CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS MESTRADO EM CIÊNCIA AMBIENTAL CRISTINA MAGNANINI ETNOBOTÂNICA EM ITATIAIA, RIO DE JANEIRO: PLANTAS MEDICINAIS DO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA E ÁREAS DO ENTORNO. NITERÓI 2005 CRISTINA MAGNANINI ETNOBOTÂNICA EM ITATIAIA, RIO DE JANEIRO: PLANTAS MEDICINAIS DO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA E ÁREAS DO ENTORNO. Dissertação apresentada ao Mestrado da Pós- Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Ciência Ambiental. Orientador: Prof. Dr.Ivan de Oliveira Pires Co-orientador: Dr. Benjamin Gilbert Niterói 2005 M196 Magnanini, Cristina Etnobotânica em Itatiaia, Rio de Janeiro: plantas medicinais do Parque Nacional do Itatiaia e áreas do entorno/Cristina Magnanini. – Niterói : s. n., 2005. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universidade Federal Fluminense, 2005. 1. Recursos naturais – Conservação. 2. Etnobotânica. 3. Plantas medicinais. 4. Parque Nacional do Itatiaia (RJ). I. Título. CDD 333.72 CRISTINA MAGNANINI ETNOBOTÂNICA EM ITATIAIA, RIO DE JANEIRO: PLANTAS MEDICINAIS DO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA E ÁREAS DO ENTORNO. Dissertação apresentada ao Mestrado da PósGraduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Ciência Ambiental. Aprovada em 11/07/2005. Banca Examinadora ______________________________________________________ _ Prof. Dr. Ivan de Oliveira Pires – Orientador Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. Orlando Alves dos Santos Júnior Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. Jorge Pedro Pereira Carauta FEEMA /Museu Nacional - UFRJ NITERÓI 2005 DEDICATÓRIA À minha amada mãe, Ruth Lopes da Cruz Magnanini, Geógrafa, que com enorme carinho dedicou tanto de seu tempo me orientando e estimulando neste trabalho, e que agora, para saudade de todos, está junto à Deus. Ao meu pai e amigo, Alceo Magnanini, agrônomo que igualmente e de tantas formas me apoiou, incansável, até a conclusão deste trabalho. Ao meu Orientador, Ivan Pires, pela amizade e estímulos necessários para a conclusão da pesquisa e aí gostaria de incluir também os professores do PGCA. Aos meus irmãos, que juntamente com alguns amigos, me auxiliaram de tantas formas neste trabalho. E por fim, à minha querida filhinha Luisa Helena, que para nossa alegria, nasceu durante a realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS À Universidade Federal Fluminense, em especial ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental – PGCA, pela oportunidade de desenvolvimento intelectual e pelas colaborações recebidas e apoio dos professores. À CAPES e a WWF-Brasil pelo auxílio, fornecendo as condições materiais necessárias para a execução da pesquisa. À direção do Parque Nacional do Itatiaia pelo apoio logístico e possibilitando o trabalho de campo, inclusive na companhia de funcionários habilitados. Aos moradores do Parque e áreas do entorno, entrevistados neste trabalho, em especial ao Seu Zé da Silva, por terem concedido sues conhecimentos através deste trabalho. Aos mestres pesquisadores do Museu Nacional – UFRJ, do Jardim Botânico do Rio de janeiro, da FEEMA – DIVEA e da UERJ pelas colaborações recebidas. Ao LAGIEF – Laboratório de Geoprocessamento de Informações do IEF pelo auxilio na elaboração dos mapas das áreas de amostragem. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS RESUMO ABSTRACT I. INTRODUÇÃO 15 I.1. Objetivos da pesquisa 17 I.2. A Etnobotânica: Definições e conceituações 17 I.2.1. Interfaces da Etnobotânica com as outras áreas científicas 19 I.2.2. A ética na pesquisa em Etnobotânica 22 II. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 26 II.1. A Mata Atlântica e a biodiversidade 26 II.2. O Parque Nacional do Itatiaia 32 III. METODOLOGIA 39 IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO 44 IV.1. As áreas de amostragem 44 IV.2. As comunidades estudadas 50 IV.3. As entrevistas 52 IV.4. O perfil dos informantes 58 IV.4.1.A figura do Seu Zé da Silva IV.5. A transmissão do conhecimento 59 61 IV.6. As plantas citadas 64 IV.7. As doenças mais difundidas 80 IV.8. A medicina usada por eles 87 IV.9. A percepção dos recursos e a diversidade de uso das plantas 89 V. CONCLUSÕES 92 V.1. Recomendações finais 94 VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 97 LISTA DE FIGURAS Fig. 1 - Formações Vegetais da Mata Atlântica para a Região Sul, Sudeste e parte da região Nordeste. Fonte: Conservation International, 2003. 27 Fig. 2 - Carta imagem. Área total do Parque original e ampliada em 1982 45 Fig. 3 - Área de ocorrência de medicinais e visitação turística. Parte baixa do Parque. 46 Fig. 4 - Vista Mirante do Último Adeus. Parte baixa do Parque 46 Fig. 5 - Área de ocorrência de plantas medicinais. Parte alta do Parque. 46 Fig. 6 - Área de ocorrência de medicinais. Vale do Ermitão. Penedo. Entorno do Parque 47 Fig. 7 - Visto do entorno do Parque. Bairro Campo Alegre. Área de coleta. 47 Fig. 8 - Mapa de localização das áreas amostradas e pontos de coletas de planta. 49 Fig. 9 - Abrigo 14, lote 24. Residência de funcionários informantes. 51 Fig. 10 - Residentes Informantes na Serrinha do Alambari, Seu Dinarte, D. Brasilina e Orinéia. 52 Fig. 11 - O informante Seu Barbosa mostrando o sabugueiro, Sambucus nigra. 53 Fig. 12 - Informantes Seu Zé e Seu Dito.panacéia.Solanum castaneum. 54 Fig. 13 - Informante mostrando o gervão. Stachytarpheta cayennensis. 54 Fig 14 - Entrevista com a informante D. Nana, Serrinha do Alambari. 55 Fig 15 – O informante e guarda-parque José Rangel mostrando as plantas da marcelinha-amargosa, Compositae e o poejo-do-campo, Cunila galioides. 55 Fig. 16 - Entrevista com o informante Seu Sebastião Luís, em sua casa. 56 Fig. 17 – O informante guarda-parque Jorge Lima na coleta do alecrim-do-campo, Baccharis uncinella. 56 Fig. 18 – O informante guarda-parque Marcos Botelho (Marcão) coletando o cipó-chumbo, Cuscuta sp. 56 Fig. 19 - Excursão para coleta de plantas com Seu Zé da Silva. Parte baixa do Parque. 57 Fig. 20 - Remédios fabricados por Seu Zé e apresentados durante entrevista em sua casa. 60 Fig. 21 - Seu Noel da mudança, comerciante de Resende, encomendando remédio na casa do Seu Zé da Silva. 61 Fig. 22 - jaborandi. Piper mollicomum.Parte baixa do Parque 69 Fig. 23 – cipó-salsaparrilha. Smilax mucosa. Parte baixa do Parque. 69 Fig. 24 – chapéu-de-couro. Alismataceae, espontânea. Área do entorno. 70 Fig. 25 – tanchagem. Plantago tomentosa cf.Hirtella. 70 Fig .26 - Espontânea conhecida por gelol. Popygala paniculata. 71 Fig. 27 – Detalhe da inflorescência utilizada da embaúba. Cecropia cf. catarinensis. 71 Fig. 28 – Plantas de marcelinha-amargosa, Compositae e alecrim-do-campo, Bacharis uncinella. 71 Fig. 29 – Foto mostrando o alecrim, Baccharis uncinella e carqueja, Bacharis trimera. 72 Fig. 30 – Detalhe da planta orelha-de-burro, Lepechinia speciosa. Parte Alta do Parque. 72 Fig. 31 – A planta do poejo (manjerona), Cunila galioides. 73 Fig. 32 – Gráfico de freqüência de citações para cada família botânica. 73 Fig. 33 - Gráfico de freqüência de Habitat encontrados. 79 Fig. 34 - Gráfico de freqüência de Habitus encontrados. 80 Fig. 35 - Gráfico de freqüência de citações para as categorias de uso. 85 Fig. 36 – Gráfico de freqüência de citações das partes usadas. 86 Fig. 37 – Gráfico de freqüência de citações de formas de preparos. 87 LISTA DE TABELAS Tab. 1 - Botânicos que colaboraram na identificação do material coletado. 43 Tab. 2 – Nome local, nome científico e família botânica das plantas citadas. 65 Tab. 3 - Locais de coleta, Habitat e Habitus das espécies citadas. 75 Tab. 4 - Nome local, indicações, partes usadas e formas de preparo das espécies citadas. 81 RESUMO Este projeto teve como principal objetivo investigar o conhecimento sobre as espécies da flora consideradas como medicinais pela comunidade que, direta ou indiretamente, se relacionam com o Parque Nacional de Itatiaia. Este Parque Nacional constitui amostra representativa do ecossistema da floresta pluvial tropical, pela sua biodiversidade. As áreas visitadas compreenderam algumas seções no interior do Parque, parte baixa e alta, áreas adjacentes que se encontram com relativa proteção ambiental, como a APA da Serrinha do Alambari e o vale do Aiuruoca e outras com vegetação de transição que sofrem com a expansão urbana. Buscou-se estabelecer as bases metodológicas para este estudo sobre os parâmetros antropológicos, botânico-taxônomicos e geográfico-cartográficos, de conformidade com a bibliografia disponível. As informações etnobotânicas foram obtidas pela observação participante e com entrevistas semi-estruturadas. Foram entrevistados e considerados informantes, preferencialmente, as pessoas apontadas pela própria comunidade como as mais habilitadas neste tipo de saber. Todas as espécies, inclusive as exóticas indicadas por eles, foram herborizadas e posteriormente determinadas de acordo com a metodologia da Botânica atual. Foram levantadas 81 espécies utilizadas pertencentes a 37 famílias botânicas, das quais as mais importantes foram as famílias Compositae e Labiatae, com 14 e 13 espécies respectivamente, seguidas de Solanaceae (6), Piperaceae (4). Com 3 espécies foram encontradas duas famílias: Cucurbitaceae e Euphorbiaceae. Com duas espécies foram encontradas 7 famílias: Leguminosae, Myrtaceae, Plantaginaceae, Polygalaceae, Polygonaceae, Proteaceae e Smilacaceae. As demais 25 famílias estão representadas por apenas uma espécie. As indicações de uso encontradas foram para depurativo do sangue, com 28 %, reumatismo e rins, com 24 %, seguidas de contusões, dores, fígado, gripe e resfriado, com 19 %. Os resultados desta pesquisa revelaram que o conhecimento acerca da flora medicinal local está restrita a alguns poucos, com idade avançada e aposentados, que funcionam como curadores, não tendo compromisso na transmissão de conhecimento. Nas áreas do entorno, os residentes locais utilizam um sistema paralelo de saúde envolvendo a utilização de remédios caseiros elaborados a partir de plantas cultivadas ou não. Esta pesquisa contribui para a formulação de estratégias para o uso dos recursos naturais, respeitando o entendimento que os indivíduos têm do ambiente, como também para subsidiar políticas e programas de saúde públicas mais adequadas às populações rurais. Palavras-chave: Etnobotânica; Plantas Medicinais; Mata Atlântica; Cartografia; Parque Nacional do Itatiaia. ABSTRACT The main purpose of this project was to investigate the knowledge of the botanical species considered to be medicinal by the community which has a direct or indirect relationship with the Itatiaia National Park. This National Park is representative of the tropical rain forest ecosystem because of its biodiversity. The areas in question comprehended high and low sections inside the Itatiaia National Park, adjacent areas covered in some degree by an environmental protection agency APA da Serrinha do Alambari, the Aiuruoca Valley and others with transition vegetation that are affected by urban expansion. Methodology for this study was based on anthropological, botanical-taxonomic and geographic-cartographic parameters, according to available bibliography. Ethno-botanical data was obtained through participant observation and semi-structured interviews. The people named by the community as having better knowledge of these matters were interviewed and considered to be the informants. All species, including exotics, named by the informants were pressed and dried and then determinated according to common botanical methods. A total of 81 species in 37 families utilized by the community were identified, the most important being Compositae and Labiatae, with 14 and 13 species, respectively, followed by Solanaceae (6) and Piperaceae (4). Cucurbitaceae and Euphorbiaceae had 3 species each, and Leguminosae, Myrtaceae, Plantaginaceae, Polygalaceae, Polygonaceae, Proteaceae and Smilacaceae had 2 species each. The remaining 25 families were represented by only one species. Use indications were as follows: for blood purification - 28%; rheumatism and kidneys - 24 %; bruises, pain, liver, influenza and common colds - 19%. The results of this research show that knowledge of the local medicinal flora is limited to a few older, retired people, mostly playing the role of "curers", who are not committed to knowledge transfer. In the neighborhood of Itatiaia National Park, local residents rely on an alternative health system involving the utilization of domestic medicine derived from native or cultivated plants. This research contributes to strategy planning for the use of natural resources, based on respect for local residents´ knowledge of the environment, and also contributes to public health policies and programs that are better adapted to rural people. Key words: Ethno-botany, Medicinal Plants, Atlantic Forest, Cartography, Itatiaia National Park. I. INTRODUÇÃO Ao longo da História, os ambientes onde ocorrem espécies vegetais possuidoras de potencial terapêutico comprovado ou não, têm sofrido modificações de toda ordem, o que traz preocupação para os estudiosos da biodiversidade. Efetivamente, desde a época do Descobrimento do Brasil, a cobertura vegetal do País vem sendo alterada pela ação humana e, em particular na área do Estado do Rio de Janeiro onde se estima ter havido, no ano de 1500, um recobrimento florestal denso em cerca de 97% de sua área. Hoje, alguns remanescentes, encontram-se protegidos em Unidades de Conservação da Natureza, como Parques Nacionais, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas, etc. Não menos preocupante e evidente é o fato de que a diminuição em número e extensão das áreas de ocorrência das plantas potencialmente produtoras de medicamentos ocorre em conseqüência da expansão das áreas de lavoura e de criação pastoril, causa da devastação das grandes formações vegetais. Segundo MAGNANINI (1984), em menos de cinco séculos, sob alegação de ocupação, de colonização, de desenvolvimento e de progresso em nome da civilização, o homem praticamente eliminou para sempre a existência de plantas e animais que talvez pudessem ser úteis, aproveitáveis ou benéficos para ele próprio. Certamente inúmeras espécies de seres vivos que eram endêmicas foram extintas antes mesmo de serem conhecidas. De uso antiqüíssimo e corriqueiro pelos indivíduos de comunidades indígenas e de populações regionais tradicionais, tais plantas passaram a merecer a atenção dos pesquisadores dedicados à procura de novos meios de combate às novas doenças que, em graves epidemias afetam grandes parcelas da população mundial e que não têm sido eficazmente debeladas pelo emprego de drogas usuais ampla e anteriormente utilizadas. 15 Na Serra da Mantiqueira há uma grande variedade de plantas nativas que se desenvolveram nos diversos ecossistemas decorrentes das diferentes feições oferecidas pelas montanhas, originando uma farmácia de drogas e ervas medicinais específica, que vem desaparecendo com muita rapidez. Com a introdução de novas técnicas, os “métodos tradicionais” de subsistência foram sendo substituídos por outros e a cultura tradicional refluiu para bolsões cada vez menores ao longo das serras. Como salienta o Relatório Mantiqueira, é esta Serra “uma espécie de retrato vivo”, que detêm o maior testemunho dessa cultura tradicional. (MENDES, 1991) Muitos produtos naturais já foram reconhecidos, sintetizados seus elementos ativos e aproveitados pela medicina a partir daqueles usados pelas populações primitivas. No entanto, graças à exuberante biodiversidade de nosso País, muitas espécies vegetais ainda estarão certamente para serem reconhecidas e estudadas. É enorme nosso desconhecimento sobre a relação das populações que vivem nas florestas tropicais com os recursos naturais de origem vegetal, animal ou mineral. BORN (1992) chama a atenção para um rico “sistema terapêutico” baseado principalmente em plantas, sendo muitas destas nativas da floresta e desconhecidas no meio científico, existindo na relação harmoniosa dessas comunidades com a natureza. Uma das maiores dificuldades é a exata determinação dessas plantas, pois comumente uma mesma espécie pode ser conhecida por diferentes nomes populares, conforme a região ou o local considerado, como ainda um mesmo nome comum, pode corresponder localmente a espécies botânicas distintas, confusões que, no uso, podem causar danos para a saúde e mesmo intoxicações graves. I .1 - Objetivos da pesquisa O principal objetivo desta dissertação consistiu em investigar o conhecimento sob base científica, acerca das espécies da flora consideradas como sendo medicinais pelas 16 comunidades que, de forma direta ou indireta, se relacionam com uma Unidade de Conservação, como é o caso do Parque Nacional de Itatiaia. Para tanto foram estabelecidos como objetivos complementares: 1- Cadastrar as espécies nativas e exóticas utilizadas pelos informantes; 2- Compreender parte da cultura e da tradição regional representada por eles; 3- Estabelecer a distribuição geográfica dessas espécies; 4- Contribuir para o manejo adequado do Parque Nacional e áreas do entorno e 5- Divulgar os resultados obtidos. I . 2. A Etnobotânica: definições e conceituações Considera-se que HARSHBERG (1896 apud ALBUQUERQUE, 2002), em seu trabalho "The Purposes of Ethno-botany”, foi o primeiro autor a usar o termo "Etnobotânica" no “estudo das inter-relações entre os homens e as plantas" e embora não o tenha definido, apontou maneiras pelas quais ela poderia servir à investigação científica. Parafraseando a definição de POSEY (1987 apud SCHULTES, 1962) para a Etnobiologia, pode-se definir a Etnobotânica como a “disciplina que se ocupa do estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal; este estudo engloba tanto a maneira como um grupo social classifica as plantas, como os usos que dá a elas”. Ainda segundo o mesmo autor, “De acordo com CADORNA (1985), este termo é encontrado na literatura com duas conotações. A primeira delas diz respeito a “uma verdadeira botânica científica, mas recortada sobre o habitat, uso, etc. de uma etnia específica e seria realizada por alguém que, com treinamento em botânica científica, 17 procuraria correspondências biunívocas entre a classificação científica ocidental e a classificação local”. A segunda enfoca a “ciência botânica que possui uma etnia específica, e seria empregada por alguém com treinamento em antropologia cognitiva e por quem se interessasse em saber como uma dada etnia classifica o seu mundo natural. Na verdade, as duas vertentes serão mais fecundas se complementarem, o que irá significar a cooperação entre cientistas do campo das ciências naturais e das ciências humanas”. E ainda, que a “Etnobotânica aplicada ao estudo de plantas medicinais, como vem sendo praticada modernamente trabalha em estreita cumplicidade com outras disciplinas correlatas, como por exemplo, a Etnofarmacologia. Para BRUHN & HOLMSTEDT (1980), a Etnofarmacologia consiste “na exploração científica interdisciplinar de agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem”. No Brasil diversos autores desenvolveram em seus trabalhos um histórico da Etnobotânica, como BEGOSSI (1996), RODRIGUES (1998), AMOROSO (1996), salientando o quanto é antiga, secular, essa relação homem-planta e como os estudos significativos sobre esse tema só apareceram tardiamente. AMOROSO (op. cit.) fez referência à obra de Wilhem Piso e Georg Marcgraf “Historia Natural do Brasil Ilustrada”, integrantes da comitiva de Mauricio de Nassau, que organizaram um herbário de plantas medicinais, publicada em 1948 e no século 18, a de Carl Linnaeus. Na atualidade muitos estudos Etnobotânicos brasileiros estão sendo desenvolvidos a partir do enfoque comportamental e baseados na teoria da percepção. Para muitos autores é importante aceitar a informação simples de posse daqueles que usam as plantas. QUEIROZ (1986) salienta que “a medicina tradicional representa um importante papel social, na medida em que, por meio de seus elementos, põe em ação os símbolos compartilhados por toda a sociedade”. ELISABETSKY (1991) sublinha que “a pesquisa com plantas medicinais tem sido e continua a ser considerada uma abordagem frutífera para a procura de novas 18 drogas”; e que “a maior parte da flora quimicamente desconhecida e o conhecimento medicinal associado a ela existem nos países do terceiro mundo, especialmente os que ainda possuem florestas tropicais extensas, como é o caso do Brasil”. POSEY (op. cit.) em seu trabalho “Etnologia: teoria e prática”, define a Etnobiologia como "o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da Biologia". I .2.1. Interfaces da Etnobotânica com as outras áreas científicas O alcance do campo da Etnobotânica, e a complexidade do seu objeto de estudo, levam a mesma a se comportar como uma ciência multidisciplinar. O conhecimento da base teórico-metodológica da Taxonomia Vegetal, Geografia, Sociologia, Evolução Histórica, Medicina, Farmacologia, Bioquímica, Lingüística, Arqueologia, entre outras diversas ciências é de grande importância para o Etnobotânico. Este necessita definir precisamente o objetivo, a metodologia e as técnicas a serem usadas em suas pesquisas de modo a estabelecer o limite entre o seu campo de investigação e os das demais ciências que tratam igualmente das relações entre os homens e as plantas. O campo da pesquisa em Etnobotânica aproxima-se bastante ao da Botânica Econômica e ao da Geografia Humana, especialmente ao da Geografia da População, que tem entre os seus temas o estudo das pequenas localidades, os "povoados", com o emprego igualmente, tal como na pesquisa Etnobotânica, da aplicação de entrevistas livres e semi-estruturadas aos moradores. São objetivos que estabelecem, no caso, a linha limite divisória entre as pesquisas do Geógrafo de População e do Etnobotânico. Enquanto o primeiro está interessado em conhecer as "funções" dos povoados, baseado nas atividades culturais e socioeconômicas dos seus moradores, o que o Etnobotânico quer é identificar no estudo dos pequenos agrupamentos humanos quais são as relações que os seus 19 moradores guardam com a natureza, os conceitos cognitivos que desenvolvem a partir das peculiaridades dos ecossistemas que utilizam em sua medicina caseira. De grande importância assim, é a interface da Etnobotânica com a Geografia, partindo-se do principio de que todo objeto de estudo não está desvinculado do espaço, que é o objeto precípuo da Geografia. A compreensão da categoria "espaço geográfico" da área de estudo pode trazer relevantes aportes, especialmente, aos estudos Etnobotânicos cognitivos, em virtude de que é como o individuo "vê" e "pensa" o espaço vegetal de seu meio ambiente. O posterior desenvolvimento das Ciências Naturais (Biologia) e Sociais (Antropologia) levou ao incremento dos estudos em Etnobotânica e no estabelecimento de varias "Escolas" na condução desses estudos. A “Escola” que tem como escopo principal a abordagem multidisciplinar da Etnobotânica teve como pioneiro SCHULTES (op. cit.), botânico taxonômico, que estudou os indígenas da Amazônia Ocidental durante um longo período de convivência com os mesmos e detalhou os usos que fazem das plantas como medicamentos e alucinógenos. Relacionada à Etnotaxonomia, uma nova Escola foi estabelecida para os estudos Etnobotânicos nos anos setenta, liderada por BERLIN (1973). De suma importância é a relação da Etnobotânica com a Taxonomia Vegetal, pois torna-se essencial a determinação correta de cada espécie por um especialista do grupo. DALY (1998), discorre em seu trabalho sobre o valor da Taxonomia para os estudos Etnobotânicos. Coloca como imprescindíveis nesses estudos as considerações sobre o emprego de dois tipos de Taxonomia, a Cientifica e a Popular, esta última denominada pelo autor como Taxionomia Folk ou Etno-taxonomia. Segundo DALY (op. cit.), o valor da taxonomia popular reside no fato de que os nomes comuns das plantas revelam boa quantidade de noções sobre elas, como as percepções que os indivíduos têm sobre as plantas e as suas partes físicas e os usos que delas fazem e a estrutura conceitual dentro da qual as plantas são usadas. 20 Continua o mesmo autor, que na Taxonomia Cientifica, sua importância para o estudo Etnobotânico reside na vantagem de ser de uso universal pela comunidade cientifica, podendo assim as plantas coletadas em uma determinada área serem seguramente identificadas com rigorosa determinação das espécies por um especialista taxonômico, e dentro de uma classificação de âmbito mundial, o que permite comparações entre estudos Etnobotânicos que tenham privilegiado áreas diferentes. O argumento de que nos estudos Etnobotânicos faltava cientificidade, pela ausência de rigor teórico na metodologia utilizada tem sido explicitada pelos teóricos defensores de métodos quantitativos matemáticos e estatístico-matemáticos na análise e interpretação dos fenômenos estudados. O debate entre teóricos dos métodos quantitativos e qualitativos é hoje fato generalizado na discussão da metodologia adequada aos estudos das varias ciências naturais e sociais e levou ao estabelecimento de uma “nova” escola em Etnobotânica. Ainda outros estudiosos dos métodos de análise quantitativa como PRANCE (1987), que os empregou em seu estudo sobre a diversidade biológica e cultural, e a intensidade de uso dos recursos naturais por populações nativas, verificado através da utilização do índice por eles proposto, o dos "valores de uso". PHILLIPS & GENTRY, (1993 a), que estudaram conceitos de conservação da Amazônia através de métodos quantitativos aplicados à Etnobotânica e ainda, BEGOSSI (1993), que usou como método de analise os índices de biodiversidade utilizados em ecologia. Teóricos dos métodos qualitativos foram os pesquisadores POWNEY & WATTS (1997), que defenderam as analises qualitativas baseadas em entrevistas como um processo válido e extremamente criativo. Considerações foram também feitas à Etnobotânica em relação à dimensão do seu campo de pesquisa. De acordo com ALEXIADES (1996), o campo da Etnobotânica embora muitas vezes pareça limitado, é devido ao fato de que a maior parte dos estudos nessa linha de pesquisa tem sido dedicado à investigação das relações entre as plantas e os 21 indivíduos coletores-caçadores e agricultores moradores das pequenas localidades, parecendo assim restrito aos estudos de áreas reduzidas e das pequenas populações das comunidades. Atualmente, porém, está se reconhecendo como muito amplo o campo da Etnobotânica. Segundo ainda ALEXIADES (op. cit.) "na atualidade a Etnobotânica abrange o estudo de todas as sociedades humanas presentes e passadas, assim como todos os tipos de relações ecológicas, evolucionárias e simbólicas entre o homem e as plantas". I .2.2. A ética na pesquisa em Etnobotânica A validação do estudo Etnobotânico quanto à cientificidade está diretamente condicionada ao cumprimento ético do protocolo a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa. Em ALEXIADES (op. cit.) podem-se observar os vários passos desse protocolo, que incluem: a obtenção de licenças oficiais e permissão dos informantes dos dados para o desenvolvimento do estudo antes do inicio das atividades de pesquisa; a apresentação e discussão dos objetivos da pesquisa com colegas, pessoal do corpo de financiadores do projeto e informantes dos dados, fazendo parte da responsabilidade profissional do Etnobotânico; a entrega de duplicatas das exsicatas do material botânico coletado para incorporação aos herbários de determinada instituição; o estabelecimento de bons relacionamentos com elementos da família dos informantes e com outros membros da comunidade antes da seleção dos informantes; o reconhecimento dos direitos da propriedade intelectual dos informantes e compensação desses direitos de varias formas, que variam desde o pagamento dos serviços prestados pelo informante, à promessa de inclusão de seus nomes como informantes co-participantes da pesquisa no artigo ou livro a ser publicado com os resultados do estudo. 22 Todos os passos da pesquisa Etnobotânica, em que o respeito à ética profissional é indispensável, estão intimamente relacionados com o protocolo acima explicitado e são descritos por CUNNINGHAM (1996). Segundo esse autor, a aplicação das entrevistas livres, semi-estruturadas e/ou estruturadas aos informantes da pesquisa, o seu reconhecimento da contribuição desses mesmos informantes e a forma de compensação que lhes é devida por uma participação, devem ser objeto de um prévio dialogo entre o pesquisado e o informante ao inicio propriamente dito da pesquisa. Os que contribuíram com o seu rico "saber das plantas medicinais" têm o direito de se sentirem assegurados quanto à privacidade e segurança da sua propriedade intelectual. O não-cumprimento desses passos do protocolo da pesquisa Etnobotânica é grave para o Etnobotânico porque compromete seriamente o aspecto ético do seu trabalho. O pesquisador precisa estar ciente de sua responsabilidade moral e profissional com respeito aos que detêm a propriedade intelectual do conhecimento dos recursos naturais dos quais os remédios podem ser extraídos. O respeito à ética em pesquisa é para os pesquisadores um dilema em todos os níveis, indo da problemática internacional à local que diz respeito à propriedade intelectual do conhecimento dos recursos pelos informantes das pequenas comunidades humanas. Só recentemente, e em função da crise mundial da saúde e diminuição dos recursos, é que a problemática da ética em Etnobotânica vem sendo considerada e discutida pelos autores. É, entretanto, na interface entre Etnobotânica, a Farmacologia e a Genética que se tornam mais agudos os dilemas dos pesquisadores quanto à ética profissional. A procura de novos fármacos derivados de plantas, realizada nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, criou polêmica internacional pelas patentes obtidas por instituições estrangeiras sobre componentes do patrimônio florístico e faunístico pertencentes àqueles países. A farmacopéia indígena despertou o interesse estrangeiro quase que imediatamente após o descobrimento do Brasil. Houve casos em que o próprio resgate da 23 informação propiciou a sobre-exploração do recurso terapêutico, tornando-o de difícil obtenção para as comunidades locais, levando-o quase a extinção. É o exemplo da ipecacuanha (Ceplaelis ipecacuanha Rich.), planta usada pelos índios como antidisentérica, que foi exportada em enormes quantidades para a Europa desde o século XVII, tornando-se rara em nosso país. Parece que este quadro não tem mudado muito. FARNSWORTH (1988 apud ELISABETSKY, op. cit.) escreve que, de 76 compostos oriundos de plantas superiores presentes em prescrições norte-americanas, apenas 7% são comercialmente produzidos por síntese total, o que faz que o comércio de plantas continue ativo. Continua, “..não havendo a preocupação de se introduzir o seu cultivo agronômico, e colocando estas espécies sob forte pressão de exploração... Ao se comparar o preço da matéria-prima e do produto final, encontraremos uma enorme diferença”. Elisabetsky (op cit.) cita o exemplo do alcalóide pilocarpina, extraído de várias espécies brasileiras de Pilocarpus (jaborandi): as vendas estimadas de pilocarpina nos EUA, em 1989, foram de US$ 28 milhões, enquanto o preço pago no mesmo ano por 1 quilograma de folhas de Pilocarpus secas era de US$ 0,28. E ainda, “..a informação sobre usos de plantas medicinais pode ter dois destinos principais. Ela poderá servir para orientar pesquisas para: a) refinar ou otimizar os usos populares correntes, desenvolvendo preparados terapêuticos de baixo custo; e b) isolar substâncias ativas passíveis de síntese e patenteamento pela indústria farmacêutica, gerando novos medicamentos (indicados para usos tradicionais ou para outros usos). Para as populações originalmente detentoras do saber tradicional, são bastante diferentes, já que estas populações geralmente estão excluídas, por sua pobreza, do acesso a medicamentos industrializados”. Salienta que “até o presente, porém não existe notícia de reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual das comunidades detentoras do conhecimento tradicional, que propiciam a descoberta de novos fármacos”. Ainda o mesmo autora, nos chama a atenção para o fato “deste saber estar se perdendo e que é preciso resgatá-lo”. Em outro trecho, diz “é importante que nos perguntemos também sobre quem vai se beneficiar deste resgate e que impactos ele pode 24 causar sobre as comunidades que por tanto tempo mantiveram este conhecimento. Há ainda a questão da perda de acesso aos recursos naturais e à perda da biodiversidade”. A autora caracteriza que é “um dilema de difícil solução para o Etnobotânico. Este tem de considerar a sua responsabilidade com relação às comunidades que estuda e tentar encontrar uma contrapartida que beneficie estas populações. Isto só pode ser feito com o envolvimento das próprias comunidades tradicionais, bem como com a contribuição de profissionais de outras áreas, na tomada de decisões visando à gestão destes recursos. Para isso, em primeiro lugar, é preciso que as comunidades tradicionais se conscientizem da riqueza biológica e cultural que têm em mãos e do papel que esta riqueza representa na descoberta e no desenvolvimento de novos medicamentos. Em última instância, é a própria comunidade quem deverá decidir os rumos a serem tomados...”. A pesquisa de novos fármacos tem muito a ganhar com uma abordagem Etnobotânica e Etnofarmacológica. Mas se ela ganha com a informação fornecida por membros de uma determinada cultura ou etnia, cabe perguntar qual será a contrapartida a ser oferecida a estas sociedades? É possível visualizar-se uma estratégia com a qual se pode articular a pesquisa Etnobotânica. Mas é a própria comunidade quem deverá decidir os rumos a serem tomados. Releva notar que com vistas ao resguardo do aspecto ético da pesquisa, foi cuidadosamente e por diversas vezes, explicitadas ao informante que o presente estudo é exclusivamente acadêmico, devendo depois ser editado em livro no qual seu nome aparecerá como co-participante da pesquisa. Foi-lhe dito também que sua atuação contribuindo para o estudo em nada prejudicaria seu modo de vida, nem de suas atuais atividades com relação às plantas medicinais. 25 II. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO II .1. Mata Atlântica e biodiversidade Este trabalho foi desenvolvido dentro do contexto do Bioma Mata Atlântica, limitada no seu campo de estudo à região do Maciço do Itatiaia no Estado do Rio de Janeiro. Em geral, é considerado oficialmente como espaço geográfico do Bioma Mata Atlântica aquele constituído pelas áreas que são, ou já foram, recobertas com ecossistemas florestais, tais como estão no Mapa de Vegetação do Brasil, publicado pelo IBGE (1988) e utilizado por diversos autores. São elas: florestas ombrófilas densas e mistas, florestas estacionais decíduas e semidecíduas e incluindo os Ecossistemas Associados à Mata Atlântica, os como manguezais, vegetação de restingas e das ilhas oceânicas; encraves de cerrado, campos e campos de altitude (Fig.1). O Bioma da Mata Atlântica tem sido considerado existente desde o início da Era Terciária, porém as flutuações climáticas que ocorreram ao longo da Era Quaternária devem ter ocasionado movimentos de expansão e de retração espacial para a área de ocorrência do Bioma, concentricamente em torno de locais restritos que, deste modo, funcionaram como refúgios para a flora e para a fauna. Daí, a existência atual de algumas regiões dentro dos limites do Bioma da Mata Atlântica que se caracterizam pela alta diversidade biológica, e de onde evoluíram e se dispersaram numerosas espécies taxonômicas, conforme as mudanças climáticas posteriores. 26 Fig.1 - Formações Vegetais da Mata Atlântica para a Região Sul, Sudeste e parte da região Nordeste. Fonte: Conservation International, 2003. 27 Assim, o termo biodiversidade designa, coletivamente, todos os organismos vivos presentes no nosso Planeta e abrange as suas variedades na natureza. Considere-se que tais variedades podem ser observadas em níveis de espécies, de sub-espécies e de indivíduos (cujos genes do patrimônio genético podem variar individualmente), bem como podem ser estudadas a nível de ecossistemas, de hábitats, ou a nível de tempo histórico (MAGNANINI, 2005, inédito) A questão da biodiversidade é crucial para nosso País, onde numerosos estudos têm divulgado que, dentro de nossas fronteiras existam mais espécies e variedades de organismos do que em qualquer outra nação. Dentre as 10 a 30 milhões de espécies que se acredita existam hoje na terra, mais de 20% estariam representadas no Brasil. E, apesar de virtualmente todos os biomas e ecossistemas brasileiros possuírem um grande número de espécies, a alta biodiversidade está certamente associada à existência da maior extensão de florestas tropicais do mundo. Apesar de originalmente ocupar imensa extensão territorial, atualmente a Mata Atlântica está dramaticamente diminuída, fragmentada e alterada, justamente porque nas suas áreas é que se efetuou a ocupação humana pelos colonos europeus nos tempos colonial, imperial e republicanos, salientando-se as conseqüências negativas das derrubadas florestais e do abusivo processo de queimadas da vegetação, práticas estas que se verificam até os dias de hoje. Os dados publicados pelo Ministério do Meio Ambiente, através da Secretaria de Biodiversidade e Florestas, divulgam que o Estado do Rio de Janeiro, entre 1985 e 1990, perdeu 30.579 hectares de florestas e que entre 1990 e 1995, perdeu mais 140.372 hectares, ou seja, 170.951 hectares florestais em apenas 10 anos. A mesma fonte citada revela que dos 4.454.155 hectares da Mata Atlântica original no Estado do Rio de Janeiro, somente remanesciam em 1990, 947.115 hectares com florestas e apresenta um quadro no qual a Serra da Mantiqueira, onde se situa o campo de trabalho desta dissertação, figura como de prioridade extremamente alta (BRASIL, 2002). 28 Os principais remanescentes florestais estão limitados aos trechos de maior declividade das elevações da Serra do Mar, da Serra da Mantiqueira e de alguns maciços rochosos litorâneos isolados. Neles, a Mata Atlântica está constituída por matas em bom estado de restauração, porém dispersas numa franja que acompanha o relevo acidentado, e se mantêm intercaladas como pequenas manchas de remanescentes trechos florestais entre áreas de lavouras, de pastagens, de reflorestamento comercial e de ocupação urbana. Devido à redução da área total, à alta diversidade específica e ao alto grau de endemismo, o ecossistema de Mata Atlântica é considerado como um dos 25 “HOTSPOTS” mundiais, para apoiar as tarefas de proteção contra a extinção do mais alto risco de espécies (MYERS et al.1998), pois preencheu todos os requisitos que são exigidos para reconhecimento de um “HOT-SPOT” ou foco-de-tensão, cuja definição é toda área prioritária para conservação, isto é, de rica biodiversidade e ameaçada no mais alto grau, apresentando uma área com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original. De acordo com as estimativas mais recentes, tendo em conta as taxas atuais de desflorestamento, poderemos assistir ao desaparecimento de 2 a 8% das espécies vivas do nosso planeta nos próximos 25 anos. Entretanto, é do conhecimento geral que o ritmo de extinção de espécies está se acelerando cada vez mais, principalmente nas regiões tropicais do chamado Terceiro Mundo. Estudos de diagnóstico faunístico para a elaboração de Planos de Manejo (Planos Diretores), em Parques Estaduais no Rio de Janeiro, revelaram que uma das evidências mais marcantes da aceleração do ritmo de extinção é a diminuição ou desaparecimento de sapos, pererecas e rãs, explicável porque esses animais são muito sensíveis às alterações ambientais do que outras (MAGNANINI, 2005, com. verbal). Este fenômeno de diminuição de biodiversidade representa, por um lado, uma tragédia ecológica e tem, por outro lado, repercussões graves sobre o desenvolvimento econômico e social. Pelo menos 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos 29 pobres estão ligadas aos recursos biológicos. Por outro lado, quanto maior for a diversidade biológica, maiores serão as possibilidades de descobertas no domínio médico, do desenvolvimento econômico e das possibilidades de formular soluções que nos permita adaptar aos novos desafios tais como as mudanças climáticas. As Unidades de Conservação, criadas com o objetivo de proteger a diversidade biológica, tendem, ao longo do tempo, a se tornar ilhas formadas por ecossistemas naturais circundadas por áreas afetadas diretamente pelo homem. Na verdade, se questiona o próprio conceito de Unidades de Conservação como instrumento capaz de preservar indefinidamente a diversidade biológica nelas contida, uma vez que já há muito se sabe que a fragmentação e o isolamento de áreas naturais acarreta, em prazos variáveis de tempo, o empobrecimento genético nos indivíduos, podendo redundar na extinção de espécies. Os cientistas classificaram cerca de 1,7 milhão de espécies, sendo aproximadamente: 750 mil de insetos; 41 mil de vertebrados e 250 mil de plantas. O restante abrange outros invertebrados, fungos e microorganismos. No entanto, a parcela conhecida é muito pequena diante de toda a biodiversidade existente no planeta, e ainda não se sabe o seu número exato. Para alguns cientistas, pode chegar a mais de 30 milhões, sendo que metade se encontra nas florestas tropicais. Acredita-se que, no mínimo, 50% vivem em reservas naturais do Brasil, da Colômbia, da Indonésia, de Madagascar e do Zaire. Por outro lado, convém considerar também o grande potencial de substâncias químicas orgânicas com propriedades medicamentosas ou nutritivas, existentes nas espécies selvagens, que ainda não foram estudadas pelos cientistas. No Brasil, entre mais de 150 mil espécies de plantas, apenas 1% foi analisado cientificamente, embora o estudo daquelas espécies tenha contribuído para melhorar nossos conhecimentos sobre as propriedades dos vegetais e, em certos casos, até para a melhoria da qualidade de vida humana. 30 Grande parte dos produtos farmacêuticos são obtidos de extratos de plantas, fungos, bactérias e animais ou sintetizados a partir de substâncias presentes nesses organismos. A aspirina (ácido acetilsalicílico), por exemplo, foi obtida combinando-se ácido acético ao ácido salicílico, isolado da planta Spirea ulmaria. Segundo PALMBERG (1989) são os paises tropicais subdesenvolvidos, os que apresentam, atualmente, as maiores perdas de recursos fitogenéticos. Neste trabalho, o autor afirma que se o homem continuar provocando perturbações ambientais, como as evidenciadas atualmente, será preciso adotar medidas urgentes para conservar e usar, sabiamente, a diversidade genética que, uma vez perdida, será impossível recuperar. Recomenda ainda, o mesmo autor, como necessária, a conservação do germoplasma “inet ex- situ”. Já foi mencionado que o uso de plantas medicinais para fins terapêuticos está inserido em um contexto social e ecológico que vai, de muitas formas, molda-lo, de modo que muitas das peculiaridades daquele emprego não podem ser entendidas se não se levar em consideração os fatores culturais envolvidos, além das características ambientais onde ele ocorre. Uma adequada seleção de plantas para estudos farmacológicos somente poderá ser efetivada com coleta, registro e analise de usos contextualizados de plantas medicinais. À medida que a sociedade, relativamente isolada e fechada, que possui conhecimentos, vai se tornando mais e mais exposta à cultura ocidental, começa a mudança do valor atribuído ao seu saber que antes assegurava a sua sobrevivência e reprodução. Face a novos problemas e novos desafios, surge um componente de incerteza quanto à eficácia dos antigos modos de agir. Plena razão tem DI STASI (1996) quando anotou que “o curioso é que, ao mesmo tempo que isto sucede, observa-se uma tendência entre a população urbana medianamente educada, a uma supervalorização, às vezes sem qualquer embasamento cientifico, de facetas deste modo de vida mais “natural”, identificado com o destas populações. Isto é notório no uso de plantas para fins curativos”. 31 De fato, não restam dúvidas quanto ao importante papel das populações humanas locais na conservação e na utilização sustentada dos recursos biológicos. Desde que adequadamente planejada, a alternativa extrativista é hoje a melhor arma disponível contra o ingresso indiscriminado e intensivo do capital em nossas áreas de alta biodiversidade. Além disto, garante às populações tradicionais que a praticam um padrão de vida no mínimo superior àquele a que são submetidos os habitantes das favelas urbanas. É inquestionável que a problemática ambiental deva transcender o ponto puramente formal da conservação dos recursos biológicos e se endereçar também à justiça social e à melhoria da qualidade de vida do homem, sem perder o foco do respeito pela existência de qualquer outra forma de vida. II .2. O Parque Nacional do Itatiaia Foi o primeiro Parque Nacional criado no Brasil, em 14 de junho de 1937, por decreto federal n. 1713, com uma área inicial de 11.943 hectares, abrangendo a área da extinta Estação Biológica em Itatiaia, na ocasião subordinada ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Posteriormente, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, em 1982, teve alteração nos seus limites e foi ampliado para aproximadamente 30.000 hectares (BRASIL, 1982). Historicamente, as terras do Maciço do Itatiaia foram objeto de sucessivos projetos de colonização (ROCHA, 1984) e (CALDEIRA, 1995). Nas terras devolutas do ex-núcleo colonial foi instalada primeiro uma Reserva Florestal em 1914 e, depois, uma Estação Biológica em 1927, ambas subordinadas ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Nesse sentido, vale lembrar que desde o primeiro trabalho escrito sobre a Região do Itatiaia, pelo engenheiro Franklin Massena, em 1856, passando pelos inúmeros trabalhos de cientistas que o esquadrinharam até os anos 30, sempre foram destacadas suas características únicas de geologia, fauna e flora. 32 O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) constitui uma amostra representativa do ecossistema da floresta tropical. Situado como está dentro dos limites do Domínio Morfoclimático e Fitogeográfico Tropical Atlântico (AB`SABER, 1977), possui exuberante flora, que vem sendo estudada há dois séculos. Podemos encontrar ainda, a mesma categorização botânico-climática que existe dentro do PNI, em algumas áreas preservadas do seu entorno, como na Área de Proteção Ambiental da Serrinha do Alambari, no vale preservado do Aiuruoca, no vale do Campo Redondo e na Área de Proteção Ambiental de Maromba. Outras áreas, com evidentes mudanças nas suas caracterizações florística - faunística originais, continuam sob ameaça de serem consideravelmente empobrecidas em sua biodiversidade. BRADE (1956) escreveu sobre a perda da vegetação primitiva devido à “devastação das matas, de pastagens nos campos naturais e queimadas para a lavoura, construção civil e dormentes para estrada de ferro”. Hoje, as áreas ocupadas por fazendas limítrofes à área do PNI, continuam exercendo pressão sobre a preservação da biota desta Unidade, pelo pastoreio e queimadas por servirem de meio de acesso a caçadores ilegais ou coletores de plantas e há ainda a pressão causada pela expansão urbana dos municípios vizinhos. Apesar da ampliação de sua área em 1982, do crescimento do movimento ambientalista e da busca da população por lugares de lazer e descanso junto à natureza, a situação do PNI ainda é precária, faltando recursos em pessoal, em infra-estrutura e em dotação de verbas para manutenção. A questão fundiária, até o momento, não foi solucionada. Muitos são os proprietários que pagam impostos municipais, sendo atendidos pelos serviços destinados a núcleos urbanos, contrariando o próprio regulamento dos Parques Nacionais, enquanto outros pagam os impostos devidos ao governo federal, sendo consideradas as suas propriedades como rurais. 33 O PNI continua sendo um inestimável campus para numerosas pesquisas, submetidas a uma criteriosa base científica por parte de cientistas de diversas instituições nacionais e estrangeiras, inclusive para a identificação correta de espécies da fauna ou da flora ou para fornecer estudos críticos de trabalhos anteriores. A tipificação das coberturas florestais que compõem a Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro, e que se aplica parcialmente no campo de trabalho desta Tese, foi detalhada nas folhas SF 23 e 24 - Rio de Janeiro / Vitória, do Projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1983). Com base nelas, são identificados os tipos florestais do Estado, pertencentes a quatro regiões fitoecológicas, como se segue: 1 - Floresta Submontana Essa formação florestal compreende as matas que ocorrem na faixa de altitude entre os 50 e os 500 metros, no relevo montanhoso da Serra do Mar, nos contrafortes litorâneos e nas ilhas. Seus principais remanescentes constituem, quase sempre, áreas de preservação permanente, pois estão situados na escarpa frontal da Serra do Mar, com declividades geralmente muito acentuadas, ou fazem parte de algum tipo de Unidade de Conservação, como o Parque Nacional da Bocaina, a APA de Cairuçu, a APA de Tamoios, o Parque Estadual da Ilha Grande, a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, a APA de Mangaratiba, a Reserva Biológica do Tinguá, a APA de Petrópolis, o Parque Nacional da Serra dos Òrgãos, o Parque Nacional do Itatiaia, a Estação Ecológica do Paraíso, o Parque Estadual do Desengano e o Parque Estadual dos Três Picos. A composição florística é rica e variada, sendo alguns elementos bastante comuns, como o tapiá (Alchornea iricurana - Euphorbiaceae), as freqüentíssimas embaúbas (Cecropia catarinensis e C. hololeuca - Moraceae), as quaresmeiras (Tibouchina granulosa – T. mutabilis - Melastomataceae), as figueiras (Ficus spp. - Moraceae), a carrapeta (Quarea guidonia - Meliaceae), o açoita-cavalo (Luehea grandiflora - Tiliaceae), a gregária pindaíba (Xylopia brasiliensis - Annonaceae). Essas espécies, juntamente com dezenas de outras, formam um dossel contínuo, sombreando o interior das matas. Sob esse 34 dossel, que pode estar a 25-30m de altura do solo, sobressaem as copas do jacatirão (Miconia fairchildiana - Melastomataceae) e da canela-santa (Vochysia laurifolia Vochysiaceae). Um sem número de plantas forma um sub-bosque adaptado à luminosidade diminuída pelas árvores mais altas. Ocorrem também espécies como as de Piperaceae dos gêneros Piper, Potomorphe e Ottonia e sonhos-d'ouro (Psychotria nuda - Rubiaceae), Rudgea macrophylla (Rubiaceae) e inúmeras Marantaceae (Maranta, Ctenanthe, Stromanthe) e Musaceae (Heliconia). Esse sub-bosque é o habitat do palmito (Euterpe edulis - Palmae). 2 - Floresta Montana É a formação que melhor representa a floresta estacional Semidecidual no Estado do Rio de Janeiro. As áreas florestais mais significativas ocorrem entre 500 e 1500 m nos municípios de Cordeiro, Trajano de Moraes e Bom Jardim. Em Itatiaia e Resende, há áreas menores. A sapucaia (Lecythis pisonis - Lecythidaceae) é uma das espécies típicas. Os remanescentes desse tipo de mata localizam-se no rebordo dissecado da Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira (Itatiaia), em altitudes compreendidas entre os 500 e os 1500m. As partes altas de algumas das Unidades de Conservação do Estado contêm trechos da formação Montana da floresta Ombrófila densa, como no Parque Nacional da Bocaina, no Parque Nacional de Itatiaia, na Reserva Biológica do Tinguá, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, a APA de Petrópolis, na APA do Jacarandá e no Parque Estadual do Desengano e no Parque Estadual dos Três Picos. Também algumas iniciativas municipais preservam esse tipo de formação florestal, como na APA da Serrinha, em Resende, na APA de São José do Vale do Rio Preto. A flora dessa formação apresenta muitas das espécies da formação submontana. Destaca-se, entretanto, o gigante da mata atlântica, o jequitibá-rosa (Cariniana estrellensis - Lecythidaceae), que, sobressaindo do dossel contínuo das copas, pode superar os 30 m de altura. Bastante alto é, também, o ouriceiro (Sloanea sp. - Eleocarpaceae). 35 A dominância em espécies é das Lauraceae, que estão representadas por inúmeras espécies dos gêneros (Aiouea, Aniba, Cryptocarya, Endlicheria, Licaria, Nectandra, Ocotea, Persea, Phyllostemodaphne, Urbanodendron) , destacando-se, entre elas, o tapinhoã (Mezilaurus navalium). Outras espécies que fazem parte da floresta Montana são o cedro (Cedrela angustifolia - Meliaceae), o louro-pardo (Cordia trichotoma Boraginaceae), o vinhático (Plathymenia foliolosa - Leguminosae) e o guaperê (Lamanonia ternata - Cunoniaceae). No sub-bosque, aparecem a guaricanga (Geonoma sp. - Palmae) e os fetos arborescentes ou samambaias-gigantes: Trichopteris sp. (Cyatheacae) e Dicksonia sellowiana (Dicksoniaceae). O interior dessas matas, sempre sombrio, é ocupado por plantas herbáceas de pequeno porte, como Besleria spp. (Gesneriaceae), Coccocypselum spp. (Rubiaceae), Dichorisandra spp.. (Commelinaceae), Dorstenia dolichocaula (Moraceae), Pilea spp. (Urticaceae) e uma série de gêneros de Pteridophyta (Blechnum, Didymochlaena, Dryopteris, Lygodium, Marattia, Polybotria, Sellaginella). Cipós e escandentes são, também, numerosos: Bauhinia spp. (Leguminosae), Cissus spp. (Vitaceae), Davilla rugosa (Dilleniaceae), Pithecoctenium spp. (Bignoniaceae), Serjania spp. (Sapindaceae) e Smilax spp. (Smilacaceae), entre outros. Troncos e galhos das árvores são literalmente cobertos de epífitos, que vão desde liquens, hepáticas e musgos, passando por várias Pteridophyta (Hymenophyllum, Microgramma, Trichomanes); Dicotyledoneae, como Begoniaceae (Begonia), Cactaceae (Hariota, Ripsalis, Schlumbergera), Gesneriaceae (Codonanthe, Nematanthus), Marcgraviaceae (Marcgravia), Piperaceae (Peperomia) e Monocotyledoneae, como Bromeliaceae (Vriesea, Tillandsia), Cyclanthaceae (Carludovica) e Orchidaceae (Bifrenaria, Catasetum, Cattleya, Miltonia, Oncidium, Pleurothalis). 3 - Floresta Alto-Montana Ocupa os ambientes situados acima dos 1500 m. É nela que existe o maior ocorrência de endemismos, sendo Itatiaia um das regiões notáveis nesse sentido. Suas 36 matas são conhecidas como nebulares por estarem freqüentemente encobertas por nuvens que saturam o ar de umidade. As árvores são, de alturas apenas medianas, retorcidas e exibem um certo grau de xeromorfismo, devido às baixas temperaturas. Encontram-se espécies que pertencem a famílias pouco representadas no Brasil ou a gêneros escassos no Estado do Rio de Janeiro: Aquifoliaceae, com o único gênero, Ilex, mais comum e melhor representado no sul do Brasil, incluindo Ilex paraguariensis, a erva-mate; Celastraceae, com o único gênero, Maytenus, um dos poucos gêneros brasileiros e o único da família que ocorre no Estado; Clethraceae, com o único gênero Clethra, que possui apenas duas espécies brasileiras; Cunoniaceae, com o gênero Weinmannia, um dos três que ocorrem no país; Winteraceae, com Drymis brasiliensis, única espécie brasileira; Myrsinaceae, com o gênero Rapanea, um dos quatro brasileiros; Proteaceae, com o gênero Roupala, um dos três representados no Brasil, e Saxifragaceae, com o gênero Escallonia, o único brasileiro. Dos arbustos, cita-se Berberis laurina (Berberidaceae), também a única espécie brasileira. Por essas singularidades, a floresta Alto-Montana é da mais alta importância científica. Nessas matas praticamente não existe sub-bosque, mas há adensamentos de Bromeliaceae representadas por Vriesea, Aechmea e Nidularium. O epifitismo é desempenhado pelas Orchidaceae, dentre as quais a belíssima Sophronites grandiflora. 4 - Refúgios ecológicos São agrupamentos vegetais que apresentam fitofisionomia e florística dissonantes daquelas verificadas nos entornos imediatos. Ocorrem, geralmente, sobre litosolos rasos. Das três modalidades de Refúgios Ecológicos existentes, apenas o denominado Refúgio Ecológico Alto-Montano está presente em território fluminense, onde se localiza acima dos 1.500 m, na Serra do Mar e na Mantiqueira. Em seus locais de ocorrência, como Morro do Cuca, Pico do Frade, Antas, Desengano, Bocaina e Itatiaia, ele aparece logo após a floresta Ombrófila densa AltoMontana, à qual se relaciona e é, como ela, local de altas concentrações de endemismos. 37 Entre Petrópolis e Teresópolis, 66 das 347 espécies coletadas são endêmicas; na Bocaina, no sul do estado, são endêmicas 30 das 215 espécies registradas; no desengano, em Santa Maria Madalena, são 62 endemismos entre 275 espécies registradas; em Itatiaia, local dos mais pesquisados botanicamente, com 415 espécies coletadas, há 88 que são endêmicas; no morro do cuca, em Petrópolis, há 27 endemismos entre 227 espécies coletadas e, no Pico do Frade, em Macaé, das 124 espécies coletadas, 22 são endêmicas. A fitofisionomia é herbáceo-arbustiva, aberta. As Compositae estão significativamente representadas por vários gêneros (Achyrocline, Baccharis, Chinolaena, Erigeron, Eupatorium, Mikania, Senecio, Vernonia, Wedelia). As Gramineae apresentam uma espécie de bambu – Chusquea pinifolia – muito freqüente nesses locais, e só neles. Outra exclusiva é Cortaderia modesta. Inúmeras outras famílias estão representadas por plantas pequenas, como as Eriocaulaceae e as Scrophulariaceae. Na superfície dos solos, às vezes aparecem grandes agrupamentos de líquens, dentre os quais Cladonia confusa é freqüente. Lugares úmidos são ocupados por Sphagnum purpuratum, musgo higroscópico, acidificador das águas e propiciador de habitat para uma planta carnívora Drosera vilosa. 38 III. METODOLOGIA A metodologia geral utilizada formou-se preliminarmente com um extenso trabalho de gabinete, buscando-se as fontes de conhecimento com as quais se procurou trabalhar. Assim foram pesquisados documentos oficiais e estatísticos, obras históricas, bem como dados de primeira mão ou fontes primárias, através de entrevistas e trabalhos de campo. Este trabalho de pesquisa abrange a investigação em várias matérias científicas e sendo ele de caráter qualitativo multidisciplinar, foram usados diferentes recursos metodológicos concernentes às Ciências Sociais, à Botânica e à Geografia. Dessa maneira a pesquisa foi conduzida de modo a contemplar os vários objetivos de uma pesquisa dessa natureza, a saber, a distribuição, a compreensão e a interpretação dos fatos como observados. Especial atenção foi dada ao levantamento de estudos em Etnobotânica como disciplina científica principal e em trabalhos concernentes à Botânica, à ocorrência espacial e composição florística da Mata Atlântica em Itatiaia, às floras regionais e obras originais sobre as espécies, bem como na parte de Geografia, sobre as categorias de vegetação em que se enquadravam as áreas amostradas e sobre as condições e distribuição da ocupação humana da região do PNI. Tal levantamento foi realizado nas bibliotecas do PNI, da Pós-graduação de Botânica e de Antropologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro, de Geografia da Universidade Federal Fluminense, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Instituto Oswaldo Cruz, bibliotecas Central e da Escola Nacional de Saúde Pública. Através da INTERNET, buscou-se os dados conforme as palavras-chave: Serra da Mantiqueira, Biodiversidade, Ervas, Fitoterapia brasileira, Mantiqueira, Medicina indígena brasileira, Medicina popular indígena, Plantas medicinais, Etnobotânica, entre outros. 39 No levantamento dos dados em Herbários, foram visitados o do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB); o do Museu Nacional do Rio de Janeiro (R); o do Parque Nacional do Itatiaia (ITA), o da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (GUA) e no Horto Botânico da Universidade Federal Fluminense. Diante da extensa área que ocupa o entorno do PNI, foram realizados contatos preliminares com a população local, visando obter a informação quanto às pessoas mais versadas em plantas tidas como medicinais. Optou-se por amostrar as áreas indicadas pelos informantes, depois de entrevistados, como sendo as utilizadas por eles para extração e manipulação desse recurso natural. Foi feito o reconhecimento da área, sempre na companhia dos informantes. Podese contar também com o auxílio dos guardas-parque, vez por outra se constituindo eles próprios em informantes experimentados. As áreas visitadas compreenderam algumas seções no interior do Parque, parte baixa e alta, áreas adjacentes que se encontram com relativa proteção ambiental, como a APA da Serrinha do Alambari e o vale do Aiuruoca e outras com vegetação de transição que sofrem com a expansão urbana crescente. Nos trabalhos de campo foram utilizados a observação direta e orientação baseada em mapas cedidos pelo IBAMA escala 1:50.000 para a área do PNI e localidades do entorno e do antigo núcleo de colonização de Itatiaia, demonstrando os lotes dos colonos, além da carta do IBGE para a Região das Agulhas Negras de 1:50.000. Os mapas foram trabalhados no laboratório de Geoprocessamento de Informações (LAGIEF) do instituto Estadual de Florestas (IEF). A classificação utilizada para a estrutura da flora se baseou nos trabalhos de Projeto RADAM BRASIL (BRASIL, op. cit.). Foram realizadas diversas incursões na parte baixa e alta do Parque e localidades do entorno, para coleta de plantas e de informações sobre o uso destas plantas e registro fotográfico. 40 Algumas vezes, se desenvolveram em trabalho de equipe, dado que se foi para o campo acompanhado por uma técnica agrícola, nos levantamentos feitos na Serrinha do Alambari, no município de Resende e em parte do bairro do Campo Alegre, em Itatiaia. Os informantes contatatos foram considerados munícipes de Itatiaia e assim, englobados nas micro-regiões: na parte média de Penedo e na parte baixa formada pelos bairros periféricos ao PNI. A coleta de informações Etnobotânicas foi baseada em procedimentos de campo comuns na pesquisa antropológica, como a observação participante (FOOTEWHYTE, 1990; MALINOWSKI, 1990; MARTIN, 1995; ALEXIADES, op. cit.). Durante a observação participante, os informantes foram acompanhados em suas atividades rotineiras, para observar e registrar os fatos envolvidos nas mesmas. A metodologia seguiu PHILLIPS & GENTRY (1993 a e b) As entrevistas foram abertas ou semi-estruturadas, gravadas e transcritas fielmente (MARTIN, op. cit.; ALEXIADES, op. cit.). Foram analisadas e extraídos seus pensamentos com a síntese da entrevista inteira, com pessoas líderes das comunidades estudadas. Os informantes das “plantas que curam” foram pessoas indicadas pela própria comunidade como aquelas que se destacam por possuir relevante conhecimento acerca das mesmas. Foram entrevistados 16 moradores residentes há mais de 30 anos nas localidades amostradas. Os entrevistados tinham idades entre 35 e 85 anos. Assim, foram entrevistados antigos moradores de Penedo, Campo Alegre, Vila Pinheiro e também na Serrinha do Alambari, município vizinho de Resende. Para obtenção de informações sobre as espécies foi elaborado um roteiro de perguntas abertas. Deles procurou-se saber quais plantas nativas eram conhecidas e utilizadas e quais ervas “de fora” foram ali introduzidas. Buscou-se colher os dados que se referissem tão exclusivamente ao uso dado às plantas locais para fins medicinais, pela população residente. 41 Além disto, foi investigado o contexto sócio-cultural e ambiental das plantas também através das falas dos informantes (RODRIGUES, op. cit.). Essa abordagem extrapola a simples coleta, registro e análise dos usos e foi o mais detalhada possível. Foi interessante apreender a visão de mundo dos informantes entrevistados, diferente de todas as outras e que poderá ainda possibilitar a elaboração de estudos farmacológicos e subsidiar políticas de saúde públicas. A coleta das plantas foi acompanhada pelo informante que as indicou durante a entrevista. Para cada uma das espécies, tomou-se como parâmetro um raio de abrangência em torno dos pontos de coleta para prever a possibilidade de novas ocorrências. A partir desse parâmetro foram plotadas as respectivas manchas, delimitando-se as áreas objeto do presente estudo. Aplicamos tanto como possível os preceitos de CROOM (1983) quando descreve os diversos tópicos a serem abordados em um estudo deste tipo. Elaborou-se um registro para cada espécie indicada, distribuídos em tabelas, utilizando a divisão sugerida por ele, como: 1- a planta: nome comum, nome científico, hábitat, forma de vida, espécimetestemunho; 2- preparação do remédio: coleta, parte da planta utilizada, preparo; 3- terapia: principal e adjuvante, doença tratada, via de administração. O material botânico foi coletado, prensado e seco em estufa portátil de campo (ALEXIADES, op. cit.) e determinado através de consulta bibliográfica (MARTIUS) e também consultadas obras de Botânica Econômica (PIO CORREA & PENNA, 19261975), bem como publicações avulsas sobre plantas utilizadas em Fitoterapia, na comparação com exemplares de herbário e por auxílio de especialistas. (Tab. 1). 42 Tab. 1 – Botânicos que colaboraram na identificação do material coletado. INSTITUIÇÃO BOTÂNICO FAMÍLIA BOTÂNICA Monimiaceae Elsie F. Guimarães JBRJ Piperaceae Smilacaeae Caprifoliaceae Chenopodiaceae Lauraceae Janie Garcia PGCA-UFF Leguminosae Menispermaceae Rutaceae Luci de Senna Valle MN-UFRJ Euphorbiaceae Lúcia D`ávila JBRJ Solanaceae Plantaginaceae Luis Jordano JBRJ Umbelliferae Verbenaceae M. do C. Marques JBRJ Polygalaceae Lecythidaceae Maria C. Vianna FEEMA Labiatae Logaginaceae Verbenaceae Pedro Carauta MN-UFRJ Roberto Esteves UERJ Ruy V. Alves MN-UFRJ Moraceae Compositae Verbenaceae Cucurbitaceae A nomenclatura botânica utilizada foi fundamentada no Código Internacional de Nomenclatura Botânica, do Missouri Botanical Garden (Saint Louis) e no KEW BULLETIN. O material testemunho está sendo incorporado aos acervos dos Herbários do Museu Nacional do Rio de Janeiro (R) e do Parque Nacional do Itatiaia (ITA). 43 IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO IV.1. As áreas de amostragem Circunstâncias de ordem prática influíram na eleição do PNI como área de estudo, entre outras a facilidade de acesso àquele Parque Nacional, por mantermos residência em suas proximidades, e principalmente pelo estreito relacionamento mantido com os pesquisadores do Centro de Visitantes e com o seu pessoal administrativo e guardaparques, esses últimos, profundos conhecedores das características da região e, por isso mesmo, tendo sido tomados como informantes co-participantes da pesquisa. A área englobando o PNI e algumas áreas do seu entorno foram identificadas com base nas informações colhidas diretamente com os informantes, que apontaram as mesmas como sendo locais usuais para a ocorrência das plantas. Assim, foram levantadas nos limites do PNI, 17 locais de coleta, entre mata de encosta, mata de altitude e Campo de Altitude e 8 locais de coleta em áreas do seu entorno, como as localidades de Penedo, “Paraíso Perdido”, Vila Pinheiro, Campo Alegre (todos no município de Itatiaia) e Serrinha do Alambari (no município de Resende).(Fig. 2 ). A decisão de incluí-las nos levantamentos de campo foi influenciada pela informação colhida, entre muitos antigos moradores da cidade de Itatiaia e junto os próprios funcionários do PNI, de que eram zonas de usos comuns e freqüentes de produtos derivados das plantas medicinais. Além disso, tais comunidades estão inseridas em meio de remanescentes da Mata Atlântica. Fig. 2 - Carta imagem. Área total do Parque original e ampliada em 1982. 44 45 Fig.3 Fig.4 Fig.5 46 Fig. 3 - Área de ocorrência de medicinais e visitação turística. Parte baixa do Parque. Fig. 4 - Vista Mirante do Último Adeus. Parte baixa do Parque. Fig. 5 - Área de ocorrência de plantas medicinais. Parte alta do Parque. Fig.6 Fig 7 Fig. 6 - Área de ocorrência de medicinais. Vale do Ermitão. Penedo. Entorno do Parque. Fig. 7 - Vista do entorno do Parque. Bairro Campo Alegre. Área de coleta. Nas matas de encosta o acesso às locações de coleta de amostras embora mais trabalhoso resultou no mais fácil, dado o grande numero de trilhas e pela sua menor declividade, inclusive para uso do próprio informante. Nas faixas de matas de altitude, as áreas de coleta são de acesso bem mais difícil, pelo grande emaranhado da vegetação e pelo escarpamento dos terrenos, existindo apenas 47 incipientes trilhas íngremes em certos trajetos, geralmente apenas percorridas pelos guardas-parque em suas ações de fiscalização. Nos Campos de Altitude, o levantamento as áreas de coleta de amostras das plantas medicinais que tencionávamos fazer foi forçosamente parcial, dado que foi justamente nessa zona que aconteceu a extensa queimada de julho de 2001, que resultou na destruição de uma área equivalente a mais de seiscentos hectares (cerca de seis campos de futebol). Devido a esse incidente, os acessos e trânsitos foram interditados por sete meses, pelos responsáveis pelo PNI, imediatamente após o incêndio. Em seu conjunto a área total de estudo formada pelo PNI e áreas do entorno apresenta a singularidade de abranger zonas de populações com idêntico costume de tratar a saúde pelo uso de folhas, raízes, etc., das plantas medicinais, mas que apresentam características de distribuição espacial e organização social diversas. Tal observação foi evidenciada pela distribuição das áreas de trabalho de campo plotadas em mapa da área total abrangida neste trabalho (Fig.8). A compreensão dos espaços geográficos dessas áreas de estudo trouxe importantes aportes à pesquisa, influindo inclusive na metodologia aplicada e no numero e tipos das pessoas que atuaram como informantes nas entrevistas. A escolha do PNI e sua região de entorno como áreas de estudo, atendeu também a outras injunções. A delimitação da área de amostragem pôde ser efetuada considerando-se, em primeiro lugar, já haver um conhecimento prévio em termos de ocorrência de fatos ou fenômenos que se quis investigar. Partiu-se então em busca da confirmação ou não dos pressupostos ou das hipóteses de trabalho e do “esperado” dos resultados da pesquisa. Em segundo lugar, foram utilizados como critérios, não somente a indicação dada pelos informantes sobre os locais de ocorrência de plantas apanhadas e utilizadas por eles próprios, como também a proximidade umas das outras, influindo na maior facilidade da difusão dos conhecimentos das plantas medicinais usadas. 48 Fig. 8 – Mapa de localização das áreas amostradas e pontos de coletas de planta. 49 IV.2. As comunidades estudadas Neste trabalho buscou-se colher os dados que se referem tão exclusivamente ao uso dado às plantas locais para fins medicinais, pela população residente na região de Itatiaia, considerando como micro-regiões: a parte média de Penedo e as áreas formadas pelos bairros periféricos ao PNI. Outras comunidades ocorrentes no entorno, também apontadas pelos informantes, foram deixadas de lado neste trabalho e poderão vir a constituir trabalhos futuros, como a existência de produtores de plantas medicinais em escala comercial em Bocaina de Minas (MG), a experiência do trabalho na implantação de sítios para produção de medicinais pela Funadação Matutu, em Aiuruoca (MG) e ainda nas áreas do entorno urbanas com a atuação de “erveiros” das feiras populares, em Resende (RJ) e outros e também na experiência de alguns médicos que utilizam em suas prescrições as plantas medicinais dentro do sistema oficial de saúde municipal. Na área interior do PNI a distribuição espacial da população apresenta um padrão pontual. O fato se deve às próprias normas de funcionamento e manejo de Parques Nacionais, que se destinam a fins conservacionistas, permitindo apenas programas de pesquisas cientificas, de recreação e de educação, sob controle, sendo polêmica a própria ocupação humana. Tendo o PNI importante função de pesquisa e salvaguarda dos recursos, dentre outros encargos tem o de vigilância para a preservação da natureza. As residências ali existentes, na grande maioria já estavam assentadas antes da sua criação, funcionando como hotéis e sítios de lazer e outras que servem de residências para funcionários. 50 Fig. 9 Fig. 9 - Abrigo 14, lote 24. Residência de funcionários informantes. A Serrinha do Alambari, ao Leste, transformada em AÁrea de Preservação Ambiental (APA) pode ser considerada diferente das outras áreas de amostragem porque se apresenta com uma fitofisionomia de “povoado” ou “comunidade”, como a existência de um conjunto de residências concentrado em uma área geográfica delimitada; por seus moradores apresentam um grau considerável de interação social integrada; c) têm um sentido de participação comum, de união que não se baseia exclusivamente em laços de consangüinidade. As pessoas do grupo têm um sentimento de pertencerem a um determinado lugar e a um determinado grupo humano. 51 Fig. 10 Fig. 10 - Residentes Informantes na Serrinha do Alambari, Seu Dinarte, D. Brasilina e D. Orinéia. A localização das comunidades do entorno do Parque, por estarem próximas ao limite da Unidade, gera uma série de conflitos de interesses principalmente com o IBAMA, com relação às áreas disponíveis para a construção, atividades de desbaste e queimadas para cultivo ou ainda para atividades extrativistas. Nessas populações a agricultura ocorre de forma incipiente, e além do turismo e do trabalho assalariado junto à prefeitura de Itatiaia, são poucas as alternativas econômicas para os moradores. IV.3. As entrevistas Qualquer membro de uma sociedade, que possua “competência cultural”, pode se constituir em um informante válido. POSEY (op. cit.) alerta-nos para o fato de que os informantes podem ser especialistas de uma determinada área de conhecimento dentro de sua própria cultura e, portanto, devem ser tratados com o mesmo respeito que dispensamos aos especialistas em nossa própria cultura. 52 Para CROOM (op. cit.) todos os membros de qualquer cultura que conheçam o suficiente sobre ela podem atuar de forma satisfatória nas suas expressões habituais. Por outro lado, se o objetivo específico á avaliar o mais rápido e eficientemente possível a utilização de espécies para fins medicinais, esta heterogeneidade sublinha a importância de se procurar selecionar os informantes mais habilitados neste tipo de conhecimento, como assinalado por PHILIPS & GENTRY (1993b). Assim, foram ouvidas, principalmente, pessoas identificadas a partir de indicações dos próprios moradores, pessoas que detém maior conhecimento acerca desta flora específica. Deles procuramos saber quais plantas nativas eram conhecidas e utilizadas e quais ervas “de fora” foram ali introduzidas. Do total de informantes entrevistados de famílias diferentes, 6 são do sexo masculino e 10 são do sexo feminino. Com relação à idade, os entrevistados apresentaram idade entre 35 e 85 anos. Cada informante foi entrevistado individualmente, visando à obtenção de dados sobre o uso de plantas da região. Foram eles: No PNI: Carlos Fernando, Seu Sebastião Luis da Silva, Sônia, Rita, Marcos Botelho, Jorge Lima, José Rangel, Liomar, Altair; no Vale do Hermitâo, Penedo, Itatiaia: D. Maria Cândida de Jesus; na Serrinha do Alambari, Resende: D. Nana, D. Brasilina, Sr. Dinarte e D. Orinéia; no bairro do Campo Alegre: D. Ana Francisca (natural de Serra Negra), D. Terezinha e D. Lurdinha; no bairro de Vila Pinheiro, Itatiaia: Seu Sebastião Francisco e Seu Zé da Silva e na Sede do município de Itatiaia: Seu Orcy. 53 Fig. 11 Fig. 11 - O informante Seu Barbosa mostrando o sabugueiro, Sambucus nigra. Fig. 12 Fig. 12 - Informantes Seu Zé e Seu Dito.panacéia, Solanum castaneum. 54 Fig. 13 Fig. 13 - Informante mostrando o gervão. Stachytarpheta cayennensis. Fig.14 Fig 14 - Entrevista com a informante D. Nana, Serrinha do Alambari. 55 Fig. 15 Fig 15 – O informante e guarda-parque José Rangel mostrando as plantas da marcelinha-amargosa, Compositae e o poejo-do-campo, Cunila galioides Fig. 16 56 Fig. 17 Fig. 18 Fig. 16 - Entrevista com o informante Seu Sebastião Luís, em sua casa. Fig. 17 – O informante guarda-parque Jorge Lima na coleta da alecrim, Baccharis uncinella. Fig. 18 – O informante guarda-parque Marcos Botelho (Marcão) coletando o cipó-chumbo, Cuscuta sp. 57 Fig. 19 Fig. 19 - Excursão para coleta de plantas com Seu Zé da Silva. Parte baixa do Parque. O critério de escolha utilizado refletiu a disponibilidade e o interesse em participar da pesquisa, ao invés da aleatoriedade. Isto, embora tenha limitado os dados do ponto de vista estatístico não invalidou, no entanto, a representatividade da amostra com relação ao conhecimento retido pela população em geral, fato este demonstrado por CROOM (op. cit.). Nesta seleção das pessoas que atuassem como informantes sobre a ocorrência, maior ou menor densidade e diversidade de exemplares de espécies de plantas medicinais do PNI, foram de grande valia as nossas relações de amizade com os vários moradores da cidade de Itatiaia, que indicaram os “entendidos” nas plantas medicinais mais conhecidas na região, e com alguns veteranos guardas-parque, que no decorrer de seus exercícios funcionais se tornaram grandes conhecedores da flora regional. O registro dos dados coletados, foi feito por meio de anotações respeitando-se a linguagem própria do entrevistado, alem de fotografias das características do meio ambiente das áreas de coleta de amostras, dos diferentes tipos de plantas e do informante em seu dia-a-dia e no auxilio na coleta de amostras. As informações foram, na medida do 58 possível, transcritas no corpo de dados de cada espécie, na forma em que foi recebida através do informante. As posteriores observações das características ecológicas dessas zonas e das atividades dos seus moradores levou-nos a uma reestruturação dos roteiros de perguntas a informantes que foi diferente daquela organizada para os informantes do interior do PNI. Das entrevistas realizadas com os todos os informantes resultaram 53 citações de receitas de remédios caseiros elaborados a partir, ou não, da associação de plantas. Este saber lhes foi passado pelos seus pais e avós. IV.4. O perfil dos informantes Da seleção feita entre as varias pessoas reconhecidas e as por outrem apontadas como tendo conhecimentos que poderiam ser úteis para este estudo, resultaram três diferentes tipos de informantes. O informante-coletor das plantas medicinais – preparador de remédios, extraídos das folhas, raízes, caules e demais partes constituintes dessas plantas – vendedor e também doador desses mesmos fitoterápicos. O representante dessa categoria foi o senhor José da Silva, indicado por varias pessoas como o principal “entendido” em plantas medicinais da região. Tem grande liderança como difusor dos conhecimentos da medicina caseira, extraída das plantas medicinais da região, e procurado por pessoas de todo o município e de outros vizinhos, etc. Os Informantes- grandes conhecedores da flora medicinal do PNI. - Os senhores Marcos Botelho, o Marcão, Altair e José Rangel, todos guardas-parque. Além desta qualificação já referida os informantes dessas duas categorias são também usuários das plantas medicinais. No presente estudo, são conceituados como “informantes coparticipantes da pesquisa” pela sua importante contribuição para o presente estudo em 59 termos das valiosas informações sobre as plantas medicinais, e pela boa vontade em prestarem auxílio e companhia atuando como guias de algumas excursões às áreas de trabalho de campo. Os informantes-exclusivamente usuários foram as demais pessoas qualificadas como o pessoal administrativo do PNI e das áreas do entorno situados na faixa de mata de encosta. Foram feitas perguntas para saber se as florestas têm um significado cultural para eles e se elas têm o conhecimento biológico “popular” no uso das plantas. Também foram feitas perguntas para poder classificar essas pessoas como um contingente de indivíduos pertencentes às chamadas "camadas populares" da sociedade, pessoas de baixa renda, com pequeno grau de instrução e que trabalham em atividades de baixo retorno financeiro e sem especialização, como pequenos agricultores, faxineiros, carpinteiros, arrumadeiras e no caso do presente estudo, trabalhadores nos hotéis no PNI ou em casas de família da cidade. Porque são as pessoas dessa categoria social que costumam mais usar a medicina caseira. A distribuição dos fatos investigados foi realizada segundo essas várias abordagens. Ao longo do desenvolvimento do estudo foi constatado que o aproveitamento biológico popular no PNI e áreas de entorno é estimulado tanto pelas tradições antigas e correntes do uso em relação às plantas medicinais pelos moradores, na crença da eficácia do tratamento, quanto pelo seu poder aquisitivo que lhes inviabiliza a compra das caras drogas alopáticas ("remédios de farmácias") e os impele ao uso da "medicina-de-graça" ofertada pela grande biodiversidade da vegetação local. Nenhum informante se utilizava exclusivamente da agricultura de subsistência estando eles bem inseridos e em articulação para obtenção de mercadorias em “vendinhas” próximas ou em supermercados nos centros urbanos. 60 IV.4.1.A figura do Seu Zé da Silva Não existe na comunidade a figura do curandeiro, embora o Sr. Zé da Silva seja tido como autoridade local deste assunto e procurado pelas moradores locais e de fora. [...] o Seu Zé é mais conhecido do que bombril, em qualquer lugar que a senhora procurar Seu Zé da Silva aqui, acha”. (Seu Noel da mudança) A observação participante foi facilitada pela relação de grande cordialidade e interação mútua que se pôde desenvolver com o Sr. Zé da Silva. No intuito de reunir informações que se relacionassem com o objeto do estudo e que auxiliassem no posterior trabalho de campo, ele foi visitado por diversas vezes em sua residência, colhendo-se anotações sobre o seu estilo de vida e as suas relações com seus familiares e moradores da cidade de Itatiaia. Fig. 20 Fig. 20 - Remédios fabricados por Seu Zé e apresentados durante entrevista em sua casa. Entrevistas informais que com ele forneceram dados sobre os métodos que usava no preparo dos fitoterápicos e sobre como percebia o meio ambiente em que vive e o meio ambiente da floresta do PNI. O Sr. Zé da Silva receita a planta, explica o preparo e a forma de tratamento, baseados nos sintomas relatados pelo interessado e para aqueles que não conhecem a referida planta, ele sai para buscá-la por encomenda. 61 [...] aí é tudo, é pro Rio, pessoa lá do Parque que me conhece que tem os parentes no Rio, faço remédio pra tudo isso”. (Seu Zé da Silva) [...] só faço quando a pessoa encomenda. Agora quando é um remédio que me custa fazer, eu cobro, quando é remédio que só depende do mato, eu dou de graça [...] quero ver a pessoa boa [...] ou é chá ou garrafada”. (Seu Zé da Silva) Fig. 21 Fig. 21 - Seu Noel da mudança, comerciante de Resende, encomendando remédio na casa do Seu Zé da Silva. IV.5. A transmissão do conhecimento O uso das plantas com fins medicinais na região do maciço do Itatiaia é antigo, não sendo possível traçar-se a origem exata. Embora seja um conhecimento difundido por todos os moradores mais idosos, verifica-se que ele é fruto do emaranhado cultural de índios, negros, colonos, turistas, bem como trazido de outras regiões próximas. 62 “[...] ah, começou porque eu desde menino, eu lidava com negócio de plantas junto com o meu pai, o meu pai era índio, né? Então ele conhecia tudo quanto era planta, o negócio dele era de fazenda, essas coisas [...] eu andava junto com ele pelo mato e apanhei conhecimento das plantas e tudo [...] ele aprendeu lá com o meu avô”. (Seu Zé da Silva) Muitos cultivam algumas plantas de uso mais difundido ou comercializado. Alguns quintais apresentam canteiros de ervas medicinais com espécies nativas e exóticas. Poucos sabem colher “no mato” as plantas tidas como medicinais, porque na maioria, não sabem reconhecer o habitus da planta, embora saibam como aplicá-la. Muito do conhecimento das gerações antigas sobre plantas medicinais não tem sido passado para as gerações mais novas, fato também observado em Itatiaia. Esta perda progressiva do conhecimento terapêutico popular é semelhante às observações de BEGOSSI (1998), FIGUEIREDO & alii (1993) e AMOROSO & GÉLY (1988). LIMA et al. (2000) assinalam que a maior concentração de conhecimento etnobiológico está nos habitantes na faixa de 51 a 80 anos de idade, nas faixas mais novas estes conhecimentos estão diluídos. Esse fato se deve em parte ao maior acesso que a geração atual dispõe a hospitais e farmácias, que a geração anterior. A geração mais jovem tende a ser mais freqüente nas visitas a centros médicos e se mostra mais aberta aos tratamentos modernos, que seus pais e avós. BEGOSSI (op. cit.) também afirmam que os indivíduos mais velhos demonstram um conhecimento maior sobre plantas medicinais. A diversidade de plantas utilizadas, nativas e exóticas, refletem a mistura de cultura européia, africana e do índio brasileiro, hoje refletido no rural brasileiro. Salienta que o acervo de conhecimento sobre o uso de plantas não é igualmente distribuído na população e que com a idade, há um acúmulo de conhecimento. “Há aqueles indivíduos mais capazes intelectualmente, ou mais interessados, e há, também, o conhecimento que só os diversos especialistas possuem”. 63 E continua que, o "saber das plantas medicinais" necessita ser resgatado antes que desapareça, diluindo-se na "cultura de urbanização", devida ao intenso crescimento urbano sobre as áreas rurais na região. A existência e a permanência de uma medicina caseira ou popular, nas áreas pesquisadas, é devida à transmissão dos padrões e valores do conhecimento sobre as plantas, difundidos entre os membros das populações locais ao longo de gerações e por meios predominantemente orais (processo de transmissão "boca-a-boca") e auditivos (processo de "ouvir-falar") foi confirmado. “[...] sempre, pelo conhecimento da floresta [...] então a gente entendia tudo, então a gente via uma pessoa sentindo qualquer coisa, né? [...] a gente ensina às vezes aquilo e aquilo foi alastrando [...] um contando pro outro”. (Seu Zé da Silva) A transmissão desse conhecimento, dos mais velhos aos seus descendentes se dá mediante a prática de uso caseiro e pelo cultivo desses vegetais em quintais. Dessa forma as mulheres têm um papel relevante nas comunidades como guardiães do saber das propriedades das plantas medicinais e na difusão deste saber aos demais componentes do grupo familiar. Quando viajam para outras localidades, quase sempre voltam com mudas de plantas utilizadas como remédio, cedidas por outras moradoras. Seus nomes e receitas são guardados apenas na memória. PRANCE (1991) ressalta a importância de se realizar estudos Etnobotânicos não só entre povos indígenas, mas também entre populações rurais tradicionais. Ele diz que as populações muitas vezes guardam herança os conhecimentos e procedimentos relativos ao uso de plantas oriundos de grupos indígenas há muito extintos e que elas são menos estudadas que os índios. A definição de Populações Tradicionais está essencialmente ligada à preservação de valores, de tradições e de culturas. Mas normalmente com o tempo elas passam a sofrer interferências externas e acabam por incorporar os valores daquelas com que têm contato. 64 Para DI STASI (op. cit.), “Em sociedades tradicionais, a transmissão oral é o principal modo pelo qual o conhecimento é perpetuado. Isto acontece normalmente em sociedades rurais ou indígenas, nas quais o aprendizado é feito pela socialização no interior do próprio grupo doméstico e de parentesco, sem necessidade de instituições mediadoras”. No caso do uso de plantas medicinais, é importante saber de onde vem o conhecimento do uso e se é um conhecimento tradicional, embasado na experiência direta dos membros da comunidade. Continua DI STASI (op. cit.) que o conhecimento tradicional acaba se perdendo, na medida em que a educação formal retira os jovens do convívio com os mais velhos durante uma parte significativa do tempo e fomenta o seu desinteresse por este saber. Salienta que este conhecimento local seja muito vulnerável à aculturação, o que é um argumento a favor de se coletar, o mais rápido possível, o máximo de dados sobre o uso local. IV.6. As plantas citadas A Tab. 2 mostra as 81 espécies de plantas medicinais citadas nas entrevistas realizadas, podendo haver ainda outras com potencial medicinal que não tenham sido incluídas neste trabalho. Pertencem a cerca de 51 gêneros e 37 famílias botânicas identificadas. É dado o nome local, o nome científico, a família botânica para cada espécie. 65 Tabela 2 – Nome local, nome científico e família botânica das plantas citadas. NOME LOCAL NOME CIENTÍFICO açoita-cavalo Luehea divaricata Mart. alecrim-do-campo Baccaharis uncinella DC. alfavacão FAMÍLIA Tiliaceae Compositae Labiatae arnica Solidago chilensis Meyen Compositae arnica Chionalaena capitata Baker Compositae arruda Ruta sp. assa-peixe Vernona polyanthes Less. Compositae bálsamo Kalanchoe sp. Crassulaceae barbasco Buddelia brasiliensis Jacq. ex. Spreng. Logaginaceae bardana-silvestre Campanulaceae bico-de-papagaio Euphorbia sp. boldo Plectnanthus sp. butajarra cana-do-brejo Rutaceae Euphorbiaceae Labiatae Menispermaceae Costus sp. canela-sassafrás Costaceae Lauraceae capoeraba Commelina sp. capuchinha-grande Tropaeolum majus cardo-santo Centaurea sp. Commelinaceae Tropaeolaceae Compositae 66 carqueja Baccahris trimera Less. chapéu-de-couro Compositae Alismataceae cipó-cabeludo Mikania hirsutissima DC. Compositae cipó-salsa-mandioca Smilax sp. Smilacaceae cipó-salsaparrilha Smilax mucosa Toledo Smilacaceae cipó-sexta-feira Calea pinnatifida Less. Compositae cipó-chumbo Cuscuta sp. Cuscutaceae cipó-prata Menispermaceae citronela Cymbopogon sp. Cyperaceae couve (rosa) Brassica sp. Cruciferae elevante Herperozygis myrtoides Labiatae embaúba Cecropia cf. catarinensis Cuatrec. Moraceae erva-celidônia Labiatae erva-cidreira Labiatae erva- de-s. joão Eupatorum s. l. chromolaena var. maximilianii (Schrader ex. Compositae DC.) R.M.King&H. erva-lanceta Roupala sp. Proteaceae erva-moura Solanum americana (Tourn.) L. Solanaceae erva-terrestre erva-de-bicho Labiatae Polygonum sp. erva-de-coelho Solanaceae erva-de-macaé Leonorus sibiricus L. erva-de-sta.maria Chenopodium sp. eucalipto Eucaliptus sp. fumo-bravo Polygonaceae Labiatae Chenopodiaceae Myrtaceae Solanaceae 67 gelol Polygala paniculata Less. Polygalaceae gervão Stachytarpheta cayennensis Schau (L.C.Rich) Vahl Verbenaceae graviola Annona sp. Annonaceae guaco Mikania glomerata Spreng. Compositae guaco Mikania laevigata Sch. Bip. ex. Baker Compositae guandu Cajanus indicus Spreng. hortelã-do-mato Leguminosae Labiatae isôpe Polygonum sp. jaborandi Piper cernuum Vell. Piperaceae jaborandi Piper hispidum Sw. Piperaceae jaborandi Piper mollicomum Kunth. Piperaceae jurubeba Solanum torvum Sw. Solanaceae levante limãozinho Polygonaceae Labiatae Siparuma sp. mãe-boa Monimiaceae Curcubitaceae manjerona Labiatae marcelinha-amargosa Compositae mastruz Apium sp. Labiatae mata-pasto Centella asiática L. Urban melão-de-s. caetano Momordica charantia L. orelha-de-burro Lepechinia speciosa A. St. Hil. pacová Renealmia chrysotricha Petersen panacéia Solanum castaneum Carvalho Solanaceae pata-de-vaca Bauhinia sp. Leguminosa Umbeliferae Cucurbitaceae Labiatae Zingiberaceae 68 picão Bidens pilosa L. Compositae picão-roxo Bidens sp. Compositae pitanga Eugenia uniflora Berg. Myrtaceae poejo Polygala campestris Gardner poejo-do-campo Cunila galioides Benth. quebra-pedra Phyllanthus sp. rosa-branca Rosa sp. sabugueiro Sambucus nigra L. saia-branca Polygalaceae Labiatae Euphorbiaceae Rosaceae Caprifoliaceae Solanaceae sálvia Salvia sp. Laminaceae taiuiá Cayaponia sp. Curcubitaceae tanchagem Plantago tomentosa Lam. Plantaginaceae tanchagem Plantago tomentosa cf. hirtella Kunth Plantaginaceae urtigão Piper sp. vassourinha Croton lundianus (Didr.)Müll.Arg. Piperaceae Euphorbiaceae 69 Fig. 22 Fig. 22 - jaborandi. Piper mollicomum.Parte baixa do Parque. Fig. 23 Fig. 23 – cipó-salsaparrilha. Smilax mucosa. Parte baixa do Parque. 70 Fig. 24 Fig. 24 – chapéu-de-couro. Alismataceae, espontânea. Área do entorno. Fig. 25 Fig. 25 – tanchagem. Plantago tomentosa cf. hirtella. 71 Fig. 26 Fig. 27 Fig. 28 Fig .26 - Espontânea conhecida por gelol. Popygala paniculata. Fig.27 – Detalhe da inflorescência utilizada da embaúba. Cecropia cf. catarinensis. Fig. 28 – Plantas de marcelinha-amargosa, Compositae e alecrim-do-campo, Bacharis uncinella. 72 Fig. 29 Fig. 29 – Foto mostrando o alecrim, Baccharis uncinella e carqueja, Bacharis trimera. Fig. 30 Fig. 30 – Detalhe da planta orelha-de-burro, Lepechinia speciosa. Parte Alta do Parque. 73 30 Fig. 31 Fig. 31 – A planta do poejo (manjerona), Cunila galioides. Algumas famílias destacam-se como mais representativas em número de espécies citadas, foram elas: as famílias Compositae e Labiatae, com 14 e 13 espécies respectivamente, seguidas de Solanaceae (6), Piperaceae (4). Com 3 espécies foram encontradas duas famílias: Curcubitaceae e Euphorbiaceae. Com duas espécies foram encontradas 6 famílias: Leguminosae, Myrtaceae, Plantaginaceae, Polygalaceae, Polygonaceae e Smilacaceae. As demais 25 famílias estão representadas por apenas uma espécie (Fig. 32). 4 3 Famílias com 1 espécie 3 25 6 Compositae Labiatae Famílias com 2 espécies Solanaceae 6 Piperaceae 13 Euphorbiaceae 14 Cucurbitaceae 74 Fig. 32 – Gráfico de freqüência de citações para cada família botânica. A Tab. 3 e Fig. 33 mostram que as plantas cultivadas representam 42 % das espécies utilizadas. A maior representatividade em Itatiaia deve-se, às espontâneas estando estas divididas em nativas silvestres, com 58 %, seguidas pelas exóticas cultivadas, com 29 % e pelas nativas cultivadas, com 13 %. As espécies espontâneas se encontram em sua maioria na orla das matas, clareiras e picadas abertas na mata, e nas áreas de entorno já bastante alteradas, sendo coletadas em excursões próprias, quando o conhecedor da planta vai buscá-la para o preparo de um certo medicamento. Tal resultado é bem próximo do encontrado por AMOROSO & GÉLY (op. cit.) para o índice de plantas cultivadas utilizadas que chegava a 50%. 75 Tab. 3 - Locais de coleta, Habitat e Habitus das espécies citadas. NOME LOCAL ZONA ECOLÓGICA HABITAT HABITUS Parte baixa Espontânea Arbustiva alecrim-do-campo Planalto Espontânea Herbácea alfavacão Entorno Cultivada Herbácea arnica Parte baixa Cultivada Herbácea arnica Parte baixa Espontânea Herbácea arruda Entorno Cultivada Herbácea Parte baixa Espontânea Arbustiva bálsamo Entorno Cultivada Herbácea barbasco Parte baixa Cultivada Herbácea bardana-silvestre Planalto Espontânea Herbácea bico-de-papagaio Parte baixa Cultivada Arbustiva boldo Parte baixa Cultivada Herbácea butajarra Parte baixa Espontânea Herbácea cana-do-brejo Parte baixa Espontânea Arbustiva Entorno Espontânea Arbórea Parte baixa Espontânea Herbácea Entorno Cultivada Herbácea açoita-cavalo assa-peixe canela-sassafrás capoeraba capuchinha-grande 76 cardo-santo Entorno Cultivada Herbácea carqueja Planalto Espontânea Herbácea chapéu-de-couro Parte baixa Espontânea Herbácea cipó-cabeludo Parte baixa Espontânea Liana cipó-salsa-mandioca Entorno Espontânea Liana cipó-salsaparrilha Entorno Espontânea Liana Parte baixa Espontânea Liana Planalto Espontânea Liana cipó-prata Parte baixa Espontânea Liana citronela Entorno Cultivada Herbácea couve (rosa) Entorno Cultivada Herbácea elevante Planalto Cultivada Herbácea embaúba Entorno Espontânea Arbórea Parte baixa Espontânea Herbácea Entorno Cultivada Arbustiva Parte baixa Espontânea Herbácea erva-lanceta Planalto Espontânea Herbácea erva-moura Entorno Cultivada Herbácea erva-terrestre Entorno Cultivada Herbácea erva-de-bicho Entorno Espontânea Herbácea cipó-sexta-feira cipó-chumbo erva-celidônia erva-cidreira erva- de-S. João 77 erva-de-coelho Parte baixa Cultivada Herbácea erva-de-macaé Parte baixa Cultivada Herbácea erva-de-Sta.Maria Parte baixa Cultivada Herbácea Entorno Espontânea Arbórea Parte baixa Espontânea Herbácea Entorno Cultivada Herbácea gervão Parte baixa Espontânea Herbácea graviola Entorno Cultivada Arbórea guaco Entorno Cultivada Trepadeira guaco Entorno Cultivada Trepadeira guandu Entorno Cultivada Arbórea Parte baixa Espontânea Herbácea Entorno Cultivada Herbácea jaborandi Parte baixa Espontânea Arbustiva jaborandi Parte baixa Espontânea Arbustiva jaborandi Parte baixa Espontânea Arbustiva jurubeba Parte baixa Espontânea Arbustiva Entorno Cultivada Herbácea limãozinho Parte baixa Espontânea Arbustiva mãe-boa Parte baixa Espontânea Herbácea eucalipto fumo-bravo gelol hortelã-do-mato isôpe levante 78 manjerona Planalto Espontânea Herbácea marcelinha-amargosa Planalto Espontânea Herbácea mastruz Entorno Cultivada Herbácea Parte baixa Espontânea Herbácea melão-de-s. caetano Planalto Espontânea Herbácea orelha-de-burro Planalto Espontânea Herbácea pacová Entorno Espontânea Arbustiva panacéia Entorno Espontânea Arbórea Parte baixa Espontânea Arbórea picão Entorno Espontânea Herbácea picão roxo Entorno Espontânea Herbácea pitanga Entorno Cultivada Arbórea poejo Planalto Espontânea Herbácea poejo-do-campo Planalto Espontânea Herbácea quebra-pedra Parte baixa Espontânea Herbácea rosa-branca Entorno Cultivada Herbácea sabugueiro Entorno Cultivada Arbórea saia-branca Parte baixa Cultivada Herbácea sálvia Entorno Cultivada Herbácea taiuiá Parte baixa Espontânea Arbustiva mata-pasto pata-de-vaca 79 tanchagem Entorno Espontânea Herbácea tanchagem Parte baixa Espontânea Herbácea urtigão Parte baixa Espontânea Arbórea vassourinha Parte baixa Espontânea Herbácea 80 29% 58% 13% Nativas Silvestres Nativas Cultivadas Exóticas cultivadas Fig. 33 - Gráfico de freqüência de Habitats encontrados. Apesar de muitas plantas citadas como medicinais serem introduzidas, outras tantas são nativas, refletindo o conhecimento das populações à respeito da flora local, o que indica o alto grau de adaptação das mesmas ao ambiente. Conquanto as ervas sejam as formas mais bem representadas com 51 espécies, o número de arbustos utilizados é também alto com 11 espécies. Segue-se as árvores com 10 espécies e as lianas e trepadeiras com 8 espécies, indicando que plantas de todos os estratos da vegetação são utilizadas para diversos fins. Desta forma a freqüência de habitus mais encontrado para as espécies neste levantamento foi herbáceo (64%), seguido do arbustivo (14%), arbóreo (12%), Lianas e trepadeira (10%), o que revela a Tab. 3 e Fig. 34. 81 10% 12% 14% 64% Arbórea Arbustiva Herbácea Lianas e Trepadeiras Fig. 34 - Gráfico de freqüência de Habitus encontrados. IV.7. As doenças mais difundidas O grupo estudado identifica as doenças através de seus sintomas principais, apresentando grande capacidade de observação e dedução, reconhecendo diferentes plantas para as diferentes doenças. Foram levantados 54 diferentes usos para as plantas, como para “depurativo do sangue”, para reumatismo , para os rins, para contusão, e assim por diante, como se vê na Tab. 4. 82 Tab. 4 - Nome local, indicações, partes usadas e formas de preparo das espécies citadas. NOME LOCAL açoita-cavalo INDICAÇÕES Ácido úrico, rachadura de pé, varizes PARTE USADA FORMA DE PREPARO / USO Folha Banho grossas alecrim-do-campo Afastar maus espíritos Ramo Chá, como vassouras alfavacão Tosse Folha Chá arnica Contusão Flor e folha Macerada no álcool, banho arnica Contusão, quebradura, ajuda a cicatrizar Ramo com flor Emplastro arruda Infecção nos olhos Folhas novas Chá, sumo com sal assa-peixe Pneumonia Folha Chá bálsamo Cicatrizante Folha Chá barbasco Catarro no peito, gripe Raiz Xarope bardana-silvestre Rins Folha Chá bico-de-papagaio Gripe, catarro Folhas Chá, sumo boldo Mal estar, gripe Folha Macerado com água butajarra Estômago, Inflamação, intestino Cipó Chá com casca cana-do-brejo Rins Folha Chá canela-sassafrás Resfriado, sangue fraco Casca Chá, xarope capoeraba Dores Toda a planta Chá, banho capuchinha-grande Coração Ramo Chá cardo-santo Estômago Folha Xarope 83 carqueja Para emagrecer, estômago Ramo Chá chapéu-de-couro Depurativo do sangue, rins Folha Chá cipó-cabeludo Rins Cipó Chá cipó-salsa-mandioca Depurativo do sangue Cipó Macerado no vinho com cipó salsaparrilha cipó-salsaparrilha Depurativo do sangue Batata (raiz) Macerar no vinho com cipó salsa-mandioca cipó-sexta-feira Estômago, enjôo, dor de barriga Cipó Chá cipó-chumbo Depurativo do sangue Toda a planta Chá ralo, sumo cipó-prata Rins, feminine Toda a planta Chá, banho citronela Repelente Ramo Queima couve (rosa) Estômago Folha Sumo elevante Intestino Ramo Chá embaúba Reumatismo, pressão alta Boneca (folhas novas) Chá erva-celidônia Gastrite, úlcera, Infecção, úlcera, Folha Chá Folha Chá bronquite erva-cidreira Dores de cabeça erva-de-s. joão Congestão, dor, gripe Toda a planta Chá com sal erva-lanceta Furúnculo, ubre de vacas Toda a planta Emplastro com angu erva-moura Herpes, aftas Fruto Bochecho erva-terrestre Resfriado, tosse Fruto Chá erva-de-bicho Urticária Fruto Banho erva-de-coelho Infecção Toda a planta Banho, sumo, compressa erva-de-macaé Má digestão Folha Chá 84 erva-de-sta.maria Vermes Ramo Chá eucalipto Dor de cabeça, arroto Folha Chá fumo-bravo Resfriado antigo Folha Chá gelol Contusão Ramo Chá gervão Desencatarrar Folha Chá graviola Câncer, diabetes Fruto Chá guaco Calmante Folha Chá guaco Resfriado Folha Chá guandu Dor de dente Folha Bochecho hortelã-do-mato Dores intestinais Toda a planta Chá, banho isôpe Prisão de ventre, estômago, arroto Folha Chá jaborandi Couro cabeludo Folha Chá jaborandi Couro cabeludo Folha Chá jaborandi Couro cabeludo Folha Chá jurubeba Fígado Folha Chá levante Intestino Ramo Chá limãozinho Resfriado Ramo Chá, xarope mãe-boa Fígado, rins Folha Chá manjerona Pulmão Folha Chá, xarope marcelinha-amargosa Asma, bronquite Flor e folha Chá mastruz Pneumonia, contusão Folha Chá mata pasto Sarna, coceira Toda a planta Banho 85 melão-de-s. caetano Garganta, Infecção, torcicolo Ramo Compressa, emplastro orelha-de-burro Tontura, dores reumáticas, resfriado Folha Chá pacová Reumatismo, estômago, coração Fruto Chá, fruto amassado panacéia Sangue, fígado, rim Folha Chá pata-de-vaca Diabetes Folha Chá picão Hepatite, anemia, sangue fraco Toda a planta Chá picão-roxo Icterícea Folha Chá pitanga Diarréia, luxação Raiz Fricção poejo Dores locais Ramo Chá poejo-do-campo Gripe Ramo Chá quebra-pedra Rins Ramo Chá rosa-branca Coceira, pele Flor Banho sabugueiro Sarampo, reumatismo Folha Chá saia-branca Problemas femininos Folha Chá sálvia Alergia, Inflamações Ramo Chá taiuiá Estômago, má digestão Cipó Chá amargo tanchagem Garganta, Inflamação, intestino, sangue, Toda a planta Chá, banho Raiz e folha Chá, compressa corpo todo tanchagem Cicatrizante, males do estômago, cicatrizante de úlcera urtigão Reumatismo Raiz Chá vassourinha Inchação, dor Toda a planta Chá, banho 86 Muitas vezes uma mesma espécie vegetal é utilizada localmente para diversos fins. As diversas espécies citadas podem ainda contribuir para tratar um mesma doença ou sintoma, como se vê na na Tab. 4 e na Fig. 35, onde procuramos demonstrar para cada doença relatada o percentual de freqüência de citações das espécies de plantas. Foram organizados seis grupos, a saber: grupo 1 – seis espécies citadas para depurativo do sangue; grupo 2 – cinco espécies citadas para reumatismo e rins; grupo 3 – quatro espécies para contusão, dores, fígado, gripe e resfriado; grupo 4 – três espécies citadas couro cabeludo, desencatarrar, estômago, estômago (indigestão) e inflamações; grupo 5 – duas espécies citadas para calmante, cicatrizante, dor de cabeça, estômago(infecção), inflamação da garganta, intestino, pneumonia, tosse e grupo 6 – apenas uma espécie citada para as demais sintomas de doenças. 87 10% 5% 28% 14% 19% Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Demais 24% Fig.35 - Gráfico de freqüência de citações para as categorias de uso. A Fig. 36 mostra ainda, que todas as partes das plantas são empregadas no preparo dos remédios caseiros: raiz, caule, ramo, caule, casca, folha, flor, fruto e toda a planta. As folhas são mais utilizadas (45 % das indicações), e em seguida vem, bem abaixo, o uso da planta toda (13%); o ramo (18%); os frutos, as raízes e os cipós (incluindo os caules) (6%); a flor (5%) e, por último a casca (2%). O grande uso das folhas e outras partes aéreas provavelmente se deve à facilidade de acesso às mesmas e ao dano reduzido causado à planta, podendo o mesmo pé voltar a fornecer material para a elaboração dos medicamentos. 88 60% 50% Folha Ramo 40% Flor Raíz 30% Caule 20% Casca 10% Fruto Toda a Planta 0% Fig. 36 – Gráfico de freqüência de citações das partes usadas. Observa-se na Fig. 37, o emprego de chá (63%), banhos tópicos (11%), emplastro e xarope (5%). Em menor freqüência, usa-se o sumo (5%), seguido do macerado e da fricção (3%), do bochecho (2%) e queima ou vassoura (1%). É comum observar-se o uso combinado de plantas, principalmente no tratamento das afecções respiratórias. O uso da planta simples, porém, é de forma geral o mais utilizado. A aplicação dos medicamentos por via tópica é grande e bem difundida. Um estudo cuidadoso dos procedimentos de administração e das razões porque se ministram determinadas preparações para determinados fins seria muito útil para a compreensão do sistema de saúde do camponês e a implantação de programas de saúde mais eficientes. 89 70% Chá 60% Banho Emplastro 50% Xarope 40% Macerado 30% Sumo Queima 20% 10% Bochecho Fricção 0% Vassouras Fig. 37 – Gráfico de freqüência de citações de formas de preparos. IV.8. A medicina utilizada por eles Nosso trabalho reforça a exposição de DI STASI (op. cit.) quando diz que uma grande parte das sociedades tradicionais está, em alguma medida, exposta às influências da medicina ocidental moderna. Segundo o autor, isto não destrói os esquemas explicativos preexistentes, mas acrescenta novas possibilidades a estes recursos. Isto não a coexistirem sem conflito, para aclarar o mesmo episódio de doença. A causa aparente pode ser naturalística, enquanto a causa última pode ser social ou sobrenatural. Desta forma, o doente tanto aceita a explicação da medicina ortodoxa, como a dos especialistas que lhe são culturalmente mais próximos, e coerentemente, segue as prescrições de ambos”. As nossas hipóteses que os moradores das comunidades do entorno do PNI desenvolveriam um sistema de medicina tradicional utilizado, foi totalmente confirmado, inclusive na fala do Seu Zé. 90 “[...] Seu Zé conhece tudo que é remédio [...] conhece, me arrumou outra vez, foi a butajarra, pra diabetes [...] erva da lua pra banhar a cabeça, [...] é eu to com um problema, como fala [...] labirintite [...] tem reza também”. (Seu Noel da mudança) “[...] não, muita gente, eu nem conheço, o sujeito vem aí, eu não conheço, ele fala o remédio, diz o que ta sentindo, e aí eu digo, é esse aqui. Se ele qué que eu faça uma garrafada, eu faço”. (Seu Zé da Silva) “[...] aqui na Vila Pinheiro tem muita pessoa curado aí, né? Curado que eu faço remédio pra ele. Tem o General Monteiro, que é o médico do Exército, mas quem faz remédio pra ele, pra tratamento sou eu e muitos aí”. (Seu Zé da Silva) Igualmente foi constatado que a existência e a permanência da medicina caseira ou popular nas áreas de estudo, é devida à transmissão verbal dos padrões e valores do conhecimento das plantas medicinais entre os membros residentes, e que esta medicina, nas áreas de estudo é uma expressão cultural dessas mesmas pessoas. Cada doença tem seu tratamento específico, baseado em experiências anteriores. A medicina tradicional está representada pelos conhecimentos acumulados ao longo de gerações, através da intuição e de experiências cotidianas, onde o uso freqüente leva a crer no potencial farmacológico dos mesmos. Boa parte da população tem alguma planta medicinal cultivada em suas hortas domésticas, para qualquer eventualidade. As ervas aromáticas e condimentares, além de fazerem parte no preparo dos alimentos, com aroma, sabor ou aspecto agradável, ajudam na conservação de outros produtos. Com relação ao uso dessas plantas, verificou-se que indivíduos do sexo feminino, que em geral estão envolvidos no preparo dos remédios, e de maior idade, que estão em contato por mais tempo com a vegetação, é quem mais conhecem as plantas, igualmente assinalado por FIGUEIREDO & alii. (1995). 91 IV.9. A percepção dos recursos e diversidade de uso das plantas Os resultados demonstram que as populações estudadas apresentam algum tipo de classificação, evidenciada pelo reconhecimento das formas de vida diferenciadas das plantas. Neste estudo, contudo, não foi possível determinar maior hierarquização dessa classificação a partir das coletas realizadas. “[...]ele conhecia também (plantas da Amazônia) porque as plantas que tem lá tem aqui, né? É que cada lugar dá um nome, é um jeito, eu por exemplo sou mateiro aqui do Parque, mas se for pra esses lugar, eu já tenho que conhecer pela veia a madeira, mas pelas folhas eu já não conheço conforme eles são mateiro lá também, eles vem pra cá só vão conhecer a madeira pela veia se não não conhece. Porque muda lá também, o jeito, a qualidade.” (Seu Zé da Silva) De acordo com a Tab. 3 e Fig. 33, as três zonas ecológicas (Parte Baixa, Planalto e Entorno) diferenciadas pelas populações são adequadas ao que FRECCHIONE et al. (1989) define como unidade de recursos. Desta forma, quando indivíduos de uma das populações necessitam determinado tipo de recurso, eles serão buscados na zona ecológica apropriada. Esta constatação remete-nos a questão da conservação ambiental, uma vez que conhecendo os locais em que determinados recursos ocorrem, o risco de degradação ambiental é diminuído. Outro resultado do presente estudo foi o de que o uso das plantas medicinais pelos informantes residentes nas áreas do PNI e do seu entorno está diretamente ligado ao modo com que os membros dessa mesma população percebem o seu meio ambiente. A cobertura vegetal das zonas em que vivem é, para essas pessoas, elemento fundamental para o seu estilo de vida, uma vez que "pensam" ou "encaram" as matas do PNI e os remanescentes da mata do entorno do PNI como verdadeiras "farmácias-vivas" indispensáveis à sua própria sobrevivência. A nosso ver, a importância do conhecimento empírico está plenamente demonstrada por AMOROSO (op. cit.), que assim se expressou: “Toda sociedade humana 92 acumula um acervo de informações sobre o ambiente que a cerca, que vai lhe possibilitar interagir com ele para prover suas necessidades de sobrevivência. Neste acervo, inscrevese o conhecimento relativo ao mundo vegetal com o qual estas sociedades estão em contato”. A exploração de recursos vegetais por parte das populações estudadas da Mata Atlântica é muito intensa, especialmente no que se refere ao uso de plantas medicinais. Segundo CLEMENT (1988), mais de 10.000 espécies vegetais são classificadas como mágicas, medicinais ou tecnológicas. Contudo, esta é apenas uma das estimativas sobre espécies úteis e como no caso da diversidade biológica, muitas outras estimativas são apresentadas na literatura científica (SCHULTES, 1984). O número de famílias botânicas obtidas neste trabalho à partir dos questionários, mostra que a diversidade de uso de plantas está relacionada à diversidade biológica encontrada para a vegetação de Mata Atlântica. Em geral, em estudos florísticos há o predomínio de determinadas famílias. São exemplos, os gêneros e espécies de Myrtaceae e Lauraceae sendo predominantes em regiões de Mata Atlântica (LEITÃO-FILHO, 1982 e 1987). Para este estudo, na mesma área de interesse, porém de feição Etnobotânica, o que se evidenciou foi o predomínio das famílias Compositae e Labiatae e selecionadas para larga utilização de forma empírica ou por transmissão dos conhecimentos e valores. Lima et al. (op. cit.) afirmam que quanto maior a diversidade de plantas empregadas por uma população, mais significativo é o seu conhecimento Etnobotânico e em geral se relacionam às áreas relativamente bem conservadas. No Brasil, os povos indígenas e sociedades tradicionais não indígenas habitam ambientes diversificados no aspecto farmacológico. A conservação deste recurso vinculase e beneficia-se da preservação do conhecimento sobre seus usos. A exploração de ambientes naturais para obtenção de plantas medicinais vai depender do livre acesso a estes ambientes, bem como do seu grau de integridade. 93 Nos últimos anos, houve um aumento expressivo no uso de ervas e outras plantas medicinais e que, apesar do assunto vir recebendo ampla cobertura na imprensa, ainda é grande o número de publicações leigas, muitas vezes não críticas e não comprovadas. Nas publicações da Organização Mundial de Saúde é sempre possível encontrar recomendações para que seja garantida a segurança do uso de plantas medicinais e remédios derivados delas, com medidas eficazes de controle e esforço em informar o público e na educação profissional. A alta diversidade na utilização de plantas por parte das populações estudadas sugere a capacidade de manejo sustentado da Mata Atlântica por essas populações, com grandes possibilidades de implantação de atividades extrativistas, especialmente o cultivo de plantas medicinais. Não foi verificado por parte dos que praticam a coleta das plantas medicinais um sistema de atividade que se constitua num extrativismo intenso prejudicial à conservação da natureza. Considerando que estas áreas têm proporções bem menores nas regiões de Mata Atlântica, ainda assim esta experiência poderia ser utilizada como uma possibilidade a ser implementada junto às populações da Mata Atlântica, com pequeno impacto na conservação florística e estrutural da vegetação. PETERS (1992) em seu trabalho sobre os sistemas extrativistas ressalta as possibilidades de manejo com técnicas bastante simples, como o transplante de plântulas ou dispersão de sementes para áreas adjacentes. As diversas espécies coletadas, ou ainda espécies nativas que são cultivadas em quintais, para fins alimentares sugerem possibilidades extrativistas e de cultivo para essas populações. 94 V. CONCLUSÕES Sendo um estudo acadêmico, os resultados da dissertação podem vir a ser apropriados pelo interesse privado. Imaginou-se relacionar ou listar as plantas inventariadas, mas não “endereçá-las” efetivamente para proteger este recurso, ainda mais se tratando de plantas que também ocorrem dentro da área de uma Unidade de Conservação. A metodologia usada foi proveitosa em termos de registros de observações locais e de entrevistas. Foram confirmadas as hipóteses de que toda a área pesquisada é caracterizada por uma grande riqueza em plantas medicinais. A ocorrência atual dessas plantas é maior na área do Parque em razão de sua proteção por lei e comparativamente menor nas áreas a ele vizinhas, porém ainda bastante significativa. À derrubada das matas e sua substituição por pastagens e ao avanço da urbanização estaria ligada uma diminuição na ocorrência das plantas medicinais nas áreas do entorno levando a uma modificação cultural pela perda ao longo do tempo dos costumes tradicionais. O "saber" das diversas comunidades sobre o assunto é comum. Tal "saber" é antigo, o que se pode depreender das entrevistas. Contribuem também para esta proporção os hábitos herdados dos parentes mais velhos. Os informantes, cujo perfil etário é em geral de idosos ou de média idade, encontram dificuldades para passar o seu saber através das gerações, em tradição oral. O uso popular das plantas medicinais suplanta o uso dos "remédios de farmácia" e é diretamente proporcional ao nível econômico da população entrevistada. Pode-se concluir que essas pessoas que sabem "onde" estão as plantas e "como" devem ser coletadas, estão contribuindo para a preservação da biodiversidade do PNI e suas áreas de Entorno, por este conhecimento estar restrito a alguns poucos. Nas zonas investigadas no Entorno do PNI, o 95 fabrico dos remédios extraídos das plantas medicinais e a sua venda são mesmo recomendados para a sustentação econômica dos seus moradores. Um estudo Etnobotânico mais aprofundado do PNI demandaria um tempo muito superior àquele de que dispomos para a sua investigação. Sugerimos que cada uma das áreas de amostragem daria por si própria uma pesquisa em separado sobre o assunto da Etnobotânica, graças à riqueza de informações que contêm. Assim, este campo de trabalho e o assunto investigado não foram de modo algum esgotados.. Considerando que os países pioneiros na criação de unidades de conservação estabeleceram a tradição de que dentro das mesmas não cabia a presença do ser humano. Porém, a situação encontrada em países em desenvolvimento, como o Brasil, obriga-se a examinar com maior profundidade a relação entre o homem e o meio em tais áreas. Para entender melhor a questão das populações tradicionais é fundamental entender que sua cultura está intimamente relacionada com a natureza e com a estratégia adotada para o uso e manejo dos recursos naturais. Sendo esse conhecimento transferido de geração em geração, a coleta das plantas reputadas regionalmente como medicinais não tem depredado a flora, em virtude do modo como ela vem sendo realizada. Essas populações têm relação profunda com o ambiente em que vivem, porque dele são extremamente dependentes. Seu modo de vida define-se por seu trabalho autônomo, por sua relação com a natureza e pelo conhecimento que conservam através da tradição. A relação entre as populações tradicionais e o meio ambiente é positiva quando há possibilidade de manter-se o progresso humano, de maneira permanente até um futuro longínquo. Trata-se, portanto, de apoiar e assegurar um desenvolvimento econômico sustentável. O desenvolvimento destes projetos exige em primeiro lugar a organização social das populações para que o processo seja plenamente participativo e as comunidades 96 estejam engajadas e responsáveis pela conservação dos recursos naturais nas áreas em que vivem. As populações locais, utilizando a educação ambiental, podem estar engajadas em três atividades fundamentais para a proteção do meio ambiente: o Monitoramento Ambiental, o Manejo e na Fiscalização. Nas últimas décadas a criação de Parques e Reservas tem sido uma das principais estratégias para a conservação da natureza. Na realidade, essas áreas, conhecidas como Unidades de Conservação, se colocam como ilhas de preservação de grande beleza cênica. A legislação brasileira que cria os parques e reservas em áreas já ocupadas com populações tradicionais prevê a transferência dessas pessoas, gerando conflitos graves e causando uma série de problemas éticos, sociais, econômicos, políticos e culturais. V.1. Recomendações Finais Esperamos que a publicação do presente trabalho contribua com elementos científicos inéditos e que esses resultados sirvam para subsidiar a formulação de políticas locais de saúde públicas (municípios envolvidos na área pesquisada). No Monitoramento Ambiental, as pessoas que moram no local, desde que capacitadas, são as mais indicadas para acompanhar o que está acontecendo com o meio no qual vivem. É legítimo também que atuem eles próprios como fiscais dessas áreas, uma vez que eles vivem de tais recursos. Experiências muito positivas estão sendo feitas, como na APA da Serrinha do Alambari, Resende/RJ. São medidas aconselháveis já apontadas também em outros trabalhos e que podem ser desenvolvidas na região estudada: 97 - Criar mais áreas protegidas como Parques e Reservas, preservando o habitat natural das espécies selvagens; - Respeitar e preservar os povos que vivem em florestas ou em outras áreas naturais, sobretudo respeitando as culturas nativas; - Regulamentar o desmatamento e a caça e proibi-los totalmente; - Regulamentar o uso do “banco genético” das espécies biológicas, de forma a proteger a biodiversidade; - Apoiar organizações não-governamentais que trabalham para a preservação da biodiversidade; - Apoiar a formação de pessoal para pesquisa em Etnobotânica dentro da comunidade científica e a formação de equipes com o pessoal de dentro da comunidade, interessados na preservação da flora local e do conhecimento tradicional; - Formar grupos em que os estudantes universitários trabalhassem em colaboração com os jovens do local na coleta de informações etnobotânicas entre os mais velhos.. A idéia é, portanto, revitalizar e valorizar o saber local com os jovens, que são os primeiros a abandona-lo em favor de ideologias externas. A partir daí, podem-se desenhar linhas de ação em várias direções, com a participação da comunidade na gestão dos recursos terapêuticos; - Fazer cumprir a legislação ambiental vigente. Algumas medidas práticas podem incluir o cultivo agronômico in loco de espécies nativas medicinais para comercialização. A otimização do receituário, o preparo e posologia dos “remédios de planta” (baseando-se nos resultados de pesquisas farmacológicas e de ensaios clínicos e toxicológicos), e a adaptação e adequação das intervenções da biomedicina aos sistemas médicos locais. Cientes do valor do 98 conhecimento tradicional que possuem, os habitantes locais poderão se organizar para reivindicar trocas mais justas. 99 VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB`SABER, A. N. Os Domínios Morfológicos da América do Sul. Geomorfologia, São Paulo, 52: 1-23. 1977. 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