ONTOGENIA INICIAL E CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER, 1907) ANDRÉ VELOSO FERREIRA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO - 2007 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL LABORATÓRIO DE ZOOTECNIA E NUTRIÇÃO ANIMAL ONTOGENIA INICIAL E CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER, 1907) ANDRÉ VELOSO FERREIRA Orientador: DALCIO RICARDO de ANDRADE “Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal”. CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO DE 2007 ii ONTOGENIA INCIAL E CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER, 1907) ANDRÉ VELOSO FERREIRA “Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal”. Aprovada em 27 de fevereiro de 2007. Comissão Examinadora: _______________________________________________________________ Prof. Manuel Vazquez Vidal Jr. (D. Sc., Zootecnia) – UENF _______________________________________________________________ Prof. Ângelo José Burla Dias (D. Sc., Zootecnia) – UENF _______________________________________________________________ Prof. Eduardo Shimoda (D.Sc., Produção Animal) – FACASTELO _______________________________________________________________ Prof. Dalcio Ricardo de Andrade (D. Sc., Zootecnia) – UENF Orientador iii “E disse conforme Deus: à Façamos nossa o homem semelhança; e a nossa domine imagem, sobre os peixes, sobre as aves e sobre o gado e sobre toda a terra.” (Genesis 2: 26) “O meu Deus, segundo as suas riquezas suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo”. (Aos Filipenses 4:19) iv Aos meus pais Nilton Lopes Ferreira e Marisa Augusta Veloso Ferreira, pelo sustento, amor, intensa dedicação incondicional e exemplo, de pais e pessoas, que são e sempre serão e ainda pela minha criação nos caminhos da retidão. DEDICO v AGRADECIMENTOS A Deus que a todo instante me deu forças para o cumprimento das responsabilidades para a execução desse trabalho. À Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) e ao Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA), pelo oferecimento deste curso. A FAPERJ/UENF, pela concessão dos recursos necessários para a elaboração dos experimentos. Aos Ex-Presidentes da FENORTE: Prof.ª ANA LÚCIA SANGUEDO BOYNARD e Dr. NELSON NAHIN MATHEUS de OLIVEIRA e ao Ex-Diretor Superintendente do TECNORTE, Prof. D. Sc. ELIAS WALTER ALVES, pela minha liberação, pelo apoio e confiança durante o curso de Mestrado. Ao Diretor de Desenvolvimento Tecnológico do TECNORTE, JEAN IGOR MARGEM, pelo apoio, incentivo e pela amizade. Aos orientadores e amigos Prof. D. Sc. DALCIO RICARDO DE ANDRADE e Prof. D. Sc. MANUEL VAZQUEZ VIDAL Jr., pela confiança, pelos conhecimentos compartilhados e por toda dedicação durante o Mestrado. Ao meu amado pai, NILTON LOPES FERREIRA, pelo sustento, educação, amor e exemplo, de pai e de homem, que é sempre será. vi A minha amada mãe, MARISA AUGUSTA VELOSO FERREIRA, pelo amor, ensinamentos, extrema dedicação e exemplo de mãe que é e sempre será. Ao meu querido irmão, RODRIGO VELOSO FERREIRA, pelo amor e companheirismo. Aos meus priminhos, JOÃO PEDRO PINTO DUARTE (Pedrinho), ANA BEATRIZ PINTO DUARTE (Bia) e JOÃO GABRIEL PINTO DUARTE (Cacaquel), pelos momentos de imensa alegria na minha vida. Ao grande amigo e profissional, M. Sc. GEORGE SHIGUEKI YASUI (Chinês), pela grande ajuda na execução e na discussão dos assuntos referentes à tese e pela amizade. Ao grande amigo, PEDRO PIERRO MENDONÇA, que mesmo se apossando da minha cadeira durante todo o curso de Mestrado, foi de grande auxílio na elaboração, na execução e na discussão dos assuntos relacionados a minha tese. Aos amigos da Piscicultura: MONIQUE VIRÃES BARBOSA DOS SANTOS, IVE SANTOS MUZITANO, FABRÍCIO PEREIRA REZENDE (Mineiro) e WILLIAN CRISTIANE TONNINI (Gordo), pelo auxílio e pelo apoio. Ao estagiário DOUGLAS DA CRUZ MATTOS que mesmo me deixando na mão várias vezes, foi fundamental na execução dos experimentos. A todos os amigos da FENORTE, pelo apoio e compreensão. A JOVANA FERRAZ CERQUEIRA CAMPOS, ETIENE MARQUEZ AMBRÓSIO GOMES e SIMONE BARCELLOS DE JESUS TARGUETA, da Coordenação Acadêmica da Pós-graduação em Produção Animal pela dedicação no cuidado de toda a minha documentação e pelo carinho com que sempre me trataram; e em especial a JOVANA pela paciência e por ficar no meu pé, não permitindo que eu perdesse meus prazos de entrega de formulários, relatórios e da própria tese. Ao Sr. JORGE FRANCISCO PINTO FILHO (Seu JORGE) e demais Funcionários do Núcleo Experimental de Zootecnia, pelo trabalho na fase de campo. Àqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. OBRIGADO vii BIOGRAFIA ANDRÉ VELOSO FERREIRA, filho de Nilton Lopes Ferreira e Marisa Augusta Veloso Ferreira, nasceu em 23 de fevereiro de 1975, na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. Concluiu o 2° grau no “Colégio Brigadeiro Newton Braga”, Rio de Janeiro RJ, em dezembro de 1993. Ingressou em agosto de 1994 no curso de graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ, graduando-se em dezembro de 1999. Durante o curso foi estagiário do Núcleo de Inovação e Gerenciamento Pesqueiro do Instituto de Biologia, destacando-se na área de Aquacultura e Biologia Pesqueira, onde foi monitor por dois anos. Em março de 2005, iniciou o curso de Pós-graduação stricto sensu em Produção Animal – Nutrição e Produção Animal, Mestrado, na UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE, em Campos dos Goytacazes-RJ, submetendo-se à defesa de dissertação em 27 de fevereiro de 2007 viii SUMÁRIO Páginas RESUMO........................................................................................................... x ABSTRACT....................................................................................................... xii 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1 2. REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 5 2.1. A espécie Glossolepis incisus.................................................................... 5 2.2. Habitat natural............................................................................................ 8 2.3. Parâmetros físico-químicos básicos da água de cultivo............................ 9 2.4. Hábitos alimentares................................................................................... 9 2.5. Comportamento dos adultos ..................................................................... 10 2.6. Reprodução ............................................................................................... 10 2.7. Desenvolvimento embrionário .................................................................. 11 2.8. O vitelo....................................................................................................... 13 3. REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS................................................................. 15 4. TRABALHOS................................................................................................. 20 ONTOGENIA INICIAL EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (GLOSSOLEPIS INCISUS, WEBER 1907) RESUMO...................................... 21 ABSTRACT................................. 22 INTRODUÇÃO............................ 23 MATERIAL E MÉTODOS.......................................... 25 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 28 CONCLUSÕES................................................................................................. 57 REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS................................................................... 62 CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇA (Glossolepis incisus, WEBER 1907) RESUMO........................................................................................................... 50 ABSTRACT....................................................................................................... 51 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 52 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 54 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 57 CONCLUSÕES................................................................................................. 62 REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS....................................................... 63 ix RESUMO FERREIRA, André Veloso M. Sc., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; fevereiro de 2007; Ontogenia inicial e consumo de vitelo em embriões de melanotênia maçã (Glossolepis incisus, WEBER 1907); Professor Orientador: Prof. D. Sc. Dalcio Ricardo de Andrade. Professor Co-orientador: D. Sc. Manuel Vazquez Vidal Jr. Esse trabalho descreve a ontogenia inicial em ovos de melanotênia maçã (Glossolepis incisus). Os ovos fertilizados foram obtidos através de desova natural e espontânea de matrizes em cativeiro. Os ovos foram incubados a 28ºC em uma incubadora de 40L. O fotoperíodo mantido durante o experimento foi de 16L:8E. O desenvolvimento embrionário foi dividido em cinco períodos - clivagem, blástula, gástrula, organogênese e período de eclosão. Os estágios de desenvolvimento foram determinados e classificados pelas características morfo-fisiológicas. O tamanho inicial dos ovos variou entre 0,90mm e 1,10mm e todos continham gotas de óleo. Foi observada no córion a presença de filamentos para fixação dos ovos e todos se originando da mesma região. A eclosão dos ovos teve inicio com 125:00 horas pós-fecundação (hpf) e 3505,61 horas-grau pós-fecundação (hgpf). As larvas recém eclodidas mediram 4,00 ± 0,05mm e apresentavam atividade natatória acentuada, vesícula vitelínica reduzida, movimentação da boca e um sistema digestório aparentemente funcional. O consumo do vitelo pode ser descrito pela x ^ equação Y= - 0,0000002X3 + 0,00005X2 - 0,06X + 0,383 (R2=0,9993) observando-se um primeiro período mais intenso de consumo até 40 horas após a fecundação (hpf), coincidindo com o período da clivagem até estágios embrionários da organogênese média. No segundo momento, até 80 hpf, foi observada uma menor velocidade de consumo, com o embrião evoluindo até avançados estágios da organogênese. O terceiro momento foi o de menor intensidade de consumo, os embriões apresentaram visualmente poucas diferenças morfológicas, momento de préeclosão. Observou-se nas larvas recém eclodidas uma vesícula vitelínica reduzida, mas ainda presente. Os embriões de melanotênia maçã, diferentemente de outras espécies de peixes tropicais, eclodem no período alimentar mixotrófico, demandando alimentos de origem exógena poucas horas após a eclosão. O conhecimento da dinâmica do desenvolvimento inicial de embriões e larvas é uma ferramenta fundamental para o manejo adequado da reprodução dos peixes em cativeiro. xi ABSTRACT FERREIRA, André Veloso M. Sc., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; 2007 february; Early ontogeny and yolk consuming on embryos of salmon-red rainbowfish (Glossolepis incisus, WEBER 1907); Adviser: Prof. Dalcio Ricardo de Andrade. Co-adviser Manuel Vazquez Vidal Jr. This paper describes the early ontogeny on eggs of the salmon-red rainbowfish (Glossolepis incisus). Fertilized eggs were obtained by naturally and spontaneous spawning of cultured adults. The eggs were hatched at 28ºC. A photoperiod of 16L: 8D was maintained. Embryonic development of the salmon-red rainbowfish was divided into five periods – the cleavage, blastula, gastrula, organogenesis and hatching period. Stages were assigned within each those periods. The developmental stages were determined and named by morphological and physiological features. Eggs ranged in size 0,90mm to 1,10mm and oil droplets were present. There were fixer filaments originated from one point at the egg surface. Hatching initiated at 125:00 pos fecundation hours (pfh) and with 3505,61 posfecundation hour-degrees (pfhd). The mean newly hatched larvae length was 4,00 ± 0,05mm. The consuming of yolk on development of embryos of the salmon red rainbowfish (Glossolepis incisus) was examined under controlled hatchery conditions. The embryos have a long period of hatching about 7 days and consumed almost all yolk during the early stages into the eggs. The consuming was described ^ for the equation Y= - 0,0000002X3 + 0,00005X2 -0,06X + 0,383 (R2=0,9993) and was xii more intense in a first period until 40 hour post-fecundation (hpf). At this moment the embryos were initiating the organogenesis stage. The consume was lower until 80 hpf with embryos in advanced organogenesis and after the lowest levels until hatching with few morphologics alterations. At hatching the newly-hatched larvae yolk-sac is reduced, but still present and the larvae are strongly swimmers and have a functional mouth, enteric peristaltic movement and anus opened suggesting an initial exogenous feeding stage. Differently to others species of tropical fishes that have a long time for the weaning, larvae of red rainbowfish are ready for becoming first-feeding larvae in few hours after hatching. xiii 1. INTRODUÇÃO A aqüicultura aparentemente teve seu início quando o homem, pela primeira vez, capturou peixes em seu habitat natural e os transferiu para um ambiente confinado. Desta maneira, os registros mais antigos desta atividade datam de mais de quinhentos anos antes de Cristo, quando os antigos egípcios utilizavam tilápias para povoamento de tanques, visando ornamentação ou consumo em ocasiões especiais. Também os antigos romanos construíram açudes destinados ao cultivo de peixes, alguns dos quais estão em uso até hoje na Europa (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994). Ao longo de sua evolução observamos que a aqüicultura consolidou-se como uma atividade de produção de espécies de tanto de corte, destinadas para o consumo, quanto de espécies ornamentais, para aquários e tanques ornamentais, e que vem se destacando como uma atividade no setor produtivo envolvendo desde pequenos produtores rurais, para a obtenção de renda extra, até mesmo grandes empresas com altos investimentos, como exportação de produtos e participação na economia de nações. Além disso, a aqüicultura vem se apresentando como única atividade viável para suprir a crescente demanda mundial de pescado e peixes ornamentais, uma vez que a produtividade mundial do setor pesqueiro e extrativista de ornamentais já 1 atingiu seus níveis máximos e incrementos do esforço das capturas sobre os estoques naturais, muitos em sobrepesca, não mais se refletem em aumentos da produtividade. Na Aqüicultura destaca-se a piscicultura, cultura de peixes. No Brasil teve seu início no ano de 1920, através da introdução de peixes exóticos destinados para corte, como as trutas, carpas e em 1957 as tilápias foram introduzidas. Ainda na década de 20, foram introduzidas mais de 50 espécies asiáticas de peixes ornamentais, por um imigrante de origem japonesa, Sigeiti Takase, que com o tempo passou a cultivar também espécie nacionais (VIDAL Jr., 2003). A partir da década de 70, o país voltou sua atenção para a produção de peixes autóctones, viabilizando a produção em cativeiro de alguns peixes de corte como tambaqui (Colossoma macropomun), pacu (Piaractus mesopotamicus), piaus (Leporinus spp), dentre outros, e ornamentais, principalmente os da bacia amazônica. Apesar da evolução das tecnologias de produção da piscicultura brasileira de espécies nativas, ao longo desses últimos anos, observamos que atualmente, assim como a bovinocultura, avicultura e suinocultura nacional, tanto a produção de peixes de corte, quanto à de peixes ornamentais estão baseadas em espécies exóticas, a exemplo as tilápias africanas (Oreochromis sp.) e carpas européias e asiáticas, para corte, e os betas tailandeses (Betta splends) e kinguios chineses (Carassius auratus), para ornamentais. A piscicultura de espécies para fins ornamentais se destaca em relação às de corte devido ao alto valor agregado ao final da produção, sendo comum um único exemplar de algumas gramas de peso atingir valores muito superiores a um quilograma das espécies destinadas para corte. A exemplo disso, enquanto um quilo de tilápia inteira, fresca ou congelada, oscila em torno de US$ 1,50, ou o quilo do pintado (Pseudoplatystoma corruscans) inteiro, fresco ou congelado, que varia em torno de US$ 5,00, o valor de algumas variedades de kinguios e Malanotênias (Melanotaenia sp.) de menos de 10 g, por exemplo, pode chegar a US$ 2,50 e animais como as bótias (Botia sp.) e lábeos (Epalzeorhynchus sp.) atingem valores superiores a US$ 30,00, cada exemplar. Além de outras espécies mais valiosas de água doce que chegam a US$ 15 mil (LIMA et al., 2004). No contexto mundial, os principais exportadores de peixes ornamentais, segundo LIMA (2004), são Singapura, Haiti e os Estados Unidos. O Brasil, segundo 2 a FAO (1999), ocupava a 15a posição, no período de 1995 a 1997. Essa posição passou para a 10a no ano de 2000, sendo maior a participação de peixes de águas continentais, principalmente da bacia amazônica (DAVENPORT, 1996; MONTEIRONETO et al., 2000). Dentre os montantes de mercado, somente o seguimento de peixes ornamentais movimenta segundo a FAO (2000) cerca de US$ 3 bilhões ao ano. Apesar do crescente aumento nos volumes nacionais e mundiais de produção, observa-se que após anos de desenvolvimento de tecnologias e avanço da atividade aquícola no Brasil, ainda há necessidade do preenchimento de várias lacunas existentes na piscicultura nacional, e somente a alta produtividade não significa mais certeza de lucro ou mesmo sucesso do empreendimento (MELO & CHABALIN, 2004). Torna-se cada vez mais necessário o emprego de novas tecnologias, aproveitamento de nichos de mercado. Sobre essa análise, até mesmo como alternativa para utilização na piscicultura ornamental brasileira, tem-se dado bastante atenção aos peixes da família Melanotaeniidae, conhecidos popularmente como melanotênias, que embora tendo sua origem fora do Brasil, vêm sendo importadas desde a década de 90 (SOUZA, 1996) e se adaptaram muito bem a nossas condições de cultivo. Nos últimos anos, estudos a respeito de espécies de melanotênia vêm aumentando devido a seu potencial de produção e, principalmente, ao apelo pela preservação do meio ambiente e de seus estoques naturais, que apontam a necessidade de se mitigar os efeitos antrópicos (POLLINO e HOLDWAY, 2002; GALE et al., 2003; HARFORD et al., 2005) Dentre as várias espécies de melanotênias, destaca-se a melanotênia maçã (Glossolepis incisus), que alcança os maiores valores de venda (US$ 3,00) e, assim como os animais desta família, é rústica, onívora, aceita rações comerciais além de desovar, em condições de cultivo, durante todo o ano (VIDAL Jr., 2005). Entretanto, nos estudos realizados com G. incisus, os aspectos produtivos relacionados a sua larvicultura ainda não estão bem definidos. Em relação a larvicultura, os indicadores de qualidade da larva são fundamentais para maximizar a sobrevivência dos peixes durante o weaning, período mixotrófico de transição alimentar do endógeno para o exógeno, e que é um momento ainda crítico na larvicultura. Dentre os indicadores de qualidade, estão os 3 resultados dos estudos sobre a ontogenia embrionária e larvar que são próprias de cada espécie, o que esclarece o desenvolvimento morfológico e fisiológico das larvas. A falta de informações a respeito das exigências nutricionais das larvas, suas características morfo-fisiológicas, impedem o avanço das melhorias no manejo de alimentação e essa falta de adequação do manejo durante a larvicultura resulta, freqüentemente, em crescimento lento e sobrevivência reduzida. Por serem as fases iniciais de desenvolvimento os momentos mais críticos da vida dos peixes, o conhecimento da ontogenia inicial é indispensável para o desenvolvimento de protocolos de propagação, proporcionando uma melhor eficiência quali-quantitativa na larvicultura, produzindo larvas de melhor qualidade e proporcionando a padronização e escalonamento da produção. 1.1. Objetivos • Descrever a seqüência de eventos morfofisiológicos durante o desenvolvimento de embriões; • Acompanhar o processo de consumo de vitelo durante o período embrionário. 4 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. A espécie Glossolepis incisus A espécie Glossolepis incisus foi descrita por Max Weber em 1907, na ilha de Java, Nova Guiné, na Indonésia (ALLEN, 1980). Os animais representantes dessa espécie são conhecidos internacionalmente como salmon-red rainbowfish (melanotênia vermelho salmão), devido à coloração típica do macho adulto, e no Brasil são vulgarmente conhecidos como Melanotênia maçã. Quanto aos critérios taxonômicos, estão posicionados na seguinte classificação: Ordem: Atheriniformes Família: Melanotaeniidae Gênero: Glossolepis Espécie: Glossolepis incisus A melanotênia maçã pertença à família Melanotaeniidae, que possui 7 gêneros e 66 espécies (MCGUIGAN et al., 2000; ALLEN et al. 2002), encontrados em várias condições ecológicas da Austrália e Nova Guiné (ALLEN 1991). São 5 classificados como espécies forrageiras, com importante participação na cadeia alimentar do ambiente dos rios (LLEWELLYN, 1971, citado por REID e HOLDWAY, 1995). O gênero Glossolepis inclui sete espécies da Nova Guiné e Austrália: G. incisus, G. leggetti, G. maculosus, G. multisquamatus, G. pseudoincisus, G. ramuensis e G. wanamensi; e entre elas, G incisus é considerada a mais bonita e de maior interesse econômico (ALLEN, 1980). Esta espécie está catalogada como vulnerável a extinção em seu habitat natural na lista vermelha da IUCN (The World Conservation Union – A União da Conservação Mundial) (ALLEN, 1996). Assim como os demais peixes do gênero Glossolepis são pouco evoluídos em comparação aos peixes de outros continentes, sendo mais próximos de seus antepassados marinhos, tanto que por muito tempo eram enquadrados na família Atherinidae composta por peixes marinhos de climas tropicais e temperados (ALLEN, 1981). Seu corpo é fusiforme e comprimido lateralmente e se encontra coberto de grandes escamas. A cabeça, muito pequena em comparação com o corpo, tem uma boca terminal. As nadadeiras posteriores são pouco desenvolvidas, mas bem perfiladas, o que indica que são excelentes e rápidos nadadores. A nadadeira dorsal é dupla (vestígio de sua origem marinha). A nadadeira anal se estende desde a região pélvica até a região caudal (ALLEN, 1982). Figura 1. Exemplar de macho adulto de Glossolepis incisus. 6 Os representantes da espécie G. incisus possuem, na nadadeira dorsal, 6 ou 7 raios duros, seguidos de 9 a 10 flexíveis. A nadadeira anal possui um raio duro, seguido de 18 a 20 flexíveis (ALLEN e NORBERT, 1982). Os machos podem alcançar até 14 centímetros de comprimento e têm o corpo mais alto e a frente mais abrupta, as fêmeas chegam a alcançar no máximo 10 centímetros de comprimento (HUNZIKER, 1992). Os machos adultos possuem coloração variando entre vermelho salmão a vermelho tomate brilhante, com algumas escamas de cor prata, geralmente no centro do flanco. As fêmeas e os exemplares juvenis possuem clorações variando entre o café e o verde oliva com reflexos prateados na cabeça e flancos (figura 2). Os machos começam a adquirir a coloração característica a partir 4 a 5 centímetros de comprimento total (ALLEN,1981). Segundo VIDAL Jr. (2005), apenas os machos dominantes do cardume exibem o vermelho intenso. Os demais possuem um vermelho mais atenuado ou possuem coloração semelhante as das fêmeas. Assim que os machos dominantes são retirados do cardume novos machos passam a expressar o vermelho intenso. Essa característica é repassada para os descentes e também não interfere na comercialização. Quando se encontram em época reprodutiva, a região do dorso tende a apresentar uma coloração que vai do dourado ao laranja brilhante, o que pode levar a impressão de pisca-pisca (ALLEN, 1981). Figura 2. Macho e fêmea adultos. 7 2.2. O habitat natural Esses peixes pertencentes a espécie Glossolepis incisus são animais originários do lago Sentani, localizado no sudeste da ilha de Java, Nova Guiné (TAYLOR, 1982). Habitam sobretudo as margens dos lagos, encontrando-se em geral em grandes bandos em torno da vegetação aquática e das copas de árvores que tocam a superfície do lago, onde buscam refúgio (ALLEN, 1982). De acordo com dados tomados nos anos de 1970 e 1971 e, posteriormente, nos anos de 1984 a 1987, a temperatura média do lago Sentani na sua superfície (ambiente natural da melanotênia maçã) foi de 29 a 32°C, com a temperatura diminuindo gradativamente com a profundidade. O pH na parte superior da água variou entre 6,2 e 6,8 (HUNZIKER, 1992). O lago Sentani, segundo ROE e PETTERSON (2006) é caracterizado por sua baixa diversidade e baixa abundância, por espécie. Esse fato ocorre devido a sua baixa circulação de água, condicionando um ambiente oligomítico, além de outros fatores naturais que promovem ao longo do ano, níveis progressivamente baixos de oxigênio dissolvido. O lago Sentani apresenta uma forma irregular com dimensões aproximadas de 28 Km de comprimento e 19 Km de largura (figura 3), uma profundidade que varia de 7 a 52 metros, com uma superfície total equivalente a 10.400 hectares. Sendo o maior lago da ilha de Java. As únicas saídas são os rios Jafuri e Tami que desembocam no Oceano Pacífico, e nesses rios também se encontram exemplares de G. incisus (TAYLOR, 1982). Devido à proximidade dos maiores centros populacionais da ilha, o Lago Sentani já deixou de ser habitat de águas cristalinas. A população em torno do lago vem aumentando notavelmente, em 1994 já se estimava 25.000 pessoas. A poluição resultante do assentamento humano e suas imediações está contaminando seriamente suas águas (NELSON, 1994). Segundo BLEHER (1984), o cultivo de peixes, principalmente de carpas, tilápias, catfishes e barbos, utilizando-se as águas provenientes do rio Sentani é cada vez mais freqüente e essa situação tem causado um enorme impacto na fauna local, que se encontra hoje seriamente ameaçada de extinção. Devido a esses fatores, o mesmo autor, afirma que, além da conservação, torna-se extremamente importante propagar esta espécie em cativeiro, visando futura reintrodução. 8 2.3. Parâmetros físico-químicos básicos da água de cultivo A temperatura ideal da água para criação dos Glossolepis é de 22° a 28°C (HUNZIKER, 1992). A dureza da água deve estar média a alta, e, como no seu habitat natural, o pH deve ficar entre 6,2 a 6,8 podendo em cativeiro chegar até 7,8, porém os peixes parecem ter se adaptado melhor a um pH em torno da neutralidade (VIDAL Jr., 2003), suportando inclusive a alcalinidade sem grandes problemas. Além disto, exemplares de melanotênias não têm boa tolerância a níveis altos de nitrito ou nitrato (HUNZIKER, 1992). 2.4. Hábitos alimentares Segundo HUNTER (1997), esses peixes têm hábitos alimentares onívoros com predomínio de itens alimentares de origem animal, não sendo a alimentação um problema, já que são bastante vorazes e qualquer coisa que caia na superfície da água provoca o ato reflexo de abocanhar. Aceitam bem qualquer alimento seco, mas é muito importante variar a dieta, podendo ser oferecido a eles alimentos industrializados, assim como presas vivas ou congeladas (artêmias, larvas, dáfnias etc). Ainda segundo HUNTER (1997), Glossolepis incisus habitualmente não ingere alimentos que chegam ao fundo. Por isso a maior preocupação é que o alimento não afunde rapidamente, permanecendo na superfície tempo suficiente para ser ingerido. Durante o manejo reprodutivo em sistemas semi-intensivos e intensivos de produção de Glossolepis incisus, as matrizes devem ser alimentadas com ração contendo 36% de proteína bruta e uma suplementação com alimentos frescos e vivos, sendo as daphnias (Daphnia sp.) o mais indicado (VIDAL Jr., 2005). Já nos tanques de crescimento, o mesmo autor sugere rações com 42% de proteína bruta e suplementação com alimento vivo. 9 2.5. Comportamento dos adultos Glossolepis incisus são peixes que vivem em cardume, não possuem hierarquia definida e permanecem em grupo. Em casos onde há apenas um exemplar dessa espécie no tanque, nota-se em geral a introdução do indivíduo em cardumes de outras espécies (HUNTER, 1997). O convívio de machos, particularmente nas situações onde há mais machos do que fêmeas, pode ocasionar pequenas agressões entre os machos, mas raramente resultam em ferimentos graves (HUNTER, 1997). 2.6. Reprodução Ao contrário das espécies reofílicas brasileiras, que não se reproduzem de forma natural em cativeiro (ROMAGOZA, 2004), os representantes do gênero Glossolepis têm demonstrado desovar naturalmente em ambientes confinados (REID e HOLDWAY, 1995). Essa característica, além de facilitar o manejo, reduz os custos de reprodução, viabilizando cultivos sem as exigências de adição de doses de hormônios indutores de reprodução ou extrusão para se obter desovas (GARUTTI, 2003; VIDAL Jr., 2005). Segundo KIRTLEY (1986), os representantes de Glossolepis incisus são as melanotênias mais fáceis de se reproduzir em cativeiro, chegando a oviposições diárias por longos períodos, em cultivos onde as condições estão muito apropriadas. As fêmeas e os machos maduros devem ser instalados em um local para o acasalamento com no mínimo 100 litros, com plantas flutuantes. O casal deve ser introduzido momentos antes do entardecer. O início da reprodução ocorre com os primeiros raios de sol. O macho persegue a fêmea com insistência por toda extensão do tanque, se arqueando sobre a fêmea quando consegue uma aproximação, o que ocorre entre a área das plantas. Esse momento dura apenas alguns segundos, mas durante este tempo, a fêmea libera os ovos que são translúcidos e o macho libera o esperma sobre eles (KIRTLEY, 1986). Os peixes em época de reprodução apresentam um aumento da intensidade de sua coloração, natação rápida, principalmente sob as plantas, além da extensão de suas barbatanas. Em seu habitat natural, a reprodução ocorre entre o período de 10 outubro a dezembro, com as fêmeas depositando entre 100 e 150 ovos, ovipondo alguns de cada vez, o que pode demorar vários dias (KIRTLEY, 1986). Segundo REID e HOLDWAY (1995) as desovas de melanotênias envolvem liberação simultânea dos gametas masculinos e femininos e TAYLOR (1999) reportou que desovas ocorrem sobre plantas de folhas finas (tipo ceratopteris, cabombas, myriophyllum, ambulias, musgo de Java, etc.) ou fibras sintéticas. Os ovos são pequenos e têm adesividade, ficando aderidos às plantas e substratos do aquário. Essa adesividade ocorre em filamentos de fixação presentes no córion (REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003). As larvas após eclosão absorvem o saco vitelínico, além de se alimentarem de cultura mista de protozoários e bactérias e também de cistos de artêmia recém eclodidos (JACKSON, 1987). Para se obter larvas, podem-se retirar as plantas ou a fibra sintética, nas quais as fêmeas já depositaram seus ovos, e transferi-las para um tanque vazio, onde ocorrerá a eclosão e cria dos alevinos, ou transferir as matrizes para outro tanque (TAYLOR, 1999). 2.7. Desenvolvimento embrionário Em geral, podemos definir ontogenia como o processo de transformação e desenvolvimento de um ser vivo desde a fecundação à maturidade reprodutiva, sendo que alguns autores a consideram apenas como as diversas fases do desenvolvimento embrionário (GRACIANO, 1997). Os eventos morfofisiológicos ao longo do desenvolvimento são avaliados principalmente por observações em microscópio estereoscópio ou óptico, uma vez que o córion dos ovos dos organismos estudados é transparente (GODINHO et al., 1978; NAKATANI et al. 2001; SOUZA, 2004). Os eventos morfofisiológicos comumente observados ao longo das avaliações ontogênicas em embriões são: a formação e clivagem do blastodisco; a evolução da blástula e da gástrula sobre a vesícula vitelínica (pólo vegetal); a diferenciação do eixo embrionário, da vesícula óptica, dos somitos, surgimento da vesícula de Kuppfer e de melanóforos e eclosão (CUSSAC, et al. 1985; MATKOVIC et al. 1985, FERNANDEZ-PALACIOS et al., 1994; REID e HOLDWAY, 1995; SOUZA, 2004; SANCHES et al. 1999; FUJIMOTO et al., 2004; FUJIMOTO et al., 11 2006; FERREIRA et al., 2006). Inclusive para a descrição do desenvolvimento embrionário de melanotênias (REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003). SOUZA (2004) descreveu os principais eventos morfológicos do desenvolvimento embrionário da piabanha (Brycon insignis). Utilizando microscópio estereoscópio sob aumento de 10X, o autor observou, com a temperatura média da água a 26,0ºC, que a diferenciação da cabeça da larva e do botão caudal ocorreu com 6,5 horas após a fecundação (hpf) e 190,00 horas-grau pós–fecundação (hpgf), os batimentos cardíacos foram observados com 13,00 hpf e 373,50 hgpf e a eclosão dos ovos com 17,00 hpf e 480,00 hgpf (°C). NAKATANI et al. (2001) observaram a diferenciação de embriões de Astyanax altiparanae com 8,00 hpf. SANCHES et al. (1999) observaram, em Parauchenipterus galeatus capturados na planície de inundação do alto rio Paraná, em temperatura da água entre 27 e 28ºC, que dois blastômeros ocorreram em 35 minutos e posteriormente 4, 8, 16, 32 e 64 blastômeros em 45, 60, 70, 80 e 90 minutos respectivamente. Com 16 horas de incubação o eixo embrionário estava definido. Ainda segundo SANCHES et al. (1999), embriões de Parauchenipterus galeatus com 16 hpf possuíam a região da cabeça e o do botão caudal diferenciados, com formação ainda dos somitos e da vesícula óptica. Após 24 hpf o botão caudal do embrião estava completamente livre e a cabeça diferenciada, a vesícula auditiva estava em desenvolvimento e os olhos iniciando a pigmentação. BORÇATO et al. (2004) observaram em ovos de Leporinus piau, incubados a 24ºC, que com 1,5 hpf o embrião encontrava-se no estágio de 64 blastômeros e com 6,25 hpf foi observado fechamento do blastóporo. A eclosão ocorreu em 21,00 hpf a 504,00 hgpf. Sobre a ontogenia inicial de melanotênias, HUMPHREY et al. (2003) relataram serem poucos os estudos referentes à descrição do desenvolvimento embrionário e larval de melanotênias. REID e HOLDWAY (1995) descreveram o desenvolvimento embrionário de Melanotaenia fluviatilis, espécie de clima temperado. Segundo esses autores, os ovos foram incubados a 25ºC, sendo observado que a segmentação ocorreu até 6,00 hpf, o desenvolvimento da gástrula ocorreu das 7,00 as 22,00 hpf e a organogênese ocorreu das 22,5 hpf até o momento da eclosão entre 7 e 9 dias. Quanto às melanotênias de clima tropical HUMPHREY et al. (2003) descreveram o desenvolvimento embrionário de Melanotaenia splendida splendida 12 incubadas a 28ºC e relataram que a segmentação ocorreu até 3,5 hpf, a gástrula desenvolveu-se das 7,0 hpf até 12,5 hpf e a organogênese iniciou-se as 12,5 hpf indo até o momento da eclosão entre 4 e 9 dias. O desenvolvimento embrionário em melanotênias tropicais foi ainda descrito para Melanotaenia nigrans e Melanotaenia splendida inornata (CROWLEY e IVANTSOFF, 1982; IVANTSOFF et al., 1988), para Melanotaenia splendida australis (IVANTSOFF et al., 1988). Em um estudo mais detalhado sobre a evolução dos eventos ontogênicos FISHELSON (1995), observou em Tilapia zillii, Sarotherodon galilaeus e Pseudotropheus johanni a rede de microvilosidades que envolve desde o sincício perivitelínico até a rede sanguínea embrionária do saco vitelino. Em T. zillii, a rede de microvilosidades surgiu em 16-18 hpf, em S. galileus 30-32 hpf e P. johanni 3840 hpf. 2.8. O vitelo O vitelo é o alimento endógeno dos embriões e larvas vitelinas, caracterizado por uma glicolipofosfoproteína denominada vitelogenina. A Vitelogenina é formada principalmente pela lipovitina e fosfovitina e a embriogênese dos animais ovíparos é dependente da degradação dessas proteínas contidas no vitelo para a liberação do suprimento de aminoácidos (HAGEDORN e KUNKEL, 1979, citados por HIRAMATSU, 2002). Os aminoácidos provem de hidrólises da vitelogenina e durante a absorção os níveis de aminoácidos vão sendo reduzidos, chegando aos menores níveis próximo da primeira alimentação exógena. Os aminoácidos são principalmente utilizados como combustível metabólico, podendo também serem utilizados para a síntese de proteína corporal (RONNESTAD, 1999). Ainda segundo RONNESTAD (1999), os níveis e a composição de aminoácidos componentes do vitelo dos peixes, variam muito entre os peixes principalmente entres ovos demersais e pelágicos. Após a eclosão inicia-se o estágio de larva vitelínica, ou vitelina, e que termina ao final do consumo de todo o vitelo (KENDALL, et al. 1984). Segundo SANTOS e AGOSTINHO (2002) o período de consumo da vesícula vitelínica pode variar muito entre larvas de peixes neotropicais. 13 LASKER et al. (1970, citado por BORÇATO 2004) relataram que existe relação entre a abertura da boca e o consumo de vitelo. Segundo SATO et al. (2003), no momento em que ocorre a abertura da boca, as larvas necessitam de alimento exógeno. NAKATANI et al. (2001) observaram em tilápia nilótica a absorção completa do saco vitelínico quando as larvas atingiram 7,28mm de comprimento padrão. Em Salminos maxilosus foi observado absorção completa do vitelo com as larvas atingindo 6,75mm de comprimento padrão. Ainda segundo NAKATANI et al. (2001) o consumo total do vitelo em Astyanax altiparanae, ocorre quando as larvas atingem 4,50mm de comprimento padrão. 14 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, G.R. (1980) A generic classification of the rainbow fishes (Family Melanotaeniidae). Records of the Western Australian Museum v. 35, n.8 449490. ALLEN, G.R. (1981) Central highlands Rainbows from Papua New Guinea, with descriptions of two new species (Melanotaeniidae). Ed. T.F.H. 1/81. ALLEN. G.R., NORBERT, J.C. (1982) Rainbowfishes of Australia and Papua New Guinea. Ed. T.F.H. Publications, NJ. 141pp. ALLEN, G.R. 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O desenvolvimento embrionário foi dividido em cinco períodosclivagem, blástula, gástrula, organogênese e período de eclosão. Os estágios de desenvolvimento foram determinados e classificados pelas características morfofisiológicas. O tamanho inicial dos ovos variou entre 0,90mm e 1,10mm e todos continham gotas de óleo. Foi observado no córion, a presença de filamentos para fixação dos ovos e todos se originando da mesma região. O desenvolvimento embrionário se deu de forma semelhante ao de espécies do gênero Melanotaenia, com a eclosão dos ovos iniciando com 125,00 horas pós-fecundação e 3505,61 horas-grau pós-fecundação. As larvas recém eclodidas mediram 4,00 ± 0,05mm e apresentavam atividade natatória acentuada, vesícula vitelínica reduzida, movimentação da boca e um sistema digestório aparentemente funcional. O conhecimento da dinâmica do desenvolvimento inicial de embriões e larvas é uma ferramenta fundamental para o manejo adequado da reprodução dos peixes em cativeiro. Palavras chaves: Glossolepis incisus, embriões, ontogenia, peixe ornamental. 21 EARLY ONTOGENY OF EMBRYOS OF SALMON-RED RAINBOWFISH (Glossolepis incisus, WEBER, 1907) ABSTRACT This paper describes the early ontogeny on eggs of the salmon-red rainbowfish (Glossolepis incisus). Fertilized eggs were obtained by naturally and spontaneous spawning of cultured adults. The eggs were hatched at 28ºC. Embryonic development of the salmon-red rainbowfish was divided into five periods – the cleavage, blastula, gastrula, organogenesis and hatching period. Stages were assigned within each those periods. The developmental stages were determined and named by morphological and physiological features. Eggs ranged in size 0,90mm to 1,10mm and oil droplets were present. There were fixer filaments originated from one point at the egg surface. The embryo development occurred similarity with others rainbowfishes of genus Melanotaenia and hatching initiated at 125,00 pos fecundation hours (pfh) and with 3505,61 pos-fecundation hour-degrees (pfhd). The mean newly hatched larvae length was 4,00 ± 0,05mm . All newly hatched larvae of salmon-red rainbowfish exhibited strong swimming activity, a residual yolk, mouth movement and one apparently functional disgestory system. The understanding of early life development of eggs and larvae is a fundamental tool the efficient management in fish culture. Key words: Glossolepis incisus, embryos, ontogeny, ornamental fish 22 INTRODUÇÃO Na Aqüicultura destaca-se a piscicultura, cultura de peixes. No Brasil teve seu início no ano de 1920, através da introdução de peixes exóticos destinados para corte, como as trutas, carpas e em 1957 as tilápias foram introduzidas. Ainda na década de 20, foram introduzidas mais de 50 espécies asiáticas de peixes ornamentais, por um imigrante de origem japonesa, Sigeiti Takase (VIDAL Jr., 2003). A piscicultura de espécies ornamentais se destaca devido ao alto valor agregado ao final da produção, sendo comum um único exemplar de algumas gramas atingir valores muito superiores a um quilograma das espécies de corte. A exemplo disso, enquanto um quilo de tilápia inteira, fresca ou congelada, oscila em torno de US$ 1,50, ou o quilo do pintado (Pseudoplatystoma corruscans) inteiro, fresco ou congelado, que varia em torno de US$ 5,00, o valor de algumas variedades de kinguios e Malanotênias (Melanotaenia sp.), por exemplo, pode chegar a US$ 2,50 e animais como as bótias (Botia sp.) e lábeos (Epalzeorhynchus sp.) atingem valores superiores a US$ 30,00. Além de outras espécies mais valiosas de água doce que chegam a US$ 15 mil (LIMA et al., 2004). Após anos de desenvolvimento de tecnologias e avanço da atividade no Brasil, observa-se que embora ainda haja a necessidade do preenchimento de 23 várias lacunas existentes na piscicultura nacional, somente altas produtividades não mais significam certeza de lucro ou mesmo sucesso do empreendimento (MELO & CHABALIN, 2004). Torna-se cada vez mais necessário o emprego de novas tecnologias, aproveitamento de nichos de mercado. Sobre essa análise e até mesmo como alternativa para utilização na piscicultura ornamental brasileira, tem-se dado bastante atenção aos peixes da família Melanotaeniidae, conhecidos popularmente como melanotênias, que embora tendo sua origem fora do Brasil, vêm sendo importadas desde a década de 90 (SOUZA, 1996) e se adaptaram muito bem a nossas condições de cultivo. Nos últimos anos, estudos a respeito de espécies de melanotênia vêm aumentando devido a seu potencial de produção e, principalmente, ao apelo pela preservação do meio ambiente e de seus estoques naturais, que apontam a necessidade de se mitigar os efeitos antrópicos (POLLINO e HOLDWAY, 2002; GALE et al., 2003; HARFORD et al., 2005). Dentre as várias espécies de melanotênias, destaca-se a melanotênia maçã (Glossolepis incisus), que alcança os maiores valores de venda (US$ 3,00) e, assim como os animais desta família, é rústica, onívora, aceita rações comerciais além de desovar, em condições de cultivo, durante todo o ano (VIDAL Jr., 2005). Entretanto, nos estudos realizados com G. incisus, os aspectos produtivos relacionados a sua larvicultura ainda não estão bem definidos. Dentre os indicadores de qualidade, estão os resultados dos estudos sobre a ontogenia embrionária e larvar que são próprias de cada espécie, o que esclarece o desenvolvimento morfológico e fisiológico das larvas. A falta de informações a respeito das exigências, suas características morfo-fisiológicas impedem o avanço das melhorias no manejo de alimentação e essa falta de adequação do manejo durante a larvicultura resulta, freqüentemente em crescimento lento e sobrevivência reduzida (PORTELLA, 2004). Por serem as fases iniciais de desenvolvimento os momentos mais críticos da vida dos peixes, o conhecimento da ontogenia inicial é indispensável para o desenvolvimento de protocolos de propagação, proporcionando uma melhor eficiência quali-quantitativa na larvicultura, produzindo larvas de melhor qualidade e proporcionando a padronização e escalonamento da produção. 24 MATERIAL E MÉTODOS Os ovos utilizados para observação foram obtidos de desovas naturais de melanotênia maçã (Glossolepis incisus), provenientes do plantel do setor de aqüicultura do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro. As matrizes (n=45) foram mantidas na proporção de 1 macho e 4 fêmeas, distribuídos por 3 aquários de 40 litros de capacidade volumétrica cada, dotados de sistemas independentes de entrada e saída de água, com fluxo contínuo por bombeamento e filtragem biológica. Após o período de dois dias para adaptação das matrizes, foram colocados aguapés (Echornia sp.) nos aquários, sendo duas plantas em cada, para estímulo a reprodução e como substrato da ovoposição. Os aguapés foram observados, a olho nu, a cada meia hora até que fossem encontrados ovos aderidos à raiz. As desovas ocorreram de forma espontânea e os ovos retirados das raízes dos aguapés, com auxílio de tesouras e pinças, sendo agrupados em vidros de relógio. Os ovos foram observados em microscópio óptico com aumento de 2,5X ou 10X para caracterização e identificação do estágio embrionário. Além disto, o 25 diâmetro dos ovos foi mensurado com o auxílio de ocular dotada de escala micrométrica. Após esta observação prévia, os ovos foram transportados para outro aquário, semelhante ao das matrizes, e acomodados em peneiras flutuantes. Cada desova foi contada, avaliada visualmente e acomodada em duas peneiras, sendo uma peneira com uma desova de 12 ovos e a outra peneira com uma desova de 35 ovos, onde ficaram durante o período de incubação a 28°C até o momento da eclosão. A observação da aparência externa dos embriões foi realizada a cada meia hora durante o período embrionário de 0 a 24 h, a cada 1h no período de 24 a 48 h e a cada 2h no período de 48 h até o momento de eclosão. A cada momento de observação alguns ovos eram retirados da peneira, colocados em lâminas de vidro, observados em microscópio óptico (2,5X e 10X) e posteriormente foram tomadas imagens digitais com câmera digital DSC P-200, marca SONY, acoplada ao tubo trinocular do microscópio óptico. Ao final dos momentos de observações os ovos retornavam para as respectivas peneiras. As desovas ocorreram pela manhã e devido ao pequeno número de ovos estes foram observados repetidamente ao longo do tempo até o momento da eclosão. Cada um dos estágios de desenvolvimento embrionário foi definido a partir do momento em que a maioria dos ovos atingiu o respectivo estágio. As figuras ilustrando os estágios embrionários foram documentadas por meio de micrografias. Os estágios embrionários foram classificados com base nas características morfológicas, de acordo com a metodologia utilizada para a piabanha (Brycon insignis) (SOUZA, 2004) e os critérios utilizados para o dojô (Misgurnus anguillicaudatus) (FUJIMOTO et al. 2006). Os períodos iniciais de desenvolvimento nesse trabalho seguiram as definições de FUJIMOTO et al. (2004), com a clivagem compreendendo o período de 2 blastômeros até 64 blastômeros, passando logo após, a partir de 128 blastômeros para o período de blástula. As definições para os estágios de blástula foram adaptadas de FUJIMOTO et al. (2006). Após a eclosão dos ovos, as larvas recém eclodidas (larvas H0) foram caracterizadas visualmente, quanto à capacidade natatorial e a posteriormente 26 foram mensurados o comprimento total, altura da larva, comprimento e altura do saco vitelínico. Além desses parâmetros também foi contado o número de somitos. A temperatura da água dos aquários das matrizes e da incubadora foi mantida dentro de uma variação mínima da temperatura desejada mediante o uso de aquecedor acoplado a termostato automático. A temperatura da água foi mensurada no momento da coleta dos ovos nos aquários das matrizes e em cada momento de observação na água dos aquários incubadoras. Estas mensurações foram realizadas utilizando-se termômetros de bulbo de mercúrio. O pH da água foi mantido em valores próximos a 7,0; para tal se utilizou cal extinta como fonte de cálcio para elevação do pH. O pH foi mensurado no momento de cada observação com auxílio de medidor eletrônico de pH. Cada aquário-incubadora possuía fluxo contínuo de água e aeração constante o que manteve os valores de oxigênio dissolvido próximos dos máximos valores relativos. O oxigênio dissolvido da água da incubadora foi monitorado com auxílio de oxímetro digital, medido durante todo o período do experimento, três vezes ao dia, as 0h, as 8h e 16h. A análise estatística dos dados foi descritiva para todos os parâmetros sendo aplicada correlação de Pearson entre todos os parâmetros. 27 RESULTADOS E DISCUSSÃO Parâmetros físico-químicos da água da incubadora Os valores médios observados para os parâmetros físico-químicos da água da incubadora, durante o período experimental, foram de 27,98 ± 0,08ºC para a temperatura; 7,43 ± 0,46 para o pH; 7,43 ± 0,46 µS para a condutividade e de 6,30 ± 0,41 mg/L para oxigênio dissolvido. Os ovos de Glossolepis incisus Os ovos de G. incisus possuíam a forma esférica, com o córion e a vesícula vitelínica translúcidos. O diâmetro dos ovos recém fecundados variou de 0,90mm a 1,10mm, com valor médio de 1,00 ± 0,1mm. Esses resultados demonstraram que os ovos de G. incisus possuem diâmetros semelhantes aos ovos de M. s. inornata, 0,88mm e de M. nigrans, 1,05mm, (CROWLEY E IVANTSOFF, 1982) e M. s australis (1,07mm) (IVANTSOFF et al. 1988). O córion demonstrou-se bastante rígido e sua textura, após o enrijecimento, ao manipulá-los com as pontas dos dedos, era semelhante a pequenas “esferas de vidro”. Foi observado um reduzido espaço perivitelínico de 0,048 ± 0,0045mm, correspondendo a 4,78% do volume interno total dos ovos e a vesícula vitelínica 28 tomando quase todo o espaço interno do ovo. Segundo NAKATANI (2001) espaços perivitelínicos com participação entre 0,0% e 9,9% são classificados como restritos. Os ovos (Figura. 1) continham inúmeras gotas de óleo de tamanhos variados, inicialmente espalhadas pela periferia da vesícula vitelínica. As gotas de óleo ao longo do desenvolvimento se agruparam em uma região da vesícula oposta ao blastodisco. A mesma disposição e o mesmo comportamento de agregação das gotas de óleo observados em G. incisus, foram observados por REID e HOLDWAY (1995) para ovos recém fecundados de Melanotaenia fluviatilis. F PA GO A B Figura 1. Observação interna e externa de ovos recém fertilizados de melanotênia maçã. A: pólo animal (PA); gotas de óleo (GO). B: filamentos para fixação (F). Os ovos de G. incisus apresentaram extensos e inúmeros filamentos de fixação, todos aderentes e partindo originalmente de uma mesma região no córion, próximo a região do pólo animal (fig. 1). REID e HOLDWAY (1995) identificaram filamentos semelhantes em ovos de M. fluviatilis. Durante a manipulação dos ovos foi observado que os filamentos dos ovos distribuídos nas peneiras se entrelaçavam formando um grumo de ovos e dificultando coletas e a manipulação. As características dos ovos recém fertilizados de G. incisus, o número e o arranjo dos filamentos de fixação e das gotas de óleo foram semelhantes aos resultados das observações de REID e HOLDWAY (1995) para os ovos de M. fluviatilis. Além disso, os mesmos autores reportaram similaridade dessas características dos ovos de M. fluviatilis com ovos de M.splendida inornata, M. splendida australis, M. nigrans. NAKATANI et al. (2001) também observaram adesividade em ovos de carpa comum (Cyprinus carpio), em exemplares do gênero Serrasalmus e alguns 29 Siluriformes, como o bagre do canal (Clarias gariepinus) como estratégia comum de fixação ao substrato. O desenvolvimento embrionário de G. incisus apresentou cinco períodos bem definidos, divididos em clivagem, blástula, segmentação, organogênese e préeclosão assim como observado geralmente no gênero Melanotaenia e demais teleósteos (REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003; FUJIMOTO, 2006). Desenvolvimento embrionário de Glossolepis incisus O padrão de clivagem observado em embriões de G. incisus, assim como em outros teleósteos, foi do tipo meroblástica. Os blastômeros se dividiram inicialmente a cada 30 minutos em média. Os estágios do desenvolvimento embrionário estão dispostos na tabela 01. Período de clivagem 2- células (0,5 hpf e 14,0 hgpf) A primeira clivagem se inicia logo após a fecundação e com 30 minutos dois blastômeros já são perfeitamente visíveis (Fig.2A). 4-células (1,00 hpf e 28,0 hgpf) O sulco da segunda clivagem foi formado transversalmente ao primeiro dividindo os dois blastômeros. O blastodisco nesta fase foi formado por quatro blastômeros, dispostos num arranjo 2 X 2 sobre a vesícula vitelina (Fig. 2B). 8-células (1,5 hpf e 42,0 hgpf) Os sulcos da terceira clivagem foram formados verticalmente ao segundo sulco da fase anterior de 4 blastômeros. O blastodisco nesta fase foi formado por oito blastômeros, dispostos em uma arranjo de 4 X 2 sobre a vesícula vitelina. 16-células (2,0 hpf e 56,0 hgpf) Os sulcos da quarta clivagem foram formados transversais aos sulcos da terceira clivagem. Ao final da divisão foram formados 16 blastômeros, observados em um arranjo de 4 X 4 (fig. 2C). 30 32-células (2,5 hpf e 70,0 hgpf) Os sulcos da quinta clivagem formaram uma fila de blastômeros, formando o blastodisco com 32 blastômeros em uma camada simples, em um arranjo de 4 X 8. Tabela 1. Estágios embrionários de Glossolepis incisus. Estágios HPF 2 blastômeros 0,5 4 blastômeros 1,0 8 blastômeros 1,5 16 blastômeros 2,0 32 blastômeros 2,5 64 blastômeros 3,0 128 blastômeros 3,5 256-1024blastômeros 4,0 – 5,0 Oval (2048 blastômeros) 5,83 Esférico 6,33 Gástrula (10%) 7,33 Gástrula (30%) 7,83 Gástrula (50%) 8,33 Gástrula (70%) 9,33 Gástrula (90%) 9,83 Gástrula (95%) 11,33 Fechamento de blastóporo 11,83 Eixo embrionário 12,33 Diferenciação de cabeça e cauda 12:50 Primórdio óptico 14,83 Somitos (3), notocorda e vesícula de 16,33 Kuppfer Retina; diferenciação do condrocrânio 23,0 Batimento cardíaco 27,0 Melanóforos 28,0 Circulação sangüínea na vesícula 34,0 vitelínica Movimentação do embrião 35,5 Início da pigmentação do cristalino 41,0 Células sensoriais; início da diferenciação das nadadeiras peitorais; 57,83 Ânus Diferenciado; Membrana hialina Pigmentação do sistema circulatório 59,75 Movimentação das peitorais 83,0 Início da movimentação dos olhos 91,0 Abertura da boca 97,0 Ânus aberto; Movimentação do 120,0 intestino (peristaltismo) Eclosão 125,0 HGPF (°C) 14 28 32 46 60,00 84,00 107,32 112,00-126,00 149,32 163,32 191,32 205,32 219,32 247,32 261,32 303,32 317,32 331,32 345,32 401,32 443,32 630,00 742,00 770,00 938,00 980,00 1358,00 1635,62 1682,52 2358,18 2530,80 2698,60 3341,35 3502,61 31 B2 A B4 B Bl B16 C D Figura 2. Desenvolvimento embrionário de G. inicisus durante o período de clivagem: (A) 0,5 hpf; (B) 0,66 hpf; (C) 2,0 hpf; (D). 3,0 hpf. (B2) 2 blastômeros; (B4) 4 blastômeros; (B16) 16 blatômeros; (Bl) Blástula. 64-células (3,0 hpf e 84,0 hgpf) A divisão do blastodisco gera uma nova camada de blastômeros devido à divisão latitudinal em cada blastômero. Nesse momento também observou-se que as gotas de óleo estavam agrupadas na periferia do pólo vegetativo, na região oposta ao blastodisco (Fig. 2D). Período de blástula As 3,5 hpf e 107,32 hgpf foi observado o início da fase de blástula que consistiu em, inicialmente, divisões de um blastodisco disforme e posteriormente a sua organização e evolução de suas bordas sobre a vesícula vitelínica. Esse mesmo momento para embriões de Paralabrax dewegeri foi defino como mórula por QUERALES et al. (2004). (Figura 3). 128-células (3,5 hpf e 107,32 hgpf) O blastodisco torna-se alto devido às múltiplas camadas formadas. Nessa fase a coloração do blastodisco é mais escura que no período da clivagem. 32 256-células (4,0 hpf e 112,00 hgpf) Foi observada uma blastoderme inicialmente organizada semi-esférica e ainda alta, sobre a vesícula vitelínica (Fig.3A). A B C D Figura 3. Desenvolvimento embrionário de G. inicisus durante o período da blástula: (A) 4,00 hpf; (B) 5,00 hpf; (C) 5,83 hpf; (D) 6,33 hpf. 1024 células (5,0 hpf e 126,0 hgpf) Nesse estágio a borda do blastodisco evoluiu sobre a vesícula vitelínica ao mesmo tempo em que a massa de blastômeros se organizou e foi ganhando forma semi-esférica (Fig. 3B). Estágio oval (5,83 hpf e 149,32 hgpf) A evolução da borda do blastodisco sobre a vesícula vitelínica, assim como a organização dos blastômeros, conferiu ao embrião a forma elipsoidal. Foi ainda observada a região da lâmina sincicial, que nesse estágio embrionário estava plana (Fig.2C). Segundo FUJIMOTO (2006) nesse estágio, os embriões de Misgurnus anguilligaudatus estavam com mais 2 mil blastômeros. Estágio esférico (6,33 hpf e 163,32 hgpf) Os limites entre a blastoderme e a vesícula vitelínica tornam-se contínuos. Os dois eixos, maior e menor, nesse momento, apresentam valores semelhantes, 33 conferindo ao embrião uma forma esférica. Nesse momento a região da lâmina sincicial apresentou-se curva (Fig.3D). Período de Gástrula As 07,33 hpf e 191,32 hgpf iniciou-se a epibolia, evolução da blastoderme sobre a vesícula vitelínica. A blastoderme inicialmente, a partir de uma cobertura 10% da vesícula vitelínica, formou uma pequena cúpula sobre a vesícula vitelínica. Ao final da epibolia identificou-se que a progressão da blastoderme foi em média em torno de 20% por hora. REID e HOLDWAY (1995) observaram início da gástrula em torno de 13,0 hpf para M. fluviatilis e HUMPHREY et al. relataram para M. s. splendida, início da gástrula em toro de 10,0 hpf. FERREIRA et al. (2006) observaram início da gástrula em 2 hpf e duração em torno de 3,5 hpf a 28°C, para Astyanax cf. bimaculatus. NAKATANI et al. (2001) observaram para início da gástrula em peixes reofílicos brasileiros cultivados, valores inferiores aos observados para G incisus. Gástrula 30% (7,83 hpf e 191,32 hgpf) Nesse estágio a blastoderme cobriu uma região correspondente a 30% da vesícula vitelínica (Fig.4A). Embora não tenha sido observada a formação do tubo neural, no estágio de gástrula 30% a diferenciação do tubo neural foi observada em M. nigrans e M. s. inornata (CROWLEY e IVANTSOFF, 1982) M fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995), M. s splendida (HUMPHEY et al., 2003) Gástrula 50% (8,33 hpf e 219,32 hgpf) A metade da vesícula vitelina estava coberta com a evolução da blastoderme (Fig.4B). Gástrula 70% (9,33 hpf e 247,32 hgpf) A evolução da cobertura da blastoderme sobre a vesícula vitelina estava em 70% sem ser observada a formação do eixo embrionário durante a evolução das bordas das blastoderme. REID e HOLDWDAY (1995) observaram a formação do eixo embrionário no desenvolvimento de M. fluviatilis durante a evolução da 34 blastoderme. Segundo HUMPHREY et al. (2003) durante o desenvolvimento embrionário de M. s. splendida, no estágio de gástrula 70% hpf, foi possível observar a diferenciação do eixo embrionário e do anel germinativo. AG AG A B B C D Figura 4. Desenvolvimento embrionário de G. inicisus durante o período da gástrula: (A) 7,83 hpf; (B) 8,33 hpf; (C) 10,83 hpf; (D) 11,83 hpf. (AG) Anel germinativo; (B) Blastoporo. Gástrula 90% (10,83 hpf e 289,32 hgpf) A cobertura da blastoderme estava sobre 90% da vesícula vitelínica e nesse momento evidenciou-se a borda da blastoderme formando o blastóporo (Fig.4C). Fechamento do blastóporo (11,83 hpf e 317,32 hgpf) As bordas da blastoderme se encontraram e se fundiram cobrindo 100% da vesícula vitelínica (Fig.3D). O fechamento do blastóporo foi observado em M. nigrans e M.s inornata próximo a 18 hpf (REID e HOLDWAY, 1995) e em M. s splendida próximo a 12,5 hpf (HUMPHREY et al., 2003). Em peixes reofílicos brasileiros percebe-se um desenvolvimento embrionário mais rápido, sendo observado, por exemplo, para embriões de Brycon orbygnianus o fechamento do blastóporo às 6,5 hpf (REYNALTE-TATAJE et al. 2004) e para Brycon insignis 5,5 hpf e 161,0 hgpf (SOUZA, 2004). FERREIRA et al. (2006) observaram o fechamento do blastóporo em Astyanax cf bimaculatus também com 5,5 hpf. 35 Período de Organogênese A organogênese teve início assim que terminou o período de gástrula e foi observado até o momento da pré-eclosão. Durante a organogênese, os tecidos e os órgãos se diferenciaram. Entre os eventos desse período foram observados a diferenciação de órgãos visuais e auditivos, pigmentação e início dos batimentos cardíacos, entre outros. Essas características são importantes e muito utilizadas na descrição morfo-fisiológica e identificação dos estágios de desenvolvimento dessa família (HUMPHREY et al. 2003; REID e HOLDWAY, 1995). Eixo embrionário (12,33 hpf e 331,32 hgpf) O eixo embrionário G. incisus foi observado as 12,33 hpf sendo formado inicialmente sobre o escudo embrionário sobre a vesícula vitelínica. REID e HOLDWAY (1995) observaram a diferenciação do eixo embrionário com 15,0 hpf, durante o desenvolvimento da gástrula. Também HUMPHREY et al. (2003) relatam a diferenciação do eixo embrionário em torno das 10,0 hpf, também durante o período da gástrula. HUMPHREY et al. (2003) observaram a diferenciação do eixo embrionário no estágio de gástrula 30%, o que provavelmente pode ter ocorrido em fases anteriores com Glossolepis incisus, mas não observado devido a dificuldade da observação. Diferenciação da cabeça e da cauda (12,83 hpf e 345,32 hgpf) Durante o desenvolvimento do eixo embrionário, uma das extremidades inicia a diferenciação na porção anterior do corpo embrionário, dando origem à região cefálica do embrião (Fig. 5A). Primórdio óptico (14,83 hpf e 401,32 hgpf) Ocorre a evaginação de um par de vesículas ópticas rudimentares que surgem na região cefálica do embrião, dando origem ao primórdio óptico (Fig.5B). 3-somitos (16,83 hpf e 443,32 hgpf) Três pares de somitos rudimentares se diferenciam, com forma elíptica, na região mediana do embrião, na região da cabeça houve progressão no desenvolvimento da vesícula óptica e na região oposta a cabeça foi observada a 36 vesícula de Kuppfer (Fig.5C), que segundo MOURA (1991) possui função excretora. Nesse estágio também foi possível identificar a notocorda ao longo do eixo do embrião. EKANAYAKE e HALL (1991) observaram que a notocorda de medaka (Oryzias latipes) se organiza do folheto epitelial, consistindo de células, que contém inúmeros vacúolos, conectadas e envolvidas por uma bainha complexa, formada por uma membrana interna secretada pelas células do epitélio da notocorda, essa membrana é recoberta por uma densa bainha fibrosa, composta por fibras colágenas, uma camada externa elástica, devido à presença de fibras elásticas e uma camada superficial de bainha de tecido conectivo com a matriz extracelular de colágeno depositada por fibroblastos do mesênquima. Esse processo de organização da notocorda provavelmente. 13-somitos (23,0 hpf e 630,00 hgpf) Em embriões com treze pares de somitos, foi possível observar a diferenciação da retina no primórdio óptico dando início a diferenciação da vesícula óptica. Também foi visualizada, nesse estágio, a diferenciação do condrocrânio, na região cefálica, essas estruturas foram observadas também nesse momento por FUJIMOTO et al. (2006) (Fig. 5D). Batimento cardíaco (27,0 hpf e 742,00 hgpf) O coração embrionário observado foi inicialmente uma simples região da veia axial na mesoderme que inicia movimentos peristálticos promovendo lentamente a circulação do sangue. Inicialmente foram observados 50,44 ± 2,60 batimentos por minuto em média. REID e HOLDWAY (1995) observaram em M. fluviatilis batimentos iniciais de 72 batimentos por minuto. Segundo os mesmo autores, M. fluviatilis iniciou seus batimentos cardíacos com 46 hpf e CROWLEY e IVANTSOFF (1982) observaram início de batimento cardíaco em M. nigrans e M. s. inornata com 47 hpf a 25°C. Melanóforos (28,0 hpf e 770,00 hgpf) Os melanóforos surgiram aleatoriamente ao longo do eixo embrionário passando logo depois para a vesícula vitelínica. Inicialmente são dentríticos e também foram observados em M. fluviatilis por REID e HOLDWAY (1995). Circulação sanguínea sobre a vesícula vitelínica (34,0 hpf e 938,00 hgpf) 37 A circulação que havia iniciado sobre o eixo embrionário, nesse momento, possui uma maior velocidade no fluxo sanguíneo, 80 batimentos por minuto, e o vaso embrionário axial se bifurca. O novo vaso se desenvolve e se ramifica sobre a vesícula vitelínica promovendo a irrigação sanguínea sobre a região periférica do vitelo. Este mesmo padrão foi identificado por MATKOVIC et al. (1985) em Rhamdia sapo. HUMPHREY et al. (2003) observaram em M. s splendida o início da circulação sobre a vesícula em 30,5 hpf. REID e HOLDWAY (1995) observaram em M. fluviatilis o início da circulação sobre a vesícula próximos a 50 hpf. Ca PO Cd VK A C B Cc R NP VO D E F Figura 5. Desenvolvimento embrionário de G. inicisus durante o período da organogênese: (A) 12,83 hpf; (B) 16,33 hpf; (C) 14,83 hpf; (D) 23,0 hpf; (E) 83,0 hpf; (F) 120,0 hpf. (Ca) cabeça; (Cd) Cauda; (PO) Primórdio óptico; (VK) Vesícula de Kuppfer; (VO) Vesícula óptica; (Cc) Condrocrânio; (NP) Nadadeira peitoral; (R) Retina pigmentada. Movimentação do embrião (35,5 hpf e 980,00 hgpf) Início das contrações musculares com pouca freqüência na repetição dos espasmos, mas os somitos já apresentavam disposição em “V”. Em G. incisus foi observado que embriões com dezoito somitos possuíam a cauda passando pela região da cabeça fazendo com que os embriões se dobrassem no interior dos ovos dificultando a contagem dos somitos. Além disso, foi observado que o botão caudal estava liberado. 38 Pigmentação do cristalino (41,0 hpf e 1358,00 hgpf) Nesse momento foi observado que a cápsula óptica estava diferenciada e o início da pigmentação apenas do cristalino. HUMPHEY et al. (2003) observaram a pigmentação das cápsulas ópticas de M. s. splendida em 48 hpf. Nadadeiras peitorais (57,83 hpf e 1635,62 hgpf) As nadadeiras peitorais, assim como observado em M. s. splendida por HUMPHEY et al.. (2003) e em M. fluviatillis por REID e HOLDWAY (1995), iniciaram seu desenvolvimento ainda na fase embrionária e foram evidenciadas no eixo embrionário por uma clara região oval bilateral e simétrica, ao final da região cefálica. O início do desenvolvimento da nadadeira peitoral foi observado em M. fluviatilis às 46 hpf (REID e HOLDWAY, 1995) e em M. s. splendida as 48 hpf (HUMPHREY et al..2003). No presente trabalho, foi observado ainda nesse estágio o desenvolvimento da membrana hialina e evidenciadas inúmeras células sensoriais, iniciando ao redor da região da boca e se espalhando poucas horas depois para o redor da órbita ocular e cabeça. Nesse momento, observou-se também a diferenciação do ânus, que permaneceu, a principio fechado, até o início do peristaltismo da região posterior do trato digestório. Nesse momento também foi observado um crescimento das dimensões da membrana hialina apresentando várias dobras ao logo do corpo do embrião. Pigmentação do sistema circulatório (59,75 hpf e 1682,52 hgpf) O sangue inicia sua coloração, passando do incolor para avermelhado, com o coração apresentando duas câmaras trabalhando em movimentos antagônicos de sístole e diástole, representando o átrio e o ventrículo. Foi observada, nesse momento, uma freqüência cardíaca de 180 batimentos por minuto. Movimentação das nadadeiras peitorais (83,0 hpf e 2358,18 hgpf) Ao final da diferenciação das nadadeiras peitorais, os embriões iniciaram a movimentação das nadadeiras, com batimentos rápidos e bem espaçados. Também foi observado nesse momento a diferenciação de uma vesícula amarela na cavidade abdominal, em região logo abaixo, e posterior, da nadadeira peitoral direita. Essa vesícula amarela também foi observada por HUMPHREY et al.. (2003) em M. s. splendida, sendo identificada como o fígado. Além disso, foi observado nesse estágio que ocorreu o início da pigmentação da retina. 39 Movimentação dos olhos (91,0 hpf e 2530,80 hgpf) Após o desenvolvimento da pigmentação do cristalino e da pigmentação da retina (Fig. 5E) os olhos passaram a mover-se. Abertura da boca (97,0 hpf e 2698,60 hgpf) Foi possível identificar previamente o delineamento da boca que, ao abrir, permanecia com movimentos lentos e espaçados. Com a abertura da boca foi possível identificar um dente único molariforme, presente na maxila inferior, sobre a região da sínfise. Abertura do Ânus (120,0 hpf e 3341,35 hgpf) Com o início do peristaltismo da porção posterior do trato digestório, foi possível acompanhar a expulsão de um líquido amarelado que percorria toda a porção posterior do tubo digestório sendo expelido pelo ânus. Além disso, observouse que os melanóforos passavam de dendríticos a uma forma esférica. A retina encontrava-se completamente pigmentada (Fig. 5F). Novas células sensoriais (neuromastos) formaram uma fila ao longo do eixo embrionário. Segundo MUKAI e KOBAYASHI (1995), os neuromastos são órgãos mecanosensitivos, importantes para a percepção de estímulos físicos para a fuga de predadores ou predação do plâncton e observaram em Gnathopogon elongatus caerulescens padrão de desenvolvimento similar ao observado em G. incisus, porém iniciando na fase de larva. Foi possível observar nesse momento que a freqüência cardíaca foi de 228 batimentos por minuto, valor superior ao observado por REID e HOLDWAY (1995) para M. fluviatilis também no momento de pré-eclosão. Esse conjunto de características sugeriu que os embriões estavam no período de pré-eclosão. Eclosão (125,0h e 3502,61 hgpf) A eclosão dos embriões teve início a partir de 125,0 hpf e 3502,61 hgpf com duração até 150,25 hpf e 4234,72 hgpf (Figura 6). Esse tempo de desenvolvimento embrionário é considerado relativamente alto para os peixes nacionais (NAKATANI et al., 2001; REYNALTE-TATAJE et al., 2004). Já para animais do gênero Melanotaenia, tempos entre 6 e 7 dias de desenvolvimento embrionário são normalmente observados na literatura como tempo normal de desenvolvimento (HUMPHREY et al. 2003; REID e HOLDWAY, 1995). Para M. fluviatilis o período de eclosão observado foi entre 7 e 9 dias e HUMPHREY et al. (2003) observaram em 40 M. s. splendida, tempo de eclosão entre 4 e 8 dias de desenvolvimento embrionário. IVANTSOFF et al. (1988) observaram em M. s australis, M. s. inornata e M. niigrans, espécies do gênero Melanotaenia, período embrionário de 4,5 dias a 26°C. Percentagem de Eclosão (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 120 125 130 135 140 145 150 155 Horas Pós-fecundação Figura 6. Evolução do período de eclosão dos ovos de G. incisus. A saída das larvas mediante o rompimento do córion aconteceu de maneira muito rápida semelhantemente ao observado por HUMPHEY et al. (2003) para M. s. splendida. As larvas recém eclodidas semelhantemente a M. s. splendida (HUMPHREY et al. 2003) e M. fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995) eram muito ativas e possuíam muita habilidade natatória. As larvas recém eclodidas mediram 4,00 ± 0,05mm de comprimento total médio e possuíam rápida movimentação dos opérculos, movimentação da boca e do trato digestório e também apresentavam otólitos proeminentes como também observado em M. s. splendida (HUMPHREY et al. 2003) e M. fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995). Foi possível observar que as larvas recém-eclodidas continham um volume residual de vitelo e nesse resíduo ainda foi possível se observar gotas de óleo. Não foi observado o enchimento da bexiga natatória nas larvas recém eclodidas de G. incisus, mas não afundavam quando paravam de nadar. As larvas de M. s. splendida (HUMPHEY et al., 2003) relataram o enchimento da bexiga natatória no momento da eclosão. Segundo REID e HOLDWAY (1995), para M. fluviatilis o enchimento da bexiga natatória ocorre 10h após a eclosão a 25°C. A freqüência de batimentos cardíacos das larvas recém eclodidas de G. incisus foi de 245 por minuto. Durante a progressão do desenvolvimento do sistema 41 circulatório, e conseqüentemente da intensificação da freqüência cardíaca, observou-se no período noturno queda na freqüência cardíaca, retornando a níveis mais elevados pela manhã. Isso sugere uma relação específica com o ciclo circadiano ou uma resposta fisiológica ao período de escuro, devido ao stress causado pelo período de iluminação. Não foi objetivo do presente trabalho identificar o momento inicial da alimentação, mas quanto à alimentação inicial de larvas de melanotênias, REID e HOLDWAY (1995), observaram em M. fluviatilis, movimentos de alimentação logo após a eclosão e início de alimentação em 12 horas após eclosão. HUMPHEY et al. (2003) relataram o início da alimentação das larvas de M. S. splendida em poucas horas após a eclosão. SATO et al. (2003) relataram que quando ocorre a abertura da boca as larvas têm necessidade de alimentação de origem exógena. Os tempos e horas-graus dos eventos morfofisiológicos observados durante o desenvolvimento de embriões de G. incisus foram correlacionados entre si e os resultados podem ser observados respectivamente nas tabela 2 e 3. Tabela 2. Principais correlações observadas entre os eventos morfofisiológico em horas-grau após a fecundação de embriões de G. incisus. Eventos correlacionados Correlação (%) 64 blastômeros Nadadeiras peitorais 98,93 512 blastômeros Gástrula 20% 98,50 512 blastômeros Diferenciação Eixo embrionário 97,00 Batimento cardíaco Pigmentação do sistema circulatório 95,77 Batimento cardíaco Movimento da nadadeira peitoral 98,75 Nadadeiras peitorais Diferenciação Cabeça e cauda 97,68 Contração muscular Gástrula 20% 98,34 (-) Contração muscular Circulação sobre a vesícula 97,84 Pig. do sistema circulatório* Gástrula 90% 99,07 (-) Pig. do sistema circulatório* Fechamento do blastóporo 97,13 (-) Pig. do sistema circulatório* Movimento da nadadeira peitoral 99,10 Movimento dos olhos Blástula oval 99,54 Movimento dos olhos Gástrula 30% 99,98 Abertura da boca 64 blastômeros 97,57 Abertura da boca Gástrula 20% 97,26 Abertura da boca Vesícula óptica 85,08 Abertura da boca Nadadeiras peitorais 86,58 Abertura da boca Movimentação dos olhos 88,89 Eclosão Vesícula óptica 89,06 (-) Eclosão Pigmentação da cápsula óptica 91,72 (-) correlação inversa. Tabela 3. Principais correlações observadas entre os eventos morfofisiológico em horas após a fecundação de embriões de G. incisus. 42 Eventos correlacionados Fase esférica Diferenciação cabeça e cauda Gástrula 50% Pigmentação do cristalino Gástrula 50% Nadadeiras peitorais Gástrula 50% Movimento dos olhos Diferenciação cabeça e cauda 3 somitos Batimento cardíaco Fase esférica Primórdio óptico Movimento da nadadeira peitoral Contração muscular Circulação sobre a vesícula Fechamento do blastóporo Diferenciação Eixo embrionário Nadadeiras peitorais Gástrula 80% Nadadeiras peitorais Pigmentação do cristalino Movimento dos olhos 64 blastômeros Movimento dos olhos Nadadeiras peitorais Movimento dos olhos Pigmentação do cristalino Abertura da boca Blástula oval Abertura da boca Pigmentação do sistema circulatório Eclosão Diferenciação Eixo embrionário Eclosão Gástrula 50% Eclosão Movimentação dos olhos Eclosão Batimento cardíaco (-) correlação inversa. Correlação (%) 99,98 98,93 99,95 99,87 93,40 99,64 99,81 98,64 99,75 99,95 98,49 98,07 99,98 98,04 97,30 97,78 (-) 96,34 (-) 98,79 (-) 97,85 (-) 98,90 (-) Foi observada correlação baixa ou inexistente entre a maioria dos estágios iniciais de desenvolvimento embrionário de G. incisus. Os estágios de clivagem até o estágio de gástrula 50% ocorreram com grande variação de hpf e hgpf. A partir do estágio de gástrula 50% os valores de correlação entre eventos próximos passam a ser maiores, indicando maior associação entre os eventos. Alguns eventos iniciais apresentaram alta correlação com eventos mais avançados de desenvolvimento, entre eles foi observada alta correlação entre o tempo, em horas-grau pós-fecundação, do estágio de 64 blastômeros e o momento de início da diferenciação das nadadeiras peitorais e de abertura da boca. Em relação as horas pós-fecundação foi observado alta correlação entre o estágio de gástrula 50% com o momento de início da diferenciação das nadadeiras peitorais, pigmentação do cristalino e movimentação dos olhos. Foi observada também uma correlação inversa entre o estágio de gástrula 50% e o momento do início da eclosão dos ovos. O momento da eclosão apresentou correlação com o início de diferenciação da vesícula óptica e da pigmentação do cristalino, demonstrando que, embora tenham sido observadas algumas características indicativas do momento préeclosão, a eclosão estaria mais dependente do desenvolvimento do sistema óptico, 43 que em larvas de G. incisus é o principal órgão sensorial, sendo proporcionalmente grandes nas larvas recém eclodidas. Nas larvas de M. fluviatilis, observadas por HOLDWAY e REID (1995), a eclosão também é associada à formação do sistema ocular. Essas correlações envolvendo o aparecimento das nadadeiras peitorais, o desenvolvimento dos olhos e a abertura da boca, tornam-se importantes uma vez que essas características ocorrem simultaneamente e estão diretamente relacionados com a alimentação exógena, segundo LASKER et al. (1970 citado por SANCHES et al., 2001). Essas estruturas foram observadas nas larvas recém eclodidas de G. incisus, indicando então, que as larvas eclodem com características que indicam proximidade do início da alimentação exógena. 44 CONCLUSÕES • O desenvolvimento embrionário é dividido em cinco períodos bem definidos: clivagem, blástula, gástrula, organogênese e eclosão. • O desenvolvimento embrionário de Glossolepis incisus foi semelhante ao desenvolvimento embrionário observado em espécies do gênero Melanotaenia. • O tempo de desenvolvimento embrionário de G. incisus incubados artificialmente o momento da eclosão. • As larvas de G. incisus eclodem com um volume residual de vitelo em um período alimentar mixotrófico, com estruturas morfológicas externas que lhe permitem o início da alimentação de origem exógena. 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS BORÇATO, L.B., BAZZOLI B., SATO, Y. (2004) Embriogenesis and larval ontogeny of the “piau-gordura”, Leporinus piau (Fowler) (Pisces, Anostomidae) after inducing spawning. 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No segundo momento, até 80 hpf, foi observada uma menor velocidade de consumo, com o embrião evoluindo até avançados estágios da organogênese. O terceiro momento foi o de menor intensidade de consumo, os embriões apresentaram visualmente poucas diferenças morfológicas, momento pré-eclosão. Observou-se nas larvas recém eclodidas uma vesícula vitelínica reduzida, mas ainda presente. Os embriões de melanotênia maçã, diferentemente de outras espécies de peixes tropicais, eclodem ao final período alimentar endotrófico, próximo ao mixotrófico, demandando alimentos de origem exógena poucas horas após a eclosão. Palavras Chave: Melanotênia maçã, Desenvolvimento inicial, Vitelo, Embriões. 50 YOLK-VESICLE ABSORPTION ON EARLY DEVELOPMENT OF EMBRYOS OF SALMON-RED RAINBOWFISH (Glossolepis incisus, WEBER 1907)). ABSTRACT The consuming of yolk on development of embryos of the red rainbowfish (Glossolepis incisus) were examined under controlled hatchery conditions. Naturallyfertilized eggs, obtained by spawning of cultured adults, were stocked into floating sieves in 40L flow-through aquaria at temperature of 28°C. A photoperiod of 16L: 8D was maintained. The embryos have a long period of hatching about 7 days and consumed almost all yolk during the early stages into the eggs. The consume was ^ described for the equation Y= = - 0,0000002X3 + 0,00005X2 -0,06X + 0,383 (R2=0,9993) and was more intense in a first period until 40 hour post-fecundation (hpf). At this moment the embryos were initiating the organogenesis stage. The consume was lower until 80 hpf with embryos in advanced organogenesis and after the lowest levels until hatching with few morphologics alterations. At hatching the newly-hatched larvae yolk-sac is reduced, but still present and the larvae are strongly swimmers and have a functional mouth, enteric peristaltic movement and anus opened suggesting an initial exogenous feeding stage. At hatching the newlyhatched larvae yolk-sac is reduced, but still present and the larvae are strongly swimmers and have a functional mouth, enteric peristaltic movement and anus opened suggesting an initial exogenous feeding stage. Differently to others species of tropical fishes that have a long time for the weaning, larvae of red rainbowfish are already for becoming first-feeding larvae in few hours after hatching. Keywords: Red Rainbowfish, Early development, Yolk, Eggs. 51 INTRODUÇÃO As melanotênias integram um grupo de pequenos, coloridos e valiosos peixes cultivados no seguimento de ornamentais. Elas pertencem à família Melanotaeniidae que possui 7 gêneros e 66 espécies, encontrados em várias condições ecológicas da Austrália e Nova Guiné (ALLEN 1989; COATES 1990). As melanotênias são classificadas como espécies forrageiras, com importante participação na cadeia alimentar do ambiente dos rios. Além disso, espécies como Melanotaenia fluviatilis vêm se tornando importantes organismos testes para ensaios de toxicidade de produtos químicos e poluentes de rios (REID e HOLDWAY, 1995). A desova das melanotênias, em geral, envolve a liberação simultânea dos gametas masculinos e femininos. Em condições controladas de laboratório ou de sistemas de cultivo, desovam durante o ano inteiro (VIDAL Jr., 2005). Os ovos das diversas espécies estudadas de melanotênias são semelhantes e geralmente possuem uma seqüência similar de desenvolvimento embrionário e larval (CROWLEY e IVANTSOFF, 1982; REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003). As larvas recém eclodidas apresentam nadadeiras peitorais, boca e bexiga natatória e são muito ativas. As larvas nadam ativamente e a alimentação tem início 52 em poucas horas após a eclosão devido ao reduzido volume de vitelo (HUMPHREY et al. 2003; REID e HOLDWAY 1995). O vitelo é uma glicolipofosfoproteína que durante todo o período embrionário é a única fonte de nutrientes para o desenvolvimento do embrião. Após a eclosão, as larvas ainda utilizam seu vitelo embrionário como alimentação endógena por algum tempo, até a sua total exaustão. Ao final do consumo do alimento endógeno as larvas têm a necessidade encontrar o alimento adequado após o consumo do vitelo, sem o qual teria início a reabsorção de seus tecidos (autofagia) (PHONLOR e VINAGRE, 1989). O jejum sendo prolongado leva a óbito. O tempo jejum que causa o óbito, mesmo após a retomada da alimentação, é definido como ponto de não-retorno (PNR). O PNR só ocorre quando, mesmo após a ingestão da primeira alimentação, mais de 50% das larvas que ingeriram o alimento, morrem independente da mortalidade do controle. (BLAXTER e HEMPEL, 1963). O período entre a primeira alimentação da larva e o PNR é fundamental para a sobrevivência da larva (JOHNSON e KATAVIC, 1986; PHONLOR e VINAGRE, 1989). Além disso, a falta de informações a respeito das exigências nutricionais das larvas, suas características morfo-fisiológicas e manejo de alimentação inadequado durante a larvicultura resulta, freqüentemente, em crescimento lento e sobrevivência reduzida (PORTELLA, 2004). Entre as várias espécies de melanotênias, a melanotênia maçã se destaca por alcançarem os maiores valores de venda e assim, como os animais desta família, são rústicos, onívoros, aceitam muito bem rações comerciais e desovam em condições de cultivo durante todo o ano. Entretanto, diversos aspectos produtivos e, em especial, a larvicultura de G. incisus não foram definidos, tornando o cultivo pouco eficiente e com baixo retorno do capital investido, apesar do alto valor agregado do produto final. Além de outros fatores, os indicadores de qualidade larval são fundamentais para se otimizar o processo de transição alimentar, momento este, ainda crítico na larvicultura. Dentre os indicadores de qualidade, estão os momentos do desenvolvimento morfológico e fisiológico das larvas, principalmente o tempo de absorção do vitelo e o momento de transição alimentar do endógeno para o exógeno, ou seja, período mixotrófico. 53 MATERIAL E MÉTODOS Os ovos utilizados foram obtidos de exemplares machos e fêmeas, sexualmente maduros de Melanotênia maçã (Glossolepis incisus) do plantel de peixes do setor de aqüicultura do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro. As matrizes (n=45) foram distribuídas na proporção de 1 macho e 4 fêmeas, distribuídos por 3 aquários de 40 litros de capacidade volumétrica cada, dotados de sistemas independentes de entrada e saída de água, com fluxo contínuo por bombeamento e sistema de filtragem biológica. Após o período de dois dias para adaptação das matrizes, foram colocados aguapés (Echornia sp.) nos aquários das matrizes, duas plantas por aquário, para estímulo da reprodução e como substrato das desovas. Os aguapés foram observados a cada meia hora até que fossem encontrados ovos presos à raiz. As desovas ocorreram de forma espontânea e os ovos, retirados das raízes dos aguapés com auxílio de tesouras e pinças, foram agrupados em vidros de relógio. Os ovos foram observados em microscópio óptico com aumento de 2,5X ou 10X e o diâmetro dos ovos mensurados com o auxílio de ocular com escala micrométrica. 54 Para a execução dos experimentos de avaliação de consumo do vitelo dos embriões de G. incisus, foi coletada uma desova que ocorreu de forma natural e espontânea sob os aguapés. Os ovos foram retirados das raízes dos aguapés com auxílio de tesouras e pinças e agrupados em vidros de relógio. Os ovos foram observados em microscópio óptico e o diâmetro dos ovos foi mensurado com o auxílio de ocular com escala micrométrica. As medidas obtidas foram corrigidas por ajuste com uma lâmina micrométrica com escala de 1mm. Após a avaliação prévia, os ovos foram transportados para outro aquário de 40L, semelhante ao das matrizes, e acomodados em uma peneira flutuante. A desova foi contada, avaliada e acomodada na peneira em um total de 35 ovos, onde ficaram durante todo o período de incubação até o momento da eclosão. As observações da aparência externa dos embriões e mensuração do comprimento e altura foram realizadas a cada 2h desde os momentos iniciais de desenvolvimento até o momento de eclosão. A cada momento de observação os ovos eram levados ao microscópio óptico (2,5X e 10X) e mensurados, posteriormente retornavam para a peneira. Os valores de altura (AV) e de largura da vesícula vitelínica (LV) foram utilizados para o cálculo do volume de vitelo da vitelínica através da fórmula, proposta por BLAXTER E HEMPEL (1963): V= π . CV. AV2 6 A temperatura da água dos aquários das matrizes e das incubadoras foi controlada mediante o uso de aquecedores acoplados a termostatos automáticos programados para 28°C e distribuídos em número de um aquecedor por aquário. A temperatura da água foi mensurada no momento da coleta dos ovos nos aquários das matrizes e, em cada momento de observação, na água dos aquários de incubação. As mensurações foram realizadas utilizando-se termômetro digital. O pH da água foi mantido em valores próximos a 7,0; para tal se utilizou cal extinta como fonte de cálcio para elevação da alcalinidade, do pH e da dureza da água, tamponando-a. O pH foi mensurado no momento de cada observação com auxílio de medidor eletrônico de pH, com precisão de duas casas decimais. 55 A condutividade da água da incubadora foi medida também no momento de cada observação, por meio de condutivímetro digital, com precisão de duas casas decimais. Com relação ao oxigênio dissolvido (OD), o sistema contou com fluxo contínuo de água nos aquários de incubação e aeração constante por meio de sopradores elétricos e as mensurações de OD foram tomadas três vezes ao dia, as 0h, 8h e 16h, com oxímetro digital, com precisão de duas casas decimais. Foi realizada análise estatística descritiva e foram testadas equações de regressão para os principais parâmetros, conforme o melhor ajustamento. 56 RESULTADOS E DISCUSSÃO Após o término do período experimental o valor médio observado para os parâmetros físico-químicos da água da incubadora foi de 28,27 ± 0,33°C para a temperatura; de 6,3 ± 0,41 para o pH; 714,4 ± 34,99 µs para a condutividade e 6,30 ± 0,41 mg/L para o oxigênio dissolvido. Os volumes de vitelo (Tab. 1) disponíveis para o embrião diminuíram rapidamente durante o primeiro dia de desenvolvimento, passando de 0,38mm para 0,17mm nas primeiras 40hpf. Esse momento coincidiu com o período da organogênese média dos embriões. Foi observado que com 40hpf, os embriões de G. incisus possuíam um coração embrionário funcional (uma artéria pulsante) com freqüência cardíaca em torno de 116 batimentos por minutos. Além disso, foi possível observar contrações musculares do embrião e o início da pigmentação da cápsula óptica. A partir de 40hpf, observou-se um consumo menos intenso de vitelo em relação ao primeiro período, sendo observado que o volume vitelínico passou de 0,17mm para 0,13mm, mantendo-se nesses níveis até 80hpf, quando os embriões já estavam em estágios avançados da organogênese. Com 80 hpf os embriões apresentaram células sensoriais espalhadas pela cabeça, nadadeira peitoral em desenvolvimento avançado (sua movimentação ocorreu com 82hpf), ânus 57 diferenciado e membrana hialina bem desenvolvida. No sistema circulatório já se observava pigmentação e a freqüência cardíaca era de 200 batimentos por minuto. Tabela 01. Valores médios (n=15) de comprimento e altura da vesícula vitelínica e volume do vitelo durante o período embrionário. HPF HGPF (°C) Largura (mm) Altura (mm) Volume de Vitelo (mm) 7,50 11,33 15,58 20,17 24,67 28,33 34,33 36,50 38,17 42,33 44,33 48,33 52,33 58,67 60,17 65,00 68,50 70,25 75,00 78,83 81,17 87,07 91,92 93,17 95,17 97,17 99,25 101,25 103,00 105,17 109,00 113,00 115,00 117,00 119,17 215,15 325,07 446,17 577,00 703,04 801,89 986,71 1090,71 1151,64 1267,67 1323,01 1424,34 1535,56 1708,92 1751,74 1889,04 1988,02 2066,54 2201,61 2310,60 2376,19 2599,52 2736,44 2771,81 2828,75 2885,75 2944,96 3001,56 3050,76 3111,65 3219,36 3331,76 3387,80 3443,45 3503,68 0,91 ± 0,03 0,89 ± 0,02 0,85 ± 0,04 0,83 ± 0,05 0,85 ± 0,05 0,92 ± 0,05 0,89 ± 0,04 0,82 ± 0,02 0,82 ± 0,04 0,80 ± 0,02 0,81 ± 0,03 0,79 ± 0,03 0,80 ± 0,02 0,75 ± 0,09 0,73 ± 0,04 0,75 ± 0,05 0,77 ± 0,13 0,76 ± 0,14 0,77 ± 0,10 0,70 ± 0,17 0,72 ± 0,12 0,64 ± 0,11 0,65 ± 0,10 0,58 ± 0,07 0,64 ± 0,03 0,56 ± 0,07 0,57 ± 0,09 0,51 ± 0,05 0,57 ± 0,12 0,41 ± 0,08 0,53 ± 0,11 0,46 ± 0,09 0,42 ± 0,07 0,40 ± 0,10 0,30 ± 0,06 0,89 ± 0,04 0,91 ± 0,02 0,88 ± 0,02 0,74 ± 0,04 0,78 ± 0,06 0,73 ± 0,07 0,69 ± 0,06 0,71 ± 0,09 0,63 ± 0,05 0,59 ± 0,07 0,61 ± 0,05 0,64 ± 0,05 0,61 ± 0,02 0,61 ± 0,05 0,65 ± 0,09 0,61 ± 0,10 0,59 ± 0,03 0,62 ± 0,07 0,65 ± 0,07 0,55 ± 0,02 0,57 ± 0,11 0,55 ± 0,04 0,52 ± 0,10 0,47 ± 0,03 0,54 ± 0,11 0,47 ± 0,05 0,46 ± 0,02 0,51 ± 0,05 0,44 ± 0,06 0,49 ± 0,17 0,49 ± 0,07 0,30 ± 0,06 0,35 ± 0,07 0,33 ± 0,08 0,25 ± 0,07 0,38 ± 0,03 0,38 ± 0,02 0,35 ± 0,03 0,29 ± 0,05 0,22 ± 0,05 0,22 ± 0,06 0,23 ± 0,05 0,22 ± 0,05 0,17 ± 0,02 0,15 ± 0,04 0,16 ± 0,03 0,17 ± 0,03 0,16 ± 0,01 0,15 ± 0,03 0,17 ± 0,05 0,15 ± 0,05 0,14 ± 0,04 0,16 ± 0,05 0,18 ± 0,06 0,11 ± 0,04 0,13 ± 0,06 0,10 ± 0,03 0,10 ± 0,05 0,07 ± 0,02 0,10 ± 0,05 0,06 ± 0,01 0,06 ± 0,02 0,07 ± 0,02 0,06 ± 0,03 0,06 ± 0,06 0,07 ± 0,03 0,02 ± 0,01 0,03 ± 0,02 0,03 ± 0,02 0,01 ± 0,01 Após 80hpf foi observado que o consumo do vitelo no período embrionário voltou a crescer até 119hpf. Os volumes nesse período foram reduzidos de 0,17mm até valores residuais de 0,01mm, na pré-eclosão. A diferença entre o espaço ocupado pela vesícula vitelínica nesse momento e o espaço original foi bastante 58 perceptível como reportado também por HOLDWAY e REID (1995) para embriões de M. fluviatilis. A vesícula vitelina demonstrou regredir primeiramente em largura e após as 40hpf foi observado um maior absorção em altura até o momento de pré-eclosão as 120hpf (Fig. 1). HEMING e BUDDINGTON (1998), propuseram três fases distintas para a absorção de vitelo em peixes teleósteos, com a primeira indo até o momento da préeclosão e as outras duas após a eclosão, sendo que em G. incisus as três fases foram observadas, ainda no interior do ovo, até o momento pré-eclosão. Para a melanotênia maçã foi observado neste trabalho que as três fases, embora identificadas (Figs. 2 e 3), diferentemente das larvas de peixes observadas por HEMING e BUDDINGTON (1998), ocorreram no interior dos ovos durante o período embrionário segundo, terminologia sugerida por KENDALL et al. (1986). Vesícula Vitelínica (mm) 1,00 0,90 Largura da Vesícula Vitelínica Altura da Vesícula Vitelínica 0,80 0,70 0,60 0,50 y = -5E-05x 2 + 0,0013x + 0,8635 A R2 = 0,9319 0,40 0,30 y = -1E-06x 3 + 0,0002x 2 - 0,0146x + 0,9985 L R2 = 0,938 0,20 0,10 0,00 0 20 40 60 80 100 120 140 Horas pós fecundação Figura 1. Largura e altura da vesícula vitelíníca em função das horas pósfecundação As larvas eclodiram a partir de 124,0hpf com vitelo residual. As larvas apresentavam a boca aberta, com a presença de um dente molariforme; olhos pigmentados; movimentos peristálticos na região posterior do intestino; ânus aberto e uma grande atividade natatória. Características observadas nas larvas recém eclodidas de G. incisus tais como pigmentação dos olhos e a abertura da boca, são eventos que, segundo (LASKER et al., 1970, citado por SANCHES et al., 2001) ocorrem simultaneamente e estão diretamente relacionados com a alimentação exógena. SATO et al. (2003) 59 relataram que, quando ocorre a abertura da boca, as larvas iniciam a necessidade de alimentação de origem exógena Volume de vitelo (mm) 0,4 ^y = -2E-07x3 + 5E-05x2 - 0,006x + 0,383 0,3 R2 = 0,9993 0,2 0,1 0 0 20 40 60 80 100 120 140 Horas pós fecundação Figura 2. Consumo de vitelo de embriões de G. incisus em função das horas após a fecundação. Porcentagem de Vitelo (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 120 140 Horas Pós-fecundação Figura 3. Consumo de vitelo, em porcentagem, ao longo do período embrionário, em horas pós-fecundação. Isto nos leva a crer que o início da alimentação exógena ocorre em indivíduos que ainda apresentam vestígios de saco vitelino, como observado no presente trabalho, uma vez que, segundo SANCHES et al. (2001), larvas em pré-flexão apresentaram, além dessas características, algum alimento de origem externa no intestino. As larvas recém eclodidas observadas no presente estudo não utilizaram alimentos de fonte exógena, mas o início da ingestão de alimentos de fonte exógena, período mixotrófico, em larvas de M. s. splendida (HUMPHEY et al., 2003) 60 e M. fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995) foi observada poucas horas após a eclosão. Devido ao volume residual de vitelo, peristaltismo do sistema digestório e pela proximidade início período de ingestão de alimento de fonte exógena, observado em animais da mesma família, pode-se inferir que as larvas recém eclodidas de G. incisus estão próximas ao período de transição alimentar, mixotrófico, ou seja, de transição do período de alimentação endógena para o período de alimentação exógena. KAMLER (1992) define período de transição alimentar, como período de alimentação mista e o considera uma etapa crítica na qual a larva necessita encontrar o alimento adequado a sua sobrevivência, antes de acabar por completo suas reservas endógenas. Segundo VLADIMIROV (1974), o período crítico para larvas com características altriciais (pouco desenvolvidas) é observado logo após a eclosão. Como as larvas de melanotênia maçã apresentaram características precociais (estágios mais avançados de desenvolvimento), nascem muito ativas e em estágios avançados de desenvolvimento, iniciando o período alimentar mixotrófico, assim o período crítico, para esta espécie, seria reduzido, refletindo em uma maior sobrevivência. A larvicultura de espécies com larvas precociais, como G. incisus, é de menor risco e este aspecto é benéfico no tocante à criação desses peixes em cativeiro. A maioria das larvas neotropicais recém eclodidas de interesse para a aqüicultura apresentam características altriciais, como pouca motilidade natatória e pouca reserva vitelínica, além de trato digestório morfofiosologicamente incompleto no momento do início da alimentação exógena (PORTELLA, 2004). Outro aspecto relevante para as larvas recém eclodidas de melanotênia maçã é o fato de que, segundo MARTEINSDOTTIR e ABLET (1992), vesículas maiores causam maior atrito durante o deslocamento, exigindo maior gasto energético, além de dificultar a fuga, quando atacado por predadores. Logo, larvas ativas com absorção mais precoce da vesícula, e conseqüentemente com menores vesículas vitelínicas, teriam um reduzido custo energético para a natação, como no caso da melanotênia maçã, permitindo sua atividade natatória e assim maior eficiência de fuga e predação como também já relatado por HOLM (1986). 61 CONCLUSÕES O vitelo é consumido quase totalmente pelos embriões no interior dos ovos. As larvas recém eclodidas nascem próximas ao período mixotrófico de alimentação. Para a larvicultura dessa espécie é necessário a disponibilização de alimento exógeno momentos após a eclosão. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACKHOUSE, G.N., FRUSHER, D.J. (1980). 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