A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NO TRATAMENTO PÓSOPERATÓRIO DE CÂNCER DE MAMA Ana Paula de Mendonça1, Tamiris Duarte1, Filipe Pereira1, Higor Martins1, Viviane Araújo Pires1, Murilo Xavier1 1 UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri/ Departamento de Fisioterapia CEP: 39100-000Fone/Fax: +55 38 3531 1200 email: [email protected] Resumo- O câncer de mama é a maior causa de óbitos por câncer na população feminina. O tratamento, especificamente a mastectomia, resulta em conseqüências emocionais e físicas para as mulheres, requerendo, portanto, um cuidado multiprofissional, onde destaca-se a fisioterapia, principalmente no pósoperatório e no linfedema. O objetivo desse estudo é enfatizar a importância da fisioterapia no tratamento pós-operatório do câncer de mama. A pesquisa consiste em uma revisão de literatura, onde os materiais utilizados foram artigos selecionados dos últimos seis anos, no banco de dados: Medline e Scielo. Os resultados obtidos demonstram que a fisioterapia contribui para a prevenção e diminuição das seqüelas do pós-operatório do câncer de mama, otimizando a inserção destes pacientes na sociedade e proporcionando-lhes melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Câncer de mama, Oncologia, Fisioterapia, Reabilitação, Mastectomia. Área do Conhecimento: Fisioterapia e Terapia ocupacional Introdução O câncer de mama é a maior causa de óbitos por câncer na população feminina no Brasil, principalmente na faixa etária entre 40 e 69 anos. O Brasil deve registrar no ano de 2009 mais 49 mil casos de câncer de mama, mantendo-se estável em relação a 2008. No estado de São Paulo a estimativa é de 15.600 novas ocorrências e na capital cerca de 6 mil (Instituto Nacional do Câncer, 2009). O diagnóstico de câncer de mama é um momento de imensa angústia, sofrimento e ansiedade. Durante a evolução da patologia, a paciente vivencia perdas tanto física como financeiras e sintomas de depressão e diminuição da auto-estima. Dessa forma, se faz necessário adaptar-se a mudanças físicas, psicológicas, sociais, familiares e emocionais ocorridas. (LOTTI, 2008). A fisioterapia tem atuado crescentemente na área oncológica, sendo um dos tratamentos mais adotados, recomendada para melhorar a recuperação física da mulher e diminuir o risco de complicações no período pós-operatório (PO), atuando em diversos casos, como nos relacionados ao sistema músculo-esquelético, tumores de cabeça e pescoço, além do câncer de mama (FERRO, 2004). O tratamento fisioterapêutico é importante durante as fases de quimioterapia e radioterapia, principalmente no processo de sensibilidade do sistema imunológico. No caso do câncer de mama, o grande problema é o esvaziamento ganglionar, ou seja, a retirada dos gânglios linfáticos existentes na axila, o que dificulta a movimentação do braço, principalmente nos movimentos de abdução (BATISTON, 2005). Além disso, pode surgir o linfedema, uma dos principais complicações que consiste em acúmulo de fluido no braço ou no tronco devido a um comprometimento do sistema linfático. Tal acometimento pode ocorrer imediatamente ou muitos anos após o tratamento do câncer, acompanhado de dor, incapacidade e pode predispor os pacientes a risco de vida e complicações. (National Breast and Ovarian Cancer Centre, 2008) Segundo Bohn et al. (1997) as mulheres operadas que fazem fisioterapia após a cirurgia, recuperam a funcionalidade mais cedo, sentem-se mais seguras e apresentam menos dificuldades no processo de reabilitação. Devido ao escasso conhecimento do papel e dos benefícios da fisioterapia nesta área de intervenção por parte de alguns profissionais de saúde, e ainda devido aos fracos recursos dos serviços, o objetivo desta revisão foi compreender os benefícios da intervenção fisioterapêutica no tratamento PO de câncer de mama, através pesquisas sobre os aspectos mais relevantes, as técnicas e procedimentos utilizados para promover a melhora das disfunções e incapacidades e conseqüentemente promover uma maior qualidade de vida para o paciente. Metodologia O presente estudo trata-se de uma revisão descritiva da literatura, para a qual foram XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 selecionados artigos no banco de dados Scielo e Medline. Esses bancos de dados foram escolhidos pelo rigor na classificação de seus periódicos e por serem muito conhecidos pelos acadêmicos e profissionais da área da saúde. A busca dos artigos foi feita através das palavras chaves: Breast Cancer, Oncology, Physiotherapy, Rehabilitation. Foram selecionados artigos recentes e relevantes sobre o tema. Resultados e Discussão Baseado na literatura pesquisada constatou-se que a fisioterapia pode ser fundamental no tratamento do paciente com diagnóstico de câncer de mama ao oferecer acompanhamento às diversas alterações que podem ocorrer, mesmo diante de muitos comprometimentos que se apresentam, como: linfedema, edema de membros, alterações musculares, neurológicas e respiratórias, dores musculares por disfunções posturais, dores teciduais, cicatriciais, tendinosas e articulares, alterações ósseas, circulatórias e vasculares. Dentre os procedimentos fisioterapêuticos que podem ser empregados para o tratamento fisioterapêutico do câncer de mama destacamos: a drenagem linfática, alongamentos, exercícios ativos, passivos e resistidos, exercícios respiratórios para funcionamento diafragmático e retirada de secreções; treino de marcha, de equilíbrio e reeducação postural, readaptação domiciliar e ocupacional, caso haja necessidade. As pacientes com câncer de mama submetidas ao tratamento fisioterapêutico diminuiram seu tempo de recuperação e retornaram mais rapidamente às suas atividades cotidianas, ocupacionais e desportivas, readquirindo amplitude em seus movimentos, força, qualidade postural, coordenação, autoestima e, principalmente, minimizaram as possíveis complicações pós-operatórias e aumentaram a qualidade de vida (SILVA, 2004). Além disso, o tempo de intervenção está correlacionado com a qualidade da resposta, quanto mais precoce forem orientados os exercícios, mais rapidamente a mulher responderá ao tratamento. Foi estabelecido que no PO imediato ao PO de 15 dias, os exercícios de mobilização precoce do membro superior deverão ter a sua amplitude limitada, devem ser incluídos exercícios posturais simples e dinâmicos, além da auto-massagem de drenagem linfática a partir do PO 1. Do PO 15 em diante a reabilitação funcional é mais ativa, a amplitude de movimentos deve ser alcançada no menor espaço de tempo possível, levando-se sempre em conta as dificuldades individuais. (JAMMAL, 2007). Gutiérrez et al. (2007) avaliaram a adesão em um programa de reabilitação precoce em uma amostra de 28 mulheres mastectomizadas, e observaram que 64,2% das pacientes aderiram ao programa e 82,1% referiram dificuldades para execução dos exercícios, principalmente devido a dor. A maioria das pacientes que aderiram ao programa realizaram as atividades de vida diária sem dificuldade. Logo, concluíram que a adesão das pacientes promoveu um melhor controle da dor e diminuição do período de recuperação. Em conseqüência do processo da mastectomia, comumente as pacientes apresentam uma hipotrofia ou até mesmo atrofia de músculos que estabilizam o complexo do ombro como: serrátil anterior, peitoral maior e menor, rombóides, músculos do manguito rotador e outros. A reeducação da cintura escapular e do membro superior é uma necessidade básica na paciente operada de câncer de mama, seja qual for a técnica cirúrgica empregada. Seu objetivo principal é restabelecer o mais rapidamente possível a função do membro. (JAMMAL et al., 2007). Pereira et al. (2009), avaliaram eletromiograficamente os músculos serrátil anterior e trapézio, onde constataram na avaliação pós-operatória imediata que houve um decréscimo da atividade mioelétrica do músculo serrátil anterior pela lesão do nervo torácico longo (neuropraxia). Com isso observou-se uma conseqüente compensação muscular do trapézio superior em relação ao déficit do músculo serrátil anterior. Ferro et al. (2004), em seus estudos realizados analisaram dois grupos de cinco pacientes, onde foi comparado o grupo submetido a intervenção fisioterapêutica com o sem intervenção, utilizando-se dos seguintes parâmetros: angulação e circunferência dos membros superiores, dor, teste de função muscular do ombro e escápula. Foi encontrado diferença significativa no PO 15 no parâmetro de rotação externa, e no e PO 30 e 45 na flexão, abdução e rotação externa. Comprovando que a fisioterapia apresentou uma relevante contribuição física para as pacientes mastectomizados. Estudiosos avaliaram a incidência e prevalência de linfedema em mulheres submetidas a cirurgia de câncer de mama, e constataram uma prevalência de 6% a 49% e a incidência de 0% a 22% (BERGMANN et al., 2007). Segundo Box et al. (2002), os últimos graus de amplitude articular são importantes para a prevenção de complicações, como o linfedema do membro superior homolateral à cirurgia, uma vez que, a contração muscular é um dos fatores que influencia o transporte da linfa, favorecendo a sua aspiração para dentro do vaso. Se a amplitude XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 de movimento não estiver totalmente recuperada, a contração das fibras musculares da cintura escapular não será normal, aumentando o risco de desenvolver o linfedema. Ferro et al. (2004) constataram que restrições funcionais ocorreram em todas as pacientes do estudo, mas com a intervenção fisioterapêutica precoce estas restrições não perduraram, além disso, o protocolo de tratamento fisioterapêutico contribuiu para a prevenção de complicações, como a compensação postural, tensão cervical, aderência, encurtamento, fibrose, parestesia, edema, perda da função muscular e dor. Conclusão A revisão de literatura evidenciou a importância do tratamento fisioterapêutico em pacientes no PO de câncer de mama. A fisioterapia desempenha um papel fundamental nesta nova etapa da vida da mulher operada, pois significa um conjunto de possibilidades terapêuticas para a recuperação funcional e profilaxia das seqüelas, além de diminuir o tempo de recuperação, com retorno mais rápido às atividades de vida diária e as atividades instrumentais de vida diária, colaborando com sua reintegração à sociedade sem limitações funcionais. Referências - BATISTON, A.P.; SANTIAGO, S.M. 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