXO V – Análises das nZVI Figura A.10 – DRX das nZVI recém sintetizadas Fonte: Vieira et al (2014). Figura A.11 – DRX das nZVI 20 dias após a síntese Fonte: Vieira et al (2014). 98