Sangue – Prof. Raquel Seiça

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Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
Sangue – Prof. Raquel Seiça
Sangue: características, funções e composição
Sangue:
- é um tecido composto por um conjunto de diferentes células suspensas num meio
líquido, o plasma
- é um veículo vital de comunicação entre tecidos
- permite o transporte de nutrientes do intestino para os tecidos, de O2 e CO2, de
produtos resultantes do metabolismo celular e de hormonas; confere protecção contra
organismos invasores
Composição do sangue
- o sangue é composto pelo plasma e por elementos celulares
ƒ
Plasma: é constituído por água e substâncias dissolvidas, cuja função é o
transporte de substâncias com concentrações variáveis
Plasma
(± 55%)
constituído por:
água
aminoácidos
iões (Na+)
moléculas
orgânicas
vitaminas
gases
glucose
proteínas
lípidos
nitrogénio
albumina
globulina
- 97 -
fibrinogénio
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ƒ
Sangue e Imunidade
Elementos celulares:
•
Glóbulos Vermelhos (hemácias): efectuam o transporte de gases (CO2 e
O2)
•
Plaquetas: são responsáveis pela coagulação do sangue (hemóstase
primária, hemóstase secundária e integridade do endotélio)
•
Glóbulos Brancos (leucócitos): têm função de defesa do organismo;
existem vários tipos de leucócitos de acordo com a sua função
Elementos celulares
(± 45%)
glóbulos
vermelhos (GV)
linfócitos
glóbulos
brancos (GB)
monócitos
neutrófilos
plaquetas
eosinófilos
basófilos
Contagem dos elementos celulares
- a classificação e contagem dos elementos do sangue e respectivas percentagens
denominam-se hemograma
- de acordo com o que se pretende determinar à que considerar diversos tipos de análise:
•
glóbulos brancos: contagem diferencial de glóbulos brancos ou fórmula
leucocitária (%)
•
hematócrito (Ht): exprime a relação entre o volume dos GV do sangue e
o volume total deste
•
hemoglobina (Hb): determinação da quantidade de hemoglobina
•
volume globular médio (VGM): determinação do tamanho dos GV (Ht/
nº GV)
•
concentração
da
hemoglobina
corpuscular
quantidade de hemoglobina por GV (Hb/Ht)
•
morfologia dos GV
- 98 -
média
(CHCM):
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Origem das Células Sanguíneas
Onde são produzidas as células sanguíneas?
- o processo de produção das células sanguíneas pela maturação de células percursoras,
denomina-se por hematopoiese
- durante a vida intra-uterina a hematopoiese ocorre no fígado do feto (cessa após
nascimento), sendo as células levadas até à medula óssea
- até aos cinco anos de idade as células sanguíneas são produzidas na medula (tecido de
funções hematopoiéticas, que preenche o canal medular dos ossos e as lacunas dos
ossos esponjosos) de todos os ossos, a partir dos cinco anos são produzidas na medula
de alguns ossos (crânio, vértebras, etc.)
- a
produção destas células (eritropoiese – produção de glóbulos vermelhos;
leucopoiese – produção de glóbulos brancos) ocorre em dois tipos de tecidos após o
nascimento, tecido mielóide e tecido linfóide.
- o tecido mieloide é a medula óssea vermelha dos ossos longos, esterno, pélvis, etc.; o
tecido linfóide inclui os nodos linfáticos, as amígdalas, o baço e o timo, o qual produz
linfócitos provenientes de células originadas na medula óssea.
- o processo da hematopoiese ocorre no tecido mieloide em simultâneo com o tecido
linfóide. A população de células indiferenciadas, vão gradualmente diferenciando-se,
até passarem a ser consideradas células estaminais, as quais darão origem às diferentes
células sanguíneas
- só no sangue é que ocorre o amadurecimento das células progenitoras dando origem às
diferentes células sanguíneas
- há uma regeneração constante de células sanguíneas, adaptada às necessidades do
organismo
Factores de crescimento hematopoiéticos/citoquinas
- a regulação da hematopoiese é efectuada pelas citoquinas, as quais estimulam a
diferenciação e proliferação das células progenitoras
- existe diferentes tipos de citoquinas:
•
colony-stimulating factors (CSFs): são produzidos pelas células
endoteliais, glóbulos brancos e medula óssea e estimulam a produção e
crescimento das linhas celulares; destacam-se os: GM-CSF (acção nos
- 99 -
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glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e nos megacariócitos), G-CSF
(acção nos neutrófilos) e M-CSF (acção nos monócitos)
•
interleucinas/IL (+IL3): são produzidas pelas células endoteliais e
glóbulos brancos e estimulam a produção e crescimento de linhas
celulares maioritariamente a dos glóbulos brancos
•
trombopoietina (TPO): são produzidas no fígado e no rim e estimulam
a produção e crescimento das plaquetas e dos megacariócitos
•
eritropoietina (EPO): são produzidas no rim e estimulam a produção e
crescimento dos glóbulos vermelhos; a produção da EPO é estimulada
pela funcionalidade dos glóbulos vermelhos:
baixa quantidade de O2
nos tecidos (hipóxia)
aumento
de EPO
aumento da
síntese de GV
aumento de
hemoglobina
aumento do transporte
de O2 para os tecidos
Glóbulos Vermelhos/ Hemácias
Diferenciação Celular
- a síntese de glóbulos vermelhos a partir de células
estaminais, implica um conjunto de modificações
progressivas:
- as células tornam-se progressivamente mais
pequenas
- possuem menos organelos
- mais hemoglobina
- adquirem receptores para o complexo ferrotransferrina
- a perda do núcleo dá origem ao reticulócito, o
qual mantém-se na medula óssea; quando é libertado
para a corrente sanguínea dá-se a sua maturação Ö
glóbulo vermelho
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Características dos Glóbulos vermelhos
- os glóbulos vermelhos, cuja função é o transporte de O2 e CO2, têm características
especificas:
- disco bicôncavo
- dimensão e forma similar entre si
- grande relação superfície/volume (área de difusão maior)
- são flexíveis (adaptam-se e passam nos capilares sem serem destruídos)
- não possuem núcleo e organelos (não possuem mitocôndrias daí obterem
energia através da respiração anaeróbia)
- membrana plasmática com proteínas (polissacarídeos diferentes, o que confere
grupos sanguíneos diferentes)
- têm um tempo de vida cerca de 120 dias
- possuem hemoglobina
Molécula de Hemoglobina
- a hemoglobina é a principal proteína dos glóbulos vermelhos
- cada molécula de hemoglobina é constituída por 4 cadeias proteicas e 4 grupos heme
com ferro (excepto a HbA1c-glicosilada que não possui ferro)
- de acordo com as diferentes cadeias proteicas que constituem a hemoglobina
distinguem-se vários tipos de hemoglobina:
•
HbA: 2 cadeias α e 2 cadeias β
•
HbA2-2,5%: 2 cadeias α e 2 cadeias δ
•
HbF-fetal (vida intra-uterina; transporta mais O2 do que a HbA): 2
cadeias α e 2 cadeias γ
•
HbA1c-glicosilada (importante nos diabéticos): glicose ligada à valina
da cadeia β
- cada grupo heme é constituído por um átomo de ferro, o qual fixa uma molécula de
O2, deste modo cada hemoglobina fixa quatro moléculas de O2 (oxihemoglobina), já que
possui quatro grupos heme
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Metabolismo do ferro e vida dos Glóbulos vermelhos (acetato 12)
- as ligações entre o ferro e o O2 são débeis e reversíveis o que permite que ocorrem
trocas gasosas
- ao nível dos tecidos o O2 é libertado dos glóbulos vermelhos para as células, retirando
destas o CO2 proveniente do seu metabolismo (5)
- ao nível dos pulmões os glóbulos vermelhos recebem O2 e libertam o CO2 que
transportam (5)
- o ferro pode ser proveniente da dieta (1), sendo absorvido a nível do intestino delgado
(2), provir de glóbulos vermelhos velhos que foram destruídos no baço (6) (os
aminoácidos das globinas também podem ser reciclados), ou provir da reserva de ferro
do fígado (ligado à ferritina), passando posteriormente para a corrente sanguínea (3 e 6)
- este ferro liga-se à transferrina (molécula de transporte), sendo levado até à medula
óssea para incorporar novos glóbulos vermelhos (4)
- a bilirrubina e outros metabolitos (7) resultantes da destruição dos glóbulos vermelhos,
incorporam a corrente sanguínea e são transportados até ao fígado (sujeitos a reacções,
produzindo a bílis e sendo excretados pelas fezes – 8) e/ou até aos rins (excretados pela
urina – 9)
Plaquetas/Trombócitos e Hemóstase
Características das Plaquetas
- as plaquetas têm função na hemóstase primária e secundária e na integridade do
endotélio
- são pequenos fragmentos de megacariócitos anucleados, mas com mitocôndrias e
retículo endoplasmático liso, são encontrados na medula óssea
- são activos (contracção e produção de ATP) e activáveis (activam mecanismos para
prevenir perda de sangue)
- fraca reserva medular
- têm um tempo de vida curto, cerca de 10 dias
Hemóstase
- o processo de prevenção da perda de sangue num vaso lesionado designa-se por
hemóstase
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- este processo envolve diversos mecanismos:
1 – vasoconstrição: diminuição local do fluxo de sangue e da pressão, devido à
contracção dos vasos sanguíneos
2 – formação do coágulo/tampão plaquetar (hemóstase primária): agregação de
plaquetas que bloqueiam os vasos
3 – formação do coágulo sanguíneo (hemóstase secundária)
4 – retracção do coágulo e reparação dos tecidos
- há que haver um equilíbrio entre os mecanismos de coagulação e fluidez do sangue, de
modo a não ocorrer patologias, tais como as tromboses (obstrução total ou parcial no
interior de um vaso sanguíneo ou no interior do coração, levando à formação de um
coágulo sanguíneo) ou hemofilia (caracterizada por hemorragias frequentes e paragem
difícil)
ƒ
Hemóstase primária:
- a activação de plaquetas é iniciada quando o colagénio é exposto após uma lesão de
um tecido
- as plaquetas aderem ao colagénio e ao factor von Willebrand existente no endotélio do
vaso sanguíneo, libertando factores plaquetares (serotonina, tromboplastina e ADP) que
atraem outras plaquetas (aglutinação), formando o tampão plaquetar
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- por outro lado há substâncias que limitam a extensão do coágulo (permitem a
vasodilatação, inibem a activação, adesão e agregação de plaquetas) , como o NO e as
prostaciclinas, libertadas pelo endotélio de modo a que o tampão plaquetar não seja
demasiado grande
ƒ
Hemóstase secundária:
- a coagulação sanguínea é um processo complexo que consiste na activação sequencial
de vários factores de coagulação, sintetizados no fígado e muitos dependentes da
vitamina K
- o passo principal é a conversão do fibrinogénio em fibrina (formação de uma rede de
fibrina) pela trombina
- há que considerar um série de reacções em cadeia/duas vias para a formação do
coágulo sanguíneo:
•
via extrínseca: via inicial da coagulação, activada quando ocorre
danificação de algum tecido, permite a activação da via intrínseca e
promove a formação de trombina mas em menos quantidade do que a via
intrínseca
•
via intrínseca: activada pela via extrínseca e promove a formação de
grandes quantidades de trombina
- há uma via comum entre a via extrínseca e a via intrínseca em que a protrombina está
inactiva no plasma Ö torna-se activa em situações que é necessário a formação de um
coágulo, pelo complexo activador da protrombina Ö passando a trombina (dependente
da vitamina k e do cálcio) Ö a qual actua sobre o fibrinogénio Ö transformando-o em
fibrina Ö e formando uma rede de fibrina Ö o coágulo sanguíneo
- a retracção do coágulo é realizada devido à contracção plaquetar e à do músculo liso
vascular
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Sangue e Imunidade
Lise ou dissolução do coágulo e sistema de anti-coagulação
- o principal mecanismo de remoção do coágulo (fundamental para a reparação dos
tecidos) é o sistema fibrinolítico
- o sistema fibrinolítico é iniciado pelos activadores tecidulares de plasminogénio (ex.
tPA) que vão transformar o plasminogénio em plasmina, a qual permite a degradação da
rede de fibrina em pequenos fragmentos de fibrina
- o nosso organismo possui um sistema de anti-coagulação de modo a equilibrar a
fluidez do sangue. Deste modo há que considerar diferentes métodos para manter esse
equilíbrio como a dissolução do coágulo pelo sistema fibrinolítico, a limitação da
extensão do coágulo pela produção e libertação de NO e prostaciclinas e pela produção
de anticoagulantes endógenos e coagulação inapropriada (acção da anti-trombina III que
permite a activação da trombina e outros factores de coagulação e acção da heparina que
permite a activação da anti-trombina III e inibição da função plaquetar
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Sangue e Imunidade
Leucócitos e Imunidade – Prof. Raquel Seiça
Leucócitos e Imunidade
- imunidade é a capacidade que o organismo possui em neutralizar ou destruir
substâncias estranhas não microbianas e células anormais, protegendo o organismo
contra infecções
- do sistema imunitário fazem parte os vasos linfáticos, os tecidos e órgãos linfóides e
uma diversidade de células efectoras (células imunes/leucócitos)
- os tecidos linfóides são classificados em dois conjuntos:
- tecidos linfóides primários – timo e medula óssea, onde os linfócitos se
diferenciam e atingem maturação (acetato15):
ƒ
Timo
- o timo é um órgão linfático que se localiza no tórax, anterior ao coração, e está
dividido em dois lobos, o esquerdo e o direito, sendo estes, subdivididos em vários
lóbulos, cada um dos quais com uma zona medular e uma zona cortical. É nesta última
que se encontram os linfócitos em maturação. Após maturação deslocam-se para os
tecidos linfóides secundários
ƒ
Medula Óssea
- a medula óssea pode ser considerada simultaneamente um órgão linfóide primário e
secundário. É constituída por células reticulares, associadas a fibras reticulares e, no seu
centro, uma enorme quantidade de capilares sanguíneos com grandes poros que
permitem a saída de células maduras. Tem uma função sustentadora e é indispensável
ao desenvolvimento das células que participam da hematopoiese
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Sangue e Imunidade
- tecidos linfóides secundários – baço e nódulo linfático, sendo estruturas locais
de desenvolvimento da resposta imunitária (acetato 16):
ƒ
Baço
- o baço é o maior órgão linfático secundário do organismo e tem como função
imunológica a libertação de linfócitos B, T, plasmócitos e outras células linfóides
maduras, capazes de realizar uma resposta imunitária, para o sangue e não para a linfa
- tem a capacidade de filtrar e reter antigénios que estejam na circulação sanguínea,
permitindo, deste modo, responder a infecções sistémicas
ƒ
Nódulos Linfáticos
- os nódulos linfáticos têm a função de “filtrar” a linfa que chega até eles e remover
bactérias, vírus e restos celulares, entre outros
- na zona entre o córtex e a medula encontram-se os linfócitos T, que estão já aptos a
desencadear uma resposta imunitária, sair do nódulo linfático e se dirigirem ao local de
acção.
- as principais células do sistema imunitário (sistema de protecção) são os glóbulos
brancos/leucócitos, unidades móveis originários das células estaminais primitivas da
medula óssea
- distingue-se dois tipos de leucócitos de acordo com a presença ou não de grânulos, os
granulócitos e agranulócitos
- pode-se enumerar diferentes glóbulos brancos, tais como:
•
linfócitos: responsáveis pela imunidade adquirida; linfócitos B
(imunidade humoral), linfócitos T (imunidade celular) e linfócitos NK
(resposta imunitária específica)
Agranulócitos
•
monócitos
(diferenciam-se
posteriormente
em
macrófagos):
em
processos inflamatórios invadem os tecidos afectados, sendo então
activamente fagocitários
- 107 -
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•
Sangue e Imunidade
neutrófilos: têm a propriedade da fagocitose, fagocitando bactérias e
libertando várias substâncias como a lisozima e agentes oxidantes
•
eosinófilos: presentes no sangue periférico e têm acção nas alergias e
parasitoses
Granulócitos
•
basófilos (mastócito): participam nas defesas locais (reacções
inflamatórias e alérgicas) e libertam heparina (substância anticoagulante)
e histamina
•
macrófagos-like: são células dentríticas, que reconhecem e capturam
antigénios, migram depois para o tecido linfóide e activam os linfócitos
- depois do nascimento, os granulócitos e os monócitos, nos humanos, continuam a ser
produzidos na medula óssea, enquanto que os linfócitos são produzidos nos nódulos
linfáticos
- os granulócitos e monócitos são células nucleadas com lisossomas que contêm
enzimas - as hidrólases - responsáveis pela digestão de moléculas e material estranho
- a acção imunitária é influenciada por diversos factores, variando a intensidade da
resposta com a idade, stress, estado nutricional e de saúde, entre outros
- o sistema imunitário deve reconhecer as próprias células, uma vez que cada indivíduo
é bioquimicamente único
- na superfície das células existem macromoléculas (glicoproteínas), que funcionam
como marcadores, permitindo distinguir o “próprio” do “não próprio”
- 108 -
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Sangue e Imunidade
- a imunidade pode ser de dois tipos:
•
imunidade adquirida/defesa imune específica: se as defesas usadas
pelo organismo são adaptadas especialmente a um dado parasita invasor
•
imunidade inata/defesa imune não específica: se os mecanismos de
defesa são genéricos, não variando com o tipo de agente patogénico
- os mecanismos de defesa não específica podem ser externos ou internos,
constituindo-se como a primeira barreira à infecção
- as defesas específicas, divididas em sistema de imunidade humoral e sistema de
imunidade celular, surgem numa segunda fase, sendo, no entanto, altamente eficientes
Imunidade inata/defesa imunitária não específica
- a defesa imunitária não específica está permanentemente disponível e tem um modo
de actuação independente do tipo de agentes invasores (não há reconhecimento da
identidade específica), constituindo-se como uma primeira barreira às infecções
- há apenas reconhecimento de algumas propriedades gerais do agente estranho como a
presença de hidratos de carbono e lípidos na membrana plasmática
- os principais modos de defesa desta imunidade são as barreiras físicas (primeira linha
de defesa do organismo contra a entrada de corpos estranhos – pele e pêlos) e químicas
(segregação de substâncias tóxicas para muitas bactérias, por glândulas sebáceas,
sudoríparas e lacrimais, impedindo a sua progressão no organismo), o interferon, a
resposta inflamatória e o sistema complemento
•
Interferon/interferão:
- o interferão é um tipo de proteína de pequeno tamanho produzida por processos
naturais a partir de células, ou segregadas a seguir a uma infecção por vírus
- o interferão difunde-se, entra na circulação sanguínea e vai ligar-se à membrana
citoplasmática de células vizinhas, de modo a que estas produzem proteínas antivirais,
evitando assim, que o vírus se replique dentro das células
- o interferão não é específico, pois pode inibir a multiplicação de vírus muito diferentes
(pode ser muito útil no tratamento de doenças virais e cancerosas)
- 109 -
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•
Sangue e Imunidade
Resposta Inflamatória
- a inflamação é um processo vital na mobilização das defesas do organismo contra
organismos invasores e na posterior reparação de danos causados
- apesar da eficácia das barreiras externas alguns microrganismos podem ultrapassar
essas barreiras
- na zona de penetração dos elementos estranhos produz-se uma reacção inflamatória,
traduzida por uma sequência complexa de acontecimentos que visam inactivar ou
destruir esses agentes
- a danificação dos tecidos provoca a libertação de substâncias farmacologicamente
activas (como, por exemplo, a histamina) de certas células existentes na área danificada
- estas substâncias provocam o aumento do diâmetro dos capilares sanguíneos
(vasodilatação) e também a sua permeabilidade
- o vermelhidão que se forma e o aumento de temperatura resultam do aumento do
volume de sangue na área, ao mesmo tempo que mais proteínas e fluido se concentram,
causando intumescimento
- este inchaço e alteração da permeabilidade dos capilares permitem que anticorpos e
leucócitos se desloquem mais rapidamente na direcção do agente invasor (quimiotaxia e
diapedese)
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Sangue e Imunidade
- a presença de neutrófilos e mais tarde de monócitos que se transformam em
macrófagos (células fagocitárias) permitem a destruição dos agentes estranhos por
fagocitose
- após todas estas reacções de defesa, ocorre a reparação tecidular, havendo regeneração
dos tecidos, devido à formação de novas células por processos mitóticos
Fagocitose
- a fagocitose consiste na absorção e na digestão de bactérias e partículas estranhas, por
qualquer célula com capacidade para ingerir material estranho
- a partícula estranha é envolvida por uma invaginação da membrana citoplasmática
(endocitose) que acaba por formar uma vesícula digestiva, designada por vacúolo
digestivo ou fagossoma
- a partícula estranha é digerida por enzimas produzidas nos lisossomas, por fusão
destes com o fagossoma
- a partícula digerida é excretada
- na fagocitose a célula fagocítica tem proteínas na membrana que vão envolver o
agente patogénico, isto é, há ligação de receptores de células imunes com o agente
estranho
- nem todos os agentes são reconhecidos instantaneamente pelos fagócitos, daí a
presença de proteínas de marcação, as opsoninas
- as opsoninas actuam como um ponto de ligação entre o agente patogénico e os
receptores dos fagócitos
- as células fagocíticas não reconhecem bactérias com cápsula (normalmente
polissacarídeos), sendo estas, então, revestidas pelas opsoninas (opsonização) de modo
a que haja reconhecimento por parte das células fagocíticas e ocorrer assim a fagocitose
•
Sistema complemento
- o sistema complemento desencadeia mecanismos pelos quais os corpos estranhos são
destruídos
- é constituído por uma série de proteínas que normalmente circulam no sangue no
estado inactivo
- uma vez activadas, aumentam a vasodilatação e a permeabilidade dos vasos e facilitam
a saída de neutrófilos bem como a libertação de substâncias químicas que atraem mais
leucócitos
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Sangue e Imunidade
- facilitam a fagocitose, uma vez que quando ligadas às células estranhas são
reconhecidas mais facilmente
- além das reacções referidas as proteínas do sistema complemento podem provocar
uma destruição directa dos agentes estranhos, pelo complexo MAC, em que há
formação de poros na parede da célula bacteriana, pelos quais entram na bactéria fluidos
e sais (iões) que provocam o seu rebentamento e destruição por choque osmótico
Imunidade adquirida/defesa imunitária específica
- a defesa imunitária específica é responsável pela resposta de defesa altamente
específica e personalizada que o organismo desenvolve face a um dado parasita ou
infecção determinada
- este tipo de resposta surge numa segunda fase de defesa, sendo, no entanto, altamente
eficiente
- a imunidade específica é adquirida como resultado da exposição a um determinado
agente estranho ao organismo, os antigénios, os quais são reconhecidos graças à
presença de determinadas moléculas à sua superfície
Resposta Imune
- uma resposta imunitária específica contra invasores estranhos engloba três funções
importantes:
1 – Encontro e reconhecimento do antigénio pelos linfócitos – em que há
síntese de linfócitos, adquirindo estes receptores específicos a determinado antigénio
para posterior ligação
2 – Reacção – em que há activação e expansão clonal dos linfócitos, e
produção de células de memória e células efectoras
3- Acção – em que os agentes do sistema imunitário (linfócitos activos)
neutralizam ou destroem os corpos estranhos
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Sangue e Imunidade
Origem dos Linfócitos
- as células da medula óssea precursoras de linfócitos migram para o timo ou
permanecem na medula óssea
- as células que se diferenciam
sob
a
influência
do
timo
transformam-se em linfócitos
T, enquanto que os linfócitos B
continuam
o
seu
desenvolvimento na medula
óssea
- no interior do timo e da
medula óssea os linfócitos , sob
a acção de hormonas, adquirem
os receptores específicos de
antigénios que lhes permitem
reconhecer
- após aquisição dos receptores, já estão aptos para produzir uma resposta imunitária, ou
seja, são células imunocompetentes
- os linfócitos migram depois para um tecido linfóide secundário
- as células Natural Killer/NK são semelhantes aos linfócitos T, mas com uma maior
actividade de destruição
- as respostas imunitárias específicas agrupam-se em dois conjuntos principais:
imunidade humoral ou imunidade mediada por anticorpos e imunidade celular ou
imunidade mediada por células
Imunidade Humoral
- os principais responsáveis pelo funcionamento deste tipo de defesa são os linfócitos B,
produtores de anticorpos, em resposta ao antigénio e a citoquinas libertadas pelos
linfócitos T helper
- a imunidade humoral pode ser do tipo activo (anticorpos produzidos pelo próprio
indivíduo) ou passivo (anticorpos obtidos através da placenta ou por administração de
soro imunitário - fonte externa). A imunidade activa pode resultar de causas naturais
(exposição ao antigénio) ou artificiais (vacinação)
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Sangue e Imunidade
- cada célula produz apenas anticorpos específicos para um determinado antigénio
- a multiplicação e diferenciação de linfócitos B activados ocorrem do seguinte modo:
- o antigénio chega ao organismo a um órgão linfóide e estimula uma
pequena fracção de linfócitos B, aqueles que possuem na membrana receptores
específicos para esses antigénios
- esses linfócitos experimentam uma rápida divisão, formando células que se
diferenciam em plasmócitos/células efectoras (células activas capazes de produzir
anticorpos)
- nem todos os linfócitos B estimulados se diferenciam em plasmócitos.
Muitos diferenciam-se em células-memória que ficam inactivas, mas prontas a
responder rapidamente caso o antigénio venha a reaparecer posteriormente no
organismo
- os anticorpos (específicos para o agente estranho) produzidos são libertados no sangue
ou na linfa, circulando até ao local da infecção
- geralmente os anticorpos não reconhecem o antigénio como um todo, mas identifica
regiões localizadas na superfície deste, chamadas determinantes antigénicos
Estrutura do Anticorpo
- os anticorpos são glicoproteínas específicas denominadas por imunoglobulina (p.e.
IgG, IgE, IgD, IgA e IgM)
- cada anticorpo é capaz de se combinar quimicamente com o antigénio específico que
estimulou a produção desse anticorpo
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Sangue e Imunidade
- a especificidade está relacionada com a estrutura química do antigénio e do anticorpo
- os anticorpos têm tipicamente a forma de Y, sendo compostos por quatro cadeias
polipeptídicas interligadas
- as duas cadeias mais longas são denominadas cadeias pesadas e as duas cadeias mais
curtas cadeias leves
- cada anticorpo tem uma região variável, que reconhece um antigénio específico, e
uma região constante, que controla o modo como a molécula interactua com outros
elementos do sistema imunitário e permite a ligação à membrana do linfócito B/receptor
- em diferentes anticorpos a sequência de aminoácidos ao longo das cadeias
polipeptídicas é constante, excepto em regiões, relativamente curtas, das zonas em que
as cadeias pesadas opõem-se às cadeias leves
- nessas zonas as sequências de aminoácidos são singulares e próprias para cada tipo de
anticorpo, constituindo os locais de ligação para um antigénio específico
Memória Imunitária
- uma característica do sistema imunitário é a
capacidade de memória em relação a substâncias
estranhas que invadiram anteriormente o organismo
e às quais ele reage rapidamente quando ocorrer
nova infecção
- ao nascimento, os indivíduos possuem clones de
linfócitos com poucas células e insuficientes para
reagir ao invasor mas com especificidade antigénica
- após exposição ao agente invasor ocorre a
activação do clone de linfócitos e surge a expansão
clonal (clonolinfócitos)
- 115 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
- o encontro inicial provoca não só a proliferação e diferenciação de células efectoras,
como também de células-memória
- as células-memória têm a capacidade mais células efectoras e mais células-memória e
forem estimuladas mais tarde pelo mesmo antigénio
- as células efectoras actuam de imediato e sobrevivem pouco tempo, enquanto que as
células-memória ficam armazenadas no baço e gânglios linfáticos
- análise do gráfico:
•
quando é injectado o antigénio A aparece uma resposta imunitária
primária, traduzida pelo aumento da produção de anticorpos
•
se ocorrer novo contacto com o mesmo antigénio surge uma resposta
imunitária secundária, mais rápida de maior intensidade e de duração
mais longa
•
a memória é específica em relação ao antigénio A, pois o primeiro
contacto com o antigénio B desencadeia uma resposta imunitária
primária, em relação a esse antigénio
Vacinas e Imunização
- uma vacina é uma solução, preparada em laboratório, de agentes patogénicos mortos
ou inactivados de modo que não se reproduzam
- a vacina produz uma resposta imunitária primária e provoca a produção de célulasmemória
- as células-memória ficam no organismo e estão prontas a defendê-lo posteriormente se
ele for invadido por esses agentes patogénicos
- 116 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
Imunidade Celular
- os principais responsáveis pelo funcionamento deste tipo de defesa são os linfócitos T,
que são os primeiros reguladores da resposta imunitária, sendo capazes de reconhecer os
antigénios por si próprios
- os linfócitos T são activos contra parasitas multicelulares, fungos, células infectadas
por bactérias ou vírus, células cancerosa, tecidos enxertados e órgãos transplantados
- o reconhecimento de antigénios é possível porque os linfócitos T possuem na
superfície celular receptores para antigénios estranhos
- os linfócitos T apenas reconhecem aqueles antigénios que se ligam a marcadores da
superfície de certas células imunitárias
- existem diferentes tipos de linfócitos T:
- linfócitos T citotóxicos (CD8+cells) – uma vez activados estes linfócitos
migram para o local de infecção ou para o timo e segregam substâncias tóxicas que
matam as células anormais
- linfócitos T helper (CD4+cells) – reconhecem antigénios específicos e
segregam mensageiros químicos, os quais estimulam a capacidade defensiva de outras
células, como sejam fagócitos, linfócitos B e linfócitos T citotóxicos
- linfócitos T supressores – estas células através de mensageiros químicos,
ajudam a moderar ou suprimir a resposta imunitária, limitando a produção de anticorpos
pelos linfócitos B quando a infecção já está debelada
- as Células Natural Killer/NK são células de ataque e destruição, sem especificidade
para o antigénio, receptores dos linfócitos B e T e sem envolvimento das proteínas
MHC
- no entanto as NK estão incluídas na imunidade específica, pois na presença de
anticorpos e citoquinas segregadas pelos linfócitos T helper, a sua acção aumenta na
resposta imune
Receptores dos linfócitos T
- os receptores dos linfócitos T, formados por duas cadeias proteicas com regiões
específicas, encontram-se na membrana da célula T, não são segregados e permitem a
ligação entre o antigénio e as proteínas MHC
- 117 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
- existem dois tipos de proteínas MHC:
- tipo I – classe MHC I: presentes na superfície de células nucleadas, cuja
união com o antigénio provoca a ligação dos linfócitos T citotóxicos
- tipo II – classe MHC II: presente na superfície dos macrófagos, linfócitos
B e células macrófago-like, cuja união com o antigénio permite a ligação dos linfócitos
T helper
- vida intra-uterina: linfócito T desenvolvem-se no timo a partir de células percursoras
que migram da medula óssea
- as células que podem reagir com o próprio organismo são eliminadas; outras
multiplicam-se Öclones
Células apresentadoras de antigénios/APCs
- os linfócitos T não têm a capacidade de se ligar ao antigénio
- para que os linfócitos reagem ao antigénio, é necessário a presença de células
apresentadoras de antigénios , as quais têm na sua superfície, proteínas MHC
combinadas com fragmentos do antigénio, que permitem a activação dos linfócitos T e
sua ligação aos fragmentos.
- as células apresentadoras de antigénios podem ser de diferentes tipos tais como
macrófagos ou linfócitos B
- o antigénio é fagocitado pelas APCs, estas apresentam posteriormente os fragmentos
do antigénio combinados com as proteínas MHC, aos linfócitos T, os quais
desencadeiam um processo de destruição.
- para a activação dos linfócitos T helper, é necessário a presença de três factores de
activação:
1. apresentação do antigénio – MHC II combinada com o antigénio
2. co-estímulo – ligação de proteínas não antigénicas
3. secreção de citoquinas (TNF e IL1-interlicina) – podem produzir efeitos
autocrínicos e paracrínicos (outras células imunes)
- o linfócito T quando activo segrega IL-2 utilizada pelos linfócitos T citotóxicos e
citoquinas, as quais, activaram os linfócitos B de modo a produzir anticorpos que serão
libertados na corrente sanguínea e células-memória para uma resposta mais eficaz numa
segunda exposição ao antigénio
- 118 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
- os linfócitos B iniciam a destruição do agente agressor e protegem as estruturas
adjacentes
- quando ocorre a ligação de um determinado antigénio a um anticorpo pode ocorrer
diferentes situações: activação de linfócitos B com produção de anticorpos e célulasmemória; activação das opsoninas; ligação de vários anticorpos a um antigénio e
aglutinação da bactéria facilitando a fagocitose; activação de linfócitos T citotóxicos;
ocorrência de desgranulação devido à ligação do anticorpo à célula activando o sistema
complemento ou mesmo uma resposta inflamatória
- a acção dos linfócitos T citotóxicos permite a destruição da célula afectada por um
vírus
- para o funcionamento dos linfócitos T citotóxicos, é necessário a presença de
linfócitos T helper os quais libertam IL-2, que permitem a sua activação e produção de
mais linfócitos T, os quais segregam perforinas que vão formar poros na célula,
provocando a lise celular e morte da célula
- a libertação de IL-2 e de interferon-gama pelos linfócitos T helper permitem a
activação de macrófagos e de células NK, responsáveis pela destruição de células por
fagocitose ou por segregação de substâncias químicas
Síntese:
- numa resposta imunitária específica internem diferentes processos que interagem:
•
após
o
contacto
com
os
antigénios estranhos, alguns
grupos
de
linfócitos
transformam
reguladoras
efectoras
uma
em
ou
que
se
células
em
células
desencadeiam
resposta
imunitária
primária
•
os linfócitos B multiplicam-se
e diferenciam-se em célulasmemória e em plasmócitos que
segregam anticorpos
•
os linfócitos T activados pela presença de células portadoras de
antigénios ligados a marcadores da membrana entram também em
- 119 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
divisão, formando-se vários tipos de linfócitos T: linfócitos T
citotóxicos, linfócitos T helper e linfócitos T supressores
•
os linfócitos T helper, através de mensageiros químicos, influenciam-se
os linfócitos B a diferenciarem-se em plasmócitos que produzem
anticorpos
•
os linfócitos T citotóxicos destroem especificamente células que exibem
antigénios específicos aos que existiam nas células apresentadoras que
provocam a sua proliferação
•
as células-memória têm a capacidade de produzir mais células efectoras e
mais células-memória se forem estimuladas posteriormente pelo mesmo
antigénio
Grupos Sanguíneos
Reacções de transfusão
- ao efectuar uma transfusão de sangue é necessário conhecer os grupos sanguíneos do
dador e do receptor.
- uma transfusão feita a um receptor que possui anticorpos que aglutinam as hemácias
do dador produz uma reacção transfusional imediata
Sistema ABO
- o sistema ABO é um dos mais importantes sistemas de classificação dos grupos
sanguíneos
- na população humana pode-se encontrar quatro grupos sanguíneos: A, B, AB e O que
constituem o sistema ABO, os quais distinguem-se devido à presença de diferentes tipos
de antigénios nos glóbulos vermelhos
- esses antigénios quando introduzidos num organismo que não os possuem, os
anticorpos existentes no plasma do receptor reagem especificamente com os antigénios
dos glóbulos vermelhos aglutinando-os
- a importância desta reacção faz com que os antigénios das hemácias sejam designados
por aglutinogénios, dando-se o nome de aglutininas aos anticorpos existentes no plasma
- um sangue com um determinado aglutinogénio não pode ter no plasma a aglutinina
correspondente, pois desencadear-se-ia uma reacção de aglutinação das hemácias.
- 120 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
- sangue do grupo A – as
hemácias possuem aglutinogénios A nas suas
membranas e o plasma contém aglutininas
anti-B
- sangue do grupo B – as
hemácias possuem aglutinogénios B e o
plasma aglutininas anti-A
- sangue do grupo AB – as
hemácias possuem dois aglutinogénios A e B
e o plasma não contém aglutininas
- sangue do grupo O – as
hemácias
não
possuem
aglutinogénios
considerados e o plasma possui aglutininas
anti-A e anti-B
- os indivíduos com sangue do grupo O são conhecidos como dadores universais, já que
podem dar sangue a pessoas com qualquer dos outros grupos
- os indivíduos com sangue do grupo AB são receptores universais, pois o seu sangue
não contém aglutininas, não aglutinando por isso as hemácias do dador
Sistema Rh
- sistema genético caracterizado pela existência de um alelo que determina o
aparecimento de antigénios específicos denominado factor Rh ou aglutinogénio D, nas
membranas das hemácias
- estes antigénios induzem a formação dos anticorpos, aglutininas anti-Rh
- consideram-se Rh+ (positivo) as pessoas que possuem antigénios Rh, e Rh- (negativo)
as que não têm
- do sistema Rh fazem parte, pelo menos, mais oito antigénios além do antigénio D, mas
este é o mais importante no que diz respeito a transfusões
- o sistema Rh existe e actua independentemente do sistema ABO
- segue a lei da imunidade, ou seja, há produção de anticorpos anti-Rh após primeira
exposição (numa pessoa Rh-)
- 121 -
Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I
Sangue e Imunidade
Sistema Rh e gravidez
- o nascimento de crianças com graves problemas sanguíneos deve-se a uma anomalia
nas hemácias, as quais são pouco eficientes no transporte do oxigénio. Esta doença
tornou-se conhecida como eritroblastose fetal ou doença hemofílica do recémnascido
- o sangue materno e fetal normalmente não se misturam, no entanto pode, nas últimas
semanas de gravidez ou durante o parto, haver uma pequena mistura de sangue. Neste
caso pode ocorrer fundamentalmente três tipos de situações:
•
Mãe Rh- e feto Rh+ - uma certa quantidade de hemácias do feto penetra
no sangue da mãe:
- o organismo materno produz anticorpos anti-Rh, que atravessam
a placenta e surgem no sangue do feto, mas em pouca quantidade;
- na gravidez seguinte, se o feto voltar a ser Rh+, a placenta pode
voltar a deixar passar hemácias fetais para o sangue materno;
- a reacção imunológica é agora mais intensa e a quantidade de
anticorpos anti-Rh é bastante elevada
- a passagem de aglutininas anti-Rh através da placenta pode
provocar a aglutinação e destruição dos glóbulos vermelhos do feto –
eritroblastose fetal
•
Mãe Rh- e feto Rh- - se os fetos de uma mãe Rh- forem Rh- não
desencadeiam no organismo da mãe a formação de aglutininas anti-Rh
•
Mãe Rh- e feto Rh+ ou Rh- - se a mãe for Rh+ não há qualquer
problema, quer o feto seja Rh+ ou Rh-, porque neste caso a mãe não
produz anticorpos anti-Rh
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