Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 COESÃO ESPACIAL: A LÓGICA DE DISPERSÃO DAS REVENDAS DE CARROS EM PONTA GROSSA-PR PINTO, Vagner André Morais; CRIST, Pedro; KOXNY, Lennon; IPOLITO, Oseas O presente trabalho teve como pretensão entender a lógica de dispersão das revendedoras de automóveis na cidade de Ponta Grossa-PR. Objetivou-se compreender os motivos para a concentração em determinadas áreas em detrimento de outras, a partir de quando este fenômeno começou, tal como as características dos automóveis vendidos e revendidos, bem como sua procedência. Desta feita, pressupõe-se que o geógrafo numa dada pesquisa consiga: Reconhecer formas que expressam funções e processos. Ver problemas implícitos na localização e extensão em área. Pensar a respeito de ocorrências simultâneas, ou não [...] ter a preocupação sobre a origem das formas, reconhecer tipos e variações, posição e extensão, presença ou ausência, função e derivação [...]. (SAUER, 1956 apud CORRÊA, 1996, p. 400). O entendimento da lógica de dispersão das revendas de veículos em Ponta Grossa-PR apesar de encontrar-se aparentemente com viés econômico denota também, sobretudo, cunho social, pois como expõe Corrêa (2003): Ao se constatar que o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado, e que esta divisão articulada é a expressão espacial de processos sociais, introduz-se um terceiro momento de apreensão do espaço urbano: é um reflexo da sociedade. (p.08). De tal feita pode-se pressupor que, por ser reflexo social e porque a sociedade tem a sua dinâmica, o espaço urbano é também mutável, dispondo de uma mutabilidade que é complexa, com ritmos e naturezas diferenciados (CORRÊA, 2003). Tal mutabilidade caracterizaria esta dispersão, aumento das revendedoras de veículos nos últimos anos. O recorte espacial deu-se no entorno das seguintes espacialidades: Av. Gal. Carlos Cavalcanti, Uvaranas; Av. João Manuel dos Santos Ribas e Av. Ernesto Vilela, Nova Rússia; Av. Monteiro Lobato, Jardim Carvalho; e Av. Visconde de Mauá, Oficinas. A pesquisa fora desenvolvida a partir de 3 (três) questionamentos sobre o objeto de estudo, compostos por objetivos imbricados. A cerca da questão específica I: Quais são as características das áreas com concentração de revendedoras de carros em Ponta Grossa – PR? Levantam-se os seguintes dados: REVENDA CARROS EM EXPOSIÇÃO VENDAS MENSAIS CARRO (ANO) A 20 B 20 C 15 D 15 E 25 F 30 G 30 H 20 I 20 J 35 K 120 10 00< 18 00< 15 95< 7 95< 6 00< 14 00< 9 95< 12 90< 5 05< 18 05< TEMPO DE ATIVIDADE (ANOS) CARROS PLACA “A” CLASSE CLIENTE 15 20 21 5 00 < 13 23 9 21 20 15 15 7 8/9 B 3/4 C 8/9 C 1 a 2 3< 8/9 D e C 1,5 a 2 3< 8/9 C JUROS (%) 8/9 D e C 1,5 a 2 3< 2 1,5 a 2,5 3< 1,5 a 3 3< 8/9 C e B 1,5 a 2 3< 8/9 C e B 1,5 a 2 3< 1/2 D e C 2a4 8/9 C e B 1 a 1,5 3< 8/9 C e B 1 a 1,5 3< FINANCEIRAS 3< 3< Quadro 1: Av. João Manuel dos Santos Ribas e Av. Ernesto Vilela, Nova Rússia. Fonte: campo/out. 2011 4 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 REVENDA CARROS EM EXPOSIÇÃO VENDAS MENSAIS CARRO (ANO) TEMPO DE ATIVIDADE (ANOS) CARROS PLACA “A” CLASSE CLIENTE A 17 B 20 C 26 D 23 E 20 F 26 G 20 H 48 I 22 J 21 3 90< 25 3 95< 0,5 7 95< 7 7 95< 6 11 00< 1 8 95< 25 13 00< 3 20 00< 0,5 10 00< 6 5 90< 6 3/4 C 4/5 C 3/4 C 8/9 B 1/2 CeB 3/4 CeB 3< 1,5 a 3 3< 1,5 a 3 3< 1,5 a 2,5 3< 1,5 a 2,5 3< 1,5 a 2,5 3< 1,5 a 2,5 3< 1/2 D e C 2a4 FINANCEIRAS 1,5 a 3 3< 8/9 C e B 1,5 a 3 3< 3/4 CeB JUROS (%) 3/4 D e C 2a4 3< Quadro 2: Av. Gal. Carlos Cavalcanti, Uvaranas. Fonte: campo/out. 2011 REVENDA CARROS EM EXPOSIÇÃO VENDAS MENSAIS CARRO (ANO) TEMPO DE ATIVIDADE (ANOS) CARROS PLACA “A” CLASSE CLIENTE A 30 10 05< 27 B 30 15 00< 10 C 20 10 00< 2 D 18 9 90< 0,6 E 40 5 95< 22 F 18 7 95< 2 G 150 15 00< 20 8/9 C 8/9 C 8/9 C 1/2 DeC 3/4 DeC 8/9 CeB JUROS (%) 1 a 2 3< 1,5 a 2 3< 1,5 a 2 1/2 D e C 2a4 2a4 1,5 a 2 3< 3< 3< 1,5 a 3 3< FINANCEIRAS 3< Quadro 3: Av. Monteiro Lobato, Jardim Carvalho. Fonte: campo/out. 2011 REVENDA CARROS EM EXPOSIÇÃO VENDAS MENSAIS CARRO (ANO) TEMPO DE ATIVIDADE (ANOS) CARROS PLACA A CLASSE CLIENTE A 70 30 00< 6 B 30 12 00< 7 C 30 20 00< 7 D 45 20 05< 6 8/9 C 8/9 C 8/9 C JUROS (%) 1,5 a 2 3< 8/9 D, C e B 1,5 a 2 1,5 a 2 3< 1a2 FINANCEIRAS 3< 3< Quadro 4: Av. Visconde de Mauá, Oficinas. Fonte: campo/out. 2011 Observações a par dos dados presentes nos quadros: No que tange aos números de vendas mensais, estes podem variar positivamente, uma vez que houve afirmações de que as vendas aumentam no último trimestre anual; 00<, por exemplo, refere-se a uma majoritária, ou total, quantidade de veículos de modelo mais novo que o de ano 2000; 0,5, por exemplo, refere-se a um período de meio ano ou seis meses; ¾, por exemplo, indica que aproximadamente 75% dos veículos em exposição observados não apresentam no primeiro dígito de sua placa de identificação a letra “A”, o que acaba, via de regra, por caracterizá-lo com origem não paranaense; A classificação em classes é baseada na desenvolvida pelo IBGE. 3< indica que todas as revendas entrevistadas usam de mais de três financeiras em seus negócios. Considerando os dados expostos, e peculiaridades apuradas, podem-se fazer certas constatações: 5 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 Os juros de financiamento são proporcionais ao ano dos veículos pretendidos pelos clientes; O ano dos carros influi no perfil socioeconômico dos clientes; A procedência dos carros é variável de espacialidade para espacialidade; Não há homogeneidade quanto ao tempo de funcionamento das revendas, existem algumas com mais de 20 anos de atividade, enquanto outras não chegam a 1 ano; A espacialidade de Nova Rússia apresenta maior tradição no comércio de veículos, tal como melhor procedência. Enquanto que Uvaranas apresenta uma organização mais recente e com menor credibilidade; Todas as revendas estão associadas com mais de três financeiras, sendo geralmente as mesmas, havendo predominância da BV Financeira; A localização das revendedoras fundamenta-se tendo em vista as características socioeconômicas das espacialidades. Tais quantificações fazem-se necessárias, entretanto não se pode olvidar o que Suertegaray (1996) explana pois em outras palavras, o objeto reconstrói o sujeito na medida em que lhe permite a reflexão, a elaboração, a reformulação e o encaminhamento de proposições, ou seja, direciona seu caminho de investigação e tomada de decisão. [...] A construção do conhecimento então não está de um lado nem no objeto, nem no conhecimento (idealizado) do outro. Surgiria da relação entre eles, ou melhor, resultaria do processo. (p. 04). De tal feita, a dialética é deveras pertinente na construção de um saber dito geográfico. Sobre a questão específica II: Quais são os motivos pelos quais estas áreas foram escolhidas por seus proprietários? Tomando por referência as respostas de caráter mais subjetivo obtido junto aos entrevistados, que não serão transcritas e minuciadas a fim de não tornar deveras maçante esta parte do presente trabalho, eis algumas constatações apuradas sobre os motivos de fixação das revendas nas dadas espacialidades estudadas: Localização dita vantajosa pela própria existência anterior de revendas nas espacialidades e por causa do alto tráfego nas vias próximas; Possibilidade de obter estabelecimento próprio, o indivíduo(a) era funcionário(a) de uma revenda anteriormente; Questão hereditária, a família já trabalhava no ramo automotivo e similar; Vacância de espaço e mercado promissor; Mero empreendedorismo devido à insucessos em trabalhos anteriores ou aposentadoria, afastamento, etc.; Compra de comércios anteriores, estabelecendo-se oligopólios. A respeito da questão específica III: Quais são os elementos estruturantes dos processos de coesão espacial de revendedoras de carros em Ponta Grossa – PR? Considerando Corrêa (2003) é perceptível que nas espacialidades em estudo ocorre: Monopólio espacial de dado bem de consumo, no caso os automóveis; Atração de consumidores específicos, que usam da considerável quantidade de lojas para buscar melhores negócios; Escala econômica própria e dependente do fluxo monetário que as revendas movimentam; Desenvolvimento de um comércio dito secundário inerente às revendas de veículos, como oficinas mecânico-elétricas e de lataria e pintura, lojas de autopeças e acessórios, postos de gasolina, supermercados, agências bancárias, etc.; Localização das revendas no entorno de vias de alta circulação, que acabam por ligar bairros ao centro da cidade. A lógica da dispersão das revendedoras de veículos em Ponta Grossa-PR encontra-se dentro de parâmetros espaciais, sociais e econômicos. Os empreendedorismos valeram-se de 6 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 contextos ditos favoráveis para se instalarem, como a localização atraente e também por entenderem que havia ainda demanda consumidora para tanto. Essas coesas áreas comerciais apresentam variações pertinentes entre si, quer pelo produto e que estas oferecem, o público que as procura e o tempo em que se encontram em atividade. Mas, em certo momento a saturação comercial ocorre e somente os adaptados a “mão invisível do mercado” permanecem. Novos estudos sobre áreas especializadas em dadas atividades econômicas, ou sobre a mesma aqui abordada em diferentes espacialidades, apresentam-se com incrível potencialidade de execução. A realização deste trabalho nos foi de grande valia, uma vez que propiciou um primeiro contato com a realidade enquanto sujeitos investigativos da realidade, do espaço geográfico. Referências bibliográficas CORREA, Roberto Lobato. Trabalho de campo e globalização. Trabalho apresentado no colóquio “O discurso Geográfico na Aurorado século XXI”. Programa de pós-graduação em Geografia UFSC. Florianópolis: 27- 29 de novembro de 1996. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 2003. SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Geografia e o trabalho de campo. Florianópolis, UFSC, 1996, Trabalho apresentado no colóquio “O discurso Geográfico na Aurora do século XXI”: 27- 29 de novembro de 1996. Programa de Pós-Graduação em Geografia. 7