Comunicação de ocorrência de espécies exóticas invasoras INVASÃO BIOLÓGICA DE ÁRVORES DO GÊNERO PINUS NOS CAMPOS DE ALTITUDE DA SERRA DO MAR PARANAENSE Rafael Dudeque Zenni1 1. CONTEXTO A serra do Mar constitui um sistema montanhoso que se estende desde o Espírito Santo até o sul de Santa Catarina, desenvolvendo-se paralelamente a linha de costa as vezes chegando até o contato com o oceano. No estado do Paraná, a serra do Mar separa-se do Atlântico por planícies aluviais com larguras variáveis desde poucos quilômetros até cerca de 50 km (Bigarella, 1978). Localizada na região de domínio da Floresta Ombrófila Densa (floresta atlântica), a região das serras do Ibitiraquire, da Baitaca e da Graciosa, apresentam as maiores elevações da serra do Mar no Paraná e mesmo no Brasil Meridional (Maack, 2002), constituindo uma barreira natural para os ventos alísios regularmente provenientes de sudeste. Registram-se períodos de até vários dias de neblina intensa ou camada de estratos (“mar de nuvens”) entre 1.000 e 1.200 m de altitude. Um vento alísio sudeste forte, pode impelir as nuvens até o planalto de Curitiba, quando ocorrem chuvas orográficas nas duas regiões. Disto compreende-se que a vegetação florestal apenas sobrevive nesse relevo movimentado, favorecida como é pela atual condição climática com índices pluviométricos mensais de 3.000 – 5.000 mm e temperatura média de 10º C para o mês mais frio (Bigarella, 1978). Os campos de altitude são formações herbáceo-arbustivas existentes em ambientes altamente restritivos em altitudes acima de 1.200 m, habitados por espécies com elevado grau de especialização que pertencem, em sua maioria, às famílias Poaceae e Cyperaceae. Entre as espécies endêmicas dos campos de altitude cabe citar Drosera montana, Tabebuia catarinensis e Chusquea pinifolia (Tramujas, 2000). A fitofisinomia da vegetação campestre altomontana é caracterizada pela presença de ervas como Polygala subverticilada Chodat e Baccharis platypoda DC., da caratuva Chusquea pinifolia (Nees) Nees, da insetívora orvalhinha Drosera montana St. Hil. (espécie seletiva heliófita e higrófita, bastante rara, mostrada na foto ao lado) e de arvoretas como o ipê-da-serra Tabebuia catarinensis A.H. Gentry. Todas são espécies endêmicas e altamente adaptadas ao ambiente particular da serra (Struminski, 2001; Tramujas, 2000). Estima-se que apenas na serra do Ibitiraquire exista 500 ha de refúgios vegetacionais altomontanos nas formações herbácea e arbustiva, destacando-se como um ambiente de serranias com alto valor ecológico e turístico, e, extremamente frágil (Tramujas, 2000). A Serra do Mar está distante cerca de 50 km a leste de Curitiba. Seguindo pela rodovia BR-116 no sentido São Paulo pode-se observar a serra no lado direito, está inserida nos municípios de Morretes e Campina Grande do Sul. A conservação de porções desta serra está garantida pela presença de algumas unidades de conservação tais como os Parques Estaduais do Pico Paraná, do Agudo da Cotia, Roberto Ribas Lange, Serra da Baitaca, da Graciosa e da Área de Relevante Interesse Turístico do Marumbi (a ser recategorizada em Área de Proteção Ambiental 1 Acadêmico do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná. [email protected] da Serra do Mar). Porém, estes esforços ainda são insuficientes para garantir a conservação da totalidade deste ambiente uma vez que estas unidades de conservação não abrangem a área necessária para isto e carecem de planos de manejo e implantação efetiva. Atualmente, os refúgios vegetacionais altomontanos, ou simplesmente campos de altitude, da Serra do Mar, estão ameaçados pela invasão de árvores exóticas do gênero Pinus, oriundas de plantios ornamentais e comerciais próximos a esta serra. Observa-se que pelo menos 15 das quase 40 elevações existentes nesta serra já tem invasão em seus cumes e/ou encostas, sendo que 3 destas elevações (Camapuã, 1.713 m snm, Camacuã, 1.596 m snm, e Itapiroca, 1.805 m snm) estão em situação crítica tanto pelo número de árvores invasoras quanto pelo porte destas árvores. Dada sua origem no hemisfério norte, em regiões de clima temperado, os indivíduos de Pinus são extremamente resistentes a ambientes adversos. Toleram solos muito rasos, secos ou encharcados, com baixa fertilidade natural. E é isso que faz do gênero Pinus uma ameaça aos campos de altitude e a outros ecossistemas naturais abertos. Observa-se que as espécies exóticas invasoras da serra do Ibitiraquire são Pinus taeda e Pinus elliottii as quais, em conjunto com outras cinco espécies de Pinus, são consideradas pelo programa internacional sobre espécies exóticas invasoras da ONG The Nature conservancy como as espécies invasoras deste gênero mais problemáticas do mundo (TNC, 2001). Tais fatos conferem ao gênero Pinus o título de o mais problemático exótico invasor do mundo (Bechara, 2003). Este processo de invasão tende a causar inestimável perda de biodiversidade endêmica (nos âmbitos da variabilidade genética e do número de indivíduos na população), transformações no regime hídrico dos topos das montanhas e conseqüente diminuição da disponibilidade de água para os córregos e rios abastecidos, erosão do solo em função do sombreamento e da conseqüente eliminação da vegetação, perda de valor cênico com reflexos no turismo da região das montanhas e, possibilidade de dispersão das sementes a locais cada vez mais remotos, aumentando exponencialmente a gravidade e a extensão do problema. Neste contexto, é preciso colocar em prática o conhecimento técnico existente sobre invasões biológicas no intuito de criar exemplos positivos de ações que possam contribuir com a conservação da serra do Ibitiraquire e servir de referência à gestão de áreas naturais. 3. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA BECHARA, F. C. Restauração ecológica de restingas contaminadas por Pinus no parque florestal do Rio Vermelho, Florianópolis, SC. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2003. 125 p. BIGARELLA, J. J. A serra do Mar e a porção oriental do estado do Paraná... um problema de segurança ambiental e nacional. Secretaria de estado do planejamento. Curitiba, 1978. 248 p. MAACK, R. Geografia física do estado do Paraná. 3 ed. Imprensa Oficial. Curitiba, 2002. 440 p. RICHARDSON, D. M., HIGGINS, S. I. Pines as invaders in the southern hemisphere. In: RICHARDSON, D. M. (ed.) Ecology and biogeography of Pinus. Cambridge University Press. Cambridge, 1998. p. 450 – 473. STRUMINSKI, E. Parque Estadual Pico do Marumbi. Ed. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2001. 185 p. TNC – The Nature Conservancy. TNC Weeds list. Disponível em http://tncweeds.ucdavis.edu/survey/wlist.html. Local indefinido, 2001. Arquivo capturado em 5 de janeiro de 2002. TRAMUJAS, A. P. A vegetação de campos de altitude na região do Ibitiraquire – serra do Mar – municípios de Antonina, Morretes e Campina Grande do Sul, PR. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2000. 62 p.