A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO VARIABILIDADE SAZONAL DA PRECIPITAÇÃO NA BACIA DO RIO DO PEIXE (SC) E SUA RELAÇÃO COM O ENOS E A ODP KÁTIA SPINELLI1 MAGALY MENDONÇA2 RESUMO O objetivo dessa pesquisa é analisar a variabilidade da precipitação sazonal na bacia do Rio do Peixe, e a influencia do El Niño Oscilação Sul (ENOS) e da Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Para tal foram utilizados dados mensais de precipitação, no período de 1947 a 2009, de seis estações meteorológicas presentes na área de estudos. A influência do ENOS e da ODP sobre o regime de chuva foi verificada através da análise de variância (ANOVA). A partir disso, constatou-se que a influencia do ENOS na variabilidade da chuva ocorreu somente durante a primavera. Quanto a ODP, verificou-se que o fenômeno influência significativamente a variabilidade da precipitação durante a primavera, verão e outono. Sendo que durante a fase fria da ODP houve uma redução da precipitação, ocorrendo ao contrário durante a fase quente. PALAVRAS-CHAVE: Precipitação, El Niño, ODP. ABSTRACT The purpose of this research is to analyze the variability of the precipitation of the seasonal rainfall in the Rio do Peixe basin, and the influence of El Niño Southern Oscillation (ENSO) and Pacific Decadal Oscillation (PDO). For this, monthly precipitation data were used, to 1947 until 2009, six weather stations present in the study area. The influence of ENSO and PDO on the rain regime was verified by analysis of variance (ANOVA). From this, it was found that the influence of ENSO variability in the rain occurred only during the spring. As the PDO, it was found that the phenomenon significantly influence the variability of precipitation during the spring, summer and fall. And during the cold phase of PDO there was a reduction in precipitation, occurring over during the warm phase. KEYWORDS: Precipitation, El Niño, PDO. 1 – Introdução A bacia do Rio do Peixe se localiza no oeste catarinense e dentre outras regiões do estado também é atingida por eventos extremos de precipitação que podem ocasionar desastres naturais como as inundações e estiagens. A figura 1 mostra a localização da área de estudos. De acordo com Lindner (2007), no período de 1972 a 2006 foram registrados 94 inundações e 229 estiagens nos municípios que pertencem à bacia do Rio do Peixe. Torna-se, assim, importante a compreensão 1 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia na Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 7479 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO do regime pluviométrico e dos principais sistemas atmosféricos que favorecem a variabilidade da precipitação. Figura 1 – Localização da Bacia Rio do Peixe. Fonte: SPINELLI, 2012. O estado catarinense situa-se sob um clima subtropical úmido, com índices médios pluviométricos sazonais superiores a 251 mm mensais e anualmente atinge cerca de 1250 a 2000 mm (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). A dinâmica regional da atmosfera condiciona o regime de chuva na bacia Rio do Peixe, com a passagem de frentes frias, atuação das massas de ar, das correntes de jatos, de bloqueios atmosféricos, entre outros (SPINELLI, 2012). Além disso, a variabilidade de baixa frequência também pode interferir nas condições pluviométricas, como o El Niño Oscilação Sul (ENOS) e a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Portanto, o objetivo dessa pesquisa é analisar a variabilidade da precipitação sazonal na bacia do Rio do Peixe e a influencia do El Niño Oscilação Sul (ENOS) e 7480 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO da Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Busca-se uma melhor compreensão das situações atmosféricas que podem condicionar extremos de precipitação e desastres naturais na bacia Rio do Peixe. 2 – Influência do ENOS e ODP na precipitação da região Sul O El Niño é um fenômeno oceânico, que ocorre quando há um aquecimento das águas superficais nas porções centrais e leste do Oceano Pacífico. A ação combinada do El Niño, de natureza oceânica, e da Oscilação Sul, de natureza atmosférica, geram o fenômeno ENOS, que corresponde à abreviação de El Niño/Oscilação Sul (MENDONÇA; OLIVEIRA-DANNI, 2007). Durante a ocorrência de El Niño, aumenta o fluxo de calor e umidade para a atmosfera nos trópicos, diminuindo a pressão na superfície e aumentando a convergência de baixos níveis. Em novembros de El Niño predominam anticiclones sobre o centro-leste do Brasil e ciclones sobre o sudoeste da América do Sul. A entrada de umidade no Atlântico Equatorial é favorecida e desviada para o sul do Brasil, onde a convergência de umidade é dominante. Durante o El Niño o jato subtropical também fica intensificado. Essa circulação da atmosfera favorece uma maior ocorrência dos Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) e de ciclogêneses no oeste da região Sul do país. Desta forma, em episódios de El Niño há mais chuvas no Sul e menos chuva no Norte e Centro-Oeste do Brasil (GRIMM, 2009). A La Niña ou Anti-El Niño é causada pelo resfriamento das águas superficiais da porção leste do Pacífico (Taiti) que acentua a situação barométrica padrão da célula de Walker. Sob atuação da La Niña a atividade convectiva aumenta na Amazônia e no nordeste do Brasil, enquanto que na região sul e sudeste há uma redução na precipitação (MENDONÇA; DANNI – OLIVEIRA, 2007). De acordo com Grimm (2009) a estação da primavera é mais propícia às teleconexões com o Oceano Pacífico, assim o impacto de ENOS sobre as chuvas no Sul do Brasil é mais forte na primavera do que nas outras estações do ano. Embora essa teleconexão seja menor nas outras estações do ano, é importante salientar que ela também ocorre (GRIMM, 2009). 7481 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Minuzzi (2010) destaca que em Santa Catarina os meses de maio e novembro são os mais chuvosos em anos de El Niño. Já durante a La Niña, os volumes de chuva de outubro e novembro ficam abaixo da média, e, acima da média em abril e maio. Em alguns anos de La Niña ocorreram estiagens em Santa Catarina devido ao enfraquecimento das frentes frias e dos demais sistemas produtores de chuva. Como foi o caso para os anos de 1988, 1989 e 2008 (Gonçalves et al., 2014). Herrmann et al (2014) salientam que os anos em que ocorreram os maiores episódios de inundações graduais em Santa Catarina estiveram diretamente relacionados com os anos de El Niño de intensidade forte a moderada: 1983, 1987,1990, 1992, 1997, 2009 e 2010. Desta forma, torna-se importante um melhor entendimento sobre a atuação do ENOS na variabilidade da chuva na bacia Rio do Peixe, identificando o período de maior influência. Já que esse fenômeno pode interferir sazonalmente na precipitação e favorecer inundações graduais ou, ao contrário, períodos de estiagem. A Oscilação Decadal do Pacifico (ODP) foi proposta por Mantua et al (1997). Ela é caracterizada ora pelo aquecimento e ora pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Tropical e da Costa Oeste da América, apresentando assim fases quentes e frias. Essas fases duram em torno de 20 a 30 anos. A figura 1 demonstra as fases da ODP. As fases quentes da ODP ocorreram entre 1925 a 1946; e posteriormente de 1977 a 1998. Nessa fase as águas do Pacífico Tropical apresentam anomalias positivas, enquanto as águas no Oceano Extratropical apresentam anomalias negativas. Ocorreu o contrário na fase fria, que ficou nítida entre os anos de 19471976 (MOLION, 2005). Alguns autores como Minobe (2000), Hare e Mantua (2000, apud Kayano e Andreoli, 2007) e Molion (2005) sugerem que por volta de 1998/1999 ocorreu outra mudança, ou seja, uma nova fase fria. De acordo com Molion (2005) essa fase fria deve permanecer até 2025 e se o sistema terra-atmosfera se comportar como na última fase fria da ODP (1947-76) os invernos serão mais intensos e com aumento 7482 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de frequência de geadas e redução dos totais pluviométricos, pois com a troposfera mais fria e seca o ar se torna mais estável e produz menos chuva. Figura 2 - Fases quentes (valores positivos) e frias (valores negativos) da ODP. Fonte: adaptado de Mantua et al (1997) por Molion (2008). Alguns autores verificaram a influencia da fase fria da ODP em anomalias negativas de precipitação na região Sul. Rebello (2005) concluiu que as anomalias positivas da precipitação na região Sul, durante o período 1961 a 2005, tiveram boa associação com o período de ODP positivo, enquanto anomalias negativas ocorreram durante a fase fria. Comenta ainda que no período de 1999 a 2005, quando começou a nova fase fria da ODP, houve estiagens seguidas no RS (2001/2002, 2002/03, 2003/04, 2004/05). Nesses anos anteriormente citados, ocorreu pouca chuva no outono e inverno, fazendo com que na primavera e verão tivesse pouca disponibilidade hídrica no solo. Posteriormente Cera, Ferraz e Bender (2009) observaram que a correlação entre ODP e a precipitação no RS é mais significante no nordeste do estado. Concordaram com Rebello em relação às anomalias negativas de precipitação que ocorrerem na fase fria da ODP, e as anomalias positivas na fase quente. Streck et al (2009) e Prestes et al (2010) também tiveram resultados parecidos com os anteriores analisando a precipitação nas cidades de Santa Maria e Porto Alegre, respectivamente. Marques (2010) em sua pesquisa na Bacia do Rio Tubarão, localizada no sul de SC obteve conclusão semelhante aos demais. Kayano e Andreoli (2007) concluem em sua pesquisa que o ENOS e a ODP podem atuar juntos intensificando ou enfraquecendo os efeitos do El Niño ou La Niña. Destacam assim a importância de relacionar ambos em uma análise de dados. 7483 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Desta forma, de acordo com as pesquisas descritas anteriormente tanto o ENOS como a ODP podem favorecer a variabilidade da precipitação na região sul do país e provocar eventos extremos de precipitação. 3 – Metodologia Para tal pesquisa, foram solicitados dados mensais de precipitação para o período de 1947 a 2009 de seis estações meteorológicas presentes na área de estudos. Parte dessas estações pertence à Agência Nacional de Águas (ANA) e as outras pertencem ao Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (CIRAM). O quadro 1 demonstra as estações meteorológicas utilizadas para a pesquisa. No entanto, as estações meteorológicas possuíam períodos diferentes de dados e, assim, optou-se por montar uma base de dados que representasse a precipitação média da Bacia do Rio do Peixe. A base de dados foi elaborada calculando-se a média mensal da precipitação entre as estações meteorológica. Posteriormente o regime sazonal da precipitação foi classificado a partir da técnica dos “quantis” (percentil) em: muito secos, secos, normais, chuvosos e muito chuvosos. Consideraram-se eventos sazonais extremos aqueles classificados em muito secos e muito chuvosos, visto que representam quinze por cento dos menores e dos maiores valores da série histórica, respectivamente. Quadro 1- Estações Meteorológicas localizadas na bacia Rio do Peixe. Estação Meteorológica (município) Caçador Órgão Responsável Período de dados Coordenadas Geográficas ANA 1947 - 1960 26°46’ 0” S e 51°00’ 00” W CIRAM ANA ANA ANA ANA ANA CIRAM 1960 - 2009 1947 - 2009 1947 - 2009 1976 - 2009 1947 - 2009 1947 - 1970 1970 - 2009 26°46’32”S e 51° 00’ 50”W 27°20’31”S e 51°36’29”W 27°10’18”S e 51°30’01”W 26°46’32”S e 51°15’46”W 26°54’24”S e 51°24’34”W 27°00’00”S e 51°09’00”W 27°01’27”S e 51°08’56”W Altitude (m) 960 Capinzal Joaçaba Macieira Salto Veloso Videira 447 522 878 820 774 Fonte: ANA e CIRAM. Elaborado por: SPINELLI (2012). A relação entre as chuvas sazonais e a atuação do ENOS e da ODP foi verificada através de gráficos e por análise de variância (ANOVA). Quando a técnica 7484 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO da ANOVA identificou diferença entre a média dos grupos analisados utilizou-se o teste de Tukey HSD (Honestly Significantly Different) para apontar quais dos grupos averiguados são diferentes entre si. 4 – Variabilidade sazonal da precipitação na Bacia Rio do Peixe Diante da metodologia utilizada constatou-se que o inverno é a estação do ano menos chuvosa da Bacia Rio do Peixe, com uma média de 347 mm de chuva. Nessa estação do ano é comum ocorrer à passagem sucessiva de massas de ar polar que quando se instalam sobre o território catarinense favorecem o tempo estável com ausência ou pouca ocorrência de nuvem, além do acentuado declínio das temperaturas (MONTEIRO, 2011). O resultado da ANOVA para a variabilidade da chuva do inverno durante as fases da ODP demonstrou que estatisticamente não há diferença entre as médias das precipitações nas distintas fases desse fenômeno climático. No entanto, evidenciou-se que durante a fase fria da ODP, de 1947 a 1976, ocorreram mais invernos muito secos, com precipitação inferior a 219,8 mm. Visto que ao todo foram registrados onze anos com invernos muito secos e sete deles ocorreram na referida fase da ODP. Além disso, os invernos muito chuvosos que superaram 487 mm de chuva ocorreram em nove anos, sendo que em sua maioria (seis) ocorreu durante a fase quente da ODP (1977 a 1998). Estes fatos podem indicar que durante a fase fria da ODP há uma tendência em ocorrer mais invernos “secos” em contrapartida durante a fase quente pode ocorrer mais invernos “chuvosos” na bacia do Rio do Peixe. A aplicação da ANOVA para os dados de chuva do inverno sob atuação de El Niño, La Niña ou sem ocorrência do ENOS, confirmou que estatisticamente não há diferença na precipitação. Entretanto é importante mencionar que 55,5 % dos invernos muito chuvosos ocorreram em períodos de El Niño. Na estação do outono é frequente a ocorrência de bloqueios atmosféricos, assim ela é marcada por uma estabilidade atmosférica. Essa diminuição da precipitação ocorre em todas as regiões do estado catarinense, tornando-se característica desta estação (MONTEIRO, 2011). O outono é a segunda estação do 7485 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ano menos chuvosa na Bacia do rio do Peixe, sendo que os outonos classificados em normais, pela técnica dos quantis, registraram entre 288 a 368 mm de chuva. Aplicou-se a ANOVA para os dados de chuva dos outonos com atuação e sem a atuação do ENOS. A técnica aplicada demonstrou que estatisticamente não há diferença entre as médias de chuva em outonos sobre atuação de El Niño, La Niña ou de neutralidade. Já o resultado da ANOVA para a variabilidade da chuva nos outonos entre as fases da ODP, demonstrou que existe diferença estatística. Posteriormente aplicouse o teste de Tukey, e como resultado obteve-se que há diferença entre as chuvas que ocorreram entre a primeira fase fria da ODP (1946-1976) e a fase quente (19771998). O último período (1999 a 2009), ainda em desenvolvimento, não teve diferença estatística na variabilidade da chuva em relação às fases anteriores da ODP. No período 2001-2006 as estiagens identificadas por Sacco (2010) ocorreram em anos de El Niño fraco e neutralidade e com índices de ODP predominantemente positivos (JISAO, 2015). Observou-se que dez anos tiveram outonos muito chuvosos, com precipitação acima de 480 mm, e que sete deles ocorreram durante a fase quente da ODP (1977 a 1998). Desta forma, a ODP em sua fase quente pode favorecer a ocorrência de um maior número de outonos muito chuvoso. A primavera é a estação do ano mais chuvosa na bacia Rio do Peixe, sendo que aquelas que foram classificadas em normais pela técnica dos quantis apresentaram entre 403,8 a 518,8 mm de chuva acumulados. Durante essa estação do ano é comum ocorrer instabilidades em Santa Catarina, ocasionada, principalmente, pela formação dos Complexos Convectivos de Mesoescalas (CCM), com possibilidade de chuvas intensas e de granizo (MONTEIRO, 2001). Aplicou-se a ANOVA para os dados de chuva das primaveras com atuação e sem a atuação do ENOS, obtendo-se como resultado p = 0,04; ou seja, há diferença estatística. O resultado do teste de Tukey mostrou que a diferença de precipitação ocorreu entre os anos de La Niña e El Niño. Esses resultados concordaram com os resultados obtidos pela pesquisa de Grimm (2009), pois a autora demonstra que a estação da primavera é mais favorável ao impacto do ENOS sobre as chuvas no Sul do Brasil. 7486 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Ressalta-se que após 1950, período em que há dados mensais disponíveis sobre o evento do ENOS, ocorreram 87,5% das primaveras muito secas em meses sobre atuação da La Niña, sendo que nenhuma das restantes ocorreu em meses de El Niño. Em relação à influência da ODP sobre a variabilidade da chuva entre as primaveras, o resultado da ANOVA foi de p=0,003, o que indica que há estatisticamente diferença entre as médias da precipitação entre as fases da ODP. O teste de tukey demonstrou que a diferença entre as médias ocorreu entre a primeira fase fria da ODP (1946-1976) e essa atual (1999 a 2009). Identificou-se que nesses últimos onze anos do período estudado, ocorreram primaveras mais chuvosas em relação ao período da primeira fase fria da ODP. O que pode significar que outros fenômenos estejam atuando para favorecer esse quadro mais chuvoso. Ocorreram dez primaveras muito secas no período estudado, elas tiveram precipitação menor que 314 mm. Delas, nove ocorreram durante a fase fria da ODP, sendo que desde 1986 a 2009 não houve mais primaveras muito secas. Já as primaveras muito chuvosas, com precipitação acima de 600 mm, ocorreram uma vez na primeira fase fria da ODP, três vezes na fase quente e cinco vezes na fase atual (1999 a 2009). Demonstra-se novamente, que até 1986 houve um período com primaveras mais secas, e, posterior a data as primaveras em sua maioria apresentaram-se mais chuvosas. Durante o verão é comum ocorrer em Santa Catarina à formação de convecção tropical, devido à intensidade de calor associada aos altos índices de umidade. Desta maneira formam-se nuvens do tipo cumulonimbus que causam precipitação (MONTEIRO, 2001). Na bacia Rio do Peixe os verões foram classificados em normais quando a precipitação ocorreu entre 397 a 490m. Os extremos sazonais ocorreram quando a chuva ultrapassou 567 mm, ou foi menor que 321 mm, de modo que foram classificados em muito chuvoso e muito seco, respectivamente. Foi à segunda estação do ano que apresentou os maiores volumes de chuvas. O resultado da ANOVA para os dados de chuva dos verões com atuação e sem a atuação do ENOS foi de p = 0,7, assim não houve diferença estatística entre a precipitação em anos com La Niña, El Niño ou neutro. Quanto a ODP, o resultado 7487 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO da ANOVA indicou que há diferença estatística entre as médias de precipitação. O teste de Tukey mostrou que a diferença entre a precipitação está entre a primeira fase fria e a segunda quente (1977-1998). Nessa estação do ano não houve relação entre verões muito secos e as fases da ODP, no entanto, observou-se que os verões secos tiveram maior concentração na primeira fase fria da ODP, quando ocorreram onze dos doze verões classificados em secos. Já durante a fase quente da ODP (1977 a 1998) ocorreu a maior concentração dos verões muito chuvosos, pois dos dez identificados, oito deles ocorreram na fase referida. Diante desses resultados, percebe-se que durante a primeira fase da ODP houve um período menos chuvosos com maiores concentrações de invernos, primavera e outonos muito secos, e verões secos. Já durante a última fase quente ocorreram mais períodos muito chuvosos. Na fase atual da ODP, a precipitação na bacia do Rio do Peixe não tem se demonstrado semelhante à fase fria anterior. Estes resultados corroboram com os encontrados por Rebello (2005), Cera, Ferraz e Bender (2009), Streck et al (2009), Prestes et al (2010) e Marques (2010) que pesquisaram em diferentes área na região Sul e todos verificaram a influência da primeira fase fria da ODP em anomalias negativas da precipitação (menos chuva), e a influência da fase quente em anomalias positivas (mais chuvoso). 5 – Considerações finais Na Bacia Rio do Peixe, as chuvas durante o ano registram maiores totais na primavera e menores no inverno. Percebeu-se mais acentuadamente a relação do ENOS na precipitação da primavera, pois os totais registrados de chuvas foram maiores nas primaveras de La Niña. Verificou-se que 87% das primaveras muito chuvosas ocorreram em meses de La Niña e nenhuma em meses de El Niño. Estatisticamente houve diferença entre a média da precipitação durante as distintas fases da ODP, na primavera, verão e outono. A primeira fase fria da ODP (1947 a 1976) foi marcada por primaveras, verões e outonos menos chuvosos. Sendo que, nessa fase, ocorreu maior concentração de outonos classificados em muito secos e primaveras muito secas. 7488 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A fase quente da ODP (1977 a 1998) influenciou em um período mais chuvoso na Bacia Rio do Peixe principalmente durante os outonos e verões que foram classificados em muito chuvosos. No entanto, a fase atual da ODP, não demonstrou até o ano de 2009, muita influência na diminuição das chuvas na Bacia Rio do Peixe. Contrariamente a primavera tem se demonstrado mais chuvosas desde 1986, não sendo mais registradas primaveras muito secas. Conclui-se que a ODP e o ENOS podem favorecer sazonalmente a variabilidade da precipitação na Bacia Rio do Peixe, no entanto, não são os únicos fenômenos atmosféricos que interferem na precipitação. Outros fenômenos de variabilidade de baixa frequência podem influência como as Temperaturas da Superfície do Mar do Oceano Atlântico, a Oscilação Antártica, além de outros sistemas atmosféricos. 6 - Referências bibliográficas: CERA, J. C.; FERRAZ, S. E. T.; BENDER, F. D. Influência da Oscilação Decadal do Pacífico e as mudanças no regime de chuva do Rio Grande do Sul. Revista Ciência e natureza Ed. Especial – Micrometeorologia (2009). Disponível em: < <http://cascavel.ufsm.br/revista_ccne/ojs/index.php/cienciaenatura/article/viewFile/41 0/321>. Acesso em: 04 jun. 2010. Climate Prediction Center (CPC). Cold & Warm Episods by Season. Disponível em: http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ensoyears.sht ml. Acessos em: junho, 2015. GRIMM, A. M. Variabilidade interanual do clima no Brasil. In: CAVALCANTI, I.F.A. FERREIRA, N. J.; SILVA, M. G. A. J.; DIAS, M. A. F. da (org.)Tempo e Clima no Brasil. São Paulo: Oficina de texto, 2009, p.353 -374. GONÇALVES, E. F. ; MOLLERI, G. S. F.; OLIVEIRA, C. A. F. de; MURARA, P.G. Estiagem. HERRMANN, M. L. de. P. (org.). In: Atlas de desastres naturais do estado de Santa Catarina: período de 1980 a 2010. 2 ° edição atualizada e revisada. Florianópolis, SC: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Cadernos Geográfico, 2014. HERRMANN, M. L. de P. ; KOBIYAMA, M.; MARCELINO, E. V. Inundação Gradual. In: Atlas de desastres naturais do estado de Santa Catarina: período de 1980 a 2010. 2 ° edição atualizada e revisada. Florianópolis, SC: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Cadernos Geográfico, 2014. 7489 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO KAYANO, M. T; ANDREOLLI, R. V. Variabilidade Decenal a Multidecenal. In: CAVALCANTI, I.F.A. FERREIRA, N. J.; SILVA, M. G. A. J.; DIAS, M. A. F. da (org.). Tempo e Clima no Brasil. São Paulo: Oficina de texto, 2009, p.169-180. ______________________________. Relations of South American summer rainfall interannual variations with the Pacific Decadal Oscillation. International journal of climatology. 2007. Disponível em: < http://mtcm15.sid.inpe.br/col/cptec.inpe.br/walmeida/2004/11.23.15.19/doc/Kayano_relations.p df >. Acesso em: 04 jun 2010. KAYANO, M. T.; OLIVEIRA, C. P. Diferenças associadas à oscilação decenal do Pacífico nas relações interanuais de precipitação na América do Sul e temperatura da superfície do mar. Jornadas científicas de la asociación meteorológica espanola, ecuentro hispano-luso de meteorologia, e congreso latinoamericano e ibérico de meteorologia. Zaragoza, Espanha. 2008. Disponível em: <http://www.ame-web.org/JORNADAS/1D_Kayano.pdf >. Acesso em: 07 jun. 2010. LINDNER, E. A. Estudos de eventos hidrológicos extremos na bacia do rio do Peixe-SC com aplicação de índice de umidade desenvolvida a partir do tank model. 2007. 215 f. Tese (doutorado) – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. MANTUA, N.J.; HARE, S.R.; ZHANG Y.; WALLACE, J.M.; FRANCIS R.C: A Pacific interdecadal climate oscillation with impacts on salmon production. Bull. Amer. Meteor. Soc. v. 78, p. 1069-1079, 1997. MARENGO, A. J. Mudanças Climáticas: detecção e cenários futuros para o Brasil até o final do século XXI. In: CAVALCANTI, I.F.A. FERREIRA, N. J.; SILVA, M. G. A. J.; DIAS, M. A. F. da (org.).Tempo e Clima no Brasil. São Paulo: Oficina de texto, 2009, p.407-424. MENDONÇA,F.; DANI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Texto, 2007. MINUZZI, R. B. Chuvas em Santa Catarina durante eventos de El Niño oscilação sul. Revista Geosul, v. 25, n.50. Florianopolis: editora da UFSC, jul./dez. 2010, p. 107127. MOLION, L. C. B. Aquecimento Global, El Nino, Manchas Solares, Vulcões e Oscilação Decadal do Pacifico. Revista Climanálise, ano 2, número 1, 2004 a 2005. Disponível em: < http://www6.cptec.inpe.br/revclima/revista/ >. Acessado em: 08 jun 2008. _______________. Tendências do clima nas próximas duas décadas. In: V SEMANA DO MEIO AMBIENTE, 3 a 5 de junho de 2008, Recife. Anais... Disponivel 7490 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO em: < http://www.fundaj.gov.br/geral/VSMA/VSMA2008_2311.pdf >. Acesso em: 22 abr. 2010. MONTEIRO, M. A. Caracterização climática do estado de Santa Catarina: uma abordagem dos principais sistemas atmosféricos que atuam durante o ano. In: GEOSUL. Revista do Departamento de Geociências da UFSC, Florianópolis, editora da UFSC, n. 31, v.16, p. 69-78, 2001. REBELLO, E. R. G.. As Oscilações Decadais do Pacífico e suas possíveis influências no estado do Rio Grande do Sul. Anais... XIV CBMET, 2006, Florianópolis – SC, CBMET, 2006. SPINELLI, K. Variabilidade pluviométrica na bacia Rio do Peixe – Santa Catarina. 2012.126f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Departamento de Geociências, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. STRECK N. A et al. Associação da variabilidade da precipitação pluvial em Santa Maria com a Oscilação Decadal do Pacífico. Revista pesquisa agropecuária brasileira, Brasília, v.44, n.12, p.1553-1561, dez. 2009. XAVIER,T.M.B. ; XAVIER, A.F.S. Caracterização de períodos secos ou excessivamente chuvosos no estado do Ceará através da técnica dos quantis: 1964 – 1998. Revista Brasileira de Meteorologia, v 14, n.2, 63-78, 1999. 7491