Composição mineral e sintomas de deficiência de macronutrientes em melão cultivado em solução nutritiva. Sanzio Mollica Vidigal¹; Carla Santos²; Paulo Roberto Gomes Pereira³; Dilermando Dourado Pacheco¹; Cláudio Egon Facion¹ ¹ EPAMIG, C.P. 216, CEP 36.570-000, Viçosa-MG; ²UFV, Estudante Especial do Dept° de Fitotecnia, Viçosa-MG;³ UFV, Professor do Dept° de Fitotecnia, Viçosa-MG. E-mail: [email protected] RESUMO O experimento foi conduzido em condições de casa-de-vegetação com plantas de melão, cv. Amarelo CAC cultivadas em vasos contendo 8 L de solução nutritiva de Hoagland completa. Aos 14 dias após o transplante foi iniciada a aplicação dos tratamentos: solução nutritiva completa e as omissões individuais de N, P, K, Ca e Mg, mantendo as plantas por mais 35 dias. Foram observados sintomas característicos de deficiência para todos os macronutrientes, sendo os teores nas folhas com sintomas de deficiência iguais a 11,2; 0,4; 13,7 e 2,0 g.kg-1 para N, P, Ca e Mg, respectivamente. Os teores de N, P, K, Ca e Mg em folhas normais no tratamento completo foram 43,2; 4,7; 37,9; 76,2 e 10,4 g.kg-1. Palavras-chave: Cucumis melo var. inodorus; sintomas de deficiência; nutrição de plantas. ABSTRACT Mineral composition and symptoms of macronutrientes deficiency in melon cultivated in nutritious solution. The experiment was carried out in glasshouse with melon plants, cv. Amarelo CAC, cultivated in vases contends 8 L of nutritious solution completes of Hoagland. To the 14 days after the transplant the application of the treatmentswas begun: nutritious solution completes and the individual omissions of N, P, K, Ca and Mg, maintaining the plants for more 35 days. Characteristic symptoms of deficiency were observed for all the macronutrients, being the content in the leaves with deficiency symptoms the same to 11,2; 0,4; 13,7 and 2,0 g.kg-1 for N, P, Ca and Mg, respectively. The content of N, P, K, Ca and Mg in normal leaves in the complete treatment were 43,2; 4,7; 37,9; 76,2 and 10,4 g.kg-1. Keywords: Cucumis melo var. inodorus; deficiency symptoms; nutrition of plants. INTRODUÇÃO A diagnose foliar é importante ferramenta para auxiliar o manejo da adubação nas diversas culturas. Entre os métodos de diagnose, a descrição dos sintomas de deficiência é importante, pois permite fazer um diagnóstico no campo e assim direcionar ações para comprovar e corrigir a deficiência de algum nutriente. Para se caracterizar estas deficiências com maior segurança, sem a interação com outros fatores, o cultivo em solução nutritiva é uma excelente opção, permitindo associar os sintomas visíveis com a composição mineral do tecido. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de caracterizar os sintomas visuais de deficiência de macronutrientes minerais e os seus teores associados com tais sintomas na cultura melão. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em condições de casa-de-vegetação com o melão, cv. Amarelo CAC, cultivando-se uma planta por vaso contendo oito litros de solução nutritiva de Hoagland. Aos 14 dias após o transplante foi iniciada a aplicação dos tratamentos: solução nutritiva completa e as omissões individuais de N, P, K, Ca e Mg, mantendo as plantas por mais 35 dias, registrando-se os sintomas de deficiências nutricionais de cada nutriente. Na colheita foram avaliados os teores de N-orgânico pelo reagente de Nessler, após digestão sulfúrica, P pelo método da Vitamina C, K por fotometria de chama, Ca e Mg por espectrofotômetro de absorção atômica, após digestão nítrico perclórica. A composição mineral foi determinada em folhas normais sem sintomas e em folhas com sintomas. Além da diagnose foliar, foram caracterizados os sintomas visuais de deficiências nutricionais mediante observações diárias das plantas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores de N em folhas normais sem sintomas em todos os tratamentos variaram de 18,1 a 69,4 g.kg-1 (Tabela 1). O menor valor foi observado em plantas no tratamento com omissão de N, que foi considerado inadequado para plantas de melão por estar abaixo da faixa de 25 a 50 g.kg-1 considerada adequada para plantas de melão (Jones Jr. et al, 1991; Locascio, 1993). Os teores de N observados nos tratamentos com omissão de Mg e com omissão de K apresentaram-se acima da faixa considerada pelos autores de referência, evidenciando efeito de concentração. O teor de N em folhas normais foi igual a 43,2 g.kg-1 no tratamento completo e igual a 18,1 e 11,2 g.kg-1 em folhas normais sem sintoma e em folhas com sintomas, respectivamente, no tratamento com omissão de N. Também, observou-se que houve redução nos teores de P e de Mg nas folhas normais sem sintomas no tratamento com omissão de N em relação ao tratamento completo, sugerindo que a deficiência de N reduz a absorção de P e de Mg ou aumentou a remobilização pelo floema. Estas hipóteses deverão ser testadas futuramente. Os sintomas visuais de deficiências de N observados no tratamento com omissão de N estão descritos na Tabela 2, juntamente com os teores foliares associados às deficiências. Os teores de P em folhas normais sem sintomas em todos os tratamentos variaram de 2,5 a 11,3 g.kg-1(Tabela 1). O menor valor foi observado em plantas no tratamento com omissão de P, estes teores foliares de P foram adequados para plantas de melão por estarem dentro da faixa de 2,0 a 6,0 g.kg-1 considerada adequada para plantas de melão (Jones Jr. et al, 1991; Locascio, 1993). Os teores de P observados nos tratamentos com omissão de K e com omissão de Mg apresentaram-se acima dessa faixa, evidenciando também efeito de concentração. O teor de P em folhas normais sem sintomas foi igual a 4,7 g.kg-1 no tratamento completo e igual a 2,5 e 0,4 g.kg-1 em folhas normais sem sintoma e em folhas com sintomas, respectivamente, no tratamento com omissão de P. Também, observou-se que houve redução no teor de Mg nas folhas normais sem sintomas no tratamento com omissão de P em relação ao tratamento completo, sugerindo também que a deficiência de P reduz a absorção de Mg. Os sintomas visuais de deficiências de P observados no tratamento com omissão de P estão descritos na Tabela 2, juntamente com os teores foliares associados às deficiências. Os teores de K em folhas normais sem sintomas em todos os tratamentos variaram de 16,5 a 42,1 g.kg-1(Tabela 1). O menor valor foi observado em plantas no tratamento com omissão de K, que foi considerado inadequado para plantas de melão por estar abaixo da faixa de 20,0 a 60,0 g.kg-1 considerada adequada para plantas de melão (Jones Jr. et al, 1991; Locascio, 1993). O teor de K em folhas normais sem sintomas foi igual a 37,9 g.kg-1 e 16,5 g.kg-1 , respectivamente, nos tratamentos completo e com omissão de K, não foi possível determinar os teores de K em folhas com sintoma no tratamento com a omissão de K. Observou-se que houve aumento no teor de P nas folhas normais sem sintomas no tratamento com omissão de K em relação ao tratamento completo, sugerindo efeito de concentração de P, ou que a deficiência de K aumenta a absorção de P. Os sintomas visuais de deficiências de K observados no tratamento com omissão de K estão descritos na Tabela 2. Os teores de Ca em folhas normais sem sintomas em todos os tratamentos variaram de 18,8 a 76,2 g.kg-1(Tabela 1). O menor valor foi observado em plantas no tratamento com omissão de Ca, que foi considerado adequado para plantas de melão por estar dentro da faixa de 10,0 a 20,0 g.kg-1 considerada adequada para plantas de melão (Jones Jr. et al, 1991; Locascio, 1993). Os teores de Ca observados nos demais tratamentos apresentaram-se acima dessa faixa, evidenciando efeito de concentração. O teor de Ca em folhas normais sem sintomas foi igual a 76,2 g.kg-1 no tratamento completo e igual a 18,8 e 13,7 g.kg-1 em folhas normais sem sintomas e em folhas com sintomas, respectivamente, no tratamento com omissão de Ca. Também, observou-se que houve redução nos teores de P, K e Mg nas folhas normais sem sintomas no tratamento com omissão de Ca em relação ao tratamento completo, sugerindo que a deficiência de Ca reduz a absorção de P, de K e de Mg. Os sintomas visuais de deficiências de Ca observados no tratamento com omissão de Ca estão descritos na Tabela 2. Os teores de Mg em folhas normais sem sintomas em todos os tratamentos variaram de 0,1 a 10,4 g.kg-1 (Tabela 1). O menor valor foi observado em plantas no tratamento com omissão de Ca, que foi considerado inadequado para plantas de melão por estar abaixo da faixa de 3,0 a 6,0 g.kg-1 considerada adequada para plantas de melão (Jones Jr. et al, 1991; Locascio, 1993). Os teores de Mg observados no tratamento completo e no tratamento com omissão de K apresentaram-se acima dessa faixa. O teor de Mg em folhas normais sem sintomas foi igual a 10,4 g.kg-1 no tratamento completo e igual a 4,5 e 2,0 g.kg-1 em folhas normais sem sintomas e em folhas com sintomas, respectivamente, no tratamento com omissão de Mg. Também, observou-se que houve aumento no teor de P nas folhas normais sem sintomas no tratamento com omissão de Mg em relação ao tratamento completo, sugerindo que a deficiência de Mg aumenta a absorção de P. Os sintomas visuais de deficiências de Mg observados no tratamento com a omissão de Mg estão descritos na Tabela 2, juntamente com os teores foliares associados às deficiências. Foram observados sintomas característicos de deficiência para todos os macronutrientes, sendo os teores nas folhas com sintomas de deficiência iguais a 11,2; 0,4; 13,7 e 2,0 g.kg1 para N, P, Ca e Mg, respectivamente. Os teores de N, P, K, Ca e Mg em folhas normais no tratamento completo foram 43,2; 4,7; 37,9; 76,2 e 10,4 g.kg-1. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). LITERATURA CITADA JONES JUNIOR, J.B., WOLF, B., MILLS, H.A. Plant analysis handbook: a practical sampling, preparation, analysis and interpretation guide. Athens: Micro-Macro, 1991. 213p. LOCASCIO, S.J. Cucurbits: Cucumber, Muskmelon and Watermelon In: BENNETT, W.F. (Ed.). Nutrient deficiencies and toxicities in crop plants. APS Press: The American Phytopathological Society. St. Paul, USA. 1993. p.123-130. Tabela 1– Teores de nutrientes em folhas normais sem sintomas em plantas de melão cultivadas em solução nutritiva completa e com a omissão de nutriente. Epamig, 2004 Tratamentos Nutriente Completo* Sem N Sem P Sem K Sem Ca Sem Mg g.kg-1 N 43,2a 18,1b 47,3a 61,9a 37,4a 69,4a P 4,7a 3,5b 2,5a 11,3a 3,5a 10,9a K 37,9a 25,7b 36,7a 16,5b 25,3b 42,1a Ca 76,2a 23,8a 26,5a 60,0a 18,8b 50,0a Mg 10,4a 5,3b 6,0b 9,8a 0,1b 4,5b * Letras iguais na mesma linha, comparando cada tratamento com omissão de nutriente com o tratamento completo, não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F. Tabela 2 – Descrição dos sintomas visuais de deficiência em plantas de melão e os teores foliares em folhas com sintoma em função de tratamento com a omissão de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Epamig, 2004 Nutriente Sintoma Visual (Descrição) Folhas mais velhas com coloração verde mais claro, evoluindo para cor amarela, característico de plantas Nitrogênio deficientes em nitrogênio. Redução de crescimento nas folhas mais novas, e ainda, aumento na distância entre as folhas novas. Folhas com coloração verde mais escuro, apresentando limbo mais rígido e redução no crescimento das folhas. Na seqüência, nas folhas mais novas apareceram manchas Fósforo arroxeadas, característico de plantas deficientes em fósforo, evoluindo para necrose com cor escura. Clorose nas bordas das folhas mais velhas, evoluindo para Potássio necrose. As folhas mais novas apresentaram-se distorcidas e encarquilhadas, com pontos necróticos nas margens das folhas, ocorrendo necrose internerval. No ápice da planta, Cálcio pontos necróticos evoluíram para a morte dos tecidos, também ocorreu morte de radicelas. Houve um aumento no número de ramificações na base da planta. As nervuras apresentaram-se “raspadas”, semelhante a dano físico por abrasão, evoluindo para limbo internerval com manchas esbranquiçadas. As folhas também apresentaram Magnésio enrolamento dos bordos para cima, evidenciando crescimento diferenciado entre epiderme inferior e superior, e ao final tornaram-se necrosadas e quebradiças. As raízes escureceram. nd – não determinado Teor na folha com sintoma (g kg-1) 11,2 0,4 nd 13,7 2,0