- HA LUGAR PARA OS ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DA ANGIOTENSINA II? Médica, especialista em Medicina Interna, professora associada convidada da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, (onde rege Terapêutica Geral), coordena a Unidade Funcional de Insuficiência Cardíaca do Hospital de S. Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, o secretariado do Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e o projecto EPICA (Epidemiology of Heart Failure in Portugal). Como investigadora principal ou co-investigadora, colabora actualmente, no Hospital de São Francisco Xavier, nos seguintes estudos multicêntricos internacionais de terapêutica em insuficiência cardíaca: PRIME II, ATLAS; CIBIS II, COMET, CHARM, PORTLAND, LEVICARD, EPHESUS, IPRESERVE, DILLIPO, EMPHASIS. A insuficiência cardíaca (IC) uma síndrome com elevados custos humanos, sociais e económicos. Tem elevada prevalência na Europa, Estados Unidos da América do Norte e Austrália e Nova Zelândia, atingindo em Portugal 4,36% da população adulta1. A presença de co-morbilidade e de múltiplos factores de risco é muito frequente: hipertensão arterial, doença das artérias coronárias, diabetes mellitus, insuficiência renal crónica, doença pulmonar crónica obstructiva, anemia.2 A IC é responsável pelo consumo de 1,5 a 2,5% das verbas para a Saúde, sendo geralmente 70% destes gastos devidos ao internamento hospitalar. Apesar dos progressos registados nos últimos anos, mantêm-se elevadas a mortalidade por IC, a incapacidade e a taxa de re-hospitalização: um em cada cinco dos doentes é re-hospitalizado, no primeiro ano após o primeiro internamento. A educação da população e da equipa de Saúde para a prevenção e para o tratamento desta afecção são fundamentais para modificar este cenário3. Na panóplia de medidas gerais, farmacológicas, cirúrgicas, protésicas e outras, actualmente existentes para a prevenção e o tratamento da IC, haverá lugar para os antagonistas dos receptores AT1 da angiotensina II (ARA II)? Consideremos em primeiro lugar algumas definições (Quadro I, Fig.s 1 e 2).1,3,4 Com estes dados em mente, abordaremos os pontos seguintes: Papel dos ARA II na prevenção da IC Está assente que os ARA II têm efeito benéfico no 67 68 tratamento da hipertensão arterial, da diabetes mellitus e da síndrome metabólica, três importantes factores etiológicos e de risco de IC. Provavelmente será um efeito de classe, passível de ser obtido com qualquer ARA II, utilizado em dose eficiente.3,4-6 No que se refere à doença das artérias coronárias, outro importante factor etiológico e de risco de IC, existe alguma controvérsia sobre a terapêutica com ARA II e o risco de enfarte do miocárdio (v. a seguir). Todavia, foi demonstrado que o valsartan é tão eficiente como o captopril na redução do risco de progressão da disfunção ventricular esquerda após enfarte agudo do miocárdio (estudo VALIANT).3,4 Papel dos ARA II no tratamento da insuficiência cardíaca crónica (ICC) com função sistólica preservada Não existem Recomendações definidas para o tratamento desta forma de IC. Todavia, dois factos, pelo menos, apoiam a utilização de ARA II no tratamento destes doentes: 1. As causas de ICC com função sistólica preservada são, na grande maioria dos casos, a hipertensão arterial, a doença coronária com história prévia de enfarte do miocárdio e a diabetes mellitus, entidades em cujo tratamento os ARA II têm papel comprovado; 2. No estudo CHARM - braço função sistólica preservada, foi demonstrado que o tratamento com candesartan esteve associado a redução da hospitalização por ICC (bem como a redução da diabetes mellitus de novo).7 - - - Fátima Ceia - APONTAMENTOS SOBRE A PREVENCAO E O TRATAMENTO DA INSUFICIENCIA CARDIACA TEXTO_ Fátim a Ceia Assim, os ARA II poderão ser considerados como fármacos de primeira linha no tratamento dos doentes com IC e função sistólica preservada, ao lado dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina (inibECA). Devemos ter em conta que: - A ocorrência de efeitos adversos com os ARA II é menor, mas o seu custo é mais elevado; - O único ARA II que foi estudado em grande estudo aleatorizado, com dupla ocultação, controlado contra placebo, com resultados positivos na IC com função sistólica preservada e, assim, citado nas Recomendações, é o candesartan.3 Estão a decorrer grandes estudos multicêntricos aleatorizados com dupla ocultação com outros ARA II, por exemplo o irbesartan (estudo I-PRESERVE). Papel dos ARA II no tratamento da ICC com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo São conhecidos os resultados de estudos com desenho rigoroso que demonstraram o benefício de vários inibECA (captopril, enalapril, lisinopril, ramipril, trandolapril) no tratamento dos doentes com IC e disfunção sistólica ventricular: aumento do tempo de sobrevida, redução da rehospitalização. Para obter estes resultados, é necessário titular cuidadosamente as doses dos fármacos, com o objectivo de atingir a dose mais elevada que o doente tolere, de acordo com os vários estudos. Os inibECA são reconhecidos pelas Recomendações Europeias e Americanas como fármacos de primeira linha no tratamento de todos os estadios e classes da IC com disfunção sistólica do VE (Fig.s 1 e 2).3,4 Admite-se que se trate de um efeito de classe, embora nem todos os inibECA tenham sido estudados nesta forma da afecção. Recentemente, o estudo CHARM veio demonstrar que o candesartan, na dose-alvo de 32 mg/dia, teve efeitos benéficos na redução da morte cardio-vascular e da hospitalização no tratamento de doentes com IC e disfunção sistólica do VE, nas classes II a IV da NYHA, intolerantes ao inibECA por tosse.8 Foi também demonstrado que a adição de candesartan à terapêutica convencional desta forma de ICC (com inibECA, diurético, bloqueador adrenérgico e espironolactona, em 17% dos casos) se acompanhou de melhoria sintomática adicional e de redução da hospitalização nos doentes sintomáticos com ICC por disfunção sistólica do VE.9 Assim, a revisão de 2005 das Recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia3 incluiu o candesartan como fármaco de primeira linha a utilizar no tratamento dos doentes com IC por disfunção sistólica do VE intolerantes ao inibECA, nas classes II a IV, (Fig. 1). Considera-se também como lícita a associação do candesartan ou do valsartan à terapêutica convencional com diuréticos, inibECA, bloqueador adrenérgico e digoxina no tratamento dos doentes que se mantêm sintomáticos, numa tentativa de melhorar a sintomatologia, reduzir o risco de re-admissão hospitalar e a mortalidade (candesartan) (Fig. 1, Quadro II).3-5,10 - Titulação de dose, com vigilância da pressão arterial (em posição deitada e de pé), da função renal e da caliemia (sobretudo em doentes já com compromisso funcional do rim e nos diabéticos); - Manter o doente bem hidratado; - Considerar a retirada ou a redução de dose de eventual terapêutica concomitante hipotensora e/ou causadora de hiponatremia (nitratos, diuréticos, espironolactona); 3. Devemos estar atentos às interacções medicamentosas. Terapêutica com ARA II e enfarte agudo do miocárdio (EAM) Existe alguma controvérsia sobre a terapêutica com ARA II e EAM. Terapêutica farmacológica da IC com ARA II: cuidados a ter (v. Quadro II)10 Papel dos ARA II no tratamento dos doentes com EAM e IC: É facto assente que os IECA são indispensáveis no tratamento dos doentes com EAM e IC (estudos: SAVE, com captopril, CONSENSUS II, com enalapril, GISSI, com lisinopril, TRACE, com trandolapril e AIRE, com ramipril). No que se refere aos ARA II, o estudo VALIANT foi o primeiro grande estudo a demonstrar que o valsartan produz efeitos benéficos idênticos aos do captopril na redução da mortalidade e da morbilidade cardio-vascular nos doentes com EAM e IC. Assim, o valsartan está claramente recomendado no tratamento destes doentes, quando intolerantes ao IECA, por tosse.10 1. Os ARA II têm as mesmas contra-indicações dos IECA: gravidez, estenose bi-lateral da artéria renal, angioedema; 2. Devem ser iniciados com os mesmos cuidados utilizados com os inibECA: Tratamento com ARA II e risco de EAM: Numa meta-análise recentemente publicada, foram revistos os resultados de 19 estudos que incluiram um total de 31.569 doentes com patologia diversa, condicionando risco aumentado de EAM (hipertensão arterial, nefropatia, diabetes mellitus, ICC, enfarte do miocárdio e doença coronária).11 Não se verificou qualquer tendência no sentido de um aumento ou redução do risco de EAM associado à terapêutica com ARA II (losartan, valsartan e candesartan). Podemos, portanto, concluir que, à luz do conhecimento actual, os ARA II mencionados pdem ser utilisados nas respectivas indicações, sem evidência de risco aumentado de EAM. Terapêutica farmacológica da IC com ARA II e diabetes mellitus Para além de ser um dos factores de risco/etiológicos da IC, a diabetes mellitus tem elevada prevalência na ICC (25 a 45%, consoante os estudos). É também um factor de mau prognóstico quanto ao tempo de vida e quanto ao risco de hospitalização repetida.12 Existe actualmente um corpo de evidência que aponta para a vantagem da utilização dos IECA ou dos ARA II na prevenção do início da diabetes nos doentes com IC, bem como no retardar da evolução da doença cardiovascular generalizada, nomeadamente no que se refere à insuficiência renal, estadio terminal comum à diabetes, à hipertensão arterial e à ICC.13 Não existem dados que permitam considerar que os ARA II até agora estudados sejam superiores aos IECA, sendo de considerar, mais uma vez, a relação melhor tolerabilidade-custo mais elevado, no que se refere aos ARA II. Terapêutica farmacológica com ARA II e fibrilhação auricular Fig. 1 ESTADIO A Risco elevado para IC, mas sem doença cardíaca estrutural ou sintomas de IC ESTADIO B Doença cardíaca estrutural mas sem sintomas de IC ESTADIO C Doença cardíaca estrutural com sintomas de IC actuais ou prévios ESTADIO D IC refractária requerendo intervenções especializadas Exemplos: HTA Aterosclerose Diabetes Obesidade Síndrome metabólica Cardiotóxicos Hist. Fam. CM Exemplos: EM prévio Remodelagem VE Incl. HVE e FEVE Doença valvular assintomática Doença cardíaca estrutural e Dispeneia, cansaço, menor tolerância ao esforço Doentes com sintomatologia intensa em repouso apesar da terapêutica optimizada Re-hospitalização frequente ou impossibilidade de alta segurança TERAPÊUTICA - Tratar a HTA - Cessar hábitos tabágicos - Tratar as alterações lipídicas - Praticar reg. exercício físico - Parar o cons. de drogas e álcool - Contr. Síndrome metabólica - Tratar com inibidor da ECA ou ARA II os doentes adequados * TERAPÊUTICA - Todas as medidas preconizadas para o Estadio A - Restrição de Na na dieta - Medicam. para uso rotineiro: • Diuréticos • Inibidores da ECA • Bloqueadores ßadrenérgicos - Medicam. em doentes seleccionados: • ARA II • Antagonistas da aldosterona • Pacing biV - CDI TERAPÊUTICA - Todas as medidas preconizadas para o Estadio A, B e C - Decisão do esquema de tratam. apropriado - Dispositivos de assistência ventricular mecânica - Tx cardíaco - Perfusão inotrópico p/ paliação - Cirurgia ou fármacos exp. - Centros especializados em cuidados paliativos Terapêutica farmacológica na ICC com disfunção sistólica ventricular, segundo a classe funcional da NYHA e os objectivos a atingir (Recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia, revisão de 2005, adapt. Ceia F, Fonseca C).3 VE: ventrículo esquerdo; inibECA: inibidores da enzima de conversão da angiotensina, ARA : antagonistas dos receptores da angiotensina; EAM: enfarte agudo do miocárdio; BB: bloqueadores adrenérgicos; EM: enfarte do miocárdio. A fibrilhação auricular (FA) é uma disritmia frequente na evolução da hipertensão arterial não 69 TERAPÊUTICA - Todas as medidas preconizadas para o Estadio A - Tratar com inibidor da ECA ou ARA 2 os dt.s adequados */** - Tratar com bloqueador ß-adrenérgico os dt.s adequados *** 70 Quadro I Definição e caracterização da Insuficiência Cardíaca Crónica (Recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia e estudo EPICA) 1,3 Definição INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÓNICA (ICC) Síndrome caracterizada por dispneia, cansaço, intolerância ao esforço, edemas, com resposta positiva à terapêutica instituída para ICC * A síndrome resulta da redução crónica do débito cardíaco e da resposta sistémica a esta redução ** Diagnóstico Clínica compatível , associada a caracterização da disfunção cardíaca em repouso por método de imagem ICC por DISFUNÇÃO SISTÓLICA do VE - Comprovação da disfunção sistólica por método de imagem § ICC com FUNÇÃO SISTÓLICA PRESERVADA - Comprovação de ausência de anomalia valvular, do pericárdio, do coração direito isoladamente ou da função sistólica, com presença de anomalia cardíaca §§ * Inibidores da ECA e diuréticos, com intenção de tratar ICC; ** Sintomas e sinais relacionados com a activação dos sistemas neuro-humorais. § Redução da fracção de ejecção do VE avaliada por ecocardiografia, ventriculografia digital ou ventriculografia com radionuclídeos. §§ Dilatação da AE e/ou aumento da espessura das paredes + dilatação do VE, e/ou aumento do índice de massa do VE. ICC: insuficiência cardíaca crónica; VE: ventrículo esquerdo; AE: aurícula esquerda. Terapêutica farmacológica da insuficiência cardíaca crónica sintomática por disfunção sistólica do VE Para os sintomas Fig. 2 Para sobrevida/morbilidade inibECA, ou ARA, se intol. inibECA antagonista aldosterona, se pós-EAM associar BB se pós-EM NYHA I Reduzir/parar diurético NYHA II +/- diurético dependendo da retenção hídrica inibECA como 1ª linha, ou ARA,se intol. inibECA. associar BB antagonista aldosterona, se pós-EAM NYHA IIII + diurético + digitálico se ainda sintomático inibECA + ARA II, ou ARA, se intol. inibECA. BB Acrescentar espironolactona NYHA IV Diurético + digitálico + considerar suporte inotrópico temporário Continuar inibECA + ARA II ou ARA II + BB + espironolactona Classificação da IC e tratamento segundo os estadios A terapêutica adequada deverá impedir a passagem ao estadio seguinte (ACC/AHA Task Force on Practice Guidelines, 2005).4 HTA: hipertensão arterial; HxCM: história familiar de cardiomiopatia; ARA II: antagonistas dos receptores da angiotensina; EM: enfarte do miocárdio; HVE: hipertrofia ventricular esquerda; FEVE: fracção de ejecção do ventrículo esquerdo; biV: bi-ventricular; CDI: cardioversor-desfibrilhador implantável; Tx: transplante. *Hipertensão arterial+diabetes, síndrome metabólica; ** HVE, disfunção ventricular esquerda assintomática; ***No pós-EM, recomendação de classe I, nível de evidência A; sem antecedentes de EM, recomendação de classe I, nível de evidência C. Orientações para a utilização dos ARA II na prática clínica em doentes com ICC e disfunção sistólica ventricular Quadro II Quadro III RAZÕES PARA PRESCREVER ARA II Em todos os doentes com ICC e disfunção sistólica ventricular, sintomáticos: Associar ARA II à terapêutica convencional, incluindo inibECA. Valsartan e candesartan: melhoria da classe funcional, da qualidade de vida e redução da re-hospitalização – estudos Val-Heft e CHARM. Candesartan: redução da mortalidade – estudo CHARM alternative e CHARM added) Nos doentes sintomáticos, com ICC e disfunção sistólica ventricular, intolerantes a inibECA: Associar candesartan à terapêutica convencional (estudo CHARM: redução da re-hospitalização+mortalidade e melhoria da classe funcional). Na ICC pós EAM agudo: ver texto A QUEM PRESCREVER E QUANDO Potencialmente,a todos os doentes com ICC sintomática Como 1ª linha (associado a bloqueador adrenérgico): nos doentes nas classes II a IV da NYHA, intolerantes a inibECA (por tosse) Como 2ª linha (após optimização da dose de inibECA e de bloqueador adrenérgico*): nos doentes com ICC e disfunção sistólica ventricular nas classes II a IV da NYHA Contra-indicações: Estenose bilateral da artéria renal conhecida, gravidez, alergia Precauções: K > 5,0 mmol/l Creatininemia > 2,5 mg/dl Hipotensão arterial sintomática ou assintomática mas intensa (PAs < 90 mm Hg) ver a seguir, Resolução de problemas frequentes Interacções medicamentosas e outras que requerem atenção: Diuréticos poupadores de K, espironolactona, eplerenona, inibECA, AINEs** Suplementos orais de K, substitutos do sal ricos em K. QUE ARA II PRESCREVER, em que doses Dose de início Candesartan 4 a 8 mg/dia (toma única) Valsartan 40 mg bid Dose-alvo 32 mg/dia (toma única) 160 mg bid COMO PROCEDER Iniciar com dose baixa Subir de 2/2 semanas até à dose máxima que o doente tolerar Monitorizar a pressão arterial e os sintomas Monitorizar creatininemia, K (uma a duas semanas após iniciar, uma a duas semanas após atingir a dose máxima tolerada). Avisar o doente para não tomar AINEs ou substitutos do sal ricos em K e para falar com o médico ou com a enfermeira responsável antes de alterar a terapêutica RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS FREQUENTES Hipotensão assintomática: Habitualmente não requer redução da dose do fármaco Hipotensão sintomática: Se houver tonturas e/ou estado confusional: ponderar se se podem retirar nitratos***, bloqueadores dos canais do cálcio**** Se não há sintomas/sinais de congestão: reduzir diuréticos Se estas medidas não controlarem o problema, consultar o especialista Agravamento da função renal: É de esperar elevação da ureia e/ou da creatininemia após iniciar ARA II; se for diminuta e na ausêcia de sintomas, é necessário apenas vigiar Aumento da creatininemia até acima de 50% do valor basal ou até 3 mg/dl: aceitável. Aumento da caliemia até ± 5,5 mmol/l: é aceitável. Elevação excessiva da caliemia, ureia, creatininemia: ponderar parar fármacos nefrotóxicos concomitantes (AINEs**), suplementos de K, poupadores de K* e, na ausência de sinais/sintomas de congestão, reduzir diuréticos Se persistir a elevação da creatininemia ou do K, apesar destes ajustamentos, reduzir a dose de ARA II para metade e vigiar os parâmetros laboratoriais; se persistir a alteração ou Se K >5,5 mmol/l e/ou creatininemia > 100% do valor basal ou > 3,5 mg/dl, parar o ARA II e consultar o especialista. Monitorizar com frequência a creatininemia e a caliemia até estabilização dos valores É muito raro ter de parar o ARA II bem como haver uma deterioração clínica após esta paragem. O ideal é ouvir a opinião do especialista antes de parar a terapêutica * Não está estabelecido o grau de segurança na utilização conjunta de ARA II, IECA e espironolactona, pelo que não se recomenda a inibição do eixo renina-aniotensina-aldosterona aos três níveis. ** A evitar, a não ser que seja indispensável; *** Os nitratos estão indicados apenas no tratamento da doença coronária com angina (ou, para alguns autores, mesmo sem angor, dados os seus efeitso benéficos na disfunção endotelial coronária); **** Os moduladores dos canais do cálcio não devem ser prescritos, a não ser que sejam absolutamente indispensáveis (para tratamento de angina ou de hipertensão arterial). Fármaco Dose (mg/dia) Bibliografia Com efeito comprovado na redução da morbi-mortalidade na ICC 3 Candresartan Valsartan 1. Ceia F, Fonseca C, Mota T, Morais H, Matias F, de Sousa A, Gouveia-Oliveira A, on behalf of the EPICA Investigators. Prevalence of chronic heart failure in Southwestern Europe: the EPICA study. Eur J Heart Fail 2002; 4: 531-539. 4 a 32 80 a 320 Outros ARA II * Losartan 50 a 100 Eprosartan 400 a 800 Irbesartan 150 a 300 Telmisartan 40 a 80 Olmesartan 20 a 40 * Com eficácia comprovada no controlo da hipertensão arterial, do metabolismo glucídico e da microalbuminúria (v. texto) (adaptado de Swedberg K e cols,. Guidelines for the diagnosis and treatment of chronic heart failure: executive summary (update 2005) 3 controlada, da diabetes, da ICC e nos idosos. A FA é causa de eclosão e/ou de agravamento da IC, sendo também um importante factor de risco para tromboembolismo, sistémico e pulmonar. Vários estudos demonstram o papel dos ARA II e dos inibECA na prevenção do início da FA em doentes com hipertrofia ventricular esquerda e com ou sem com disfunção sistólica; mais uma vez, não está estabelecido que este efeito seja superior para qualquer uma destas classes de fármacos.14 (adaptado de McMurray e cols) 10 Fátima Ceia 71 2. Moraes Sarmento P, Fonseca C, Marques F, Ceia F. 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