A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO NA PRÁTICA EM GEOGRAFIA Vânia Santos Figueiredo/UFCG [email protected] Geane Suelí Castro Silva/UEPB [email protected] INTRODUÇÃO A aula de campo na disciplina de Geografia é essencial, pois através dela é possível identificar de fato o que é estudado na sala de aula, no campo é possível perceber as diversas interações do homem e o meio, portanto a proposta do presente artigo foi conhecer as itaquatiaras de Ingá, município escolhido por existir os aspectos geológicos trabalhados em sala de aula. As Itaquatiaras na língua tupi significam pedras pintadas, formando uma das tradições mais enigmáticas de toda a arte rupestre do Brasil. Quase sempre estas pedras são encontradas próximas aos cursos de água que se enchem nas estações chuvosas formando grandes caldeirões. Segundo Martin (1997), a Itaquatiara de Ingá na Paraíba é a mais famosa gravura rupestre no Brasil. A tradição Itaquatiara é a que tem recebido maior número de relatos e interpretações intrigantes e interessantes cujas traduções são desconhecidas por parte dos estudiosos, sendo apontadas diversas origens de quem produziu as inscrições, uma das hipóteses seria que as gravuras estariam associadas a seres extraterretres, devido à existência de figuras que representam astros, outra hipótese mais cabível, relaciona-se aos povos indígenas. Para Fonseca (2008) A Pedra do Ingá é, sem dúvida, um dos mais expressivos registros rupestres do Brasil perdido nas caatingas paraibanas e o maior testemunho silencioso de que em passado longínquo o solo brasileiro teria sido palco de uma cultura avançada que registrou ali parte de seu conhecimento perdido. Desta forma, podemos tomá-la como prova de que já tivemos uma escrita pré-histórica no Brasil, face à expressividade e à coerência de seus signos, aplicados magistralmente lado a lado, apesar de aparentarem, em princípio, uma certa descontinuidade e desordem. A Pedra do Ingá tornou-se presença viva e surpreendente no cenário arqueológico do nordeste brasileiro, como se tratasse de algo que não pudesse estar ali onde se encontra, com seus caracteres incompreensíveis e desafiadores. Se os compararmos com outros da própria região, estes se fazem tão irreais e absurdos, que não deixam de causar grande incômodo no meio acadêmico, diante da cultura vigente e dos rígidos conceitos de análise, que não podem permitir que nenhum acontecimento no passado da Terra possa se colocar fora dos padrões pré-definidos de verificação e classificação científica. Assim, dentro desse contexto a pesquisa surgiu através de uma aula de campo que instigou uma reflexão sobre os aspectos geológicos, históricos e ambientais, tendo como o objetivo diagnosticar os aspectos geológicos das Itaquatiaras do município de IngáPB, bem como identificar o tipo de rocha metamórfica existente e os seus processos intempéricos, além demonstrar a importância da aula de campo e proporcionar discussões a respeito da preservação desse sítio arqueológico. Aula de campo nas Itaquatiaras de Ingá A aula de campo em Geografia tem sido um instrumento metodológico que envolve e motiva, agregando teoria e prática e ainda é possível avaliar se as atividades desenvolvidas em sala proporcionaram mudanças nos que participam desse processo, pois é através desse contato real no campo, que se estabelecem relações no que é observado. Onde é possível utilizar as situações externas observando um fato isolado e poder contextualizá-lo no tempo e no espaço. Segundo (SUERTEGARAY, 2001 p.3) “no método positivista, tão conhecido nosso, o campo (realidade concreta) é externo ao sujeito. O conhecimento/a verdade está no objeto, portanto no campo, no que vemos”. Desde os primórdios do processo de colonização do Brasil, viajantes e naturalistas estrangeiros e brasileiros relataram a existência de sítios arqueológicos. No processo da evolução histórica e social, surgiram pesquisadores e escritores que fizeram vários relatos sobre este processo, algumas com visões fantasiosas a respeito dos prováveis significados das inscrições rupestres nos sítios arqueológicos a maioria sem cunho científico. Essa era uma Geografia tradicional, onde as observações eram puramente descritivas sem fazer nenhuma contextualização do que estava sendo observado. Com o surgimento da Geografia crítica as observações no campo, passam a ser questionadas na busca de respostas coerentes, assim a aula de campo surge com um novo sentido onde o aluno agora não é apenas um observador, mas um investigador que procura ser parte integrante da paisagem. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICAS DAS ITAQUATIARAS DE INGÁ Na Paraíba não é raro encontrar sítios arqueológicos que se apresentam ricos em desenhos e gravuras sem precedência, como: Itacoatiara da Pedra dos Discos no município de Serra Branca; Itacoatiara do Estreito no município de Campina Grande; Itacoatiara do Macaco no município de Queimadas, entre outros. De acordo com (Santos, 2005, p. 30): A existência da tradição rupestre no nordeste do Brasil reforça a hipótese que o território foi povoado por diversas levas de povos pré-históricos em épocas diferentes. O complexo das Itaquatiaras do Ingá situa-se numa série de rochas metamórficas que resultam de profundas modificações sofridas pelas rochas preexistentes, devido às bruscas variações de pressão e temperatura. As rochas estão tomadas por gravuras rupestres, nessas pedras estão esculpidas várias figuras representando animais, frutas, humanos, constelações e até a via lactéa, com datações que variam aproximadamente de 1.200 a 6.000 anos, além do grande painel com dimensões de 24 m de largura por 3 m de altura, existem alguns grafismos isolados nas proximidades muito desgastados pela ação das águas como também pelas pisadas dos visitantes. Segundo Rodrigues (2001), na Paraíba existem uma predominância do complexo cristalino sobre os terrenos sedimentares. O complexo cristalino apresenta-se com uma marcante predominâcia de rochas metamórficas sobre as rochas magmáticas. O substrato geológico paraibano é formado dominantemente por rochas precambrianas, as quais ocupam mais de 80% do seu território, sendo complementado por bacias sedimentares, rochas vulcânicas cretáceas, coberturas plataformais paleógenas/neógenas e formações superficiais quaternárias. A área precambriana engloba tratos da Província Borborema (Almeida et al., 1977), um cinturão orogênico meso/ neoproterozóico que se estende por grande parte do Nordeste, desde Sergipe até a parte oriental do Piauí. Modelos de compartimentação tectônica foram elaborados por diversos autores (Brito Neves, 1975; 1983; Santos & Brito Neves, 1984; Jardim de Sá, 1994), reconhecendo-se uma complexidade estratigráfica e geocronológica, que levou a maioria a conceber uma longa história precambriana. Considerando (JATOBÁ E CASTRO, 2004, p.58), diz: Na crosta terrestre, podem ser observados dois tipos principais de metamorfismo, que são conhecidos como de contato e regional. Metamorfismo de contato, é aquele de resulta da intrusão do magma nas rochas preeexistentes [...] ele pode ocorrer quando o magma preenche fraturas, ou ao redor de corpos ígneos intrusivos. Metamorfismo regional, é aquele que ocorre em grandes áreas da crostra terrestre submetidas a elevadissimas pressões e temperaturas associados a intenso tectonismo (falhamentos e dobramentos) que será responsável pelo aparecimento de grandes cadeias e montanhas. O tipo de rocha encontrada nas Itaquatiaras denomina-se gnaisse que é uma das mais freqüentes rochas metamórficas encontradas no nordeste brasileiro, especificamente nos terrenos cristalinos onde se associa aos granitos e migmatitos. De acordo com (CASTRO E JATOBÁ, 2003, p.60), as metamórficas apresentam as seguintes características: textura grossa e geralmente orientada; minerais cristalizados ou recristalizados (holocristalinas); formam relevos sem simetria; não apresentam poros nem fósseis. Ainda, as principais características das rochas metamórficas são; Textura grossa e bem orientada, isto é, apresentam uma orientação muito nítida dos minerais presentes, os quais, por vezes, se agrupam formando bandas ou faixas alternadas, em tons claros e escuros (textura bandeada ou gnaisse); cor varia de cinza rósea ou quase preta; composição mineral: feldspato, quartzo (minerais claros), anfibólios, biotita, granada (minerais escuros) (CASTRO E JATOBÁ, 2003, p.60), Os principais tipos de rochas metamórficas são: quartzito, ardósia, xisto, gnaisse, milonito e mármore. Figura 02. Blocos de rochas metamórficas. Fonte: Pesquisa de campo, Itaquatiaras, Ingá, (Dezembro, 2008). Figura 03. Maior bloco de rocha do sótio com 24 m de largura por 3 m de altura Fonte: Pesquisa de campo (Dezembro, 2008). Segundo Fonseca (2008), a Pedra do Ingá é, sem dúvida, um dos mais expressivos registros rupestres do Brasil perdido nas caatingas paraibanas e o maior testemunho silencioso de que em passado longínquo o solo brasileiro teria sido palco de uma cultura avançada que registrou ali parte de seu conhecimento perdido. Figuras 04 e 05. Representando astros Fonte: Pesquisa de campo (Dezembro, 2008). Localização da área O município de Ingá está localizado na Microrregião de Itabaiana e na Mesorregião Agreste Paraibano. Geograficamente localizado a 7º 15’ 26’’ de latitude Sul e a 35º 36’ 15’’ de longitude Oeste de Greenwich, a aproximadamente 36km de Campina Grande e 84km da capital João Pessoa. Inserido na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino. (Ministério de Minas e Energia, 2005). INGÁ Figura 06. Mesorregião do Agreste da Paraíba Fonte: wikipedia. METODOLOGIA Primeiramente foi realizado um levantamento da área explorada, a fim de identificar o tipo de rocha metamórfica existente na localidade, posteriormente a observação e comprovado os processos intempéricos através do empirismo, passou-se ao estudo de uma revisão da literatura que comprovaram o tipo de rocha existente, bem como, uma reflexão sobre a história do local. RESULTADOS E DISCUSSÕES A aula de campo foi realizada durante a disciplina de estudos geológicos do curso de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba, o percurso foi Campina Grande – Ingá, distante 36km do município de Campina Grande, chegando no município realizou-se uma caminhada de 3km até chegar as itaquatiaras, onde foi observado os aspectos físicos das rochas, como também os aspectos históricos e ambientais do lugar. O tipo de rocha comprovado no local de estudo demostraram se tratar de uma rocha metamórfica gnáissica do pré-cambriano, apresentando faixas na sua estrutura. Com relação a sua descrição ela apresenta metamorfismo regional, de coloração clara, intermediária acinzentada, tendo composição miniralógica: quartzo, feldspato, micas e muitos ferromamagnesiano, seu grau de metamorfismo é o catametamorfismo. Os processos físicos de meteorização encontrado nas rochas demostraram que diante da variação de temparatura continua provocaram dilatações e contrações onde produziram visilvelmente mudanças nas formas das rochas, que através do contato com as águas do rio que passa no local esculpiram calderões causados pelos redemoinhos perfurando as rochas ao longo dos anos, que antigamente servia como reservatório de água para as populações residentes proximos ao local. Figura 07. Caldeirões formados pela erosão fluvial Fonte: Pesquisa de campo, rochas Itaquatiaras, Ingá, (Dezembro, 2007). Figura 08. Águas poluídas, do rio que corta as Itaquatiaras. Fonte: Pesquisa de campo, rochas Itaquatiaras, Ingá, (Dezembro, 2007). Hoje as águas do rio encontram-se poluídas, com muitos resíduos sólidos as suas margens, como também podemos observar depredações nas rochas causadas por individuos, e nenhuma preocupação dos poderes públicos com um patrimônio cultural dos mais importantes do Brasil. CONCLUSÕES O contéudo estudado previamente em sala de aula permitiu que no campo os envolvidos tivessem a oportunidade de conhecer uma área pouco explorada, também despertou o interesse em compreender as contradições existentes quanto a história do lugar, bem como permitiu através do contato com real despertar o senso crítico e investigador dos que participaram da aula. No local também foi possível perceber o grande potencial turístico do local, bem como desperatar para que outros trabalhos possam ser desenvolvidos naquela área, sobretudo sobre educação ambiental, pois a área estudada vem sendo alvo de depredações constantes, devido à falta de proteção com o patrimônio e ao fácil acesso das pessoas aos locais das gravuras danificando-as, também são encontradas depositadas as margens do rio e entre as rochas vários resíduos depositados as margens do rio, e entre as pedras, como também a falta de proteção com o patrimônio histórico, pois qualquer pessoa tem fácil acesso aos locais das gravuras danificando-as. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JATOBÁ, L.; LINS, C. R. Introdução a Geomorfologia. Recife: Bagaço, 4ª ed. Revista ampliada, 2003.166p. CASTRO, de. C.; JATOBÁ. Litosfera - minerais, rochas, relevo. Recife: ed. Universitária da UFPE, 2004. 110p. SANTOS, S, de, J. Estudando e Conhecendo a Pré- História, Campina Grande: ed. 2005. 162p. MARTIN, G. Pré - História do Nordeste do Brasil. Recife: ed. Universitária da UFPE, 2ª edição atualizada. 1997.450p. BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: um esboço metodológico. Revista IGEOG/USP, São Paulo: USP, n.13, 1971. Caderno de ciências da terra. SUERTEGARAY, D. M. A. 2002. Geografia e trabalho de Campo. In Geografia Física Geomorfologia: uma (re)leitura. Ijuí: Editora da UNIJUI. J.A. FONSECA. A pedra do Ingá. Disponível em http://www.viafanzine.jor.br/fonseca_inga.htm. Acesso 28 de julho de 2009.