Lívio Abramo, 5 Corpo e movimento participam da arte

Propaganda
22 —
REPORTAGEM
DOMINGO, 21 DE NOVEMBRO DE 1976
CORREIO DO POVO
Hélio Eichbauer
Corpo e movimento participam da arte
Francisco Bittencourt
mmm:
T rab alh an d o com água no Espaço Lúdico
RIO — A Escola de Artes
Visuais (EAV), com sede num
palacete que pertenceu à can­
to ra de ópera Besanzoni Lage,
n o centro de um dos parques
m ais belos do Rio, foi durante
m uitos anos um a entidade
m orta, eem qualquer ligação
com o movimento de renova­
ção das artes plásticas por que
passava a cidade. H á um ano,
porém, com a fusão e a total
m udança adm inistrativa, foi
nom eado p a ra a direção da
EAV o a rtista Rubens Gerchm an, com um a obra reconheci­
dam ente experim ental e con­
tem porânea.
G erohm an iniciou im ediata­
m ente o difícil trabalho de re­
estruturação da escala, guia­
do pelos conceitos mais mo­
dernos de ensino d a arte, subs­
tituindo inclusive a maior p a r­
te do corpo docente. Com isso
sofreu enorm e pressão das p a r­
tes contrariadas, que foram até
aos jornais p ara externar suas
queixas e destilar o ácido ra n ­
cor típico das m entalidades
acadêmicas. Por algum tmpo
tudo foi motivo de escândalo
e de notinhas venenosas n a
im prensa: d a m udança de pro­
fessores e da instituiçãa de
eursos interligados e livres ao
simples fato do novo diretor
te r instalado seu escritório n a
an tig a sala de banho de m ár­
m ores da sra. Besanzoni Lage.
A nova EAV passou algum
tem po organizando seus currí­
culos e traçando os planos de­
finitivos de funcionamento. E n­
tre os novos professores con­
tratad o s estava Hélio Eich­
bauer, considerado como um
dos principais cenógrafos b ra ­
sileiros. com formação européia
e 12 prêmios nacionais, entre
eles dois Moliere, um a m edalha
de ouro .da X Bienal de São
Paulo, prêm ios da Associação
de Críticos de Arte e da Asssociação de Críticos de Teatro
(São P au lo ), além de um a m e­
d a lh a de ouro internacional,
conseguida n a H Q uadrienal
de P raga de A rquitetura Tea­
tra l e Cenografia, de 1971.
Após exatam ente um ano de
trabalho n a EAV, Hélio Eich­
bauer está m ostrando ali um a
retrospectiva de toda a sua
ohra, de 1963 a 1976, que in ti­
tulou de Espaço Lúdico. Na
enorm e sala de ja n ta r d a m an ­
são do Parque Lage, Hélio es­
tá exibindo, não só todas as
maquetes dos 33 espaços cêni­
cos que produziu nesse perío­
do como tam bém m ontagens
com criticas e reportagens, fo­
tografias e painéis desses 13
anos de trabalho, inclusive da
sua experiência didática no
Museu de A rte M oderna (Rio).,
no T eatro Ateneo de Caracas,
n a Escola de Belas A rtes da
Universidade Federal do Rio
de Janeiro, n a Escola de Tea­
tro M artins P enne e n a EAVA OFICINA DO CORPO
Hélio o rien ta um a aula de corpo e m ovim ento
BIENAL
NACIONAL
A prim eira vista, a exposição
é totalm ente caótica, falta-lh e
a ordem cronológica a que o
freqüentador desse tipo de evento está acostumado. Do teto
altíssimo pendem panôs "sel­
vagens” , de cores quentes e
tropicais. As maquetes dos ce­
nários estão distribuídas por
cim a dos paimiéis e estes apre­
sentam farto m aterial fotográ­
fico e de leitura., O espectador
perde-se no “labirinto” form a­
do pela disposição assimétrica
dos painéis. Aos poucos, porém,
começamos a conhecer os ca­
m inhos e a participar da ex­
posição, estranham ente ilumi­
n a d a por algumas dezenas de
velas (além de iluminação elé­
tric a norm al). £ que, seguindo
sua idéia básica de participa­
ção coletiva p ara se criar a r­
te, Hélio Eichbauer tran sfo r­
mou su a m ostra num a oficina
do corpo, onde o espectador
tam bém colabora com sua
presença.
grupo são os term os chave p a­
ra se compreender o projeto
global de Hélio Eichbauer que,
no momento atual dá mais ên­
fase à p arte didática e aos
exercícios com alunos, oom a
cenografia colocada em segun­
do plano. Os “ jogos rituais”,
como o a rtista os chiamá, são
aiullas e conferências ilustra­
das desenvolvidas dentro do
currículo aberto d a Oficina
Pluritíímensdonai d a EAV, com
a participação m édia de 60 alumoe, duas vezes por semana.
Hélio é um homem que não
gosta m uito de falar sobre seu
trabalho, principalm ente dian­
te de um gravador. Aos pou­
cos, porém, vai perdendo a
Inibição. Foi ele quem inaugu­
rou a EAV com um curso de
férias. Sua prim eira conferên­
cia versou sobre Appia e o es­
paço musical, a passagem, a
v irad a d a cenografia. A segun­
d a teve por tem a Gordon.
Greig e o atotzracicnismo geo­
métrico. No primeiro semestre
d e e seus alunos f izeram ain­
d a trabalhos sobre Maiakowski, Meyerhold e a Biomecânica, Paul Klee e a Bauhiaius. a gora preparam um a aula de
tea tro n a lin h a de Mondrian.
Todo o curso é feito com ilus­
trações de corpo e movimen­
to, acom panhadas de proje­
ções de slides. “O que estou
ten tan d o fazer, diz Hélio Eichbaiuer, é um a análise tias ar­
tes do século XX, um a hite
gração des artes cênicas e vi­
suais. Estou passando em re­
vista o que existe de integra­
ção nos movimentos de reno­
vação do nosso séoulò” .
ção, diz ele, está relacionado
cam “O Rei d a V ela” . “ Uso o
fogo e todos os outras elemen­
tos, como agentes sensibilizadores. -Na conferência sobre
Appía, reco n i ao uso de lan ­
ternas para m ostrar a passa­
gem no teatro d a vela p a ra a
luz elétrica” .
De fato, nesses jogos rituais
que são as aulas do cenógrafo,
surgem vários tipos de objetos
que, como “adereços cênicos”,
podem parecer m uito estra­
nhos. Os bastões, por exemplo,
que os alunos usam em vária»
situações, representam a linha
vertical, a Arvore d a Vida. Ou­
tro elemento que Já foi usado,
a água, causou um pequeno es­
cândalo dentro da liberal EAV.
X>e repente, um grupo de alu­
nos, de balde em punho, cor­
tou p ara a beira da piscina e
começou a se Jogar água, num a
liberação dionisíaca. "É a isso
que eu chamo de jogos rituais,
ou de iniciação, que deram origetm ao teatro e à arte, dia
Hélio. São trabalhòs coletivos,
que eu proponho m as não en­
saio” .
A noite as audições são pú­
blicas, como no caso da aula
6obre Commed'ia dell’Arte e
Bumiba-meu-boi, quando foi fei­
to um roteiro, oom um a parte
ensaiada e a outra improvisa­
da, exatam ente como se fazia
h a Commedia. ' Dessas aulas
participam pessoas de todos os
níveis sociais e
intelectuais,
sem lim ite de idade. Não h á
qualquer distinção de classe e
iapenas a vontade de criar a l­
gum a coisa e a capacidade de
ace rta r é que vai dando maior
ou m enor destaque aos alunos.
Talvez sej<a por isso que Hélio
Eichbauer já esteja sendo cha­
mado de guru entre a Juventu­
de que acorre ao Parque Lage. Hélio, naturalm ente, não
aceita o papel de guru. Mas a
EAV está abrindo novos hori­
zontes no Rio ?
— Acredito qpe, com m uita
dificuldade — responde Hélio
— O meu trabalho, p a ra dar
um exemplo, é bastante am ea­
çado, parque de certa form a
eu mudei a imagem das pes­
soas.
D°s planos consta um a im ­
provisação com a peça miusioal
“ Jeu x ”, de Debussy, e outra
'fe ita pelos alunos, eoitare Isa­
dora Duncan, p a ra com em orar
a passagem h á 60 a n o s d a bai­
larina pelo Rio. Héllio pretende
tam b ém . fazer um filme semi, .(^ooqmcatorio to b ie a charge
e o teatro de revista dos anos
30 que vai sé cham ar “Zé Pelintira”.
As aulas são realizadas pe­
la m an h ã e à noite, às ttoçaa
e quartas-feiras. Q proife;vor
propõe um te m a /e os alunos apresentiam o m aterial. “No ca­
so de Mondrian', por exemplo,
dois ou três alunos apresenta- *
ra m o m aterial. Elu então fa ­
lo do espaço, faço um a série de *
exercícios que m ostram o cor­
po em movimento e a compre­
ensão do espaço pelo corpo, «J
movimento espontâneo do cor­
po den tro do espaço. Cada no-'
va aula é um a proposta e u-«*
m a realização que se integra
den tro de um plano geral de
tra b a lh o .”
O USO DO FOGO
Por que o fogo está quase
sempre presente nos tra b a ­
lhos desse a rtista? N a exposi­
Lívio
A CARREIRA
Tendo estudado cenografia e
arquitetura cênica sob a ori­
entação de Josef Svofooda. di­
retor técnico da ó p e ra
de
Praga, de 1963 a 1966, e rea­
lizado inúm eras viagens de es­
tudo, freqüentando o B erliner
Ensemble, Hélio Eichbauer se
notabilizou no B rasil por cria­
ções que hoje são
históricas
como a cenografia e os figu­
rinos de “O Rei da V ela” , de
Oswald de Andrade. Em bora
essa peça tenha deslanchado
todo o movimento tropdcaàista,
com sua estética sendo muito
copiada e até o m om ento atu al
inspirando ouitxos espetáculos,
Hélio acha que fez coisas mais
im portantes, como o espaço
cênico p a ra “ Album de F a­
m ília”, de Nelson Rodrigues,
com direção dé M artim G on­
çalves, p ara o teatro Ateneo
de Carecas.
O a rtista fqla de sua profis­
são de cenógrafo e íigurinista
como se fosse um a coisa do
passado. Pergunto-lhe o mo­
tivo.
— Não me afastei d a ceno­
grafia porque continuo tra b a ­
lhando com o espaço, ocupado
coletivamente pelos alunos. De
fato, acredito que agora não
me lim itaria m ais a fazer so­
m ente cenografia. Muitos dos
espaços criados por m im não
foram entendidos pelos direto­
res e atores. T rata-se de um a
fa lta de compreensão do que é
estar no interior do espaço
cúbido. P a ra conseguir essa
compreensão era preciso um a
cultura. E é esse toque, esse ti­
po de informação que eu posso
desenvolver, como estou fazen­
do agora com m eus alunos.
Então, a participação num es­
petáculo apenas como cenógra­
fo não m e interessa mais, so­
bretudo no tipo de teatro que
se faz atualm ente.
— Q uer dizer que houve um a regressão no teatro brasi­
leiro?
— Acho que sim. Não um a
regressão de texto, m as de n í­
vel estético e de sentido plás­
tico do espetáculo. H á bons
cenógrafos trabalhando: Flávio
Império, Flaskman, apesar de
este últim o estar produzindo
demais, aceitando coisas que
não devia. Porque aceitar coi­
sas demais significa tam bém
aceitar outras coisas. A gente
tem que reagir a um a série
de propestas que são feitas.
Fui convidado este ano p ara
fazer m uitas coisas e não acei­
tei, porque acho que estou fa ­
zendo algo m uito im portante,
coletivamente e em harm onia.
Isso é que é teatro, p a ra on­
de vai o teatro, o teatro e as
artes plásticas.
— Você diria então que no
teatro comercial o cenógrafo
faz o cenário e vai embora?
— £ quase sem pre assim- Às
vezes um espæo é criado e um
a to r não tem ctrvdições de ocupá-lo, apesar de estar tr a ­
balhando com professores de
expressão corporal (que é um a
palavra m uito g a s ta ). Acho
que os\ atores, ou o grupo qu e
está trabalhando num a peça, é
que deveriam c riar seu espaço,
porque ele depende em grande
p arte do ator em movimento,
d a proposta que ele tem a fa­
zer, do seu ritm o. É m uito a r ­
bitrário neste m om ento você
c n a r um espaço e impô-lo a
um grupo p a ra ele m anifestar
suas idéias. E é m uito difícil
no teatro profissional você tr a ­
b alhar em grupo, está tudo
m uito separado, eompartfimentado.
— Aqui no B rasil ou em ge­
ral?
— Em geral. Quem está fa ­
zendo um tipo de trabalho com
o qual a m inha pesquisa da
EAV tem afinidades é o Bob
Wilson. No Parque Lage eu
trabalho com tem as universais,
m as não estou desligado d a
nossa cultura e da nossa reali­
dade. Se trabalharm os sobre
um autor grego, por exemplo,
é porque ele apresenta um a si­
tuação que tem sem elhanças
com o m undo atual.
— E o teatro político lhe in­
teressa?
— Claro que interessa. Uma
das conferências que progra­
mei este ano foi dedicada ao
estudo de B recht e do teatro
épico. Não pretendo fazer n a ­
d a que seja apenas esteticista
e intocado pela realidade. No
fim do ano darei um a grande
aula sobre danças dram áticas
brasileiras. Trabalham os sem­
pre com música clássica, pop e
brasileira, discutimos m uito e
criamos um a coisa viva, com
m uito movimento e m uita m í­
mica.
— cenários e figurinos — T ea­
tro São Pédro — s ã a Pauto —
1972
Don Casmurro — Machado
de A ssis/Cavalganti Borges —
cenários direção Ziembinski —
T eatro Nacional de Comédia —
Rio de Janeiro, 1971.
I Fagliacci — R. Leoncaval­
lo (ópera) — direção: Celso
Nunes — cenários e figurinos
— T eatro M unicipal de São
Paulo — 1972.
II Segreto Dl Suzanna —
E olf-Ferrari (ópera) — dire­
ção: Ceio Nunes — cenários e
figurinos — T etaro Municipal
de São Paulo — 1972II Matrimônio Segreto — D.
Cimaroea (ópera) — direção:
Celso Numes — cenários e fi­
gurinos — T eatro Municipal de
São Pauto — 1972.
A Viagem — Camões/Carlos
Queiroz Telles — direção: Cel­
so Numes — espaço cênico e fi­
TRABALHOS REALIZADOS
gurino — T eatro R uth Scobar
POR HÉLIO EICHBAUER
— 9ão Pauto — 1972.
Les Forains — ballet de
Frei Caneca — Carlos Quei­
H enri Sauguet — cenários e
roz Telles — direção: F er­
figurinos — Conservatório N a­
nando Peixoto — cenários e
cional de P raga — 1966.
figurinos — T eatro São Pedro
Troianas — de Eurídides/
— São Paulo, 1972.
Barbe cenários e figurinos —
Hoje é Dia de Rock — José
direção de Paulo Afonso G riVicente — direção: Emílio Dl
soli. T eatro Gláucio G ill — Rio
Biasi — espaço cênico e figu­
dé Janeiro — 1966.
rinos — T eatro Treze de Maio
* O Rei da Vela — Oswald de
— São Paulo — 1973.
Andrade — cenários e figuri­
Raimunda, R a i m u n d a —
nos — direção: Jcsé Celso Cor­
Francisco Pereira da Silva —
rêa M artinez — T eatro Ofici­
direção: Pauto Afonso Grisoln a — São Pauto — 1967.
li — cenários e figurinos —
O Verão — R am an W ein- T eatro Gláucio Gill — Rio do
garten — direção: M artin Gon­ Janeiro. 1973.
çalves — T eatro Princeze Isa­
Ensaio Selvagem — José
bel — Rio de Janeiro, 1967 — Vicente — direção: José Vicen­
cenário e figurinos.
te e Hélio Eaohibamer — ambiSalomé — Oscar Wilde — entação, figurinos e direção —
direção: M artim Gonçalves — Café Concerto — São Paulo
Museu de Arte Moderna — es­
1973.
paço cênico e figurinos — Rio
Calabar — Chico Bu arque de
de Janeiro. 1868.
H olanda e R ui G uerra — dire­
Album de Fam ília — Nelson
ção: Fernando Peixoto — ce­
Rodrigues — direção: M artim
nários — T eatro João Caetano
Gonçalves — T eatro Ateneo de
— Rio de Janeiro, 1973.
Caracas, Venezuela — cenári­
Tempo e Contratempo —
os e figurinos, 1968.
Show de Chico Buarque de
Virgínia — ópera de José
Holanda — direção: R ui G uer­
Angel Montero — direção: Ho­
ra — espaço cênico — Teatro
rário Petersan — cenário e fi­
Casa G rande — Rio de Janei­
gurines — T earto M unicipal de
ro. 1974.
Caracas. Venezuela — 1968.
O Colecionador — J. Fowles
A Noite dos Assassinos — Jo­
/D . P arker — direção: Fer­
sé T riana — direção: M artim
Gonçalves — cenários e figuri­ nando Torres — cenários: Tea­
tro Moison de France — Rio
nos — Teatro Ipanem a, Rio de
de Janeiro. 1974.
Janeiro — 1969.
A Torre em Concurso — JoaLa Celestim a — Fern ado de
<jim Manoel de Macedo — di­
R ojas — dlireção: M artim Gonreção: P ernado Peixoto — ce­
çalw es — cenários e figurinos
nários ,— T eato GJámtcio Gill
— Rio de Janeiro — 1969.
— Rio de Janeiro — 1974.
Antígona — Sófocles — dire­
Um Homem é Um Homem —
ção: —oão das Neves — cená­
Bertold Brecht — direção: Jo ­
rios e figurinos — T eatro Opi­
ão das Neves — espaço cênico
nião — Rio de Janeiro — 1969
O Balcão — Jean G enet — e figurino — T eatro do In sti­
tu to Goethe — Salvador — B a­
direção: M artim Gonçalves —
hia. 1974.
cenários e figurinos — Teatro
Ensaio Selvagem — José Vi­
João C aetano — Rio de Janei­
cente — direção: Rubens Cor­
ro, 1970.
re a — cenários e figurinos —
Senhorlta Julia — A. Strind­
T eatro Ipanem a — R io de Ja ­
berg — direção: M artim G on­
neiro — 1974.
çalves — cenários e figurinos
Rock M orror Show — Mu­
— T eatro das Artes — Rio de
sical de Richard O’Brien —
Janeiro — 1971.
direção: Rubens Corrêa — ce­
O China — M urray Sohisqall
nários e figurinos — T eatro
— direção: M artim Gonçalves
da P raia — Rio de Janeiro,
— cenário — T eatro das Arte»
1975
— Rio de Janeiro — 1971.
Titus Andronicos — ShakesVivendo em Cima da Arvore
pear — direção: L/uís Antônio
— P eter Ustinov — direção:
Martinez Correa — cenários e
Ziemibinski — cenários e figu­
figurinos — Teatro Ipanem a —
rinos — T eatro Nacional de
Rio de Janeiro — 1975.
Comédia — Rio de Janeiro, 71.
A M andragora — MaquiaEsses Intrépidos Rapazes e
vel — direção: Paulo José —
Sua M aravilhosa Sem ana de
cenários e figurinos Teatro Ca­
1922 — Caries Queiroz Telles
sa G rande — 1975.
— direção: F ernando Peixoto
Abramo,
5
Antônio H ohlfeldt
D entre as várias m anifesta­
ções que m arcam a realização,
atualm ente, em São Paulo, de
m ais um a Bienal Nacional, no
Ibinapuera, estão os dois g ran ­
des espaços dedicados às ho­
menagens a Antônio B andeira
e Lívio Abramo. Por escassez
de m aterial ou por não te r o
artista, efetivam ente, dado um a contribuição tão significa­
tiva, a sala de B andeira se
to m a bastante
acanhada e
pouco representativa, quando o
visitante passa pelos cinco am ­
bientes ocupados pela produ­
ção de Lívio Abramo, paulis­
ta de A raraquara, nascido em
1903, jornalista, gravador e de­
senhista, que muitos conhece
ram através de trabalhos pu­
blicados no então “ Suplemen­
to L iterário do Estado de São
P auto” .
CINCO SALAS
O rganizada por fases, *, obra
de Lívio Abramo apresentada
n a Bienal nos traz um artis­
ta de corpo inteiro e ainda
nos revela m uito daquilo que
era, sobretudo, anotação de fu ­
tu ro trabalho, m as que traduz
a impulsão fundam ental p ara
a expressão através do traço.
Neste sentido, cham am a aten­
ção sobretudo os desenhos, fei­
tos em guardananos de papel,
com caneta, em Veneza, repre­
sentando vários canais e algu­
m as silhuetas da cidade. Lívio,
exímio gravador desde os p ri­
meiros tempos, apresenta tam ­
bém um a série significativa de
peças pai.saristicas, em que
m ais se sugere do que re a l­
m ente se representa. Em tr a ­
ços rápidos, nervosos, ponto e
linha, a paisagem tênue se
constrói a nossos olhos, se afirm a, s« define.
Na gravura, como no dese­
nho, Lívio Abramo tam bém so­
freu a» mfluências dos perío­
dos atravessados. H á a obra
cubista, aquela que tra i a in ­
fluência de Di Cavalcanti, a
presença de Tarsila. m as há,
sempre, tam bém a individuali­
dade do artista, que se afirm a
gradativam ente, ao passar dos
anos.
Lívio é filho de im igrantes
italianos, tendo-se dedicado inicialm ente à arquitetura e de­
pois abandonado o curso. Au­
todidata em arte, tornou-se
jornalista profissional, atuando
no Rio de Janeiro e em São
Paulo. Sua experiência de vi­
d a foi a m ais variada possí­
vel, sendo diretor de um a usina de beneficiam ento de &1rodão, um a serraria, m otorista
de caminhão, pintor de tabule­
ta s e de anúncios, cenários tea­
trais, desenhista de publicida­
de, red ato r de telegram as in­
ternacionais no jornal “Diário
da N oite", de São Paulo, e di­
plom ata no Paraguai, tendo
integrado ainda as redação de
“O Jo rn a l” e “ A T ribuna da
Im p ren sa” , no Rio de Janeiro.
Um dos fundadores do Sindi­
cato des Jornalistas Profissio­
nais de São Pauto e um de
seus presidentes, sua presença
artística se inicia em 1935, ao
lado de Goeldi. renovando e
reform ulando conceitos da gra­
vura brasileira.
Inicialm ente vinculado à li­
n h a expressionists, «rua arte,
segundo o “ Dicionário B rasi­
leiro de A rtistas Plásticos” , o r­
ganizado por Carlos Cavalcan­
t i , “por meto de técnica sum a­
m ente depurada e de rigorosa
pureza form al” , define-se em
estilo próprio, que e v d u i até
as séries de gravuras sobre
o Rio de Janeiro e “ F esta ” .
Centralizado n a figura hum a­
n a. nos prim eiros momentos,
dedica-se à configuração do
real e do mágido, a p a rtir da
série "M acum ba” , de 1948 a
1961. Sua criatividade leva-o
a trab alh ar fundam entalm ente
corn grandes blocos de linhas
paralelas, m antendo-se muito
m ais ligado ao desenho do que
à gravura, pela própria opção
do traço, p raticam ente impos­
sível a esta técnica.
RETROSPECTIVA
N a II Bienal Internacional
de São Paulo, em 1953, ele re ­
cebeu o prêmio de melhor gra­
vador brasileiro.
N esta sua retrospectiva, fo­
ram reunidos 544 trabalhos, apresentadós em dezenas de plaquetas em grosso papelão re­
cortado, coberto por celofane.
Em m uitas das peças, a ação
do tempo, sobretudo dievido à
m ã qualidade dos papéis em ­
pregados, mercê da ocasião em
que os esboços foram realiza­
dos, se faz sentir. A impor­
tância, da
exposição se deve,
sobretudo, à raridade com que
o a rtista se apresenta com obras em público, dizendo-se
bissexto e sensível a interrup­
ções de criatividade. Lançador,
praticam ente,
d a xilogravura
em São Paulo, d a retrospectiva
agora realizada destacam-se,
sem dúvida alguma, os vários
desenhos dedicados aos cava­
los, em que parece ser o artis­
ta um verdadeiro mestre.
Frederico Morais, em sua p á­
g ina in teira de “O Globo” de­
dicada à exposição, diz que por
si só este acontecimento justi­
fica u m a visita ao Ibirapuera,
com o que concordamos intedmente.
£, efetivamente, o
grande momento desta Bienal,
e nos cinco ambientes a ele
dedicados o visitante deverá
gastar algum as horas, sobretu­
do porque, trabalhos pequenos
em dimensões, exigem uma a proximação e um contato cal­
mo de algumas horas. Duas
vezes viísitei esta exposição, e
em cada um a a obra de Lívio
vai se entregando com tra n ­
F esta", série de 1953, xilogravura
gravura, descoberta a que che­
gou usando um pedaço de ma­
deira e um a navalha velha.
“D a experiência
— segundo
contou sergio Milliet em velha
I crônica — nasceu um a paixão,
50 ANOS
a paixão de sua vida”.
I
Dois anos se passaram até
Lívio Abramo está comple­
que conseguisse alguns instru­
mentos apropriados, tentando
tando este ano meio século de
a seguir, com mais influência
atividade artística.
Foi nos
idos de 26 que se iniciou n a
sobro o então Jovem artista,
qüila sabedoria aos olhos do apreciadar, revelando-nos com
cuidado um domínio perfeito
do artesão e a sensibilidade do
artista.
que entrou n a intim idade dos
processos expression-istas.
Daí, com a presença do tem ­
po, foi amadurecendo o espíri­
to, libertando-se de influên­
cias recebidas enquanto ia abrindo um caminho seu, intei­
ram ente próprio, nunca se con­
tentando com os resultados a l­
cançados.
Talvez possa ser definido Lí­
vio arte e homem, num a fra ­
Um dos m ais belos con ju n to s de cavalos d esenhados por
Lívio A bram o
se curta ainda de Sérgio Mil­
liet:
“Ease grande e puro artista
dá-nos um exemplo, de que
conheço poucos, de extraordi­
n ária linha artística. M ostranos como se pode ser de sua
época sem se apegar a teorias,
ser original, pessoal e hum ano
ao mesmo tempo, comunicar um a mensagem
permanecendo
fiel à verdade estética”.
S érie "M acum ba", d e 1974, tin ta aguada
Download