Tratamento dos Hemangiomas Planos pelo Uso do Laser de Argônio

Propaganda
Artigo Original
TRATAMENTO DOS HEMANGIOMAS PLANOS
PELO USO DO LASER DE ARGONIO
Ana Terezinha Guillaumon *
José Mário Siqueira Marcondes Reis * *
Oimitrius Gerge Bozinis .. *
Os autores apresentam um novo tratamento para os
hemangiomas planos pela aplicação local de laser de argônio. Discutem sua indicação, complicações e vantagens.
Unitermos: Hemangioma, Laser
Terapia
INTRODUÇÃO
Os últimos 20 anos têm sido o bêrço do desenvolvimento do laser com sua aplicação à medicina , para o tratamento de patologias de difícil manuseio médico. O seu uso
deixou de ser incipiente e inoperante à medida que a pesquisa médica se ampliou. Atualmente, não se admite uma
unidade de cirurgia ou de pesquisa , que não possua o laser à
mão.
A aplicabilidade do laser vai depender do que se tenciona abordar, tanto em se pensando em profundidade da
lesão, em área superficial, como na ação do laser e região
anatômica abordada(2). Assim sendo, vários tipos de laser
foram desenvolvidos e seu uso está basicamente determinado pela forma em que ele interage com o tecido. A intensidade de radiação do laser de argônio é capaz de produzir
alterações cutâneas pela injúria términa, porém de forma
controlada e precisa.
O presente trabalho visa a apresentação de oito casos
clínicos de pacientes portadores de hemangioma plano de
pele tratados por laser de argônio.
METODOLOGIA
Foram tratados oito pacientes portadores de hemangioma plano em diversas partes do corpo, cuja idade variou
de seis a quarenta e dois anos, sendo seis do sexo feminino e
dois do sexo masculino (tabela I).
O laser de argônio, que emite radiação verde-azul na
região de espectro visível, foi aplicado em uma ou várias sessões dependendo da extensão da área comprometida. Em
sessões semanais, o paciente foi submetido a anestesia local ,
com xilocaína a 1% sem vasoconstrictor, utilizando potência que varia de 1,5W a 2,5W, de acordo com a localização
(face ou outras partes do corpo) e aspecto da lesão (mais ou
menos profunda), em áreas de no máximo 10 cm de extensão.
A técnica de utilização consiste na aplicação do laser
em modo contínuo, com incidência normal sobre a pele. O
laser foi conduzido até o local da lesão median te fibra ótica de
400 microns de diâmetro e sistema de focalização (caneta)
com foco mínimo de um milímetro. A radiação ,assim descrita foi aplicada por varredura sobre o hemangioma em linhas paralelas deixando espaços regulares entre elas coinciden tes com o tamanho do foco (tabela Il).
O acompanhamento do paciente após a laser terapia
foi realizado ambuiatorialmen te. U Zlspeclo da lesão evoluiu
para uma placa necrótica com di screta secreção, cuja higiene local com antissépticos resolveu o processo. Após esse
período a placa se soltou espontaneamente , apresentando
pele de aspecto cicatricial normal.
DESCRIÇÃO DA LESÃO
Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.
ProL Assistente da Disciplina de Moléstias Vasculares Periféricas do Depto. de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade Es taduaJde Campinas,
Doutor em Medicina pela Fac. Medicina da Universidade
Estadual de São Paulo
Prol'. Assistente Doutor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas.
CIR. VASCo ANG . 3 (2) : 27, 29,1987
Os hemangiomas são considerados deformidades vasculares congênitas devido ao crescimento desordenado de
vasos da derme(8, 10) que tendem a aumentar rapidamente
nos primeiros seis meses'de vida e depois estabilizam ou
evoluem.
A literatura tem várias publicações com referências a
diferentes classificações dessas lesões vasculares cutáneas(8, 11, 12, 15, 16, 17 , 19).
Uma recente classificação( 13) se baseou nas características endoteliais, pelo aumento da atividade mitótica celular.
27
Ana Therezinha Guillaumon e cals.
A classificação por nós admitida consiste nos critérios
clínicos ao exame da lesão.
MECANISMO DE AÇÃO DO LASER
As lesões vasculares (hemangiomas) contêm hemoglobina que possui pigmento vermelho. Esta absorve seletivamente a luz do laser de argônio, convertendo-a ein calor que
resulta no efeito da fotocoagulação da derme superficial.
Histopatologicamente, os hemangiomas tratados por
láser demonstram obliteração do vaso ectasiado numa profundidade de 1 mm da derme, com reposição de fibra co1ágena e reconstituição "ad integrum" da pele. Como os anexos da pele, glândulas sebáceas e folículos pilosos, são mais
resistentes ao laser, a área tratada resulta em regeneração
praticamente integral.
DISCUSSÃO
o laser usado para tratamento de hemangiomas planos de pele foi o de argônio(2, 5, 7, 18). Este, como se sabe
é absorvido mais intensamente pelo sanêle, pela cor vermelha da hemoglobina oxigenada presente(9), tendo penetração superficial na pele. Dessa forma, sendo os hemangiomas
estruturas hiperirrigadas devido ao crescimento desordenado e abundante dos vasos, a ação do laser é bástante satisfatória.
Os pacientes tratados com o laser de argônio apresentaram quadro característico de queimadura superficial, com
evolução para cicatrização por uma crosta d(~ exsudatos(l4).
Esta, após 15 dias foi se soltando espontaneamente, apre-
Laser em hemangiomas
sentando por baixo pele do tipo tecido cicatricial, com eritema discreto. Após período de seis meses, encontramos os
pacientes com pele de aspecto normal, sem cicatrizes visíveis, com alteração de pele quase imperceptível, com boa
regeneração(l, 5,14).
As complicações que encontramos após aplicação
de laser estão apresentadas na tabela In e foram facilmente contornadas, concordando com os dados da literatura(3, 4, 7).
Noe e cols (14) discutem fatores que influenciariam
nos resultados, como idade dos pacientes, área de hipervascularização da pele, área do vaso principal e a porcentagam de eritrócitos.
Verificamos em nossa casuística que os bons resultados vão depender principalmente do aspecto clínico da lesão e sua profundidade de acometimento tendo em vista o
alcance do laser de argônio, o que vai nos ditar a potência a
ser usada. Quanto à cor da lesão, notamos que quanto mais
intenso o vermelho, melhor é absorvido o laser e portanto
menor potência precisamos usar. Dessa forma, a potência
vai ser definida pelo aspecto clínico da lesão em relação a
.profundidade e cor, conjuntamente.
A laser terapia é um tratamento inócuo do ponto de
vista de complicações funcionais, apresentando apenas alterações locais e estéticos-cicatriciais, que não repercutem na
opção da escolha desse tratamento, tendo em vista ser este
o único recurso para a resolução dessa patologia(6). O
acompanhamento dos pacientes f~i feito por período de
nove a dez meses. Embora tenha sido curto, apresentou
conclusões que nos estimulam a continuar sua aplicação.
(fig. 1, 2, 3 e 4).
Fig I - Paciente A.Hemagioma de face esquerda.
Aspecto da lesão,
Fig.2 -Paciente A.Aspecto macroscópico da lesão pós aplicação de
laser.
Fig . 3 ·Paciente B. Hemangioma de face direita Aspecto macrmcópico
da lesão,
FigA . Paciente B. Aspe ct o macroscópico da lesão pó s aplicação dt
laser.
28
CIR . VASCo ANG. 3 (2) : 27 , 29, 1987
Ana Therezínha Guí/laumon e cols.
FAIXA ETÁRIA
Laser em hemangíomas
NC! DE PACIENTES
SEXO
MASC.
FEM.
POTÊNCIA DE
LASER
FOCO
APROX.
ENERGIA TOTAL PI
UNIDADE DE ÁREA
1 a 2mm
2.5 joulesl cm 2
-
10
Dl
Dl
_.
11
-
20
02
-
02
21
-
30
03
01
02
31
-
40
01
_.
01
Infecção local
Dl
+ 40
01
-
01
Cicatriz hipertrófica
Dl
08
02
06
Cicatriz hipercromica
(l I
O
TOTAL
1.5 A 2.5W
Tab. 2 - Parâmetros utilizados no tratamento.
Nl? PACIENTES
COMPLICAÇÕES
03
TOTAL
Tab. 1. Faixa etária e sexo dos pacientes submetidos a tratamento.
Tab. 3. - Complicações da terapia por laser.
,
SUMMARY
8.
The authors present results of port wíne hemangíoma
treatment usíng argon laser ín eíght pacíents. They díscuss
the Indícatíons, are díscussed complícatíons are presented
and the ímportance of thís new theraphy ís emphasízed.
DE TAKATS, G - Vascular anormalities ofthe extremities.
Surg Gynecol Obstet, 55 : 227,193 2.
9.
GOLDMAN L - The argon laser and the port wine
stain - Discussion. Plast Reconstr Surg,: 137, 1980.
10.
INNES FLP .- Classifications of hemangioma.
Br J. Plast Surg, 6 :76, 1953.
11.
MALAN E - Vascular mal formations (angiodysplasias).
Carlo Erba Foundation, p. 20, 1974.
12.
MARGILETH AM - Developmental vascular abnoumalities. Pedriatr Clin Borth Am., 18: 773, 1975 .
13.
MULUKENJB,GLOWAKI J - Hemangiomas and vascular malformations in infantis and children. A classification based em endothelial characteristics.
Plast Reconstr Surg, 69: 412, 1082.
14.
NOE JM, BARSKY SN, GREEN DE - Port wine
stains and the response to argon laser theraphy.
Successful treatment and the predictive role of color,
age and biopsies.
Plast Reconstr Surg, 65 : 130, 1980.
15.
VIRCHOW R - Angione. In Die.
Krankhaften Geschwiilste Berlin : August Hirschwald,
voI. 3, p. 306, 1983.
16.
WATSON WL & MC.CARTHY WD - Blood and
lymph vessel tumors : a report of 1056 cases.
Surg Gynecol Obstet, 71: 569, 1940.
17.
WEGNER G - Ueber lymphangiome.
Arch Klin Cir, 20:641, 1877.
18.
WESTON J , APFELBERG DB, MASER MR, LAS H H
- Laser Üeatment of hemangiomas and other cutaneous vascular lesions.
Vascular Diagnosis & Theraphy, may/june , 1983.
19.
WILUAMS HB - Vascular neoplasias.
Clin Plast Surg, 7:397, 1980.
Uníterms: port wíne hemangíoma, Argon laser.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
APFELBERG DB, MASER MR, LASH H - Extented
clinical use of the argon laser for cutaneous lesions .
Arch Dermatol, 115 : 719, 1979.
2.
APFELBERG DB, MASER MR, LASH H, RIVERS S
- The argon laser for cutaneous lesions.
JAMA, 245 :2073,1981.
3.
APFELBERG DB, MASER MR, LASH H, FLORES
JT - Expanded role of the Argon laser in plastic
surgery.
J Dermatol Surg Oncol, 9(2): 145,1983.
4.
APFELBERG DB, FLORES JT, MASER MR, LASH
H - Analysis of complications of argon laser treatment for port wine hemangiomas with reference to
stripped technique laser.
Surg Med, 2: 357,1983.
5.
APFELBERG DB, MASER MR, LASH H - Review
of usage of argon and carbon dioxide lasers for pediatric hemangioma.
Ann Plast Surg, 12(4):353, 1984.
6.
ARNOT KA, NOE JM - Lasers in dermatology .
Ar.ch Dermatol, 118 : 293,1982.
7.
COSMAN B - Experience in the argon laser therapy
in port wine stains.
Plast Reconstr Surg, 65 : 119, 1980.
CIR . VASCo ANG . 3 (2) : 27 , 29,1987
29
Download