o fascínio dos seres que habitam as profundezas

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A ERA DO HUBBLE
OÁSIS
Telescópio espacial
celebra 25 anos de
imagens incríveis
DINHEIRO E
QUOCIENTE
COGNITIVO
Os efeitos da pobreza
sobre o cérebro
das crianças
A PRÓXIMA
EPIDEMIA
Ela virá, e não
estamos preparados
O FASCÍNIO DOS SERES QUE
HABITAM AS PROFUNDEZAS
OS MAIS BELOS
DOS SETE MARES
POR
LUIS
PELLEGRINI
EM GALERIA, MOSTRAMOS AS IMAGENS PREMIADAS
NO CONCURSO DE FOTOGRAFIAS SUBAQUÁTICAS INSTITUÍDO
PELA ROSENSTIEL SCHOOL OF MARINE AND AMOSFERIC
SCIENCE, DE MIAMI, EDIÇÃO 2015. SÃO FOTOS LINDAS,
SURPREENDENTES, DE SERES QUE HABITAM AS
PROFUNDEZAS DO MAR
EDITOR
U
m dia realmente feliz da minha vida foi quando tirei o PADI, o
brevê de mergulhador. Era já um coroa nada enxuto quando
decidi realizar um sonho que vinha da infância. Fui para Ilhabela, procurei o escritório da Narwhal, fui atendido por uma garota
super simpática, Roberta Mori Santalucia, que rapidamente encheu
minha bola. Ligou na hora para um instrutor, o Gilberto Gardino Mourão – que atende pelo diminutivo de Giba -, e ele não hesitou: Vou
atender esse senhor!
Os dois, para mim, valeram por um bilhete premiado. Obrigado Roberta e Giba! Aprendi tudo em três dias, e no quarto fui ao canal da
Ilha das Cabras buscar o prêmio: meu primeiro mergulho com roupa
de borracha, uma porção de lastros de metal grudados no cinturão,
um cilindro de ar nas costas. E fiz tudo direitinho, desci dez metros até
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EDITORIAL
POR
LUIS
PELLEGRINI
EDITOR
o fundo, devagar, sob o olhar vigilante do Giba. Lá embaixo, equalizei
a respiração e, quando tudo ficou bem sereno, olhei ao redor: o paraíso! Cardumes de peixes coloridos, uma tartaruga marinha passando
despreocupada, algas dançando ao sabor da corrente, uma enorme
lesma do mar pastando bem ali na minha frente! E aquela sensação
única de ausência de peso, de flutuar no espaço, como fazia quando
estava na barriga da mamãe! Gente: quem inventou o mergulho com
garrafa deveria ganhar no mínimo um prêmio Nobel.
No próximo week-end vou a Ilhabela. Vou visitar novamente a Narwhal. Está na hora de reabastecer minhas energias vitais com algum
programa de maravilhas submarinas. Mesmo tendo agora muito mais
a forma física de um vovô complacente do que a de um atleta das profundezas...
Enquanto isso, escolhi para nossa matéria de capa uma galeria com as
imagens vencedoras do concurso de fotografias subaquáticas instituído
pela Rosenstiel School of Marine and Amosferic Science, de Miami.
São fotos lindas, surpreendentes, de seres que habitam as profundezas
do mar. Mostram um mundo tão fascinante quanto aquele revelado
pelo telescópio espacial Hubble, que completa nestes dias 25 anos de
produção ininterrupta de imagens do Sistema Solar e do cosmos profundo. Confira.
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EDITORIAL
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FOTOGRAFIA
FOTOGRAFIA
OS MAIS BELOS DOS
SETE MARES O fascínio dos seres
que habitam as
profundezas
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Lançado pela primeira vez em
2005 pela Rosenstiel School
of Marine and Atmosferic
Science, de Miami, o concurso
de fotografias dedicado ao
mundo submarino também
este ano reuniu milhares de
participantes de todo o mundo
C
POR: EQUIPE OÁSIS
FOTOS: ROSENSTIEL SCHOOL, MIAMI
OÁSIS
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FOTOGRAFIA
omeçando pelo vencedor
absoluto da edição 2015,
apresentamos ao leitor uma
galeria com as fotos vencedoras das quatro categorias.
Trata-se de uma viagem espetacular à descoberta das
criaturas que habitam as
profundezas dos mares que
recobrem nosso planeta.
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1 O vencedor absoluto da edição 2015 do Concurso é Andrey Shpatak, com este surpreendente retrato de um Chirolophis
japonicas, peixe ósseo bastante difuso no Oceano Pacífico.
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2 O prêmio para a melhor macrofotografia foi para Tony Barros, com esta foto de um camarão-dos-crinoides (Periclimenes
amboinensis) realizada nas águas da Ilha Siquijor, nas Filipinas.
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3 A segunda melhor macro retrata essa dupla de Priolepis aureoviridis fotografados em águas da Indonésia por Ching
Kwan Ng.
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4 Medalha de bronze na categoria macro para esta foto de um Pleurosicya micheli realizada por Mark Fuller ao largo de
Eilat, Israel, no Mar Vermelho.
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5 Prêmio de Melhor Grande Angular para esta foto de um cormorão de peito branco (Phalacrocorax lucidus) que nada tranquilo em meio a um cardume de medusas. Foto tirada por Hani Bader.
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6 Segundo lugar na categoria Grande Angular para este cardume de Plectorhinchus polytaenia fotografado na Indonésia
por Filippo Borghi.
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7 Terceiro lugar para a seção Grande Angular para este peixe-escorpião (Pterois volitans) fotografado por Mark Fuller. A
foto também foi feita em Eilat, Israel, no Mar Vermelho.
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8 O polvo-de-anéis-azuis (Hapalochlaena lunulata) de Beth Watson foi premiado como melhor retrato de criatura submarina. A foto foi realizada em águas da Indonésia.
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9 Este exemplar abissal de Macrouridae nezumia ganhou o segundo lugar na categoria Retratos. Foto de Kostas Milonakis.
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10 Terceiro lugar, sempre na categoria Retratos, para esta curiosa dupla de peixes crestados (Scartella cristata). Foto de
Judy Townsend.
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11 Laura Rock venceu o primeiro prêmio na categoria Estudantes com esta espetacular fotografia de um grande tubarão-martelo (Sphyrna mokarran) tirada nas Bahamas.
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12 A mesma fotógrafa, Laura Rock, arrebatou também o segundo prêmio na categoria Estudantes com esta sugestiva foto
de um tubarão-limão (Negaprion brevirostris).
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13 Uma Pentaceraster cumingi, estrela-do-mar das Galápagos. Ganhou o terceiro lugar na categoria Estudantes. A foto é de
Christopher Brown.
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ASTRO
A ERA DO HUBBLE
Telescópio espacial celebra
25 anos de imagens incríveis
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NASA e ESA-Agência Espacial
Europeia comemoram neste
momento o 25o aniversário
do Telescópio Espacial Hubble
com a publicação de imagens
que mostram um dos mais
extraordinários espetáculos
criados pela natureza: um
gigantesco cluster (aglomerado
de estrelas) chamado
Westerlund2
F
POR: EQUIPE OÁSIS
FOTOS E VÍDEOS: NASA E ESA
ormado por cerca de 3 mil
estrelas recém nascidas, o
cluster (aglomerado de estrelas) Westerlund2 situa-se
no interior de um berçário de
estrelas conhecido pelo nome
de Gum 29, localizado a 20
mil anos luz de distância, na
constelação de Carina. Embora relativamente
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ASTRO
muito jovem em termos astronômicos – “apenas” 2 milhões de anos de idade – o cluster
Westerlund 2 contem algumas das maiores,
mais quentes e brilhantes estrelas de toda a
nossa galáxia. As maiores dentre essas estrelas desencadeiam torrentes de luz ultravioleta
e ventos estelares ciclônicos que superam em
muito os limites da nuvem gasosa de hidrogênio que envolve o cluster. Tal fenômeno cria
um verdadeiro festival celeste feito de pilares,
cordilheiras e vales compostos de gases e luz.
Essa brilhante tapeçaria formada por jovens
estrelas flamejantes se assemelha a uma desmesurada queima de fogos de artifício. Foi
por esse seu aspecto festivo que a imagem do
Westernlund 2, que abre nossa matéria, foi
escolhida pela NASA para ser o emblema comemorativo do 25o aniversário do Hubble.
Lançado em 24 de abril de 1990, o telescópio
espacial permanece em órbita e continua a
explorar o Sistema Solar e o cosmos. Há um
quarto de século ele não para de nos fornecer
imagens inacreditáveis das profundezas do
cosmos.
“Hubble transformou por completo a nossa
visão do universo, revelando a sua beleza verdadeira e a riqueza”, disse John Grunsfeld,
astronauta e coadministrador do programa
Science Mission Directorate, da NASA.
Para produzir essa imagem, o equipamento
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O video abaixo – um dos vários produzidos pela NASA
para comemorar o 25o aniversário do Hubble -, fornece
uma extraodinária perspectiva tridimensional da nebulosa
Gum 29, com o aglomerado estelar Westerlund 2 no seu
núcleo. Como se voássemos no espaço, o video primeiro
faz o espectador atravessar a região das estrelas distantes,
aproximando-se em seguida do canto inferior esquerdo da
nebulosa Gum 29. Após passar por uma região de nuvens
mais escuras, chega-se a uma area cheia de gás brilhante
iluminado pela intensa radiação de estrelas recém-formadas no interior do cluster Westerlund 2.
O aglomerado de luzes no centro direita da
foto é o cluster Westerlund 2
As 'paisagens' do berçário de
estrelas Gum 29
Near-infrared Wide Field Camera 3, do Hubble, teve de
atravessar o véu empoeirado que recobre e protege o berçário estelar, até conseguir dar aos astrônomos uma visão
clara da densa concentração de estrelas no centro do cluster. Ele mede entre 6 e 13 anos-luz de ponta a ponta. Os
pontos vermelhos espalhados por toda a paisagem constituem toda uma população de estrelas recém formadas, ainda envoltas por casulos feitos de gás e poeira. Tratam-se de
estrelas pequenas e jovens, com idade entre 1 e 2 milhões
de anos, e seu brilho é fraco por ainda não terem dado início aos ciclos do hidrogênio em seus núcleos. As brilhantes estrelas azuladas vistas em toda a imagem são, na sua
maioria, estrelas distantes que aparecem ao fundo.
OÁSIS
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ASTRO
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O Telescópio Espacial Hubble, há 25 anos
em orbita e ainda enviando extraordinárias
fotografias do espaço cósmico
Veja o vídeo 1 aqui
Pelo fato de o cluster Westerlund 2 ser ainda
muito jovem – em termos astronômicos – ele
ainda não teve tempo para dispersar profundamente suas estrelas no interior do espaço interestelar. Tal fato proporcionou aos astrônomos
uma excelente oportunidade para reunir informações sobre como funcionam os processos de
formação de estrelas no interior de um cluster e
o ambiente que possibilita esse fenômeno.
O Telescópio Espacial Hubble é um projeto surgido da cooperação entre a NASA e a ESA (European Space Agency). O Goddard Space Flight
Center, em Greenbelt, Maryland, é encarregado
do gerenciamento do telescópio. O Space Telescope Science Institute (STScI) em Baltimore,
Maryland, conduz as operações científicas do
Hubble.
A Era do Hubble
Nos últimos dias de abril, a NASA liberou ao público o vídeo “The Age of Hubble” (A Era do Hubble), que oferecemos abaixo na sua íntegra. É um tanto longo (50 minutos),
mas para quem deseja experimentar uma viagem de maravilhas ao interior do espaço cósmico, trata-se de uma das
melhores coisas já produzidas.
O vídeo – infelizmente ainda sem narração e legendas em
português - mostra como um verdadeiro exército de telescópios de alta tecnologia, espalhados por diversos países e
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ASTRO
continentes e liderados pelo Hubble em órbita no espaço,
produziu uma cadeia de descobertas sem precedentes a
respeito de como as galáxias se formam, como as estrelas
nascem, vivem e morrem, e de como surgiu a vida. Resta
a pergunta, que a NASA propõe como nosso maior desafio
no momento em que comemora os 25 anos do Hubble: O
que estamos aprendendo a respeito do universo e de nós
mesmos nesta Era do Hubble?
Veja o vídeo 2 aqui
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OÁSIS
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PSICO
PSICO
DINHEIRO E
QUOCIENTE COGNITIVO
Os efeitos da pobreza
sobre o cérebro
das crianças
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Estudo evidencia a possível
associação entre renda
familiar e anatomia do
cérebro, bem como entre
renda e desenvolvimento das
capacidades cerebrais: uma
advertência a mais para a
melhora da alimentação,
do papel da escola e das
condições gerais de vida para
todas as crianças
V
POR LUIS PELLEGRINI
iver na pobreza parece
ter efeitos nocivos para
o cérebro. Essa probabilidade fica bem evidente
a partir das próprias características anatômicas
desse órgão. Tais efeitos
têm sido observados por
vários estudos, mas o tema permanece delicado
OÁSIS
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PSICO
e é alvo de intensos debates.
O fato de que diferenças socioeconômicas,
uma renda familiar mais baixa e um grau de
instrução inferior dos genitores estejam associadas a disparidades no desenvolvimento
cognitivo da criança é coisa bem conhecida
por parte dos pesquisadores, e foi evidenciada
em numerosas investigações.
As crianças nascidas em famílias mais abastadas obtêm em média pontuações melhores
nos testes que medem o quociente intelectivo,
o desenvolvimento da linguagem, a capacidade de leitura e por aí em diante. Em estudos
mais recentes foi também observado que a
renda mais alta está associada a uma extensão maior das áreas cerebrais envolvidas na
memória e na linguagem. Mas essas pesquisas apresentam também diversos limites.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde foi
desenvolvida a maior parte dos estudos, as
camadas mais pobres são as de origem étnica
não branca-europeia, e tal fato torna difícil
separar o fator “pobreza” do fator relativo a
eventuais diferenças de origem genética.
A pobreza pode influir na anatomia do
cérebro?
Além disso, renda e educação dos genitores
são frequentemente considerados como uma
única e mesma coisa, enquanto aquilo que
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entre 3 e 20 anos de idade, em diversas cidades dos Estados Unidos, para medir a extensão da superfície do córtex
cerebral. Sabe-se, a partir de grande número de pesquisas,
que o córtex cresce durante a infância e a adolescência a
partir do amadurecimento da experiência cognitiva pessoal. Mesmo levando-se em conta as origens étnicas dos
vários participantes da pesquisa (as quais implicam em
leves diferenças na estrutura do cérebro), ficou claro que o
estado socioeconômico resulta associado de maneira significativa à extensão da superfície do cérebro. Em outras
palavras, a superfície do córtex cerebral das crianças das
famílias com renda mais baixa – menos de 25 mil dólares ao ano – era até 6 por cento menor do que a área das
crianças provenientes de famílias com renda superior a
150 mil dólares anuais.
influencia o desenvolvimento cognitivo poderia ser tanto
o ambiente materialmente mais pobre (sobretudo em termos de má nutrição) quanto outros fatores tais como os
estímulos proporcionados pelos genitores, jogos, oportunidades de melhor qualidade na educação. Em qualquer dos
casos, permanece a pergunta: a “pobreza” pode se traduzir
em diferenças efetivas na estrutura do cérebro, antes mesmo de se manifestar na forma de resultados piores no âmbito cognitivo? É exatamente isso que os pesquisadores de
recente estudo publicado na revista Nature Neuroscience
estão procurando verificar.
A equipe de neurocientistas chefiada por Kimberly Noble
da Columbia University de Nova York e Elizabeth Sowell
do Children’s Hospital de Los Angeles submeteu a exames
de ressonância magnética 1099 crianças e adolescentes,
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PSICO
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Mais ricos, mais estímulos
O estudo não explica as razões das correlações observadas
entre as diferenças de renda e as características anatômicas dos cérebros das crianças. Poderia ser o ambiente
de vida mais pobre, mais estressante, o fator que influencia o desenvolvimento do cérebro, até mesmo antes do
nascimento da criança. Ou então poderia simplesmente
acontecer que as famílias mais ricas podem proporcionar
melhores estímulos cognitivos para seus filhos. Provavelmente se trata de uma combinação de ambas as coisas. “O
cérebro se desenvolve por um longo período, durante toda
a infância e adolescência”, declarou Sowell, uma das duas
cientistas responsáveis pela pesquisa. De qualquer forma,
As diferenças eram mais evidentes nas áreas cerebrais críticas para o desenvolvimento da linguagem, das funções
executivas (a atenção, por exemplo) e a memória. Uma
outra observação muito interessante é a de que o peso da
renda faz-se sentir muito mais no sentido para baixo, onde
inclusive um incremento modesto produz um aumento notável da área do córtex cerebral, muito maior do que para
as rendas mais altas. O nível de educação dos genitores
também surgiu associado de maneira significativa à superfície total do córtex: para cada ano escolar a mais frequentado pelo pai e pela mãe observou-se um aumento da área
do córtex nas crianças e nos adolescentes.
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PSICO
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“O ponto mais importante que queremos transmitir não é
‘se você é pobre, seu cérebro vai ser menor e não há nada
que possa ser feito sobre isso’. Essa absolutamente não é a
mensagem”, garantiu a pesquisadora.
a neurociência está pronta para afirmar que qualquer intervenção destinada a melhorar as condições socioeconômicas ou a enriquecer de estímulos o ambiente onde vive
uma criança pode contribuir para que na existência dela
ocorra uma grande diferença para melhor, tanto no âmbito
escolar quanto em todas as demais situações da vida.
O estudo faz questão de lembrar, porém, que a ajuda social
e o ensino podem ajudar a superar essas diferenças. “Não
é tarde demais para pensar em como usar os recursos que
enriquecem o ambiente de desenvolvimento, que em troca
ajudam as conexões cerebrais”, comentou Sowell.
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OÁSIS
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SAÚDE
SAÚDE
A PRÓXIMA EPIDEMIA
Ela virá, e não estamos
preparados
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Bill Gates fala no TED
Em 2014, o mundo evitou uma
terrível epidemia global do Ebola,
graças a milhares de generosos
profissionais de saúde e graças
também a muita sorte. Bill Gates
sugere que agora é a hora de colocar
todas as nossas boas ideias em
prática, de planejamento de cenários
a treinamento de profissionais de
saúde. Como ele diz: “Não há razão
para pânico, mas precisamos nos
apressar”.
A
VÍDEO: TED – IDEAS WORTH SPREADING
TRADUÇÃO: LEONARDO SILVA
REVISÃO: FERNANDO GONÇALVES
OÁSIS
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SAÚDE
paixonado pela tecnologia,
homem de negócios sagaz e,
hoje, filantropo patrocinador
de vários projetos na área da
saúde e educação, Bill Gates
mudou o mundo ao conduzir
o assombroso sucesso da empresa Microsoft.
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Vídeo da palestra de Bill Gates ao TED
OÁSIS
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SAÚDE
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Tradução integral da palestra de Bill Gates ao TED
Quando criança, a catástrofe que mais nos preocupava era uma
guerra nuclear. Por isso, nós tínhamos um barril como esse em
nosso porão, cheio de latas com comida e água. Quando o ataque
nuclear ocorresse, devíamos ir para o porão, ficar agachados e nos
alimentar do que havia no barril.
Hoje, o maior risco de catástrofe global não é assim. Na verdade, é
assim. Se algo matar mais de 10 milhões de pessoas nas próximas
décadas, é mais provável que seja um vírus altamente contagioso do
que uma guerra. Não mísseis, mas micro-organismos. Bem, um dos
motivos disso é que investimos muito em estratégias antinucleares, mas investimos muito pouco em um sistema que detenha uma
epidemia. Não estamos preparados para uma próxima epidemia.
Vejamos o Ebola. Certamente, todos vocês leram sobre o assunto
nos jornais, muitos desafios difíceis. Acompanhei cuidadosamente
a situação com ferramentas de análise de caso, que utilizamos para acompanhar a erradicação da poliomielite. E, se
analisarmos o que aconteceu, a questão não foi que houvesse
um sistema que não funcionava muito bem. A questão é que
não tínhamos sistema algum. Na verdade, há algumas variáveis importantes e bem óbvias faltando.
Não tínhamos um grupo de epidemiologistas prontos para
agir, que teriam ido, visto o que era a doença, visto o quanto
tinha se espalhado. Os relatos de casos chegavam em papel. Demorava muito até que fossem postos on-line e eram
extremamente imprecisos. Não tínhamos uma equipe médica pronta para agir. Não tínhamos uma forma de preparar
pessoas. Bem, os Médicos Sem Fronteiras fizeram um ótimo
trabalho organizando voluntários. Mesmo assim, fomos muito mais lentos do que devíamos ter sido para levar os milhares de profissionais a esses países. E uma grande epidemia
exigiria centenas de milhares de profissionais. Não havia
ninguém lá para verificar abordagens de tratamento, para
avaliar o processo de diagnóstico, para ver que ferramentas
deveriam ser usadas. Por exemplo, poderíamos ter colhido
sangue de sobreviventes, processado esse sangue e usar o
plasma para imunizar outras pessoas, mas isso nunca foi tentado.
Então, faltou muita coisa. Coisas assim são realmente um
fracasso global. A OMS é financiada para monitorar epidemias, não para fazer essas coisas. Bem, no cinema, a coisa é
bem diferente. Existe um grupo de belos epidemiologistas
prontos para agir, e eles vão, resolvem o problema, mas isso é
pura produção de Hollywood.
O fracasso de preparação poderia permitir que uma próxima
OÁSIS
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SAÚDE
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Tradução integral da palestra de Bill Gates ao TED
epidemia fosse drasticamente mais devastadora que o Ebola. Vejamos a progressão do Ebola ao longo deste ano. Cerca de 10 mil
pessoas morreram e quase todas estavam nos três países do oeste
da África. Há três razões de o vírus não ter se espalhado mais. A
primeira é que houve muito trabalho heroico de profissionais de
saúde. Eles encontravam as pessoas e evitavam novos contágios. A
segunda é a natureza do vírus. O Ebola não é transmissível pelo
ar e, quando se está no estágio contagioso, a maioria dos pacientes
fica tão doente que fica acamada. A terceira é que ele não entrou em
muitas áreas urbanas, e isso foi simplesmente por sorte. Se tivesse
entrado em muito mais áreas urbanas, o número de casos teria sido
bem maior.
Então, de uma próxima vez, talvez não tenhamos tanta sorte. Pode
haver um vírus que deixe o paciente aparentemente bem no estágio
contagioso, a ponto de ele conseguir viajar de avião ou ir ao mercado. A fonte do vírus poderia ser uma epidemia natural como o
Ebola, ou poderia ser bioterrorismo. Então, há coisas que poderiam
tornar as coisas literalmente mil vezes piores.
mentas, mas elas precisam ser colocadas num sistema geral
de saúde global, e precisamos de preparação.
Acho que as melhores lições sobre como nos prepararmos
são, mais uma vez, o que fazemos para a guerra. Soldados
ficam preparados para agir a qualquer momento. Temos
reservistas que podem nos representar em grande número. A
OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tem uma
unidade móvel que pode entrar em ação com muita rapidez e
faz vários testes de guerra para saber: as pessoas estão treinadas? Eles entendem sobre combustível, logística e as mesmas
frequências de rádio? Então, eles ficam totalmente prontos
para agir. Esses são os tipos de coisas com as quais precisamos lidar numa epidemia.
Quais são as peças principais? Primeiro, precisamos de sistemas de saúde fortes em países pobres, onde mães possam
Na verdade, vejamos um modelo de um vírus espalhado pelo
ar, como o da gripe espanhola, em 1918.Vejamos o que aconteceria: ele se espalharia pelo mundo muito, muito rapidamente. Podemos ver que mais de 30 milhões de pessoas morreriam da epidemia. Então, esse é um problema sério, deveríamos nos preocupar,
mas, na verdade, podemos criar um sistema de reação muito
bom. Temos a vantagem de toda a ciência e tecnologia de que falamos aqui. Temos telefones celulares para coletar informações das
pessoas e divulgar informações para elas. Temos mapas de satélite
em que podemos ver onde as pessoas estão e aonde vão. Temos
avanços na biologia, que mudariam drasticamente o tempo de
resposta para analisarmos um patógeno e sermos capazes de criar
vacinas e medicamentos compatíveis com ele. Podemos ter ferraOÁSIS
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SAÚDE
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Tradução integral da palestra de Bill Gates ao TED
dar à luz em segurança e crianças tenham acesso a todas as vacinas, mas onde também veremos o surto logo no início. Precisamos
de um corpo médico a postos: muitas pessoas com treinamento e
experiência são necessárias, que estejam prontas para agir, com
expertise. E precisamos juntar esses profissionais da saúde aos
militares, lançando mão da capacidade militar de se mover rápido, de fazer logística e de tornar áreas seguras. Precisamos realizar
simulações, testes de germes e não de guerra, para vermos onde
estão as falhas. A última vez em que um teste assim foi realizado
nos EUA foi em 2001, e o resultado não foi muito bom. Até agora,
o resultado é: germes, 1; pessoas, 0. Por fim, precisamos de muita
P&D avançada na área de vacinação e de diagnóstico. Há algumas
grandes descobertas, como o vírus adeno-associado, que poderiam
agir de forma bem rápida.
OÁSIS
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SAÚDE
Não sei exatamente quanto isso custaria, em termos de orçamento, mas tenho certeza de que seria algo bem modesto,
comparado aos possíveis danos. O Banco Mundial estima
que, se tivermos uma epidemia global de gripe, a riqueza global cairá em mais de 3 trilhões de dólares e teríamos milhões
e milhões de mortes. Esses investimentos oferecem benefícios significativos, que vão além de apenas preparação para
a epidemia. Cuidados básicos de saúde, P&D, coisas assim
reduziriam a imparcialidade da saúde global e tornariam o
mundo mais justo e mais seguro.
Então, acho que essa deveria, com certeza, ser uma prioridade. Não é preciso entrar em pânico. Não precisamos acumular latas de espaguete, nem ficar em porões, mas precisamos
nos apressar, porque o tempo não está ao nosso lado.
Na verdade, se há algo de positivo na epidemia de Ebola, é
que ela pode servir de sinal, de aviso, para que nos preparemos. Se começarmos agora, talvez fiquemos preparados para
a próxima epidemia.
Obrigado.
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