BILL CROWDER SÉRIE DESCOBRINDO A PALAVRA

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SÉRIE DESCOBRINDO A PALAVRA
O poder da
cruz
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BS571
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9
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BILL CROWDER
Introdução
O poder da cruz
Q
uando escrevi o livro, Windows on
Easter (Janelas da Páscoa), do qual este
livreto foi adaptado, meu objetivo era
reavaliar os acontecimentos familiares relacionados
à morte e ressurreição de Cristo, examinando-os
pelos olhos de alguns dos homens e mulheres que
estiveram presentes. Esses momentos que abriram
a eternidade para os que não a mereciam, à custa da
vida daquele que é eternamente digno, não devem
de modo algum cair no esquecimento.
Uma destas testemunhas oculares foi o centurião
romano que auxiliou na crucificação. Os religiosos
da época fazem a assombrosa pergunta: “Você
estava lá quando crucificaram o meu Senhor?” Ah,
sim, este homem estava lá.
[1]
Ao tentarmos imaginar o que ele viu e
sentiu, que a graça e a misericórdia de Cristo
alcance os nossos corações para sermos
profundamente transformados, assim como
ocorreu com o centurião.
Através dos séculos, os soldados
foram menosprezados e honrados
— menosprezados por quem atacam e conquistam, honrados
por quem protegem e defendem. Ficamos frequentemente
chocados pelas ações que a guerra, em si mesma resultado
de ódio e pecado, compele o exército a executar; entretanto,
ficamos geralmente maravilhados pela coragem exigida
dos soldados para que ajam assim. Aqueles dentre nós que
nunca vivenciaram o terror do combate, não conseguem
compreender o fardo que o trabalho de um soldado tem
sobre os seus ombros. Nunca entenderemos completamente
o que os soldados vivenciaram na linha de frente.
Os soldados sofrem as dificuldades do treinamento e
são frequentemente sujeitos, em serviço ou combate, a um
estilo de vida de privações. É uma vida que algumas vezes
mal parece civilizada, alternando entre atos de coragem
e barbarismo. Viver continuamente à sombra da morte,
enfrentar a realidade de que você é um agente da morte
— mesmo que por uma causa justa — é algo difícil.
A vida de um soldado não é fácil. Não é hoje, e não era há
dois mil anos. Entretanto, mesmo os corações endurecidos
pelo calor das batalhas e pelas lutas do serviço militar não
estão além do alcance do evangelho ou do poder da cruz.
[ 2 ]
o poder da cruz
…
da
nã
do
…mesmo os corações endurecidos pelo calor
das batalhas e pelas lutas do serviço militar
não estão além do alcance do evangelho ou
do poder da cruz.
Veremos este poder em ação na vida de
um soldado — o centurião encarregado da
crucificação de Jesus Cristo.
Bill Crowder
Ministérios Pão Diário
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Sumário
1
A vida de um centurião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2
Centuriões no
Novo Testamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3
O centurião
ao pé da cruz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Título original : The Power of The Cross
Foto da capa: iStockPhoto
Imagens internas: (p.1) StockPhoto; (p.7) Vera Kratochvil / PublicDomain.com&Wikipedia; (p.11) Creative
Commons; (p.19) Spanish Browne / Stockxching
ISBN: 978-1-60485-843-3
Exceto se indicado o contrário, as citações bíblicas são extraídas da Edição Revista e Atualizada de João F. de
Almeida © 1993, Sociedade Bíblica do Brasil. Todos os direitos reservados.
© 2013,2015 Ministérios Pão Diário. Todos os direitos reservados.
PORTUGUESE
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Impresso no Brasi
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1
A vida de um centurião
N
osso filho mais velho está no exército há
muitos anos. Assistir ao seu progresso nos
postos, partindo de soldado para
primeiro-sargento foi um aprendizado nos modos da vida
militar. Os soldados se comprometem a colocar a missão
antes do conforto, seus companheiros antes de si mesmos e
a obediência ao serviço acima de suas opiniões pessoais
e sobre às ordens que recebem. É um estilo de vida
enraizado em disciplina, hierarquia e trabalho em equipe.
Os elementos centrais dos deveres do soldado não
mudaram durante os séculos. Certamente a tecnologia,
o aparato de combate e o treino mudaram. Mas os
compromissos básicos com a obediência, tarefas, disciplina,
autoridade e trabalho em equipe não mudaram. Com isso
[7]
em mente, consideremos como a vida militar deve ter sido
para um centurião romano do primeiro século.
A palavra centurião vem do termo latim centum, que
significa “uma centena.” Um centurião era um oficial
romano que comandava cem homens. Para termos uma
compreensão adequada do papel de um centurião, é útil
entender o planejamento de uma legião romana.
Cada legião era dividida em dez coortes (dez unidades
de uma legião do exército romano), cada
coorte em três manípulos (subdivisões) e
cada manípulo em duas centúrias. Em uma
legião havia trinta manípulos e sessenta
centúrias. Uma centúria sempre consistia
de cem soldados, sendo que sessenta
centúrias formavam uma legião combinada
de seis mil tropas.
No exército romano, o posto de
centurião era o posto mais alto que um soldado comum
poderia alcançar. A função era semelhante ao que
conhecemos como capitão da companhia. Sessenta
centuriões serviam cada legião, com hierarquia entre
A crucificação era um método de execução comumente praticado
pelo Império Romano. Provavelmente originou-se na antiga Pérsia
e foi adotada por Alexandre o Grande. A vítima crucificada era
amarrada ou pregada a uma grande cruz em formato de “T” e ali
deixada até que morresse.
[ 8 ]
o poder da cruz
Os
Lu
co
co
esses sessenta. A promoção ao posto de
centurião era geralmente fundamentada
em experiência e conhecimento e, assim
como no exército hoje, os centuriões eram
promovidos com transferência para cargos
de maiores responsabilidades.
Os centuriões atingiam seu posto,
tipicamente, do modo mais difícil, e era um
Os centuriões mencionados nos livros de
Lucas 7 e Atos 10 eram homens respeitados,
com recursos financeiros e que contribuíam
com suas comunidades.
posto de prestígio e honra, que exigia o
respeito de outros. Estes oficiais recebiam
pensões abastadas em sua aposentadoria
e eram vistos como ilustres nas cidades
onde moravam. Os centuriões mencionados
nos livros de Lucas 7 e Atos 10 eram
homens respeitados, com recursos
financeiros e que contribuíam com
suas comunidades.
Não era fácil receber a posição
estratégica de centurião. Ainda que alguns
podiam comprar o seu posto, e outros eram
[9]
nomeados por serem favorecidos por oficiais de postos
mais elevados ou oficiais romanos, a maioria dos centuriões
era nomeada pelos tribunos superiores. Estas promoções
quase sempre se baseavam em mérito do soldado, sendo a
boa conduta considerada fator-chave.
As tarefas de um centurião se encaixavam em duas
áreas básicas. No combate, o centurião era responsável
por implementar a estratégia militar. Ele quase sempre
permanecia de prontidão, liderando o ataque para a
batalha. Fora do campo de batalha, o centurião aplicava
a disciplina aos oficiais, mediava conflitos interpessoais
entre seus homens, provia segurança e proteção quando
necessário, supervisionava ações policiais em áreas
ocupadas e, mais particularmente para nossos propósitos,
supervisionava as mortes por execução. Como regra geral,
para cidadãos romanos estas execuções eram feitas por
meio da espada (romanos 13) e, para os não romanos,
por meio da crucificação Harper’s Bible Dictionary,
(Dicionário Bíblico).
[ 10 ] o poder da cruz
2
Centuriões no
Novo Testamento
M
uitos centuriões são mencionados
no Novo Testamento. Os relatos dos
centuriões mais proeminentes revelam
em que grau a mensagem e a influência de Cristo
estavam transpondo barreiras e linhas sociais, étnicas
e políticas.
O centurião de Cafarnaum
(Mateus 8:5-13)
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um
centurião, implorando: Senhor, o meu criado jaz em casa, de
cama, paralítico, sofrendo horrivelmente. Jesus lhe disse:
[ 11 ]
Eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, não
sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda
com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Pois também
eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às
minhas ordens e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem,
e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz. Ouvindo
isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em
verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé
como esta. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do
Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e
Jacó no reino dos céus. Ao passo que os
filhos do reino serão lançados para fora,
nas trevas; ali haverá choro e ranger de
dentes. Então, disse Jesus ao centurião:
Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E,
naquela mesma hora, o servo foi curado.
Este homem veio a Jesus em favor de
seu servo. Ele demonstrou grande submissão (ao chamar
Jesus de “Senhor”) e grande fé ao declarar que acreditava
No contexto do primeiro século, este cenário é extraordinário.
Primeiro, um centurião romano chama um rabi judeu de “Senhor”
e demonstra submissão a um mestre judeu. Segundo, a atitude de
Jesus de ir à casa de um gentio imediatamente o tornaria impuro
cerimonialmente, o que o impossibilitaria de participar da adoração
no Templo. Esta interação mostra grande amor e complacência de
cada um destes homens com relação ao outro.
[ 12 ] o poder da cruz
Os
re
in
so
Este encontro deixa claro que nem ascendência étnica nem
vocação determinam a aptidão de alguém para a cidadania
do reino.
que Cristo precisava apenas dizer as palavras
e seu servo seria restaurado. Como se isso já
não fosse notável o suficiente, a preocupação
deste valente guerreiro com um mero
Os relatos dos centuriões mais proeminentes
revelam em que grau a mensagem e a
influência de Cristo transpunham barreiras
sociais, étnicas e políticas.
escravo que o leva a buscar o rabi de Nazaré
é algo realmente incrível.
O centurião de Cesareia
(Atos 10:1,2,22,44-48)
Morava em Cesareia um homem de nome
Cornélio, centurião da coorte chamada
Italiana, piedoso e temente a Deus com
toda a sua casa e que fazia muitas esmolas
ao povo e, de contínuo, orava a Deus. […]
Então, disseram: O centurião Cornélio,
[ 13 ]
homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho
de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo
para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras. […]
Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito
Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que
eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraramse, porque também sobre os gentios foi derramado o dom
do Espírito Santo; pois os ouviam falando
em línguas e engrandecendo a Deus.
Então, perguntou Pedro: Porventura,
pode alguém recusar a água, para que
não sejam batizados estes que, assim
como nós, receberam o Espírito Santo? E
ordenou que fossem batizados em nome
de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que
permanecesse com eles por alguns dias.
Cornélio, um gentio convertido e de reconhecido valor,
era um centurião que lidava gentilmente com o povo judeu
que o estimava. Por sua exposição ao judaísmo seu coração
estava preparado para a semente do evangelho e quando
A palavra traduzida como regimento é a palavra grega σπερα, e
se refere a uma unidade militar romana composta em média por
600 soldados (Léxico Louw-Nida). Isto significa que Cornélio era
um de seis centuriões que lideravam o regimento italiano.
[ 14 ] o poder da cruz
O
se
m
Pedro levou-lhe a mensagem da cruz,
ele creu.
O centurião do naufrágio
(Atos 27:1,11,42-44; 28:16)
Quando foi decidido que navegássemos para
a Itália, entregaram Paulo e alguns outros
O coração de Cornélio fora preparado para a
semente do evangelho e quando Pedro levou-lhe a
mensagem da cruz, ele creu.
presos a um centurião chamado Júlio, da
Coorte Imperial […]. Mas o centurião dava
mais crédito ao piloto e ao mestre do navio
do que ao que Paulo dizia […]. O parecer
dos soldados era que matassem os presos,
para que nenhum deles, nadando, fugisse;
mas o centurião, querendo salvar a Paulo,
impediu-os de o fazer; e ordenou que os
que soubessem nadar fossem os primeiros a
lançar-se ao mar e alcançar a terra. Quanto
aos demais, que se salvassem, uns, em tábuas,
e outros, em destroços do navio. E foi assim
que todos se salvaram em terra […].
[ 15 ]
Uma vez em Roma, foi permitido a
Paulo morar por sua conta, tendo em sua
companhia o soldado que o guardava.
Júlio, o centurião responsável por
entregar Paulo para o julgamento em
Roma, relutou no começo, não querendo
aceitar o conselho do apóstolo. Durante
o naufrágio, entretanto, ele foi exposto à vitalidade da
fé de Paulo e viu o poder de Deus operando milagres, e
salvou a vida de Paulo quando esta fora ameaçada.
A preocupação dos soldados de que prisioneiros escapassem
é compreensível. A lei romana responsabilizava diretamente os
guardas pelos prisioneiros fugitivos. Roma impingia punição
sumária aos guardas cujos prisioneiros escapassem. The New
American Commentary: Acts (Novo comentário americano: Atos).
Os centuriões não eram o que hoje chamaríamos de
pessoas gentis e suaves. Eles faziam parte de uma força de
ocupação — soldados profissionais aplicando o braço de
ferro de Roma e subjugando-os à escravidão. Os odiados
conquistadores romanos eram brutais e rápidos em sua
abordagem a todo e qualquer problema. No entanto, de
[ 16 ] o poder da cruz
Os
ap
en
no
m
Os centuriões eram soldados profissionais
aplicando o braço de ferro de Roma […]. No
entanto […] Os centuriões mencionados
no Novo Testamento são uniformemente
mencionados como merecedores de méritos…
acordo com o Easton’s Bible Dictionary
(Dicionário Bíblico): “Os centuriões
mencionados no Novo Testamento são
uniformemente mencionados como
merecedores de méritos, seja nos
evangelhos ou em Atos.”
Políbio, historiador da antiguidade,
observou que os centuriões eram escolhidos
por mérito e eram singulares por sua
ousada coragem e bravura (ainda que essas
qualidades fossem importantes) e por
sua cautela, constância e capacidade de
decisão. Sobre estes centuriões, escreveu:
“Eles não deveriam ser tão aventureiros
em busca de perigos, mas sim homens
que pudessem comandar, que fossem
resolutos e confiáveis; não deveriam ser
excessivamente aflitos apressando-se para a
[ 17 ]
luta, mas quando pressionados deveriam estar prontos para
firmarem-se e morrerem em seus postos.”
Na verdade, o estudioso da Bíblia, William Barclay,
concluiu: “Os centuriões eram os homens mais distintos no
exército romano.”
Esse cenário histórico prepara o palco para o
aparecimento do centurião ao pé da cruz e para o peso e a
credibilidade de suas palavras.
[ 18 ] o poder da cruz
3
O centurião
ao pé da cruz
D
esde a hora sexta até à hora nona, houve trevas
sobre toda a terra. Por volta da hora nona,
clamou Jesus em alta voz, dizendo: ELI, ELI,
LAMÁ SABACTÂNI? O que quer dizer: DEUS MEU,
DEUS MEU, POR QUE ME DESAMPARASTE?
E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Ele
chama por Elias. E, logo, um deles correu a buscar uma
esponja e, tendo-a embebido de vinagre e colocado na
ponta de um caniço, deu-lhe a beber. Os outros, porém,
diziam: Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo. E Jesus,
[ 19 ]
clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.
Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes
de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas;
abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que
dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois
da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e
apareceram a muitos. O centurião e os
que com ele guardavam a Jesus, vendo o
terremoto e tudo o que se passava, ficaram
possuídos de grande temor e disseram:
Verdadeiramente este era Filho de Deus.
(mateus 27:45-54).
“Verdadeiramente este era o Filho de
Deus.” Que declaração! Estas não foram palavras trêmulas
de um rapazote amedrontado ou de um recruta facilmente
manipulável. Foi a conclusão bem feita de um veterano
experiente que assistira a morte terrível de muitos homens
— e que os havia matado — por anos.
Alguns especulam sobre o que ele quis dizer. Teria sido
uma confissão de fé, ou estaria simplesmente tentando
definir algo fora do âmbito de sua experiência? Creio que
a resposta está no contexto. Obviamente, o centurião
sentiu-se profundamente comovido com os acontecimentos
que testemunhou e a declaração de deidade resulta de
sua observação.
Precisamos considerar duas coisas ao ponderar
cuidadosamente sobre a magnitude das palavras do
[ 20 ] o poder da cruz
“Ve
Qu
trê
rec
centurião: a prova contra esta declaração e a
prova em apoio a esta mesma declaração.
A prova contra tal declaração era
realmente forte. O centurião tinha total
consciência da forte condenação dos líderes
religiosos judeus que haviam colocado
“Verdadeiramente este era o Filho de Deus.”
Que declaração! Estas não foram palavras
trêmulas de um rapazote amedrontado ou um
recruta facilmente manipulável.
Jesus na cruz por Ele ter afirmado ser o
Filho de Deus. Seu comandante, Pôncio
Pilatos, havia aprovado a condenação para
a afirmação feita por Jesus. Mas o centurião
rejeita a condenação e afirma a alegação
de Jesus. Por quê? Porque os argumentos
a favor da alegação de Cristo eram
esmagadores.
Olhando para as provas que corroboram
esta declaração, devemos nos lembrar
de que este homem supervisionou,
indubitavelmente, muitas crucificações,
porém, havia algo extraordinariamente
diferente nesta execução em particular.
[ 21 ]
O que ele viu? Há muitas cenas de eventos da prisão, do
julgamento e da crucificação de Jesus que se combinam
num mosaico constrangedor.
• A reação de Jesus à injustiça, prisão e julgamentos
que Ele foi forçado a sofrer nas mãos de Seus
compatriotas:
E, estando ele ainda a falar, eis que chegou
Judas, um dos doze, e com ele grande
multidão com espadas e varapaus, enviada
pelos príncipes dos sacerdotes e pelos
anciãos do povo. E o que o traía tinha-lhes
dado um sinal, dizendo: O que eu beijar
é esse; prendei-o. […] Jesus, porém, lhe
disse: […] Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que
dizem que assim convém que aconteça? Então disse Jesus
à multidão: Saístes, como para um salteador, com espadas e
varapaus para me prender? Todos os dias me assentava junto
de vós, ensinando no templo, e não me prendestes. Mas
tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos
profetas. Então, todos os discípulos, deixando-o, fugiram
[…]. E, levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: Não
respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti?
As Escrituras indicam que João foi o único membro entre os 12 que
identificou-se publicamente com Jesus em Sua crucificação.
[ 22 ] o poder da cruz
Há
ju
co
Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo
o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te
pelo Deus vivo que nos digas se tu és o
Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhe Jesus:
Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis
em breve o Filho do homem assentado à
Há muitas cenas de eventos da prisão,
julgamento e crucificação de Jesus que se
combinam num mosaico constrangedor.
direita do Poder, e vindo sobre as nuvens
do céu. Então o sumo sacerdote rasgou as
suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que
precisamos ainda de testemunhas? Eis que
bem ouvistes agora a sua blasfêmia. Que
vos parece? E eles, respondendo, disseram:
É réu de morte. Então cuspiram-lhe no
rosto e lhe davam punhadas, e outros o
esbofeteavam, Dizendo: Profetiza-nos,
Cristo, quem é o que te bateu?
(mateus 26:47-68, ênfase adicionada).
[ 23 ]
• A reação de Jesus à tortura que o centurião e seus
homens infligiram a Ele:
E logo os soldados do presidente, conduzindo Jesus à
audiência, reuniram junto dele toda a corte. E, despindo-o, o
cobriram com uma capa de escarlate; E, tecendo uma coroa
de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em
sua mão direita uma cana; e, ajoelhando
diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve,
Rei dos judeus. E, cuspindo nele, tiraram-lhe
a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça. E,
depois de o haverem escarnecido, tiraramlhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o
levaram para ser crucificado (mateus 27:27-31).
• A dignidade com que Jesus reagiu à multidão que,
esperando linchá-lo, exigia Seu sangue — como uma
ovelha, muda antes do abate. As Escrituras não registram
qualquer resposta de Jesus aos clamores da multidão:
João 19:12-16: “A partir deste momento, Pilatos procurava soltá-lo,
mas os judeus clamavam: Se soltas a este, não és amigo de César!
Todo aquele que se faz rei é contra César! […] Fora! Fora! Crucifica-o!
Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os
principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! Então, Pilatos o
entregou para ser crucificado.”
[ 24 ] o poder da cruz
Ap
esc
ap
pe
Mas estes incitaram a multidão no sentido
de que lhes soltasse, de preferência,
Barrabás. Mas Pilatos lhes perguntou: Que
farei, então, deste a quem chamais o rei dos
judeus? Eles, porém, clamavam: Crucifica-o!
Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez ele? E
Apesar de terem se sentado para apostar Seus
escassos bens e assistir ao repulsivo espetáculo,
a preocupação de Jesus era que eles tivessem
perdão e não que Ele pudesse escapar.
eles gritavam cada vez mais: Crucifica-o!
Então, Pilatos, querendo contentar a
multidão, soltou-lhes Barrabás; e, após
mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser
crucificado (marcos 15:11-15; isaías 53:7).
• A misericórdia de Jesus pelo povo
que o rejeitou e pelos soldados que o
crucificaram, incluindo este centurião.
Sua reação? “…Pai, perdoa-lhes…”
(lucas 23:34). Apesar de terem se sentado
para apostar Seus escassos bens e assistir
ao repulsivo espetáculo, a preocupação de
[ 25 ]
Jesus era que eles tivessem perdão e não que Ele pudesse
escapar. Isso é poderoso.
• A reação da criação à atitude do Criador que
carregava os pecados. Como Mateus registra, testemunhas
viram “…o terremoto e tudo o que
se passava…” (27:54). Eles viram o sol
escurecer, sentiram o poder da terra
tremendo sob os seus pés — e viram este
fenômeno sobrenatural repentinamente se
acabar no momento em que Jesus entregou
o Seu espírito em alta voz e morreu.
Este centurião estava compreensivelmente chocado com
os eventos significativos associados à morte de Cristo. Em
toda a sua exposição tão próxima a tortura e morte, ele nunca
tinha visto tais coisas antes, e foi impossível fugir do impacto
que isso lhe causou.
Não há dúvida de que esta expressão [“Verdadeiramente
este era o Filho de Deus!”] foi utilizada no sentido judeu e
de que isso aponta para a alegação que Jesus fez afirmando
ser o Filho de Deus e à qual voltou-se claramente a acusação
feita a Ele. O significado, então, é, claramente, que Ele
deve ter sido o que professava ser; em outras palavras, Ele
Os judeus do primeiro século esperavam um Messias que derrotasse
os romanos opressores. Jesus, entretanto, veio para derrotar o
poder e a opressão do pecado e da morte.
[ 26 ] o poder da cruz
O
pe
co
ter
não era um impostor. Não havia um meiotermo. Jamieson, Fausset and Brown Bible
Commentary, (Comentário bíblico).
O centurião e seu grupo de soldados calejados
pelas batalhas haviam aprendido a lidar
com o medo, mas agora experimentavam o
terror absoluto.
O estudioso da Bíblia, Dr. Herbert
Lockyer, escreve: “Que testemunho
notável Cristo recebeu deste gentio! Quão
admirável foi a homenagem que prestou
àquele que foi crucificado no Gólgota!”
O centurião tinha visto, ouvido e sentido
todos os acontecimentos da crucificação
e da morte de Cristo. Como resultado,
ele e suas tropas “ficaram possuídos de
grande temor”. O centurião e seu grupo de
soldados calejados pelas batalhas haviam
aprendido a lidar com o medo, mas agora
experimentavam o terror absoluto — não
um medo verdadeiro, um temor reverente,
mas, talvez, como o comentarista John
Gill escreveu, o “medo da punição: caso
[ 27 ]
a vingança divina viesse sobre eles com relação ao seu
envolvimento na questão”.
Eles tinham razão para ter medo, pois não havia nada de
comum nestes acontecimentos tão significativos nos quais
estavam envolvidos. Não se tratava de:
• Uma execução qualquer. A
escuridão, o terremoto e o lamento de
Cristo pelo abandono convenceram
os soldados de que esta não era uma
execução qualquer. Os acontecimentos os
apavoraram e provavelmente os fizeram
acreditar que estas coisas comprovavam a ira do céu. Que
percepção! Eles tinham colocado o Filho de Deus à morte!
• Um poder qualquer. Eles não chegaram a esta
conclusão pelo anúncio de algum mensageiro angelical ou
profeta. A conclusão resultou unicamente dos efeitos do
poder de Deus à mostra no Calvário, naquele dia escuro.
• Uma confissão qualquer. A confissão do centurião
nos diz algo eternamente importante: Jesus é visto mais
claramente como o Messias prometido e Filho de Deus
em Sua paixão e morte. Como é interessante que as
instituições religiosas judaicas tenham zombado dele com o
título (vv.41-44) pelo qual um centurião romano agora
o confessava.
[ 28 ] o poder da cruz
To
m
im
po
Matthew Henry escreveu: “As temíveis
manifestações de Deus, em Seu cuidado,
algumas vezes trabalham de modo singular
pela convicção e pelo despertamento de
pecadores. Demonstrou-se isso no terror
Todos que são salvos, são salvos devido à
morte de Jesus na cruz. A cruz começou a agir
imediatamente. E esta obra tem continuado
por dois milênios.
que sobreveio sobre o centurião e os
soldados romanos. Que possamos, com
os olhos da fé, contemplar Cristo e Cristo
crucificado e que sejamos influenciados por
esse grande amor com o qual Ele nos amou.
Nunca a natureza repugnante e os efeitos do
pecado foram tão tremendamente exibidos
como naquele dia quando o amado Filho do
Pai foi pendurado na cruz, sofrendo pelo
pecado, o Justo pelo injusto, para que Ele
pudesse nos levar a Deus. Rendamo-nos
deliberadamente ao Seu serviço.”
[ 29 ]
A tradição da igreja deu a este centurião o nome de
Petrônio. Caso ele tenha sido ganho para a fé em Cristo,
veio a Cristo como pagão, assim como o ladrão na cruz que
creu e foi salvo enquanto Jesus estava pendurado na cruz.
Tão simples e fundamental! Todos que
são salvos, são salvos devido à morte
de Jesus na cruz. A cruz começou sua
obra imediatamente. E esta obra tem
continuado por dois milênios.
A pregação da cruz pode ser tolice
para o mundo, mas àqueles que são salvos
é o poder de Deus. Não é surpresa que
Charles Wesley tenha declarado em seu
hino de louvor pela morte de Cristo, “Incrível amor, como
pode ser? Tu meu Deus foste por mim morrer!”
É essa poderosa cruz e o amor demonstrado naquele
momento que movem os corações da morte para a vida
— mesmo sendo um soldado com o coração cansado e
endurecido pela batalha. A Bíblia afirma que Jesus morreu
na cruz e quem nele crer será salvo e terá a vida eterna
(joão 3.16). Era assim no primeiro século e é hoje também.
Aos pés da cruz, indigentes e príncipes, beatos e pagãos,
conhecidos e desconhecidos e — sim — generais e
centuriões encontram o lugar onde ajoelhar-se e aceitar o
Cristo que morreu por eles — e por nós.
[ 30 ] o poder da cruz
Ao
be
e—
o
qu
Os homens e mulheres que
testemunharam o julgamento, a crucificação,
a morte e a ressurreição de Cristo viram
mais do que as palavras jamais poderiam
Aos pés da cruz indigentes e príncipes,
beatos e pagãos, conhecidos e desconhecidos
e — sim — generais e centuriões encontram
o lugar onde ajoelhar-se e aceitar o Cristo
que morreu por eles — e por nós.
expressar. Eles ouviram coisas que nós só
podemos imaginar. Mas o que viram durante
suas vidas, nós vimos nas Escrituras e o
resultado é incrivelmente o mesmo. Ainda
que não possamos tê-lo visto fisicamente, o
vimos por meio das páginas das Escrituras
e encontramos o solo firme para crermos.
O livro de Romanos explica o fenômeno da
seguinte forma: “…a fé vem pela pregação, e
a pregação, pela palavra de Cristo” (10:17).
“Verdadeiramente este é o Filho de
Deus!” Ouvimos e cremos. Mas não deve
acabar aqui. Devemos ter paixão ardente por
conhecê-lo — a mesma paixão do apóstolo
Paulo, que escreveu que o seu objetivo de
[ 31 ]
vida era “…o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a
comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele
na sua morte” (filipenses 3:10).
Que o mesmo desejo arda também em nossos corações,
que possamos verdadeiramente conhecer aquele que nos
amou e se entregou por nós.
[ 32 ] o poder da cruz
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