ONTOGENIA INICIAL E CONSUMO DE VITELO EM

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ONTOGENIA INICIAL E CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES DE
MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER, 1907)
ANDRÉ VELOSO FERREIRA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO – UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
FEVEREIRO - 2007
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL
LABORATÓRIO DE ZOOTECNIA E NUTRIÇÃO ANIMAL
ONTOGENIA INICIAL E CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES
DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER, 1907)
ANDRÉ VELOSO FERREIRA
Orientador: DALCIO RICARDO de ANDRADE
“Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e
Tecnologias
Agropecuárias
da
Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como
parte das exigências para obtenção do título de
Mestre em Produção Animal”.
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
FEVEREIRO DE 2007
ii
ONTOGENIA INCIAL E CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES
DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER, 1907)
ANDRÉ VELOSO FERREIRA
“Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e
Tecnologias
Agropecuárias
da
Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como
parte das exigências para obtenção do título de
Mestre em Produção Animal”.
Aprovada em 27 de fevereiro de 2007.
Comissão Examinadora:
_______________________________________________________________
Prof. Manuel Vazquez Vidal Jr. (D. Sc., Zootecnia) – UENF
_______________________________________________________________
Prof. Ângelo José Burla Dias (D. Sc., Zootecnia) – UENF
_______________________________________________________________
Prof. Eduardo Shimoda (D.Sc., Produção Animal) – FACASTELO
_______________________________________________________________
Prof. Dalcio Ricardo de Andrade (D. Sc., Zootecnia) – UENF
Orientador
iii
“E
disse
conforme
Deus:
à
Façamos
nossa
o
homem
semelhança;
e
a
nossa
domine
imagem,
sobre
os
peixes, sobre as aves e sobre o gado e sobre toda a
terra.”
(Genesis 2: 26)
“O meu Deus, segundo as suas riquezas suprirá todas
as vossas necessidades em glória, por Cristo”.
(Aos Filipenses 4:19)
iv
Aos meus pais Nilton Lopes Ferreira e Marisa Augusta Veloso Ferreira,
pelo sustento, amor, intensa dedicação incondicional e exemplo, de pais e
pessoas, que são e sempre serão e ainda pela minha criação nos caminhos da
retidão.
DEDICO
v
AGRADECIMENTOS
A Deus que a todo instante me deu forças para o cumprimento das
responsabilidades para a execução desse trabalho.
À Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), ao Centro de Ciências
e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) e ao Laboratório de Zootecnia e Nutrição
Animal (LZNA), pelo oferecimento deste curso.
A FAPERJ/UENF, pela concessão dos recursos necessários para a
elaboração dos experimentos.
Aos
Ex-Presidentes
da FENORTE: Prof.ª ANA
LÚCIA
SANGUEDO
BOYNARD e Dr. NELSON NAHIN MATHEUS de OLIVEIRA e ao Ex-Diretor
Superintendente do TECNORTE, Prof. D. Sc. ELIAS WALTER ALVES, pela minha
liberação, pelo apoio e confiança durante o curso de Mestrado.
Ao Diretor de Desenvolvimento Tecnológico do TECNORTE, JEAN IGOR
MARGEM, pelo apoio, incentivo e pela amizade.
Aos orientadores e amigos Prof. D. Sc. DALCIO RICARDO DE ANDRADE e
Prof. D. Sc. MANUEL VAZQUEZ VIDAL Jr., pela confiança, pelos conhecimentos
compartilhados e por toda dedicação durante o Mestrado.
Ao meu amado pai, NILTON LOPES FERREIRA, pelo sustento, educação,
amor e exemplo, de pai e de homem, que é sempre será.
vi
A minha amada mãe, MARISA AUGUSTA VELOSO FERREIRA, pelo amor,
ensinamentos, extrema dedicação e exemplo de mãe que é e sempre será.
Ao meu querido irmão, RODRIGO VELOSO FERREIRA, pelo amor e
companheirismo.
Aos meus priminhos, JOÃO PEDRO PINTO DUARTE (Pedrinho), ANA
BEATRIZ PINTO DUARTE (Bia) e JOÃO GABRIEL PINTO DUARTE (Cacaquel),
pelos momentos de imensa alegria na minha vida.
Ao grande amigo e profissional, M. Sc. GEORGE SHIGUEKI YASUI (Chinês),
pela grande ajuda na execução e na discussão dos assuntos referentes à tese e
pela amizade.
Ao grande amigo, PEDRO PIERRO MENDONÇA, que mesmo se apossando
da minha cadeira durante todo o curso de Mestrado, foi de grande auxílio na
elaboração, na execução e na discussão dos assuntos relacionados a minha tese.
Aos amigos da Piscicultura: MONIQUE VIRÃES BARBOSA DOS SANTOS,
IVE SANTOS MUZITANO, FABRÍCIO PEREIRA REZENDE (Mineiro) e WILLIAN
CRISTIANE TONNINI (Gordo), pelo auxílio e pelo apoio.
Ao estagiário DOUGLAS DA CRUZ MATTOS que mesmo me deixando na
mão várias vezes, foi fundamental na execução dos experimentos.
A todos os amigos da FENORTE, pelo apoio e compreensão.
A
JOVANA
FERRAZ
CERQUEIRA
CAMPOS,
ETIENE
MARQUEZ
AMBRÓSIO GOMES e SIMONE BARCELLOS DE JESUS TARGUETA, da
Coordenação Acadêmica da Pós-graduação em Produção Animal pela dedicação no
cuidado de toda a minha documentação e pelo carinho com que sempre me
trataram; e em especial a JOVANA pela paciência e por ficar no meu pé, não
permitindo que eu perdesse meus prazos de entrega de formulários, relatórios e da
própria tese.
Ao Sr. JORGE FRANCISCO PINTO FILHO (Seu JORGE) e demais
Funcionários do Núcleo Experimental de Zootecnia, pelo trabalho na fase de campo.
Àqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste
trabalho.
OBRIGADO
vii
BIOGRAFIA
ANDRÉ VELOSO FERREIRA, filho de Nilton Lopes Ferreira e Marisa
Augusta Veloso Ferreira, nasceu em 23 de fevereiro de 1975, na cidade do Rio de
Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.
Concluiu o 2° grau no “Colégio Brigadeiro Newton Braga”, Rio de Janeiro RJ, em dezembro de 1993.
Ingressou em agosto de 1994 no curso de graduação em Ciências
Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ,
graduando-se em dezembro de 1999. Durante o curso foi estagiário do Núcleo de
Inovação e Gerenciamento Pesqueiro do Instituto de Biologia, destacando-se na
área de Aquacultura e Biologia Pesqueira, onde foi monitor por dois anos.
Em março de 2005, iniciou o curso de Pós-graduação stricto sensu em
Produção Animal – Nutrição e Produção Animal, Mestrado, na UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE, em Campos dos Goytacazes-RJ,
submetendo-se à defesa de dissertação em 27 de fevereiro de 2007
viii
SUMÁRIO
Páginas
RESUMO...........................................................................................................
x
ABSTRACT.......................................................................................................
xii
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................
1
2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................
5
2.1. A espécie Glossolepis incisus....................................................................
5
2.2. Habitat natural............................................................................................
8
2.3. Parâmetros físico-químicos básicos da água de cultivo............................
9
2.4. Hábitos alimentares...................................................................................
9
2.5. Comportamento dos adultos .....................................................................
10
2.6. Reprodução ...............................................................................................
10
2.7. Desenvolvimento embrionário ..................................................................
11
2.8. O vitelo.......................................................................................................
13
3. REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS.................................................................
15
4. TRABALHOS.................................................................................................
20
ONTOGENIA INICIAL EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (GLOSSOLEPIS
INCISUS, WEBER 1907)
RESUMO......................................
21
ABSTRACT.................................
22
INTRODUÇÃO............................
23
MATERIAL E MÉTODOS..........................................
25
RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................
28
CONCLUSÕES.................................................................................................
57
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS...................................................................
62
CONSUMO DE VITELO EM EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇA (Glossolepis
incisus, WEBER 1907)
RESUMO...........................................................................................................
50
ABSTRACT.......................................................................................................
51
INTRODUÇÃO..................................................................................................
52
MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................
54
RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................
57
CONCLUSÕES.................................................................................................
62
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS.......................................................
63
ix
RESUMO
FERREIRA, André Veloso M. Sc., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro; fevereiro de 2007; Ontogenia inicial e consumo de vitelo em embriões
de melanotênia maçã (Glossolepis incisus, WEBER 1907); Professor
Orientador: Prof. D. Sc. Dalcio Ricardo de Andrade. Professor Co-orientador: D.
Sc. Manuel Vazquez Vidal Jr.
Esse trabalho descreve a ontogenia inicial em ovos de melanotênia maçã
(Glossolepis incisus). Os ovos fertilizados foram obtidos através de desova natural e
espontânea de matrizes em cativeiro. Os ovos foram incubados a 28ºC em uma
incubadora de 40L. O fotoperíodo mantido durante o experimento foi de 16L:8E. O
desenvolvimento embrionário foi dividido em cinco períodos - clivagem, blástula,
gástrula, organogênese e período de eclosão. Os estágios de desenvolvimento
foram determinados e classificados pelas características morfo-fisiológicas. O
tamanho inicial dos ovos variou entre 0,90mm e 1,10mm e todos continham gotas de
óleo. Foi observada no córion a presença de filamentos para fixação dos ovos e
todos se originando da mesma região. A eclosão dos ovos teve inicio com 125:00
horas pós-fecundação (hpf) e 3505,61 horas-grau pós-fecundação (hgpf). As larvas
recém eclodidas mediram 4,00 ± 0,05mm e apresentavam atividade natatória
acentuada, vesícula vitelínica reduzida, movimentação da boca e um sistema
digestório aparentemente funcional. O consumo do vitelo pode ser descrito pela
x
^
equação Y= - 0,0000002X3 + 0,00005X2 - 0,06X + 0,383 (R2=0,9993) observando-se
um primeiro período mais intenso de consumo até 40 horas após a fecundação (hpf),
coincidindo com o período da clivagem até estágios embrionários da organogênese
média. No segundo momento, até 80 hpf, foi observada uma menor velocidade de
consumo, com o embrião evoluindo até avançados estágios da organogênese. O
terceiro momento foi o de menor intensidade de consumo, os embriões
apresentaram visualmente poucas diferenças morfológicas, momento de préeclosão. Observou-se nas larvas recém eclodidas uma vesícula vitelínica reduzida,
mas ainda presente. Os embriões de melanotênia maçã, diferentemente de outras
espécies
de
peixes
tropicais,
eclodem
no
período
alimentar
mixotrófico,
demandando alimentos de origem exógena poucas horas após a eclosão. O
conhecimento da dinâmica do desenvolvimento inicial de embriões e larvas é uma
ferramenta fundamental para o manejo adequado da reprodução dos peixes em
cativeiro.
xi
ABSTRACT
FERREIRA, André Veloso M. Sc., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro; 2007 february; Early ontogeny and yolk consuming on embryos of
salmon-red rainbowfish (Glossolepis incisus, WEBER 1907); Adviser: Prof.
Dalcio Ricardo de Andrade. Co-adviser Manuel Vazquez Vidal Jr.
This paper describes the early ontogeny on eggs of the salmon-red rainbowfish
(Glossolepis incisus). Fertilized eggs were obtained by naturally and spontaneous
spawning of cultured adults. The eggs were hatched at 28ºC. A photoperiod of 16L:
8D was maintained. Embryonic development of the salmon-red rainbowfish was
divided into five periods – the cleavage, blastula, gastrula, organogenesis and
hatching
period.
Stages
were
assigned
within
each
those
periods.
The
developmental stages were determined and named by morphological and
physiological features. Eggs ranged in size 0,90mm to 1,10mm and oil droplets were
present. There were fixer filaments originated from one point at the egg surface.
Hatching initiated at 125:00 pos fecundation hours (pfh) and with 3505,61 posfecundation hour-degrees (pfhd). The mean newly hatched larvae length was 4,00 ±
0,05mm. The consuming of yolk on development of embryos of the salmon red
rainbowfish (Glossolepis
incisus)
was
examined under
controlled
hatchery
conditions. The embryos have a long period of hatching about 7 days and consumed
almost all yolk during the early stages into the eggs. The consuming was described
^
for the equation Y= - 0,0000002X3 + 0,00005X2 -0,06X + 0,383 (R2=0,9993) and was
xii
more intense in a first period until 40 hour post-fecundation (hpf). At this moment the
embryos were initiating the organogenesis stage. The consume was lower until 80
hpf with embryos in advanced organogenesis and after the lowest levels until
hatching with few morphologics alterations. At hatching the newly-hatched larvae
yolk-sac is reduced, but still present and the larvae are strongly swimmers and have
a functional mouth, enteric peristaltic movement and anus opened suggesting an
initial exogenous feeding stage. Differently to others species of tropical fishes that
have a long time for the weaning, larvae of red rainbowfish are ready for becoming
first-feeding larvae in few hours after hatching.
xiii
1. INTRODUÇÃO
A aqüicultura aparentemente teve seu início quando o homem, pela primeira
vez, capturou peixes em seu habitat natural e os transferiu para um ambiente
confinado. Desta maneira, os registros mais antigos desta atividade datam de mais
de quinhentos anos antes de Cristo, quando os antigos egípcios utilizavam tilápias
para povoamento de tanques, visando ornamentação ou consumo em ocasiões
especiais. Também os antigos romanos construíram açudes destinados ao cultivo de
peixes, alguns dos quais estão em uso até hoje na Europa (PROENÇA &
BITTENCOURT, 1994).
Ao longo de sua evolução observamos que a aqüicultura consolidou-se
como uma atividade de produção de espécies de tanto de corte, destinadas para o
consumo, quanto de espécies ornamentais, para aquários e tanques ornamentais, e
que vem se destacando como uma atividade no setor produtivo envolvendo desde
pequenos produtores rurais, para a obtenção de renda extra, até mesmo grandes
empresas com altos investimentos, como exportação de produtos e participação na
economia de nações.
Além disso, a aqüicultura vem se apresentando como única atividade viável
para suprir a crescente demanda mundial de pescado e peixes ornamentais, uma
vez que a produtividade mundial do setor pesqueiro e extrativista de ornamentais já
1
atingiu seus níveis máximos e incrementos do esforço das capturas sobre os
estoques naturais, muitos em sobrepesca, não mais se refletem em aumentos da
produtividade.
Na Aqüicultura destaca-se a piscicultura, cultura de peixes. No Brasil teve
seu início no ano de 1920, através da introdução de peixes exóticos destinados para
corte, como as trutas, carpas e em 1957 as tilápias foram introduzidas. Ainda na
década de 20, foram introduzidas mais de 50 espécies asiáticas de peixes
ornamentais, por um imigrante de origem japonesa, Sigeiti Takase, que com o tempo
passou a cultivar também espécie nacionais (VIDAL Jr., 2003).
A partir da década de 70, o país voltou sua atenção para a produção de
peixes autóctones, viabilizando a produção em cativeiro de alguns peixes de corte
como tambaqui (Colossoma macropomun), pacu (Piaractus mesopotamicus), piaus
(Leporinus spp), dentre outros, e ornamentais, principalmente os da bacia
amazônica.
Apesar da evolução das tecnologias de produção da piscicultura brasileira
de espécies nativas, ao longo desses últimos anos, observamos que atualmente,
assim como a bovinocultura, avicultura e suinocultura nacional, tanto a produção de
peixes de corte, quanto à de peixes ornamentais estão baseadas em espécies
exóticas, a exemplo as tilápias africanas (Oreochromis sp.) e carpas européias e
asiáticas, para corte, e os betas tailandeses (Betta splends) e kinguios chineses
(Carassius auratus), para ornamentais.
A piscicultura de espécies para fins ornamentais se destaca em relação às
de corte devido ao alto valor agregado ao final da produção, sendo comum um único
exemplar de algumas gramas de peso atingir valores muito superiores a um
quilograma das espécies destinadas para corte. A exemplo disso, enquanto um quilo
de tilápia inteira, fresca ou congelada, oscila em torno de US$ 1,50, ou o quilo do
pintado (Pseudoplatystoma corruscans) inteiro, fresco ou congelado, que varia em
torno de US$ 5,00, o valor de algumas variedades de kinguios e Malanotênias
(Melanotaenia sp.) de menos de 10 g, por exemplo, pode chegar a US$ 2,50 e
animais como as bótias (Botia sp.) e lábeos (Epalzeorhynchus sp.) atingem valores
superiores a US$ 30,00, cada exemplar. Além de outras espécies mais valiosas de
água doce que chegam a US$ 15 mil (LIMA et al., 2004).
No contexto mundial, os principais exportadores de peixes ornamentais,
segundo LIMA (2004), são Singapura, Haiti e os Estados Unidos. O Brasil, segundo
2
a FAO (1999), ocupava a 15a posição, no período de 1995 a 1997. Essa posição
passou para a 10a no ano de 2000, sendo maior a participação de peixes de águas
continentais, principalmente da bacia amazônica (DAVENPORT, 1996; MONTEIRONETO et al., 2000). Dentre os montantes de mercado, somente o seguimento de
peixes ornamentais movimenta segundo a FAO (2000) cerca de US$ 3 bilhões ao
ano.
Apesar do crescente aumento nos volumes nacionais e mundiais de
produção, observa-se que após anos de desenvolvimento de tecnologias e avanço
da atividade aquícola no Brasil, ainda há necessidade do preenchimento de várias
lacunas existentes na piscicultura nacional, e somente a alta produtividade não
significa mais certeza de lucro ou mesmo sucesso do empreendimento (MELO &
CHABALIN, 2004).
Torna-se cada vez mais necessário o emprego de novas tecnologias,
aproveitamento de nichos de mercado. Sobre essa análise, até mesmo como
alternativa para utilização na piscicultura ornamental brasileira, tem-se dado
bastante atenção aos peixes da família Melanotaeniidae, conhecidos popularmente
como melanotênias, que embora tendo sua origem fora do Brasil, vêm sendo
importadas desde a década de 90 (SOUZA, 1996) e se adaptaram muito bem a
nossas condições de cultivo.
Nos últimos anos, estudos a respeito de espécies de melanotênia vêm
aumentando devido a seu potencial de produção e, principalmente, ao apelo pela
preservação do meio ambiente e de seus estoques naturais, que apontam a
necessidade de se mitigar os efeitos antrópicos (POLLINO e HOLDWAY, 2002;
GALE et al., 2003; HARFORD et al., 2005)
Dentre as várias espécies de melanotênias, destaca-se a melanotênia maçã
(Glossolepis incisus), que alcança os maiores valores de venda (US$ 3,00) e, assim
como os animais desta família, é rústica, onívora, aceita rações comerciais além de
desovar, em condições de cultivo, durante todo o ano (VIDAL Jr., 2005). Entretanto,
nos estudos realizados com G. incisus, os aspectos produtivos relacionados a sua
larvicultura ainda não estão bem definidos.
Em relação a larvicultura, os indicadores de qualidade da larva são
fundamentais para maximizar a sobrevivência dos peixes durante o weaning,
período mixotrófico de transição alimentar do endógeno para o exógeno, e que é um
momento ainda crítico na larvicultura. Dentre os indicadores de qualidade, estão os
3
resultados dos estudos sobre a ontogenia embrionária e larvar que são próprias de
cada espécie, o que esclarece o desenvolvimento morfológico e fisiológico das
larvas.
A falta de informações a respeito das exigências nutricionais das larvas,
suas características morfo-fisiológicas, impedem o avanço das melhorias no manejo
de alimentação e essa falta de adequação do manejo durante a larvicultura resulta,
freqüentemente, em crescimento lento e sobrevivência reduzida.
Por serem as fases iniciais de desenvolvimento os momentos mais críticos
da vida dos peixes, o conhecimento da ontogenia inicial é indispensável para o
desenvolvimento de protocolos de propagação, proporcionando uma melhor
eficiência quali-quantitativa na larvicultura, produzindo larvas de melhor qualidade e
proporcionando a padronização e escalonamento da produção.
1.1. Objetivos
•
Descrever
a
seqüência
de
eventos
morfofisiológicos
durante
o
desenvolvimento de embriões;
•
Acompanhar o processo de consumo de vitelo durante o período
embrionário.
4
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. A espécie Glossolepis incisus
A espécie Glossolepis incisus foi descrita por Max Weber em 1907, na ilha
de Java, Nova Guiné, na Indonésia (ALLEN, 1980). Os animais representantes
dessa espécie são conhecidos internacionalmente como salmon-red rainbowfish
(melanotênia vermelho salmão), devido à coloração típica do macho adulto, e no
Brasil são vulgarmente conhecidos como Melanotênia maçã. Quanto aos critérios
taxonômicos, estão posicionados na seguinte classificação:
Ordem: Atheriniformes
Família: Melanotaeniidae
Gênero: Glossolepis
Espécie: Glossolepis incisus
A melanotênia maçã pertença à família Melanotaeniidae, que possui 7
gêneros e 66 espécies (MCGUIGAN et al., 2000; ALLEN et al. 2002), encontrados
em várias condições ecológicas da Austrália e Nova Guiné (ALLEN 1991). São
5
classificados como espécies forrageiras, com importante participação na cadeia
alimentar do ambiente dos rios (LLEWELLYN, 1971, citado por REID e HOLDWAY,
1995).
O gênero Glossolepis inclui sete espécies da Nova Guiné e Austrália: G.
incisus, G. leggetti, G. maculosus, G. multisquamatus, G. pseudoincisus, G.
ramuensis e G. wanamensi; e entre elas, G incisus é considerada a mais bonita e de
maior interesse econômico (ALLEN, 1980).
Esta espécie está catalogada como vulnerável a extinção em seu habitat
natural na lista vermelha da IUCN (The World Conservation Union – A União da
Conservação Mundial) (ALLEN, 1996).
Assim como os demais peixes do gênero Glossolepis são pouco evoluídos
em comparação aos peixes de outros continentes, sendo mais próximos de seus
antepassados marinhos, tanto que por muito tempo eram enquadrados na família
Atherinidae composta por peixes marinhos de climas tropicais e temperados
(ALLEN, 1981).
Seu corpo é fusiforme e comprimido lateralmente e se encontra coberto de
grandes escamas. A cabeça, muito pequena em comparação com o corpo, tem uma
boca terminal. As nadadeiras posteriores são pouco desenvolvidas, mas bem
perfiladas, o que indica que são excelentes e rápidos nadadores. A nadadeira dorsal
é dupla (vestígio de sua origem marinha). A nadadeira anal se estende desde a
região pélvica até a região caudal (ALLEN, 1982).
Figura 1. Exemplar de macho adulto de Glossolepis incisus.
6
Os representantes da espécie G. incisus possuem, na nadadeira dorsal, 6
ou 7 raios duros, seguidos de 9 a 10 flexíveis. A nadadeira anal possui um raio duro,
seguido de 18 a 20 flexíveis (ALLEN e NORBERT, 1982).
Os machos podem alcançar até 14 centímetros de comprimento e têm o
corpo mais alto e a frente mais abrupta, as fêmeas chegam a alcançar no máximo
10 centímetros de comprimento (HUNZIKER, 1992).
Os machos adultos possuem coloração variando entre vermelho salmão a
vermelho tomate brilhante, com algumas escamas de cor prata, geralmente no
centro do flanco. As fêmeas e os exemplares juvenis possuem clorações variando
entre o café e o verde oliva com reflexos prateados na cabeça e flancos (figura 2).
Os machos começam a adquirir a coloração característica a partir 4 a 5 centímetros
de comprimento total (ALLEN,1981).
Segundo VIDAL Jr. (2005), apenas os machos dominantes do cardume
exibem o vermelho intenso. Os demais possuem um vermelho mais atenuado ou
possuem coloração semelhante as das fêmeas. Assim que os machos dominantes
são retirados do cardume novos machos passam a expressar o vermelho intenso.
Essa característica é repassada para os descentes e também não interfere na
comercialização.
Quando se encontram em época reprodutiva, a região do dorso tende a
apresentar uma coloração que vai do dourado ao laranja brilhante, o que pode levar
a impressão de pisca-pisca (ALLEN, 1981).
Figura 2. Macho e fêmea adultos.
7
2.2. O habitat natural
Esses peixes pertencentes a espécie Glossolepis incisus são animais
originários do lago Sentani, localizado no sudeste da ilha de Java, Nova Guiné
(TAYLOR, 1982). Habitam sobretudo as margens dos lagos, encontrando-se em
geral em grandes bandos em torno da vegetação aquática e das copas de árvores
que tocam a superfície do lago, onde buscam refúgio (ALLEN, 1982).
De acordo com dados tomados nos anos de 1970 e 1971 e, posteriormente,
nos anos de 1984 a 1987, a temperatura média do lago Sentani na sua superfície
(ambiente natural da melanotênia maçã) foi de 29 a 32°C, com a temperatura
diminuindo gradativamente com a profundidade. O pH na parte superior da água
variou entre 6,2 e 6,8 (HUNZIKER, 1992).
O lago Sentani, segundo ROE e PETTERSON (2006) é caracterizado por
sua baixa diversidade e baixa abundância, por espécie. Esse fato ocorre devido a
sua baixa circulação de água, condicionando um ambiente oligomítico, além de
outros fatores naturais que promovem ao longo do ano, níveis progressivamente
baixos de oxigênio dissolvido.
O lago Sentani apresenta uma forma irregular com dimensões aproximadas
de 28 Km de comprimento e 19 Km de largura (figura 3), uma profundidade que
varia de 7 a 52 metros, com uma superfície total equivalente a 10.400 hectares.
Sendo o maior lago da ilha de Java. As únicas saídas são os rios Jafuri e Tami que
desembocam no Oceano Pacífico, e nesses rios também se encontram exemplares
de G. incisus (TAYLOR, 1982).
Devido à proximidade dos maiores centros populacionais da ilha, o Lago
Sentani já deixou de ser habitat de águas cristalinas. A população em torno do lago
vem aumentando notavelmente, em 1994 já se estimava 25.000 pessoas. A poluição
resultante do assentamento humano e suas imediações está contaminando
seriamente suas águas (NELSON, 1994).
Segundo BLEHER (1984), o cultivo de peixes, principalmente de carpas,
tilápias, catfishes e barbos, utilizando-se as águas provenientes do rio Sentani é
cada vez mais freqüente e essa situação tem causado um enorme impacto na fauna
local, que se encontra hoje seriamente ameaçada de extinção. Devido a esses
fatores, o mesmo autor, afirma que, além da conservação, torna-se extremamente
importante propagar esta espécie em cativeiro, visando futura reintrodução.
8
2.3. Parâmetros físico-químicos básicos da água de cultivo
A temperatura ideal da água para criação dos Glossolepis é de 22° a 28°C
(HUNZIKER, 1992).
A dureza da água deve estar média a alta, e, como no seu habitat natural, o
pH deve ficar entre 6,2 a 6,8 podendo em cativeiro chegar até 7,8, porém os peixes
parecem ter se adaptado melhor a um pH em torno da neutralidade (VIDAL Jr.,
2003), suportando inclusive a alcalinidade sem grandes problemas. Além disto,
exemplares de melanotênias não têm boa tolerância a níveis altos de nitrito ou
nitrato (HUNZIKER, 1992).
2.4. Hábitos alimentares
Segundo HUNTER (1997), esses peixes têm hábitos alimentares onívoros
com predomínio de itens alimentares de origem animal, não sendo a alimentação um
problema, já que são bastante vorazes e qualquer coisa que caia na superfície da
água provoca o ato reflexo de abocanhar. Aceitam bem qualquer alimento seco, mas
é muito importante variar a dieta, podendo ser oferecido a eles alimentos
industrializados, assim como presas vivas ou congeladas (artêmias, larvas, dáfnias
etc).
Ainda segundo HUNTER (1997), Glossolepis incisus habitualmente não
ingere alimentos que chegam ao fundo. Por isso a maior preocupação é que o
alimento não afunde rapidamente, permanecendo na superfície tempo suficiente
para ser ingerido.
Durante o manejo reprodutivo em sistemas semi-intensivos e intensivos de
produção de Glossolepis incisus, as matrizes devem ser alimentadas com ração
contendo 36% de proteína bruta e uma suplementação com alimentos frescos e
vivos, sendo as daphnias (Daphnia sp.) o mais indicado (VIDAL Jr., 2005). Já nos
tanques de crescimento, o mesmo autor sugere rações com 42% de proteína bruta e
suplementação com alimento vivo.
9
2.5. Comportamento dos adultos
Glossolepis incisus são peixes que vivem em cardume, não possuem
hierarquia definida e permanecem em grupo. Em casos onde há apenas um
exemplar dessa espécie no tanque, nota-se em geral a introdução do indivíduo em
cardumes de outras espécies (HUNTER, 1997).
O convívio de machos, particularmente nas situações onde há mais machos
do que fêmeas, pode ocasionar pequenas agressões entre os machos, mas
raramente resultam em ferimentos graves (HUNTER, 1997).
2.6. Reprodução
Ao contrário das espécies reofílicas brasileiras, que não se reproduzem de
forma natural em cativeiro (ROMAGOZA, 2004), os representantes do gênero
Glossolepis têm demonstrado desovar naturalmente em ambientes confinados
(REID e HOLDWAY, 1995). Essa característica, além de facilitar o manejo, reduz os
custos de reprodução, viabilizando cultivos sem as exigências de adição de doses
de hormônios indutores de reprodução ou extrusão para se obter desovas
(GARUTTI, 2003; VIDAL Jr., 2005).
Segundo KIRTLEY (1986), os representantes de Glossolepis incisus são as
melanotênias mais fáceis de se reproduzir em cativeiro, chegando a oviposições
diárias por longos períodos, em cultivos onde as condições estão muito apropriadas.
As fêmeas e os machos maduros devem ser instalados em um local para o
acasalamento com no mínimo 100 litros, com plantas flutuantes. O casal deve ser
introduzido momentos antes do entardecer. O início da reprodução ocorre com os
primeiros raios de sol. O macho persegue a fêmea com insistência por toda
extensão do tanque, se arqueando sobre a fêmea quando consegue uma
aproximação, o que ocorre entre a área das plantas. Esse momento dura apenas
alguns segundos, mas durante este tempo, a fêmea libera os ovos que são
translúcidos e o macho libera o esperma sobre eles (KIRTLEY, 1986).
Os peixes em época de reprodução apresentam um aumento da intensidade
de sua coloração, natação rápida, principalmente sob as plantas, além da extensão
de suas barbatanas. Em seu habitat natural, a reprodução ocorre entre o período de
10
outubro a dezembro, com as fêmeas depositando entre 100 e 150 ovos, ovipondo
alguns de cada vez, o que pode demorar vários dias (KIRTLEY, 1986).
Segundo REID e HOLDWAY (1995) as desovas de melanotênias envolvem
liberação simultânea dos gametas masculinos e femininos e TAYLOR (1999)
reportou que desovas ocorrem sobre plantas de folhas finas (tipo ceratopteris,
cabombas, myriophyllum, ambulias, musgo de Java, etc.) ou fibras sintéticas.
Os ovos são pequenos e têm adesividade, ficando aderidos às plantas e
substratos do aquário. Essa adesividade ocorre em filamentos de fixação presentes
no córion (REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003).
As larvas após eclosão absorvem o saco vitelínico, além de se alimentarem
de cultura mista de protozoários e bactérias e também de cistos de artêmia recém
eclodidos (JACKSON, 1987).
Para se obter larvas, podem-se retirar as plantas ou a fibra sintética, nas
quais as fêmeas já depositaram seus ovos, e transferi-las para um tanque vazio,
onde ocorrerá a eclosão e cria dos alevinos, ou transferir as matrizes para outro
tanque (TAYLOR, 1999).
2.7. Desenvolvimento embrionário
Em geral, podemos definir ontogenia como o processo de transformação e
desenvolvimento de um ser vivo desde a fecundação à maturidade reprodutiva,
sendo que alguns autores a consideram apenas como as diversas fases do
desenvolvimento embrionário (GRACIANO, 1997).
Os eventos morfofisiológicos ao longo do desenvolvimento são avaliados
principalmente por observações em microscópio estereoscópio ou óptico, uma vez
que o córion dos ovos dos organismos estudados é transparente (GODINHO et al.,
1978; NAKATANI et al. 2001; SOUZA, 2004).
Os eventos morfofisiológicos comumente observados ao longo das
avaliações ontogênicas em embriões são: a formação e clivagem do blastodisco; a
evolução da blástula e da gástrula sobre a vesícula vitelínica (pólo vegetal); a
diferenciação do eixo embrionário, da vesícula óptica, dos somitos, surgimento da
vesícula de Kuppfer e de melanóforos e eclosão (CUSSAC, et al. 1985; MATKOVIC
et al. 1985, FERNANDEZ-PALACIOS et al., 1994; REID e HOLDWAY, 1995;
SOUZA, 2004; SANCHES et al. 1999; FUJIMOTO et al., 2004; FUJIMOTO et al.,
11
2006; FERREIRA et al., 2006). Inclusive para a descrição do desenvolvimento
embrionário de melanotênias (REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003).
SOUZA
(2004)
descreveu
os
principais
eventos
morfológicos
do
desenvolvimento embrionário da piabanha (Brycon insignis). Utilizando microscópio
estereoscópio sob aumento de 10X, o autor observou, com a temperatura média da
água a 26,0ºC, que a diferenciação da cabeça da larva e do botão caudal ocorreu
com 6,5 horas após a fecundação (hpf) e 190,00 horas-grau pós–fecundação (hpgf),
os batimentos cardíacos foram observados com 13,00 hpf e 373,50 hgpf e a eclosão
dos ovos com 17,00 hpf e 480,00 hgpf (°C). NAKATANI et al. (2001) observaram a
diferenciação de embriões de Astyanax altiparanae com 8,00 hpf.
SANCHES et al. (1999) observaram, em Parauchenipterus galeatus
capturados na planície de inundação do alto rio Paraná, em temperatura da água
entre 27 e 28ºC, que dois blastômeros ocorreram em 35 minutos e posteriormente
4, 8, 16, 32 e 64 blastômeros em 45, 60, 70, 80 e 90 minutos respectivamente. Com
16 horas de incubação o eixo embrionário estava definido.
Ainda segundo SANCHES et al. (1999), embriões de Parauchenipterus
galeatus com 16 hpf possuíam a região da cabeça e o do botão caudal
diferenciados, com formação ainda dos somitos e da vesícula óptica. Após 24 hpf o
botão caudal do embrião estava completamente livre e a cabeça diferenciada, a
vesícula auditiva estava em desenvolvimento e os olhos iniciando a pigmentação.
BORÇATO et al. (2004) observaram em ovos de Leporinus piau, incubados
a 24ºC, que com 1,5 hpf o embrião encontrava-se no estágio de 64 blastômeros e
com 6,25 hpf foi observado fechamento do blastóporo. A eclosão ocorreu em 21,00
hpf a 504,00 hgpf.
Sobre a ontogenia inicial de melanotênias, HUMPHREY et al. (2003)
relataram serem poucos os estudos referentes à descrição do desenvolvimento
embrionário e larval de melanotênias. REID e HOLDWAY (1995) descreveram o
desenvolvimento embrionário de Melanotaenia fluviatilis, espécie de clima
temperado. Segundo esses autores, os ovos foram incubados a 25ºC, sendo
observado que a segmentação ocorreu até 6,00 hpf, o desenvolvimento da gástrula
ocorreu das 7,00 as 22,00 hpf e a organogênese ocorreu das 22,5 hpf até o
momento da eclosão entre 7 e 9 dias.
Quanto às melanotênias de clima tropical HUMPHREY et al. (2003)
descreveram o desenvolvimento embrionário de Melanotaenia splendida splendida
12
incubadas a 28ºC e relataram que a segmentação ocorreu até 3,5 hpf, a gástrula
desenvolveu-se das 7,0 hpf até 12,5 hpf e a organogênese iniciou-se as 12,5 hpf
indo até o momento da eclosão entre 4 e 9 dias.
O desenvolvimento embrionário em melanotênias tropicais foi ainda
descrito para Melanotaenia nigrans e Melanotaenia splendida inornata (CROWLEY
e IVANTSOFF, 1982; IVANTSOFF et al., 1988), para Melanotaenia splendida
australis (IVANTSOFF et al., 1988).
Em um estudo mais detalhado sobre a evolução dos eventos ontogênicos
FISHELSON (1995), observou em Tilapia zillii, Sarotherodon galilaeus e
Pseudotropheus johanni a rede de microvilosidades que envolve desde o sincício
perivitelínico até a rede sanguínea embrionária do saco vitelino. Em T. zillii, a rede
de microvilosidades surgiu em 16-18 hpf, em S. galileus 30-32 hpf e P. johanni 3840 hpf.
2.8. O vitelo
O vitelo é o alimento endógeno dos embriões e larvas vitelinas, caracterizado
por uma glicolipofosfoproteína denominada vitelogenina. A Vitelogenina é formada
principalmente pela lipovitina e fosfovitina e a embriogênese dos animais ovíparos é
dependente da degradação dessas proteínas contidas no vitelo para a liberação do
suprimento
de
aminoácidos
(HAGEDORN
e KUNKEL,
1979,
citados
por
HIRAMATSU, 2002).
Os aminoácidos provem de hidrólises da vitelogenina e durante a absorção os
níveis de aminoácidos vão sendo reduzidos, chegando aos menores níveis próximo
da primeira alimentação exógena. Os aminoácidos são principalmente utilizados
como combustível metabólico, podendo também serem utilizados para a síntese de
proteína corporal (RONNESTAD, 1999). Ainda segundo RONNESTAD (1999), os
níveis e a composição de aminoácidos componentes do vitelo dos peixes, variam
muito entre os peixes principalmente entres ovos demersais e pelágicos.
Após a eclosão inicia-se o estágio de larva vitelínica, ou vitelina, e que
termina ao final do consumo de todo o vitelo (KENDALL, et al. 1984). Segundo
SANTOS e AGOSTINHO (2002) o período de consumo da vesícula vitelínica pode
variar muito entre larvas de peixes neotropicais.
13
LASKER et al. (1970, citado por BORÇATO 2004) relataram que existe
relação entre a abertura da boca e o consumo de vitelo. Segundo SATO et al.
(2003), no momento em que ocorre a abertura da boca, as larvas necessitam de
alimento exógeno.
NAKATANI et al. (2001) observaram em tilápia nilótica a absorção completa
do saco vitelínico quando as larvas atingiram 7,28mm de comprimento padrão. Em
Salminos maxilosus foi observado absorção completa do vitelo com as larvas
atingindo 6,75mm de comprimento padrão. Ainda segundo NAKATANI et al. (2001) o
consumo total do vitelo em Astyanax altiparanae, ocorre quando as larvas atingem
4,50mm de comprimento padrão.
14
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19
4. TRABALHOS
Os trabalhos elaborados a seguir foram editorados com base nos critérios da
revista Archivos de Zootecnia, Universidade de Córdoba (Espanha), com
adaptações às normas da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy
Ribeiro para a redação de tese (UENF, 2007).
20
ONTOGENIA DE EMBRIÕES DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus,
WEBER, 1907)
RESUMO
Esse trabalho/artigo descreve a ontogenia inicial em ovos de melanotênia maçã
(Glossolepis incisus). Os ovos fertilizados foram obtidos através de desova natural e
espontânea de matrizes em cativeiro. Os ovos foram mantidos a 28ºC em uma
incubadora de 40L. O desenvolvimento embrionário foi dividido em cinco períodosclivagem, blástula, gástrula, organogênese e período de eclosão. Os estágios de
desenvolvimento foram determinados e classificados pelas características morfofisiológicas. O tamanho inicial dos ovos variou entre 0,90mm e 1,10mm e todos
continham gotas de óleo. Foi observado no córion, a presença de filamentos para
fixação dos ovos e todos se originando da mesma região. O desenvolvimento
embrionário se deu de forma semelhante ao de espécies do gênero Melanotaenia,
com a eclosão dos ovos iniciando com 125,00 horas pós-fecundação e 3505,61
horas-grau pós-fecundação. As larvas recém eclodidas mediram 4,00 ± 0,05mm e
apresentavam
atividade
natatória
acentuada,
vesícula
vitelínica
reduzida,
movimentação da boca e um sistema digestório aparentemente funcional. O
conhecimento da dinâmica do desenvolvimento inicial de embriões e larvas é uma
ferramenta fundamental para o manejo adequado da reprodução dos peixes em
cativeiro.
Palavras chaves: Glossolepis incisus, embriões, ontogenia, peixe ornamental.
21
EARLY ONTOGENY OF EMBRYOS OF SALMON-RED RAINBOWFISH
(Glossolepis incisus, WEBER, 1907)
ABSTRACT
This paper describes the early ontogeny on eggs of the salmon-red rainbowfish
(Glossolepis incisus). Fertilized eggs were obtained by naturally and spontaneous
spawning of cultured adults. The eggs were hatched at 28ºC. Embryonic
development of the salmon-red rainbowfish was divided into five periods – the
cleavage, blastula, gastrula, organogenesis and hatching period. Stages were
assigned within each those periods. The developmental stages were determined and
named by morphological and physiological features. Eggs ranged in size 0,90mm to
1,10mm and oil droplets were present. There were fixer filaments originated from one
point at the egg surface. The embryo development occurred similarity with others
rainbowfishes of genus Melanotaenia and hatching initiated at 125,00 pos
fecundation hours (pfh) and with 3505,61 pos-fecundation hour-degrees (pfhd). The
mean newly hatched larvae length was 4,00 ± 0,05mm . All newly hatched larvae of
salmon-red rainbowfish exhibited strong swimming activity, a residual yolk, mouth
movement and one apparently functional disgestory system. The understanding of
early life development of eggs and larvae is a fundamental tool the efficient
management in fish culture.
Key words: Glossolepis incisus, embryos, ontogeny, ornamental fish
22
INTRODUÇÃO
Na Aqüicultura destaca-se a piscicultura, cultura de peixes. No Brasil teve seu
início no ano de 1920, através da introdução de peixes exóticos destinados para
corte, como as trutas, carpas e em 1957 as tilápias foram introduzidas. Ainda na
década de 20, foram introduzidas mais de 50 espécies asiáticas de peixes
ornamentais, por um imigrante de origem japonesa, Sigeiti Takase (VIDAL Jr., 2003).
A piscicultura de espécies ornamentais se destaca devido ao alto valor
agregado ao final da produção, sendo comum um único exemplar de algumas
gramas atingir valores muito superiores a um quilograma das espécies de corte. A
exemplo disso, enquanto um quilo de tilápia inteira, fresca ou congelada, oscila em
torno de US$ 1,50, ou o quilo do pintado (Pseudoplatystoma corruscans) inteiro,
fresco ou congelado, que varia em torno de US$ 5,00, o valor de algumas
variedades de kinguios e Malanotênias (Melanotaenia sp.), por exemplo, pode
chegar a US$ 2,50 e animais como as bótias (Botia sp.) e lábeos (Epalzeorhynchus
sp.) atingem valores superiores a US$ 30,00. Além de outras espécies mais valiosas
de água doce que chegam a US$ 15 mil (LIMA et al., 2004).
Após anos de desenvolvimento de tecnologias e avanço da atividade no
Brasil, observa-se que embora ainda haja a necessidade do preenchimento de
23
várias lacunas existentes na piscicultura nacional, somente altas produtividades não
mais significam certeza de lucro ou mesmo sucesso do empreendimento (MELO &
CHABALIN, 2004).
Torna-se cada vez mais necessário o emprego de novas tecnologias,
aproveitamento de nichos de mercado. Sobre essa análise e até mesmo como
alternativa para utilização na piscicultura ornamental brasileira, tem-se dado
bastante atenção aos peixes da família Melanotaeniidae, conhecidos popularmente
como melanotênias, que embora tendo sua origem fora do Brasil, vêm sendo
importadas desde a década de 90 (SOUZA, 1996) e se adaptaram muito bem a
nossas condições de cultivo.
Nos últimos anos, estudos a respeito de espécies de melanotênia vêm
aumentando devido a seu potencial de produção e, principalmente, ao apelo pela
preservação do meio ambiente e de seus estoques naturais, que apontam a
necessidade de se mitigar os efeitos antrópicos (POLLINO e HOLDWAY, 2002;
GALE et al., 2003; HARFORD et al., 2005).
Dentre as várias espécies de melanotênias, destaca-se a melanotênia maçã
(Glossolepis incisus), que alcança os maiores valores de venda (US$ 3,00) e, assim
como os animais desta família, é rústica, onívora, aceita rações comerciais além de
desovar, em condições de cultivo, durante todo o ano (VIDAL Jr., 2005). Entretanto,
nos estudos realizados com G. incisus, os aspectos produtivos relacionados a sua
larvicultura ainda não estão bem definidos.
Dentre os indicadores de qualidade, estão os resultados dos estudos sobre
a ontogenia embrionária e larvar que são próprias de cada espécie, o que esclarece
o desenvolvimento morfológico e fisiológico das larvas.
A falta de informações a respeito das exigências, suas características
morfo-fisiológicas impedem o avanço das melhorias no manejo de alimentação e
essa falta de adequação do manejo durante a larvicultura resulta, freqüentemente
em crescimento lento e sobrevivência reduzida (PORTELLA, 2004).
Por serem as fases iniciais de desenvolvimento os momentos mais críticos
da vida dos peixes, o conhecimento da ontogenia inicial é indispensável para o
desenvolvimento de protocolos de propagação, proporcionando uma melhor
eficiência quali-quantitativa na larvicultura, produzindo larvas de melhor qualidade e
proporcionando a padronização e escalonamento da produção.
24
MATERIAL E MÉTODOS
Os ovos utilizados para observação foram obtidos de desovas naturais de
melanotênia maçã (Glossolepis incisus), provenientes do plantel do setor de
aqüicultura do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal do Centro de Ciências e
Tecnologias Agropecuárias, da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy
Ribeiro.
As matrizes (n=45) foram mantidas na proporção de 1 macho e 4 fêmeas,
distribuídos por 3 aquários de 40 litros de capacidade volumétrica cada, dotados de
sistemas independentes de entrada e saída de água, com fluxo contínuo por
bombeamento e filtragem biológica.
Após o período de dois dias para adaptação das matrizes, foram colocados
aguapés (Echornia sp.) nos aquários, sendo duas plantas em cada, para estímulo a
reprodução e como substrato da ovoposição. Os aguapés foram observados, a olho
nu, a cada meia hora até que fossem encontrados ovos aderidos à raiz.
As desovas ocorreram de forma espontânea e os ovos retirados das raízes
dos aguapés, com auxílio de tesouras e pinças, sendo agrupados em vidros de
relógio. Os ovos foram observados em microscópio óptico com aumento de 2,5X ou
10X para caracterização e identificação do estágio embrionário. Além disto, o
25
diâmetro dos ovos foi mensurado com o auxílio de ocular dotada de escala
micrométrica.
Após esta observação prévia, os ovos foram transportados para outro
aquário, semelhante ao das matrizes, e acomodados em peneiras flutuantes. Cada
desova foi contada, avaliada visualmente e acomodada em duas peneiras, sendo
uma peneira com uma desova de 12 ovos e a outra peneira com uma desova de 35
ovos, onde ficaram durante o período de incubação a 28°C até o momento da
eclosão.
A observação da aparência externa dos embriões foi realizada a cada meia
hora durante o período embrionário de 0 a 24 h, a cada 1h no período de 24 a 48 h e
a cada 2h no período de 48 h até o momento de eclosão. A cada momento de
observação alguns ovos eram retirados da peneira, colocados em lâminas de vidro,
observados em microscópio óptico (2,5X e 10X) e posteriormente foram tomadas
imagens digitais com câmera digital DSC P-200, marca SONY, acoplada ao tubo
trinocular do microscópio óptico. Ao final dos momentos de observações os ovos
retornavam para as respectivas peneiras.
As desovas ocorreram pela manhã e devido ao pequeno número de ovos
estes foram observados repetidamente ao longo do tempo até o momento da
eclosão.
Cada um dos estágios de desenvolvimento embrionário foi definido a partir do
momento em que a maioria dos ovos atingiu o respectivo estágio. As figuras
ilustrando os estágios embrionários foram documentadas por meio de micrografias.
Os estágios embrionários foram classificados com base nas características
morfológicas, de acordo com a metodologia utilizada para a piabanha (Brycon
insignis) (SOUZA, 2004) e os critérios utilizados para o dojô (Misgurnus
anguillicaudatus) (FUJIMOTO et al. 2006).
Os períodos iniciais de desenvolvimento nesse trabalho seguiram as
definições de FUJIMOTO et al. (2004), com a clivagem compreendendo o período
de 2 blastômeros até 64 blastômeros, passando logo após, a partir de 128
blastômeros para o período de blástula. As definições para os estágios de blástula
foram adaptadas de FUJIMOTO et al. (2006).
Após a eclosão dos ovos, as larvas recém eclodidas (larvas H0) foram
caracterizadas visualmente, quanto à capacidade natatorial e a posteriormente
26
foram mensurados o comprimento total, altura da larva, comprimento e altura do
saco vitelínico. Além desses parâmetros também foi contado o número de somitos.
A temperatura da água dos aquários das matrizes e da incubadora foi
mantida dentro de uma variação mínima da temperatura desejada mediante o uso
de aquecedor acoplado a termostato automático. A temperatura da água foi
mensurada no momento da coleta dos ovos nos aquários das matrizes e em cada
momento de observação na água dos aquários incubadoras. Estas mensurações
foram realizadas utilizando-se termômetros de bulbo de mercúrio.
O pH da água foi mantido em valores próximos a 7,0; para tal se utilizou cal
extinta como fonte de cálcio para elevação do pH. O pH foi mensurado no momento
de cada observação com auxílio de medidor eletrônico de pH.
Cada aquário-incubadora possuía fluxo contínuo de água e aeração
constante o que manteve os valores de oxigênio dissolvido próximos dos máximos
valores relativos. O oxigênio dissolvido da água da incubadora foi monitorado com
auxílio de oxímetro digital, medido durante todo o período do experimento, três
vezes ao dia, as 0h, as 8h e 16h.
A análise estatística dos dados foi descritiva para todos os parâmetros sendo
aplicada correlação de Pearson entre todos os parâmetros.
27
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parâmetros físico-químicos da água da incubadora
Os valores médios observados para os parâmetros físico-químicos da água
da incubadora, durante o período experimental, foram de 27,98 ± 0,08ºC para a
temperatura; 7,43 ± 0,46 para o pH; 7,43 ± 0,46 µS para a condutividade e de 6,30 ±
0,41 mg/L para oxigênio dissolvido.
Os ovos de Glossolepis incisus
Os ovos de G. incisus possuíam a forma esférica, com o córion e a vesícula
vitelínica translúcidos. O diâmetro dos ovos recém fecundados variou de 0,90mm a
1,10mm, com valor médio de 1,00 ± 0,1mm. Esses resultados demonstraram que os
ovos de G. incisus possuem diâmetros semelhantes aos ovos de M. s. inornata,
0,88mm e de M. nigrans, 1,05mm, (CROWLEY E IVANTSOFF, 1982) e M. s
australis (1,07mm) (IVANTSOFF et al. 1988).
O córion demonstrou-se bastante rígido e sua textura, após o enrijecimento,
ao manipulá-los com as pontas dos dedos, era semelhante a pequenas “esferas de
vidro”.
Foi observado um reduzido espaço perivitelínico de 0,048 ± 0,0045mm,
correspondendo a 4,78% do volume interno total dos ovos e a vesícula vitelínica
28
tomando quase todo o espaço interno do ovo. Segundo NAKATANI (2001) espaços
perivitelínicos com participação entre 0,0% e 9,9% são classificados como restritos.
Os ovos (Figura. 1) continham inúmeras gotas de óleo de tamanhos variados,
inicialmente espalhadas pela periferia da vesícula vitelínica. As gotas de óleo ao
longo do desenvolvimento se agruparam em uma região da vesícula oposta ao
blastodisco. A mesma disposição e o mesmo comportamento de agregação das
gotas de óleo observados em G. incisus, foram observados por REID e HOLDWAY
(1995) para ovos recém fecundados de Melanotaenia fluviatilis.
F
PA
GO
A
B
Figura 1. Observação interna e externa de ovos recém
fertilizados de melanotênia maçã.
A: pólo animal (PA); gotas de óleo (GO). B: filamentos
para fixação (F).
Os ovos de G. incisus apresentaram extensos e inúmeros filamentos de
fixação, todos aderentes e partindo originalmente de uma mesma região no córion,
próximo a região do pólo animal (fig. 1). REID e HOLDWAY (1995) identificaram
filamentos semelhantes em ovos de M. fluviatilis. Durante a manipulação dos ovos
foi observado que os filamentos dos ovos distribuídos nas peneiras se entrelaçavam
formando um grumo de ovos e dificultando coletas e a manipulação.
As características dos ovos recém fertilizados de G. incisus, o número e o
arranjo dos filamentos de fixação e das gotas de óleo foram semelhantes aos
resultados das observações de REID e HOLDWAY (1995) para os ovos de M.
fluviatilis. Além disso, os mesmos autores reportaram similaridade dessas
características dos ovos de M. fluviatilis com ovos de M.splendida inornata, M.
splendida australis, M. nigrans.
NAKATANI et al. (2001) também observaram adesividade em ovos de carpa
comum (Cyprinus carpio), em exemplares do gênero Serrasalmus e alguns
29
Siluriformes, como o bagre do canal (Clarias gariepinus) como estratégia comum de
fixação ao substrato.
O desenvolvimento embrionário de G. incisus apresentou cinco períodos bem
definidos, divididos em clivagem, blástula, segmentação, organogênese e préeclosão assim como observado geralmente no gênero Melanotaenia e demais
teleósteos (REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et al. 2003; FUJIMOTO, 2006).
Desenvolvimento embrionário de Glossolepis incisus
O padrão de clivagem observado em embriões de G. incisus, assim como em
outros teleósteos, foi do tipo meroblástica. Os blastômeros se dividiram inicialmente
a cada 30 minutos em média. Os estágios do desenvolvimento embrionário estão
dispostos na tabela 01.
Período de clivagem
2- células (0,5 hpf e 14,0 hgpf)
A primeira clivagem se inicia logo após a fecundação e com 30 minutos dois
blastômeros já são perfeitamente visíveis (Fig.2A).
4-células (1,00 hpf e 28,0 hgpf)
O sulco da segunda clivagem foi formado transversalmente ao primeiro
dividindo os dois blastômeros. O blastodisco nesta fase foi formado por quatro
blastômeros, dispostos num arranjo 2 X 2 sobre a vesícula vitelina (Fig. 2B).
8-células (1,5 hpf e 42,0 hgpf)
Os sulcos da terceira clivagem foram formados verticalmente ao segundo
sulco da fase anterior de 4 blastômeros. O blastodisco nesta fase foi formado por
oito blastômeros, dispostos em uma arranjo de 4 X 2 sobre a vesícula vitelina.
16-células (2,0 hpf e 56,0 hgpf)
Os sulcos da quarta clivagem foram formados transversais aos sulcos da
terceira clivagem. Ao final da divisão foram formados 16 blastômeros, observados
em um arranjo de 4 X 4 (fig. 2C).
30
32-células (2,5 hpf e 70,0 hgpf)
Os sulcos da quinta clivagem formaram uma fila de blastômeros, formando o
blastodisco com 32 blastômeros em uma camada simples, em um arranjo de 4 X 8.
Tabela 1. Estágios embrionários de Glossolepis incisus.
Estágios
HPF
2 blastômeros
0,5
4 blastômeros
1,0
8 blastômeros
1,5
16 blastômeros
2,0
32 blastômeros
2,5
64 blastômeros
3,0
128 blastômeros
3,5
256-1024blastômeros
4,0 – 5,0
Oval (2048 blastômeros)
5,83
Esférico
6,33
Gástrula (10%)
7,33
Gástrula (30%)
7,83
Gástrula (50%)
8,33
Gástrula (70%)
9,33
Gástrula (90%)
9,83
Gástrula (95%)
11,33
Fechamento de blastóporo
11,83
Eixo embrionário
12,33
Diferenciação de cabeça e cauda
12:50
Primórdio óptico
14,83
Somitos (3), notocorda e vesícula de
16,33
Kuppfer
Retina; diferenciação do condrocrânio
23,0
Batimento cardíaco
27,0
Melanóforos
28,0
Circulação sangüínea na vesícula
34,0
vitelínica
Movimentação do embrião
35,5
Início da pigmentação do cristalino
41,0
Células sensoriais; início da
diferenciação das nadadeiras peitorais;
57,83
Ânus Diferenciado; Membrana hialina
Pigmentação do sistema circulatório
59,75
Movimentação das peitorais
83,0
Início da movimentação dos olhos
91,0
Abertura da boca
97,0
Ânus aberto; Movimentação do
120,0
intestino (peristaltismo)
Eclosão
125,0
HGPF (°C)
14
28
32
46
60,00
84,00
107,32
112,00-126,00
149,32
163,32
191,32
205,32
219,32
247,32
261,32
303,32
317,32
331,32
345,32
401,32
443,32
630,00
742,00
770,00
938,00
980,00
1358,00
1635,62
1682,52
2358,18
2530,80
2698,60
3341,35
3502,61
31
B2
A
B4
B
Bl
B16
C
D
Figura 2. Desenvolvimento embrionário de G.
inicisus durante o período de clivagem: (A) 0,5 hpf;
(B) 0,66 hpf; (C) 2,0 hpf; (D). 3,0 hpf. (B2) 2
blastômeros; (B4) 4 blastômeros; (B16) 16
blatômeros; (Bl) Blástula.
64-células (3,0 hpf e 84,0 hgpf)
A divisão do blastodisco gera uma nova camada de blastômeros devido à
divisão latitudinal em cada blastômero. Nesse momento também observou-se que as
gotas de óleo estavam agrupadas na periferia do pólo vegetativo, na região oposta
ao blastodisco (Fig. 2D).
Período de blástula
As 3,5 hpf e 107,32 hgpf foi observado o início da fase de blástula que
consistiu em, inicialmente, divisões de um blastodisco disforme e posteriormente a
sua organização e evolução de suas bordas sobre a vesícula vitelínica. Esse mesmo
momento para embriões de Paralabrax dewegeri foi defino como mórula por
QUERALES et al. (2004). (Figura 3).
128-células (3,5 hpf e 107,32 hgpf)
O blastodisco torna-se alto devido às múltiplas camadas formadas. Nessa
fase a coloração do blastodisco é mais escura que no período da clivagem.
32
256-células (4,0 hpf e 112,00 hgpf)
Foi observada uma blastoderme inicialmente organizada semi-esférica e
ainda alta, sobre a vesícula vitelínica (Fig.3A).
A
B
C
D
Figura 3. Desenvolvimento embrionário de G.
inicisus durante o período da blástula: (A) 4,00 hpf;
(B) 5,00 hpf; (C) 5,83 hpf; (D) 6,33 hpf.
1024 células (5,0 hpf e 126,0 hgpf)
Nesse estágio a borda do blastodisco evoluiu sobre a vesícula vitelínica ao
mesmo tempo em que a massa de blastômeros se organizou e foi ganhando forma
semi-esférica (Fig. 3B).
Estágio oval (5,83 hpf e 149,32 hgpf)
A evolução da borda do blastodisco sobre a vesícula vitelínica, assim como a
organização dos blastômeros, conferiu ao embrião a forma elipsoidal. Foi ainda
observada a região da lâmina sincicial, que nesse estágio embrionário estava plana
(Fig.2C). Segundo FUJIMOTO (2006) nesse estágio, os embriões de Misgurnus
anguilligaudatus estavam com mais 2 mil blastômeros.
Estágio esférico (6,33 hpf e 163,32 hgpf)
Os limites entre a blastoderme e a vesícula vitelínica tornam-se contínuos. Os
dois eixos, maior e menor, nesse momento, apresentam valores semelhantes,
33
conferindo ao embrião uma forma esférica. Nesse momento a região da lâmina
sincicial apresentou-se curva (Fig.3D).
Período de Gástrula
As 07,33 hpf e 191,32 hgpf iniciou-se a epibolia, evolução da blastoderme
sobre a vesícula vitelínica. A blastoderme inicialmente, a partir de uma cobertura
10% da vesícula vitelínica, formou uma pequena cúpula sobre a vesícula vitelínica.
Ao final da epibolia identificou-se que a progressão da blastoderme foi em média em
torno de 20% por hora. REID e HOLDWAY (1995) observaram início da gástrula em
torno de 13,0 hpf para M. fluviatilis e HUMPHREY et al. relataram para M. s.
splendida, início da gástrula em toro de 10,0 hpf. FERREIRA et al. (2006)
observaram início da gástrula em 2 hpf e duração em torno de 3,5 hpf a 28°C, para
Astyanax cf. bimaculatus. NAKATANI et al. (2001) observaram para início da
gástrula em peixes reofílicos brasileiros cultivados, valores inferiores aos observados
para G incisus.
Gástrula 30% (7,83 hpf e 191,32 hgpf)
Nesse estágio a blastoderme cobriu uma região correspondente a 30% da
vesícula vitelínica (Fig.4A). Embora não tenha sido observada a formação do tubo
neural, no estágio de gástrula 30% a diferenciação do tubo neural foi observada em
M. nigrans e M. s. inornata (CROWLEY e IVANTSOFF, 1982) M fluviatilis (REID e
HOLDWAY, 1995), M. s splendida (HUMPHEY et al., 2003)
Gástrula 50% (8,33 hpf e 219,32 hgpf)
A metade da vesícula vitelina estava coberta com a evolução da blastoderme
(Fig.4B).
Gástrula 70% (9,33 hpf e 247,32 hgpf)
A evolução da cobertura da blastoderme sobre a vesícula vitelina estava em
70% sem ser observada a formação do eixo embrionário durante a evolução das
bordas das blastoderme. REID e HOLDWDAY (1995) observaram a formação do
eixo embrionário no desenvolvimento de M. fluviatilis durante a evolução da
34
blastoderme. Segundo HUMPHREY et al. (2003) durante o desenvolvimento
embrionário de M. s. splendida, no estágio de gástrula 70% hpf, foi possível observar
a diferenciação do eixo embrionário e do anel germinativo.
AG
AG
A
B
B
C
D
Figura 4. Desenvolvimento embrionário de G.
inicisus durante o período da gástrula: (A) 7,83 hpf;
(B) 8,33 hpf; (C) 10,83 hpf; (D) 11,83 hpf. (AG) Anel
germinativo; (B) Blastoporo.
Gástrula 90% (10,83 hpf e 289,32 hgpf)
A cobertura da blastoderme estava sobre 90% da vesícula vitelínica e nesse
momento evidenciou-se a borda da blastoderme formando o blastóporo (Fig.4C).
Fechamento do blastóporo (11,83 hpf e 317,32 hgpf)
As bordas da blastoderme se encontraram e se fundiram cobrindo 100% da
vesícula vitelínica (Fig.3D). O fechamento do blastóporo foi observado em M.
nigrans e M.s inornata próximo a 18 hpf (REID e HOLDWAY, 1995) e em M. s
splendida próximo a 12,5 hpf (HUMPHREY et al., 2003). Em peixes reofílicos
brasileiros percebe-se um desenvolvimento embrionário mais rápido, sendo
observado, por exemplo, para embriões de Brycon orbygnianus o fechamento do
blastóporo às 6,5 hpf (REYNALTE-TATAJE et al. 2004) e para Brycon insignis 5,5
hpf e 161,0 hgpf (SOUZA, 2004). FERREIRA et al. (2006) observaram o fechamento
do blastóporo em Astyanax cf bimaculatus também com 5,5 hpf.
35
Período de Organogênese
A organogênese teve início assim que terminou o período de gástrula e foi
observado até o momento da pré-eclosão. Durante a organogênese, os tecidos e os
órgãos se diferenciaram. Entre os eventos desse período foram observados a
diferenciação de órgãos visuais e auditivos, pigmentação e início dos batimentos
cardíacos, entre outros. Essas características são importantes e muito utilizadas na
descrição morfo-fisiológica e identificação dos estágios de desenvolvimento dessa
família (HUMPHREY et al. 2003; REID e HOLDWAY, 1995).
Eixo embrionário (12,33 hpf e 331,32 hgpf)
O eixo embrionário G. incisus foi observado as 12,33 hpf sendo formado
inicialmente sobre o escudo embrionário sobre a vesícula vitelínica. REID e
HOLDWAY (1995) observaram a diferenciação do eixo embrionário com 15,0 hpf,
durante o desenvolvimento da gástrula. Também HUMPHREY et al. (2003) relatam a
diferenciação do eixo embrionário em torno das 10,0 hpf, também durante o período
da gástrula. HUMPHREY et al. (2003) observaram a diferenciação do eixo
embrionário no estágio de gástrula 30%, o que provavelmente pode ter ocorrido em
fases anteriores com Glossolepis incisus, mas não observado devido a dificuldade
da observação.
Diferenciação da cabeça e da cauda (12,83 hpf e 345,32 hgpf)
Durante o desenvolvimento do eixo embrionário, uma das extremidades inicia
a diferenciação na porção anterior do corpo embrionário, dando origem à região
cefálica do embrião (Fig. 5A).
Primórdio óptico (14,83 hpf e 401,32 hgpf)
Ocorre a evaginação de um par de vesículas ópticas rudimentares que
surgem na região cefálica do embrião, dando origem ao primórdio óptico (Fig.5B).
3-somitos (16,83 hpf e 443,32 hgpf)
Três pares de somitos rudimentares se diferenciam, com forma elíptica, na
região mediana do embrião, na região da cabeça houve progressão no
desenvolvimento da vesícula óptica e na região oposta a cabeça foi observada a
36
vesícula de Kuppfer (Fig.5C), que segundo MOURA (1991) possui função excretora.
Nesse estágio também foi possível identificar a notocorda ao longo do eixo do
embrião. EKANAYAKE e HALL (1991) observaram que a notocorda de medaka
(Oryzias latipes) se organiza do folheto epitelial, consistindo de células, que contém
inúmeros vacúolos, conectadas e envolvidas por uma bainha complexa, formada por
uma membrana interna secretada pelas células do epitélio da notocorda, essa
membrana é recoberta por uma densa bainha fibrosa, composta por fibras
colágenas, uma camada externa elástica, devido à presença de fibras elásticas e
uma camada superficial de bainha de tecido conectivo com a matriz extracelular de
colágeno depositada por fibroblastos do mesênquima. Esse processo de
organização da notocorda provavelmente.
13-somitos (23,0 hpf e 630,00 hgpf)
Em embriões com treze pares de somitos, foi possível observar a
diferenciação da retina no primórdio óptico dando início a diferenciação da vesícula
óptica. Também foi visualizada, nesse estágio, a diferenciação do condrocrânio, na
região cefálica, essas estruturas foram observadas também nesse momento por
FUJIMOTO et al. (2006) (Fig. 5D).
Batimento cardíaco (27,0 hpf e 742,00 hgpf)
O coração embrionário observado foi inicialmente uma simples região da veia
axial na mesoderme que inicia movimentos peristálticos promovendo lentamente a
circulação do sangue. Inicialmente foram observados 50,44 ± 2,60 batimentos por
minuto em média. REID e HOLDWAY (1995) observaram em M. fluviatilis batimentos
iniciais de 72 batimentos por minuto. Segundo os mesmo autores, M. fluviatilis
iniciou seus batimentos cardíacos com 46 hpf e CROWLEY e IVANTSOFF (1982)
observaram início de batimento cardíaco em M. nigrans e M. s. inornata com 47 hpf
a 25°C.
Melanóforos (28,0 hpf e 770,00 hgpf)
Os melanóforos surgiram aleatoriamente ao longo do eixo embrionário
passando logo depois para a vesícula vitelínica. Inicialmente são dentríticos e
também foram observados em M. fluviatilis por REID e HOLDWAY (1995).
Circulação sanguínea sobre a vesícula vitelínica (34,0 hpf e 938,00 hgpf)
37
A circulação que havia iniciado sobre o eixo embrionário, nesse momento,
possui uma maior velocidade no fluxo sanguíneo, 80 batimentos por minuto, e o
vaso embrionário axial se bifurca. O novo vaso se desenvolve e se ramifica sobre a
vesícula vitelínica promovendo a irrigação sanguínea sobre a região periférica do
vitelo. Este mesmo padrão foi identificado por MATKOVIC et al. (1985) em Rhamdia
sapo. HUMPHREY et al. (2003) observaram em M. s splendida o início da circulação
sobre a vesícula em 30,5 hpf. REID e HOLDWAY (1995) observaram em M. fluviatilis
o início da circulação sobre a vesícula próximos a 50 hpf.
Ca
PO
Cd
VK
A
C
B
Cc
R
NP
VO
D
E
F
Figura 5. Desenvolvimento embrionário de G. inicisus durante o período da
organogênese: (A) 12,83 hpf; (B) 16,33 hpf; (C) 14,83 hpf; (D) 23,0 hpf; (E)
83,0 hpf; (F) 120,0 hpf. (Ca) cabeça; (Cd) Cauda; (PO) Primórdio óptico; (VK)
Vesícula de Kuppfer; (VO) Vesícula óptica; (Cc) Condrocrânio; (NP)
Nadadeira peitoral; (R) Retina pigmentada.
Movimentação do embrião (35,5 hpf e 980,00 hgpf)
Início das contrações musculares com pouca freqüência na repetição dos
espasmos, mas os somitos já apresentavam disposição em “V”. Em G. incisus foi
observado que embriões com dezoito somitos possuíam a cauda passando pela
região da cabeça fazendo com que os embriões se dobrassem no interior dos ovos
dificultando a contagem dos somitos. Além disso, foi observado que o botão caudal
estava liberado.
38
Pigmentação do cristalino (41,0 hpf e 1358,00 hgpf)
Nesse momento foi observado que a cápsula óptica estava diferenciada e o início da
pigmentação apenas do cristalino. HUMPHEY et al. (2003) observaram a
pigmentação das cápsulas ópticas de M. s. splendida em 48 hpf.
Nadadeiras peitorais (57,83 hpf e 1635,62 hgpf)
As nadadeiras peitorais, assim como observado em M. s. splendida por
HUMPHEY et al.. (2003) e em M. fluviatillis por REID e HOLDWAY (1995), iniciaram
seu desenvolvimento ainda na fase embrionária e foram evidenciadas no eixo
embrionário por uma clara região oval bilateral e simétrica, ao final da região
cefálica. O início do desenvolvimento da nadadeira peitoral foi observado em M.
fluviatilis às 46 hpf (REID e HOLDWAY, 1995) e em M. s. splendida as 48 hpf
(HUMPHREY et al..2003). No presente trabalho, foi observado ainda nesse estágio
o desenvolvimento da membrana hialina e evidenciadas inúmeras células sensoriais,
iniciando ao redor da região da boca e se espalhando poucas horas depois para o
redor da órbita ocular e cabeça. Nesse momento, observou-se também a
diferenciação do ânus, que permaneceu, a principio fechado, até o início do
peristaltismo da região posterior do trato digestório. Nesse momento também foi
observado um crescimento das dimensões da membrana hialina apresentando
várias dobras ao logo do corpo do embrião.
Pigmentação do sistema circulatório (59,75 hpf e 1682,52 hgpf)
O sangue inicia sua coloração, passando do incolor para avermelhado, com o
coração apresentando duas câmaras trabalhando em movimentos antagônicos de
sístole e diástole, representando o átrio e o ventrículo. Foi observada, nesse
momento, uma freqüência cardíaca de 180 batimentos por minuto.
Movimentação das nadadeiras peitorais (83,0 hpf e 2358,18 hgpf)
Ao final da diferenciação das nadadeiras peitorais, os embriões iniciaram a
movimentação das nadadeiras, com batimentos rápidos e bem espaçados. Também
foi observado nesse momento a diferenciação de uma vesícula amarela na cavidade
abdominal, em região logo abaixo, e posterior, da nadadeira peitoral direita. Essa
vesícula amarela também foi observada por HUMPHREY et al.. (2003) em M. s.
splendida, sendo identificada como o fígado. Além disso, foi observado nesse
estágio que ocorreu o início da pigmentação da retina.
39
Movimentação dos olhos (91,0 hpf e 2530,80 hgpf)
Após o desenvolvimento da pigmentação do cristalino e da pigmentação da
retina (Fig. 5E) os olhos passaram a mover-se.
Abertura da boca (97,0 hpf e 2698,60 hgpf)
Foi possível identificar previamente o delineamento da boca que, ao abrir,
permanecia com movimentos lentos e espaçados. Com a abertura da boca foi
possível identificar um dente único molariforme, presente na maxila inferior, sobre a
região da sínfise.
Abertura do Ânus (120,0 hpf e 3341,35 hgpf)
Com o início do peristaltismo da porção posterior do trato digestório, foi
possível acompanhar a expulsão de um líquido amarelado que percorria toda a
porção posterior do tubo digestório sendo expelido pelo ânus. Além disso, observouse que os melanóforos passavam de dendríticos a uma forma esférica.
A retina encontrava-se completamente pigmentada (Fig. 5F). Novas células
sensoriais (neuromastos) formaram uma fila ao longo do eixo embrionário. Segundo
MUKAI e KOBAYASHI (1995), os neuromastos são órgãos mecanosensitivos,
importantes para a percepção de estímulos físicos para a fuga de predadores ou
predação do plâncton e observaram em Gnathopogon elongatus caerulescens
padrão de desenvolvimento similar ao observado em G. incisus, porém iniciando na
fase de larva. Foi possível observar nesse momento que a freqüência cardíaca foi de
228 batimentos por minuto, valor superior ao observado por REID e HOLDWAY
(1995) para M. fluviatilis também no momento de pré-eclosão. Esse conjunto de
características sugeriu que os embriões estavam no período de pré-eclosão.
Eclosão (125,0h e 3502,61 hgpf)
A eclosão dos embriões teve início a partir de 125,0 hpf e 3502,61 hgpf com
duração até 150,25 hpf e 4234,72 hgpf (Figura 6). Esse tempo de desenvolvimento
embrionário é considerado relativamente alto para os peixes nacionais (NAKATANI
et al., 2001; REYNALTE-TATAJE et al., 2004). Já para animais do gênero
Melanotaenia, tempos entre 6 e 7 dias de desenvolvimento embrionário são
normalmente observados na literatura como tempo normal de desenvolvimento
(HUMPHREY et al. 2003; REID e HOLDWAY, 1995). Para M. fluviatilis o período de
eclosão observado foi entre 7 e 9 dias e HUMPHREY et al. (2003) observaram em
40
M. s. splendida, tempo de eclosão entre 4 e 8 dias de desenvolvimento embrionário.
IVANTSOFF et al. (1988) observaram em M. s australis, M. s. inornata e M. niigrans,
espécies do gênero Melanotaenia, período embrionário de 4,5 dias a 26°C.
Percentagem de Eclosão (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
120
125
130
135
140
145
150
155
Horas Pós-fecundação
Figura 6. Evolução do período de eclosão dos ovos de G. incisus.
A saída das larvas mediante o rompimento do córion aconteceu de maneira
muito rápida semelhantemente ao observado por HUMPHEY et al. (2003) para M. s.
splendida. As larvas recém eclodidas semelhantemente a M. s. splendida
(HUMPHREY et al. 2003) e M. fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995) eram muito
ativas e possuíam muita habilidade natatória. As larvas recém eclodidas mediram
4,00 ± 0,05mm de comprimento total médio e possuíam rápida movimentação dos
opérculos, movimentação da boca e do trato digestório e também apresentavam
otólitos proeminentes como também observado em M. s. splendida (HUMPHREY et
al. 2003) e M. fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995).
Foi possível observar que as larvas recém-eclodidas continham um volume
residual de vitelo e nesse resíduo ainda foi possível se observar gotas de óleo. Não
foi observado o enchimento da bexiga natatória nas larvas recém eclodidas de G.
incisus, mas não afundavam quando paravam de nadar. As larvas de M. s. splendida
(HUMPHEY et al., 2003) relataram o enchimento da bexiga natatória no momento da
eclosão. Segundo REID e HOLDWAY (1995), para M. fluviatilis o enchimento da
bexiga natatória ocorre 10h após a eclosão a 25°C.
A freqüência de batimentos cardíacos das larvas recém eclodidas de G.
incisus foi de 245 por minuto. Durante a progressão do desenvolvimento do sistema
41
circulatório, e conseqüentemente da intensificação da freqüência cardíaca,
observou-se no período noturno queda na freqüência cardíaca, retornando a níveis
mais elevados pela manhã. Isso sugere uma relação específica com o ciclo
circadiano ou uma resposta fisiológica ao período de escuro, devido ao stress
causado pelo período de iluminação.
Não foi objetivo do presente trabalho identificar o momento inicial da
alimentação, mas quanto à alimentação inicial de larvas de melanotênias, REID e
HOLDWAY (1995), observaram em M. fluviatilis, movimentos de alimentação logo
após a eclosão e início de alimentação em 12 horas após eclosão. HUMPHEY et al.
(2003) relataram o início da alimentação das larvas de M. S. splendida em poucas
horas após a eclosão. SATO et al. (2003) relataram que quando ocorre a abertura
da boca as larvas têm necessidade de alimentação de origem exógena.
Os tempos e horas-graus dos eventos morfofisiológicos observados durante o
desenvolvimento de embriões de G. incisus foram correlacionados entre si e os
resultados podem ser observados respectivamente nas tabela 2 e 3.
Tabela 2. Principais correlações observadas entre os eventos morfofisiológico em
horas-grau após a fecundação de embriões de G. incisus.
Eventos correlacionados
Correlação (%)
64 blastômeros
Nadadeiras peitorais
98,93
512 blastômeros
Gástrula 20%
98,50
512 blastômeros
Diferenciação Eixo embrionário
97,00
Batimento cardíaco
Pigmentação do sistema circulatório
95,77
Batimento cardíaco
Movimento da nadadeira peitoral
98,75
Nadadeiras peitorais
Diferenciação Cabeça e cauda
97,68
Contração muscular
Gástrula 20%
98,34 (-)
Contração muscular
Circulação sobre a vesícula
97,84
Pig. do sistema circulatório*
Gástrula 90%
99,07 (-)
Pig. do sistema circulatório*
Fechamento do blastóporo
97,13 (-)
Pig. do sistema circulatório*
Movimento da nadadeira peitoral
99,10
Movimento dos olhos
Blástula oval
99,54
Movimento dos olhos
Gástrula 30%
99,98
Abertura da boca
64 blastômeros
97,57
Abertura da boca
Gástrula 20%
97,26
Abertura da boca
Vesícula óptica
85,08
Abertura da boca
Nadadeiras peitorais
86,58
Abertura da boca
Movimentação dos olhos
88,89
Eclosão
Vesícula óptica
89,06 (-)
Eclosão
Pigmentação da cápsula óptica
91,72
(-) correlação inversa.
Tabela 3. Principais correlações observadas entre os eventos morfofisiológico em
horas após a fecundação de embriões de G. incisus.
42
Eventos correlacionados
Fase esférica
Diferenciação cabeça e cauda
Gástrula 50%
Pigmentação do cristalino
Gástrula 50%
Nadadeiras peitorais
Gástrula 50%
Movimento dos olhos
Diferenciação cabeça e cauda 3 somitos
Batimento cardíaco
Fase esférica
Primórdio óptico
Movimento da nadadeira peitoral
Contração muscular
Circulação sobre a vesícula
Fechamento do blastóporo
Diferenciação Eixo embrionário
Nadadeiras peitorais
Gástrula 80%
Nadadeiras peitorais
Pigmentação do cristalino
Movimento dos olhos
64 blastômeros
Movimento dos olhos
Nadadeiras peitorais
Movimento dos olhos
Pigmentação do cristalino
Abertura da boca
Blástula oval
Abertura da boca
Pigmentação do sistema circulatório
Eclosão
Diferenciação Eixo embrionário
Eclosão
Gástrula 50%
Eclosão
Movimentação dos olhos
Eclosão
Batimento cardíaco
(-) correlação inversa.
Correlação (%)
99,98
98,93
99,95
99,87
93,40
99,64
99,81
98,64
99,75
99,95
98,49
98,07
99,98
98,04
97,30
97,78 (-)
96,34 (-)
98,79 (-)
97,85 (-)
98,90 (-)
Foi observada correlação baixa ou inexistente entre a maioria dos estágios
iniciais de desenvolvimento embrionário de G. incisus. Os estágios de clivagem até o
estágio de gástrula 50% ocorreram com grande variação de hpf e hgpf. A partir do
estágio de gástrula 50% os valores de correlação entre eventos próximos passam a
ser maiores, indicando maior associação entre os eventos.
Alguns eventos iniciais apresentaram alta correlação com eventos mais
avançados de desenvolvimento, entre eles foi observada alta correlação entre o
tempo, em horas-grau pós-fecundação, do estágio de 64 blastômeros e o momento
de início da diferenciação das nadadeiras peitorais e de abertura da boca. Em
relação as horas pós-fecundação foi observado alta correlação entre o estágio de
gástrula 50% com o momento de início da diferenciação das nadadeiras peitorais,
pigmentação do cristalino e movimentação dos olhos.
Foi observada também uma correlação inversa entre o estágio de gástrula
50% e o momento do início da eclosão dos ovos.
O momento da eclosão apresentou correlação com o início de diferenciação
da vesícula óptica e da pigmentação do cristalino, demonstrando que, embora
tenham sido observadas algumas características indicativas do momento préeclosão, a eclosão estaria mais dependente do desenvolvimento do sistema óptico,
43
que em larvas de G. incisus é o principal órgão sensorial, sendo proporcionalmente
grandes nas larvas recém eclodidas. Nas larvas de M. fluviatilis, observadas por
HOLDWAY e REID (1995), a eclosão também é associada à formação do sistema
ocular.
Essas correlações envolvendo o aparecimento das nadadeiras peitorais, o
desenvolvimento dos olhos e a abertura da boca, tornam-se importantes uma vez
que
essas
características
ocorrem
simultaneamente
e
estão
diretamente
relacionados com a alimentação exógena, segundo LASKER et al. (1970 citado por
SANCHES et al., 2001). Essas estruturas foram observadas nas larvas recém
eclodidas de G. incisus, indicando então, que as larvas eclodem com características
que indicam proximidade do início da alimentação exógena.
44
CONCLUSÕES
• O desenvolvimento embrionário é dividido em cinco períodos bem definidos:
clivagem, blástula, gástrula, organogênese e eclosão.
• O desenvolvimento embrionário de Glossolepis incisus foi semelhante ao
desenvolvimento embrionário observado em espécies do gênero Melanotaenia.
• O tempo de desenvolvimento embrionário de G. incisus incubados artificialmente o
momento da eclosão.
• As larvas de G. incisus eclodem com um volume residual de vitelo em um período
alimentar mixotrófico, com estruturas morfológicas externas que lhe permitem o
início da alimentação de origem exógena.
45
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49
CONSUMO DE VITELO DURANTE DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DE
OVOS DE MELANOTÊNIA MAÇÃ (Glossolepis incisus, WEBER 1907)
RESUMO
O consumo do vitelo durante o desenvolvimento de embriões de melanotênia maçã
(Glossolepis incisus) foi avaliado sob condições controladas de incubação. Os ovos
foram obtidos por desovas naturais de matrizes em cativeiro e mantidos em peneiras
em aquários de 40L, com fluxo contínuo de água por bombeamento, na temperatura
de 28°C. O fotoperíodo mantido durante o experimento foi de 16L:8E. O consumo do
^ - 0,0000002X3 + 0,00005X2 -0,06X + 0,383
vitelo pode ser descrito pela equação Y=
(R2=0,9993) observando-se um primeiro período mais intenso de consumo até 40
horas após a fecundação (hpf), coincidindo com o período da clivagem até estágios
embrionários da organogênese média. No segundo momento, até 80 hpf, foi
observada uma menor velocidade de consumo, com o embrião evoluindo até
avançados estágios da organogênese. O terceiro momento foi o de menor
intensidade de consumo, os embriões apresentaram visualmente poucas diferenças
morfológicas, momento pré-eclosão. Observou-se nas larvas recém eclodidas uma
vesícula vitelínica reduzida, mas ainda presente. Os embriões de melanotênia maçã,
diferentemente de outras espécies de peixes tropicais, eclodem ao final período
alimentar endotrófico, próximo ao mixotrófico, demandando alimentos de origem
exógena poucas horas após a eclosão.
Palavras Chave: Melanotênia maçã, Desenvolvimento inicial, Vitelo, Embriões.
50
YOLK-VESICLE ABSORPTION ON EARLY DEVELOPMENT OF EMBRYOS OF
SALMON-RED RAINBOWFISH (Glossolepis incisus, WEBER 1907)).
ABSTRACT
The consuming of yolk on development of embryos of the red rainbowfish
(Glossolepis incisus) were examined under controlled hatchery conditions. Naturallyfertilized eggs, obtained by spawning of cultured adults, were stocked into floating
sieves in 40L flow-through aquaria at temperature of 28°C. A photoperiod of 16L: 8D
was maintained. The embryos have a long period of hatching about 7 days and
consumed almost all yolk during the early stages into the eggs. The consume was
^
described for the equation Y= = - 0,0000002X3 + 0,00005X2 -0,06X + 0,383
(R2=0,9993) and was more intense in a first period until 40 hour post-fecundation
(hpf). At this moment the embryos were initiating the organogenesis stage. The
consume was lower until 80 hpf with embryos in advanced organogenesis and after
the lowest levels until hatching with few morphologics alterations. At hatching the
newly-hatched larvae yolk-sac is reduced, but still present and the larvae are strongly
swimmers and have a functional mouth, enteric peristaltic movement and anus
opened suggesting an initial exogenous feeding stage. At hatching the newlyhatched larvae yolk-sac is reduced, but still present and the larvae are strongly
swimmers and have a functional mouth, enteric peristaltic movement and anus
opened suggesting an initial exogenous feeding stage. Differently to others species
of tropical fishes that have a long time for the weaning, larvae of red rainbowfish are
already for becoming first-feeding larvae in few hours after hatching.
Keywords: Red Rainbowfish, Early development, Yolk, Eggs.
51
INTRODUÇÃO
As melanotênias integram um grupo de pequenos, coloridos e valiosos peixes
cultivados no seguimento de ornamentais. Elas pertencem à família Melanotaeniidae
que possui 7 gêneros e 66 espécies, encontrados em várias condições ecológicas
da Austrália e Nova Guiné (ALLEN 1989; COATES 1990). As melanotênias são
classificadas como espécies forrageiras, com importante participação na cadeia
alimentar do ambiente dos rios. Além disso, espécies como Melanotaenia fluviatilis
vêm se tornando importantes organismos testes para ensaios de toxicidade de
produtos químicos e poluentes de rios (REID e HOLDWAY, 1995).
A desova das melanotênias, em geral, envolve a liberação simultânea dos
gametas masculinos e femininos. Em condições controladas de laboratório ou de
sistemas de cultivo, desovam durante o ano inteiro (VIDAL Jr., 2005).
Os ovos das diversas espécies estudadas de melanotênias são semelhantes e
geralmente possuem uma seqüência similar de desenvolvimento embrionário e
larval (CROWLEY e IVANTSOFF, 1982; REID e HOLDWAY, 1995; HUMPHREY et
al. 2003). As larvas recém eclodidas apresentam nadadeiras peitorais, boca e bexiga
natatória e são muito ativas. As larvas nadam ativamente e a alimentação tem início
52
em poucas horas após a eclosão devido ao reduzido volume de vitelo (HUMPHREY
et al. 2003; REID e HOLDWAY 1995).
O vitelo é uma glicolipofosfoproteína que durante todo o período embrionário é a
única fonte de nutrientes para o desenvolvimento do embrião. Após a eclosão, as
larvas ainda utilizam seu vitelo embrionário como alimentação endógena por algum
tempo, até a sua total exaustão.
Ao final do consumo do alimento endógeno as larvas têm a necessidade
encontrar o alimento adequado após o consumo do vitelo, sem o qual teria início a
reabsorção de seus tecidos (autofagia) (PHONLOR e VINAGRE, 1989). O jejum
sendo prolongado leva a óbito.
O tempo jejum que causa o óbito, mesmo após a retomada da alimentação, é
definido como ponto de não-retorno (PNR). O PNR só ocorre quando, mesmo após
a ingestão da primeira alimentação, mais de 50% das larvas que ingeriram o
alimento, morrem independente da mortalidade do controle. (BLAXTER e HEMPEL,
1963).
O período entre a primeira alimentação da larva e o PNR é fundamental para a
sobrevivência da larva (JOHNSON e KATAVIC, 1986; PHONLOR e VINAGRE,
1989). Além disso, a falta de informações a respeito das exigências nutricionais das
larvas, suas características morfo-fisiológicas e manejo de alimentação inadequado
durante a larvicultura resulta, freqüentemente, em crescimento lento e sobrevivência
reduzida (PORTELLA, 2004).
Entre as várias espécies de melanotênias, a melanotênia maçã se destaca por
alcançarem os maiores valores de venda e assim, como os animais desta família,
são rústicos, onívoros, aceitam muito bem rações comerciais e desovam em
condições de cultivo durante todo o ano. Entretanto, diversos aspectos produtivos e,
em especial, a larvicultura de G. incisus não foram definidos, tornando o cultivo
pouco eficiente e com baixo retorno do capital investido, apesar do alto valor
agregado do produto final.
Além de outros fatores, os indicadores de qualidade larval são fundamentais para
se otimizar o processo de transição alimentar, momento este, ainda crítico na
larvicultura. Dentre os indicadores de qualidade, estão os momentos do
desenvolvimento morfológico e fisiológico das larvas, principalmente o tempo de
absorção do vitelo e o momento de transição alimentar do endógeno para o
exógeno, ou seja, período mixotrófico.
53
MATERIAL E MÉTODOS
Os ovos utilizados foram obtidos de exemplares machos e fêmeas,
sexualmente maduros de Melanotênia maçã (Glossolepis incisus) do plantel de
peixes do setor de aqüicultura do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal,
Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte
Fluminense – Darcy Ribeiro.
As matrizes (n=45) foram distribuídas na proporção de 1 macho e 4 fêmeas,
distribuídos por 3 aquários de 40 litros de capacidade volumétrica cada, dotados de
sistemas independentes de entrada e saída de água, com fluxo contínuo por
bombeamento e sistema de filtragem biológica.
Após o período de dois dias para adaptação das matrizes, foram colocados
aguapés (Echornia sp.) nos aquários das matrizes, duas plantas por aquário, para
estímulo da reprodução e como substrato das desovas. Os aguapés foram
observados a cada meia hora até que fossem encontrados ovos presos à raiz.
As desovas ocorreram de forma espontânea e os ovos, retirados das raízes
dos aguapés com auxílio de tesouras e pinças, foram agrupados em vidros de
relógio. Os ovos foram observados em microscópio óptico com aumento de 2,5X ou
10X e o diâmetro dos ovos mensurados com o auxílio de ocular com escala
micrométrica.
54
Para a execução dos experimentos de avaliação de consumo do vitelo dos
embriões de G. incisus, foi coletada uma desova que ocorreu de forma natural e
espontânea sob os aguapés. Os ovos foram retirados das raízes dos aguapés com
auxílio de tesouras e pinças e agrupados em vidros de relógio. Os ovos foram
observados em microscópio óptico e o diâmetro dos ovos foi mensurado com o
auxílio de ocular com escala micrométrica. As medidas obtidas foram corrigidas por
ajuste com uma lâmina micrométrica com escala de 1mm.
Após a avaliação prévia, os ovos foram transportados para outro aquário de
40L, semelhante ao das matrizes, e acomodados em uma peneira flutuante. A
desova foi contada, avaliada e acomodada na peneira em um total de 35 ovos, onde
ficaram durante todo o período de incubação até o momento da eclosão.
As observações da aparência externa dos embriões e mensuração do
comprimento e altura foram realizadas a cada 2h desde os momentos iniciais de
desenvolvimento até o momento de eclosão. A cada momento de observação os
ovos eram levados ao microscópio óptico (2,5X e 10X) e mensurados,
posteriormente retornavam para a peneira.
Os valores de altura (AV) e de largura da vesícula vitelínica (LV) foram
utilizados para o cálculo do volume de vitelo da vitelínica através da fórmula,
proposta por BLAXTER E HEMPEL (1963):
V=
π . CV. AV2
6
A temperatura da água dos aquários das matrizes e das incubadoras foi
controlada mediante o uso de aquecedores acoplados a termostatos automáticos
programados para 28°C e distribuídos em número de um aquecedor por aquário. A
temperatura da água foi mensurada no momento da coleta dos ovos nos aquários
das matrizes e, em cada momento de observação, na água dos aquários de
incubação. As mensurações foram realizadas utilizando-se termômetro digital.
O pH da água foi mantido em valores próximos a 7,0; para tal se utilizou cal
extinta como fonte de cálcio para elevação da alcalinidade, do pH e da dureza da
água, tamponando-a. O pH foi mensurado no momento de cada observação com
auxílio de medidor eletrônico de pH, com precisão de duas casas decimais.
55
A condutividade da água da incubadora foi medida também no momento de
cada observação, por meio de condutivímetro digital, com precisão de duas casas
decimais.
Com relação ao oxigênio dissolvido (OD), o sistema contou com fluxo contínuo
de água nos aquários de incubação e aeração constante por meio de sopradores
elétricos e as mensurações de OD foram tomadas três vezes ao dia, as 0h, 8h e
16h, com oxímetro digital, com precisão de duas casas decimais.
Foi realizada análise estatística descritiva e foram testadas equações de
regressão para os principais parâmetros, conforme o melhor ajustamento.
56
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após o término do período experimental o valor médio observado para os
parâmetros físico-químicos da água da incubadora foi de 28,27 ± 0,33°C para a
temperatura; de 6,3 ± 0,41 para o pH; 714,4 ± 34,99 µs para a condutividade e 6,30
± 0,41 mg/L para o oxigênio dissolvido.
Os volumes de vitelo (Tab. 1) disponíveis para o embrião diminuíram
rapidamente durante o primeiro dia de desenvolvimento, passando de 0,38mm para
0,17mm nas primeiras 40hpf. Esse momento coincidiu com o período da
organogênese média dos embriões. Foi observado que com 40hpf, os embriões de
G. incisus possuíam um coração embrionário funcional (uma artéria pulsante) com
freqüência cardíaca em torno de 116 batimentos por minutos. Além disso, foi
possível observar contrações musculares do embrião e o início da pigmentação da
cápsula óptica.
A partir de 40hpf, observou-se um consumo menos intenso de vitelo em
relação ao primeiro período, sendo observado que o volume vitelínico passou de
0,17mm para 0,13mm, mantendo-se nesses níveis até 80hpf, quando os embriões já
estavam em estágios avançados da organogênese. Com 80 hpf os embriões
apresentaram células sensoriais espalhadas pela cabeça, nadadeira peitoral em
desenvolvimento avançado (sua movimentação ocorreu com 82hpf), ânus
57
diferenciado e membrana hialina bem desenvolvida. No sistema circulatório já se
observava pigmentação e a freqüência cardíaca era de 200 batimentos por minuto.
Tabela 01. Valores médios (n=15) de comprimento e altura da vesícula vitelínica e
volume do vitelo durante o período embrionário.
HPF
HGPF (°C)
Largura
(mm)
Altura
(mm)
Volume de Vitelo
(mm)
7,50
11,33
15,58
20,17
24,67
28,33
34,33
36,50
38,17
42,33
44,33
48,33
52,33
58,67
60,17
65,00
68,50
70,25
75,00
78,83
81,17
87,07
91,92
93,17
95,17
97,17
99,25
101,25
103,00
105,17
109,00
113,00
115,00
117,00
119,17
215,15
325,07
446,17
577,00
703,04
801,89
986,71
1090,71
1151,64
1267,67
1323,01
1424,34
1535,56
1708,92
1751,74
1889,04
1988,02
2066,54
2201,61
2310,60
2376,19
2599,52
2736,44
2771,81
2828,75
2885,75
2944,96
3001,56
3050,76
3111,65
3219,36
3331,76
3387,80
3443,45
3503,68
0,91 ± 0,03
0,89 ± 0,02
0,85 ± 0,04
0,83 ± 0,05
0,85 ± 0,05
0,92 ± 0,05
0,89 ± 0,04
0,82 ± 0,02
0,82 ± 0,04
0,80 ± 0,02
0,81 ± 0,03
0,79 ± 0,03
0,80 ± 0,02
0,75 ± 0,09
0,73 ± 0,04
0,75 ± 0,05
0,77 ± 0,13
0,76 ± 0,14
0,77 ± 0,10
0,70 ± 0,17
0,72 ± 0,12
0,64 ± 0,11
0,65 ± 0,10
0,58 ± 0,07
0,64 ± 0,03
0,56 ± 0,07
0,57 ± 0,09
0,51 ± 0,05
0,57 ± 0,12
0,41 ± 0,08
0,53 ± 0,11
0,46 ± 0,09
0,42 ± 0,07
0,40 ± 0,10
0,30 ± 0,06
0,89 ± 0,04
0,91 ± 0,02
0,88 ± 0,02
0,74 ± 0,04
0,78 ± 0,06
0,73 ± 0,07
0,69 ± 0,06
0,71 ± 0,09
0,63 ± 0,05
0,59 ± 0,07
0,61 ± 0,05
0,64 ± 0,05
0,61 ± 0,02
0,61 ± 0,05
0,65 ± 0,09
0,61 ± 0,10
0,59 ± 0,03
0,62 ± 0,07
0,65 ± 0,07
0,55 ± 0,02
0,57 ± 0,11
0,55 ± 0,04
0,52 ± 0,10
0,47 ± 0,03
0,54 ± 0,11
0,47 ± 0,05
0,46 ± 0,02
0,51 ± 0,05
0,44 ± 0,06
0,49 ± 0,17
0,49 ± 0,07
0,30 ± 0,06
0,35 ± 0,07
0,33 ± 0,08
0,25 ± 0,07
0,38 ± 0,03
0,38 ± 0,02
0,35 ± 0,03
0,29 ± 0,05
0,22 ± 0,05
0,22 ± 0,06
0,23 ± 0,05
0,22 ± 0,05
0,17 ± 0,02
0,15 ± 0,04
0,16 ± 0,03
0,17 ± 0,03
0,16 ± 0,01
0,15 ± 0,03
0,17 ± 0,05
0,15 ± 0,05
0,14 ± 0,04
0,16 ± 0,05
0,18 ± 0,06
0,11 ± 0,04
0,13 ± 0,06
0,10 ± 0,03
0,10 ± 0,05
0,07 ± 0,02
0,10 ± 0,05
0,06 ± 0,01
0,06 ± 0,02
0,07 ± 0,02
0,06 ± 0,03
0,06 ± 0,06
0,07 ± 0,03
0,02 ± 0,01
0,03 ± 0,02
0,03 ± 0,02
0,01 ± 0,01
Após 80hpf foi observado que o consumo do vitelo no período embrionário
voltou a crescer até 119hpf. Os volumes nesse período foram reduzidos de 0,17mm
até valores residuais de 0,01mm, na pré-eclosão. A diferença entre o espaço
ocupado pela vesícula vitelínica nesse momento e o espaço original foi bastante
58
perceptível como reportado também por HOLDWAY e REID (1995) para embriões
de M. fluviatilis.
A vesícula vitelina demonstrou regredir primeiramente em largura e após as
40hpf foi observado um maior absorção em altura até o momento de pré-eclosão as
120hpf (Fig. 1).
HEMING e BUDDINGTON (1998), propuseram três fases distintas para a
absorção de vitelo em peixes teleósteos, com a primeira indo até o momento da préeclosão e as outras duas após a eclosão, sendo que em G. incisus as três fases
foram observadas, ainda no interior do ovo, até o momento pré-eclosão. Para a
melanotênia maçã foi observado neste trabalho que as três fases, embora
identificadas (Figs. 2 e 3), diferentemente das larvas de peixes observadas por
HEMING e BUDDINGTON (1998), ocorreram no interior dos ovos durante o período
embrionário segundo, terminologia sugerida por KENDALL et al. (1986).
Vesícula Vitelínica (mm)
1,00
0,90
Largura da Vesícula Vitelínica
Altura da Vesícula Vitelínica
0,80
0,70
0,60
0,50
y = -5E-05x 2 + 0,0013x + 0,8635
A
R2 = 0,9319
0,40
0,30
y = -1E-06x 3 + 0,0002x 2 - 0,0146x + 0,9985
L
R2 = 0,938
0,20
0,10
0,00
0
20
40
60
80
100
120
140
Horas pós fecundação
Figura 1. Largura e altura da vesícula vitelíníca em função das horas pósfecundação
As larvas eclodiram a partir de 124,0hpf com vitelo residual. As larvas
apresentavam a boca aberta, com a presença de um dente molariforme; olhos
pigmentados; movimentos peristálticos na região posterior do intestino; ânus aberto
e uma grande atividade natatória.
Características observadas nas larvas recém eclodidas de G. incisus tais
como pigmentação dos olhos e a abertura da boca, são eventos que, segundo
(LASKER et al., 1970, citado por SANCHES et al., 2001) ocorrem simultaneamente
e estão diretamente relacionados com a alimentação exógena. SATO et al. (2003)
59
relataram que, quando ocorre a abertura da boca, as larvas iniciam a necessidade
de alimentação de origem exógena
Volume de vitelo (mm)
0,4
^y = -2E-07x3 + 5E-05x2 - 0,006x + 0,383
0,3
R2 = 0,9993
0,2
0,1
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Horas pós fecundação
Figura 2. Consumo de vitelo de embriões de G. incisus em função das horas
após a fecundação.
Porcentagem de Vitelo (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Horas Pós-fecundação
Figura 3. Consumo de vitelo, em porcentagem, ao longo do período
embrionário, em horas pós-fecundação.
Isto nos leva a crer que o início da alimentação exógena ocorre em indivíduos
que ainda apresentam vestígios de saco vitelino, como observado no presente
trabalho, uma vez que, segundo SANCHES et al. (2001), larvas em pré-flexão
apresentaram, além dessas características, algum alimento de origem externa no
intestino.
As larvas recém eclodidas observadas no presente estudo não utilizaram
alimentos de fonte exógena, mas o início da ingestão de alimentos de fonte
exógena, período mixotrófico, em larvas de M. s. splendida (HUMPHEY et al., 2003)
60
e M. fluviatilis (REID e HOLDWAY, 1995) foi observada poucas horas após a
eclosão.
Devido ao volume residual de vitelo, peristaltismo do sistema digestório e pela
proximidade início período de ingestão de alimento de fonte exógena, observado em
animais da mesma família, pode-se inferir que as larvas recém eclodidas de G.
incisus estão próximas ao período de transição alimentar, mixotrófico, ou seja, de
transição do período de alimentação endógena para o período de alimentação
exógena.
KAMLER (1992) define período de transição alimentar, como período de
alimentação mista e o considera uma etapa crítica na qual a larva necessita
encontrar o alimento adequado a sua sobrevivência, antes de acabar por completo
suas reservas endógenas.
Segundo
VLADIMIROV
(1974),
o
período
crítico
para
larvas
com
características altriciais (pouco desenvolvidas) é observado logo após a eclosão.
Como as larvas de melanotênia maçã apresentaram características precociais
(estágios mais avançados de desenvolvimento), nascem muito ativas e em estágios
avançados de desenvolvimento, iniciando o período alimentar mixotrófico, assim o
período crítico, para esta espécie, seria reduzido, refletindo em uma maior
sobrevivência.
A larvicultura de espécies com larvas precociais, como G. incisus, é de menor
risco e este aspecto é benéfico no tocante à criação desses peixes em cativeiro. A
maioria das larvas neotropicais recém eclodidas de interesse para a aqüicultura
apresentam características altriciais, como pouca motilidade natatória e pouca
reserva vitelínica, além de trato digestório morfofiosologicamente incompleto no
momento do início da alimentação exógena (PORTELLA, 2004).
Outro aspecto relevante para as larvas recém eclodidas de melanotênia maçã
é o fato de que, segundo MARTEINSDOTTIR e ABLET (1992), vesículas maiores
causam maior atrito durante o deslocamento, exigindo maior gasto energético, além
de dificultar a fuga, quando atacado por predadores. Logo, larvas ativas com
absorção mais precoce da vesícula, e conseqüentemente com menores vesículas
vitelínicas, teriam um reduzido custo energético para a natação, como no caso da
melanotênia maçã, permitindo sua atividade natatória e assim maior eficiência de
fuga e predação como também já relatado por HOLM (1986).
61
CONCLUSÕES
O vitelo é consumido quase totalmente pelos embriões no interior dos ovos.
As larvas recém eclodidas nascem próximas ao período mixotrófico de
alimentação.
Para a larvicultura dessa espécie é necessário a disponibilização de alimento
exógeno momentos após a eclosão.
62
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