A superfície terrestre passa por constantes modificações

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RELEVOS CÁRSTICOS EM ROCHAS NÃO CALCÁRIAS: UMA REVISÃO
DE CONCEITOS
Vinícius Duarte Guareschi1
Andréa Valli Nummer2
Introdução
A superfície terrestre passa por constantes modificações que se desenrolam desde
sua formação, fruto de sua dinâmica interna, ou processos endógenos, somado aos fatores
externos que constituem os processos exógenos. Como argumenta Florenzano (2008), a
superfície da Terra não é plana nem uniforme em toda a sua extensão, caracterizando­se
por elevações e depressões de diferentes formas que constituem o relevo, sendo este
resultado da interação da litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera.
Neste sentido, o estudo do relevo é imprescindível para a análise geográfica, já que
atua como fator condicionante para inúmeros outros elementos de uma paisagem como
vegetação e hidrografia, bem como fator determinante para diversas atividades econômicas
ligadas a exploração de recursos naturais podendo caracterizar geograficamente um
espaço.
Um tipo de relevo que merece destaque devido a sua gênese e evolução diz respeito
aos relevos cársticos. Estas formas de relevo foram inicialmente identificadas em rochas
calcárias e são resultados de processos geoquímicos de dissolução. Contudo, é importante
destacar que rochas não calcárias também apresentam processos de dissolução e os
resultados assemelham­se as formas originadas no carste de rochas calcárias. Assim, para
indicar formas cársticas em outras rochas que não as carbonáticas, é muito comum o uso
da partícula “pseudo” dando origem a nomes como pseudo­dolina, pseudo­uvala, etc.
Conforme Kohler (2005) a Geomorfologia Cárstica abrange o estudo da forma, gênese
e dinâmica dos relevos elaborados sobre rochas solúveis pela água, tais como as
carbonáticas e os evaporitos, e mesmo rochas menos solúveis, como os quartzitos,
granitos, basaltos, entre outras.
Neste contexto, o presente trabalho faz uma reflexão acerca da evolução do conceito
de relevos cársticos, bem como expõem algumas nomenclaturas usadas para denominar
estas feições em diferentes litologias, além de trazer exemplos de publicações e
questionamentos sobre a origem e evolução destas formas.
1
2
Mestrando em Geografia ­ Universidade Federal de Santa Maria
Prof.ª Dr.ª Depto. de Geociências ­ Universidade Federal de Santa Maria
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Relevos cársticos em rochas não calcárias: uma revisão de conceitos
Morfologia Cárstica
Segundo Carvalho Júnior (2008) o termo "Karst" é oriundo da região do Carso (em
esloveno, Kars), localizada no sudoeste da Eslovênia até o noroeste da Itália, formada de
rochas carbonáticas. Na Língua Portuguesa Brasileira, o termo inicialmente usado para
designar os fenômenos decorrentes da ação da água nos calcários é "Carse",
posteriormente substituído por "Carste" (CABRAL, 2004).
Carste, na sua essência, sempre foi considerado uma forma de relevo específico de
rochas calcárias onde o principal agente modelador é a água, através do processo de
dissolução do carbonato de cálcio componente dessas rochas, na qual os resultados
morfológicos deste fato recebem várias denominações, em virtude das diferentes formas
presentes nas superfícies com substrato calcário, relacionadas, possivelmente, ao estágio
em que se encontra o processo de dissolução da rocha, ou seja, lapiáz, dolinas, uvalas,
poljés, canhões, cavernas e outras (FLORENZANO, 2008).
Para Carvalho Júnior (2008), dois critérios são importantes para se definir a presença
de um relevo cárstico, sendo o primeiro o transporte de massa, no qual a dissolução é o
processo mais importante, e a morfologia, caracterizada por formas de relevo típicas dos
processos de dissolução.
Formas Cársticas mais comuns
Lapiás
É a feição característica que marca o desenvolvimento inicial do carste. Refere­se ao
conjunto de todas as microformas que entalham a superfície das rochas solúveis. Os
campos de lapiás são comuns em todo o carste (BIGARELLA et al., 1994).
Correspondem às caneluras ou sulcos superficiais nas rochas calcárias, podendo
estar recobertas por uma camada de solo (“terra rossa”) ou aflorar a céu aberto. Quando
apresentam uma camada de “terra rossa”, supõe­se que o ataque se efetuou através da
ação dos ácidos húmicos, ao longo do escoamento sobre a rocha recoberta de solo. São
formas potenciais que surgem como verdadeiros lapiás após a remoção da cobertura
edáfica. No segundo caso, quando afloram a céu aberto, o fator responsável é o
escoamento das águas pluviais.
As vertentes do relevo sofrem um processo evolutivo muito especifico. A atividade da
água segue as fissuras, diáclases ou planos de estratificação, imprimindo uma ação
química preponderante na rocha calcária, e eventualmente mecânica, corroendo­as e
erodindo­as. Os planos de menor resistência da rocha são escavados e originam relevos
Vinícius Duarte Guareschi; Andréa Valli Nummer
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íngrimes de cristas agudas. As dimensões das caneluras e das cristas podem variar de
alguns milímetros a mais de 10 metros, sendo as formas mais comuns em torno do
decímetro ao metro. As diferenças de forma e de dimensões são explicadas pela
resistência da rocha aos processos intempéricos e aos mecanismos de dissolução.
Dolinas
O vocábulo dolina, é de origem servo­croata sendo usado para se referir a
depressões fechadas com contornos circulares ou ovais, com bordo geralmente
apresentando declividades acentuadas e afloramento de rocha, e o fundo pode estar
recoberto por uma camada de argila (terra rossa). Sua origem está associada à dissolução
de rochas calcárias pela percolação de água contendo CO2 e ácidos húmicos em solução.
As dolinas também podem ter origem a partir do colapso (desabamento) do teto de
cavernas. No primeiro caso, são mais ou menos circulares ou ovaladas e no segundo,
forma depressões mais ou menos afuniladas. De acordo com Christofoletti (1980), as
dolinas podem ser consideradas como a forma fundamental do relevo cárstico, e são de
tamanho e morfologia variável. Em relação ao tamanho, variam de um a mais de 1000
metros de largura, e de poucos centímetros a mais de 300 metros de profundidade.
Uvala
O termo uvala é de origem eslava, sendo usado para designar uma depressão
alongada provavelmente pela coalescência de duas ou mais dolinas. Quando a evolução da
dolina ocorre em superfície mais rapidamente que em profundidade, origina uma depressão
mais ampla com contornos sinuosos, de forma elipsoidal quando formada pela conjunção de
duas dolinas. De acordo com Bigarella et al. (1994) a formação da uvala aumenta
consideravelmente a capacidade absorvente de água na região calcária. A presença da uvala
implica num certo grau de evolução do carste mais avançado do que a dolina em si.
A figura I mostra uma feição tipo uvala que se forma a partir da coalescência de duas ou
mais dolinas.
Figura I ­ Representação de Dolinas e Uvalas.
Fonte: Bigarella (1994).
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Relevos cársticos em rochas não calcárias: uma revisão de conceitos
Poljé
Nos idiomas eslavos significa campo ou área cultivada. Na literatura geomorfológica
internacional é utilizado para designar uma planície cárstica ou uma grande depressão
resultante da dissolução de extensas áreas com rochas calcárias. Os poljés tem sua
origem ligada a fatores estruturais da rocha, como falhas, fraturas, horizontalidade de
camadas, entre outros, assim como o processo de corrosão.
O fundo do peljé apresenta­se como uma bacia nivelada, preenchida com aluviões ou
coberta de “terra rossa”. Devido a esses fatores os poljés são áreas muito férteis sendo
preferidos para a agricultura como para o estabelecimento de núcleos urbanos.
Na planície de poljés podem ser encontradas dolinas e sumidouros por onde escoam
as águas pluviais e os eventuais córregos que drenam a área. Quando o fluxo das águas
excede a capacidade de escoamento do sumidouro, os poljés sofrem inundações
temporárias, originando lagos cársticos efêmeros (BIGARELLA et al., 1994).
A figura II mostra o esquema de um poljé, no qual se observa um rebaixamento da
superfície do terreno causado pela dissolução de parte da rocha.
Figura II- Representação esquemática de um poljé.
Fonte: Bigarella (1994).
Canhões
São vales de paredes abruptas, isto é, vales encaixados, os quais adquirem
características mais típicas quando cortam estruturas sedimentares que pouco se afastam
da horizontal. Forma­se uma série de degraus ou patamares ao longo do corredor
escavado pela erosão.
Os canhões são vales em garganta, assemelhando­se a grandes desfiladeiros, onde
a diferença entre a linha do talvegue e o topo do planalto pode variar de algumas dezenas
até centenas de metros. Conforme afirma Bigarella et al. (1994) alguns canhões foram
antigos rios subterrâneos que pelo desmoronamento da abóbada das galerias
transformaram­se numa corrente subaérea.
Vinícius Duarte Guareschi; Andréa Valli Nummer
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Cavernas
Constitui uma feição endocársticas, pois diferente das formas descritas anteriormente,
as cavernas desenvolvem­se em subsuperfície, podendo atingir vários metros de
profundidade. São muito comuns em áreas cársticas e resultam da percolação da água
através de fraturas e fendas nas rochas. Quanto maior o teor de gás carbônico presente na
água, maior será o poder de dissolução. O movimento da água no interior da rocha calcária
é controlado por linhas de falhas e fraturas, sendo justamente nas paredes destes
lineamentos que a corrosão tem início.
No interior da caverna é possível distinguir duas zonas de acordo com a
movimentação da água. Uma em que a água circula livremente, denominada de zona
vadosa, e outra na qual todos os interstícios, ou fissuras estão preenchidos, denominada de
zona freática. Nessa zona a água a água circula sob pressão hidrostática.
Pseudo­Carste
A definição do termo “carste” não se restringe apenas a formas de relevo em rochas
carbonáticas, pois rochas de natureza diferentes como sedimentares detríticas e vulcânicas
também podem apresentar processos e evolução morfológica semelhantes à das rochas
calcárias.
Assim, para indicar feições tipicamente cársticas em ambientes que não se
enquadravam ao carste propriamente dito, principalmente em termos litológicos que diferem
do calcário, acrescenta­se a partícula gramatical “pseudo” aos termos que definem as
formas cársticas na sua originalidade. A literatura científica passou a trazer nas publicações
termos como “pseudo­carste”, “pseudo­dolinas”, “pseudo­uvalas”, “tipo carste” entre outros,
para designar formas tipicamente cársticas, presentes em regiões de litologias não calcárias
(CABRAL, 2004).
O termo pseudo­carste é usado então para definir relevos tipo cárstico presentes em
rochas não carbonáticas, com origem associada a fatores como o derretimento de gelo em
geleiras, dissolução em rochas levando a formação de dutos subterrâneos que, ao entrar
em colapso, podem formar depressões superficiais; drenagem subterrânea em rochas
areníticas que provocam a dissolução dos silicatos relacionada ao processo natural de
alteração das rochas; e processos de colapsividade dos solos em sedimentos recentes,
entre outros (CABRAL, 2004).
Dentre as feições cársticas em rochas não carbonáticas um tipo muito comum são as
dolinas, depressões fechadas com contornos circulares ou ovais, com afloramento de
rochas e diâmetro superior a profundidade.
Em rochas vulcânicas o aparecimento de dolinas fica favorecido quando o substrato
rochoso se apresenta na horizontal, sem tectônica dobrável, mas com muitas fraturas e
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Relevos cársticos em rochas não calcárias: uma revisão de conceitos
descontinuidades do tipo disjunções verticais e horizontais. São as fraturas que conferem
uma permeabilidade ao maciço e podem armazenar água, funcionando como aqüífero
fraturado.
Outra possibilidade de infiltração e armazenamento de água ocorre na zona de contato
entre derrames, onde é comum ocorrer rocha vesicular alterada, brechas vulcânicas,
vitrófiros, e disjunções horizontais.
A Figura III mostra, em seguida, uma feição cártica tipo uvala formada pela
coalescência de três dolinas.
Figura III ­ Feição cártica tipo Uvala, formada pela coalescência de três dolinas, no Planalto
Vulcânico do Rio Grande do Sul.
A ocorrência de dolinas em rochas vulcânicas pode estar associadas à decomposição
do vitrófiro, entre os quais um de seus componentes são os feldspatos, um dos primeiros
minerais a sofrer alteração na presença da água. Assim, os derrames que apresentam em
sua morfologia uma camada superior constituída de vitrófiro no topo, tendem a se
intemperizar mais facilmente devido o contato com as águas meteóricas, causando a
desagregação estrutural da rocha e promovendo um colapso do solo logo acima, originando
uma feição tipo dolina caracterizada por uma microdepressão arredondada no terreno.
Feições cársticas em rochas não carbonáticas
Muitos autores ao estudarem as feições cársticas em rochas não carbonáticas
acrescentam o termo “pseudo” antes do nome das feições. Entretanto, outros nomeiam as
formas baseados na nomenclatura cárstica, mas destacam rocha em que tais feições
ocorrem.
Vinícius Duarte Guareschi; Andréa Valli Nummer
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É possível o desenvolvimento de feições cársticas em rochas como arenitos,
basaltos, granitos entre outras, desde que o intemperismo químico condicione o
surgimento da morfologia. Hardt et al (2009), destacam dois motivos pelo qual durante
muito tempo formas “cársticas” em rochas solúveis foram denominadas pseudo­carste.
O primeiro, é de origem histórica, posto que o carste foi inicialmente estudado em
carbonatos, então adotou­se, na definição, que "carste é um relevo que ocorre no calcário".
Assim, quando as mesmas formas de relevo eram encontradas em outras rochas,
simplesmente designava­se tais formas a categoria de não cársticas, sem qualquer estudo
feito sobre sua gênese, porque se acreditava que tais formas teriam outra origem que não
a dissolução.
O segundo motivo, um pouco mais complexo, é com relação aos processos. Uma
forma de relevo está associada a determinado processo ou processos formadores. Como o
processo de formação do relevo cárstico estava ligado à dissolução do calcário, se a rocha
não contém carbonatos, então não seria carste, pois não haveria dissolução destes. O
problema é que a dissolução pode ocorrer em outras rochas, com reações químicas
diferentes.
Neste sentido, pode­se considerar “carste” baseado nas formas originadas e nos
processos geoquímicos envolvidos e não apenas nas evidências litológicas. Dessa forma,
podemos identificar duas linhas de raciocínio com relação à classificação de um relevo no
âmbito da nomenclatura cárstica. Um está baseado no tipo de rocha, e o outro leva em
consideração os processos de dissolução e as formas originárias. O primeiro restringe
enormemente a inclusão de qualquer forma de relevo, permitindo somente aqueles
esculpidos apenas em rochas calcárias, enquanto que o segundo abre a possibilidade para
a inclusão de uma vasta gama de feições entalhadas nas mais variadas litologias, desde
que as formas se assemelhem as que ocorrem nas rochas calcárias e o processo de
dissolução seja o mecanismo responsável.
Hardt et al (2009), apresentam dois exemplos de carste no território brasileiro, um na
Chapada dos Guimarães (Estado do Mato Grosso) e outro na Serra do Itaqueri (Estado de
São Paulo) ambas as áreas inserem­se em arenitos. Nas duas áreas destacam­se os
processos de dissolução do arenito em subsuperficíe originando diversas cavernas. Na
Chapada dos Guimarães, os autores atribuem o forte controle estrutural no substrato
rochoso como importante fator para a percolação da água promovendo a dissolução do
arenito.
Foram identificadas diversas formas de dissolução nas superfícies rochosas,
associadas ao relevo cárstico, como as ruiniformes e os arcos, bem como morrotes
residuais e depressões fechadas, além das próprias cavernas. Neste sentido, os autores
admitiram que a área apresenta um comportamento sistêmico, passando a ser vista como
um sistema cárstico.
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Relevos cársticos em rochas não calcárias: uma revisão de conceitos
Na Serra do Itaqueri, o contexto geológico apresenta cavernas inseridas no Arenito
Botucatu, quase sempre associadas a afloramentos de basaltos em posição altimétrica
superior as cavidades. A hipótese para a formação de cavernas neste local é baseada na
presença de basaltos, o que permitiu num passado mais úmido a ocorrência de aqüíferos
com água contendo PH alto (básico) extremamente favorável à dissolução da sílica. Com o
rebaixamento do nível freático, as águas abandonaram as cavidades, que perderam
sustentação, gerando grandes abatimentos da porção superior. Uma terceira fase da
evolução ocorre atualmente, com os condutos estabilizados, porém sofrendo dissolução da
na parte superior da cavidade devido à infiltração das águas superficiais.
Em outra porção da Serra foram identificadas dolinas largas e rasas com turfeiras no
interior. Esta feição está associada possivelmente à dissolução das rochas devido à presença
de matéria orgânica na água.
Nota­se a preferência dos autores pelo uso do pelo uso dos termos referentes às
feições cársticas sem a utilização do termo “pseudo” mesmo em uma área onde
predominam arenitos.
Uagoda; Avelar; Coelho Netto (2006), descrevem a ocorrência de depressões fechadas
em quartzitos na Bacia do Ribeirão Santana, vale do Rio Paraíba, entre os Estados de Minas
Gerais e Rio de Janeiro. Os autores relatam a ocorrência de feições exocársticas, como
torres e dolinas em divisores, feições endocársticas, como dutos e cavernas, e feições
epicárstica, depósitos que preenchem os outros dois tipos de feições.
Em uma área de 20 Km2 foram identificadas 41 depressões fechadas, situadas nos
divisores de águas e nas encostas das colinas convexo­retilíneas especialmente nos topos
altimétricos. Observa­se a preocupação dos autores em concentrar esforços no
entendimento dos processos geomorfológicos associados às formas, bem como estas
inserem­se e evoluem nas encostas no contexto da bacia de drenagem.
Estudando os processos erosivos na Bacia Hidrográfica do Arroio Sarandi no Rio
Grande de Sul, Ávila; Nummer; Pinheiro (2010), atribuem os focos de erosão as feições
cársticas associadas a fraturas de direção preferencialmente nordeste. Os autores
destacam a ocorrência depressões do tipo dolinas e uvalas, feições típicas de relevos
cársticos, na microbacia, porém, como a área não é formada por terrenos calcários,
optaram por chamar tais depressões de pseudo­dolinas e pseudo­uvalas.
A geologia local corresponde a arenitos finos a conglomeráticos com estratificações
cruzadas acanaladas e planares de pequeno a médio porte. Neste sentido, o surgimento
das pseudo­dolinas é atribuído à presença de rochas estratificadas com diferenciação
textural sendo estas um condicionante geológico favorável à ocorrência de piping, uma vez
que o fluxo de água tende a se concentrar em uma determinada camada na qual se
originam aberturas em forma de tubos, que podem vir a sofrer colapsos e originar as
cavidades na superfície.
Vinícius Duarte Guareschi; Andréa Valli Nummer
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Ao apresentarem uma voçoroca de grandes proporções que ocorre na bacia, os
autores atribuem o avanço do processo erosivo na porção côncava da vertente a
concentração de linhas de fluxo subterrânea originando dutos internos e como
conseqüência, as pseudo­dolinas e pseudo­uvalas, já os fluxos superficiais seriam
responsáveis por aprofundar a incisão erosiva. Observa­se a importância dada aos
processos cársticos, pois da forma descrita podemos inferir que tratam­se de dolinas de
abatimento, e que estas feições tem em grande parte forte contribuição para o
desenvolvimento e evolução dos processos erosivos na bacia hidrográfica.
Também na Depressão Central do Rio Grande do Sul (CABRAL et al., 2004)
detectaram a presença de pequenas depressões nos topos de colinas e divisores de água,
as quais chamaram de pseudo­dolinas por não se localizarem diretamente sobre rochas
calcárias. É atribuída uma relação direta destas formas com os processos de
voçorocamentos nas cabeceiras de drenagem. Anteriormente, Maciel Filho; Cabral; Spinelli
(1993a) relacionaram estas formas a processos de dissolução de carbonato de cálcio, óxido
de ferro (cimento) e da própria sílica, componentes significativos das estruturas
sedimentares na Depressão Periférica.
Neste sentido, Cabral et al (2004), afirma que alguns autores consideram que as
depressões interfluviais e as próprias voçorocas podem fazer parte do conjunto de formas
semelhantes às que ocorrem em rochas calcárias. No entanto, por estarem inseridas em
estruturas, rochosas não calcárias, comumente recebem denominações diferenciadas da
nomenclatura do sistema de relevo cárstico.
Os autores concluem afirmando que levando em consideração a nomenclatura cártica,
as depressões interfluviais corresponderiam as pseudo­dolinas que, dependendo do
material de origem, pluviosidade e uso e ocupação do solo podem evoluir para voçorocas
em cabeceiras de drenagem. As depressões interfluviais estão ligadas à ocorrência de
voçorocas devido à presença de drenagem subterrânea e a considerável ação química da
água em diferentes estruturas permeáveis.
Gontan (2002) também constata que na Depressão Periférica do Rio Grande do Sul,
as depressões úmidas circulares ocorrem nas partes planas que constituem os divisores de
águas das colinas. A autora demonstra preferência pela utilização do termo pseudo­dolina
pelo motivo das feições não estarem assentadas sobre rochas calcárias.
Também são mencionadas depressões abertas, na qual a circularidade rompe devido
sua localização em certa declividade, tomando forma alongada. A água extravasa, formando
um pequeno canal hidrográfico, originando um curso fluvial de 1º ordem. Devido ao solo
arenoso, estas formas evoluem transformando­se em grandes voçorocas (GONTAN, 2002).
Em rochas vulcânicas são mais escassos os estudos que procuram compreender a
origem e evolução de feições cársticas. No Rio Grande do Sul, no Planalto Meridional,
constituído por rochas vulcânicas básicas e ácidas Maciel Filho; Cabral; Spinelli (1993b)
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Relevos cársticos em rochas não calcárias: uma revisão de conceitos
identificaram a presença de feições de relevo do tipo dolinas na sob condições tectônicas
especiais como falhas, fraturas e descontinuidades. No Município de são Martinho da Serra,
o autor atribuiu estas feições ao intemperismo químico do vitrófiros.
Gontan (2002) afirma que o Planalto Meridional apresenta vários aspectos típicos de
terrenos cársticos, sejam as pequenas depressões circulares fechadas (dolinas), lagoas
naturais, afloramentos de rochas irregulares (lapiáz) e os pântanos que podem se
assemelhar a poljés, embora com dimensões menores. A autora confere estas formas à
dissolução parcial da rocha, principalmente o vitrófiro e também o transporte de materiais
pela água. Observa­se que mesmo a área apresentando formas e processos muito
semelhantes aos que ocorrem no carste, a autora optou por tratar tais feições como
pseudo­cársticas, por não terem seu desenvolvimento em rochas carbonáticas.
Considerações Finais
O conceito de carste encontra em expansão, pois à medida que mais estudos estão
sendo realizados, novas descobertas se apresentam mostrando que os processos de
dissolução são responsáveis por uma imensa variedade de formas de relevo em diferentes
litologias, porém muito semelhante as que ocorrem em rochas calcárias.
Nota­se que o conceito vem evoluindo ao longo dos anos. A definição original de carste
restringia­se a uma variedade de formas de relevo esculpidas apenas em rochas
carbonáticas em que o processo de dissolução era o grande responsável. Toda e qualquer
feição, por mais semelhante que fosse com as do carste “original”, mas, que não fosse
formada no calcário não seria considerada carste.
Mais tarde, de forma gradual, passou­se a reconhecer que mesmo rochas que não
apresentavam calcário em sua constituição desenvolviam uma diversidade de formas bem
parecidas com a do carste em rochas carbonáticas, inferindo­se assim que os processos
atuantes seriam similares. Estes relevos foram então classificados como “pseudo­casrte”
devido à rocha não ser calcário.
Como feições cársticas são encontradas nas mais variadas litologias, desde arenitos
até rochas vulcânicas, muitos autores vem optando em manter o nome “carste” juntamente
com o nome da rocha a qual a feição está associada, assim surgem denominações como
“carste em quartzitos”, “carste e arenito”, “carste em vulcânicas” etc.
Gontan (2002) lembra que em debates no V Simpósio Brasileiro de Geografia Física
Aplicada houve consenso de que as feições resultantes de dissolução, mesmo em outra
rocha que não calcário, seriam “Carste” verdadeiro.
No entanto, ainda observamos em algumas classificações, uma grande influência dos
conceitos tradicionais sobre “carste” no qual o fator litologia exerce grande controle. Muitos
Vinícius Duarte Guareschi; Andréa Valli Nummer
197
autores estudando formas semelhantes a do carste, e considerando a possibilidade de
existência de processos geoquímicos de dissolução tanto no exterior como
subterraneamente, e uma série de implicações em decorrência de manifestações típicas
de áreas cársticas, tais feições ainda são tratadas como “pseudo­carste” por não se
desenvolverem sobre rochas carbonáticas.
Entretanto, nem tudo pode ser carste, é essencial que algumas condições sejam
estabelecidas, como a forte atuação do intemperismo químico na rocha e a existência de
formas resultantes típicas de processos geoquímicos de dissolução.
Dessa forma, concordamos com Hardt et al. (2009) quando afirmam que não se pode
aceitar mais simplesmente atribuir um termo genérico e pouco claro a uma área,
denominando­a pseudo­carste, simplesmente porque não se trata de calcário. Por outro
lado, não é porque existem formas que se assemelham ao carste em uma determinada
área que é necessariamente carste. O equilíbrio tem de ser encontrado, e a definição se
uma determinada área é ou não carste deve ser feita após estudos do relevo e processos
que atuam ou atuaram na mesma.
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Janeiro:
UFRJ,
2009.
Disponível
em
<http://www.anuario.igeo.ufrj.br/anuario_2006_2/anuario_2006_v29_2_87_100.pdf>. Acesso em: 20 de
Junho de 2010.
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