Análise das interferências da iluminação artificial no ritmo

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Análise das interferências da iluminação artificial no ritmo circadiano humano: O aspecto subjetivo da luz
Julho 2014
Análise das interferências da iluminação artificial no ritmo
circadiano humano: O aspecto subjetivo da luz
Paula Maria de Almeida Nery Fernandes da Silva – [email protected]
Master em Arquitetura
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Salvador, Bahia, 05 de Agosto de 2013
Resumo
Este artigo aborda uma análise das interferências dos sistemas de iluminação artificial sobre
o ritmo circadiano humano, aliado ao aspecto subjetivo da Luz. O interesse sobre essa
temática surgiu da curiosidade sobre as alterações no comportamento “comum” dos seres
humanos, mergulhados nas diversas ambientações criadas a partir da iluminação artificial.
Esse estudo permitirá uma visão mais aprofundada e subjetiva da Luz, que incentivará os
profissionais de iluminação a levar em conta não apenas os métodos técnicos, mas
principalmente a forma com que o usuário interpreta os espaços construídos, que, por sua
vez, está intrinsecamente ligada às suas experiências e vivências diante do mesmo.
Para a elaboração dessa análise, foram reunidos diversos estudos sobre a interpretação dos
feiches de luz natural pelas células do olho humano, e como a utilização da iluminação
artificial interfere nesse processo natural, além dos estudos empíricos individuais a cada ser
humano, de acordo com as suas vivências sobre a luz em diversos modos, que os faz reagir
também de forma distinta a cada uma das formas da mesma.
Consequentemente, foram encontradas vertendes de diversos profissionais que atribuem
muitos problemas da “sociedade moderna” como: obesidade, insônia, stress, entre outros,
que estão diretamente ligados à nova rotina necessária para a velocidade de produção e
ação no mercado de trabalho, à influência da luz artificial.
Palavras-chave: Iluminação Artificial. Ritmo Circadiano. Luz.
1. Introdução
A Luz é um elemento vital para os seres humanos, pois através dela o mundo “nasce” aos
olhos dos mesmos, e com ela, os seus gostos, suas cores, sua vida, e ao longo desta, diversas
formas de experimentar a luz, traz grandes e subjetivos impactos aos indivíduos.
Os organismos vivos necessitam da energia solar, isto é, tanto as radiações
eletromagnéticas visíveis quanto as radiações eletromagnéticas próximas do visível,
emitidas pelo Sol, necessárias para a sobrevivência da maioria das espécies do
planeta. (VARGAS, 2009;88)
Em meio à correria do dia a dia agitado das grandes capitais, fez-se necessário o
desenvolvimento de diversas tecnologias para atender à necessidade de maior produtividade e
velocidade de resposta ao mercado. Sendo assim, os projetos de iluminação tornaram-se cada
vez mais detalhados e complexos, com objetivo principal de atrair a atenção comercial e
trazer conforto e eficiência aos seus usuários, contando com instrumentos como a
normatização, para auxiliar na qualidade e quantificação dos mesmos.
Mas até que ponto essas intervenções “artificiais” são eficazes ou prejudiciais aos seres
humanos? Será que os métodos normativos e cálculos numéricos são suficientes para atingir
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ao objetivo principal desses projetos? Existe uma regra geral para uma boa iluminação? Para
muitos profissionais da área, uma simples tabela, aliada às informações das atividades
exercidas no local e aos índices das lâmpadas selecionadas são suficientes para atender ao
chamado “Projeto Eficiente”.
No entanto, são esquecidos os fatores subjetivos da luz sobre o comportamento humano, que
estão intimamente relacionados à forma com que o cérebro recebe as informações dos feixes
de luz, que por sua vez são determinantes de outro grande fator para as consequências dessa
iluminação, que é justamente relativo às experiências dos indivíduos ao longo de suas vidas
sobre diversos aspectos e condições da própria luz.
Atualmente, novos estudos científicos identificaram no olho humano um sistema de captação
e interpretação da luz, que aliados com processos bioquímicos, causam sérias interferências
nas funções biológicas, o que implica na saúde e bem estar dos indivíduos expostos a ela. E
vários autores já conseguiram dissertar sobre como ajustar o seu dia para que o seu relógio
biológico funcione bem e da forma mais natural possível, para que o corpo humano esteja
sendo “utilizado” de forma saudável.
2. O Ciclo Circadiano Humano
Do latim: circa = em torno de; dies = do dia, o ciclo circadiano é responsável pela relação do
tempo e das atividades normais ao corpo humano, ligadas aos aspectos naturais e artificiais do
meio em que vivem.
Estudos realizados com alguns indivíduos, dispostos em locais onde não havia referenciais de
tempo, identificaram que o ciclo natural humano é de 25 e não 24 horas como é quantificado
o dia. Com o passar do tempo de experimento, as pessoas iam dormindo cada dia uma hora
mais tarde com base no dia anterior, completando um ciclo de 25 dias até que dormissem no
mesmo horário do dia em que entraram para o estudo. Esse ciclo foi denominado como “clico
livre”, ou seja, o ciclo de “programação” natural do corpo humano para a sua rotina diária.
A luz é um dos elementos que mais interferem e sinalizam biologicamente o ritmo circadiano;
o amanhecer do dia com a luz intensa e a temperatura mais alta, o entardecer com a baixa de
iluminação e também de temperatura, são elementos que condicionam a alternância entre
atividades e descanso dentro do padrão circadiano (Figura 1).
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Figura 1 – Ciclo circadiano
Fonte: Veralice Meireles Sales de Bruin – Departamento de Medicina Clínica-UFC. Disponível em:
http://sergionunespersonal.blogspot.com.br/2011/05/ritmo-circadiano-e-melatonina.html. Acesso em: 05 de
Julho de 2013
Esse sistema cíclico é de extrema importância para vida humana, pois sem ela nem mesmo a
percepção de tempo seria possível, o que implicaria em diversas consequências com relação
às leis da física e do senso de previsão dos fatos: causa X consequência.
Ao mesmo tempo, fatores socioeconômicos culturais, ou seja, a vivência do indivíduo no
espaço e na presença da luz, também influencia diretamente no modo com que este ciclo será
individualizado, personalizado e “executado” por cada um, ou seja; o homem é
comprovadamente produto do seu meio, como já dizia o grande filósofo Karl Marx.
Por estar diretamente ligada à produção de secreções como a melatonina, produzida pela
glândula pineal, que é o hormônio responsável por preparar o organismo para o sono e
reestabelecer o equilíbrio do corpo, a iluminação tem papel direto no controle dessa produção,
portanto, no desenvolvimento, equilíbrio e bem estar do organismo.
O grande responsável por essa interpretação dos fachos luminosos, que regulam o corpo e
suas atividades, foi descoberto recentemente e é considerado o terceiro fotorreceptor, com o
papel de levar ao cérebro as informações indiretas que a luz proporciona para diretrizes de
ação interna do ser humano.
3. O olho humano e a descoberta do terceiro fotorreceptor
Nas espécies inferiores da cadeia zoológica, o olho tem apenas a função de distinguir
claridade e escuridão, mas nos mamíferos sua composição é muito mais complexa e, por
conseguinte, as suas interações e percepções também, permitindo focar e regular os feixes de
luz, além da codificação das imagens.
O olho tem o papel fundamental de ser a janela para o corpo humano, fazendo com que este
interaja com o seu meio, e através dessa interação tenha sensações diversificadas, tanto
psicologicamente, quanto biologicamente, pois os fatores que atravessam a percepção visual
dos espaços e dos objetos sob a luz, e da própria luz em si, não configuram apenas o campo
“programado” dos indivíduos, mas interagem com toda a bagagem de sensações e
experiências vivenciadas por eles ao longo de suas vidas. (Figura 2)
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Figura 2 – As partes do olho e o papel de cada uma delas na interpretação da luz.
Fonte: G1- Bem Estar – Disponível em: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/06/conheca-diferencas-entreos-principais-problemas-de-visao.html. Acesso em 25 de Julho de 2013.
O mecanismo da visão se inicia através da radiação eletromagnética visível (luz), que refletida
ou emitida pelo meio externo gera impulsos direcionados à retina, onde as células
denominadas cones e bastonetes emitem informações, através do nervo ótico, para o cérebro,
onde, por sua vez, são interpretadas as distintas intensidades luminosas. Dessa forma, o olho
permite a decodificação do meio externo através das distinções de formas, cores, tamanho e
disposição dos objetos e é justamente da “resposta” da retina às excitações luminosas que
cada indivíduo desenvolve a sua tolerância ou não à luminosidade.
Em relação ao desempenho humano, há três rotas principais de análise: através do
sistema visual, do perceptivo e do circadiano. Os dois primeiros têm um
conhecimento consolidado que demonstra como iluminar para obter conforto visual
e estimular a percepção. No entanto, os estudos sobre as relações entre iluminação e
o chamado sistema circadiano humano, ou ritmos diários de 24horas, ainda são
incipientes. (MARTAU,2009:62)
Foram anos e anos de estudos até que David Benson (BERSON, DUNN, MOTAHARU,
2002) descobrisse a existência do terceiro fotorreceptor nos mamíferos, que tem o papel de se
responsabilizar pelo modo com que o olho capta a iluminação e a emite através de sinais
elétricos para o cérebro.
No entanto, esse fotorreceptor não está ligado à visão, mas sim participa de um processo
biológico, que é responsável pelo ajuste do relógio vital, através do controle da glândula
pineal, fazendo com que o sistema circadiano baseie-se pelas informações enviadas por esse
receptor. Sendo assim, pode se atribuir as consequências biológicas ao ciclo da intensidade de
iluminação durante o dia (Figura 3).
Figura 3 - Diagrama simplificado da neuroanatomia responsável pela mediação da capacidade sensorial do
sistema visual,da regulação circadiana não visual, das funções neuroendócrinas e das funções
neurocomportamentais.
Fonte: MARTAU, 2009. Disponível em: http://www.lumearquitetura.com.br/edicao38.html. Acesso em 20 de
Junho de 2013.
Do ponto de vista endógeno, o organismo humano apresenta ciclos complexos de
secreção hormonal e de neurotransmissores, bem como, padrões de atividade de
determinados centros encefálicos, que se acoplam aos sincronizadores externos para
permitir uma variação do bio-ritmo de repouso e atividade, em sintonia com o ciclo
circadiano da terra. Um dos centros encefálicos mais importantes nesta
sincronização é o núcleo supra-óptico, no hipotálamo anterior, que recebe impulsos
luminosos carreados pelo nervo óptico, tendo a luz como um dos elementos que
controlam o funcionamento deste centro. Os estímulos luminosos também atuam
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sobre a glândula pineal, que secreta a melatonina, um neuro-hormônio implicadona
cronobiologia do ciclo vigília-sono. (FERNANDES, 2006:165).
Apesar da luz artificial atender às necessidades de visibilidade noturna para a execução de
tarefas, vários estudos comprovam que ela não possui a distribuição espectral necessária para
completar as funções biológicas, fazendo com que as pessoas prefiram a luz natural.
Os mecanismos de recepção da luz através do olho compõem um processo que só é
permitido totalmente com a enucleação do globo ocular. As últimas descobertas
esclarecem o fato de indivíduos com cegueira total serem capazes de ajustar seu
ritmo de vida cotidiana ao ciclo claro/escuro ambiental, o que significa reafirmar
que a vida retino-hipotalâmica opera de forma independente da visão. (VARGAS,
2009;89)
4. As consequencias da iluminação artificial
Com o passar dos anos, haja vista o desenvolvimento tecnológico e socioeconômico em geral,
as novas jornadas de trabalho e produção foram sendo criadas, e com elas uma nova rotina
dos indivíduos, consequentemente. O campo da iluminação artificial sofreu grandes
investimentos e novas tecnologias foram sendo estudadas para proporcionar um melhor
ambiente construído, capaz de atender à rapidez de produção necessária ao novo mercado.
Além disso, outros dispositivos como televisões, computadores, celulares, videogames entre
outros eletrônicos foram sendo introduzidos no dia a dia das pessoas, formando um grande
grupo de elementos que emitem faxos eletromagnéticos, junto com a própria iluminação
artificial geral, e que implicam numa reação diversa do “comum” ao que o corpo humano
estava “naturalmente programado”.
A partir desses avanços e dessa necessidade globalizada de literalmente transformar a tarde e
a noite em dia, para aumento da produção de trabalho, os seres humanos acabam sendo
expostos excessivamente às radiações de iluminação artificial, o que ao longo do tempo foi
gerando impactos quanto ao ritmo biológico dos mesmos.
Conforme essa exposição veio sendo exarcebada, muitas doenças foram aparecendo mais
frequentemente nos indivíduos submetidos à luz artificial desordenada, gerando uma
preocupação com essa relação entre causa x efeito dessa iluminação, o que, por sua vez, gerou
discussões e ivestigações das mais diversas áreas sobre essas relações.
Com o auxílio de estudos da medicina e psicologia, conforme foi abordado anteriormente,
descobriu-se um terceiro fotorreceptor que é responsável pela decodificação dos raios
eletromagnéticos e são direcionados ao cérebro, mandando informações que induzem a
liberação de diversos hormônios.
Assim, a retina envia informações luminosas ao córtex cerebral para a formação da
visão, como também envia informações para o ajuste do relógio biológico, abrindo
uma nova fronteira para o entendimento da percepção da luz e sua influência sobre
os ritmos biológicos. O relógio biológico temporiza as atividades orgânicas,
comunica-se com o meio ambiente recebendo estímulos fóticos da retina e controla
o organismo através das vias neurais e humorais. (VARGAS, 2009;89)
Um exemplo simples de como qualquer alteração na rotina de um indivíduo interfere no ciclo
circadiano natural é o horário de verão: um simples atraso ou aceleração de apenas uma hora
no dia, gera impactos acumulativos, pois uma hora de sono perdida pela manhã, não consegue
ser recuperada com uma hora mais cedo de sono, pois este possui um ritmo e uma série que
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está diretamente vinculada ao tempo e qualidade do sono (Figura 4).
Porém esses aspectos estão mais ligados ao processo dos ritmos do sono, que estão mais
ligados aos conhecimentos específicos da medicina, e não serão abordados profundamente
neste artigo.
O organismo humano recebe a iluminação artificial de forma distinta à qualidade da
iluminação natural. Segundo MARTAU (2009: 64): “A luz natural, pela sua concentração de
azul, produz no organismo, através do sistema nervoso central, o hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH) e esteróides, e, pela pele, elementos que neutralizam essas
substâncias e equilibram o corpo (como a vitamina D).”
Figura 4 – A interferência do horário de verão no cliclo circadiano.
Fonte: O Globo – Disponível em: http://oglobo.globo.com/infograficos/ritmo-circadiano/ . Acesso em 08 de
julho de 2013
Já a iluminação artificial não consegue agir de forma a produzir as substâncias responsáveis
por neutralizar os hormônios estressores, os quais, se acumulados, são responsáveis por
causar sérios danos à saúde do indivíduo (Figura 5).
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Figura 5 - Efeitos da luz natural e da artificial sobre o sistema nervoso central e sobre a pele e as substâncias por
ela controladas.
Fonte: Adaptado de WUNSCH, 2007, In: MARTAU, 2009;64. Disponível em:
http://www.lumearquitetura.com.br/edicao38.html. Acesso em 20 de Junho de 2013.
As lâmpadas artificiais que possuem a menor quantidade do teor de azul do espectro, são as
que menos participam da estimulação do ciclo circadiano, ao tempo em que as que mais mais
se aproximam do espectro completo, são as que mais parecem com o espectro da luz solar,
portanto, influenciam diretamente no relógio biológico humano e em todas as suas
implicações (Figura 6).
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Figura 6 – Espectro comparativo da Luz.
Fonte: AreaSeg.com – Disponível em: http://www.areaseg.com/luz/. Acesso em: 23 de Julho de 2013.
Estudos comparativos realizados sobre a interferência dos diversos tipos de lâmpadas nos
indivíduos (Figura 7) demonstram que a lâmapada que mais se aproxima da luz natural é a
incandescente. Ao mesmo tempo, há uma relação de contraposição com a questão da
eficiência energética, que implica na redução de produção desta, e incentiva o uso das
lâmpadas fluorescentes e de novas tecnologias como o LED.
Figura 7 – Fontes de Luz e o seus efeitos cronobiológicos.
Fonte: Adaptado de WUNSCH, 2007, In: MARTAU 2009; 65.
O uso “febril” do LED ainda é questionado por diversas vertentes do ramo da luminotecnia,
visto que há um grande caminho a ser trilhado para que possam existir avaliações sobre as
reais influencias desse novo sistema sobre a fisiologia e o relógio biológico humano.
Sendo assim, o profissional, ao especificar o tipo de iluminação para o seu cliente, deve
avaliar não apenas quantitativamente e nem somente pensando na tão falada eficiência
energética, mas sim na relação de interferência que aquela iluminação, a médio e longo prazo,
terá no usuário do ambiente construído.
5. Doenças relacionadas à descompensação do ciclo circadiano
Os estudos, cada vez mais frequentes nessa área, tem feito descobertas quanto a correlação
entre diversas doenças relacionadas à descompensação no teor do hormônio melatonina, a
principal secreção produzida no corpo humano e que influencia na prevenção do câncer de
mama, por exemplo.
As mulheres que trabalham à noite têm sido objeto de estudo das pesquisas sobre
melatonina, um hormônio sensível à luz (HARDER, 2006 e BLASK et al., 2005).
Estas têm como hipótese principal que a iluminação artificial noturna, por
interromper a produção do hormônio, que é protetor natural contra o
desenvolvimento de tumores, pode aumentar o risco de câncer de mama (STEVENS
et al., 1996, LIU et al., 2005; SCHERNHAMMER et al., 2004 e SCHEER e BUJIS,
1999, O’Leary et al.,2006). (In:MARTAU, 2009;63)
Isso pode ser explicado por conta da luz interferir na elevação dos níveis de melatonina
produzida durante a noite, ocasionando o aumento do teor de estrogênio ou mesmo
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interferindo no mecanismo de inibição da produção de tumores.
Com relação à intensidade de luz diária necessária para o funcionamento do sistema
circadiano, denominada luz circadiana, ainda não é possível estabelecer padrões
específicos.Pessoas que trabalham em ambientes pouco iluminados têm reportado
uma série de queixas não específicas como cansaço, distúrbios do humor e falta de
concentração (DUMONT e BEAULIEU, 2006), que já recebe o nome de “Síndrome
da iluminação doente” (BEGEMANN, VAN DER BELD e TENNER, 1997).
(MARTAU, 2009;68)
Outro problema que pode ser ocasionado pela exposição excessiva à luz artificial é a insônia e
ou sonolência diurna, pois o organismo entende que durante uma noite de trabalho sob essa
iluminação funciona como o dia, alterando assim o real referencial de dia/noite. Explica-se
assim a incidência na faixa dos adolescentes de grande sono pela manhã, já que dormem tarde
assistindo televisão, jogando em computadores ou até mesmo no celular.
Indivíduos que possuem trabalhos noturnos tem grande probabilidade de reduzirem a
qualidade e a quantidade do sono, o que implica na alteração de humor, no cansaço e no
desenvolvimento de stress. Esse, por sua vez, é um grande vilão da atualidade, pois é um dos
maiores responsáveis por diversas patologias e disfunções biológicas nos indivíduos.
Alguns outros estudos ainda em desenvolvimento, são capazes de correlacionar a baixa de
melatonina com a doença de Alzheimer, o que futuramente também pode estar diretamente
ligado às novas rotinas da população, ocasionando disfunção na produção dessa susbstância.
A doença de Parkson também apresenta relação com disturbios do sono à priori, considerando
que a melatonina possui relação com a proteção da função dopaminérgica dos gânglios de
base, ou seja, o desregular de sua produção pode acelerar a perda das células produtoras de
dopamina, proporcionando grandes chances do desenvolvimento dessa doença.
Em resumo, a qualidade do sono é de extrema importância para o bem estar do indivíduo, e
esta depende diretamente do relógio biológico que é chamado de ciclo circadiano, o qual é
influenciado pela exposição da luz e à sua ausência de acordo com a referência dia/noite.
Caso esse referencial e essa dinâmica se percam com uma rotina inadequada, e exposição
exacerbada a iluminação artificial, todo o desenvolvimento e toda a dinâmica do corpo
humano são comprometidos, gerando descontrole na produção de hormônios cuja produção
depende da exposição à luz ou à ausência dela.
Dessa forma, inúmeras doenças vêm à tona e o corpo dos indivíduos tornam-se vulneráveis a
diversos males influenciados por essa falta de hormônio e pelo descumprimento da ordem
natural dos fatores biológicos, que é muito comum na sociedade atual.
6. Metodologia
Através dos conhecimentos obtidos na matéria sobre Iluminação de Interiores, cursada na
Instituição IPOG, despertou-se o interesse sobre as questões comportamentais, psicológicas e
biológicas dos indivíduos submetidos a diversas horas de exposição à luz artificial.
Para a execução deste artigo, o método base utilizado foi a pesquisa bibliográfica. Como a
temática envolve aspectos da medicina avançada e novas descobertas nessa área, para a
elaboração deste conteúdo foram selecionados diversos estudos nas áreas de iluminação de
interiores e exteriores, influência da luz sobre o comportamento humano, sobretudo os
aspectos biológicos e fisiológicos do olho, interpretações neurais da iluminação, além de
experiências empíricas que trazem dados e referências para o conteúdo abordado.
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Sendo assim, foram feitas análises comparativas de diversos estudos elaborados por
profissionais da área de medicina, psicologia, arquitetura, designer de interiores e marketing,
pois todas essas áreas trabalham diretamente com a percepção da luz e dos ambientes
construídos, através da grande janela chama “olho humano”.
A maioria das análises e estudos de casos selecionados para elaboração desse artigo foi
recente, visto que essa temática abordada representa uma preocupação do mundo moderno em
meio a reflexos de anos e anos de evolução desmedida, que a médio e longo prazo, fizeram
aflorar diversas doenças e distúrbios nos seres humanos, reflexos também da iluminação
imprópria dos ambientes construídos. Muitos destes até hoje não totalmente entendidos, no
entanto em sua maioria são provenientes e explicados por conta de cotidianos, vícios,
costumes e rotinas que não estão de acordo com a “programação” inicial e natural aos
indivíduos, cujo sistema biológico responsável é o ciclo circadiano.
6. Conclusão
Com o desenvolvimento industrial, a velocidade de produção foi imposta ao mercado em
geral, e a mão de obra humana teve de se adequar ao novo ritmo para que as máquinas não
conseguissem substituí-las 100%. Para isso, novas rotinas de trabalho surgiram, e o tempo era
o principal desafiador desse processo, sendo necessário desenvolvimento das tecnologias e
eficiência da iluminação artificial, que, por sua vez, possibilitou a execução dos serviços e a
transformação das noites em dias de trabalho.
Ao passar dos anos, essas transformações na rotina dos indivíduos foram gerando sérios
distúrbios e alterações biológicas, que acometeram com diversas doenças, antes pouco
frequentes, a população mundial como um todo. A crescente presença desses males gerou
uma preocupação em diversas áreas e fez surgir estudos que proporcionaram o conhecimento
e esclarecimento dos diversos danos causados por essas novas rotinas.
Dessa forma, a evolução científica foi determinante na geração atual, chamada “geração
saúde”, que hoje não apenas se preocupa com a quantidade de produção das suas tarefas, mas
principalmente sobre a qualidade das mesmas, que implica diretamente na sua relação de bem
estar no meio em que vivem.
Consequentemente, a atual prática da iluminação e a legislação sobre iluminação
artificial, baseadas apenas em atender apenas aos requisitos visuais, podem estar
totalmente inadequadas para atender aos requisitos de estimulação biológica
(BEGEMANN, VAN DER BELD e TENNER, 1997, apud MARTAU, 2009, pg.
63).
Partindo desse princípio, as normas e manuais que são apresentados como diretrizes
projetuais luminotécnicos hoje, não podem ser apenas considerados e numericamente, pois
intrínseco a elas, estão os valores subjetivos e experimentados por cada ser humano em sua
individualidade, provando assim que não há uma regra geral para uma iluminação eficiente,
pois para que esta atinja esse conceito, muitas outras questões e situações empíricas estão
envolvidas e os projetos devem ser tratados de forma personalizada a cada situação e cliente.
Portanto, esse artigo pretende demonstrar o papel fundamental que a luz artificial representa
hoje na vida da população, e que esta, se não bem projetada, causará diversos e sérios danos à
saúde dos indivíduos, como é hoje grande responsável por diversas doenças que acometem as
pessoas, visto o imenso despreparo de grande parte dos profissionais, e inconsequentes ações
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projetuais que se baseiam apenas em normas e cálculos numéricos, os quais não são
suficientes e nem levam em conta os fatores subjetivos da luz sobre o corpo humano.
É de extrema importância também considerar a questão das novas tecnologias para sistemas
de iluminação, pois essas ainda estão em fase de “teste” quanto às reações a médio e longo
prazo nos usuários, o que implica no maior cuidado ao se especificar o tipo de lâmpada a ser
utilizada. Além disso, deve-se levar em conta a questão da eficiência energética que é fator
guia cada vez mais dos projetos luminotécnicos, porém, muitas vezes ela se contrapõe às
questões do bem estar humano.
Além disso, trata-se de avaliar a relevância que a iluminação deve ter como sistema
complementar à cura de doenças, pois se bem utilizada e aplicada, pode auxiliar no tratamento
de diversos problemas, conforme alguns estudos já estão sendo produzidos, já que como
existe a comprovação e descoberta do fotorreceptor que decodifica a luz e age na produção
dos hormônios, ela pode ser empregada e associada a medicamentos que estimulem a
produção dessas secreções e sejam benéficas ao corpo humano. O que pode ser um caminho
para resolver a questão da idade X produção de melatonina, que comprovadamente existe uma
relação de quanto maior a idade, menor a produção da mesma, ou seja, futuramente, pode-se
encontrar soluções de controle e melhora no desenrolar da idade dos indivíduos com o uso da
iluminação artificial correta, tornando o efeito contrário do que ela representa hoje na
sociedade.
Com esse estudo, percebe-se a complexidade que envolve a seleção e indicação do projeto de
iluminação artificial, seja pra qual for o usuário alvo, e que não se pode nem se deve mais
seguir apenas os dados e padrões exibidos nas NBRS, pois eles não conseguem levar em
conta fatores imprescindíveis para a excelência da luz no desenvolvimento das tarefas e,
principalmente, no bem estar dos que as utilizam.
Sendo assim, conclui-se que qualquer profissional da área que necessite projetar o sistema de
iluminação de um ambiente construído, seja interno ou externo, deve ter total consciência da
implicação indireta que esses elementos causarão a curto, médio e longo prazo na vida dos
usuários desses locais. Mostrando a imensa necessidade de um aprofundamento maior nos
materiais utilizados, nas novas tecnologias e na vivência de seus usuários, para que estes
elementos tão necessários na vida moderna, não sejam mais propulsores de danos à saúde e ao
bem estar populacional.
Referências
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: citações:
elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: formatação
de trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2002.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e
documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
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ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: resumo:
elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
ALMONDES, K. M. De; ARAÚJO, J. F. De. Padrão do ciclo sono-vigília e sua relação com a
ansiedade em estudantes universitários. Estudos de Pscicologia 2003. Universidade Federal
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BEGEMANN, VAN DER BELD e TENNER, 1997, In: MARTAU, Betina Tschiedel. A luz
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