UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC CURSO DE PEDAGOGIA CRISTIANO CANABARRO FORTE DIFERENTES OLHARES E CONCEPÇÕES SOBRE A FORMA DE ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO MUSICAL NA FORMAÇÃO DOS ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA DA UNESC CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009 CRISTIANO CANABARRO FORTE DIFERENTES OLHARES E CONCEPÇÕES SOBRE A FORMA DE ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO MUSICAL NA FORMAÇÃO DOS ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA DA UNESC Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Licenciado no Curso de Pedagogia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Prof.ª MSc. Aurélia Regina de Souza Honorato CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009 2 CRISTIANO CANABARRO FORTE DIFERENTES OLHARES E CONCEPÇÕES SOBRE A FORMA DE ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO MUSICAL NA FORMAÇÃO DOS ACADÊMICOS DE PEDAGOGIA DA UNESC Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Licenciado, no Curso de Pedagogia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em formação dos profissionais da Educação Criciúma, 10 de dezembro de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof.ª Aurélia Regina de Souza Honorato – Mestre (UNESC) Orientadora Profª. Édina Regina Baumer - Mestre - (UNESC) Profª. Maria Valkíria Zanette - Mestre - (UNESC) 3 Dedico este Trabalho à todas as pessoas do Bem, que nas suas ações não medem esforços para beneficiar o coletivo. Essas, independentemente de suas profissões ou titulações, são os verdadeiros educadores. Sem dúvida, umas delas é Leoni Canabarro Forte. 4 AGRADECIMENTOS Meus primeiros agradecimentos são aos colegas e professoras do Curso de Pedagogia, que nos momentos mais difíceis não me deixaram desistir, entre elas: Elaine, Maiara, Laís, Karina, Adiles, Rose, Gislene, Samira e todos os demais que participaram desse processo. À Aurélia por acreditar no tema do TCC e manter-me sempre motivado e tranquilo durante o período de orientações. Aos membros do Centro Acadêmico Livre de Pedagogia Paulo Freire na gestão 2005/2006: Daniel, Dangela, Daniela e Gisele, que com muito trabalho, fizeram a diferença em suas ações, representando os acadêmicos da Pedagogia/UNESC e que durante esse período, nos propiciaram aprendizados que serão significativos para nossas vidas. Agradeço também ao Neto, Salésio, Alaíde, Fernando, Zuleide, Elpídeo e Geni, por me acolherem em Santa Catarina e sem que mesmo percebessem, me direcionaram para a Pedagogia. Finalizando, meus agradecimentos especiais à Jadna, Nena, Mauro e Fabi, que ao tecerem elogios sobre meu compromisso e postura como educador, sempre me fizeram acreditar que todo o esforço e dedicação seriam válidos. Por intermédio dessa música gostaria de prestar uma homenagem à todas essas pessoas que fazem valer a mensagem dessa canção tornando todos os dias um dia especial. DIA ESPECIAL1 Se alguém, já lhe deu a mão e não pediu mais nada em troca, pense bem, pois é um dia especial. Eu sei não é sempre que a gente encontra alguém que faça bem e nos leva desse temporal. O amor é maior que tudo, do que todos, até a dor se vai quando o olhar é natural. [...] Mas te vejo e sinto o brilho desse olhar, que me acalma, me traz força pra encarar tudo. 1 Música Dia Especial da banda Cidadão Quem. Gravada nos álbuns: Spermatozoom de 1998, Soma no ano de 2000 e recentemente no álbum Cidadão Quem no Teatro São Pedro, lançado em 2004. 5 “Há de cantar, sobre a nossa vida as coisas mais bonitas nesse caminhar. Há de aprender, com as nossas falhas, isso é o que valha pra saber viver. Ando assim, catando estrelas pro meu céu, colorindo o caminho que eu seguir.” Jorge Nando2 2 Trecho da música Catando Estrelas do compositor Jorge Nando. Gravada no álbum Alto Astral, lançado em 2006. 6 RESUMO Procurando perceber diferentes olhares e concepções sobre a forma de abordagem da Educação Musical na formação dos acadêmicos do Curso de Pedagogia da UNESC, o trabalho teve como objetivos identificar qual o espaço da Educação Musical na formação desses acadêmicos, de que maneira a música foi abordada durante o curso e se o conhecimento obtido foi suficiente para que os professores pudessem oferecer oportunidades para o desenvolvimento da percepção musical de seus alunos. No referencial teórico foram abordados temas relacionados à Pedagogia/Educação, Curso de Pedagogia da Unesc, Formação dos Pedagogos e o Ensino da Música. Realizou-se também uma pesquisa de campo por meio de questionário, envolvendo acadêmicos e egressos do Curso de Pedagogia da UNESC, pessoas diretamente ligadas à formação desses pedagogos, como professora da disciplina do Curso de Pedagogia que tem a música inserida no contexto de suas aulas, a Coordenadora do Curso e o Reitor da Universidade, além da participação de dois egressos do Curso de Pedagogia à Distância da UDESC e a contribuição de duas pessoas que tiveram a música na escola, no final da década de sessenta. Com o intuito de enriquecer a pesquisa, buscou-se explorar uma maior abrangência entre os entrevistados e por meio da análise de dados, propor um diálogo entre eles e os conhecimentos científicos, à luz do referencial teórico. Como resultado desse trabalho, percebeu-se que o tema ainda é novo e até então, pouco questionado, mas que ao ser levantada a questão com os entrevistados, o diálogo entre educandos e educadores do Curso de Pedagogia, demonstrou a relevância da pesquisa sobre o tema, verificando o interesse de todos pesquisados para que a música se faça presente de forma mais intensificada durante o curso, trazendo uma abordagem mais específica, porém ampla, e por meio de um aprendizado significativo, estar inserida nas práticas em sala de aula e inevitavelmente, nas vidas dos egressos do Curso de Pedagogia da UNESC. Palavras-chave: Pedagogia. Formação do professor. Educação Musical 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACAFE - Associação Catarinense das Fundações Educacionais ESEDE - Escola Superior de Desportos FACIECRI - Faculdade de Ciências e Educação de Criciúma FUCRI - Fundação Educacional de Criciúma ONG’s - Organizações não-governamentais PPP - Projeto Político Pedagógico TCC - Trabalho de Conclusão de Curso UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9 2 PEDAGOGIA/EDUCAÇÃO....................................................................................11 2.1 Curso de Pedagogia da Unesc.........................................................................12 3 FORMAÇÃO DOS PEDAGOGOS .........................................................................14 4 MÚSICA .................................................................................................................18 4.1 Ensino da Música ..............................................................................................19 5 METODOLOGIA ....................................................................................................24 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.......................................................26 6.1 Conversa com os Egressos e Acadêmicos da Pedagogia ............................27 6.2 Conversa com os Formadores no Curso de Pedagogia ................................36 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................43 REFERÊNCIAS.........................................................................................................45 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ....................................................................47 ANEXO .....................................................................................................................48 9 1 INTRODUÇÃO Atuando como músico profissional há aproximadamente 20 anos, tive a oportunidade de ter o contato com a Educação Musical logo nos anos iniciais de minha trajetória, mas minhas primeiras experiências na área de musicalização ocorreram nos trabalhos, como voluntário, em projetos sociais, com grupos de crianças. Alguns anos depois destas experiências, recebi o convite para atuar como professor em uma escola particular, que possui um diferencial interessante, que é a inclusão da música na matriz curricular do Ensino Fundamental e nas atividades da Educação Infantil. Este trabalho tornou-se, para mim, muito significativo pela abrangência e envolvimento com diferentes crianças e jovens em diversas faixas etárias, podendo, desta forma, observar o processo de desenvolvimento delas. Sentindo a necessidade de ampliar os conhecimentos pedagógicos específicos para esse público, optei pela graduação na área da Pedagogia, pois o curso vinha ao encontro dos conteúdos que buscava para um maior entendimento sobre as concepções de educação, de infância e o complexo processo de desenvolvimento das crianças. No período entre os anos de 2005 e 2009, como acadêmico do Curso de Pedagogia da UNESC e também como músico e profissional na área de Educação Musical, senti a necessidade de propor uma pesquisa, investigando as diferentes concepções, formas de abordagem, espaço e contribuições que o Curso de Pedagogia vem propiciando para que seus acadêmicos possam ampliar seus conhecimentos em Educação Musical, levando em consideração, principalmente, a necessidade de um maior aprofundamento deste tema, pois a música deve se fazer presente no cotidiano das salas de aula onde estes atuarão como docentes. Ao consultar os Trabalhos de Conclusão do Curso de Pedagogia da UNESC, percebi que os temas direcionados ao tema Música, dão ênfase à importância da utilização da música e dos benefícios que ela traz para a escola e para o processo de aprendizagem escolar. Percebi também que os textos destas pesquisas, trazem discursos teóricos sobre a música que muitas vezes não condizem com a experiência que os acadêmicos e pedagogos3 formados tiveram em seu processo de formação. 10 Evidenciando a falta de embasamento mais específico e efetivo sobre a Educação Musical na formação dos pedagogos, esta pesquisa se diferencia dos demais trabalhos vistos, por enfocar o Curso de Pedagogia da UNESC, responsável por boa parte da formação de profissionais pedagogos da região sul de Santa Catarina, fato este que amplia a necessidade de questionar e propor uma reflexão sobre o assunto. O Trabalho foi organizado em capítulos e sub-capítulos abordando os temas: Pedagogia/Educação, Curso de Pedagogia da UNESC, Formação dos Pedagogos, Música e Ensino da Música. Tendo como linha de pesquisa a formação dos profissionais da educação e como eixo temático a formação inicial destes profissionais, esta pesquisa pretende contribuir com o Curso de Pedagogia e com diferentes pesquisadores e professores que se interessam pelo tema Educação Musical, pois muito se ouve sobre as dificuldades que os professores da Educação Básica sentem por não se verem habilitados para abordar a linguagem musical em suas aulas, e também sobre o difícil acesso a este tema, tanto nas universidades como nas escolas. É comum observar que a música é utilizada por grande parte das instituições de educação, como uma ferramenta que auxilia, distrai, embeleza os eventos realizados pelas escolas. A música torna-se uma atração que, na maioria das vezes, é escolhida ou criada pelos professores e/ou gestores, que propõem cansativos ensaios às crianças, que acabam apresentando mecanicamente todas as “tarefas” musicais definidas e apresentam um produto, muitas vezes sem significado para elas. Também nessas apresentações torna-se uma rotina em que, professores utilizam músicas que não são analisadas e discutidas pelas crianças, dando sequência a todo o ciclo comercial existente em nosso meio. Este trabalho de pesquisa tem como foco principal a necessidade de analisar, questionar e sugerir uma nova proposta que possa destacar a importância da presença da Educação Musical na formação dos pedagogos, buscando estimular a sensibilidade sobre as diversas possibilidades sonoras e a visão crítica da música que está presente em nosso cotidiano. 3 Uso o termo no masculino, mas busco representar no decorrer do trabalho, homens e mulheres. 11 2 PEDAGOGIA/EDUCAÇÃO Ao abordar o termo e o sentido da palavra Pedagogia cuja origem se dá na Grécia antiga, significando paidós (criança) e agogé (condução), percebe-se a estreita relação com o sentido de educar, no qual também nos é apresentado em diferentes literaturas, o conceito de Pedagogia como a Ciência da Educação. Cambi (1999, p. 21) diz que a história da Pedagogia confunde-se com a história da Educação. Mesmo antes da existência formal da instituição-escola, sabemos que os conhecimentos eram transmitidos de geração em geração, mas a primeira, no seu sentido próprio, nasce entre os séculos XVIII e XIX, elaborada por pessoas ligadas à escola e empenhadas em organizar uma instituição cada vez mais central na sociedade moderna, preocupando-se com aspectos atuais da educação da época que era voltada para a formação de técnicos e cidadãos. Com uma sociedade que nos influencia por meio de diferentes convívios, percebemos que a educação não está vinculada apenas ao espaço escolar, esse embutido de regras, padrões e direcionamentos curriculares que podem estar encobrindo muitas vezes tendências e interesses não explícitos, mas que revelam direcionamentos vindos de classes dominantes. Cambi (1999, p. 30) destaca que não apenas as instituições educativas interferem no comportamento das pessoas, mas também meios sociais como a família, o trabalho, associações, grupos religiosos, grupos esportivos e por que não citar as rodas de conversa no “botequim”, entre outras tantas formas de mobilizar e formar opinião em nosso meio. No recente período da modernidade, marcado pelo desenvolvimento tecnológico e científico, esse momento histórico traz consigo a revolução educativa, tendo como alvo o pensamento científico e o controle social. Dessa forma “[...] redefinindo os processos educativos (mais sociais e mais científicos) e seus objetivos, sublinhando suas saídas aporéticas: dando ênfase a conformação e liberação, emancipação e controle, produtividade e livre formação humana.” (CAMBI, 1999, p.40). A Pedagogia que em seu período inicial foi dominada pelos homens, demonstra no decorrer da história o reflexo da emancipação feminina por meio da atual feminização desse meio. As mulheres que até então tinham como tradição 12 funções ligadas aos cuidados com o lar e a família, hoje são maioria no espaço da Educação Infantil e Ensino Fundamental I (CAMBI, 1999, p.939), assunto este que traz inúmeros debates observando as transformações histórico-sociais e culturais nas quais estamos inseridos. Tendo como foco as áreas de atuação do profissional da pedagogia, percebese que o pedagogo não está apenas inserido no ambiente escolar, pois a profissão está em constante expansão, tanto no setor público como no privado. Conforme as habilitações em sua graduação, o licenciado além de trabalhar como professor na Educação Infantil, nas séries/anos iniciais, do Ensino Fundamental, nas disciplinas pedagógicas dos Cursos de Ensino Médio, na participação em atividades da Gestão de Processos Educativos e na Educação de Jovens e Adultos, o profissional muitas vezes vem sendo requisitado para trabalhar em empresas que não são diretamente ligadas a educação, mas que necessitam do perfil do pedagogo para funções relacionadas a assessoria pedagógica, visando os processos de planejamento, capacitação, treinamento, atualização e desenvolvimento do corpo funcional da empresa, serviços de difusão cultural, como jornais, museus, televisão, editoras entre outros, ou mesmo na prestação de serviço à projetos educativos nas áreas hospitalares e do terceiro setor (ONG’s). 2.1 Curso de Pedagogia da Unesc Da mesma forma que a história da Pedagogia confunde-se com a história da educação, a história do Curso de Pedagogia da UNESC se confunde com a história da UNESC, pois é um dos cursos em atividade desde a sua fundação há mais de 40 anos. A até então FUCRI, que foi criada pela lei n. 697, de 22 de junho de 1968, com cursos voltados para o Magistério, torna-se a mantenedora da primeira escola de nível superior criada no Sul de Santa Catarina. Atualmente o Curso de Pedagogia da UNESC em sua Matriz Curricular 9.3, habilita os licenciados para atuarem como professores na Educação Infantil, nas séries/anos iniciais do Ensino Fundamental, nas disciplinas pedagógicas dos Cursos de Ensino Médio, na participação em atividades da Gestão de Processos Educativos e na Educação de Jovens e Adultos. 13 Conforme pesquisa realizada no site da instituição4, os acadêmicos que estão cursando Pedagogia na UNESC, estudam os fundamentos da educação em disciplinas como Psicologia, Didática, Filosofia, Sociologia e os saberes específicos das diferentes áreas de conhecimento como: Ciências, Artes, História, Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, Educação Física, processo de Alfabetização e na Educação de Jovens e Adultos. As disciplinas são lecionadas por um corpo docente composto de vinte e três professores(as) envolvendo nesse processo de aprendizagem em torno de 158 acadêmicos(as) que frequentam regularmente as aulas (Dados: SAU/UNESC, out. 2009). Na Resolução CNE/CP 1/2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia-licenciatura, no parágrafo único do Art. 4º, é citado no inciso VI, que estarão presentes na formação de professores, as atividades docentes nas quais estes terão os conhecimentos pedagógicos para ensinar: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano. Na Matriz Curricular 9.3, atualmente em vigor no Curso de Pedagogia da UNESC (2008), a música esta inserida na proposta da disciplina de Fundamentos das Linguagens Artísticas, que tem como um dos objetivos vivenciar experiências estéticas nas diferentes linguagens da arte de forma integrada: literatura, artes visuais (desenho, pintura, cinema, escultura), música, dança e teatro. Como a disciplina é trabalhada com 72 h/a semestre, ficam os questionamentos: É possível, neste espaço de tempo dedicado à disciplina, o acadêmico ter experiências significativas em música? Estas experiências dão possibilidades aos futuros pedagogos apropriarem-se de conhecimentos em Educação Musical, de forma de trabalhá-los de modo diferente do que vemos hoje nas escolas? Dados fornecidos pela Coordenação do Curso de Pedagogia, disponível no Sistema Matrícula Unesc, out. 2009. 4 14 3 FORMAÇÃO DOS PEDAGOGOS A educação, que tem gerado diversas discussões e críticas na atualidade, ainda tem uma grande dificuldade em encontrar meios de interação com as diversas linguagens existentes na sociedade. Em meio às mudanças constantes incluídas no contexto da globalização, encontram-se os professores, tentando reencontrar suas identidades, ou mesmo, reinventando um novo perfil e espaço em uma sociedade que passa por um congestionamento de informações, mas que ao mesmo tempo, tem dificuldades em filtrá-las e transformá-las em conhecimento, ou direcioná-las para algo positivo e benéfico ao seu meio. Como mencionado no capítulo anterior, a educação não acontece somente na atividade profissional do professor, mas em tudo que nos rodeia, pois todos influenciam e educam, de maneira positiva, ou não. Em realidade, aquele terrível homem teórico dá lugar a um simples intérprete que nunca tem a última palavra e que, por isso mesmo, é cada vez menos solicitado como expert pelo homem comum. Quem pode dizer o que é arte e o que não é? O que é verdadeiro e o que não é? Sofremos uma constante desilusão ao irem-se desmentindo as teorias, as metas e o que nos dizem as pessoas (VILLA, 1998, p. 33). O até então professor visto como um sacerdote e dono da verdade, passa a ser para o aluno, mais uma fonte em sua rede de informações, “O fato é que o professorado hoje centre-se mais nos meios e na técnica, que no fim ou no objeto do conhecimento em si.” (VILLA, 1998, p. 36). Observando sobre outra perspectiva, o professor destaca-se na sociedade, pelo fato de influenciar diretamente através de seu contato pessoal. Conforme o autor supracitado, diferentemente de profissões que delegam tarefas a serem executadas por um plano estudado previamente, ele tem diante de si seus alunos, que exigem atuações imediatas, diante de situações criadas durante esse contato, exigindo mudanças em seu planejamento, para que possa propiciar momentos de aprendizagem. É comum falar na necessidade de mudanças, posturas e propostas inovadoras, mas o discurso tem a dificuldade de chegar na prática pedagógica, devido a grandes controvérsias dos valores propostos pela sociedade, que valoriza o consumo e a forma simplista e descartável de apreciar, explorar e não questionar o 15 cotidiano, fato este que é culturalmente reproduzido pelas famílias e observado no “[...] interesse credencialista dos próprios pais, mais preocupados que seus filhos consigam o melhor diploma possível no menor tempo, do que em dar um sentido à comunidade educativa.” (PETRAS 1996, et al VILLA, 1998, p. 38). Em meio a esse impasse relacionado aos papéis ou compromissos da família e da escola, o professor em sua prática diária, convive com o centro das atenções, o educando. Dessa forma, torna-se de grande importância para o professor, estar atento às situações que aparecem durante as aulas e buscar as respostas não só para as questões que envolvem as disciplinas escolares, mas ao conjunto de fatores que estão contidos durante a prática docente, pois muitos alunos vêem no professor uma referência, sinalizando a responsabilidade e o compromisso inseridos na profissão docente, muitas vezes não suficientemente valorizada em nossa sociedade. Estar disponível é estar sensível aos chamamentos que nos chegam, aos sinais mais diversos que nos apelam, ao canto do pássaro, à chuva que cai ou que se anuncia na nuvem escura, ao riso manso da inocência, à cara carrancuda da desaprovação, aos braços que se abrem para acolher [...] (FREIRE, 1996, p. 134) Porém, esse discurso também precisa estar inserido na prática dos egressos. “Muitas vezes, o discurso pedagógico é prontamente assimilado, mas não chega a revitalizar a prática, outras vezes provoca resistência das professoras que, fechada a porta da sala de aula, voltam às práticas consolidadas.” (ESTEBAN, 2002, p.13) Para Vigotsky (1988), esse mesmo sujeito não é apenas ativo, mas interativo, pois estabelece relações intra e interpessoais e nesse processo com o outro toma consciência para realizar suas decisões que são constantes a todo o momento. O professor torna-se mediador problematizando, criando situações e organizando a comunicação entre o grupo. O desequilíbrio dos alunos, causado pelas dúvidas que poderão surgir, será fonte de mobilização para buscar as respostas. Fazendo um adendo ao segmento da Educação Musical, os professores também devem estar atentos ao seu papel de transformadores, pois as tendências musicais impostas pela mídia estarão sempre presentes, exercendo a pressão para que conteúdos de fácil assimilação e consumo sejam absorvidos e novas 16 concepções que utilizem do intelecto possam estar cada vez mais distante da população. Atualmente, percebe-se que os meios de comunicação exercem uma forte influência em grande parte da sociedade, interferindo especialmente no comportamento das crianças por meio dos ídolos criados e pelo modismo que se altera frequentemente conforme a necessidade do mercado. Com o segmento musical não é diferente, pois de um lado muitos dos sucessos que são indicados pela mídia, acabam muitas vezes não sendo percebidos pelos professores que também reproduzem essas tendências musicais em sala de aula. Mesmo quando há um posicionamento crítico por parte dos professores, esses questionamentos acabam sendo abafados pela forte influência que os meios de comunicação exercem durante sua programação, tendo como agravante o fato das próprias famílias reproduzirem e participarem desse ciclo que acaba tornando-se cultural. Levando para o campo acadêmico, o pedagogo em formação, ao ter o contato com a Educação Musical durante o curso, se apropria desse conhecimento e por meio dele, amplia sua visão e concepção sobre os diferentes aspectos relacionados a música, pois como afirma Nóvoa(1997, apud BELLOCHIO, 2004, p. 125) “é impossível separar o eu profissional do eu pessoal”, ou seja, esse conhecimento estará inserido em suas práticas educacionais. A mudança educacional depende dos professores e sua formação. Depende também das transformações das práticas educativas em sala de aula. Mas hoje em dia nenhuma inovação pode passar ao lado de uma mudança ao nível das organizações escolares e do seu funcionamento. Por isso, falar de formação de professores é falar de um investimento (NÓVOA, 1995, apud BELLOCHIO, 2004 p. 127). Dessa forma, tanto acadêmicos quanto os formadores inseridos nas Universidades, devem estar atentos quanto às realidades vividas em seus ambientes, não esquecendo que o mesmo currículo questionado nos estudos, está diretamente ligado a sua própria formação como acadêmico ou mesmo na prática dos formadores. Destacar que o pedagogo deva ser um profissional preocupado com as transformações em nosso meio, é discurso inserido nos trabalhos acadêmicos, nas explanações dos professores e nos materiais didáticos utilizados na formação. Portanto, este profissional deve fazer valer o discurso, por meio de ações concretas 17 em sua prática diária, valorizando assim, sua titulação de pedagogo e beneficiando todas as pessoas ligadas diretamente à infinita abrangência social desta profissão. 18 4 MÚSICA A difícil tarefa de tentar definir o termo música pode ser destacada por meio da consulta ao Novo Dicionário da Língua Portuguesa: “Arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido” ou mesmo “qualquer conjunto de sons”. Outras definições como: “Arte de combinar sons e formar com eles melodia e harmonia.” (PANNAIN, 1975, apud BRITO, 2003, p.26) ou “A música é uma linguagem, posto que é um sistema de signos.” (KOELLREUTTER, apud BRITO, 2003, p.26) Porém, formatar um conceito para música parece complexo e de certa forma, contrastante com o objetivo dessa pesquisa, pois a exemplo de todos os rótulos e nomenclaturas que foram criados para alguns segmentos ou estilos, como por exemplo, o rock (Heavy Metal, Deth Metal, Black Metal, Rockabilly...), é muito comum classificar conceitos para facilitar inclusive o comércio. John Cage (1985, apud BRITO, 2003, p. 27) que realizou diversas pesquisas sonoras e silenciosas (se é que pode-se dizer que exista silêncio), colocando questionamentos sobre o que é som, silêncio e ruído, destaca muito bem a polêmica tarefa de definir música: [...] Com sua recusa a qualquer predeterminação em música, propõe o imprevisível como lema, um exercício de liberdade que ele gostaria de ver estendido à própria vida, pois ‘tudo o que fazemos’ (todos os sons, ruídos e não sons incluídos) é música. A música pode ser entendida ou percebida por infinitas concepções, pois dependendo das vivências sonoras, o indivíduo mostra-se aberto ou não às diversas fontes musicais existentes. Também ao ser percebida como uma linguagem e incluída no segmento das artes, propõe uma característica de expressão artística, expondo ou transcendendo o que se internaliza. De acordo com Cage (1985, apud BRITO, 2003) a construção musical se dá no nível interno, gerando sentidos e significados. “Nossa escuta guia-se por limites impostos pela cultura, ou seja, o território de ouvir tem relação direta com os sons de nosso entorno, sejam eles musicais ou não.” (BRITO, 2003, p. 17) 19 Na difícil e incansável tentativa de definir um conceito para música, percebese que cada manifestação criativa sonora, desencadeia inimagináveis possibilidades que indicarão novos conceitos. Infeliz será o dia em que um conceito conclusivo conseguirá definir o que é Música, pois talvez sua mágica e misteriosa essência, não terá mais sentido. 4.1 Ensino da Música Sabendo que existem e coexistem no mundo diferentes infâncias, cabe as nossas escolas e educadores respeitar e valorizar as potencialidades de cada criança e também suas possíveis limitações. Levando em consideração as diversas linguagens a serem desenvolvidas, entre elas a música, que faz parte da história da humanidade, observa-se que a linguagem musical é muito enfatizada nas atividades recreativas ou nas festas comemorativas, não levando em consideração a riqueza contida nas possibilidades de exploração e experimentação dos sons de forma significativa. A música deve ser considerada uma verdadeira 'linguagem de expressão', parte integrante da formação global da criança. Deverá ela estar colaborando no desenvolvimento dos processos de aquisição do conhecimento, sensibilidade, criatividade, sociabilidade e gosto artístico. Caso contrário perder-se-á na forma de simples atividade mecânica, com a mera reprodução de cantos, sem a interação da criança com o verdadeiro momento de criação musical. (SILVA, 1992, p. 88). Por meio de uma visão mais contemporânea, podemos perceber que a música está inserida em todas as situações em que vivemos, pois tanto pelo som quanto pelo silêncio5, e conforme a percepção sobre os mesmos, perceberemos ou não, as manifestações sonoras musicais ali contidas. Estas poderão ser produzidas não só com instrumentos musicais convencionais ou alternativos, mas também por todos os objetos ou elementos do nosso meio. A exemplo disso podemos citar uma experiência na qual situações distintas utilizando os mesmos sons, podem ser interpretadas diferentemente. Na 5 Grifo do pesquisador. Considero o silêncio algo inexistente e tema para uma longa discussão. 20 primeira hipótese, um funcionário da manutenção de uma escola é chamado a sala de aula para consertar uma cadeira e durante esse conserto, ele realiza uma sequência de batidas com seu martelo nessa cadeira. Na segunda hipótese, se ao invés de citarmos o conserto da cadeira, falássemos aos alunos que um funcionário da manutenção viria realizar um concerto tocando seu martelo na cadeira, perceberíamos que mesmo executando a idêntica sequência de batidas do exemplo anterior, teríamos agora nessa sonoridade um sentido musical. Segundo Schafer (1991, p. 34) “A palavra que vale é intenção. Faz uma grande diferença se um som é produzido para ser ouvido, ou não”. Através da música, nos tornamos mais sensíveis e receptivos às diferentes emoções. A música como expressão cultural, sinaliza os costumes de um povo trazendo várias características que identificam muito do folclore, mas também traços relevantes sobre as relações entre seus integrantes. Figueiredo (2007, p. 7) destaca que: “O papel da Educação Musical estaria relacionado ao desenvolvimento de estratégias que estimulassem o estabelecimento de referenciais que pudessem ser aplicados à música de diversos contextos.” A possibilidade de estimular a percepção sonora passa a ser também uma forma de conhecimento e por meio dessa sensibilização, os pedagogos no contato diário com os alunos, podem fazer do ambiente escolar uma infinita fonte de pesquisa para o desenvolvimento musical e que muitas vezes não é exteriorizado, devido à expectativa que se tem perante a execução de instrumentos convencionais. “Portanto, a execução não é senão o efeito exterior de uma constante atividade musical interior”. (HOWARD, 1984, p. 106-107). Para uma grande parte da população, é muito comum perceber a música de uma forma passiva, acreditando não ser possível um envolvimento com a prática musical, pois apenas pessoas consideradas com uma pré-disposição ou como muitos falam, uma espécie de “dom musical” para tocar instrumentos ou cantar, estão aptas a ousar, tendo o contato de forma ativa com a arte da música, deixando de ser apenas ouvintes da mesma. Figueiredo (2007) salienta que tornou-se natural as pessoas não terem conhecimentos sobre as linguagens artísticas e quando a escola também não propicia essa possibilidade de conhecimento, temos que ir em busca das instituições privadas que cobram mensalidades e essas possivelmente não estão acessíveis a grande parte da população. Desta forma, essa é mais uma 21 situação que distancia as pessoas da possibilidade de utilizar a música como linguagem. Citando a música Rep6 de Gilberto Gil: “O povo sabe o que quer mas o povo também quer o que não sabe”, percebe-se que isso realmente acontece, pois muitas vezes não nos é oportunizado, de forma acessível, contato com muitas das diversas manifestações artísticas culturais existentes, não só no Brasil, mas como em outras partes do mundo. Desta forma, a mídia ao difundir culturas massificadas e muitas vezes importadas, nos anula da possibilidade de uma nova perspectiva musical, pois da maneira com que a música vem influenciando grande parte das pessoas, principalmente ditando regras de comportamento, acabam promovendo apenas o que é de mais fácil absorção, nas quais letras superficiais, previsíveis e muitas vezes vulgares ou preconceituosas, são cantadas sem a menor noção de seu conteúdo. Por um lado, chama a atenção o grande potencial e criatividade musical do nosso povo, dizendo que “o povo brasileiro é muito musical”. Por outro lado, não temos conseguido ver a musicalidade emergir no espaço que por excelência poderia ampliá-la mais: a escola (BEYER, 1999, apud BELLOCHIO, 2004, p. 127). Um dos interventores dessa ignorância musical é o currículo escolar, que segundo Goodson (2007), tem o reflexo das concepções das classes dominantes e dessa forma, acaba sendo um meio de gerenciar todo o sistema educacional, tendo o controle sobre as direções que a sociedade deve tomar, principalmente no “capital cultural”, que está predominantemente nas mãos de uma parte da sociedade. A sociedade ou a parte dominante dela expressa sua visão da verdade por meio dos currículos e dessa maneira, define o lugar de professores, alunos, hierarquias e fomentam um mercado milionário da educação. “Há uma super alfabetização e matematização de nossas crianças. Nossa escola superestima o domínio da linguagem escrita porque esquece outras linguagens. Esquece outras dimensões” (ARROYO, 1994, p. 92). Em uma nova perspectiva de currículo, as pessoas deveriam estar engajadas em suas próprias missões de vida, o que não se percebe nas atuais concepções de currículos, pois tendo como exemplo a Educação Musical, não existe 6 Música Rep do compositor Gilberto Gil. Gravada no álbum O Sol de Oslo que foi lançado em 1998. 22 este espaço para que o aluno desenvolva um nova perspectiva, diferente das que lhes é apresentada e praticamente inexistente, no que se refere ao aspecto de criação própria ou mesmo em grupo. “No novo futuro social, devemos esperar que o currículo comprometa com as missões, paixões e propósitos que as articulam em suas vidas”. (GOODSON, 2007 p. 251). Outro indicativo sobre a importância de estarmos conscientes sobre a necessidade de uma maior atenção à música na formação dos pedagogos, é o fato de que em agosto de 2008 foi aprovado o projeto que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionando a Lei 11.769, que fala sobre a obrigatoriedade do Ensino da Música na Educação Básica. O Art. 26, indica que os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. O § 2º estabelece que o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos, afirmando no § 6o que a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação determinava a obrigatoriedade do ensino de Arte, mas não especificava o conteúdo da disciplina, permitindo uma multiplicidade de interpretações. Dessa forma, se faz necessário uma ampliação dos conhecimentos sobre a Educação Musical para que realmente essas mudanças sejam benéficas e significativas, assegurando que concepções contemporâneas sejam contempladas, valorizando os esforços para a música voltar a fazer parte do currículo escolar, a exemplo do que acontecia no século passado entre as décadas de 30 e 70, nas quais a música era disciplina obrigatória. Com a intervenção do governo no período da Ditadura, que com sua censura recriminava as manifestações artísticas, acabou extinguindo a música dos currículos das escolas brasileiras. Tendo como base o PPP do Curso de Pedagogia da UNESC (2006)7, temos no perfil do pedagogo o compromisso de ter domínio da tecnologia educacional e das metodologias de ensino nas diferentes concepções. Como perfil do acadêmico de Pedagogia da UNESC, um sujeito ativo e aberto para o novo. Dados fornecidos pela Coordenação do Curso de Pedagogia, disponível no Sistema Matrícula Unesc, out. 2009. 7 23 Desta forma, usando como exemplo a disciplina de Artes, podemos prever que necessitamos explorar práticas diferentes das utilizadas frequentemente nas escolas, que evidenciam os trabalhos manuais de desenho, pinturas e colagens, ou mesmo apresentações teatrais ou musicais, que acabam valorizando o produto final, por meio de apresentações para finalidades festivas, dando continuidade a abordagens tradicionais e questionáveis no espaço artístico cultural do meio escolar. Sendo assim, limitam-se às inúmeras manifestações artísticas que poderiam estar inseridas em vários momentos do nosso cotidiano e que fazem parte de uma concepção mais ampla sobre a Arte-Educação. 24 5 METODOLOGIA Esta pesquisa é de natureza pura, que segundo Silva; Menezes (2001 apud ACAFE, 2008) entende-se como um estudo que não tem como objetivo gerar novos conhecimentos para o avanço da ciência, mas sim buscar interesses universais para seu desenvolvimento. É uma pesquisa de abordagem qualitativa, buscando não avaliar a quantidade por meio de números que visam interpretar resultados e, sim, pela preocupação com a observação dos significados e suas diversas interpretações (CHIZOTTI, 1998, apud ACAFE, 2008), analisando em vários aspectos os dados pesquisados, possibilitando a subjetividade e respeitando as mudanças que poderão estar inseridas no comportamento dos sujeitos. Quanto aos objetivos, conforme a classificação de Gil (1991apud ACAFE, 2008), é uma pesquisa exploratória e descritiva. Exploratória porque trabalha a ligação entre as consultas bibliográficas e as experiências descritas pelos entrevistados, evidenciando a problematização e dessa forma, estimulando a compreensão das situações e assuntos propostos. Pelo fato da coleta de dados ser realizada por meio de questionário, as características descritivas apontam um perfil para determinado objeto de pesquisa, trazendo à tona os questionamentos sugeridos pela pesquisa. Os procedimentos técnicos utilizados são bibliográficos e documentais que foram feitos a partir de material escrito e já publicado em livros ou fontes dessa natureza científica, ou mesmo pelas fontes da internet com referências dignas de confiança, analisando documentos, leis e registros documentais de entidades (GIL, 1991, SOUZA; SOUZA, 2006 apud ACAFE, 2008). Na pesquisa de campo, foi realizado o levantamento de dados, por meio de questionário, possibilitando ao entrevistado respostas abertas, garantindo uma maior liberdade de expressão. Os entrevistados foram acadêmicos e egressos da UNESC, pessoas diretamente ligadas à formação desses pedagogos, como a professora da disciplina do Curso de Pedagogia que tem a música inserida no contexto de suas aulas, a Coordenadora do Curso e o Reitor da Universidade. Buscando também uma maior abrangência e como forma de enriquecer a pesquisa, contou com a participação de dois egressos do Curso de Pedagogia à Distância da UDESC e a contribuição muito significativa de 25 duas pessoas que tiveram a música na escola no final da década de sessenta, totalizando dezessete entrevistados. Para que a pesquisa fosse mais ampla com relação à concepção musical, dentre os entrevistados foram observados quais desses não tiveram um contato direto com a prática musical, em atividades como músicos ou dançarinos e os que tiveram experiências no meio artístico da música. Os dados pesquisados foram analisados e relacionados com base no referencial teórico construído durante a pesquisa, fazendo articulações, interpretações e inevitavelmente, a partir de minhas experiências na prática docente na área da Educação Musical, esse estudo pretende contribuir através das análises e conclusões para que haja uma atenção especial para a necessidade de uma efetiva abordagem sobre a música na formação dos pedagogos. 26 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS A análise de dados inicia com o relato do casal Salésio Goulart Nunes e Alaíde Maciel Nunes, residentes em Araranguá/SC e que tiveram o contato com a Educação Musical na Educação Básica, durante a década de 1960, quando a música era obrigatória na escola. Segundo Bellochio (2004, p. 98), entre ás décadas de 1930 e 1950, a Educação Musical se faz presente na escola pelas mãos de Heitor Villa Lobos, grande incentivador desse movimento. A partir do Decreto 18.890/1931 consolida-se o modelo de canto orfeônico obrigatório nas escolas brasileiras. Porém na década de 1960, na qual estão inseridos os entrevistados, percebe-se que a lei sofre algumas alterações, mas não influenciam nas práticas relacionadas a Educação Musical. Em 1961 é promulgada a LDB 4024/61. O ensino da Música sofre alterações em sua denominação. A disciplina de canto Orfeônico, até então obrigatória por lei, é substituída pela disciplina de Iniciação Musical. A troca de nomes não altera qualitativamente a prática, permanecendo em muitas escolas a prática do canto como alternativa e sustentação metodológica das práticas educacionais (BELLOCHIO, 2004, p. 104). Os entrevistados relataram que a educação, mesmo nesse período préditadura militar no Brasil, era bem rígida e o aluno não tinha vez para se manifestar, o que se torna contraditório quando entramos no campo da linguagem musical, evidenciando as possibilidades de criação, expressão e comunicação, citadas nos capítulos anteriores desse trabalho. Mesmo os entrevistados estudando em escolas diferentes, as aulas eram ministradas pela mesma professora, identificada por eles pelo nome de Irmã Arcanja. As aulas eram realizadas no nível que hoje chamamos de Ensino Médio e aconteciam todos os dias durante cinquenta minutos, com aproximadamente quarenta e cinco alunos por aula. Os entrevistados lembram que sempre rezavam antes de iniciar e com frequência a professora cantava. Destacam que a sua voz era muito bonita e cantava muito bem. Nesse momento da entrevista, um dos entrevistados começa a cantar na íntegra umas dessas músicas, o que de forma muito natural e simples 27 chama a atenção sobre o quanto algumas manifestações inusitadas enriquecem a pesquisa, remetendo-nos àquela época e mostrando-nos o quanto a música torna-se significativa na vida das pessoas. Nessas aulas as práticas do canto eram vinculadas aos conteúdos, tendo como base a teoria musical, com exercícios voltados para as regras de grafia musical e figuras rítmicas, ou seja, algo bem matemático e concreto, não havendo contato com instrumentos e sem a participação espontânea dos alunos, tendo a professora como figura central do conhecimento. Os alunos possuíam caderno de música e era comum a professora escrever as letras das canções no quadro, para que ao cantarem fossem vistos aspectos teóricos. Porém, o casal de entrevistados não chegou a um consenso quando o assunto era interesse dos alunos pelas aulas, ela dizendo que gostava das aulas, mas ele afirmando que os alunos não se interessavam e “não queriam nada com nada”. Trazer para a pesquisa a contribuição de alunos que tiveram contato com a Educação Musical na década de 1960 enriqueceu muito o trabalho. Um dos aspectos a ser destacado, é que um dos entrevistados é músico, tocou profissionalmente por muitos anos e um de seus filhos e seu respectivo neto, são músicos profissionais respeitados em nossa região. Algo que tornou-se de certa forma intrigante nesse relato sobre a Educação Musical dos entrevistados, é que mesmo em uma de suas falas no qual afirma não ter aprendido nada sobre música naquela época, não se sabe ao certo o quanto esse contato com a música pode ter influenciado em sua formação musical, pois mesmo em uma forma de abordagem ultrapassada sobre os aspectos hoje utilizados na musicalização, a música se faz presente em sua vida e de seus familiares. 6.1 Conversa com os Egressos e Acadêmicos da Pedagogia Nesta etapa da pesquisa, participaram nove egressos do Curso de Pedagogia da UNESC, sendo Rita Nicoladelli Damázio (1994-II) e Rosa Maria Casagrande Jeremias (1997-II) da década de 1990, Mari Angela Maccari (2003-II) e 28 Ada Marília Colle Prates (2004-II), da primeira metade da década de 2000, Daniel Francisco Freitas (2008-I), Andréia de Lima (2008-II), Alexandra Colombo de Souza(2008-II), Elaine Biava (2008-II) e Thaisiane Zanelatto Mendes (2008-II), da segunda metade da década de 2000 e a acadêmica Nayana Setubal Bittencourt, atualmente na 8ª fase do Curso(2009-II). Também contou-se com a colaboração de dois egressos do Curso de Pedagogia à Distância da UDESC, Elaine Marim (2006-II) e Jorge Fernando Gonçalves (2008-II), totalizando doze entrevistados. Houve também a preocupação em verificar e salientar, quais desses já tiveram experiências em atividades como músico, dançarino ou outras vivências no meio artístico musical, pois acredita-se que esse fato possa interferir nas respostas. Dessa forma verificou-se que sete não tiveram esse contato musical e cinco consideram ter experiências artísticas e/ou educacionais relacionadas à música. Quanto ao primeiro questionamento da pesquisa: Como a música é/foi abordada em seu Curso de Pedagogia? Os entrevistados egressos da década de 1990 foram unânimes em enfatizar o termo “Nada”, mas que não surpreende, sabendo que a abordagem sobre a música na formação dos pedagogos é tema ainda pouco explorado, mesmo na atualidade. Porém o que chama a atenção, é que nos depoimentos envolvendo a primeira metade da década de 2000, os egressos em suas memórias, relatam não haver uma disciplina no Curso de Pedagogia que abordasse um enfoque direcionado para a importância da música na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Quando os professores utilizavam músicas, eram voltadas para o relaxamento ou com o objetivo de trabalhar o lúdico, não abordando atividades específicas sobre a Educação Musical em sala de aula. Sobre os depoimentos de alguns egressos da segunda metade da década de 2000, os acadêmicos da Matriz Curricular 9.1, citam que a música praticamente não foi abordada, exceto quando acadêmicos em suas apresentações de trabalhos ou professores em suas aulas, traziam músicas nas quais estavam inseridas mensagens nas letras para complementação ou assimilação dos conteúdos abordados. Dessa forma percebe-se que a música servia como uma ferramenta para outros fins, nos quais o produto finalizado é entregue para a apreciação e não como uma linguagem a ser explorada dando possibilidades de interpretação, expressão, comunicação ou criação. Outros egressos destacam uma atividade realizada na disciplina de Fundamentos e Metodologias da Educação Infantil II, ministrada pela Professora 29 Adiles Lima, na qual se oportunizou uma oficina sobre a linguagem musical, propiciando uma interação entre os colegas e professora. Um dos entrevistados utiliza as seguintes palavras para descrever esse momento: - “Lembro de uma pequena introdução/formação sobre música, que proporcionou compreender que trabalhar música, não é somente utilizar o produto final de um músico, ou seja, uma composição pronta com arranjos e letras, mas que música, está presente nos mais diversos sons, diversos instrumentos e ritmos utilizados.” (Elaine Biava). Ao fazer a análise sobre a contribuição de egressos de Cursos de Pedagogia à Distância, percebe-se que a resposta, a esta primeira questão, não se altera muito da maioria dos entrevistados, pois segundo eles, em seu curso de formação a música foi inserida de forma básica e simples, principalmente como ferramenta para transmitir algumas informações referentes à disciplina estudada. Quando os entrevistados foram questionados sobre se o conhecimento obtido é/foi suficiente para que possa desenvolver a percepção musical de seus alunos, foram unânimes em declarar que os conhecimentos não chegaram a um nível de satisfação. Este fato nos aponta que a proposta dessa pesquisa é relevante. Entre alguns relatos, destaca-se a falta de segurança para inserir e abordar essa linguagem em sala de aula e que esse assunto, envolve mais aprimoramentos, tanto teóricos quanto práticos, dificilmente contemplados em apenas uma aula. - [...] “acredito que exista até uma aproximação, mas nada que seja significativo, que possa dar possibilidade de abrirmos novos horizontes aos nossos alunos.” (Nayana Setubal Bittencourt). Da mesma forma, quando questionados sobre se sentem preparados/aptos(as) para trabalhar música em sala de aula, a resposta não poderia ser diferente, pois independentemente da época em que foram acadêmicos, todos mostraram-se não estarem devidamente embasados, diferenciando apenas os entrevistados que já tiveram um contato direto com atividades artísticas musicais, expondo que utilizam de suas experiências fora da escola para incorporar a música em suas salas de aula. 30 Outro entrevistado ressalta dizendo compreender que a música não é apenas uma gravação, com letras e arranjos. Não é apenas trabalhar a música em si, mas sim seus vários aspectos e que necessitam dos devidos conhecimentos. - “Trabalho com músicas diariamente com as crianças, pois elas adoram, mas confesso que gostaria de ter um conhecimento mais vasto a respeito da temática, pois por não ter muito ritmo não me sinto a vontade quando trabalho música.” (Alexandra Colombo de Souza). Percebe-se por meio desses relatos, que o tema Educação Musical é algo que pressupõe um mínimo de conhecimento para ser abordado com qualidade, mostrando que a música possui forte influência e poder de transformação, tanto intelectual, quanto social. Talvez por isso que músicas com certo grau de complexidade são abolidas dos ouvidos das que as ignoram e as músicas de protesto, são temidas e muitas vezes censuradas, antes de despertar a ira dos injustiçados. Ao serem questionados sobre o conceito de música, inúmeras definições surgiram, desde as que trazem a música como um recurso pedagógico muito agradável, até os que levam para a área do domínio dos instrumentos musicais convencionais, ou até mesmo alternativos, onde a música pode ter vocais, ser apenas instrumental ou vice-versa. Outros a evidenciam como arte. Às vezes a arte de combinar os sons ou por meio dela, manifestar expressões, mas a maioria procura passear pelos conceitos da música que é algo muito bom, prazeroso, alegre, harmonioso e que nos faz bem aos ouvidos, ou mesmo nos leva para outras dimensões proporcionando bem estar. Para ampliar essa discussão, a citação de uma música da banda System of a Down, seria um bom exemplo de como a música esta envolvida em diferentes abordagens. Trata-se da música: B.Y.O.B.8, na qual os cantores aos gritos (perturbadores para muitos) passam a seguinte mensagem: Onde diabos está você? Onde diabos está você? 31 Onde diabos está você? Por que os presidentes não lutam a guerra? Por que eles enviam sempre os pobres? Por que os presidentes não lutam a guerra? Por que eles enviam sempre os pobres? Por que eles enviam sempre os pobres? Por que eles enviam sempre os pobres? Por que eles enviam sempre os pobres? Seria uma tentativa de definição, falar que por meio da música acima citada, esses artistas expuseram seus sentimentos, mas dizer que essa mesma música traz paz, tranquilidade, torna-se algo questionável devido interpretação altamente agressiva feita pela banda. No entanto, como expressar algo que transmita tranquilidade, em uma música que faz pesadas críticas ao governo do expresidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que enviou para guerra pessoas que muitas vezes são recrutadas na periferia e que por falta de oportunidades, se vêem como uma de suas opções seguir a carreira militar. Portanto os gritos de protestos podem parecer para os até então desinformados, algo ligado à outros fatores relacionados aos preconceitos que podem generalizar uma opinião negativa sobre as bandas de rock. Dentre os depoimentos, apenas um dos entrevistados que além de pedagogo e músico, é profissional na área da Educação Musical, trouxe o conceito de música associado a visão de Schafer (1991), na qual a intenção na hora de fazer ou ouvir música, faz a diferença e possibilita inúmeras interpretações. No questionamento sobre a importância/relevância/influência da música na vida das pessoas, alguns entrevistados dizem que certas músicas tornam-se marcantes nas histórias de vida de cada um, pois quando ouvimos determinadas canções, nos remetemos a lembranças do que vivenciamos e o que sentimos naqueles momentos nos quais elas foram significativas. Desta forma, a música mostra-se estar frequentemente presente na vida dos seres humanos, contribuindo para o bem estar das pessoas, despertando diversos sentimentos e nos tornando seres mais sensíveis. 8 Música B.Y.O.B. da banda System of a Down. Gravada no álbum Mezmerize que foi lançado em 2005. 32 Há entrevistados que trazem a música para o campo da terapia musical pelo fato de que por meio dela manifestamos diversas emoções, tanto boas quanto ruins. Alguns chegam a dizer que em sua opinião, a música purifica a alma, deixa as pessoas mais leves e harmônicas ou mesmo que ela é uma terapia e pode salvar muitas vidas. Outros chamam a atenção com relação à importância que a música exerce, influenciando gerações, tanto de forma positiva como negativa. Utilizando como exemplo algumas canções de protesto, que foram censuradas na época da ditadura militar no Brasil e que até hoje são referências para as novas gerações. Também há músicas fortemente vinculadas na mídia e que trazem em seus conteúdos, temas que acabam preocupando-se apenas com o entretenimento ou mesmo, transmitindo valores banais, como exemplo a música: Bomba no Cabaré9, gravada pela dupla Roger & Robson e citada abaixo: Jogaram uma bomba, no cabaré voou pra todo canto pedaço de mulher. [...] Aí eu juntei tudo e colei bem direitinho, fiz uma rapariga mista, agora todo homem quer. Segundo os entrevistados, a música está no dia-a-dia e muitas pessoas são movidas por ela, utilizando-a como fundo musical em diferentes situações, tanto para se divertir, quanto para realizar tarefas domésticas, se deslocarem ao trabalho ou mesmo enquanto estão em viagem de passeio. - “Em todos os lugares encontramos a música em diferentes estilos e diversos ambientes. Não é necessário ser cantor, violonista, tecladista para amar a música .” (Thaisiane Zanelatto Mendes). A próxima questão diz respeito a importância da música em sala de aula, na qual verifica-se entre os participantes da pesquisa, que a socialização possibilitada por essa linguagem, aproxima as pessoas. Por meio da dança, gesticulação, dramatização, percepção sonora, movimento e interpretação, desenvolvem-se vários aspectos físicos e mentais, além de integrar e fazer com que as crianças soltem-se, 9 Música Bomba no Cabaré. Gravada por Roger & Robson no álbum Na estrada,lançado em 2008. 33 muitas vezes motivando os mais tímidos a se expressarem. Também em outras abordagens, pode favorecer para um nível maior de concentração e atenção. Quando usada em sala de aula de forma lúdica, torna a aula muito mais agradável, significativa, e interessante. - “A música deve também estar sempre presente no cotidiano escolar das crianças. Ela desperta a sensibilidade, consequentemente a criatividade, dependendo como é trabalhada, ajuda no desenvolvimento do raciocínio, favorece a concentração, a habilidade para se expressar, além da socialização entre todos do grupo, enfim contribui muito para a formação integral do ser.” (Mari Angela Maccari). A música tem sido utilizada também como um recurso pedagógico, no qual algumas práticas são relatadas por nossos entrevistados e facilmente encontradas na sala de aula, onde alguns professores utilizam-se da música para preencher espaços em branco no seu planejamento ou mesmo servindo de ferramenta para memorização dos conteúdos trabalhados. Por meio da próxima questão sobre, qual o espaço da música na sala de aula dos entrevistados, percebe-se claramente que a diferença entre o discurso e a prática se faz presente em nossas escolas e mais uma vez retoma-se a justificativa dessa pesquisa visando uma maior atenção sobre a necessidade de uma abordagem mais intensificada e ampla sobre a Educação Musical na formação dos pedagogos. Alguns pedagogos envolvidos na pesquisa disseram utilizar a música quando cantam ou mesmo por meio de aparelhos de som, geralmente como estratégia para tornar o assunto estudado mais atrativo, para descontração, no qual as crianças tanto podem extravasar, quanto se acalmar ou concentrar-se, dependendo da música e da dinâmica utilizada. Mas também destacam que esse espaço não é o suficiente e que gostariam de explorar melhor a musicalidade, o que é dificultado pela pouca preparação dos educadores para tal. - “Em dois meses, que trabalho em sala de aula, não houve espaço. Aliás, me explicando melhor, espaço teria com certeza, mas não usei. Não sei como usar, 34 porque ligar um aparelho de som e colocar uma música não tem segredo nenhum, mas não acho que isso seria o suficiente e música não é só isso.” (Elaine Biava). Nos depoimentos desses egressos percebe-se que a prática musical na Educação Infantil é geralmente vinculada à brincadeiras de roda, as tarefas da rotina, entre elas as músicas que indicam a hora da fila, do lanche, da escovação, de lavar as mãos, do momento em que a professora precisa de silêncio e atenção ou nas músicas que envolvem coreografias pré-definidas e que muitas vezes estão intensamente difundidas pela mídia, por meio de CD´s, DVD´s ou mesmo na programação da TV. Percebe-se que ao se utilizarem dessas práticas, as concepções de música comentadas nas questões anteriores, colocando essa linguagem como de fundamental importância no desenvolvimento das crianças, acabam tornando-se contraditórias, pois por meio dessas fontes sonoras que mais parecem instruções, as crianças reproduzem coreografias, cantam músicas inseridas à um produto de consumo, ou vinculam a uma tarefa diária e dessa forma, a música acaba servindo de recurso para outros fins. Entre essas atividades envolvendo música, muitas são importantes para o desenvolvimento humano, como por exemplo, a coordenação motora, lateralidade, noção de espaço, entre outros, mas essas não tem em seus objetivos uma abordagem voltada a concepção de Educação Musical. Desse modo não se percebe as possibilidades de desenvolver nas crianças suas potencialidades autorais ou nos momentos de interação do grupo, o envolvimento das crianças em situações que estimulem a criatividade, sensibilidade e criações coletivas. É preciso ouvir e olhar com atenção esse cotidiano, carregado de significações sociais. É necessário que a escola e os professores olhem ao seu redor e também olhem as suas práticas educativas, como forma de conhecerem no espaço social e escolar as múltiplas manifestações artísticas, dentre elas a(s) Música(s) produzida(s) em seu espaço cultural (BELLOCHIO, 2004, p.114). A última pergunta do questionário destinado aos egressos e acadêmicos do Curso de Pedagogia da UNESC, além da contribuição dos egressos do Curso de Pedagogia à Distância da UDESC, destina-se a verificar na concepção dos pesquisados, como a música deve ser abordada no Curso de Pedagogia. 35 Cem por cento dos participantes demonstraram em seus depoimentos, que o Curso de Pedagogia necessita propor uma abordagem mais específica e significativa sobre o tema Educação Musical. Alguns dos pedagogos entrevistados, mesmo sendo egressos de diferentes épocas, foram sucintos em seus depoimentos afirmando que a música deve estar como parte integrante em uma das disciplinas do Currículo do Curso de Pedagogia, destacando na fala de Jorge Fernando Gonçalves, que em seu entendimento a disciplina é necessária pela relevância e influência que a música exerce em nosso cotidiano. Mari Angela Maccari salienta que, como os pedagogos trabalham com crianças e a música sendo um dos meios que ajudam na formação integral do ser, o Curso de Pedagogia deveria ter uma disciplina para trabalhar especialmente a música e assim, proporcionar aos acadêmicos vivências, abrangendo os diversos aspectos musicais que podem ser trabalhados com as crianças. A pedagoga Andréia de Lima Souza, aponta que esse conhecimento seja amplo, dando como, por exemplo, noções da história da música, mas o mais importante em sua percepção, é que os conhecimentos não percam o foco da prática em sala de aula e como desenvolver as aulas de música para que nossos alunos despertem habilidades adormecidas por falta de conhecimentos e incentivos. É difícil encontrar alguém que não se relacione com a música de um modo ou de outro: escutando, cantando, dançando, tocando um instrumento, em diferentes momentos e por diversas razões. Ouvimos música no supermercado ou na cadeira do dentista! Surpreendemos-nos cantando aquela canção que parece ter “cola” e que não sai da nossa cabeça e não resistimos a, pelo menos, mexer os pés, reagindo a um ritmo envolvente. E quantos de nós já não inventaram canções, seja durante a infância, seja para ninar nossos filhos? (BRITO, 2003, p. 31). Ada Marília Colle Prates traz em seu depoimento que a teoria é fundamental, mas que a prática dentro do Curso de Pedagogia deve ser mais explorada, lembrando que algumas abordagens sobre a importância da linguagem musical foram vistas apenas teoricamente. Por isso esse enfoque deve propor mudanças na grade curricular do curso. - “No caso da maioria das professoras que não terão uma formação em música, seria necessário uma disciplina de musicalização, onde se trabalharia um vasto repertório de possibilidades para utilizar a música na escola. Os professores devem 36 ter consciência do por quê trabalhar com música e como utilizá-la da melhor forma, garantindo que seja contemplado o gosto musical de cada criança, mas principalmente desenvolver o gosto pela boa música, já que hoje temos uma realidade de músicas que ferem e denigrem a imagem do ser humano e do mundo.” (Thaisiane Zanelatto Mendes). A egressa do Curso de Pedagogia à Distância da UDESC, Elaine Marim, diz que a abordagem deveria ser mais abrangente e com profissionais da área. A acadêmica Nayana Setubal Bittencourt, da última fase Curso de Pedagogia da UNESC, acrescenta que as músicas infantis, de fundamental importância em nossa prática, não devem constituir-se como o foco das abordagens. Finalizando essa etapa da análise dos dados, uma observação feita por Elaine Biava, chama a atenção para uma questão que até então não havia sido salientada no trabalho. Trata-se de um chamamento para que os professores das demais disciplinas do Curso de Pedagogia da UNESC, também utilizem a música em suas aulas, porque assim os alunos vêem que é possível, e que não é um conteúdo a parte, mas que pode ser utilizado de maneira interdisciplinar, afirmando que o curso peca nesse sentido. 6.2 Conversa com os Formadores no Curso de Pedagogia Essa nova etapa da análise de dados contou com a colaboração de pessoas que são diretamente ligadas à formação dos pedagogos no Curso de Pedagogia da UNESC. Essas, desde o primeiro momento em que foram convidadas a participar, demonstraram-se prestativas e interessadas em contribuir com a pesquisa. Dessa forma, suas participações enriqueceram o trabalho, ampliando a abordagem e possibilitando uma relação de diálogo, envolvendo educandos e educadores do curso. Os entrevistados foram: Aurélia Regina de Souza Honorato (professora da disciplina de Fundamentos das Linguagens Artísticas no Curso de Pedagogia da UNESC), Guiomar da Rosa Bortot (professora do Curso de Pedagogia da UNESC nas disciplinas de Metodologia Científica, Trabalho de Conclusão de Curso e 37 Coordenadora do Curso de Pedagogia da UNESC) e Gildo Volpato (professor licenciado da disciplina de Movimento Humano e Educação no Curso de Pedagogia da UNESC e Reitor da UNESC). Ao serem questionados sobre suas experiências em atividades como músico, dançarino ou outras vivências no meio artístico musical, apenas a professora responsável pela disciplina de Fundamentos das Linguagens Artísticas, menciona suas participações como atriz em grupos de teatro, trabalhos como cantora e na área da dança, no segmento do balé clássico. Quando perguntados sobre como a música foi abordada no seu curso de graduação quando era acadêmico, cabe ressaltar que cada participante teve sua formação em diferentes cursos. Gildo com graduação em Educação Física (ESEDE FUCRI/1984-II) diz que a música foi abordada como componente da dança nas disciplinas de rítmica, como coadjuvante das coreografias de diversas formas, além de trabalhada sob a forma de brinquedos e rodas cantadas nas disciplinas de Ginástica e de Recreação e Lazer. Guiomar que é graduada em Estudos Sociais (FACIECRI – FUCRI/1997), diz que em seu curso esse tema não foi abordado. Aurélia com graduação em Educação Artística (1985-II), comenta que teve disciplina de Música em dois semestres, envolvendo conteúdos de teoria musical e práticas aliadas ao teatro. No questionamento sobre se o conhecimento obtido é/foi suficiente para que possa inserir e desenvolver a percepção musical de seus alunos, Aurélia diz que se tivesse dedicado à aprofundar-se nos temas relacionados a Educação Musical, seu desempenho com os alunos seria mais satisfatório, mas acredita que os ensinamentos serviram para ampliar seu repertório, percepção e dessa forma, acabam contribuindo também na sua prática em sala de aula. Gildo afirma dizendo que não foi o suficiente do ponto de vista técnico, mas os conteúdos que teve, serviram para aumentar sua sensibilidade, percepção e o quanto a música mexe com a vida das pessoas. Perante as respostas dos entrevistados, nos quais seus cursos de graduação tiveram a música como parte integrante do currículo, ou mesmo inserida nas disciplinas do curso, suas falas salientaram atividades com a presença da música e dessa forma, os remetendo à aproximadamente vinte e cinco anos atrás enquanto eram acadêmicos, mostrando em seus discursos que a música se faz 38 presente até hoje em suas práticas pedagógicas, mesmo que por meio das percepções e sensibilidades estimuladas pela influência da música. Ao serem perguntados sobre em seu entendimento, o que é música, alguns comentários assemelham-se as falas dos egressos e acadêmicos da Pedagogia, entre elas, destaca-se a arte de combinar sons de forma agradável ou harmoniosa aos ouvidos, ou mesmo, vida, vibração, alegria. Como comentamos na análise de dados anterior, exemplificando por meio de uma música de protesto de uma banda de rock, percebeu-se que nem sempre encontramos esses aspectos em nosso meio musical, o que não impede que na percepção musical dos entrevistados, se defina que a música está sempre relacionada aos conceitos citados por eles. Diferentemente dos depoimentos dos acadêmicos e egressos, dois dos entrevistados dessa etapa, situam a música no campo das manifestações artísticas dentro de um contexto cultural e de forma interessante, ampliam a abordagem sobre música por meio das diferentes concepções musicais contidas em cada segmento da sociedade ou mesmo, povos do planeta. Outro questionamento inserido na pesquisa foi: Na sua opinião qual a importância/relevância/influência da música na vida das pessoas? Um dos entrevistados lembra o ditado popular: “Quem canta seus males espanta” e com essa fala, chama a atenção para a importância da mesma na vida das pessoas. Também é válido lembrar, que apesar das tendências musicais hoje muito ligadas ao entretenimento, os homens/mulheres por meio de suas culturas, também tiveram na música, diferentes direcionamentos e propósitos. Medaglia (2008, p. 9) destaca alguns desses: [...] Em seguida, o som começou a ganhar conteúdos e ser trabalhado de diversas formas, adquirindo funções no dia-a-dia. Foi usado para incentivar o trabalho, para despertar o espírito patriótico, para provocar o instinto de disputa e da luta, para induzir o homem ao sentimento religioso, ao erotismo, á guerra, e a todos os tipos de manifestação e sensações da alma. Os entrevistados também evidenciaram a música no âmbito da arte, salientando que, como toda forma de arte, a música precisa estar presente na vida do ser humano, pois traz conhecimento sensível e possibilita a reflexão crítica da existência humana. “Apesar de o som não ser essencial para a sobrevivência 39 humana, não se tem notícia de nenhuma raça ou povo que não cultive a música.” (MEDAGLIA, 2008, p.9) Sobre a importância da música em sala de aula, todos os entrevistados demonstraram em suas respostas que a música tem fundamental importância na sala de aula. Em um dos depoimentos, coloca-se a música como um instrumento de aprendizagem, nos quais sua contribuição estaria relacionada ao raciocínio, memorização, atenção, comunicação, ou mesmo para deixar a aula prazerosa, o que percebemos nos capítulos anteriores, também ser uma prática constante nas escolas. Mas, outros depoimentos evidenciam que a música precisa ser de qualidade e por meio dela, buscar caminhos para a sensibilidade, para o conhecimento, para a experiência estética. Alguns questionamentos parecem ecoar nesse momento. Será que a música foi ou está sempre ligada ao prazer ou sensações benéficas ao seres humanos? Como definir uma música de boa qualidade para as salas de aula? Como citado a pouco por Medaglia (2008), a música já esteve ligada a contextos que hoje parecem antigos, mas de forma diferenciada, continuam fazendo parte de nosso cotidiano e, muitas vezes, pela falta de criticidade de boa parte dos ouvintes, os contextos nos quais as músicas estão inseridas, não são percebidos. Alguns exemplos de músicas que fazem, ou já fizeram parte do topo das paradas e que muitas das crianças de nossas escolas são vistas cantarolando, nos remetem a citação do autor. A música Tropa de Elite10 seria um bom exemplo relacionado ao provocar o “instinto de disputa e da luta”: Tropa de Elite osso duro de roer, pega um pega geral, também vai pegar você Outro exemplo é o mercado musical que foi gerado em volta de canções religiosas, tanto da igreja católica, com destaque aos Padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo, ou músicas evangélicas, à exemplo da música Faz um milagre em mim11, 10 11 Música Tropa de elite da banda Tihuana. Gravada no álbum Ilegal, lançado em 2000. Música Faz um Milagre em mim do compositor Regis Danese. Gravada no álbum Compromisso, lançado em 2008. 40 sucesso no ano de 2009 e gravado por diversos artistas em diferentes estilos, até então não concebíveis pela igreja, como o pagode. Entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas me ensina a ter santidade, quero amar somente a ti, porque o Senhor é o meu bem maior, faz um milagre mim. Evitando usar exemplos desagradáveis sobre o termo erotismo, citado por Medaglia (2008), percebe-se com frequência as crianças no meio escolar, cantando ou demonstrando coreografias de músicas que na maioria das vezes tem conotações de duplo sentido, manifestando conteúdos impróprios para as crianças. Ainda trazendo à tona a frase “quem canta seus males espanta” dita por um dos entrevistados, o chamamento para o debate nos questionamentos acima, procuram fazer uma ligação sobre as práticas em que a música era utilizada, tanto nas cerimônias religiosas, quanto para a cura ou mesmo, servindo de fonte de energia para o espírito guerreiro, e que pareciam estar esquecidas como parte de um período distante da história, mas como se percebe, continuam presentes em nosso meio. Quanto a questão qual o espaço da música na sala de aula dos entrevistados, um deles destaca a importância desse momento estar inserido dentro de um planejamento e com objetivos definidos, dessa forma demonstrando preocupação em que a música seja abordada com seriedade, tendo o seu devido valor. Também foi colocado, que ela tem espaço em suas aulas e palestras, pelo fato de encantar as pessoas, mantendo-as interessadas e motivadas. Aurélia diz que: - “Ela está nas entrelinhas dos textos, na fala exemplificada, na poesia do dia-a-dia das aulas. Formar profissionais em educação, sem a música, não dá.” O que se percebe nas falas dos participantes dessa etapa da pesquisa, é que a música necessita estar presente nas salas de aula e que ela é utilizada, independentemente se os professores tiveram em sua formação, conteúdos específicos abordando esse tema. 41 As últimas perguntas do questionário são de grande relevância no âmbito dessa pesquisa, pois tratam da música no Curso de Pedagogia da UNESC, diante dos olhares de pessoas diretamente ligadas a formação dos pedagogos. É importante que a música tenha uma abordagem mais intensificada durante o Curso de Pedagogia da UNESC e como ela deveria ser abordada durante o Curso? Gildo traz uma colocação muito interessante dizendo que: - “Se a música for considerada de fundamental importância na escola, é fundamental que os cursos de formação de professores passem a demonstrar este valor garantindo espaços para que conhecimentos musicais sejam trabalhados durante a formação. Se isso não ocorrer, as possibilidades de espaços para o desenvolvimento da música nas escolas também serão restritos, ou até mesmo negados.” Um dos entrevistados coloca em ênfase as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores Pedagogos, que indicam que estes devem atuar na área de Arte na Educação Básica e partindo também dessa regulamentação, percebe-se que há necessidade, de que na formação desses profissionais seja possibilitada a vivência mais ampliada em Educação Musical, conhecendo os vários aspectos envolvidos nessa abordagem específica. Porém um dos participantes da pesquisa, diz que a música poder ser integrada nas diversas disciplinas do curso, utilizando-a como instrumento de aprendizagem e de forma interdisciplinar. Quanto a essa resposta, alguns pontos podem ser destacados, quando nas respostas dos egressos e acadêmicos do Curso de Pedagogia, esses relatam que a música não foi abordada de forma satisfatória e que os conhecimentos relacionados ao tema não foram suficientes para suas práticas em sala de aula. Salvaguardando os conteúdos trabalhados nas disciplinas de Fundamentos das Linguagens Artísticas e Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil II, e enfatizando essas colocações, ficam os questionamentos: Até quando a música será trabalhada apenas como instrumento para auxiliar na aprendizagem de conteúdos das demais disciplinas do Curso? De que forma serão ampliadas as referências dos 42 acadêmicos sobre uma nova abordagem a respeito da Educação Musical, diferente das que acabam se repetindo nas escolas em que atuarão? Os entrevistados assinalam algumas propostas de mudança, envolvendo a Educação Musical no Curso de Pedagogia. Entre elas, Gildo acredita que a música deveria se fazer presente: - “Como uma disciplina na Matriz Curricular. Com toda a técnica possível, com todos os instrumentos possíveis e, também, com toda a improvisação possível para que se desenvolva a criatividade”. Guiomar finaliza escrevendo sobre a relevância dessa abordagem: - “A música traz emoções, compartilhamentos, alegria, tristezas e por isso deve ser planejada de forma a contribuir no contexto educativo. Como ela faz parte do cotidiano das pessoas, ele pode contribuir de forma significativa quando inserida na escola. O tema é relevante, principalmente quando inserida para as crianças pelo papel importante na imaginação criadora.” Finalizando essa etapa da análise de dados, cabe ressaltar a contribuição, tanto dos egresso e acadêmicos do Curso de Pedagogia da UNESC, quanto dos participantes diretamente ligados a essa formação, que ao aceitarem a proposta de participação na pesquisa, propiciaram um diálogo muito significativo que até então não havia sido discutido em forma de Trabalho Acadêmico na UNESC, apontando questões relevantes e que visão sempre o melhor para o Curso e Universidade, trazendo reflexos na prática dos pedagogos que serão atuantes no processo de aproximação entre Academia e a Escola. 43 7 CONCLUSÃO Ao entrar no meio acadêmico, a ansiedade de conhecer o desconhecido, se entrelaça com as dúvidas sobre as nossas capacidades em vencer esses desafios e no decorrer dessa jornada, alguns momentos nos surpreendem, outros nos frustram. Muitas vezes somos movidos pela empolgação de acharmos que estamos indo pelo caminho que nos parece ser o ideal, outras vezes nos encontramos decepcionados por não conseguir superar as expectativas, essas que muitas vezes são criadas por nós mesmos. Alguns anos depois, em meio a vários acontecimentos profissionais e pessoais ocorridos no período em que estamos na graduação, percebemos o quanto mudamos. Também nos damos conta, que esse processo de graduação tem uma culminância, chegando ao Trabalho de Conclusão de Curso. A escolha pelo tema Música para esta pesquisa, já me acompanhava há bastante tempo, e minha maior dificuldade do momento inicial, tornou-se em definir qual segmento abordar, devido as inúmeras abrangências que esse assunto pode levar. Aos poucos as idéias foram surgindo e ao comentar que gostaria de abordar um tema que questionasse o próprio Curso, não percebi total aprovação, mas com as sugestões de alguns professores, fui adequando minhas idéias de forma que pudesse gerar alguma contribuição para o Curso de Pedagogia da UNESC. Considerando que a música está presente intensamente na vida de todos, percebe-se que muitas vezes ela não é ouvida em toda sua plenitude, pois o mercado musical dita regras e sem que percebamos, estamos apenas ouvindo o que nos é sugerido (ou imposto), que na maioria das vezes é fortemente influenciado pelos meios de comunicação de massa. Devido a esta situação percebi a necessidade de abordar este tema visando inseri-lo no contexto da formação dos pedagogos, que na sua prática diária tornam-se formadores de opinião e dessa forma, podem contribuir para uma proposta de mudança envolvendo as concepções de Música hoje concebidas pela sociedade. No início pensamos em abordar apenas as concepções dos egressos de diferentes épocas, mas no decorrer do trabalho, percebemos que seria muito 44 interessante ouvir as falas de pessoas que estão ligadas a formação dos pedagogos, tornando a pesquisa mais ampla e buscando uma análise que associasse as concepções tanto dos educandos, quanto dos educadores. Algo que surpreendeu muito desde as primeiras participações nos questionários foi o nível das respostas, pois de forma ética e coerente, demonstraram estar prontamente engajados em fornecer dados para enriquecer a pesquisa e por meio de suas contribuições, sinalizar pontos que pudessem trazer melhorias ao Curso de Pedagogia. Os entrevistados conseguiram trazer à tona, muitas questões inseridas no referencial teórico, pois apontaram que mesmo havendo um discurso sobre a influência da música na vida das pessoas e a importância que ela exerce no desenvolvimento do ser humano, as práticas na Escola e na Universidade, na maioria das vezes, apresentam a música apenas como um instrumento para favorecer a aprendizagem, como forma de entretenimento ou mesmo auxiliando nas mensagens inseridas nas letras das canções, exaltando datas festivas, definindo coreografias ou anunciando rotinas a serem realizadas praticamente como tarefas. Outro fator interessante a ser destacado, é que tanto educandos quanto educadores mostraram-se unânimes ao declarar em seus depoimentos, necessidades semelhantes às problematizadas na justificativa desse trabalho, demonstrando realmente a importância de uma abordagem mais ampla e específica sobre Educação Musical na formação dos pedagogos, que ao terem o contato com esse conhecimento, não apenas terão embasamentos para levarem de forma diferenciada a música para a Escola, mas também para sua própria concepção e futuras vivências musicais. Esperando também ter contribuído para a qualificação do Curso de Pedagogia da UNESC, tenho esperança que a verdadeira culminância desse trabalho, seja quando o debate aqui iniciado e servindo como gerador de novas reflexões, sair do papel e em forma de prática, concretizar-se com a música inserida nos cursos de Pedagogia, contemplando as necessidades indicadas pela pesquisa, que de forma abrangente e musical, deu voz à educandos de diferentes épocas do curso e educadores que em suas falas mostraram-se na sublime postura de eternos aprendizes. 45 REFERÊNCIAS ACAFE. Métodos e técnicas em pesquisa. Florianópolis: ACAFE, 2008. APPLE, Michael. A política do conhecimento oficial: faz sentido a idéia de um currículo nacional?. In: MOREIRA, Antônio Flávio B.; SILVA, Tomaz T. da (orgs.). Currículo, cultura e sociedade. Tradução de Maria Aparecida Baptista. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. ARROYO, Miguel Gonzalez. O significado da infância Brasília: MEC/SEF, 1994. BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. 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