HISTOLOGIA ANIMAL I 1 - Introdução: Como já vimos antes, as células, unidades fundamentais dos seres vivos, se agrupam segundo características morfológicas e funcionais, formando os tecidos. Histologia é a parte da biologia que estuda estes tecidos, sua estrutura e função. Nesta parte trataremos apenas dos tecidos animais. 2 - Tecidos epiteliais: Os tecidos epiteliais são formados por células justapostas, com pouca substância intercelular e muitas estruturas de adesão (desmossomos e zonas de adesão). Possuem terminações nervosas, mas não possuem vasos sangüíneos, recebendo nutrição do tecido conjuntivo sobre o qual se apoia. A maioria das células epiteliais apresenta nítida polaridade, isto é, são facilmente distinguíveis dois “lados”, um deles voltado para a camada de tecido conjuntivo e substâncias adesivas ( a lâmina basal), chamado de pólo basal, e o outro voltado para o lado oposto, geralmente uma superfície lisa, chamado pólo apical. Podemos classificar os tecidos epiteliais em tecido epitelial de revestimento e tecido epitelial glandular. a) Tecido epitelial de revestimento: Como o nome indica, forma o revestimento externo do corpo e também das cavidades internas (tubo digestivo, aparelho respiratório, aparelho urinário e vasos sangüíneos). Estes epitélios podem ser subdivididos segundo algumas características próprias, como podemos ver no quadro abaixo: Os epitélios de revestimento, além da função protetora que exercem, podem também ser de secreção, sensoriais, de absorção e ciliados. b) Tecido epitelial glandular: As glândulas são estruturas formadas por uma célula ou agrupamentos de células epiteliais secretoras, que produzem substâncias e as eliminam. Elas podem ser classificadas segundo três critérios: - modo de eliminação da secreção: - merócrinas: a secreção é eliminada sem que a própria célula seja eliminada também (a maioria das glândulas). - apócrinas: a secreção é eliminada com pequena porção do citoplasma, que depois sofrem regeneração (glândulas mamárias e sudoríparas). - holócrinas: a célula toda é eliminada junto com a secreção (glândulas sebáceas). - presença ou ausência de dutos que conduzem a secreção para o exterior da glândula: - endócrinas: ausência de dutos (hipófise, tireóide, paratireóide). - exócrinas: presença de dutos (lacrimal, sudorípara, sebácea). - mistas: apresentam os dois tipos (pâncreas, fígado, gônadas). - natureza da secreção produzida: - mucosa: secreção viscosa (glândulas caliciforme da traquéia). - serosa: secreção aquosa de baixa densidade (pâncreas, parótidas). - mistas: produzem os dois tipos (glândulas mandibular e sublingual). 3. TECIDOS CONJUNTIVOS O tecido conjuntivo é caracterizado por apresentar células (de diferentes tipos) imersas em uma grande quantidade de substância intercelular (matriz). A matriz é composta por uma substância amorfa, constituída por água, polissacarídeos, glicídeos e proteínas, e por fibras, que podem ser de três tipos: Fibras Colágenas: Formadas pela proteína colágeno, resistentes à tração, podendo ocorrer em feixes espessos. são Fibras Elásticas: São mais estreitas, podendo ter ramificações. São formadas pela proteína elástica e apresentam muita elasticidade. Fibras Reticulares: Formadas pela proteína reticulina, são as mais finas, podendo também ser ramificadas. Apresentam-se entrelaçadas, formando uma espécie de rede. As células do tecido conjuntivo são derivadas de células embrionárias da mesoderme, chamadas células mesenquimais, que se espalham por todo o corpo e se especializam. Podemos encontrar vários tipos. Fibroblastos: Células alongadas e muito ramificadas, responsáveis pela formação das fibras dos polissacarídeos da matriz. No citoplasma apresentam muitas mitocôndrias, ergastoplasma e complexo de Golgi muito desenvolvidos. No seu estágio imaturo (inativas) são menores, menos ramificadas e com menos mitocôndrias, ergastoplasma e complexo de Golgi menores, sendo chamadas fibrócitos. Nos processos de cicatrização, pode haver transformação de fibrócitos em Fibroblastos. Leucócitos: Glóbulos brancos do sangue que deixam os vasos sangüíneos através do processo chamado diapedese, e penetram nos outros tecidos conjuntivos, principalmente em áreas infectadas. Os leucócitos mais freqüentes são os eosinófilos e os linfócitos. Os primeiros fagocitam certos invasores e os segundo produzem anticorpos. Macrófagos: São células grandes, de formato irregular. Apresentam intensa síntese protéica, complexo de Golgi bem desenvolvido e muitos lisossomos, além de um grande número de microtúbulos e microfilamentos, o que caracteriza uma célula com alta capacidade fagocitária. Atuam juntamente com os linfócitos fagocitando invasores nos tecidos conjuntivos. Quando não estão ativos apresentam-se menores e fusiformes, sendo chamados de histiócitos. Os macrófagos são originados dos monócitos, glóbulos brancos que saem por diapedese dos vasos sangüíneos. Mastócitos: Células grandes, ovóides ou arredondadas. Apresentam citoplasma rico em grânulos de heparina, um anticoagulante, e histamina, importante na dilatação e no aumento de permeabilidade dos vasos sangüíneos. Plasmócitos: Células ovóides, com ergatoplasma bastante desenvolvido. São os principais produtores de anticorpos do tecido conjuntivo. São derivados dos linfócitos. Células Adiposas: São células arredondadas que armazenam grande quantidade de gorduras no seu interior. Ocorrem isoladamente, em pequenos agrupamentos ou em grandes aglomerados formando o tecido adiposo. Células Adventícias: São células mesenquimais indiferenciadas, que tem a capacidade de originar as demais células do tecido conjuntivo, com exceção dos leucócitos, macrófagos e plasmócitos. O tecido conjuntivo desempenha várias funções no organismo: - Preenchimento de espaços e ligação dos tecidos Sustentação (ósseo e cartilaginoso) Transporte e nutrição (sangue) Defesa Armazenamento Cicatrização Podemos classificar os diferentes tipos de tecidos conjuntivos, de acordo com a consistência da matriz e a função desempenhada, segundo o esquema abaixo: I - T. C. PROPRIAMENTE DITO PROPRIEDADES - FROUXO GERAIS - DENSO - NÃO MODELADO MODELADO - RETICULAR - LINFÓIDE OU PROPRIEDADES HEMATOPOÉTICO - MIELÓIDE ESPECIAIS TECIDO CONJUNTIVO ADIPOSO II - T. C. CARTILAGINOSO PIGMENTADO HIALINO FIBROSO ELÁSTICO III - T. C. ÓSSEO IV - SANGUE E LINFA I - T. C. PROPRIAMENTE DITO É o principal tecido conjuntivo de preenchimento e de ligação. De ampla distribuição no organismo, é encontrado abaixo do epitélio, com a função de sustentar e nutrir o tecido epitelial. É encontrado também ao redor dos órgãos, músculos, nervos e vasos sangüíneos, com função de proteção mecânica e ligação. dos diferentes tecidos. É caracterizado por apresentar todos os tipos de células, imersos em grande quantidade de substância intercelular, bastante viscosa, formada principalmente pelo ácido hialurônico (um polissacarídeo). Dependendo da quantidade de fibras, o T. C. P. D. pode ser frouxo ou denso. No T. C. P. D. frouxo existem menos fibras, em iguais proporções, frouxamente entrelaçadas. É um tecido delicado e flexível. No T. C. P. D. denso predominam as fibras colágenas, e entre as células, os fibroblastos. São muito mais resistentes que o frouxo, sendo encontrado na derme (não modelado) e nos tendões (modelado). No T. C. reticular existe grande quantidade de fibras reticulares envolvendo as células. Também é denominado T. C. hematopoiético pois é ele que origina as células do sangue. Ocorre nos nódulos linfáticos, amígdalas, adenóides, baço e timo, recebendo o nome de tecido linfóide e na medula óssea vermelha, recebendo o nome de tecido mielóide. O primeiro é rico em linfócitos enquanto no segundo existem as células precursoras de hemácias, leucócitos e plaquetas. O T. C. adiposo ocorre em grande quantidade na região subcutânea e ao redor de alguns órgãos, como rins e coração, com a função de proteção contra choques mecânicos, isolamento térmico e reserva energética. Nesse tecido predominam células adiposas e a substância intercelular é reduzida. Ao seu redor existe T. C. frouxo, onde se localizam os vasos sangüíneos que fazem a sua nutrição. O T. C. pigmentado é formado por células fusiformes e ramificadas, ricas em um pigmento chamado melalina. Ocorre na íris do olho e na pele humana. II - T. C. CARTILAGINOSO É um tecido rígido, que possui, além de fibras colágenas e elásticas, uma substância intercelular rica em proteínas associadas a um tipo de glicídeo ácido condroitino sulfúrico. Essas substâncias são à cartilagem uma consistência firme e flexível, tornando-a capaz de sustentar diversas partes do corpo e permitindo ao mesmo tempo certa flexibilidade de movimento. Por isto, a cartilagem é um dos principais tecidos de sustentação do corpo, além de revestir superfícies articulares e atuar como elemento de amortecimento de choques mecânicos. A cartilagem é formado a partir de células mesenquimais que originam as células cartilaginosas jovens, os condroblastos. Estas células fabricam a matriz, crescem e se transformam em células adultas, os condrócitos. Não existem vasos sangüíneos e linfáticos, nem nervos nas cartilagens, sendo nutridas pelo pericôndrio, T. C. denso nãomodelado que envolve a cartilagem e proporciona o seu crescimento, já que possui células que podem gerar condroblastos. De acordo com o tipo e a quantidade de fibras encontradas na cartilagem, podemos classificá-la em três tipos: Cartilagem Hialina: Apresenta matriz homogênea e quantidade moderada de fibras colágenas. É o tipo mais comum no corpo humano, encontrado no septo nasal, na traquéia, na laringe, nas superfícies articulares dos ossos e na ligação das costelas ao osso esterno. No feto, o esqueleto inteiro é formado deste tipo de cartilagem, que posteriormente é substituída por tecido ósseo. Cartilagem Elástica: Além das fibras colágenas apresenta grande quantidade de fibras elásticas, que a torna mais resistente à tensão. Está presente na epiglote, no pavilhão auditivo e na trompa de Eustáquio. Cartilagem Fibrosa: É um tecido rico em fibras colágenas. Ocorre nos discos intervertebrais e em pontos onde os tendões e ligamentos fixam-se aos ossos. 4 - Tecidos musculares: O tecido muscular é de origem mesodérmica, sendo caracterizado pela propriedade de contração, o que determina a movimentação dos membros e das vísceras. Há, basicamente, três tipos de tecido muscular: liso, estriado e cardíaco. As células dos tecidos musculares são alongadas, recebendo por isso o nome de fibras musculares. São muito diferenciadas das células de outros tecidos, sendo que sua membrana plasmática recebe então o nome de sarcolema, seu retículo endoplasmático é chamado de retículo sarcoplasmático e seu citoplasma de sarcoplasma. a) Tecido muscular liso: A musculatura lisa é encontrada na parede de órgãos ocos, como estômago, intestino, artérias e útero, apresentando contração involuntária. Suas fibras são fusiformes, com citoplasma abundante e mononucleadas. Apresentam estrias longitudinais, chamadas de miofibrilas, que são formadas por agregados de finos filamentos protéicos chamados miofilamentos, que podem ser de actina ou de miosina. O deslizamento entre os filamentos de actina é o principal responsável pela contração da musculatura lisa, que é lenta e involuntária. Os filamentos de miosina são mais espessos e dispostos de maneira menos regular, sendo que sua função parece estar também relacionada com a contração das fibras. b) Tecido muscular estriado: Este é o tecido muscular encontrado ligado aos ossos, sendo também chamado tecido muscular esquelético, responsável pela movimentação dos membros e outras partes do nosso corpo, de acordo com a nossa vontade. Suas fibras são mais longas que as fibras lisas, podendo apresentar até 30 cm de comprimento. Normalmente são multinucleadas, com muitos núcleos dispostos na periferia da célula. Cada fibra muscular estriada é percorrida longitudinalmente por várias miofibrilas compostas por dois tipos de miofilamentos, a actina, mais fina, e a miosina, mais espessa. Ao contrário da fibra lisa, na fibra estriada estes miofilamentos estão organizados em feixes. Como podemos ver na figura, a arrumação dos filamentos de actina e miosina produz zonas claras (discos I) e zonas escuras (discos A). As regiões escuras são formadas pela superposição dos dois tipos de filamentos enquanto que nas regiões claras só existe a actina. Podemos observar também que no centro do disco escuro há uma faixa um pouco mais clara constituída apenas pela miosina (faixa H) e no centro do disco claro há uma linha escura (linha Z), formada por um outro tipo de proteína, a alfa-actina, que une as moléculas de actina contíguas. O segmento entre duas linhas z consecutivas é chamado de sarcômero e corresponde a unidade de contração da fibra estriada. A contração dos músculos é causada por um deslizamento dos filamentos finos de actina em relação aos filamentos grossos de miosina. Isto acontece quando o músculo recebe um estímulo do nervo, na forma de neurotransmissores liberados pelas células nervosas (veremos adiante como isto ocorre). Estas substâncias provocam um estímulo elétrico no sarcolema. Este estímulo se propaga pela membrana do retículo sarcoplasmático, provocando a liberação de íons Ca++ armazenados no seu interior. O Ca++ liberado promove uma ligação entre as moléculas de actina e miosina. Em seguida, à custa de moléculas de ATP, a miosina puxa a actina, fazendo-a deslizar. Novamente, com a energia do ATP, a miosina se solta e volta a se ligar em outro ponto da molécula de actina, puxando-a outra vez. Desse modo, os filamentos se movem como os dentes de duas engrenagens. Cessado o estímulo nervoso, Ca++ é bombeado por transporte ativo de volta para o interior do retículo, as ligações entre actina e miosina deixam de existir e o músculo relaxa. c) Tecido muscular cardíaco: O tecido muscular cardíaco é encontrado apenas formando o miocárdio, o músculo do coração. Apresenta estrias transversais, como o músculo estriado, mas é mononucleado e apresenta contração involuntária, como o músculo liso, porém esta s são rápidas e ritmadas. As fibras do músculo cardíaco apresentam-se em feixes bem compactos, dando a impressão de que não há limite entre elas. Porém, ao microscópio eletrônico, podemos perceber a presença de delgadas membranas celulares, formando os discos intercalares, que unem as células. 5 - Tecido Nervoso O tecido nervoso tem origem ectodérmica. É caracterizado por apresentar pouca substância intercelular e diversos tipos celulares, sendo os mais importantes os neurônios e as células da glia (ou neuróglia). a) Neurônios: São células que possuem a propriedade de receber e transmitir estímulos, permitindo ao organismo perceber e responder a alterações do meio. São células grandes, que apresentam um corpo celular de onde partem dois tipos de prolongamentos, os axônios e os dendritos. O corpo celular é primariamente um centro trófico, podendo, no entanto, receber estímulos de outros neurônios durante a transmissão do impulso nervoso. Os dendritos são prolongamentos citoplasmáticos que podem ser grandes ou pequenos, apresentando muitas ramificações. São estruturas especializadas em receber estímulos. O axônio é uma única expansão citoplasmática, longa e de diâmetro constante, cuja porção final apresenta ramificações. Os neurônios podem variar muito em tamanho e forma, sendo típicos para cada região do sistema nervoso. Basicamente podem ser classificados em multipolares, bipolares e pseudo-unipolares, conforme mostra a figura abaixo. . A disposição diferencial dos corpos celulares e dos axônios no sistema nervoso deu origem a duas regiões com coloração diferente, que podem ser notadas macroscopicamente: a substância cinzenta, onde estão os corpos celulares e a substância branca, onde estão os axônios. b) Neuróglia: É formada por vários tipos de células. São menores do que os neurônios e realizam a sustentação e nutrição destes, produção de mielina e fagocitose. Ocorrem tanto na substância branca como na cinzenta. As principais células da neuróglia são os astrócitos, os oligodendrócitos e as células da micróglia. Os astrócitos podem ser de dois tipos: protoplasmáticos (na substância cinzenta) e fibrosos (na substância branca). Ambos participam dos processos de cicatrização do tecido nervoso. Os oligodendrócitos podem ocorrer associados aos corpos celulares ou aos axônios. Nestes, os prolongamentos enrolam-se, formando a bainha de mielina. As células da micróglia são responsáveis pela fagocitose no tecido nervoso, ocorrendo tanto na substância branca como na cinzenta. c) O impulso nervoso: O impulso nervoso é basicamente uma modificação de natureza eletroquímica que é transmitida ao longo dos neurônios, sempre no sentido dendrito-axônio. Isto ocorre devido a uma diferença de potencial elétrico existente entre o lado interno (negativo) e o lado externo (positivo) da membrana. Esta diferença de potencial é mantida pela ação das bombas de Na+ e K+, que mantém alta a concentração de K+ no interior da célula e baixa no exterior e o inverso com relação ao Na+ .Este é o chamado potencial de repouso da célula. Ao receber um estímulo, a membrana torna-se mais permeável ao Na+, que penetrando no citoplasma inverte a polaridade elétrica (é a chamada despolarização). Esta despolarização tem o poder de provocar alterações na permeabilidade das zonas contíguas da membrana, provocando o mesmo efeito, que se propaga ao longo de toda a extensão do neurônio, constituindo um potencial de ação. Ao chegar no final do axônio, o impulso nervoso provoca a liberação de milhares de pequenas vesículas contendo mediadores químicos (os neurotransmissores). Estas substâncias atravessam o espaço entre os dois neurônios (a chamada sinapse) e vão se ligar a sítios específicos na membrana do dendrito do segundo neurônio. Fazendo isto, elas provocam uma nova despolarização da membrana do dendrito, gerando um novo potencial de ação. Os dois principais tipos de neurotransmissores são a acetilcolina e a adrenalina. Um axônio pode fazer sinapse com dezenas de dendritos de neurônios diferentes, e um dendrito pode também fazer sinapse com dezenas de axônios de neurônios diferentes. Os axônios das células nervosas apresentam-se envoltos por dobras únicas ou múltiplas de certas células, sendo o conjunto axônio e dobras envoltórias denominado fibra nervosa. No SNC, são as ramificações dos oligodendrócitos que envolvem o axônio e no SNP são as células de Schwann. Quando os axônios estão envoltos por uma única dobra são denominados fibras amielínicas e quando a célula envoltória apresenta várias dobras temos uma fibra mielínica, pois a bainha formada pelo conjunto das dobras concêntricas é denominada bainha de mielina. A transmissão dos impulsos é mais rápida nas fibras mielínicas; a bainha de mielina não é contínua, apresenta constricções chamadas nódulos de Ranvier, e as despolarizações da membrana ocorrem apenas nestes pontos. Poderíamos então falar que o impulso se propaga “aos saltos”, entre dois nódulos de Ranvier. III - T. C. ÓSSEO É um tecido mais rígido que a cartilagem, que forma o esqueleto da maior parte dos vertebrados. Além de sustentação, serve também como apoio para os músculos, propiciando o movimento e como proteção de alguns órgãos, como o sistema nervoso e pulmões. O osso é bem mais duro que a cartilagem porque sua matriz é composta não só de substâncias orgânicas (35%), mas também de inorgânicas (65%), como o fosfato de cálcio, o fosfato de magnésio e carbonato de cálcio (sendo o primeiro o mais abundante. As células ósseas podem ser de três tipos: osteoblastos, osteócitos e osteoblastos, embora possam ser consideradas apenas três diferentes formas do mesmo tipo de célula, já que pode haver transformação de um tipo celular em outro. Os osteoblastos são células jovens, ramificadas, responsáveis pela produção da parte orgânica da matriz, parecendo também exercer influência sobre a assimilação de minerais. Em ossos já formados elas ocorrem na periferia, sendo que durante e formação dos osso, à medida que ocorre a calcificação da matriz, os osteoblastos acabam ficando em lacunas, os osteoplastos diminuem sua atividade metabólica e passam a osteócitos, que são células que são células adultas. Nas regiões ocupadas pelas ramificações dos osteoblastos, formam-se os canalículos, que permitem a comunicação entre os osteócitos e os vasos sangüíneos que os alimentam. Os osteócitos atuam na manutenção dos níveis normais dos constituintes inorgânicos da matriz. Os osteoclastos são células grandes, multinucleadas, relacionadas com a reabsorção da matriz e com processos de regeneração do tecido ósseo após fraturas. O tecido ósseo pode ser basicamente de dois tipos: Esponjoso (reticulado): Apresenta espaços medulares mais amplos, sendo formado por várias trabéculas, que dão aspecto poroso ao tecido. Compacto (denso): Praticamente não apresenta espaços medulares, exceto os canalículos que unem os osteócitos e os canais de Havers e canais de Volkmann. Os canais de Havers são canais que percorrem o osso longitudinalmente, por onde passam os vasos sangüíneos e nervos do osso. Os canais de Volkmann são similares, porém, transversais ao eixo maior do osso. Os osteócitos se dispõem concentricamente aos canais de Havers, formando os sistemas de Havers. A formação de um osso pode ser dar de duas maneiras: Ossificação Intramembranosa: Ocorre a partir de uma membrana de tecido conjuntivo embrionário, onde surgem centros de ossificação, caracterizados pela conversão de células mesenquimáticas em osteoblastos, que produzem a matriz. Estes centros vão aumentando, tendo início a deposição de sais orgânicos. Origina os ossos chatos do corpo, como os ossos do crânio. Ossificação Endolontral: Ocorre a partir da substituição de uma base cartilaginosa por tecido ósseo. Os congrócitos produzem uma enzima, a fosfatase alcalina, que propicia a deposição de fosfato de cálcio na matriz cartilaginosa, tornando-a dura e impermeável. Com isso, os condrócitos morrem. Sobre estas “ruínas” de cartilagem endurecida é que se dá a ossificação, pela ação dos osteoclastos, que removem a matriz antiga e de osteoblastos que se formam a partir do periósteo (antigo pericôndrio do tecido cartilaginoso). Forma a maior parte dos ossos. IV - SANGUE A LINFA: São dois tipos particulares de tecidos conjuntivos, em que a matriz é líquida. Tem funções de transporte de substâncias e defesa imunológica do organismo. Como vimos anteriormente são formados a partir do T. C. hematopoiético, linfóide ou mielóide. O sangue é formado basicamente por dois componentes: O plasma (fase líquida), que constitui cerca de 5% do sangue, e os elementos figurados (fase sólida), que formam os outros 42% a 47%. No plasma encontramos cerca de 90% de água, 7% de proteínas variadas, 0,9% de sais inorgânicos e diversos compostos orgânicos (aminoácidos, lipídeos, vitaminas, etc.) Os elementos figurados são basicamente de três tipos: os eritrócitos (ou hemácias, ou glóbulos vermelhos), os leucócitos (ou glóbulos brancos) e as plaquetas. As hemáceas são mais numerosas (cerca de 5.000.000 / mm3), são anucleadas, contém hemoglobina e são responsáveis pelo transporte de gases (O2 e CO2). Os leucócitos são encontrados em menor número (cerca de 8.000/mm3), apresentam núcleo e atuam nos processos de defesa do organismo. Como vimos na figura, existem vários tipos de leucócitos, cada um com características e modo de ação diferentes: GRANULÓCITOS: Neutrófilo: São os mais numerosos (cerca de 60% do total), fagocitam elementos estranhos ao organismo. Apresentam muitos grânulos no citoplasma contendo enzimas digestuais. Acidófilo (ou eosinófilo): Correspondem a cerca de 3% do total. Fagocitam alguns elementos estranhos e atuam nos processos alérgicos. Basófilo: São os menos freqüentes (cerca de 0,5%). Possuem grânulos ricos em heparina (um anticoagulante) e histamina (um vasodilatador). Atuam nas alergias e inflamações. Pela vasodilatação facilitam a saída dos vasos dos neutrófilos e deles próprios, que se transformam em mastócitos nos tecidos adjacentes, para realizar fagocitose. AGRANULÓCITOS: Linfócito: Correspondem a cerca de 25% do total. Existem dois tipos: os linfócitos T e os linfócitos B. Os primeiros são produzidos na medula óssea e completam sua maturação no timo, e atuam fagocitando e/ou estimulando a fagocitose de células invasoras. Os segundos são produzidos no baço e passam diretamente para os vasos sangüíneos (nas aves terminam o amadurecimento em um ór gão chamado Bolsa de Fabrício). Transformam-se em plasmócitos e produzem anticorpos. Monócito: Constituem cerca de 7% dos leucócitos. Podem sair dos capilares, transformando-se em macrófagos e fagocitando microorganismos e células mortas. As plaquetas são pedaços anucleados de grandes células chamadas megacariócitos. São encontradas cerca de 250.000/mm3 de sangue. Possui fatores sangue. importantes para o processo de coagulação do A linfa também é formada pelo plasma e elementos figurados, que são apenas os linfócitos e alguns leucócitos granulócitos. LEITURA COMPLEMENTAR O SISTEMA IMUNE Todos os vertebrados possuem um sistema imune elaborado, enquanto os invertebrados possuem um sistema de defesa bastante primitivo, freqüentemente baseado apenas em células com capacidade de fagocitose. Nos vertebrados, as células denominadas “fagocitárias profissionais” estão representadas pelos leucócitos granulócitos (do tipo neutrófilos) e pelos macrófagos. Além dessas, existem também os monócitos, que são leucócitos agranulócitos. Os neutrófilos granulócitos e os monócitos são células encontradas no sangue, enquanto os macrófagos são células encontradas em outros tipos de tecido conjuntivo, que têm ampla distribuição no corpo. Essas células com capacidade de fagocitose desempenham importante papel no sistema de defesa dos vertebrados contra infecções. A qualquer lesão que o corpo sofra, seja ela infecção ou um simples corte no dedo, as células fagocitárias são ativadas. Os neutrófilos chegam em grande número ao local e fagocitam os elementos estranhos ao corpo do indivíduo. Muitas dessas células fagocitárias morrem juntamente com o elemento fagocitado, formando o pus que surge nas feridas. Os macrófagos invadem essa região lesada e fagocitam os elementos estranhos ao corpo que estejam ainda em atividade ou que já deixaram de atuar, além dos neutrófilos que morreram na função de fagocitose. O inchaço que surge no local é em parte devido à grande quantidade de macrófagos na região. As células fagocitárias dos vertebrados, no entanto, são apenas parte de uma estratégia de defesa muito mais complexa, que envolve outras células, formando um complexo sistema imune. Durante a década de 60 foram descobertas duas principais classes de respostas imunes, mediadas por dois tipos diferentes de linfócitos (um dos tipos de glóbulos brancos do sangue): a imunidade humoral, mediada por linfócitos B (esse linfócito recebeu esse nome “B” por ter sido descoberto na Bursa de Fabricius, uma projeção saculiforme da porção terminal da cloaca de aves. Os mamíferos não possuem essa estrutura. Neles, os linfócitos B são produzidos no baço, amígdalas e nódulos linfáticos). a imunidade celular, mediada por linfócitos T (esses linfócitos são chamados de “T” pois são produzidos no Timo). A imunidade humoral (o termo humor refere-se a fluidos corporais, no caso o sangue) envolve a produção de anticorpos pelos linfócitos B. Esses anticorpos são lançados na corrente sangüínea, unindo-se aos antígenos que induziram sua produção. A união antígeno anticorpo torna mais fácil às células fagocitárias ingerirem os antígenos. A imunidade celular envolve a atuação direta dos linfócitos T no combate aos antígenos. Esses linfócitos não produzem anticorpos, mas possuem na membrana plasmática proteínas que atuam como anticorpos e que são denominadas proteínas receptoras de antígeno. Elas não reagem com antígenos solúveis, apenas com antígenos presentes nas membranas celulares de outras células ou na capa protéica dos vírus, e nunca se dissociam da membrana do linfócito. A resposta imune, nesse caso, é célula a célula ou linfócito T a vírus. Existem três tipos de linfócitos T: linfócitos T citotóxicos: reconhecem e destroem células que possuem na membrana plasmática moléculas estranhas ao corpo do indivíduo. Essas moléculas podem ser, por exemplo, a cápsula protéica de um vírus. Por sua ação, os linfócitos T são também chamados de “linfócitos assassinos” ou killer, em inglês. São esses linfócitos os principais responsáveis pela rejeição de órgãos transplantados. linfócitos T auxiliares: reconhecem um antígeno e estimulam os linfócitos B a produzirem anticorpos. São esses os linfócitos atacados pelo vírus da AIDS. Com isso, ficam prejudicados o reconhecimento de antígenos e a subsequente estimulação dos linfócitos B para a produção de anticorpos. O indivíduo torna-se vulnerável caracterizam a AIDS, vindo a morrer. a várias doenças que linfócitos T supressores: inibem a produção de anticorpos pelos linfócitos B, quando esses anticorpos já estão em concentração adequada ou já não são mais necessários.