SORRISO GENGIVAL, QUANDO A TOXINA BOTULÍNICA PODE SER UTILIZADA GUMMY SMILE, WHEN BOTULIN TOXIN CAN BE USED Marcelo Tomás de OLIVEIRA1 Gustavo Otoboni MOLINA22 Rodrigo Otoboni MOLINA3 RESUMO Objetivo: O objetivo desse estudo foi através de revisão bibliográfica elucidar a aplicação do Botox como alternativas terapêutica para o tratamento do sorriso gengival. Revisão: Qualquer exposição gengival ao sorriso natural ou ao discurso, superior a uma faixa contínua de gengiva de 3 mm, caracteriza sorriso gengival. Este possui frequentemente causa multifatorial, podendo estar presente excesso de crescimento vertical da maxila, contração labial excessiva, lábio superior curto, excesso gengival e extrusão dos dentes anteriores. Conclusão: O Botox pode ser utilizado como alternativas terapêuticas para o tratamento do sorriso gengival somente quando a etiologia for causada por hipercontração labial. UNITERMOS: Sorriso gengival, Estética, Toxinas botulínicas. Significância clínica: O botox tem sido recentemente apresentado como ferramenta clínica ao cirurgião-dentista. Razão pela qual suas aplicações devem ser avaliadas e delimitadas. INTRODUÇÃO O sorriso de um paciente pode exprimir uma sensação de alegria, êxito, sensualidade, afeto, cortesia e revelam autoconfiança e bondade. Um sorriso é mais que uma forma de comunicação, ele é meio de socialização e atração. É indiscutível que a profissão de saúde a qual mais convive e manipula sorrisos é a Odontologia. Entretanto, frequentemente cirurgiões-dentistas, especialistas ou não, negligenciam em seus planejamentos considerações fundamentais a respeito, justamente, dos padrões de sorriso. Conforme sugerido, algo do sorriso é subjetivo, porém muito é objetivo. Os meios de comunicação propõem um retrato do sorriso estereotipado o qual leva à padronização do sorriso e, consequentemente, a um aumento da exigência estética de pacientes. Ao contrário do que boa parte dos odontólogos imagina a harmonia do sorriso não é determinada só pela forma, posição e cor de dentes, mas também pelo tecido gengival. A margem gengival deve ser tão harmoniosa quanto os critérios dentários isoladamente. Hoje ambos, pacientes e dentistas, devem estar mais conscientes do impacto da gengiva na beleza do sorriso. A visibilidade do periodonto depende da posição da linha de sorriso, que é definida como a relação entre o lábio superior e a visibilidade do tecido gengival e dentes. O nível do sorriso é uma linha imaginária depois da margem mais baixa do lábio superior e normalmente tem uma aparência convexa. A exposição excessiva do periodonto caracteriza o chamado sorriso gengival ou gomoso15. Cabe salientar que os padrões de estética atuais estabelecem dimorfismo sexual e influência da idade sobre este conceito. Assim, uma faixa de gengiva saudável e contínua, com até 3mm de exposição ao sorriso natural, é desejável para as mulheres, ao contrário dos homens, onde pode-se desejar apenas a exposição dos dentes anteriores sem essa faixa contínua de gengiva. À influência da idade deve-se a perda de tonicidade muscular, com uma consequente menor visibilidade dos dentes superiores e tendência de exposição dos inferiores em função desta8,16. O primeiro passo para estabelecer um diagnóstico correto é classificar adequadamente o nível gengival, respeitando-se as variáveis, tais como: gênero, idade e saúde periodontal. A literatura, apesar de farta a respeito, não é clara e uniforme 5, 6, 15. Determinada a anormalidade do nível do sorriso, o estabelecimento da etiologia do sorriso gengival é imprescindível. Geralmente esta se comporta de maneira multifatorial relacionando-se, principalmente, ao crescimento vertical excessivo da maxila, comprimento reduzido do lábio superior, contração 1 Professor Materiais Dentários e Mestrado em Saúde UNISUL. Professor Periodontia e Clínica Integrada UNISUL 3 Professor Clinica Integrada FAI 2 Revista Odontológica de Araçatuba, v.32, n.2, p. 58-61, Julho/Dezembro, 2011 58 excessiva do lábio superior e desproporção comprimento/largura da coroa clínica dos dentes anteriores, geralmente associada a excesso gengival, ou por hiperplasia ou erupção passiva4,7,12. Para alguns autores a extrusão dos dentes superiores, associada à mordida profunda também é um fator que pode aparecer associado ao problema1,14. Segundo Hwang et al.4, estabelecido o diagnóstico de sorriso gengival, uma modalidade de tratamento minimamente invasivo, que pode servir como um substituto para o procedimento cirúrgico é o uso de toxina botulínica (BTX). Esta toxina atua aderindo a proteína sinaptosômica (SNAP-25) e inibindo a liberação de acetilcolina, impedindo assim a contração muscular. Entre os sete tipos de neurotoxina botulínicas sorologicamente disponíveis, a BTX (A) parece ser a mais potente e é mais frequentemente utilizada. É justamente a etiologia associada à classificação que vai estabelecer um diagnóstico correto, onde todo e qualquer tipo de tratamento irá basear-se. Em outras palavras, respeitam-se os diversos tipos de tratamento e seu caráter multidisciplinar, tendo-se, contudo apenas e tão somente um diagnóstico. Deste modo, busca-se com este estudo estabelecer, quando a toxina botulínica (BTX) para correção do sorriso gengival. DIAGNÓSTICO O primeiro passo para se estabelecer um correto diagnóstico bem como um plano específico de tratamento, é através de uma adequada classificação do nível gengival. Infelizmente as classificações disponíveis são desuniformes e usam critérios diferentes. A comparação entre esses estudos é quase impossível devido a diferenças metodológicas gritantes. Além da classificação em escores diferentes, as principais são: a consideração do tipo de sorriso (natural/ forçado) e o estado de saúde do periodonto. Apesar disso, existe concordância a respeito da definição de sorriso gengival como a exposição de uma faixa contínua de gengiva maior que 3mm, apresentada no sorriso espontâneo6, 15. É de suma importância considerar-se o aspecto dimorfismo sexual e a influência da idade no nível do sorriso. Então, sabe-se que mulheres tendem a expor mais a gengiva do que os homens. Por outro lado, em indivíduos mais velhos a linha do lábio abaixa significantemente, podendo atingir redução de até 2 mm. Nesses mesmos pacientes a linha inferior também muda significantemente e os dentes inferiores são proporcionalmente mais exibidos. O comprimento do lábio superior pode chegar a aumentar em quase 4 mm para os indivíduos mais velhos, enquanto, a elevação do lábio superior se altera menos2, 3, 8,. Assim sendo, a posição e a quantidade de dentes e gengiva exposta durante sorriso e a fala, respeitando-se o dimorfismo sexual e os efeitos da idade são critérios fundamentais, dinâmicos e imprescindíveis para o diagnóstico e planejamento multidisciplinar, sob pena de descaracterizarmos os pacientes em função de sua idade pelos resultados 3. Ao exame clínico/fotográfico dois pontos-chave devem ser considerados quando se busca determinar a visibilidade do periodonto. Primeiramente, o odontólogo deve olhar não para a visibilidade da gengiva marginal (a etapa antes do sorriso), mas também na visibilidade das papilas gengivais. Em segundo lugar, o profissional tem de considerar ambos, o sorriso natural e o sorriso forçado ao avaliar a posição da linha de sorriso. Quando o odontólogo pede para um paciente sorrir, o mesmo normalmente toma uma atitude cautelosa e revela um sorriso mais ou menos natural. Contudo, fora do consultório, o paciente pode revelar mais periodonto forçando o sorriso ao grau máximo de contração de lábio, fazendo por meio disso o sorriso menos estético13. Razão pela qual recomenda-se o uso de filmagem ou durante a consulta inicial, uma intensa e perspicaz observação do paciente, pelo profissional, ao se expressar10. ETIOLOGIA E TRATAMENTO Vários fatores etiológicos têm sido propostos. Didaticamente pode-se dividi-los em: dentários, gengival, ósseo e muscular. A Figura 1 apresenta um diagrama representativo da sequência proposta para avaliação multifatorial do sorriso gengival. Na etapa 1, a presença do sorriso gengival é avaliada. FIGURA 1- Representação esquemática das alterações a serem observadas. 1°-Análise da exposição gengival: a- linha sorriso alta (“gummy smile”); b- linha do sorriso normal; 2°Análise clínica: sobremordida (overbite); 3° – Análise gengival: a- hiperplasia gengival; b- erupção passiva; 4° - Análise cefalométrica de Rickerts: relação labial (fator 17); estrutura óssea (fatores 24 e 25); 5°– Análise da musculatura – comprimento labial e hipercontração labial. Quando a exposição excessiva de gengiva ao sorrir for de etiologia dentária, ter-se-á extrusão excessiva dos incisivos superiores, caracterizando Revista Odontológica de Araçatuba, v.32, n.2, p. 58-61, Julho/Dezembro, 2011 59 overbite, a qual poderá ser tratada apenas com mecânica intrusiva. Casos tratados com mecânica intrusiva apoiada em minimplantes, geralmente são associados à cirurgia periodontal ao final do tratamento ortodôntico. Esta, quando aplicada, serve para corrigir excesso gengival e ósseo localizado na região anterior causado pela intrusão dos dentes1,14. Na Figura 2, etapa 2, tem-se a contribuição oclusal para o sorriso gengival representada. FIGURA 2- Representativa orientação muscular ZMi, LLS e LLSAN. Em amarelo área ideal de aplicação da toxina botulínica com finalidade de controlar a hiperelevação do lábio superior. Na etapa 3 a análise gengival é realizada. A desproporção altura/largura da coroa clínica é frequentemente indicativo de problema associado a excesso gengival mais localizado, como nos casos de erupção passiva, ou mais generalizado, como nos casos de crescimento hiperplásico. O ortodontista, com sua mecânica, trás poucos impactos positivos na solução deste tipo de problema. Apesar disto, durante o tratamento de más oclusões que estejam associadas a estes, deve-se ter atenção redobrada ao planejamento multidisciplinar estabelecendo a hora e o momento certo para o tratamento periodontal12. Na etapa 4, a estrutura óssea é avaliada através de cefalometria. A etiologia óssea caracterizada pelo excesso vertical maxilar, manifesta-se principalmente em pacientes com crescimento predominantemente vertical. Clinicamente, observa-se um sorriso gengival anterior e posterior, sem a presença de excesso gengival12. Muito provavelmente o ponto cefalométrico “A” estará posicionado de forma a proporcionar um aumento do ângulo da altura maxilar (fator 24 do campo V da análise cefalométrico de Rickerts). Devese neste caso considerar também o fator 25 que avalia o giro maxilar, e interpretá-lo de forma a fechar o diagnóstico. Radiograficamente ter-se-á a medida, proposta por Rickerts (Fator 17), de comprimento do lábio superior normal13. Nos dias atuais, o tratamento do crescimento vertical excessivo implica indubitavelmente em cirurgia ortognática. Apesar da invasibilidade do procedimento, das complicações e dos riscos impostos pelo tratamento, este se caracteriza por ser um procedimento com prognóstico extremamente favorável1,7,11. Por fim a análise muscular é conduzida. Observa-se o comprimento labial e a contração labial ao sorriso espontâneo. Quando todos os fatores anteriores, inclusive o comprimento labial, estão normais a única causa é a hipercontração labial. Então, renova-se o alerta ao profissional quanto a diferença entre o sorriso natural e o sorriso forçado ao avaliar a posição da linha de sorriso. Deve-se lembrar que quando o odontólogo pede para um paciente sorrir, o mesmo normalmente toma uma atitude cautelosa e normalmente revela um sorriso forçado. É justamente no campo muscular, principalmente nos casos em que o comprimento labial está normal, e temos, portanto, a hipercontração dos músculos elevadores do lábio determinando o sorriso gengival, que encontramos indicação para o uso da toxina botulínica (BTX), a qual vem recentemente sendo proposta como ferramenta dos cirurgiõesdentistas4,9,17. A dosagem correta a ser aplicada para casos moderados a severos é de 2,5 unidades por 0,1cc injetadas no máximo em quatro locais. Esta dosagem é suficiente, o que varia é o número de locais de injeção, sendo dois e quatro locais de aplicação para aqueles que apresentam 3 a 5mm e mais de 5mm de exposição, respectivamente. Com exposição menor que 3mm não se recomenda o uso de Botox pelo risco de sobrecorreção. A necessidade de reaplicação é em média de seis meses, podendo variar de 4 a 8 meses. Apesar da sobredosagem poder causar paralisia dos músculos alvo, os efeitos colaterais restringem-se à leve queimação no local de injeção9,17. A aparência do sorriso é determinada principalmente pela atividade do levantador do lábio superior (LLS), do levantador alar nasal (LAN), do zigomático menor (ZMI) e do zigomático maior. São exatamente estes músculos que determinam a quantidade de elevação labial que ocorre durante o sorriso e, portanto, deveriam ser estes que deveriam ser desativados pela ação do Botox4. CONSIDERAÇÕES FINAIS É fato que a exigência dos pacientes cada vez mais aumenta. Torna-se imprescindível, portanto, que o planejamento leve em consideração não só aspectos pré-determinados e padronizados, mas também a estética do sorriso de forma dinâmica, bem como sua relação com a face do paciente. Ainda mais, é preciso percepção e bom censo para entender que de acordo com os padrões de beleza atuais, o paciente pode não estar buscando apenas dentes que reproduzam as chaves de oclusão, cor e forma propostos na literatura. Mas também uma face harmônica e equilibrada, exigindo, em vista disso, um diagnóstico e planejamento com entendimento multidisciplinar. Revista Odontológica de Araçatuba, v.32, n.2, p. 58-61, Julho/Dezembro, 2011 60 Assim sendo, de acordo com a literatura consultada a toxina botulínica, especialmente a BTX (A), parece ser uma alternativa para os casos de sorriso gengival determinados por etiologia exclusivamente muscular, destacando-se a hipercontração dos músculos elevadores do lábio superior. ABSTRACT Objective: The aim of this study was by means of literature review shown the clinical application to Botox as treatment alternatives to gummy smile. Review: The exposure of gingival display shape during natural smile over than 3mm calls gummy smile. The ethiology is multifactorial and can be showed excessive vertical maxillary grow up, excessive labial contraction, shorter upper lip, gingival excess and extrusion of the anterior teeth. Conclusion: the botox therapeutics alternative can be used only in muscle hyperactive. UNITERMS: Gummy smile. Esthetic. Botulin toxin. REFERÊNCIAS 1 - Cheng YJ, Chin-Liang Y, Jein-Wein LE, Bowman SJ. Treatment of skeletal-origin gummy smiles with miniscrew anchorage. J Clin Orthodont. 2008; 42: 285-96. 2 - Ferrario VF, Sforza C, Schimitz JH, Ciusa V, Dellavia C. Digitized three-dimensional analysis of normal dento-labial relationships. Prog Orthod. 2001; 2: 232-4. 3 - Geld PV, Oosterveld P, Kuijpers-Jagtman AM. Agerelated changes of the dental aesthetic zone at rest andduring spontaneous smiling and speech. Eur J Orthod. 2008; 30: 366–73. 4 - Hwang WS, Hur M, Hu KS, Song W, Koh K, Baik H, et al. Surface Anatomy of the Lip Elevator Muscles for the Treatment of Gummy Smile Using Botulinum Toxin. Angle Orthod. 2008; 79: 70-7. 5 - Jensen J, Joss A, Lang NP. The smile line of different ethnic groups in relation to age and gender. 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Revista Odontológica de Araçatuba, v.32, n.2, p. 58-61, Julho/Dezembro, 2011 Endereço para correspondência: Prof. Dr. Marcelo Tomás de Oliveira Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL marcelo. [email protected] 61