Microsoft Word - A CIVILIZA\\307\\303O

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MITOS AMERÍNDIOS DAS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES À
CONQUISTA ESPANHOLA
Rosa Maria Marangon
Membro do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da UFJF.
Aluna do Curso de Filosofia da UFJF.
[email protected]
I – INTRODUÇÃO
Os homens sempre buscaram conhecer os feitos de seus antepassados. Seja por
curiosidade ou mesmo para a busca de explicação de fatos no seu tempo presente. Nos
povos pré-históricos e primitivos, quando não havia ainda a escrita ou qualquer forma
de registro destes fatos, a transmissão oral era a única maneira que estes povos tinham
de transmitir uns aos outros suas experiências e suas crenças. Essas narrativas assumiam
um caráter mítico onde se mesclavam acontecimentos com elementos mágicos e
religiosos.
Hoje temos infinitos meios que nos permitem registrar nossas vivências bem
como procurar entender tudo que já foi vivido. É também verdade que quando
analisamos qualquer fato não podemos abstrair uma série de detalhes intrínsecos à nossa
visão de mundo, mas os cientistas buscam, na medida do possível, fazerem uma leitura
que acreditam ser a mais próxima possível da realidade da época. Temos também que
considerar que o mito quando retirado do seu contexto perde parte de seu significado,
uma vez que ele faz parte de um universo no qual tudo se encaixa para formar o todo
pleno de significação.
Quando fazemos uma leitura destes mitos nos deparamos com uma parte da
nossa história que nos surpreende e emociona e muitas vezes nos enche de indignação
porque neles também encontramos as marcas da imposição cultural dos conquistadores
que devastaram suas culturas. No caso da América espanhola a chegada dos europeus
representou um choque violento de culturas, vencido com a definitiva dominação dos
povos ameríndios, apesar da vigorosa resistência por eles muitas vezes oferecida.
Ao chegarem ao continente americano, os conquistadores europeus encontraram
povos que, embora possuíssem certa unidade étnica, apresentavam enormes diferenças
sociais e culturais. A dispersão geográfica e os contextos históricos diversos faziam com
que civilizações complexas em todos os aspectos, como os astecas e os incas,
coexistissem com tribos nômades de organização e modo de vida muito simples, como
os peles-vermelhas, e até com comunidades primitivas, como a maior parte dos índios
brasileiros.
Pretendo com este trabalho fazer uma pequena leitura do que conhecemos como
América Espanhola, sua colonização, os primeiros grandes impérios e sua posterior
conquista, mostrando duas visões: a do conquistador e a visão do povo conquistado,
segundo Miguel León-Portilla.
II – OS PRIMEIROS HABITANTES
Chamados equivocadamente por Cristóvão Colombo de índios, por acreditar ter
chegado às Índias, os primeiros habitantes da América não são naturais do continente,
mas vieram de outras regiões. Achados arqueológicos indicam que há mais de trinta mil
anos, em pequenos grupos nômades, tenham chegado os primeiros povos vindos da
Ásia passando pelo Estreito de Bering. Entretanto esta migração não foi algo
premeditado com o intuito de ocupar determinado território, mas se tratavam de
caçadores errantes que seguiam rebanhos de renas e aqui chegavam isoladamente. Esse
processo durou milhares de anos.
Achados arqueológicos têm ajudado muito aos pesquisadores a aprenderem mais
sobre nossa história, é o caso dos crânios de cristal, todos foram descobertos em antigas
ruínas do México, na América Central ou na América do Sul, de estelas, colunas ou
placas de pedra com inscrições hieroglíficas, calendários e tudo o que resistiu à ação do
tempo, dos saques espanhóis e às fogueiras dos missionários europeus. Na própria
Cidade do México, que foi edificada sobre as ruínas de Tenochtitlán, talvez existam
diversos "tesouros" soterrados.
A expressão Mesoamérica, muito encontrada nos textos que se referem a este
período, não se trata de uma delimitação geográfica, mas é apenas uma referência
histórica e antropológica correspondente a boa parte dos atuais México, Guatemala, El
Salvador, Nicarágua, Honduras e Costa Rica, onde, ao longo de muitos séculos, viveram
civilizações poderosas, destacando-se entre outras a dos olmecas, maias, toltecas e
principalmente a dos astecas.
II. l. Os Olmecas:
Esta que é considerada, atualmente, por antropólogos e historiadores como a
civilização de origem da América. Só foi reconhecida muito tardiamente no século XIX,
por volta de 1862 quando foi encontrada uma escultura gigante que não poderia ser
atribuída a outra cultura, pois não era semelhante a nada que se conhecia até então. Mais
tarde, outras foram sendo encontradas, até que se concluiu que só poderia ser de um
outro povo ainda desconhecido dos pesquisadores. Só no século XX é que se
reconheceu a existência deste povo e a partir de então vêm sendo feitos estudos
arqueológicos sérios que evidenciam a riqueza desta cultura.
Viviam ao longo da costa do Golfo do México, mais ou menos no ano 1000 a.C.
Os achados arqueológicos Cerro das las Mesas, Três Zapotes (daí o nome zapotecas), e
o mais importante La Venta que tem sido escavado desde 1941, segundo pesquisas
científicas, deve ter existido entre 900 e 400 a.C.
Os olmecas eram grandes escultores e suas obras de arte, geralmente gigantescas
eram na maior parte cabeças talhadas em basalto. Praticavam um jogo de pelota
semelhante ao atual vôlei, mas era um jogo simbólico, pois segundo alguns intérpretes,
os movimentos da bola imitavam o movimento do sol no céu, já para outros, a bola
representava Vênus com seus movimentos ao redor do sol. A bola que pesava de quatro
a cinco quilos era feita de borracha, daí o nome olmeca que significa “homens
produtores de borracha”. Outra coisa interessante é que esta bola era jogada com os
quadris e não com as mãos, cabeça ou pés.
Este povo, que parece ter vivido da agricultura do milho, necessitava de algum
conhecimento da natureza para marcar as épocas da semeadura e da colheita, os
períodos de chuva e de secas, foi considerado o inventor do sistema calendárico.
Possuía também uma escrita e uma numeração hieroglífica.
Em Monte Alban, cidade mexicana, encontra-se muita coisa da cultura olmeca,
parece que ali foi uma colônia do deus Jaguar a quem os olmecas cultuavam. Acreditase que era um povo guerreiro e que tenha sido vencido pelos maias.
II.2. Os Maias
Os maias, civilização que viveu na América Central ocupando-a por mais de
vinte séculos, atingiram um altíssimo grau de evolução no que se refere ao
conhecimento de matemática e astronomia. Sua cultura floresceu desde o ano 300 a.C.
até 1200 d.C. e então veio o seu declínio. Quando os espanhóis lá chegaram no século
XVI encontraram abandonadas várias cidades maias e muitas obras de arte, num vasto
território que abrange Belize, parte da Guatemala e de Honduras e a península de
Yucatán, no sul do México. Eles não eram um único povo, mas a união de grupos que
provinham de raças diferentes e que tinham também línguas diferentes.
Este povo, que chegou a ser comparado aos gregos por causa de sua estrutura
política independente, não chegou a formar um império. Eles eram agricultores cuja
base era o milho. Não se sabe exatamente por que motivos eles imigraram da costa do
Pacífico para outras regiões, mas, porque encontraram um ambiente hostil para o
homem, pois havia a floresta tropical muito densa habitada por animais ferozes,
tiveram que se unir para sua sobrevivência. Mais tarde, o que inicialmente eram aldeias
vai se tornar um grande centro religioso. Foram construídos os grandes centros
cerimoniais como Palenque, Tikal e Copã. O sacerdote era encarregado dos cultos, das
ciências e da observação da natureza. Em virtude disto seriam construídos prédios
suntuosos, as pirâmides, destinadas à adoração dos deuses. Eles adoravam uma
infinidade de deuses. Entre eles haviam os deuses astrais, os deuses do tempo, patriarcas
e heróis culturais e também havia a personificação das forças da natureza, que na sua
maioria eram representadas por animais. Assim surgiu Quetzalcoatl. O Kukul, pássaro
Quetzal, representou o céu e a Cán, coatl, a serpente cascavel representava a terra com
todos os seus perigos. O herói Quetzalcoatl, Kukul-cán, é uma forma híbrida que
representa o céu e a terra sendo entre elas um mediador.
O povo maia se dedicava com grande empenho à astronomia e seus calendários
são extremamente precisos em relação a alguns fenômenos. Isto foi constatado em
relação à observação de cometas, também a muitas particularidades relativas ao planeta
Vênus. Seus calendários possuíam especificidades que até hoje são estudadas e ainda
não existe consenso entre os pesquisadores em relação ao que chamam de calendário de
curta contagem e o de longa contagem e sua correlação com o calendário Juliano ou
Gregoriano.
Os centros maias foram abandonados de forma misteriosa aproximadamente no
ano 900, quando algumas tribos migraram para Yucatán.
II.3. Os Toltecas:
A notícia da decadência do povo maia se espalha por vastos territórios e outros
povos, não mexicanos, os chichimecas ou bárbaros, chamados Toltecas foram os
primeiros a chegarem. Era um povo muito militarizado, possuía uma língua muito
diferente, o nahuatl, e sua religião estava baseada no culto astral. Havia então uma
grande diferença cultural entre estes e os povos que ali encontraram, os maias, que
cultuavam os deuses Tlaloc, deus da chuva e da água, e Quetzalcoatl, a serpente de
plumas, o deus do vento. Este povo fundou uma cidade, Tula, que ficou muito tempo
sob o domínio maia. Eles acreditavam que Quetzalcoatl fosse um homem-deus muito
justo, convertendo assim a divindade numa realidade.
Com a vinda de mais e mais imigrantes, Tula foi crescendo e se tornando
poderosa. Até que o poderoso Tezcatlipoca, seu deus feiticeiro, se materializou e lutou
com Quetzalcoatl vencendo-o. As lendas Toltecas dizem que ao ser derrotado,
Quetzalcoatl teria abandonado a região, com destino a um país vermelho e preto que se
localizaria além do oceano oriental, o oceano Atlântico. Entretanto, o soberano divino
havia prometido regressar para retomar o trono que lhe fora usurpado, lenda que se
transformou na crença do retorno da divindade.
Este povo construiu um grande império, mas as crescentes invasões dos povos
chichimecas e a destruição de Tula no século XII foi o que levou ao seu fim imperial.
Entretanto, os toltecas continuaram existindo em Yukatán onde houve uma fusão
tolteco-maia que sobreviveu até a chegada dos espanhóis.
II.4. Os Astecas:
Este povo só chegou a esta região em meados do século XIV e esta foi a última
tribo a chegar quando o império tolteca teve seu fim. Eram os mexicas, que se
instalaram a princípio na única terra que restava, uma pequena ilha. Os astecas
acreditavam que o deus Huitzilopochtli lhes dissera para encontrar o lugar onde havia
uma águia segurando uma cobra sobre um cacto. Era nesse lugar que construiriam uma
cidade e se tornariam importantes governantes. Esta águia foi encontrada numa das ilhas
do lago Texcoco, como fora profetizado.
Mais tarde, com sua arte guerreira e sua habilidade de aprender com os povos
entre os quais viviam, tornaram-se ricos e poderosos. Fundaram Tenochtitlán, que
dizem ter sido uma das maiores cidades do mundo naquela época, com cem mil
habitantes e uma área de dez mil hectares. É neste local que hoje se encontra a Cidade
do México.
Existe um mito asteca, o qual descrevo abaixo, que narra exatamente a trajetória
daquelas tribos que mais tarde iriam fundar Tenochtitlan a grande “capital” do povo
asteca.
¿Como se fundó Tenochtitlan?
Mucho antes que los aztecas estabelecieran su gran império,
constituían uma comunidad integrada por muchas tribus que vivian
em um lugar llamado Chicomoztoc, “lugar de las siete cuevas”. Pero
la gente empezó a sentir desasosiego y algunas tribus se marcharon,
siendo los aztecas los últimos em abandonar el lugar. Uno de sus
dioses, Huitzilopochtli, mandó uma visión a los sacerdotes aztecas,
em la que les señaló hacia dónde debían dirigirse. Viajaron mui lejos
durante mucho tiempo, por lo que algunos miembros del grupo ya no
querían continuar y amenazaban com establecerse em el sitio donde
estaban. Pero cuando esto sucedia, Huitzilopochtli se enojaba y
enviaba visiones incitando a su pueblo a seguir adelante.
Algunos aztecas empezaron a reñir, lo que dividió a la tribu.
Uma mujer del grupo de los revoltosos, llamada Macuilxóchitl, “flor
silvestre”, se volvió tan poderosa y malvada que muchos aztecas
trataron de convencer a sus sacerdotes de que lo mejor era
abandonarla. Uma mañana, el resto de la tribu abandonó em silencio
el campamento, dejando atrás a Macuilxóchitl, quien dormia
placidamente. Al despertar, ésta juró vengarse y mandó a su hijo,
Copil, para que iniciara distúrbios entre los aztecas.
Copil se presentó em otras aldeas para advertir a sus pobladores
que debían cuidarse de los aztecas, um pueblo malvado que quería
conquistarlos. Muy pronto, dondequiera que llegaban, los aztecas
encontraban enemigos furiosos, hasta que Huitzilopochtli previno a
su gente y aconsejó a los guerreros sorprender a Copil em uma cueva
donde se ocultaba y acabar com él. Al hallarlo, le arrancaron el
corazón, tal como había indicado Huitzilopochtli, y lo tiraron al lago
de Texcoco.
Los aztecas siempre estaban rodeados de enemigos y, para
poder seguir adelante, tenían que luchar constantemente. Todo
parecia que su peregrinar nunca iba acabar.
Um dia, Huitzilopochtli se manifestó em sueños a los sacerdotes
y les reveló el lugar donde ellos crearían um gran império. Además,
les dijo que en el corazón de Copil había germinado una nopalera,
que la planta había crecido muy alto y un águila había construído su
nido entre sus espinas. El dios les anunció que encontrarían el águila
con las alas extendidas y devorando una serpiente. “Allí”, les dijo,
“ustedes fundarán uma ciudad”.
Los aztecas siguieron las instrucciones de Huitzilopochtli.
Hallaron la napolera y el águila sobre su parte más alta. Em este sitio
edificaron su capital y la llamaron Tenochtitlan, palabra que significa
el “lugar de la piedra y el nopal”. Com esto llegó a término su largo y
difícil peregrinar. Muchos siglos han pasado y, ahora, em el Valle
donde se erguia la orgullosa Tenochtitlan, se extiende una hermosa
ciudad, una de las más pobladas del mundo: la Ciudad de
México.(RODRIGUEZ, V.2, 2004, p.30)
Tenochtitlan
Os astecas adoravam muitos deuses e procuravam ganhar sua simpatia
sacrificando grande número de prisioneiros. Quando chegaram ao México eram
caçadores e adoravam os deuses do céu: o Colibri Azul, deus do sol do meio-dia,
Coatlicue, sua mãe, Tonatiuh, o sol, o senhor do amanhecer, e Tezcatlipoca, deus da
noite. Quando se instalaram ali aprenderam escrita e astrologia com os toltecas.
Começaram a adorar o deus da sabedoria dos toltecas, Quetzalcoatl. E a crença no
retorno dessa divindade jamais desapareceu sendo incorporada pelos Astecas o que
acabou se tornando de suma importância quando da chegada dos espanhóis em 1519 no
reinado de Montezuma. Quando o cultivo da terra tornou-se importante e eles
precisavam de chuva adoraram o deus tolteca da chuva,Tlaloc e a deusa Terra que
faziam as plantas crescerem.
Este povo teria vindo de Aztlán, uma pequena ilha situada a noroeste do
México. Esta, porém, é uma dúvida que existe entre os pesquisadores. Entretanto, há
indícios de que ela tenha realmente existido. Na Califórnia, foi encontrada uma estátua
que acreditam que seja do deus Huitzilopochtli, aquele que guiou os astecas em sua
marcha, e também algumas inscrições numa caverna.
Depois de chegarem ao planalto Mexicano, os Mexica foram batizados pelos
descendentes dos toltecas de Azteca Chichimeca, ou seja, os bábaros de Aztlán. Isto deu
origem à palavra Azteca, que os espanhóis entenderam Asteca e que hoje,
incorretamente, nós colocamos no plural Astecas. Eles passaram a se reconhecer como
Astecas e passaram a chamar a região que pretendiam dominar de México, ou seja,
Terra dos Mexica.
Os astecas utilizavam dois calendários, o calendário solar maia e um calendário
sagrado asteca. Suas datas eram uma mistura dos dois calendários. Os primeiros dias de
cada calendário coincidiam a cada 52 anos. Este era um ciclo importante para eles
porque temiam que neste dia, a cada 52 anos, o mundo acabasse, e se preparavam para
isto jogando fora seus pertences. Eles acreditavam que os deuses haviam se sacrificado
para criar o sol, por isso era seu dever alimentar os deuses com “água sagrada”, ou seja,
sangue. Todos os meses havia um festival de oferenda aos deuses. O festival mais
importante era a cerimônia do Fogo Novo, que ocorria de 52 em 52 anos quando o povo
se dirigia para uma colina e pouco antes do nascer do sol e o sumo sacerdote sacrificava
um homem. Ele acendia o fogo novo e o sol nascia sob aplausos de todos. Assim o
mundo voltava a ser novamente um lugar seguro. Ficaria restabelecida a harmonia da
natureza com a qual este povo mantinha uma relação vital.
II.5. Os Incas:
Expansão do Império Inca:
1438-1463 (lilás);
1463-1471 (amarelo);
1471-1493 (verde);
1493-1525 (vermelho).
Também na América do Sul, há mais ou menos 14 mil anos, ocorria um
processo de ocupação territorial no seu litoral ocidental. Com o recuo das geleiras e uma
desertificação desta área, começaram a aparecer tribos nômades que vagavam sempre a
procura de abrigo e alimentação. As civilizações da região andina central habitaram os
territórios onde hoje se localizam o Peru, a Bolívia, a Colômbia, também o Equador,
Chile e Argentina.
A primeira grande cultura que se tem notícia é a Nazca. Em seguida, já no ano
600 d.C., emergem os grandes impérios. Destacaram-se os de Tiahuanaco, localizado às
margens do lago Titicaca, e o Hauari. No século XII estes povos entraram em
decadência e novos reinos surgem nesta região. É importante citar o Reino Chimu e os
Incas. Porém, a maior e mais poderosa civilização desta região foi a Inca, que teve sua
fase de expansão territorial no século XV estendendo-se por um território norte-sul de
mais de 4.000 quilômetros. Os incas chamavam este império de Tahuantinsuyu, ou seja,
“Os Quatro cantos do Mundo” ou “As Quatro Terras”.
Foi um período de grandes realizações, construíam cidades e edifícios
maravilhosos em locais de difícil acesso nas montanhas, como é o caso de Machu
Picchu, uma impressionante aldeia construída sobre um elevado talude. Havia estradas
que ligavam todas as partes do império.
O primeiro soberano fundador da dinastia imperial foi Manco Cápac, que se sabe
através dos relatos orais, pois os incas não possuíam uma escrita, apenas pictografias e
ideogramas. Os incas tinham como centro a cidade de Cuzco e seu imperador era
denominado Inca a quem os povos que iam sendo dominados juravam lealdade. Quando
dominavam outros povos não depunham seus governantes. Mantendo seus líderes esses
povos preservavam seus costumes e alimentavam a esperança de um dia se tornarem
livres da dominação inca.
Assim como para muitos outros povos o Sol era seu deus supremo e se chamava
Intip. E o Inca que governava a cidade de Cuzco era descendente do deus-Sol. Assim
todas as tribos o aceitavam como um rei divino. Tudo que existia pertencia ao deus-Sol,
assim pertencia também ao Inca, desde terras até a vida das pessoas. Todas as tribos
deveriam ter Intip como deus supremo e construir um templo em sua honra, mas o
templo principal ficava em Cuzco, a capital. Era ali que se celebrava a Festa do AnoNovo que era presidida pelo imperador. Esta festa acontecia quando o Sol, ao meio-dia
se encontrava exatamente na vertical. Isto era marcado por uma grande pedra talhada
que se chamava Intihuatana e no seu centro havia um pilar. Quando este pilar não
projetava nenhuma sombra era o momento da grande celebração.
Seus deuses principais eram o Sol e Lua, mas também adoravam os deuses do
trovão e do arco-íris e os deuses dos planetas brilhantes. Sobre todos eles reinava
Huiracocha, o Criador, que era o pai e a mãe do Sol e da Lua, a quem dedicavam um
culto familiar, secreto e máximo pois dele dependiam a terra, a água e a costa dos
mares, onde ele havia desaparecido prometendo voltar um dia.
O último imperador, Inca Huayna Cápac, tinha dois filhos com esposas
diferentes, Huáscar e Atahuallpa. Quando o Inca Huayna morreu iniciou-se uma guerra
entre os irmãos pela disputa do trono. Atahuallpa acabou por conquistar o país inteiro e
aprisionou Huáscar.
Estas foram as civilizações das quais tomaram conhecimento o povo espanhol
que se empenhou em conquistá-las. Hernán Cortez, no México, Francisco Pizarro, no
Peru, foram os conquistadores espanhóis que marcaram mais fortemente o início da
colonização espanhola.
III. AS CONQUISTAS NO SÉCULO XVI
A nação asteca era conhecida por indígenas dos quatro cantos do mundo por sua
fama e sua glória. Por causa do seu poderio e riqueza, os espanhóis que já estavam na
ilha de Cuba, dela tomaram conhecimento. Enquanto os astecas estendiam seus
domínios, ali, bem próximo, havia homens, vindos de além das imensas águas,
dispostos a empreender sua conquista.
Ao contrário do que existia na região central do México, na área maia onde antes
tinham florescido metrópoles, agora, só existiam pequenos estados ou nações, divididas
entre si e em decadência. Entretanto, foi em Yucatán onde se deu o primeiro encontro
dos espanhóis com os indígenas, em 1511. Este encontro foi acidental, devido a um
naufrágio que só teve dois sobreviventes, Gonzalo Guerrero e Jerônimo de Aguilar, este
último viria mais tarde integrar a expedição de Cortez em 1519 onde desempenharia
papel importante como intérprete.
Como os astecas, o império dos incas também foi alvo dos conquistadores
espanhóis. Herdeiros de uma cultura milenar como os maias e os astecas, os incas
tinham alcançado uma enorme prosperidade graças a uma administração política e
econômica rígida, tendo como centro a cidade de Cuzco. Os espanhóis logo tiveram
notícias de sua riqueza e passaram a desejar o “Eldorado”. Apesar do enfraquecimento
do império gerado pelas disputas entre Huáscar e Atahuallpa, sua conquista foi
demorada, eles se mantiveram em guerra durante quase quarenta anos quando então
foram finalmente derrotados.
Na mitologia destes povos, cujas narrativas foram preservadas por alguns
cronistas, encontramos muitas previsões feitas pelos sacerdotes a respeito do fim desses
impérios. Muitas delas estão relacionadas diretamente a seus deuses, como é o caso de
Quertzalcoatl, entre os astecas, e Huiracocha, entre os incas.
III.1. A CONQUISTA DO MÉXICO:
Consagrado como grande conquistador, Hernan Cortez (1485-1547), foi o
temido e odiado capitão que acabou com um dos maiores impérios do mundo, o asteca.
A trajetória da conquista foi narrada em cinco cartas enviadas ao imperador Carlos V da
Espanha, sendo quatro delas escritas pelo próprio Cortez a partir de 1519.
Além de narrar os desafios que tiveram que enfrentar descreve minuciosamente
como foram recebidos pelos índios, as batalhas que travaram com eles, e como todo
conquistador tem, por excelência, um discurso embasado em causas nobres:
...Que vissem o quanto convinha ao serviço de Deus de vossa sacra
majestade tornar a cobrar o perdido, pois para isto tínhamos justas
razões. De um lado, por lutar em aumento de nossa fé e contra gente
bárbara, e de outro, pela segurança de nossas vidas e pela ajuda que
tínhamos de nossos amigos nativos. E para a boa ordem no tocante à
guerra, dei certas ordens que roguei fossem cumpridas, porque isto
redundaria a serviço de Deus e de vossa majestade. E todos
prometeram cumprir o disposto e lutar até a morte por nossa fé e para
cobrar tão grande traição que nos haviam feito os de Tenochtitlán e
seus aliados...(CORTEZ, 1986. p.68)
Assim, em nome da fé, narravam a crueldade com que enfrentavam os índios.
Numa dessas passagens ele chega a dizer: “... foi coisa linda de se ver a ação dos
cavalos os massacrando”.(CORTEZ, 1986, p.77) Cortez suplicava ao rei que mandasse
mais religiosos para que trabalhassem na conversão dos nativos, pois estes mostravam
grande disposição em se converter à fé católica.
Foi também beneficiado pela crença dos nativos numa suposta volta de
Quertzalcoátl. Assim, na segunda carta ao rei da Espanha, Cortez descreve a fala de
Montezuma quando foi recebido por ele em Tenochtitlán:
E soubemos que nossa geração foi trazida a esta parte por um senhor,
de quem todos eram vassalos,...E sempre soubemos que os que dele
descendessem haveriam de vir a subjugar a esta terra e a nós, como
seus vassalos. E de acordo com a parte que vós dizeis que vens, que é
a de onde nasce o sol, e segundo as coisas que dizeis deste grande
senhor e rei que aqui vos enviou, cremos e temos por certo ser ele o
nosso senhor natural. Especialmente porque nos diz que há muito têm
notícias de nós. Portanto, estejais certo que obedeceremos, podendo o
mesmo mandar à vontade em toda esta terra que é de meu
domínio.(CORTEZ, 1986, p.40)
A esta declaração de Montezuma, Cortez faz seu comentário, dizendo ao rei:
Eu lhe respondi tudo que perguntou, satisfazendo aquilo que
convinha, em especial fazendo-lhe crer que vossa majestade era quem
eles esperavam... Depois que me certifiquei que este senhor tinha
grande desejo de servir a vossa majestade, pedi-lhe, para que pudesse
fazer um relato mais preciso a vossa alteza, que me mostrasse as
minas de onde tirava o ouro. ( CORTEZ, 1986, p.41)
Cortez descreve, deslumbrado, a beleza e a suntuosidade da cidade, suas casas, o
comércio, as repartições públicas e os templos. Ele diz que não entende como esta
gente bárbara e tão afastada do conhecimento de Deus pode ter todas as coisas, andar
bem vestidas, com boas maneiras e quase da mesma forma que se vive na Espanha.
Relata também sua visita aos templos:
Fiz com que limpassem aquelas capelas, pois estavam cheias do
sangue dos sacrifícios que faziam. Em lugar de ídolos mandei colocar
imagens de Nossa Senhora e de outros santos, apesar da resistência
de Montezuma... Eu os fiz entender quão enganados estavam em ter
esperanças naqueles ídolos, e que deveriam saber que existe um só
Deus...e que a este é que deveriam adorar... As estátuas desses ídolos
são tão grandes quanto um homem. São feitas de sementes e legumes
que comem, moídos e amassados com sangue de coração de corpos
humanos, os quais arrancam do peito vivo. Cada coisa tem seu ídolo.
Assim, há, por exemplo, um ídolo para a guerra, outro para a colheita
e assim por diante.”(CORTEZ, 1986, p.46)
Esta paz aparente não dura muito tempo, acontecimentos inesperados exigem
que astecas e espanhóis lutem incessantemente. Quando, no dia 13 de agosto de 1521,
os espanhóis finalmente conseguiram aniquilar as tropas astecas, marchar pela capital e
fincar sua bandeira no topo do Grande Templo.
III.2. A CONQUISTA DO IMPÉRIO INCA:
Francisco Pizarro, espanhol do Reino de Castela, inspirou-se em Hernan Cortez,
que em 1519 havia conquistado o Império Asteca, mostrando para o mundo o primeiro
grande Império indígena. Tendo conseguido ajuda financeira do rei Carlos V iniciou sua
expedição.
Começou a realizar missões de reconhecimento nas costas do Tawantinsuyu em
1524. Os espanhóis já haviam encontrado com os Astecas, e a experiência fez com que
fossem mais cautelosos ao tentar novos domínios. Afinal, eles poderiam encontrar outro
Império como o asteca. As expedições de reconhecimento do litoral, realizadas por
Pizarro, consistiam simplesmente em chegar até uma praia e manter contato com os
nativos e tinha também a intenção de seqüestrar alguns para aprender seu idioma. Essas
expedições, apesar de não passarem do litoral e de não serem muito agressivas,
causavam alarde nas populações, espalhavam boatos por todo o Tawantinsuyu e, o que é
pior, traziam doenças desconhecidas dos ameríndios. Doenças como a gripe, a varíola,
a rubéola e a sífilis. Em 1528, antes mesmo de iniciar-se a conquista pelos espanhóis, o
que só começou a ocorrer em 1532, já tinham morrido cerca de 200 mil índios por causa
destas doenças.
Aos poucos Pizarro foi conhecendo o lugar e o povo que queria conquistar.
Ficou sabendo das questões políticas entre os irmãos Huáscar e Atauallpa. Foi um hábil
negociador e ganhou a confiança dos nativos insatisfeitos com as discórdias internas,
por isso apesar dos índios serem maioria absoluta, as poucas batalhas em que se
envolveu, saiu vencedor. Os índios também não conheciam os cavalos e todo o aparato
de guerra trazido pelos espanhóis e muitos fugiam apavorados. Mas acredita-se que o
fator determinante para a vitória de Pizarro foram as suas estratégias políticas, jogando
os nativos contra seus dominadores e finalmente aprisionando Atauallpa.
Num encontro entre os dois, Pizarro apresentou a Atauallpa a bíblia para que se
convertesse ao cristianismo e aceitasse ser vassalo do rei da Espanha. Atahulapa
rejeitou. Pizarro então deu o sinal para que seus soldados atacassem a comitiva real.
Naquele dia terrível, o 16 de novembro de 1532, tinha início a liquidação de uma das
mais antigas culturas da América pré-colombiana.
A insatisfação das demais nações e tribos levou-os a se aliarem aos espanhóis
contra os seus antigos senhores, facilitando a ocupação de grande parte do território e,
em 1533 Pizarro entrava em Cuzco, capital inca, lugar sagrado do Templo do Sol. Nada
o impedia de continuar pilhando toda a imensa riqueza em ouro e prata que encontrava
pela frente. Apesar de toda a resistência que encontrou, durante quarenta anos, em 1572
terminam as lutas e os espanhóis se apossam definitivamente de todo o território inca.
IV. A VISÃO INDÍGENA DA CONQUISTA
Miguel León-Portilla, grande pesquisador mexicano, em seu livro A Conquista
da América Latina Vista Pelos Índios, faz uma análise dos relatos astecas, maias e incas
e diz que:
... nosso propósito, longe de qualquer partidarismo sectário que busca
reviver ódios superados, é penetrar a fundo no conhecimento de um
dos momentos-chave para a compreensão do mundo hispanoamericano que haveria de nascer como conseqüência do encontro de
indígenas e espanhóis. Porque, se é certo que em muitos de nossos
povos o trauma da conquista deixou profunda marca, certo é também
que o estudo consciente deste fato impossível de suprimir será
empenho de catarse e enraizamento do próprio ser.
(LEÓN-PORTILLA, 1984, p.08)
IV.1. O CONCEITO ASTECA DA CONQUISTA:
Ao analisar a documentação existente no que se refere à chegada dos espanhóis,
suas lutas e a própria derrota dos astecas ele diz ter encontrado idéias e expressões onde
transparece o sentimento que ficou nos nativos em relação à morte de seus deuses e à
destruição de sua cultura.
O que foi fundamental, ele diz, foi o traço mágico no qual se desenvolveu a
conquista. Antes da chegada dos espanhóis houve uma série de presságios que na visão
dos índios apontava para o retorno de Quetzalcoatl. A notícia da chegada de seres
estranhos deixou-os em dúvida, mas o povo achava que os estrangeiros eram deuses.
Sua fúria, sua cobiça, seu comportamento posterior, entretanto, os havia forçado a
mudar a maneira de pensar, em vez de deuses eles eram bárbaros que vieram para
destruir sua cidade e sua vida. Ele descreve este “canto triste”:
Nos caminhos jazem dardos quebrados;
os cabelos estão espalhados.
Destelhadas estão as casas
incandescentes estão seus muros.
Vermes abundam por ruas e praças,
e as paredes estão manchadas de miolos arrebentados.
Vermelhas estão as águas, como se alguém as tivesse tingido,
e se as bebíamos, eram água de salitre.
Golpeávamos os muros de adobe em nossa ansiedade
e nos restava por herança uma rede de buracos.
Nos escudos esteve nosso resguardo,
mas os escudos não detêm a desolação...(MANUSCRITO
ANÓNIMO DE TLATELOCO,1528 apud LEÓN-PORTILLA,
1984, p.17)
Assim, quando os franciscanos chegaram em 1524, os sábios disseram a eles:
Deixem-nos, pois, morrer,
deixem-nos perecer,
pois nossos deuses já estão mortos! (LIBRO DE LOS
COLOQUIOS apud LEÓN-PORTILLA, 1984. p.18)
Os astecas que se consideravam escolhidos do sol e eram seguidores do deus da
guerra, Huitzilopochtli, eram invencíveis e destinados a conquistar os quatro cantos do
mundo, tiveram que aceitar a derrota. Enfim:
...Mortos os deuses, perdidos o governo e o mando, a fama e a glória,
a experiência da Conquista significou algo mais que tragédia: ficou
cravada na alma e sua recordação passou a ser um trauma.(LEÓN-
PORTILLA, 1984. p.18)
IV.2. O CONCEITO MAIA DA CONQUISTA:
Ao contrário do que aconteceu com os astecas, os espanhóis encontraram na
Península de Yucatán pequenos estados ou nações divididas entre si e em decadência.
Estiveram ali Francisco Hernández de Córdoba, em 1517, Juan de Grijalva, em 1518,
mas quem definitivamente efetuou a conquista das terras altas da Guatemala foi Pedro
de Alvarado em 1524. Já a conquista de Yucatán foi um processo mais demorado, pois
Francisco Montejo e seu filho, desde 1527 encontraram muita resistência por parte dos
nativos. Somente em 1546 o jovem Montejo conquistou definitivamente esta região.
Leon-Portilla, analisando os textos maias, diz que nas terras altas da Guatemala,
aconteceu como no mundo asteca, os nativos pensaram que os estrangeiros eram deuses.
Em Yucatán isto não aconteceu. Eles os chamaram de dzules, isto é, forasteiros. Ele
chama atenção para o que denomina “visão filosófica da Conquista” que é percebida
nos juízos que este povo emitiu a respeito dela:
Então tudo era bom
e então (os deuses) foram abatidos.
Havia neles sabedoria.
Não havia então pecado...
Não havia então enfermidade,
não havia dor de ossos,
não havia febre para eles,
não havia varíolas...
Retamente erguido ia seu corpo então.
Não foi assim que fizeram os dzules
quando chegaram aqui.
Eles nos ensinaram o medo,
vieram fazer as flores murchar.
Para que sua flor vivesse,
danificaram e engoliram nossa flor...(CHILAM BALAM de
CHUMAYEL, apud LEÓN-PORTILLA, 1984, p.59)
O autor diz, em seguida, que apesar de estarem conscientes da morte de seus
deuses e de que a pregação do cristianismo seja de paz e amor a maneira de agir dos
cristãos não condiz com aquilo que pregam:
Este é o rosto (frontispício) de Katún,
o rosto de Katún do 13 Ahau:
quebrar-se-á o rosto do sol,
cairá quebrando-se sobre os deuses de agora...
Cristianizaram-nos,
Mas nos fazem passar de uns a outros
Como animais.
Deus está ofendido com os chupadores...(CHILAM BALAM de
CHUMAYEL, apud LEÓN-PORTILLA, 1984. p.60)
E ele conclui que a visão maia da conquista é
contemplada e predita a partir da marcha inexorável do tempo; em
Yucatán, ao menos, ninguém crê que os dzules sejam deuses; e,
finalmente, toma-se consciência do que fizeram os dzules e são
medidos conforme o critério da doutrina que eles mesmos pregam.
(LEÓN-PORTILLO, 1984. p.60)
IV.3. O CONCEITO QUÉCHUA (INCA) DA CONQUISTA:
Também os Incas, como os astecas e os maias das terras altas da Guatemala,
pensaram que era Huiracocha, seu antigo deus, que retornava. Mas eles também logo
descobriram que isto não era verdade, mesmo chamando os espanhóis por muito tempo
de “huiracochas”.
Observemos o que diz Frei Vicente de Valverde:
Não,nós viemos
a fim de que conheçais
o verdadeiro Deus... (TRAGEDIA DEL FIN DE ATAHUALPA,
apud LEÓN-PORTILLA, 1984. p.100)
E o índio responde:
O Sol, que é nosso pai,
é de ouro refulgente
e a lua, que é nossa mãe,
é de radiante prata
e em Curicancha ambos estão.
Mas para achegar-se a eles
é preciso antes beijar a terra... (APU INCA ATAWALLPAMAN,
apud LEÓN-PORTILLA, 1984. p.100)
Apesar de serem menos numerosos que os dos astecas e maias os relatos
deixados pelos historiadores incas são muito significativos. Os cronistas insistem em
descrever a cobiça e a sede de ouro dos estranhos forasteiros. Em relação aos índios, diz
o autor, não houve outra alternativa a não ser aceitar o cristianismo mesmo ironizando a
falsa religiosidade dos conquistadores que não passavam de “inimigos barbudos”. E ele
conclui:
O quéchua aprendeu em seu íntimo a desprezar os “inimigos
barbudos”. Com uma mistura de ironia, de motejo e de medo
continuou chamando os espanhóis de huiracochas. Aprendeu a baixar
a cabeça e a temer os conquistadores e encomenderos. Como seus
irmãos astecas e maias, aceitou a nova religião, mas conservou
tradições e crenças dos tempos antigos. A posterior conclusão do
quéchua foi resignar-se em meio à desgraça. Depois, em seu
isolamento de encomiendas e haciendas, viveu seu trauma. Rebelouse algumas vezes,... Participou nas lutas de Independência, mas até
agora continua aguardando o momento, talvez já próximo, em que
finalmente sua antiga força criadora poderá se exercitar no novo
contexto dos grandes povos mestiços da nossa América. (LEÓN-
PORTILLA, 1984. p.101)
V – CONCLUSÃO
Em todos os povos estudados percebemos a sua profunda ligação com a
natureza. Ali estão seus deuses porque é ela que sustenta suas vidas, daí a sacralização
de tudo que representa a natureza: o trovão, a chuva, o sol , a lua, os rios, os
pássaros,etc. É dela que nasce também o princípio dialético entre o bem e o mal, de
onde sobressai o princípio de contrários, ou seja, é a natureza que provê mas também é
ela que pune os homens. Deste combate é que emerge a ordem cósmica.
É importante destacar o papel dos religiosos no processo de colonização,
tratados muitas vezes como defensores dos indígenas, tiveram uma participação
diferenciada na conquista. A Igreja, na colônia, foi responsável pela imposição de uma
nova religião, conseqüentemente uma nova moral e novos costumes, desenraizando os
indígenas.
A mineração foi a atividade econômica mais importante na América Espanhola,
ou melhor, foi a responsável pela colonização efetiva das terras de Espanha. O ouro na
região do México e a prata na região do Peru foram responsáveis pelo desenvolvimento
de uma política de exploração por parte da metrópole, que passou a exercer um controle
rígido sobre seus domínios.
A chegada dos espanhóis, com uma nova visão de mundo, novas crenças, não
poderia de imediato matar todas essas ligações profundas deste povo com seus deuses,
entretanto, eles, sabiamente, souberam enterrar suas raízes para preservar o que restava
de suas crenças. Como eles disseram, destruíram seus deuses, mas no coração de cada
ameríndio ficou uma semente que amassada, como relatou Cortez, o transporta a seu
mundo cujos deuses ainda estão vivos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATEMAN, Penny. Grandes Civilizações. Incas e Astecas. Tradução de Shirley Gomes. São Paulo:
Nova Cultural, 1988.
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L&PM Editores Ltda, 1986.
CROSHER, Judith. Os Astecas. Tradução de Aulyde Soares Rodrigues. São Paulo: Círculo do Livro,
1976.
HOCHLEITNER, Franz Joseph. Fatos e Problemas da Cultura Maia. 1976. 87 f. Tese (Concurso de
Livre Docência) – Departamento de História, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 1976.
HOCHLEITNER, Franz Joseph. Cronologia e Astronomia Maia. 1977. 72f. Universidade Federal de Juiz
de Fora, Juiz de Fora, 1977.
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maias e incas. Tradução de Augusto Ângelo Zanatta. Petrópolis: Vozes, 1984.
RODRÍGUEZ, Ricardo Vélez. Seminário sobre a Filosofia dos Mitos Indígenas. Juiz de Fora: UFJF,
2004. V.1.
RODRÍGUEZ, Ricardo Vélez. 2°Seminário sobre a Filosofia dos Mitos e Lendas Indígenas. Juiz de
Fora: UFJF, 2004. V.2.
VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo: Scipione, 1997.
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