A CONCEPÇÃO DE DISCENTES E DE DOCENTES DE LICENCIATURA EM QUÍMICA SOBRE O TERMO BRICOLAGEM Renata Gonçalves da MATA1 - [email protected] Mariney Portugal CORRÊA1- [email protected] Amanda Cristina Santos DIAS1 - [email protected] Bruna Rafaele Ferreira RÊGO1 - [email protected] Aline Ferreira MARTINS1 – [email protected] Jorge Raimundo da Trindade SOUZA2 - [email protected] 1 2 Universidade Federal do Pará (UFPA) Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas Resumo. O termo bricolagem, originado do francês “bricolage”, é usado nas atividades em que você mesmo realiza para seu próprio uso ou consumo, evitando desse modo, o emprego de um serviço de terceiros. Sua importância se deve ao fato do professor produzir e dominar seus próprios instrumentos didáticos de trabalho acadêmico a partir de seus próprios conhecimentos, considerando a realidade do aluno e da estrutura da escola. O presente trabalho tem como objetivo analisar a concepção de alunos do 5º semestre do curso de Licenciatura em Química e de professores de Química da rede pública de Ensino Médio sobre o termo Bricolagem. Estas análises foram feitas a partir da aplicação de questionários perguntando sobre: a importância das disciplinas pedagógicas, sobre o que é instrumentação para o ensino da Química e sobre o que é bricolagem. Observou-se que 100% dos alunos afirmaram que as disciplinas pedagógicas são relevantes, no entanto, nenhum aluno soube dizer o significado do termo bricolagem. Já com os professores, 88,88% dos entrevistados afirmaram que é importante a presença das disciplinas pedagógicas, mas, 66,66% deles não sabem o que significa o termo bricolagem. Conclui-se que é importante que os docentes pratiquem a Bricolagem em suas aulas, como instrumento didático, haja vista que a própria produção do material de trabalho torna o profissional mais independente e conhecedor das habilidades e competências as quais a docência exige, assim, tornando o ensino aprendizagem mais eficaz. Palavras-chave: Bricolagem. Ensino da Química. Material Didático. INTRODUÇÃO O Ensino de Química costuma ser direcionado por uma estrutura lógica dos conteúdos, o que torna o ensino fragmentado e descontextualizado, dando ênfase a fórmulas e equações, classificando a Química como uma disciplina decorativa relacionada a símbolos, transmitida tradicionalmente com uso apenas do quadro e do livro didático. Para que haja uma aprendizagem significativa sobre a Química, é preciso ultrapassar esses limites, buscando novos métodos de ensino, novas alternativas e recursos inovadores que possibilitem aos educandos criarem seus conceitos, descobrirem novos meios para se chegar a um resultado e aprender de forma dinâmica (LIMA FILHO, 2011). A aprendizagem é a construção do conhecimento e não algo já pronto que o professor impõe, para que os alunos aceitem como verdade absoluta, o aluno é um sujeito ativo nesse processo. Nesse contexto é fundamental o papel do professor não como o detentor do conhecimento, mas mediador que auxilia, dá suporte e estimula os alunos na construção de seus conceitos. Dessa forma, surge a necessidade de o professor criar seu próprio material de apoio para facilitar o processo de ensino-aprendizagem (LIMA FILHO, 2011). Tais mudanças podem ser evidenciadas com o surgimento e desenvolvimento da globalização em que a comunicação se torna mais fácil, a busca e troca de conhecimentos se dão de forma mais rápida e dinâmica, modificações nas relações entre os indivíduos mudam assim como a relação no processo de trabalho em que é exigido o desenvolvimento de novas competências e habilidades. O saber se torna mais específico, mas essa especificidade não é 173 mais suficiente para explicar o todo, vive-se em um contexto de complexidade onde se faz necessário conhecer esse todo (NUNES, NUNES, 2007). Dessa forma, o processo educacional no mundo e no Brasil modifica-se nos seus aspectos epistemológico, psicológico e na didática. Como reflexo dessas alterações, verificamse as reformulações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que estão de acordo com as Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/9394/96), com o objetivo de construir parâmetros que norteiem a prática pedagógica do docente e ainda, direcionar a construção curricular. Mas é necessário haver modificações nos PCN direcionados ao ensino médio referentes ao conhecimento de Química já que apresenta insuficiência significativa como superficialidade e discurso autoritário (NUNES, NUNES, 2007). Vale ressaltar, a importância do termo bricolagem, que vem do francês “bricolage”, é usado nas atividades em que você mesmo realiza para seu próprio uso ou consumo, evitando desse modo, o emprego de um serviço profissional. O conceito surgiu nos Estados Unidos, na década de 50 com a sugestão “do it yourself” (faça você mesmo), devido ao encarecimento da mão-de-obra e se desenvolveu com a visão dos empresários em perceber que poderiam diminuir custos, criando produtos fáceis de serem usados, utilizando embalagens com pouca quantidade e todos com manuais explicativos (SOUZA, 2013). A utilização dos instrumentos para o ensino de Química contrapõe esta racionalidade técnica, pois estimula o desenvolvimento da criatividade dos alunos com a proposição de uma aprendizagem ativa, na qual os alunos participam de atividades práticas. Assim, aflora a necessidade de produção de novos conhecimentos para a teoria e a prática de ensinar. É importante destacar que, nesta abordagem, o conceito de experimentação ultrapassa a dimensão do laboratório, pois são atividades que se caracterizam pela ação de investigar, vivenciar e experienciar (SOUZA, 2013). Para JUSTI (2010), a Química parece ser muito complexa para os estudantes, pois existem muitos fenômenos que podem ser observados no nível macroscópico, mas os conceitos que os explicam situam-se no nível submicroscópico. Muitos alunos não conseguem estabelecer relações entre esses diferentes níveis. Por outro lado, o ensino de Química situa-se, preferencialmente, no nível mais abstrato, sendo esta uma das barreiras primárias para o seu aprendizado. No meio escolar, o material didático tem papel fundamental na relação do aluno com o conhecimento e possibilita ao sujeito da aprendizagem um lugar de autonomia e criticidade que permite desenvolver-se como sujeito autônomo e crítico, ao mesmo tempo em que constrói o conhecimento. É nesta linha de análise que a discussão sobre a autonomia didática do professor está pautada, numa vertente que aborda a capacidade do material didático de nortear o processo de aprendizagem dos alunos, em que este esteja adequado à construção do conhecimento baseado na real condição dos aprendizes do processo educacional (GAUCHE, 2002). Fazer uso de um material em sala de aula, de forma a tornar o processo de ensino aprendizagem mais concreto, menos verbalístico, mais eficaz e eficiente, é uma preocupação que tem acompanhado a educação brasileira ao longo de sua história. Historicamente, o uso de materiais diversificados nas salas de aula, alicerçado por um discurso de reforma educacional, passou a ser sinônimo de renovação pedagógica, progresso e mudança, criando uma expectativa quanto à prática docente, já que os professores ganharam o papel de efetivadores da utilização desses materiais, de maneira a conseguir bons resultados na aprendizagem de seus alunos (FISCARELLI, 2007). Para os professores, a formação sobre a utilização do material didático realiza-se na sala de aula, in locus, e o professor percebe o seu aprimoramento profissional em relação a esta utilização. Ao selecionar, planejar, utilizar o material didático que conhece muito bem, independente de ser um material visto como tradicional ou um material mais sofisticado e moderno, o professor sente-se realizado como profissional quando percebe que o material 174 selecionado e utilizado por ele deu certo; ou seja, conseguiu facilitar a aprendizagem do aluno e principalmente estimulá-lo para a aquisição do conhecimento. A autonomia docente em relação a utilização dos materiais didáticos é importante para a realização desta formação in locus, pois quando as idéias e ações não surgem dos próprios professores há uma tendência a inibição, ocorrendo somente uma reprodução das idéias dos outros de forma automática, isolada, pontual. Neste sentido, há necessidade de desafiarmos o educador a refletir sobre a sua prática, propiciando-lhe condições de reavaliá-la e reformulá-la. Esta possibilidade somente ocorrerá se dermos voz ao professor, levando-o a uma prática reflexiva (FISCARELLI, 2007). Assim sendo, a autonomia é desenvolvida com seu próprio exercício, todo voltado ao conhecimento do outro, ao conhecimento e ao convencimento do aluno, cúmplice e co-autor de um projeto. Por isso, demanda tempo para ser constituída, porque conhecer o outro, ter “intimidade” fraterna, conquistar confiança, requerem tempo do professor que deseja ser autônomo. O processo de constituição da autonomia é, portanto, intrinsecamente demorado, e cada professor situa-se nele em momento distinto, função de múltiplas circunstâncias históricas. Daí a diversidade observada na cultura escolar, diversidade que precisa ser tomada como essencial. Respeitar a autonomia dos componentes do sistema educacional significa abandonar as velhas fórmulas de imposição de modelos pedagógicos monolíticos (GAUCHE, 2002). Em suma, FERREIRA (2010) defende tal proposta ao afirmar que a construção de recursos didáticos empregados no Ensino de Ciências permite a ligação entre teoria e prática e os experimentos ou atividades práticas devem ser conduzidos visando a diferentes objetivos, tal como demonstrar um fenômeno, ilustrar um princípio teórico, coletar dados, testar hipóteses, desenvolver habilidades de observação ou medidas, adquirir familiaridade com aparatos, entre outros, permitindo o desenvolvimento do raciocínio crítico e reflexivo do aluno. OBJETIVOS Analisar a partir de questionários a compreensão de professores da rede pública de ensino médio e de alunos do 5º semestre do curso de Química licenciatura sobre o termo Bricolagem. METODOLOGIA O presente trabalho foi elaborado a partir de uma pesquisa feita com alunos e professores sobre disciplinas pedagógicas. A pesquisa realizada teve como material de análise um questionário com perguntas objetivas e subjetivas. Esse questionário foi direcionado e aplicado à dois grupos de ínvidos: alunos do curso Química Licenciatura presentes no quinto semestre e professores de química da rede pública estadual de ensino (SEDUC). A aplicação foi realizada no dia 15/05/2015 na sala OB03 (Pavilhão O – Campus Básico – UFPA) juntamente com 10 alunos do curso Química Licenciatura e no Prédio Química Ensino com os 10 professores (que também são alunos do Programa de Pós-Graduação em Química). Os dois grupos responderam à questionários iguais compostos por quatro perguntas: 1) Você acredita que as disciplinas pedagógicas são importantes para sua formação como futuro professor de Química? Justifique brevemente. ( ) SIM ( ) NÃO 2) Para você o que significa instrumentação para o Ensino da Química? Justifique brevemente 3) Você tem algum entendimento sobre o termo bricolagem? Se SIM justifique. 175 ( ) SIM ( ) NÃO 4) Você acredita ser importante para o ensino aprendizagem de Química o uso da bricolagem? Justifique sua resposta. ( ) SIM ( ) NÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir, têm-se os resultados das variáveis analisadas nos dois questionários (aplicados à alunos do 5º semestre do curso de Licenciatura em Química-UFPA e à professores de Química do Ensino médio da rede pública de ensino), expressos nos gráficos na ordem cronológica (Figuras 1 e 2): Figura 1: Resultado da aplicação do questionário aos alunos QUESTIONÁRIO APLICADO À ALUNOS DO 5º SEMESTRE 100% 80% 60% 40% 20% 0% SIM NÃO NÃO SOUBERAM Tendo como referencial os questionários acerca da concepção sobre o termo bricolagem aplicados à discentes do 5º semestre do curso de Licenciatura em Química (UFPA) e docentes da rede pública estadual de Ensino. Observou-se entre os discentes uma unanimidade entre a importância das disciplinas pedagógicas durante o curso de Licenciatura em Química, no entanto, nenhum dos alunos souberam definir o termo bricolagem, sinalizando a necessidade de uma abordagem e discussão do referido termo entre os licenciandos, haja vista, que a prática“bricolage”,originado do frânces, confere ao professor ter autonomia para produzir e dominar seus próprios instrumentos didáticos de trabalho acadêmico a partir de seus próprios conhecimentos, considerando a realidade do aluno e da estrutura da escola. Figura 2: Resultado da aplicação do questionário aos professores do ensino médio 176 QUESTIONÁRIO APLICADO À PROFESSORES DE QUÍMICA DO ENSINO MÉDIO 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% SIM NÃO NÃO SOUBERAM Além disso, constatou-se dentre os docentes entrevistados, 90,90% afirmaram ser importante a presença das disciplinas pedagógicas na graduação. Contudo, 63,64% não sabem o que significa o termo bricolagem. Sendo que, os entrevistados que conhecem o termo, sinalizaram ser importante, no entanto, justificaram não dispor de tempo para a produção de seu próprio material didático. Sendo assim, faz-se necessário, uma popularização do “do it yourself ” (faça você mesmo), afim de termos professores mais atuantes, presentes e conhecedores do processo de ensino e aprendizagem significativo, no qual professor e aluno interagem de modo a obter o conhecimento construtivo. CONCLUSÕES Buscar uma definição para o termo bricolagem e de como os professores podem utilizála em suas aulas é uma contradição, tendo em vista que, ela é por si só um campo minado de possibilidades a serem exploradas, de modo diferenciado, por cada um que se disponha a conhecê-la. Contudo, a bricolagem como método didático é vista como um emaranhado de possibilidades, o termo francês “bricolage” carrega consigo este sentido de improviso, de “faça você mesmo”. A bricolagem em termos de investigação deve ser entendida como produção. Criação de um processo marcado pela experimentação do professor, pelo uso/desuso de procedimentos, pelos achados e descartes de referências, de objetos de estudo.Com isso, que esta condição de “fazer você mesmo” um modo próprio de pesquisar é o que empreende o professor a abordagem metodológica. A bricolagem certamente concede-nos esta possibilidade, pois confere liberdade de trânsito e escolha ao trabalho do professor considerando a realidade do aluno e da estrutura da escola. Cabe ao professor colocar problematizações, levantar questionamentos e dúvidas para que não tomemos a bricolagem como um novo modelo de material didático, como se fosse a melhor e mais eficaz abordagem para operar em todos os casos e contextos em sala de aula. Esta pesquisa revelou uma grande deficiência de profissionais e graduandos quanto ao conhecimento do termo bricolagem, o que pode ser solucionado com a inserção do estudo do "faça você mesmo" desde o primeiro semestre da graduação para as licenciaturas e a formação 177 continuada de professores da rede pública de ensino; que já vem sendo considerada, juntamente com a formação inicial, uma questão fundamental nas políticas públicas para a educação constante. REFERÊNCIAS FERREIRA, L. H.; HARTWIG, D. R.; OLIVEIRA, R.C. Ensino experimental de química: uma abordagem investigativa contextualizada. Química Nova na Escola. v., nº 2, p.101-106, Maio, 2010. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc32_2/08-PE-5207.pdf Acesso em: 18 de jun. 2015. FISCARELLI, R. B. O.; Manual didático e prática docente. Revista Ibero-americana de estudos em educação. Unesp. vol. 2, nº 1, p. 1-9, 2007 Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/454 Acesso em: 19 de jun. 2015. GAUCHE, R.; TUNES, E.; Ética e autonomia: a visão de um professor do ensino médio. Química nova na escola. Pesquisa no ensino de química. Nº 15, p. 15-38, maio, 2002. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a07.pdf Acesso em: 19 de jun, 2015. JUSTI, Rosária. Modelos e modelagem no ensino de Química: um olhar sobre aspectos essenciais pouco discutidos. In: SANTOS, Wildson Luiz P. dos; MALDANER, Otavio Aloisio (Org.). Ensino de Química em foco. Ijuí (RS): Unijui, 2010. p.209-230. LIMA FILHO, F. S.; CUNHA, F. P.; CARVALHO, F. S.; SOARES, M. F.C; A importância do uso de recursos didáticos alternativos no curso de Química: Uma abordagem sobre novas tecnologias. Enciclopédia Biosfera. Centro Científico-Goiânia. vol. 7, nº 12, p. 166- 173, 2011. Disponível em: Acesso em: 19 de jun. 2015. Disponível em: http://www.conhecer.org.br/enciclop/conbras1/a%20importancia.pdf Acesso em: 18 de jun. 2015. NUNES, A. B.; NUNES, A. B. 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